segunda-feira, março 25, 2013

Ao deus-dará - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

A entrevista do empresário Jorge Gerdau aos repórteres Fernando Rodrigues e Armando Pereira Filho, postada no portal UOL no último dia 15, foi das mais contundentes - e mais reveladoras - sobre o modo de governar que ultimamente se impôs no Brasil. Gerdau faz trabalho voluntário no governo Dilma. Preside a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, criada, por sugestão dele próprio, para ajudar na racionalização e na eficácia da administração, e fala, portanto, do ponto de vista de quem conhece a matéria pelo lado de dentro. Três foram os trechos mais significativos da entrevista:

Pergunta - O sr. diria que a política atrapalha a gestão?

Resposta, depois de longa pausa - Dentro da estrutura brasileira, o conceito de política atrapalha bastante a gestão...

O que chama atenção nesse primeiro ponto é a sugestão da existência de um "conceito de política" peculiar ao Brasil. Gerdau não explica que conceito é esse. Fica nas reticências, o que nos deixa diante de uma não declaração. Eis no entanto uma não declaração cheia de sentido. O conceito de política que passou a imperar no Brasil, em primeiro lugar, nega a política. Quer dizer: nega o embate de idéias e de programas. Em segundo lugar, nega as políticas. Não o regem os modelos desta ou daquela política educacional, desta ou daquela política de transporte. Sobra, como sabemos, que o "conceito de política" em vigor no país gira (em falso) em torno de eixos como a liberação de emendas parlamentares, a distribuição de cargos na administração, a constituição de um ministério amplo o bastante para abrigar uma enxurrada de partidos e a acumulação de minutos de TV nas campanhas eleitorais. O "conceito de política" assim estruturado (ou desestruturado) é a mãe de todos os problemas que se interpõem à racionalidade e à eficácia da administração.

Houve época em que "reforma ministerial" era coisa séria. Não mais. Esta última, como as anteriores, serve para desgastar a idéia de "reforma" e contribui para desmoralizar o próprio conceito de "ministério"

Pergunta - O número de partidos vai aumentar. Vamos acabar tendo cada vez mais ministérios?

Resposta - Tudo tem o seu limite. Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período.

Gerdau, aqui, mostra-se paradoxalmente desesperado e esperançoso. O desespero leva-o a chamar de "burrice", "loucura" e "irresponsabilidade" o ato reflexo de ir criando ministérios à medida que os partidos aderem ao governo, ou mesmo são criados para tal. A esperança o faz vislumbrar que estamos chegando ao limite dessa prática. Bondade dele, ou talvez concessão de quem, afinal, faz parte do governo. Vem aí o Ministério da Micro e Pequena Empresa, para o mais novo adesista, o PSD do ex- prefeito Kassab. Dias atrás houve mudança em quatro ministérios - os da Agricultura, da Aviação Civil, do Trabalho e dos Assuntos Estratégicos. Novos titulares foram anunciados para os três primeiros, ficando para ser ainda nomeado o titular do quarto. Sobre os ministérios da Aviação Civil e dos Assuntos Estratégicos, de origem recente, um estrangeiro que desconhecesse as manhas locais perguntaria, antes de qualquer especulação quanto aos novos titulares, por que diabos foram criados. Se existe um Ministério dos Transportes, por que um da Aviação Civil? E, se estratégia é algo que deve alimentar cada ministério, por que reuni-la num só? Não valem a pena tantas perguntas, porém. Houve época em que "reforma ministerial" era coisa séria. Implicava inflexões nos rumos dos governos. Não mais. Esta última, como as anteriores, desgasta a idéia de "reforma" e contribui para desmoralizar o próprio conceito de ""ministério".

Pergunta - A presidente teria poder para reduzir o número de ministérios?

Resposta - Com o número de partidos crescendo cada vez mais, é quase impossível. O que a presidenta faz? Trabalha com meia dúzia de ministérios realmente chave. O resto é um processo que anda com delegações de menor peso.

Gerdau, nos três trechos destacados, foi do mais geral ao mais particular. Neste ponto, chegou ao modo de operar da presidente, e a conclusão é dramática. Uma ampla porção do governo - 33, dos 39 ministérios - funcionaria de modo mais ou menos autônomo, sem sofrer a ação direta - e talvez sem atrair o interesse - da presidente. Fecha-se o círculo. Da mãe de todos os problemas, que é o peculiar "conceito de política" brasileiro, chega-se à necessária consequência de um substancial espaço da administração ser abando nado ao deus-dará.


Vladimir Herzog e a violência contra jornalistas - EUGÊNIO BUCCI

REVISTA ÉPOCA

Pouco antes de ser assassinado por torturadores no Doi-Codi, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975, o então diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, de 38 anos, foi vítima de uma pequena campanha difamatória nas páginas da imprensa. Exigiam que ele fosse, no mínimo, preso e silenciado. Antes de morrer, sofreu o que podemos chamar de violência simbólica. Que, na época, não pôde ser estancada.

Filiado ao Partido Comunista, Herzog tinha consciência de que pediam sua cabeça. Chegou a alertar os colegas. Alberto Dines, então colunista da Folha de S.Paulo, contou parte dessa história num artigo que publicou no site Observatório da Imprensa, em 2005. No dia 10 de outubro de 1975, uma sexta-feira, recebeu um telefonema de Zuenir Ventura, que "transmitia o apelo de um colega paulista, Vladimir Herzog, para que fosse denunciada uma solerte campanha de intimidação, orquestrada havia três semanas por um picareta-agente provocador chamado Cláudio Marques, no hoje extinto jornal Shopping News".

Cláudio Marques chamava o Departamento de Jornalismo da TV Cultura de "TV Vietcultura" e acusava até o empresário José Mindlin, então secretário de Cultura do Estado de São Paulo, de comunismo. "Herzog pedia apenas ao colunista que não mencionasse o seu nome", diz Dines, "porque a campanha era dirigida contra toda a corporação sob seu comando." E atendeu à solicitação. Em sua coluna Jornal dos Jornais, publicada no domingo, 12 de outubro, na página 6, Alberto Dines deu uma nota, com o título "Caça às bruxas", denunciando a campanha.

Não adiantou nada, como sabemos. Herzog foi morto duas semanas depois. Os homicidas se sentiam protegidos para matar. Cínicas, as autoridades fizeram constar no atestado de óbito o suicídio como causa mortis. Somente agora, em março de 2013, a viúva, Clarice Herzog, e seus filhos obtiveram um novo atestado, em que está escrito que Vladimir Herzog morreu em consequência dos maus-tratos que recebeu. Só não se sabe, ainda, quem executou o crime. E a mando de quem.

Quantos anos mais serão necessários para que a informação venha à tona? Quando saberemos o que se passou?

As respostas não interessam apenas à história, ao passado. Entender a cronologia do assassinato de Herzog é fundamental se quisermos melhorar nosso presente. Assassinatos de jornalistas vêm alcançando índices mais que alarmantes no país. Não estamos fazendo quase nada para mudar o quadro.

Em diversas listas, o Brasil é apontado como um dos países mais perigosos do mundo para jornalistas. Segundo a ONG Artigo 19, sete jornalistas foram assassinados aqui em 2012. Outras entidades apresentam números diferentes. A Repórteres Sem Fronteiras fala em cinco assassinatos. O International News Safety Institute aponta 11 casos. As cifras variam porque os critérios também variam. Algumas entidades só computam os homicídios em que o motivo do crime é explicitamente relacionado à atividade profissional do jornalista, outras são mais flexíveis. Qualquer que seja a metodologia, são números inaceitáveis. Em 2013, já houve pelo menos três jornalistas assassinados.

Os assassinos de jornalistas agem como se estivessem acima da lei - exatamente como se sentiam os torturadores que mataram Herzog em 1975. Agem a mando do tráfico, das milícias, da banda podre da polícia. Primeiro ameaçam, depois intimidam e, finalmente, assassinam. Agem como se fossem os donos da comarca, da cidade, do país.

Quando ameaçam matar, não estão brincando. No ano passado, o repórter da Folha de S.Paulo André Caramante se viu forçado a se exilar com sua família nos Estados Unidos. Depois de uma reportagem sobre o então candidato a vereador pelo PSDB na cidade de São Paulo Paulo Telhada, ex-comandante da Rota, Caramante foi jurado de morte. Até agora, não se conhecem os autores da pesada violência simbólica que ele sofreu. Telhada se elegeu vereador e nega qualquer envolvimento no caso. O eco das ameaças continua aí, a humilhar a imprensa.

Há dezenas de outros casos tão ou mais graves pelo país. A imprensa tem um papel a cumprir. Precisa cobrir com mais energia e mais espaço as violências (simbólicas ou não) perpetradas contra seus profissionais. De outra parte, dependemos das autoridades. Elas têm de se mexer.

Em 1975, não houve solução. Dines denunciou a campanha fascista contra Herzog, mas não foi capaz de evitar o desfecho trágico. Aquilo era uma ditadura odiosa. Hoje, estamos numa democracia. Podemos reescrever nosso presente. O primeiro passo é levantar a voz.

