O GLOBO - 20/02
Fechada desde o início do mês depois da tragédia de Santa Maria, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio, foi liberada pelos bombeiros.
Reabre hoje, assim como a Casa França-Brasil e o Museu do Ingá.
CASO MÉDICO
Nosso Fernando Calazans, o colunista esportivo mais fofo do Brasil, operou o ombro direito, que fraturou numa queda. Volta a escrever em meados de março. Mas passa bem.
ALUNOS AUTISTAS
Cem escolas municipais do Rio vão receber em março o projeto Educação Especial Digital, incluindo tablets.
É um piloto para otimizar o aprendizado de alunos autistas.
JOGOU A TOALHA
A delegada Valéria Aragão, estrela de Mulheres de aço, da GNT, surpreendeu ao entregar o cargo de titular da Delegacia de Combate às Drogas.
HAJA DIARREIA
Quando alguém vai à Biblioteca Leonel Brizola, em Caxias, encontra placa: “Fui ao banheiro. Volto já!”.
Só que a cena se repete há dois meses.
É PENA
A UPP não vingou na Mangueira. Lá, como quase sempre, governa o tráfico.
MUSEU OLÍMPICO
O prédio do antigo Museu do Índio, no Maracanã, que Cabral decidiu não derrubar mais, voltará a sediar um museu.
Mais precisamente o futuro Museu Olímpico.
ARCA DA TIJUCA
No cinema, Harrison Ford, no papel do destemido Indiana Jones, evitou que a Arca da Aliança caísse nas mãos de nazistas.
Mas ontem, na vida real, o ator de 70 anos, depois de almoçar frango, arroz e feijão no Esquilo, se perdeu numa trilha na Floresta da Tijuca.
Acabou salvo por um funcionário do restaurante.
SANTO MARKETING
A despedida pública do papa será dia 27, véspera oficial da renúncia, com uma missa na Praça de São Pedro.
Neste dia, a audiência na TV mundial deve beirar à dos jogos da Copa do Mundo.
PROFISSÃO: ‘CONCURSEIRO’
Pesquisa da FGV Direito Rio mostra que 20 órgãos federais fizeram 698 concursos nos últimos 10 anos para preencher 41.241 vagas.
O coordenador da pesquisa, Fernando Fontainha, acha que o Brasil está virando “um país de concurseiros”.
NO MAIS
O senador petista Eduardo Suplicy tem fama de folclórico e não é só porque canta Blowin’ in the wind, de Bob Dylan, em eventos públicos. Mas, ao lutar pelo direito de exibição do documentário sobre Cuba com a blogueira Yoani Sánchez, ele mostra ser um democrata, defensor do direito de ter gente neste mundo de Deus que pense ou aja diferente da gente.
EXCESSO DE HERDEIROS
O Ministério do Esporte não consegue encontrar as famílias de quatro campeões do mundo já falecidos. Por lei, os 51 campeões das Copas de 1958, 1962 e 1970 têm direito a R$ 100 mil cada.
Mas, até agora, não foram pegar o seu quinhão os herdeiros de Everaldo Marques da Silva, lateral do Mundial no México, Jurandyr de Freitas (1962), Valdemar Rodrigues Martins, o Oreco, e Zózimo Alves Calazans (1958).
JÁ...
O problema de Garrincha é excesso de herdeiros, entre mulheres e filhos.
EM FAMÍLIA
O escritor Ricardo Filho vai participar da programação infantil da Flip, a Flipinha.
Ricardo é neto de Graciliano Ramos, o homenageado do ano da festa literária, que será realizada de 3 a 7 de julho em Paraty.
NU ARTÍSTICO
A revista Playboy quer porque quer estampar a atriz Nanda Costa.
Segundo a Rádio Pelada, a revista já teria oferecido R$ 1,5 milhão. Mas a Morena de Salve Jorge disse não.
quarta-feira, fevereiro 20, 2013
Caminho certo - SONIA RACY
O ESTADÃO - 20/02
A presidente já defendeu a empresa este ano. Conversou com Cristina Kirchner sobre o caso dos investimentos em potássio na Argentina – que foram interrompidos.
