domingo, maio 12, 2013

Balão de oxigênio para Maduro - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 12/05

Governo brasileiro trata de ajudar o contestado presidente a superar os grandes gargalos


Pouco antes da recente eleição venezuelana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Nicolás Maduro, então candidato, hoje presidente, "deveria industrializar a Venezuela e torná-la autossuficiente na produção de alimentos", tarefas nas quais o Brasil deveria ajudar.

Vê-se agora que Lula ou é um profeta ou manda um bocado no governo de Dilma Rousseff: Maduro voltou a Caracas, depois de visitar Brasília na quinta, com promessas de ajuda, tanto na área de energia como de produção de alimentos, que lhe permitiram exagerar e declarar que, com apoio brasileiro, a Venezuela vai-se transformar em "potência exportadora de alimentos".

Para um país que só exporta petróleo e importa quase todos os alimentos que consome, seria de fato "uma revolução agroalimentar", outra expressão usada por Maduro.

O apoio brasileiro representa uma tremenda infusão de oxigênio para um presidente e um modelo de governo que passam pelos seus piores momentos desde que o mentor de Maduro, Hugo Chávez, foi brevemente deposto por um golpe de Estado em 2002.

Ao prometer suporte nas áreas de energia e de alimentos, o governo brasileiro tenta ajudar a enfrentar dois dos três mais graves problemas do cotidiano na Venezuela, o desabastecimento de gêneros e os "apagões" (o terceiro é a criminalidade).

Basta lembrar que, em abril, o índice de desabastecimento alcançou 21,3%, o mais alto desde que o governo começou a divulgar esse indicador, em 2009.

Em parte por causa desse fenômeno, a inflação acelerou-se em abril para 4,3%, com o que o índice chega a 29,4% nos 12 meses encerrados em abril.

É razoável deduzir que esses números influíram decisivamente para que a vitória de Maduro sobre Henrique Capriles na eleição de abril fosse muito magra (menos de dois pontos percentuais), o que deu margem a contestações ainda não resolvidas.

Pior, para Maduro, é o fato de que pesquisas mais recentes indicam que a maioria dos venezuelanos está, agora, tendendo mais para a oposição do que para o governo. Primeiro, 58% dos consultados pelo respeitado instituto Datanálisis reprovam o fato de o Conselho Nacional Eleitoral ter-se recusado a fazer a checagem dos votos que a urna eletrônica emite em papel, limitando-se a conferir apenas se o resultado eletrônico estava correto.

Segundo -e mais complicado ainda para Maduro- um outro instituto, o Ivad, informa que mais venezuelanos (44%) respaldam a oposição do que os 40,7% que apoiam o governo. E, se uma nova eleição fosse realizada agora, 45,8% votariam por Capriles, ante 40,8% que ficariam com Maduro.

Significa que a polarização evidente na eleição se mantém, mas a oposição avançou mais do que o governo desde então.

O governo brasileiro está, pois, estendendo uma rede de proteção para Maduro, que só pode se consolidar no poder se mostrar resultados na gestão, já que tocar o país com base apenas em retórica revolucionária, sem o carisma de Chávez, parece não ser mais suficiente.

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