Os royalties, o Supremo e o estado direito - PAULO GUEDES

REVISTA ÉPOCA
O espetáculo de canibalismo federativo pelos royalties do petróleo foi parar na Justiça. Os governos de Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, bem como a Assembleia Legislativa do Rio, entraram com ações de inconstitucionalidade contra a nova lei de distribuição dos royalties. Mais uma vez, o aperfeiçoamento institucional do estado de direito depende de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Em fulminante e acertada decisão, a ministra Carmen Lúcia suspendeu em liminar a aplicação das novas regras dos royalties, até o julgamento da questão pelo plenário do STF.

A riqueza submersa do pré-sal tornou-se o óleo da discórdia. Nunca antes na história deste país tantos políticos foram com tamanha sede ao pote. A guerra dos royalties é, na verdade, fruto da profunda insatisfação com o atual regime de distribuição de recursos entre as unidades da Federação. É apenas a outra face da omissão do Congresso, de um vácuo legislativo quanto à reforma fiscal. E também da ausência desse tema fundamental na agenda do Executivo. Prefeitos, governadores e suas bancadas de deputados e senadores exercem pressão legítima pela descentralização de recursos. Para o atendimento das novas prioridades sociais de uma democracia emergente, a Constituição de 1988 deflagrou o início dessa "sístole" representativa. Mesmo governantes federais que se dizem "progressistas" têm resistido à descentralização administrativa associada a essas transferências.

Para aumentar sua arrecadação e influência política, o governo federal recorreu com frequência a novas contribuições não compartilhadas com Estados e municípios. A concentração de poder político e recursos no governo federal, mais de um quarto de século após a redemocratização, demonstra uma transição incompleta do antigo regime militar rumo à grande sociedade aberta. Por omissão do Congresso, para conforto do Executivo e hipertrofia de seus poderes, persistem essa centralização e todos os seus vícios. Do mensalão à guerra dos royalties, dependemos do Supremo para corrigir práticas degeneradas que ameaçam nosso estado de direito.

A inércia de nossas lideranças diante de uma causa justa - a descentralização de recursos da União para Estados e municípios - tornou-se o pretexto para uma violência inconstitucional contra os Estados produtores. "Encontramos já na clássica democracia ateniense os primeiros conflitos entre a vontade irrestrita de uma assembleia e a tradição do estado de direito" já escrevia Friedrich Hayek, em Direito, legislação e liberdade (1973). "Mas em tempo algum foi permitido alterar leis de forma inconsequente, por um simples decreto dessa assembleia", afirmou H.M. Jones, em Democracia ateniense (1957). "Os proponentes das alterações estavam sempre sujeitos a acusação de procedimentos ilegais, que, se aceita pelos Tribunais, invalidava o decreto proposto e expunha o autor do projeto a severas penalidades."

São robustas as alegações dos Estados produtores. A Constituição de 1988 assegurou-lhes as receitas dos royalties como compensação pelos problemas causados pela exploração do petróleo. Em contrapartida, eles abriam mão da cobrança de ICMS do petróleo, transferindo tal receita aos Estados não produtores. A nova lei é inconstitucional em todas essas dimensões. Expropria os Estados produtores de suas receitas constitucionalmente legítimas. Premia o canibalismo federativo, ao transferir mais de 50% dos royalties aos não produtores, sem que tenham de devolver o ICMS já retirado dos produtores. E prescinde de um dos atributos de uma boa lei: que tenha efeitos prospectivos, e não retroativos.

A sábia decisão da ministra Carmen Lúcia impede a lambança de um Congresso que se meteu a legislar de forma imprópria ao mérito da matéria, atropelou direitos constitucionais estabelecidos e provocou irresponsáveis efeitos retroativos nas finanças dos Estados produtores - não apenas as novas licitações seriam submetidas ao novo regime de distribuição dos royalties, mas também contratos juridicamente perfeitos já em vigor. "Se nem certeza do passado pudesse ter, como poderia o brasileiro se sentir seguro no estado de direito?", diz a ministra Carmen Lúcia em seu despacho. "A relevância dos fundamentos apresentados na petição inicial desta ação e a plausibilidade jurídica dos argumentos nela expostos, acrescidos dos riscos inegáveis à segurança jurídica, política e financeira dos Estados e municípios, impuseram-me o deferimento imediato da medida cautelar requerida."

Ficaram registrados no episódio os avanços oportunistas e antirrepublicanos sobre os royalties por parte de governadores como Cid Gomes (PSB-CE) e Eduardo Campos (PSB-PE),bem como a omissão do ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB). Estados do Norte e do Nordeste, que se lançaram com extraordinário apetite sobre os royalties do petróleo, atiram em seu próprio pé. As próximas licitações programadas para 2013 ocorrem também em sua região e os tornam potencialmente produtores. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) oferecerá áreas com reservas potenciais de 19,1 bilhões de barris de petróleo e 397 bilhões de metros cúbicos de gás natural, o maior volume já ofertado. Do total, 9,1 bilhões de barris estão em 289 blocos localizados em 11 Estados, dez deles no Norte-Nordeste. A maior parte das áreas de gás fica no Maranhão.

O ministro Joaquim Barbosa, no episódio do mensalão, e agora a ministra Carmen Lúcia, na guerra dos royalties, consolidam a reputação e a credibilidade institucional do STF. Demonstra-se, mais uma vez, a importância do Poder Judiciário para o estado de direito.

A tragédia da incompetência - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

O que aconteceu na serra fluminense é um escândalo muito maior que o da boate Kiss, em Santa Maria


Não importa mais o total de mortos na "tragédia" da serra do Rio de Janeiro. Não é insensibilidade. Numa semana de histórias lacrimejantes, de perdas e heróis, não basta lamentar o destino de milhares de famílias à beira de abismos. Não posso comemorar que milhões ou bilhões serão gastos para recuperar encostas e reassentar desabrigados. Engrossar correntes de solidariedade não resolve. Porque não acredito mais. A sociedade não acredita mais.

No bolso de quem vão parar as verbas liberadas após enchentes, diante do rosto compungido das autoridades? O prefeito de Teresópolis foi cassado por desvio. Quantos outros não roubaram dos que nada têm, dos que perderam tudo? Eu queria ver o governador do Rio de Janeiro e os prefeitos do Rio, de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo submetidos a multa e julgamento. Por omissão e negligência criminosas. Não há prestação de contas detalhada, não há transparência no gasto das verbas de emergência. Não há pressa. Uma hora a casa cai.

O que aconteceu na serra fluminense é um escândalo muito maior que o da boate Kiss em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, embora o número de mortos seja inferior. Na hora do aguaceiro, não há portas de saída para quem vive em barraco em área de risco, não há bombeiro que dê jeito. Há sorte ou azar. Os sinalizadores da natureza matam crianças, velhos, fortes, fracos. O fogo da boate Kiss provocou maior repercussão pelo inusitado e por suas centenas de vítimas jovens de classe média e alta. As enchentes do verão são tão previsíveis que provocaram calos em nossa consciência.

Somos obrigados a ouvir a presidente Dilma Rousseff dizer, em Roma, que não houve falha no sistema de prevenção instalado em 2011 em Petrópolis? Isso é pecado, presidente. Somos obrigados a ouvir Dilma se indignar e pedir "medidas drásticas" para remoções em locais de risco? Quem é a responsável máxima pela política de habitação no Brasil? Quem tenta mudar, na planilha, nosso índice de desenvolvimento humano?

Se os governos disserem que essa é uma herança maldita, terão razão. Só que o governo do Rio de Janeiro está em seu segundo mandato. O governador Sérgio Cabral já enlameou os sapatos em tragédias suficientes para saber que não fez tudo o que deveria ter feito. Que chame os prefeitos à responsabilidade, que os critique quando desviarem dinheiro e estragarem doações, que lute por uma mudança em nossas leis ambientais surrealistas.

Na raiz dos desabamentos em áreas de risco, há dados que contribuem para o 85 2 lugar do Brasil no IDH mundial. Um é o déficit habitacional de mais de 5 milhões de casas. Outro é a pobreza. O terceiro é a ignorância, a falta de educação. É só juntar os três com a incompetência do Estado e chegamos à fórmula da "tragédia recorrente".

Famílias constroem em áreas de risco, não querem sair de áreas de risco e voltam a morar em áreas de risco. Ou porque não têm para onde ir ou porque o prédio construído para elas, no projeto Minha Casa Minha Vida, está com rachaduras, ameaçado de cair (é o cúmulo...). Ou porque são ignorantes e vivem em vulnerabilidade permanente. Para essas famílias, a vida em si já é um risco - ou uma bênção temporária. Se não morrer de enchente, morrerá na fila do transplante, atropelado na estrada ou de tiro, tuberculose ou diabetes.