Acelerador
Luís Inácio Adams determinou ontem à Escola da AGU a busca por consultoria. “Vários processos precisam ser aperfeiçoados”, disse à coluna.
E mais: quer ver de pé, até o fim do mês, a Comissão de Ética do órgão. Criada em dezembro, ainda não teve seus integrantes nomeados.
Romaria
Marta Suplicy fará périplo para convencer empresários a adotar o Vale Cultura. Depois de SP, anteontem, tem agenda em Curitiba, Porto Alegre e BH.
Só Sul e Sudeste? Não, a ministra não quer que o vale “repita a Lei Rouanet – que tem apenas 1% de seus projetos aprovados no Norte”.
Aval
E Lula teve longo encontro com Dirceu, sexta-feira. Definiram a participação do ex-ministro no ato do PT, hoje, em São Paulo, para celebrar os dez anos do partido no poder
Em equipe
Durante sua passagem pela Rússia, para participar da reunião do G-20, Guido Mantega enfatizou a candidatura de Roberto Azevêdo à OMC.
Acha que o saldo foi positivo.
Reforço
Gabriel Chalita virou uma espécie de “embaixador”, junto ao Congresso e ao Executivo, na empreitada contra a PEC 32 – que proíbe investigações do Ministério Público.
Acompanhado de Márcio Rosa, do MP-SP, e Roberto Porto, secretário de Haddad, conversou ontem, em Brasília, com Michel Temer e Henrique Eduardo Alves.
Direto do Vaticano
Vendedores de souvenires do Vaticano comemoram, discretamente, a renúncia de Bento XVI. Motivo? Viviam tempos de vacas magras, se comparados à época de João Paulo II.
O carisma do antigo papa, aliás, continua presente até… na sala do porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. No lugar, ao invés da foto de Joseph Ratzinger, há uma do antecessor.
Vaticano 2
A lucidez de Ratzinger chamou atenção durante seu pronunciamento. Foram 45 minutos de improviso – e sem tomar nem sequer um gole de água.
Vaticano 3
Sopram os ventos de Roma que os cinco cardeais brasileiros apoiarão a candidatura do italiano Gianfranco Ravasi.
Escolhida
Karla Meneghel, ex-Camargo Vilaça, é a nova diretora da White Cube no Brasil.
Ex - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 20/02
E por que haveria de ter pompa ou circunstância? Somos apenas ex-namorados indo almoçar
Marcamos num restaurante perto do trabalho dela, no Itaim -o que me pareceu não só prático, mas tranquilizador: dava ao encontro algo de corriqueiro, prosaico, sem pompa ou circunstância. E por que haveria de ter pompa ou circunstância? Somos apenas ex-namorados, já há muito separados, indo almoçar num dia de semana. Ela pede uma salada e uma Coca Zero; eu, o menu do dia e uma água com gás.
Ficamos juntos por três ou quatro anos, lá pelos 20 e poucos. Fizemos planos, como fazem todos os casais. Escolhemos nomes para os filhos que não tivemos, combinamos viagens nas quais nunca embarcamos: todo um futuro que, por razões que a própria razão desconhece -ou, mais provavelmente, que a memória achou de bom alvitre apagar-, deu com os burros n'água.
"Essa é a Dora, na natação", ela me diz, estendendo-me o celular. "Vai passando pra direita. Ó, o Francisco no aniversário de um ano. Os dois juntos na escola..." Vejo algumas fotos de seus filhos, até que entra uma dela beijando o marido, num Réveillon. Entrego-lhe o celular, ela o pega de volta, sem pressa. E por que teria pressa? Não há amor nem mágoa entre nós.
"O amor acaba", disse Paulo Mendes Campos, em sua crônica mais bonita; só não disse o que fica no lugar. É na esperança, talvez, de entender essa estranha melancolia, esse vazio preenchido por boas lembranças e algumas cicatrizes, que nos encontramos a cada ano ou dois. Marcamos um almoço num dia de semana. Falamos do passado, mas não muito. Falamos do presente, mas não muito. Há uma vontade genuína de se aproximar e o tácito reconhecimento dessa impossibilidade.
Dois velhos amigos, quando se reveem, voltam no ato para o território comum de sua amizade. Reconstroem o pátio da escola, o Centro Acadêmico, o prédio em que moraram -e o adentram. Em três chopes, refez-se o antigo elo. Para os ex-amantes, no entanto, é impossível restabelecer o elo, o elo morreu com o amor, era o amor. O que sobra é feito um cômodo dentro da gente, cheio de móveis e objetos valiosos, porém trancado. Nesses almoços, estamos sempre no corredor, olhando para a porta fechada. Sentimos saudades do que está ali dentro, mas não podemos nem queremos entrar. Como disse um grego que viveu e amou há 2.500 anos: não somos mais aquelas pessoas nem é mais o mesmo aquele rio.
Uma vez vi um filme, não me lembro qual, em que um sujeito declarava: "Se duas pessoas que um dia se amaram não puderem ser amigas, então o mundo é um lugar muito triste". O mundo é um lugar triste, mas não porque ex-amantes não podem ser amigos: sim porque o passado não pode ser recuperado. Eis a verdade banal que descobrimos, frustrados, ao fim de cada encontro: toda memória é um luto pelo que vamos deixando para trás.
"Café?". "Não, obrigada, preciso voltar pro trabalho". "É, eu também tô meio com pressa". Rachamos a conta, nos beijamos nas bochechas, damos um abracinho demorado e chocho, com a ternura triste dos amores findos e seguimos cada um para o seu lado.
E por que haveria de ter pompa ou circunstância? Somos apenas ex-namorados indo almoçar
Marcamos num restaurante perto do trabalho dela, no Itaim -o que me pareceu não só prático, mas tranquilizador: dava ao encontro algo de corriqueiro, prosaico, sem pompa ou circunstância. E por que haveria de ter pompa ou circunstância? Somos apenas ex-namorados, já há muito separados, indo almoçar num dia de semana. Ela pede uma salada e uma Coca Zero; eu, o menu do dia e uma água com gás.
Ficamos juntos por três ou quatro anos, lá pelos 20 e poucos. Fizemos planos, como fazem todos os casais. Escolhemos nomes para os filhos que não tivemos, combinamos viagens nas quais nunca embarcamos: todo um futuro que, por razões que a própria razão desconhece -ou, mais provavelmente, que a memória achou de bom alvitre apagar-, deu com os burros n'água.
"Essa é a Dora, na natação", ela me diz, estendendo-me o celular. "Vai passando pra direita. Ó, o Francisco no aniversário de um ano. Os dois juntos na escola..." Vejo algumas fotos de seus filhos, até que entra uma dela beijando o marido, num Réveillon. Entrego-lhe o celular, ela o pega de volta, sem pressa. E por que teria pressa? Não há amor nem mágoa entre nós.
"O amor acaba", disse Paulo Mendes Campos, em sua crônica mais bonita; só não disse o que fica no lugar. É na esperança, talvez, de entender essa estranha melancolia, esse vazio preenchido por boas lembranças e algumas cicatrizes, que nos encontramos a cada ano ou dois. Marcamos um almoço num dia de semana. Falamos do passado, mas não muito. Falamos do presente, mas não muito. Há uma vontade genuína de se aproximar e o tácito reconhecimento dessa impossibilidade.
Dois velhos amigos, quando se reveem, voltam no ato para o território comum de sua amizade. Reconstroem o pátio da escola, o Centro Acadêmico, o prédio em que moraram -e o adentram. Em três chopes, refez-se o antigo elo. Para os ex-amantes, no entanto, é impossível restabelecer o elo, o elo morreu com o amor, era o amor. O que sobra é feito um cômodo dentro da gente, cheio de móveis e objetos valiosos, porém trancado. Nesses almoços, estamos sempre no corredor, olhando para a porta fechada. Sentimos saudades do que está ali dentro, mas não podemos nem queremos entrar. Como disse um grego que viveu e amou há 2.500 anos: não somos mais aquelas pessoas nem é mais o mesmo aquele rio.
Uma vez vi um filme, não me lembro qual, em que um sujeito declarava: "Se duas pessoas que um dia se amaram não puderem ser amigas, então o mundo é um lugar muito triste". O mundo é um lugar triste, mas não porque ex-amantes não podem ser amigos: sim porque o passado não pode ser recuperado. Eis a verdade banal que descobrimos, frustrados, ao fim de cada encontro: toda memória é um luto pelo que vamos deixando para trás.