A legislação ambiental não é rigorosa com os pobres. Por isso, é uma legislação assassina. Mas é kafkiana para a classe média que não paga propina e age de acordo com a lei. Um amigo arquiteto queria construir uma casa de 58 metros quadrados num loteamento edificado em Teresópolis, depois de pagar por 20 anos impostos para a prefeitura. Como o terreno estava a 10 quilômetros da fronteira do Parque Nacional, começou o imbróglio. A prefeitura jogou o caso para a Secretaria de Meio Ambiente, a secretaria jogou o caso para o Inea, do Estado, que mandou chamar uma engenheira florestal para catalogar com fichinhas as árvores. O mato rasteiro foi cortado à frente para a engenheira poder entrar. O arquiteto e professor foi processado por crime ambiental pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). No formulário que preencheu, uma pergunta esclarecedora: precisará do terreno para sua subsistência?

Hoje é assim no Brasil, pela lei. Se a família é sem-terra, não tem onde morar, ergue um barraco onde quiser, embaixo de pedra, na beira do precipício, em cima do rio. Desmata, põe em perigo a si mesma e aos vizinhos. É só construir um cômodo durante a noite e botar uma criança ali dentro. Na manhã seguinte, o Estado não poderá mais tirá-la dali. No próximo verão, pai, mãe e filhos podem morrer nas chuvas anunciadas pelo sistema de prevenção elogiado por Dilma. E o teatro recomeça.


"Há um sentimento mudancista" - ENTREVISTA - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

REVISTA ÉPOCA

"Dilma recuperou até uma idéia da Idade Média, o lucro justo. Entendo essa reação, o capitalismo é irritante. Quem tem de ser justo não é o mercado, é o Estado"

"A base do governo Dilma é o desenvolvimentismo. É crescer o PIB. O meio ambiente atrapalha. A regulação atrapalha. É um pouco a volta do capitalismo selvagem"

O ex-presidente afirma que é bom para o país o florescimento de alternativas ao PT nas pré-candidaturas de Aécio Neves, Marina Silva e Eduardo Campos

Guilherme Evelin, João Gabriel de Lima e Hélio Gurovítz

AOS 81 ANOS, O EX-PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO É UMA DAS CABEÇAS MAIS privilegiadas do país. As características que o tornaram um dos principais intérpretes do Brasil contemporâneo continuam intactas: arsenal teórico de cientista social, experiência de político e governante, invejável rede de contatos mundo afora e inesgotável curiosidade para perscrutar o que pode vir por aí. FHC foi o escolhido para estrear a série de entrevistas que ÉPOCA começa a fazer, a partir desta semana, com líderes brasileiros. Antenado nos movimentos da política, da economia e da sociedade, no Brasil e no mundo, FHC, ao falar da eleição presidencial, diz que"um sentimento mudancista" começa a ganhar corpo no país, a despeito dos índices de aprovação recordes da presidente Dilma Rousseff. Em meio a críticas à gestão econômica do governo - por tentar reviver o modelo nacional-desenvolvimentista do passado -, FHC afirma que o desafio da oposição nas eleições será dar a esse sentimento um conteúdo e uma mensagem capaz de atingir os eleitores.

ÉPOCA - Como o senhor vê o cenário atual, com Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves praticamente já colocados como candidatos, além da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição? Feirando Henrique Cardoso- Estão se desenhando aí quatro candidatos. Provavelmente, segundo turno. Sempre houve segundo turno depois que saí. É provável que haja de novo. Como vai ser, sabe Deus! Falta muito tempo. Porque isso foi precipitado, não entendo. Nunca vi o governo precipitar a eleição.

ÉPOCA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou Dilma para abafar, no PT, as expectativas de que ele pudesse ser candidato?

FHC - Ele não precisaria. Fez porque gosta de campanha.

ÉPOCA - Por que ninguém tem um projeto alternativo?

FHC- Projeto é uma idéia complicada. O que está aí está se esgotando. Começam a despontar críticas. Há um sentimento mudancista, mas ainda sem dar conteúdo à mudança. Não sei se no povo. Mas entre as pessoas que lêem jornal, sim. Inclusive empresários. Para vencer a eleição, tem de chegar embaixo.

Época - O povo sente que o desemprego está em baixa e a renda aumentou. Não há sensação de crise.

FHC - Nem sei se é necessário crise. De vez em quando, as pessoas querem aerar. Querem mudar. Meio irracionalmente. Quando tem uma basezinha que não é irracional, o problema se agudiza. Como você vence a eleição? Numa situação em que o eleitorado é fluido e os partidos não seguram nada, depende do desempenho. Depende da mensagem. Na política, não adianta só ter idéia. Tem de fulanizar. Não adianta sentar aqui três meses com um clube de sábios e escrever um projeto. Tem de tocar nas pessoas. E a pessoa tem de ser capaz, ela mesma, de inspirar isso. Precisa ter alguém que expresse esse sentimento e diga: "Vou fazer isso, me sigam".

ÉPOCA - Como foi Fernando Henrique num momento e Lula noutro?

FHC - Exatamente. Dilma não precisou. Agora precisa. Não só porque começa a haver cansaço. É porque o mundo está indo muito depressa.

ÉPOCA - O senhor acha que Aécio pode cumprir esse papel?

FHC - Se não achasse, não o teria apoiado.

ÉPOCA - E o Eduardo Campos?

FHC- A pior coisa que pode acontecer no país é não haver

alternativa. Ainda que seja contra minha escolha, é preciso haver a possibilidade de mudar. Quanto mais pessoas digam alguma coisa, melhor. Independentemente de ser bom ou mau para meu partido, é melhor para o Brasil. Não sei o que Eduardo fará. Está pintando que será candidato. Se for, acho bom para o país. Porque ele e a Marina dizem coisas. Quem será capaz de galvanizar, veremos. No ponto de partida, Aécio tem uma base maior. Tem apoio em Minas e tem uma estrutura partidária mais ampla que o Eduardo. Veremos o que acontece.

ÉPOCA - O PSDB paulista ficará com Aécio? E José Serra?

FHC- De tudo que ouço do Serra, ele diz que não tem essa pretensão. Nem mesmo de ser presidente do partido. Tenho de acreditar no que ele me diz. O candidato do PSDB será apoiado pelo PSDB de São Paulo. Não tem muita alternativa.

ÉPOCA - O senhor não teme que Serra saia do partido?

FHC- É especulação. Ele nunca me disse isso.

ÉPOCA-Qual será a mensagem de Aécio?

FHC - Não posso falar por ele. Ele é que dará a mensagem. Aécio transmite uma coisa importante, a contemporaneidade. É jovem. Isso você não fala. Você é.

ÉPOCA-Que mensagem hoje seria inspira- dora neste momento mudancista? FHC - Perguntaram-me uma vez qual seria um bom slogan para o PSDB. Não dá para falar como o Obama: "Yes, we can". Tem de ser: "Yes, we care". Nós prestamos atenção a você. Não é que farei mais hospitais. Meu hospital terá cuidado com você. É preciso insistir que o governo olhará para toda essa gente que está melhorando de vida. Isso não é palavra. Tem de ter também imagem e gesto.

ÉPOCA - O governo Lula expandiu os programas sociais de seu governo. Por que o senhor não fez essa expansão?

FHC- Não tínhamos recursos. E atacamos tudo: reforma agrária, educação, saúde. As grandes mudanças estruturais estavam lá.

ÉPOCA - Mas o Bolsa Família virou marca do governo seguinte.

FHC- Sim. Mas aí tem o jogo político. E talvez um pouco de timidez de usar a política social como base da política eleitoral.

ÉPOCA - O senhor se arrepende dessa timidez?

FHC- Não posso dizer que me arrependo. É meu jeito. Dizem que sou vaidoso, arrogante e não sei o quê. Tudo conversa... Na verdade, sempre tive muito acentuado o sentido do que é público, do que é privado, do que é partido.

ÉPOCA - O senhor não reconhece que, além de uma questão eleitoral, havia também um impulso para responderão anseio social?

FHC- Lula simboliza isso. Ele vem de baixo, é um líder operário. Sem dúvida. Não estou tirando o mérito dele. A César o que é de César. Desde que eu também tenha meu cesarzinho (risos).

ÉPOCA - O que há de errado na economia do país?

FHC- Todo mundo reiterou que, no governo Lula, houve continuidade na política econômica. Até a crise de 2008, sim. Com a crise, a política anticíclica adotada foi correta. Aí o governo pressentiu que havia uma espécie de licença para fazer o que quisesse. E isso se agravou nos anos Dilma, com a volta da idéia de que você pode fechar mais a economia, apoiar certas empresas, promover uma política industrial apoiando certas áreas. Voltamos a uma visão nacional-estatista. A política fiscal foi abandonada, como se fosse uma persistência do que eles chamavam de neoliberalismo. Essa incompreensão do que acontecia no mundo já ocorrera antes. Nos anos 1990, quando se tratava de ajustar a economia para lidar com a globalização, eles entendiam que era uma questão de ideologia, o tal neoliberalismo. Não foi só o PT, mas quase todo mundo, por uma posição mais antiquada que propriamente ideológica. Confundiram uma mudança do sistema produtivo, com novas tecnologias e novos métodos de transporte, com ideologia. Meu governo ajustou a economia brasileira à situação do globo. Agora, também está havendo um equívoco de percepção. Quando houve a crise de 2008, eles disseram: "Então vamos voltar. A crise nos dá o direito de fazer o que nós queríamos ter feito antes".

ÉPOCA - Voltar para onde? FHC- Para um Brasil anterior a 1990. Estamos agora na realidade do Ernesto Geisel (presidente brasileiro entre 1974 e 1979). No momento em que o mundo vai sair da crise, o Brasil está voltando nas suas concepções quanto ao desenvolvimento da economia. Isso me preocupa. Novamente, os Estados Unidos sairão na frente, sobretudo com a revolução energética que estão fazendo.

ÉPOCA- Neste momento, Dilma está voltando atrás em algumas políticas e começou com algumas privatizações.

FHC- Pela força das circunstâncias. Ela é capaz de entender o erro. Vê o número e se assusta. Mas aí, quando vai consertar, tem de fazer coisas que não são da alma dela. Então, tem uma inconsistência. Ela não fala que é privatização, nem fala que é concessão. Fala que é PPP (Parceria Público-Privada). Ela até recuperou uma idéia da Idade Média, o lucro justo. Entendo essa reação, o capitalismo é irritante. Qualquer pessoa sente raiva disso aí. Mas essa é a lógica do sistema - tem de acumular mais, senão não cresce. O capitalismo não é justo. Quem tem de ser justo não é o mercado, é o Estado. Se você é neoliberal, deixa por conta do mercado e comete injustiças. Se você não é, usa o Estado para tentar evitar que o capitalista arrase tudo.

ÉPOCA - Por que o brasileiro é tão relutante em reformar o Estado?

FHC - O livro do Raymundo Faoro Os donos do poder diz que isso vem de longe. Claro que Faoro exagera. Fala que tudo é o Estado, a corporação, o privilégio, desde Portugal. Não é bem assim. Há uma luta permanente entre mais e menos Estado. E ganha sempre o lado do mais Estado. De certa maneira, meu período foi quase um ponto fora da curva. A gente estava modernizando o Estado e aceitando algumas regras do mercado. Agora, o Estado ficou mais resistente. Quanto mais você vai para lugares de menor desenvolvimento no Brasil, mais tem Estado. Mas as pessoas não percebem algo também verdadeiro: quando o Estado intervém demais, aumenta a concentração. A concentração de renda, provavelmente, cresceu muito recentemente.

ÉPOCA - Mas há duas maneiras de o Estado intervir. No desenvolvi- mentismo, ele subsidia empresas e cria estatais. A partir dos anos 1990, o Estado passou a tratar mais de saúde, educação e políticas sociais. Essa mudança é inexorável ou voltaremos ao passado?

FHC- Acho que não. Sabe por quê? No meio dessa mudança, está a democracia. Com a Constituição de 1988, foi desenhado um futuro social-democrata. Nenhum governo pode olhar apenas para a economia. O que tentou resolver só a economia foi o Fernando Collor - e não deu certo. Os governos têm de olhar para os dois lados. Tem de olhar para educação, saúde, reforma agrária. Há uma massa demandante, que tem voto. No fundo, qual a base ideológica do governo Dilma? É o desenvolvimentismo. É crescer o PIB. O meio ambiente atrapalha. A regulação atrapalha. É um pouco a volta do capitalismo selvagem. Ela parece não perceber que o crescimento do PIB não depende só do governo, mas tem ciclos. Infelizmente, tocou a ela um ciclo mau. Como tocou a mim também. Ao Lula, tocou um ciclo bom.

ÉPOCA-O governo Dilma elegeu como prioridade, até para efeito de propaganda, a erradicação da miséria. Mas não é uma vergonha um país como o Brasil ainda ter tantos analfabetos?

FHC- O Brasil vem numa conquista progressiva da redução da miséria. Segundo o (economista) Ricardo Paes de Barros, a virada começou em 1999. Foi resultado da estabilização, em alguma medida da melhoria da educação e de outras políticas. Claro que um pouco disso também é jogo de palavras. Tem muita miséria ainda. Sobretudo, o emprego oferecido é de baixa qualidade. Com a ascensão da China, não houve o cuidado necessário com o desenvolvimento tecnológico e a indústria. Ela passou de 28% do PIB, nos anos 1980, para 20% no meu governo. Agora caiu para 12%. Isso é uma coisa preocupante, pela qualidade do emprego que a manufatura gera, apesar de extração de petróleo, da produção de soja também dependerem de saber.

ÉPOCA - Por que nossa classe política resiste a entender que o valor da economia moderna não está, necessariamente, no produto em si, mas no conhecimento que o gera? Parece que tudo se resolve com mais dinheiro, mais emprego, mais fábrica, mais máquina...

FHC - Tem razão. Pega a indústria do petróleo. Do jeito que estava indo, não ia mal não. Estava criando, também, base tecnológica. A Petrobras tem geólogos, cria gente preparada, exporta tecnologia. A grande revolução agrícola brasileira dependeu de quatro fatores: EMBRAPA, tecnologia, empresários e mudanças no sistema de financiamento. Estas últimas fui eu que fiz. Foi uma luta danada, para separar a agricultura da dívida do Banco do Brasil. A base foi a capacidade tecnológica da EMBRAPA para aproveitar solos antes não usados, desenvolver sementes e técnicas de plantio. A idéia de economia primária ou secundária é antiga. Em lugar de se preocupar com os 12% da indústria no PIB, devíamos nos preocupar com o resto. Qual o coeficiente tecnológico da indústria? Essa é a chave da questão. E isso leva à educação de novo. O governo percebeu isso. Criou o programa Ciência sem Fronteiras. Mas, entre perceber e fazer, há uma distância. Há a mania de grandiosidade. Tínhamos nos Estados Unidos, no ano passado, 8.500 bolsistas. O governo disse que vamos passar para 100 mil em quatro anos. Claro que não conseguiremos. Isso é mania de grandeza.

ÉPOCA - Estamos perdendo a oportunidade do pré-sal?

FHC- Para que mudar a lei? Estava funcionando. Para obter mais recursos? Por que o pré-sal é mais fácil de obter? Era só mudar o que a lei permitia quanto à participação. Foi mudada a legislação com o propósito de aumentar o controle do governo sobre tudo. Mudaram para se apropriar politicamente. O Bolsa Escola virou Bolsa Família. Dizem que o PSDB não tem programa. Mas não é isso. O programa do PSDB foi apropriado. Quem não tem programa mais é o PT, porque o programa que eles tinham, de socialismo no século XXI, ética na política, acabou. É de espantar que o Congresso jamais tenha discutido o pré-sal. Quando fiz a quebra do monopólio, houve um debate imenso. Agora, tudo foi feito a frio.

ÉPOCA - Porquê?

FHC- Primeiro, porque a expansão da economia e das políticas sociais anestesiou muita coisa. Segundo, porque o governo Lula tomou, implicitamente, a decisão de não mexer com o Congresso. Ele não precisava do Congresso para praticamente nada. Não fez nenhuma mudança constitucional. Nunca entendi uma coisa: para que uma base de sustentação tão grande? Para não fazer nada? Eu precisava da base porque precisava de três quintos do Congresso para as reformas. O governo Lula só precisava de 51%. Não precisava de mensalão. Foi um erro de cálculo. E, claro, também havia vontade de domínio, de hegemonia.

ÉPOCA- Como será esse embate entre essas forças contraditórias?

FHC- A linha de força aponta na direção de que esses elementos de corporativismo perderão força. Levaremos mais tempo para fazer o que poderíamos fazer mais depressa. Mas temos caminhos. Temos uma sociedade forte. Somos mais ricos em termos relativos e mais fortes que nossos irmãos aqui da região. Temos um sistema empresarial vigoroso. A ideologia não prevalece sobre a realidade. Ela atrapalha.

ÉPOCA - Mas, politicamente, os petistas foram espertos. ÉPOCA - Por que nossa classe política resiste a entender que o valor FHC - Fazendo o advogado do diabo, respondo que não sei se da economia moderna não está, necessariamente, no produto em si, foram espertos apenas politicamente.

CNC contra Zumbi - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 25/03

Está nas mãos do ministro Teori Zavascki, do STF, uma ação da Confederação Nacional do
Comércio, que começou em 2009, para acabar com a lei que criou, no Rio, o Feriado de Zumbi dos Palmares, no dia 20 de novembro. Depois do Rio, o feriado foi adotado em mais de 700 cidades do país.

Pela renovação
O cineasta Silvio Tendler postou na internet carta aberta à ministra Marta Suplicy, discordando da maioria dos seus colegas que fizeram um manifesto apoiando a recondução de Manoel Rangel para um terceiro mandato na Ancine:
— Há uma briga de foice no escuro entre Glauber Piva (PT) e Manoel Rangel (PCdoB) pelo poder.

Cota do partido
Segundo Tendler, se o cargo pertence ao PCdoB, que o partido indique outra pessoa:
— E não faltam quadros competentes ao PCdoB. De cabeça, lembro de três ou quatro.
É. Pode ser.

Costa e Silva
No meio de uma crise que parece não ter fim, Galeno Amorim, presidente da Biblioteca Nacional, resolveu criar um conselho para discutir, propor e avaliar as diretrizes da instituição. Será presidido pelo historiador e acadêmico Alberto da Costa e Silva.