"Café?". "Não, obrigada, preciso voltar pro trabalho". "É, eu também tô meio com pressa". Rachamos a conta, nos beijamos nas bochechas, damos um abracinho demorado e chocho, com a ternura triste dos amores findos e seguimos cada um para o seu lado.
Longe da perfeição - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 20/02
Há muito tempo, a quarta-feira, e não o domingo, é o dia de futebol. Hoje, mais ainda
O chavão é falar do "espírito de Libertadores". Isso não faltou nas duas últimas péssimas partidas do Grêmio. Faltou futebol. Jogador com vontade é tão óbvio, essencial e uma obrigação, que nem precisaria ser lembrado. Hoje, o Grêmio precisa jogar muito, se quiser ganhar do Fluminense.
Por causa da altitude, não será surpresa se o fraquíssimo San José, da Bolívia, vencer o Corinthians, um dos fortes candidatos ao título. Tite, para ser justo com os campeões mundiais, mantém Pato na reserva. Isso tem limite. Ele é superior.
Outro clássico é entre Milan e Barcelona. Apesar de ter um time inferior aos dos últimos anos, o Milan, pela tradição, por atuar em casa, será um adversário difícil. Como todo treinador italiano, Allegri sabe armar um bom sistema defensivo, na tentativa de evitar a troca de passes na intermediária e a infiltração de um jogador, para receber a bola livre, dentro da área, características do Barcelona.
Embora haja grandes diferenças na maneira de atuar entre o Barcelona e as principais equipes brasileiras do passado -o futebol mudou-, a troca de passes pelo meio também fazia parte de nosso estilo. O Brasil desaprendeu a jogar dessa maneira, como disse Dorival Júnior, no programa Redação SporTV. Para os moderninhos, trocar tabelas pelo meio é futebol do passado.
Hoje, quase todas as jogadas no futebol brasileiro são construídas para alguém cruzar a bola na área.
Funciona bem, quando o cruzamento é feito da linha de fundo, forte, de curva, com a bola saindo do goleiro e sem subir tanto. Raramente, isso ocorre. Quase sempre, o cruzamento serve para dar a bola ao adversário.
Se o Barcelona mantivesse seu estilo e acrescentasse o cruzamento bem feito, no momento certo, seria ainda mais eficiente.
Daniel Alves tenta fazer isso, mas o time não tem ótimos cabeceadores e parece não gostar dessa jogada, nem de gols feios.
Por não ter um meia recuado de cada lado, para proteger os laterais, o Barcelona permite muitos cruzamentos para sua área e sofre muitos gols pelo alto. Além disso, apenas Busquets e Piqué são altos.
Outra deficiência da equipe é não ter excelentes atacantes pelos lados. Se tivesse, Messi faria ainda mais gols. O lugar está reservado para Neymar.
O atual técnico, assim como na época de Guardiola, está sempre na dúvida se coloca um atacante de cada lado ou se troca um dos dois por mais um craque no meio-campo (Fábregas), indo Iniesta para a esquerda. A vantagem de ter dois atacantes abertos é alongar a defesa e obrigar o adversário a marcá-los.
Com isso, sobra mais espaço para Messi, Xavi e Iniesta trocarem passes pelo meio.
O Barcelona joga bonito e com eficiência, é único na maneira de atuar, mas está longe de ser perfeito.
Há muito tempo, a quarta-feira, e não o domingo, é o dia de futebol. Hoje, mais ainda
O chavão é falar do "espírito de Libertadores". Isso não faltou nas duas últimas péssimas partidas do Grêmio. Faltou futebol. Jogador com vontade é tão óbvio, essencial e uma obrigação, que nem precisaria ser lembrado. Hoje, o Grêmio precisa jogar muito, se quiser ganhar do Fluminense.
Por causa da altitude, não será surpresa se o fraquíssimo San José, da Bolívia, vencer o Corinthians, um dos fortes candidatos ao título. Tite, para ser justo com os campeões mundiais, mantém Pato na reserva. Isso tem limite. Ele é superior.