Gil é dez
Deu na famosa revista “Billboard”: diante da pergunta sobre que música gostaria de ouvir numa ilha deserta, Quincy Jones, o produtor fera norte-americano, respondeu:
— Citar Milles Davies ou os reis do blues seria muito óbvio. Eu levaria a música de Gilberto Gil.

Discordar não pode
Sérgio Sá Leitão, secretário municipal de Cultura, recebeu ameaças de morte e agressões verbais via Twitter e Facebook.
São reações aos comentários que fez criticando a ocupação do prédio público onde, no passado, funcionou um Museu do Índio.
Calma, gente.

Foto sensual, não
A campanha publicitária do motel Corinto, de Vila Isabel, esbarrou num veto do condomínio do Menezes Cortes, no Centro do Rio.

O anúncio de saliência foi colocado nos elevadores do edifício garagem, mas sem as fotos sensuais da modelo Nicole Bahls.

Turma da picanha
Não são só os garçons do Porcão Rio’s que reclamam. Tem empregados de empresas prestadoras de serviços de engenharia para a rede de restaurantes do Grupo BFG (Brasil Foodservice Group) que dizem que não recebem desde novembro.

Nova bandeira
Julinho e Rute, casal de mestre-sala e porta-bandeira da campeã Vila Isabel, vão para a Unidos da Tijuca.
Os dois são crias da escola do bairro de Noel Rosa.

Gero da Barra
Ao contrário do que saiu aqui, o Gero da Barra da Tijuca não vai mudar de nome.

Continua.

Faz jus ao nome
O presidente do Banco Central de Chipre, que propôs um confisco de parte dos depósitos e gerou um pânico e uma corrida bancária no país, chama-se Panicos Demetriades.
Faz sentido!

Neguinho de Jesus
Neguinho da Beija-Flor, o grande intérprete do carnaval, compôs um samba... evangélico.
A música se chama “Obrigado, Jesus!” e você ouve, com exclusividade, no site da coluna.

Aliás...
Uma articulação tenta emplacar uma apresentação de Neguinho na reabertura da Maracanã, para ele cantar “O campeão”, seu maior sucesso (aquele do “Domingo, eu vou ao Maracanã...”), que virou hino de todas as torcidas.
Segredos expostos...

TAINÁ EM FLOR DO CARIBE 
A atriz Tainá Muller entra em “Flor do Caribe”, a novela das seis de Walther Negrão, esta semana. Ela será Mila, uma estilista que se muda com a mãe (Daniela Escobar) e a irmã (Maria Joana) para a fictícia Vila dos Ventos, onde aprontará poucas e boas

‘VEM AÍ’... SANDY, IVETE, PRETA
Sandy participa, com Ivete Sangalo, Preta Gil, Cláudia Leitte e outras cantoras, da segunda parte da campanha publicitária “Vem aí”, em que a TV Globo fala sobre as novidades da programação

AMIGOS EM ESTREIA
Daniel Filho prestigia os atores Priscila Fantin e Herson Capri, que acabam de estrear o espetáculo “A entrevista”, no Teatro das Artes, no Rio

A América TV, da Argentina, exibiu semana passada programa biográfico sobre Graciela Alfano, 60 anos.
A atriz e modelo, que ficou famosa nos anos 70 e 80, falou dos seus romances com o ex-presidente Carlos Menem e com Maradona.

Na entrevista citou com emoção a amiga Sonia Braga “com quem tive muitos ‘mimos’.”

Você tem cabeça aberta? - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 25/03

Aliás, se não disse ainda, digo: acho fofo gente que não tem preconceito contra nada


Você tem cabeça aberta? Acusar alguém de ter cabeça fechada hoje em dia é uma ofensa pior do que xingar a mãe.

Hoje todos querem ter cabeça aberta. Um tema top para cabeças abertas é preconceito x práticas sexuais, e um lugar certo para deixar claro que você tem cabeça aberta é jantares inteligentes. Se você quer fazer sucesso num jantar desses, chame todo mundo que discorda de você de "ridícula".

Nesses jantares, as pessoas têm as opiniões certas sobre tudo; por exemplo, ninguém tem preconceito contra nada. Acho muito fofo gente que não tem nenhum preconceito contra nada.

No tema "práticas sexuais", o que percebemos, se formos um pouquinho além do senso comum, é que o "normal x patológico" ou "moral x imoral" é bastante relativo no tempo e no espaço. Isso significa que o que se acha imoral hoje amanhã pode não ser, e vice-versa. O mesmo para o que se acha patológico.

Quem busca um critério absoluto, sem variação histórica ou geográfica (a tal variação no tempo e no espaço de que falei acima), hoje em dia, se vê em maus lençóis. Além, claro, de dar atestado de ter preconceitos numa época em que ter preconceitos é pior do que matar a mãe.

Aliás, se não disse ainda, digo: acho fofo gente que não tem preconceito contra nada.

Um modo de se posicionar acerca dessa fronteira entre sexo normal x patológico ou moral x imoral é defender a ideia de que entre dois adultos tudo é permitido, se a prática for fruto de livre escolha (eis uma versão para mortais da tal autonomia kantiana).

Esse argumento até é válido, já que não sabemos mais nada sobre coisa nenhuma em moral (só mentirosos dizem que têm "princípios éticos"). Mas ele é problemático, já na definição de "adulto", porque ela também é relativa no tempo e no espaço. Um cara de 40 ficar com uma mina de 14 nem sempre foi visto como crime contra a infância.

Outra coisa problemática é a própria ideia de "livre escolha". Por exemplo, se você gosta de apanhar, talvez só goste mesmo quando seu parceiro ou parceira vai além do que você "permite", senão você não goza de verdade. Mas devo confessar que há algo de pueril em achar que "livre escolha" resolva o problema. Acreditar na ideia de "autonomia kantiana" (a tal da "livre escolha"), às vezes, também, é superfofo.

Vamos, porém, deixar de barato esses pequeníssimos detalhes e vamos a algo mais "significativo".

Faço uma proposta para seu próximo jantar inteligente. Claro, se você for um pobre engenheiro, nem pense em querer ir, a menos que sua mulher seja psicóloga -aí os donos da casa inteligente podem aceitá-lo. Se você for um cara e sua "mulher psi" for um cara também, aí a entrada é garantida.

Vamos testar as cabecinhas abertas? Atenção, respire fundo: você já viu o vídeo "2 girls 1 cup"? Mas, antes de descrevê-lo (não em detalhes, porque seria demais para uma segunda-feira), vou dizer uma coisa.

Acho que, se você é o tipo de pessoa que quer provar que tem cabeça aberta, você deve discutir apenas o que lhe parece absurdo (ou "nojento", na linguagem de gente que tem preconceito). Mas não é isso o que acontece normalmente.

A moçadinha que tem cabeça aberta só gosta de discutir coisa que não põe em risco sua imagem de gente bacana. Falar mal de machista, racista, sexista, católico e evangélico é coisa de iniciante no ramo de discussões de verdade.

E o vídeo? Neste, duas mulheres começam com sexo lésbico normal e acabam fazendo sexo a três: elas duas + as fezes de uma delas (se é apenas efeito especial, pouco importa). Isso é chamado no mundo careta de "coprofilia". Quem gosta de xixi é urofílico.

Então: gente que gosta disso é doente, imoral, ou apenas gente de cabeça aberta explorando seus limites do gozo? Lembre: o que hoje é doença ou imoralidade amanhã pode não ser.

Na verdade, imagino que em breve esses caras terão suas ONGs e defenderão também "safe sex". Como fazê-lo? Ensinando nas escolas a identificar fezes infectadas pela aparência e cheiro?

O que a gente fofa diria disso? Ainda sem preconceito? Perdeu o apetite? As ciências sexuais têm muito o que aprender.

ESCADA ROLANTE - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 25/03

O diploma técnico consegue aumentar a renda de um trabalhador em 24%, em média. É o que mostra pesquisa feita pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) com ex-alunos de seus cursos profissionalizantes.

ESCADA 2
A instituição acompanhou cerca de 20 mil profissionais, ou quase a metade dos que estudaram em suas escolas: 72% conseguem trabalho no primeiro ano depois de formados -mais de dois terços na área que escolheram para se especializar. A média salarial é de R$ 1.600.

ESCADA 3
De acordo com dados do MEC (Ministério da Educação), só 17, 6% da população entre 18 e 24 anos frequentam ou já concluíram o ensino superior. Os demais seguem para curso técnico ou param de estudar. O Senai oferece 150 mil vagas.

NOVA CHANCE
E o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), lança hoje programa de qualificação de moradores de rua, com cursos de almoxarife, mecânico de bicicletas e pedreiro. Em parceria com o Senai-SP.

TÔ AQUI
José Serra (PSDB-SP) tem nova aspiração: ser candidato a vice-presidente da República em 2014. Apresenta como trunfo aos eventuais interessados (os candidatos de oposição à reeleição da presidente Dilma Rousseff) a abertura de espaço em São Paulo, maior eleitorado do país. Interlocutores do ex-governador já falam abertamente da ideia.

DE VOLTA
Estrela do desfile da Colcci na SPFW, a top Erin Heatherton pretende voltar ao Brasil, em breve, mas de férias. Quer se hospedar na casa da modelo Candice Swanepoel, sua colega da Victoria's Secret, que namora o capixaba Hermann Nicoli.

DE VOLTA 2
Erin só perdeu o rebolado quando questionada sobre seu ex-namorado, o ator Leonardo DiCaprio. Ela não quis tocar no assunto.

LAÇOS DE FAMÍLIA
Juliana Brizola (PDT-RS), neta de Leonel Brizola e deputada estadual do Rio Grande do Sul, foi apresentada recentemente ao primo Noel Goulart, neto de João Goulart. Ele é filho de Noé, que só foi reconhecido como filho do ex-presidente nos anos 1980. O encontro, em Porto Alegre, foi promovido por Carlos Araújo, ex-marido de Dilma Rousseff. Araújo é tido como um tutor da parlamentar. A avó dela, Neusa, era irmã de Jango.

PARANGOLÉS
O filme "Hélio Oiticica", que traça a trajetória e o perfil do artista brasileiro, encerrará o Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no dia 23 de abril.

O documentário é dirigido por Cesar Oiticica Filho, sobrinho de Hélio.

'ESTOU ESPERANDO UMA MENINA'
Guilhermina Guinle, 38, será a mestre de cerimônias, amanhã, do segundo baile de gala em Miami da ONG Brazil Foundation, que arrecada recursos para projetos sociais no país. Ela diz que está animada com a tarefa. "É uma entidade bacana. E é sempre legal apresentar algo em inglês, estudei em escola americana a vida toda."

A atriz, que vive com o advogado Leonardo Antonelli (irmão de Giovanna Antonelli), está grávida de cinco meses. Ela falou por telefone com a coluna:

Folha - Está assustada com a primeira gravidez?

Guilhermina Guinle - Não tô realizando que estou grávida. Não sinto nada, nem sono, nem fome, nem enjoo. Tô uma pessoa normal [risos]. Outro dia fiz ultrassom, aí falei: 'Gente, tem uma pessoa crescendo dentro de mim'.

E vocês já sabem qual é o sexo do bebê?

Estou esperando uma menina. Sempre achei que fosse ter menino, cresci com três irmãos. Tô vendo agora que esse mundo de menina é uma coisa, as roupinhas lindas.

Você e o Leonardo pretendem oficializar o casamento?

A gente mora junto há dois anos. Essa coisa de papel é mais simbólica para a sociedade. Para o que eu sempre vivi nas minhas relações nunca foi assim importante.

Você teve o nome vetado pelo Country Club do Rio [um dos clubes mais tradicionais da cidade] ao tentar comprar um título. O que aconteceu?

Essa história é patética. Sou sócia, filha do meu pai, que tem um título, e a vida toda frequentei o clube. Todo mundo me conhece desde criança. Queria ter um título meu, vou ter um filho, queria essa independência. Nunca imaginei que passaria por isso e por tal exposição.

O pior é que você paga [por R$ 680 mil] para depois ir para a parede e levar bola preta. Nunca imaginei que não fosse passar. Um fala que é porque fui casada três vezes. Outros dizem que aconteceu porque o Leo é advogado, bem-sucedido [conselheiros fariam ressalva a seu perfil profissional]. Infelizmente, o sucesso incomoda.

CIRCUITO DAS ARTES
Emmanuel Nassar inaugurou a mostra "Infiltrações", na quinta, na galeria Millan. As artistas Laura Vinci, Sofia Borges e Tatiana Blass e o estilista Fabio Yukio foram ao vernissage, na Vila Madalena.

NOSSA LÍNGUA FRANCESA
A Festa Internacional da Francofonia teve show de abertura com o músico canadense David Giguère e a pianista e cantora Camille Poliquin, no Sesc Pompeia. Elise Racicot, diretora do Escritório do Québec em SP, estava no evento.

CURTO-CIRCUITO
Lula confirmou presença no jantar em homenagem ao Dia Nacional da Comunidade Árabe, hoje, no clube Sírio. Michel Temer será o homenageado.

O Prêmio Casa Claudia, hoje à noite, homenageia o artista Daniel Senise.

Patrícia Bastos lança o álbum "Zulusa", às 21h, no Estúdio 8, na Bela Vista.

O advogado Carlos Miguel Aidar fala hoje a empresários da Fiesp sobre a Lei Geral da Copa.

A cadeia de inépcia não dá cadeia, infelizmente - MARCO ANTONIO ROCHA

O ESTADÃO - 25/03

É antigo o dito popular: "Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza". É o caso do PT no governo: o partido que nunca tinha comido melado, quando assume o poder nacional, se lambuza, tal a maneira atabalhoada com que o exerce. E se lambuza não só com a corrupção desbragada, praticada, incentivada e acobertada por membros e lideranças partidárias, a ponto de gerar inveja entre velhos e notórios corruptos.

Felizmente, a opinião pública, a imprensa, o Ministério Público e a Justiça têm combatido a corrupção melhor e mais acuradamente. Infelizmente, com pouco sucesso (como sempre), mas avançando, o que é um alento. Peixes menores já foram parar na cadeia - as vezes só por poucos dias. Mas o cerco está se fechando. O tenaz escrutínio da imprensa e a atenção desdobrada do público têm motivado inovações normativas e fiscalizadoras nas administrações dos três níveis de governo. É cada vez mais difícil e mais perigosa, politicamente, a prática de "malfeitos" - expressão leniente com que a atual chefe e o anterior chefe de governo qualificam as ações de sequazes que são apanhados com a boca na botija pelo Ministério Público e a Polícia Federal.

O julgamento da Ação 470 pelo Supremo Tribunal Federal, se ainda não resultou no encerramento atrás das grades de um punhado de peixes grandes da política, já serviu de advertência para os que se candidatam à prática de "malfeitos". Talvez seja otimismo, mas acreditamos que a higidez ética no exercício de cargos públicos saiu algo reforçada com o julgamento do mensalão e a exposição, à execração pública, dos réus sentenciados.

Na limpeza da lambuzeira venal, é possível dizer que já estamos no caminho do bom combate e, dentro mesmo do PT, vozes respeitáveis têm dado apoio à ala ética do partido e aplaudido a coibição dos desmandos não programáticos e pra lá de incorretos do ponto de vista político.

Mas há o lado da lambuzeira gerencial.

A sofreguidão do PT em fazer coisas demais a toque de caixa - sem experiência para isso, sem dar ouvidos ao bom senso dos quadros mais tarimbados da administração e desconfiando de que tudo é conspiração do tucanato que precisa ser combatida em cada esquina do caminho - gerou essa coisa que eles chamam de "jeito petista de governar", em que cada medida adotada para resolver um problema gera dez outros problemas.

Um exemplo foi a melhoria do nível de renda da população, que era necessária e importante, que foi empreendida com sucesso e que deu ao governo do PT os níveis de popularidade de hoje. Mas poderia ter sido feita com mais cuidado, maior prudência e atentando também para a melhoria da produtividade e da competitividade da produção nacional. Da maneira sôfrega com que foi feita, criou os riscos que o País enfrenta hoje nas contas externas, excessivo aumento das importações de manufaturados, em detrimento da produção nacional, numa hora em que manufaturas estrangeiras tinham preços de liquidação por causa da crise nos grandes mercados americano e europeu. Isso, aliás, até ajudou no problema da inflação interna, pois, com a indústria brasileira sem capacidade para atender à demanda, se os produtos importados estivessem com preços lá em cima o efeito na inflação interna seria mais grave ou o governo teria de coibir as importações.

De qualquer forma, a inflação mostrou sua cabeça de hidra e, aí, mais uma vez, a resposta do jeito petista de governar foi tentar contê-la congelando preços de combustíveis e gás de cozinha e reduzindo à força o custo do dinheiro, o que exacerbou ainda mais o consumo já explosivo. Nos combustíveis, a peteca ficou com a Petrobrás, que luta para cumprir o seu programa de investimentos e passou a ser olhada com desconfiança por financiadores e acionistas.

Em busca de mais fórmulas para deter a marcha da inflação, decretou-se o corte nas tarifas de energia, alegrando o populacho, mas gerando graves problemas para o futuro das elétricas, cuja rentabilidade presente e prevista fica ao sabor de decisões em cima do joelho e que precisariam dar segurança a financiadores, internos e externos.

Fundos de pensão e aposentadorias, bancos, empresas privadas e pessoas físicas são acionistas de quase todas as empresas de energia. Na semana passada, os da Cemig viram seu patrimônio em ações da companhia derrubado em cerca de 14% pela simples informação de que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende mudar o processo de revisão tarifária da estatal, o que puxou para baixo o valor das ações de todas as estatais elétricas.

Para terminar: BNDES, BNDESpar e Caixa Econômica viram rebaixada sua classificação internacional de risco por causa das carteiras de créditos baratos e, em muitos casos, podres que o jeito petista de governar obrigou essas instituições a fornecer.