Outro clássico é entre Milan e Barcelona. Apesar de ter um time inferior aos dos últimos anos, o Milan, pela tradição, por atuar em casa, será um adversário difícil. Como todo treinador italiano, Allegri sabe armar um bom sistema defensivo, na tentativa de evitar a troca de passes na intermediária e a infiltração de um jogador, para receber a bola livre, dentro da área, características do Barcelona.
Embora haja grandes diferenças na maneira de atuar entre o Barcelona e as principais equipes brasileiras do passado -o futebol mudou-, a troca de passes pelo meio também fazia parte de nosso estilo. O Brasil desaprendeu a jogar dessa maneira, como disse Dorival Júnior, no programa Redação SporTV. Para os moderninhos, trocar tabelas pelo meio é futebol do passado.
Hoje, quase todas as jogadas no futebol brasileiro são construídas para alguém cruzar a bola na área.
Funciona bem, quando o cruzamento é feito da linha de fundo, forte, de curva, com a bola saindo do goleiro e sem subir tanto. Raramente, isso ocorre. Quase sempre, o cruzamento serve para dar a bola ao adversário.
Se o Barcelona mantivesse seu estilo e acrescentasse o cruzamento bem feito, no momento certo, seria ainda mais eficiente.
Daniel Alves tenta fazer isso, mas o time não tem ótimos cabeceadores e parece não gostar dessa jogada, nem de gols feios.
Por não ter um meia recuado de cada lado, para proteger os laterais, o Barcelona permite muitos cruzamentos para sua área e sofre muitos gols pelo alto. Além disso, apenas Busquets e Piqué são altos.
Outra deficiência da equipe é não ter excelentes atacantes pelos lados. Se tivesse, Messi faria ainda mais gols. O lugar está reservado para Neymar.
O atual técnico, assim como na época de Guardiola, está sempre na dúvida se coloca um atacante de cada lado ou se troca um dos dois por mais um craque no meio-campo (Fábregas), indo Iniesta para a esquerda. A vantagem de ter dois atacantes abertos é alongar a defesa e obrigar o adversário a marcá-los.
Com isso, sobra mais espaço para Messi, Xavi e Iniesta trocarem passes pelo meio.
O Barcelona joga bonito e com eficiência, é único na maneira de atuar, mas está longe de ser perfeito.
PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV - 20/02
13h - Ciclismo de pista, Mundial, SporTV 2
14h - Golfe, PGA Tour, ESPN +
16h45 - Milan x Barcelona, Copa dos Campeões, Band e ESPN
19h30 - São Caetano x São Paulo, Campeonato Paulista, SporTV
19h45 - Velez Sarsfield x D. Iquique, Libertadores, Fox Sports
21h30 - Pittsburgh Penguins x Philadelphia Flyers, hóquei no gelo, ESPN +
22h - San José x Corinthians, Libertadores, Globo (para SP) e Fox Sports
22h - Fluminense x Grêmio, Libertadores, Globo (menos SP), FX e SporTV
22h - Atlanta Hawks x Miami Heat, NBA, ESPN
Macumba - ROBERTO DaMATTA
O GLOBO - 20/02
Tinhosamente refastelado de galinha e farofa, fumava fagueiro o charuto. E ria: "Vocês não são antropólogos, são crentes. Não na antropologia, mas em macumba!" Ouviram, então, um estrondo igual ao raioque caiu na Capela Cistina quando o Papa renunciou...
Em dias de Quaresma e ressaca carnavalesca com direito a renuncia de um papa e a passagem de meteoros!, vale pensar na macumba. Na arte da bruxaria ou magia negra. That old black magic that you weave so well (aquela magia negra que você trama tão bem) que, mesmo em tempos de "racionalidade," trás de volta o poder de atingir e ser atingido pelos outros. Tal como faz o amor e por isso me vem a mente o verso desta velha mas maravilhosa canção de 1942, de Harold Alen e Johnny Mercer.