Nem falei dos bilhões que a União vai ter de devolver aos contribuintes por causa de trapalhadas da Receita na cobrança de PIS e Cofins, desde 2004.

São "malfeitos" que não dão prisão, pois resultam de uma cadeia de inépcia de difícil identificação, que começa na Presidência da República, e pela qual todos nós pagaremos, via Tesouro.

Mais ousadia, menos mesquinhez - JOSÉ ANÍBAL

BRASIL ECONÔMICO - 25/03

Enquanto os critérios de avaliação do ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio), que concederam nota máxima para redações que traziam erros como "trousse", "rasoavel" e "enchergar" são destaques na mídia, recebo a sétima edição do Índice Paulista de Responsabilidade Social (IPRS) organizado pela Fundação Seade. Inevitável não associar os dois temas, impossível não refletir sobre o projeto educacional brasileiro.

Segundo o último Relatório de Desenvolvimento de 2012, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil tem a terceira maior taxa de abandono escolar - 24,3% - entre os 100 países com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

É inadmissível imaginar que crianças estejam fora das escolas. Mas o fato é que muitas estão. Indignação, pura e simplesmente, não mudará essa realidade. Discursos no horário nobre tampouco. Então, se é válido descrever, no ENEM, a receita de um macarrão instantâneo, por que não experimentar receitas que possam incrementar a minguada educação no Brasil?

Nos países que apresentam os melhores índices de desenvolvimento, não por acaso, a educação é prioridade. A Europa, em crise, propõe cortes e austeridade, mas mantém os projetos educacionais. O provimento de cerca de 280 mil bolsas de estudo Erasmus, um dos mais prestigiados programas destinados aos jovens, no ano letivo de 2013-2014, foi confirmado.

Além disso, a parceria com instituições privadas é incentivada. Universidades e empresas atuam juntas, compartilham pesquisas, laboratórios, conhecimento. E geram resultados. Tímidas, as iniciativas de parceria no Brasil ainda se restringem a poucas instituições e soam quase mesquinhas diante do enorme déficit que o país apresenta no campo educacional. A mesma irreverência que se mostrou abundante aos corretores das redações do ENEM se mostra escassa em outras instâncias do Ministério da Educação. Falta ousadia e ambição ao MEC.

Em São Paulo, há alguns anos, demos início a um projeto educacional arrojado e factível. As Fatecs e Etecs, com índice de empregabilidade dos alunos que chega a ser superior a 90%, são prova disso. Essas instituições oferecem um ensino gratuito e de qualidade para mais de 280 mil alunos. Não é pouca coisa, mas a ideia é continuar expandindo esse modelo. Como mostrou o resultado do IPRS, as 3 dimensões consideradas pelo estudo-riqueza municipal, longevidade e escolaridade-revelam que educação e melhores condições de vida vêm, frequentemente, juntas. Infraestrutura adequada, como eixos rodoviários, também foi um dado associado.

Portanto, a receita é simples, mas é preciso querer fazer. É preciso construir estradas (em todos os sentidos) e formar os engenheiros e técnicos que irão viabilizar essas obras. É preciso investir em políticas públicas que promovam, de fato, o desenvolvimento do país. Nesse sentido, o IPRS e o famigerado resultado das redações do ENEM são indicadores importantes que revelam, de fato, o que há além dos discursos.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 25/03

Áreas contaminadas atraem o setor imobiliário
A escassez de áreas para empreendimentos em São Paulo tem levado construtoras à compra de terrenos contaminados, especialmente por fábricas hoje desativadas.

Poluição da água, gases e substâncias nocivas à saúde infiltradas nos solos são alguns dos problemas encontrados pela Secretaria do Meio Ambiente.

São mais de 4.000 áreas com algum tipo de contaminação em todo o Estado.

De acordo com levantamento de 2011 da Cetesb, órgão ligado à secretaria, 264 terrenos foram recuperados.

O processo de remediação do solo é obrigatório. Sem ele, não são liberadas licenças necessárias para a construção.

"Nem começam o empreendimento antes de remediar a área", lembra o secretário estadual Bruno Covas.

"A recuperação é de responsabilidade do proprietário do terreno. Há desvalorização do preço quando a área é vendida com esse passivo."

A AES Eletropaulo despolui uma área no Cambuci, equivalente a 13 campos de futebol, que foi vendida por R$ 160 milhões e dará lugar a um condomínio residencial.

"O custo para a recuperação é de 20% a 40% do valor do terreno", diz Franco Tarabini Junior, sócio da Enfil (de controle ambiental), contratada pela empresa.

Para Odair Senra, do SindusCon-SP, "a remediação de áreas é uma alternativa onde não há terrenos disponíveis".

O nível de contaminação do solo determina a duração do processo jurídico para liberação do terreno, segundo a advogada Roberta Danelon Leonhardt, sócia do escritório Machado Meyer.

"Em média, o processo dura de três a cinco anos. Diversos laudos são pedidos antes da prefeitura liberar a área para reúso", diz Leonhardt.

Queda de juros eleva busca por previdência privada aberta

A previdência privada aberta registrou em janeiro um aumento recorde de 40,05% da arrecadação, ante o mesmo mês de 2012.

É o melhor desempenho de janeiro nos últimos seis anos, com a entrada de mais de R$ 6,6 bilhões, segundo a FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

A carteira de investimentos do sistema alcançou R$ 343,1 bilhões, em janeiro.

Os planos individuais foram o destaque ao captarem R$ 6 bilhões.

"Com a queda mais acentuada dos juros, observamos um crescimento mais forte no setor. No ano de 2012, a alta já foi de mais de 30%", diz Osvaldo do Nascimento, presidente da Fenaprev.

As pessoas começam a diferenciar mais seus planos de curto, médio e longo prazos, afirma Nascimento.

"Antes aplicavam em fundos DI e eram bem remuneradas. Já a nova poupança remunera 75% da Selic e dificilmente repõe a inflação."

Hoje é mais fácil comparar com a inflação, afirma.

"A busca por formar poupança de longo prazo explica a expansão." O crescimento tem sido mais em VGBL.

"Esse público que passa a ter renda e investir faz declaração de IR simplificada."

SABÃO EM TODO O PAÍS
A 5àsec, rede mundial de lavanderias, vai abrir mais 50 lojas neste ano no país.

A maioria das unidades será inauguradas fora da capital paulista: 30% no interior, 46% em outros Estados e apenas 24% no município de São Paulo.

"Estamos efetuando nosso plano de interiorização. Várias regiões do Brasil ainda têm uma grande demanda reprimida", diz Nelcindo Nascimento, diretor-geral da 5àsec na América Latina.

Novas unidades estão previstas para cidades como Ipatinga (MG) e Porto Velho.

O faturamento da rede cresceu 14% em janeiro e fevereiro de 2013. A expectativa é de uma alta de 15% até o final deste ano.

A Dryclean USA, empresa norte-americana, também amplia sua atuação no Brasil. O número de lavanderias da marca no país passará de 140 para 180 até dezembro.

A Quality, por sua vez, pretende fechar o ano com 125 lojas -expansão de 17%.

400
é o número aproximado de unidades da 5àsec no Brasil

140
são as lojas da Dryclean USA no país

152
são as undiades da Quality

Casa nova Após sete anos na RC Consultores, o economista Fabio Silveira deixa a empresa para implementar a área macrossetorial da GO Associados, de Gesner de Oliveira, ex-presidente do Cade e da Sabesp.

Pequenas... As micro e pequenas empresas de Santa Catarina tiveram alta de 3% no faturamento no segundo semestre do ano passado, na comparação com os seis messes anteriores.

...catarinenses O dado é de pesquisa do Sebrae/SC, que mostra ainda que o índice de competitividade também subiu: passou de 51 para 56 pontos, em escala de zero a cem. Foram ouvidas 500 empresas.

BAR ARTESANAL
A Karavelle, dos sócios Dinho Diniz (sobrinho de Abílio Diniz) e Otávio Veiga, que produz cerveja premium artesanal, terá um bar em São Paulo no primeiro semestre deste ano.

"A casa vem em um momento em que as marcas estão conquistando seus espaços. O país está no estágio inicial desse tipo de cerveja", diz Diniz.

"É uma experiência para que, depois, possamos abrir unidades em outros Estados", afirma Veiga.

O bar terá fabricação de cerveja no local e algumas produções limitadas, conforme os empresários.

Paralelo ao empreendimento, os sócios investem na fábrica da Karavelle em Indaiatuba (SP). "Devemos produzir mais do que o dobro dos atuais 60 mil litros mensais", acrescenta Diniz.

Rebatizado... A Sangari, que desenvolve metodologias e material educacional, irá mudar seu nome para Abramundo. O comando da empresa também sofrerá alteração: Ricardo Uzal será o novo CEO. O executivo era diretor financeiro da Crivo, companhia de análise de crédito e fraude.

...educativo Apesar da mudança na marca, a companhia continua com o projeto de ensino Ciência e Tecnologia com Criatividade. O programa, que custa R$ 25 por mês por aluno, engloba material de experimentação, formação de professores e acompanhamento presencial, entre outros.