Sinatra canta com aquela energia interpretativa que faz você pensar em quantas vezes não fomos enfeitiçados. "Todos nós temos na vida/Um caso, uma loura/ Você, você teve também. Uma loura é um frasco de perfume"... Ao lado do Silvinho, do Ronaldo e do Levy eu ouvi, outro dia, a voz de Dick Farney e me lembrei do Lucio Alves — esses macumbeiros de carteirinha. Bruxos incríveis. Dick Farney era um pianista de primeira categoria e um cantor do naipe de Sinatra. O outro tinha um instrumento musical dentro da garganta. Seria, talvez, um saxofone-tenor. Era um portento e vale ouvi-los.
Mas voltando a macumba, digo logo de cara que é uma palavra de origem africana, do quimbundo. Uma língua banto dos bundos ou ambundos-andongos bundos e, dongos-quindongos de Angola.
Do ponto de vista social, macumba tem tudo a ver com visões gerais, com relações e afetos — esses elementos centrais dos sortilégios, das preocupações e do vodu. That vodoo that you do wo well (aquele bruxaria que você faz tão bem), diz Cole Porter, depois que o cantor recita: You do, something to me, that nobody else could do (você faz um negócio comigo que ninguém faz igual). Isso depois de garantir que o amante tem o poder de mistifica-lo e hipnotiza-lo. Amor ou macumba? Amor é macumba?
A macumba traduz a mistificação concreta de todo relacionamento porque somos indivíduos e somos também feixes de elos e sentimentos que temos com todo mundo, sobretudo com os que amamos e nos tocam. A ponto de incorporarmos as histórias dos outros como se fossem nossas. E deixarmos que os outros roubem nossas narrativas.
Fiquei assombrado com o que li de mim mesmo (mas escritos por outros) sobre este carnaval — essa macumbeira brasileira que, já dizia Lamartine Babo, marca a descoberta do Brasil "no dia 21 de abril, dois meses depois do carnaval." Esses relacionamentos cruzados, imbricados, híbridos (eu sou você hoje e amanhã mas sou também você ontem...). Tudo isso é pura macumba.
Tomemos a cena clássica. Faço uma imagem sua e nela vou fincando agulhas. Duvido que você não sinta nada se não ficar sabendo. É como o carnaval que hoje todos dizem que faz bem ao Brasil e que eu aprendi como sendo o maior opio do povo. Alienante e alienador, diziam, como uma macumba.
* * * *
Três antropólogos profissionais — com livros publicados, marxistas, evolucionistas, funcionalistas, pré-estruturalistas e naturalmente ateus convictos, prontos a renegar toda crença em Deus — andam de madrugada pelas ruas deserta de uma Copacabana de 1950, um lugar ainda seguro no qual os amigos raramente voltavam para casa de taxi. Numa encruzilhada, topam com um despacho para Exu — o grande mensageiro e tomador de conta dos caminhos cruzados; lugar onde as surpresas ocorrem e mensagens vão e voltam com declarações de amor ou guerra — essas duas atividades nas quais tudo é valido. Ali no asfalto, jaz uma galinha assada, farofa com azeite de dendê, uma garrafa de cachaça, um par de copos baratos. Do lado, um charuto e fósforos Fiat Lux. Tudo pronto para o espirito do movimento, da vaidade e da incerteza saborear e, com isso, realizar a macumba de fazer alguém feliz por alguns dias ou meses.
Os três antropólogos descreveram os objetos falando do culto. Citam seus colegas — Arthur Ramos, Bastide, Verger, Herskovits, Edson Carneiro, Fulano, Sicrano etc... mas eis que um deles, um baixinho ousado, abriu a garrafa de pinga e tomou um vasto e prazeroso trago e, em seguida, comeu um pedaço do frango com farofa. "Está muito bem temperado", disse debaixo dos olhares estupefatos dos colegas que arguiram primeiro matéria de higiene, depois de veneno e luta de classe (eles fazem isso como uma armadilha para nos liquidar! É uma sublimação da opressão disse o mais esquerdista) e, finalmente, num inútil apelo relativista, falaram: Você está profanando e desacreditando um rito religioso, uma oferenda sacrificial Afro-brasileira aos deuses dos pobres e escravos explorados.!
Enquanto davam as lições saídas do medo e da sua mais profunda ambiguidade relativa à macumba — exatamente igual a que temos com o carnaval e com a corrupção — o colega baixinho tinhosamente refastelado de galinha e farofa, fumava fagueiro o charuto. E ria, dizendo: "Vocês não são antropólogos, são crentes. Não na antropologia, mas em macumba!"