A última palavra - LUÍS EDUARDO ASSIS

O ESTADO DE S. PAULO - 25/03

Disse uma vez Machado de Assis que sempre existe a maneira certa de começai" uma história com uma trivialidade. Pois aqui vai uma tentativa. Imaginemos um estádio de futebol, desses que possivelmente ficarão prontos para a Copa do Mundo, totalmente tomado por 65.536 pessoas (ficará claro, adiante, que facilita se o número for uma potência de 2). Digamos, agora com alguma concessão criativa, que todos estão lá para um campeonato de par ou impar. A cada rodada, acompanhada por dezenas de milhões de torcedores, metade dos participantes perde a disputa e deixa o estádio. Em 15 rodadas, supondo com boa vontade que a organização do evento funcione, teremos frente a frente dois contendores apenas. Mais uns poucos minutos de suspense e saberemos quem é o grande campeão.

Muitos verão nisso um grande feito: o vencedor terá derrotado implacavelmente dezenas de milhares de competidores, depois de cravar um palpite certo 16 vezes consecutivas. Entrevistado em rede nacional no fim da peleja, o que dirá o nosso súbito herói? Que é um homem de muita sorte? Dificilmente. E mais provável que o eufórico vencedor (que não gosta de ópera e não se lembra da letra de Fortuna Imperatrix Mundi, de Carl Orff) atribua sua incrível vitória a uma técnica que só o seu talento natural foi capaz de desenvolver. Lembrará o exaustivo treinamento e dedicará a vitória a alguém. Não será surpresa se fizer menção a uma suposta predestinação a que só os escolhidos têm direito.

Na política econômica esse tipo de falsa percepção também é frequente. Fatores externos às decisões do governo são muitas vezes relevados em favor de uma interpretação mais magnânima e autocomplacente. Seria demais esperar o contrário, obviamente. As pessoas em geral - e mais ainda aquelas que têm a política como vocação ou ofício - relutam em atribuir o próprio sucesso a algo fortuito e preferem acreditar que são capazes de reger garbosamente uma orquestra que escutam no rádio.

Mas o fato é que, em medida relevante, o Brasil foi nos últimos anos agraciado por fatores extemporâneos que em nada se relacionam com a nossa capacidade de tomar decisões corretas.

Tomemos o mercado de commodities, por exemplo. Ao contrário do que pensam alguns analistas internacionais, a economia brasileira não depende diretamente da exportação de commodities. Apesar de importante, o agronegócio de exportação não é suficiente para sustentar o crescimento do PIB. Mas, regra geral e simplificadamente, valorizações nas cotações internacionais dos produtos exportados tendem a provocar redução na taxa cambial, o que abre espaço para a aceleração do crescimento sem maiores pressões sobre a inflação (já que os produtos importados ficam mais baratos). Inversamente, queda nos preços internacionais pode pressionar o câmbio e estimular a inflação, o que induz à elevação de juros e queda do crescimento econômico.

A correlação entre a variação trimestral anualizada do PIB e a variação do índice de preços das commodities entre 1991 e 2012 é da ordem de 74,6%. Tendo em mente essa referência, são notáveis as diferentes trajetórias dos preços internacionais nos últimos anos. Ao longo do governo FHC, entre dezembro de 1994 e dezembro de 2002, o índice de preços das commodities desvalorizou 36,3%. O presidente Lula conviveu com outro cenário. Durante sua gestão, os preços das commodities valorizaram nada menos que 1814%. A gestão da presidente Dilma, para finalizar, coincide com uma queda de 15% entre dezembro de 2010 e dezembro de 2012.

É equívoco argumentar que o sucesso do governo Lula se deva apenas à roda da fortuna. Houve mérito, entre outros pontos, em romper com dogmas do programa econômico original do PT (providencialmente substituído pela sucinta Carta ao Povo Brasileiro em julho de 2002), em tirar proveito da baixa capacidade de endividamento para alavancar o consumo e em fortalecer um programa de distribuição direta de renda (o Bolsa-Família) que replica, ironicamente, uma ideia liberal há tempos defendida pela revista The Economist. Mas a bonança internacional foi um ingrediente fundamental para o crescimento da economia nesse período.

Deu certo enquanto durou. A capacidade de endividamento das famílias se esgotou, a economia gira em falso, movida pelo escasso dinamismo do setor de serviços, e a valorização cambial não pode seguir adiante, sob pena de solapar de vez o que restou da indústria de transformação (nos últimos dez anos os salários industriais em dólar subiram nada menos que 321%). Qualquer que tenha sido sua importância, a sorte virou.

O descaso com a concepção de um modelo de crescimento de longo prazo cobra agora seu preço. Comemos as sementes, e agora há pouco a plantar. O raio de manobra da política econômica se estreitou, as opções são poucas e o governo tateia freneticamente num labirinto escuro, vítima da hiperatividade. Vivemos uma soturna combinação entre baixo crescimento e inflação ainda alta.

Atende pelo esdrúxulo nome de apofenia a distorção cognitiva de perceber um padrão de comportamento ou uma deliberada estratégia em situações que são meramente aleatórias. Convém não cair na tentação de subestimar o fato importante de que a sorte muda e, com ela, mudam os destinos dos homens - e mulheres. O longo período pré-eleitoral será uma corrida contra o tempo, com o governo torcendo para que o baixo crescimento não contamine o mercado de trabalho e afete os humores do eleitorado. A presidente, manietada por uma coalização de interesses conflitantes, resta pouco mais do que dizer se vai dar par ou ímpar. Como já disse Simone de Beauvoir, o acaso tem sempre a última palavra.


O fim do smartphone - LULI RADFAHRER

FOLHA DE SP - 25/03

Hoje universal, o smartphone deverá desaparecer antes do PC


Há duas décadas um celular era considerado excentricidade nerd. Hoje quem não tem um deles é exótico. Misto de computador de bolso e máquina de entretenimento, o smartphone é de longe o dispositivo eletrônico mais popular, pouco importa a renda de seu usuário.

Na África, onde alguns modelos são vendidos por cerca de US$ 10, há países com mais celulares do que privadas. Para aproveitar o canal de comunicação, governos e ONGs os utilizam para transmitir informações diversas, como medidas para a prevenção contra a Aids e malária, previsão do tempo, técnicas de plantio e preços de mercado para a agricultura. Por questões de segurança, há uma grande quantidade de transações financeiras feitas através deles, para evitar o transporte de dinheiro.

Mesmo assim a farra do smartphone dá sinais de estar chegando a seu final. O crescimento no mercado de aparelhos de ponta deve diminuir para 10% a 15% nos próximos dois anos, contra 50% a 100% do passado.

Na China, que deve se tornar o maior mercado de smartphones do mundo, com 170 milhões de unidades vendidas, novas marcas como Xiaomi têm especificações parecidas com as do Galaxy S3, da Samsung, e do iPhone 5, da Apple, vendidos à metade do preço.

O problema com os smartphones é que eles são, como os PCs de antigamente, genéricos demais. À medida que o software e o uso se especializam, o aparelho como o conhecemos não consegue mais dar conta das demandas. Por mais que a ficção científica continue a mostrá-los daqui a um século, dificilmente se carregará um retângulo de vidro no bolso nos próximos anos./

Poucos fabricantes parecem se dar conta dessa estagnação. Restrito a uma tela e um teclado, o usuário de hoje ainda se comporta como um zumbi, andando cego, curvado sobre sua telinha brilhante. Os modelos mais novos prometem pouco mais do que telas maiores, teclados mais eficientes, conexão e processamento mais rápido e baterias mais longevas. A falta de criatividade é tamanha que um dos maiores sucessos nos lançamentos deste ano foi um aparelho à prova d'água. Não há mais o fascínio provocado pelo StarTAC, o N95 ou o primeiro iPhone.

O resultado é um tédio, que leva a uma deterioração na demanda. Para que comprar todo ano um telefone que faz o mesmo milhão de coisas que meu tablet faz?

Novos protótipos tentam reavivar o mercado antes que seja tarde. Apple e Samsung apostam em versões do telefone no relógio de pulso, incorporando ao telefone pedômetros e monitores de atividade e saúde. Microsoft e Google apostam em óculos com informações contextuais e camadas de realidade aumentada. Uma coisa é certa: a caixinha multifuncional está com os dias contados.

A tecnologia digital está finalmente chegando ao estágio em que aprende com seu usuário, em vez de demandar dele um aprendizado. Assistentes virtuais como Siri e Google Now logo eliminarão a necessidade de texto nos celulares, facilitando seu uso em óculos, brincos, tiaras e braceletes. É o primeiro passo na direção de seu desaparecimento, sua transformação em serviços como o são as operadoras de telefonia.

Um dia tais itens estarão por toda parte, realizando praticamente qualquer tarefa cotidiana. Antes que esse dia chegue talvez seja bom considerar a queixa que há 160 anos Henry David Thoreau fazia em seu livro "Walden", lamentando que as pessoas tinham se tornado ferramentas de suas ferramentas.