Ouviram, então, um estrondo igual ao raio que caiu na Capela Cistina quando o Papa renunciou. Mas o baixinho, continuou fumando e bebendo até chegar em casa. Na despedida, os colegas evitaram apertar sua mão. Quem estava debaixo do poder de qual feitiço?
Tinhosamente refastelado de galinha e farofa, fumava fagueiro o charuto. E ria: "Vocês não são antropólogos, são crentes. Não na antropologia, mas em macumba!" Ouviram, então, um estrondo igual ao raioque caiu na Capela Cistina quando o Papa renunciou...
Em dias de Quaresma e ressaca carnavalesca com direito a renuncia de um papa e a passagem de meteoros!, vale pensar na macumba. Na arte da bruxaria ou magia negra. That old black magic that you weave so well (aquela magia negra que você trama tão bem) que, mesmo em tempos de "racionalidade," trás de volta o poder de atingir e ser atingido pelos outros. Tal como faz o amor e por isso me vem a mente o verso desta velha mas maravilhosa canção de 1942, de Harold Alen e Johnny Mercer.
Sinatra canta com aquela energia interpretativa que faz você pensar em quantas vezes não fomos enfeitiçados. "Todos nós temos na vida/Um caso, uma loura/ Você, você teve também. Uma loura é um frasco de perfume"... Ao lado do Silvinho, do Ronaldo e do Levy eu ouvi, outro dia, a voz de Dick Farney e me lembrei do Lucio Alves — esses macumbeiros de carteirinha. Bruxos incríveis. Dick Farney era um pianista de primeira categoria e um cantor do naipe de Sinatra. O outro tinha um instrumento musical dentro da garganta. Seria, talvez, um saxofone-tenor. Era um portento e vale ouvi-los.
Mas voltando a macumba, digo logo de cara que é uma palavra de origem africana, do quimbundo. Uma língua banto dos bundos ou ambundos-andongos bundos e, dongos-quindongos de Angola.
Do ponto de vista social, macumba tem tudo a ver com visões gerais, com relações e afetos — esses elementos centrais dos sortilégios, das preocupações e do vodu. That vodoo that you do wo well (aquele bruxaria que você faz tão bem), diz Cole Porter, depois que o cantor recita: You do, something to me, that nobody else could do (você faz um negócio comigo que ninguém faz igual). Isso depois de garantir que o amante tem o poder de mistifica-lo e hipnotiza-lo. Amor ou macumba? Amor é macumba?
A macumba traduz a mistificação concreta de todo relacionamento porque somos indivíduos e somos também feixes de elos e sentimentos que temos com todo mundo, sobretudo com os que amamos e nos tocam. A ponto de incorporarmos as histórias dos outros como se fossem nossas. E deixarmos que os outros roubem nossas narrativas.
Fiquei assombrado com o que li de mim mesmo (mas escritos por outros) sobre este carnaval — essa macumbeira brasileira que, já dizia Lamartine Babo, marca a descoberta do Brasil "no dia 21 de abril, dois meses depois do carnaval." Esses relacionamentos cruzados, imbricados, híbridos (eu sou você hoje e amanhã mas sou também você ontem...). Tudo isso é pura macumba.
Tomemos a cena clássica. Faço uma imagem sua e nela vou fincando agulhas. Duvido que você não sinta nada se não ficar sabendo. É como o carnaval que hoje todos dizem que faz bem ao Brasil e que eu aprendi como sendo o maior opio do povo. Alienante e alienador, diziam, como uma macumba.
* * * *
Três antropólogos profissionais — com livros publicados, marxistas, evolucionistas, funcionalistas, pré-estruturalistas e naturalmente ateus convictos, prontos a renegar toda crença em Deus — andam de madrugada pelas ruas deserta de uma Copacabana de 1950, um lugar ainda seguro no qual os amigos raramente voltavam para casa de taxi. Numa encruzilhada, topam com um despacho para Exu — o grande mensageiro e tomador de conta dos caminhos cruzados; lugar onde as surpresas ocorrem e mensagens vão e voltam com declarações de amor ou guerra — essas duas atividades nas quais tudo é valido. Ali no asfalto, jaz uma galinha assada, farofa com azeite de dendê, uma garrafa de cachaça, um par de copos baratos. Do lado, um charuto e fósforos Fiat Lux. Tudo pronto para o espirito do movimento, da vaidade e da incerteza saborear e, com isso, realizar a macumba de fazer alguém feliz por alguns dias ou meses.
Os três antropólogos descreveram os objetos falando do culto. Citam seus colegas — Arthur Ramos, Bastide, Verger, Herskovits, Edson Carneiro, Fulano, Sicrano etc... mas eis que um deles, um baixinho ousado, abriu a garrafa de pinga e tomou um vasto e prazeroso trago e, em seguida, comeu um pedaço do frango com farofa. "Está muito bem temperado", disse debaixo dos olhares estupefatos dos colegas que arguiram primeiro matéria de higiene, depois de veneno e luta de classe (eles fazem isso como uma armadilha para nos liquidar! É uma sublimação da opressão disse o mais esquerdista) e, finalmente, num inútil apelo relativista, falaram: Você está profanando e desacreditando um rito religioso, uma oferenda sacrificial Afro-brasileira aos deuses dos pobres e escravos explorados.!
Enquanto davam as lições saídas do medo e da sua mais profunda ambiguidade relativa à macumba — exatamente igual a que temos com o carnaval e com a corrupção — o colega baixinho tinhosamente refastelado de galinha e farofa, fumava fagueiro o charuto. E ria, dizendo: "Vocês não são antropólogos, são crentes. Não na antropologia, mas em macumba!"
Ouviram, então, um estrondo igual ao raio que caiu na Capela Cistina quando o Papa renunciou. Mas o baixinho, continuou fumando e bebendo até chegar em casa. Na despedida, os colegas evitaram apertar sua mão. Quem estava debaixo do poder de qual feitiço?
VELOCIDADE MÁXIMA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 20/02
O número de motociclistas mortos em SP subiu 18% em dois anos -saltou de 1.479 em 2009 para 1.721 em 2011, segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde. Os gastos com internações tiveram aumento de 76% e chegaram a R$ 27 milhões.
RANKING
Em duas cidades, o número de internações quintuplicou. Em Araçatuba, elas saltaram de 81 para 439; em Presidente Prudente, de 109 para 577. O único município pesquisado que registrou queda foi Barretos, de 134 para 116. A Grande São Paulo passou de 7.200 para dez mil internações.
PIOR
Outra constatação do levantamento: os acidentes estão "cada vez mais violentos" por causa da imprudência e do excesso de velocidade, segundo a médica Julia Greve, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas.
PONTO FINAL
Dilma Rousseff fará discurso de candidata à reeleição hoje no encontro do PT.
Ainda não está definido se ela irá ao evento de roupa vermelha.
DESPESA ELEITORAL
E o partido pagará as despesas da viagem de Dilma a São Paulo -como já fez nas campanhas eleitorais de 2006, com Lula candidato, e 2010, em que ela foi eleita. O governo calcula os gastos com o avião presidencial no trajeto entre Brasília e a capital paulista e também o deslocamento da segurança. A legenda faz o reembolso.
PITSTOP
Carol Francischini viajou pela primeira vez para fora do país com a filha Valentina, de três meses. A modelo e sua mãe, Mariluce, embarcaram para Miami ontem.
A agência Joy não confirma se a viagem é a trabalho.
LOUCO POR VOCÊ
O musical "Crazy for You", adaptação da Broadway que será estrelada pelo casal Cláudia Raia e Jarbas Homem de Mello, ganhou autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 8,5 milhões com benefícios fiscais. Das 132 apresentações previstas, a empresa Coarte promete 12 "a preços populares". Estão previstas montagens em SP, Rio e outras quatro cidades que ainda não foram especificadas.
TODOS QUEREM YOANI
A editora Contexto recebeu ontem 4.000 exemplares do livro "De Cuba com Carinho", de Yoani Sánchez. O estoque anterior, de 800 livros, não foi suficiente para atender à demanda das livrarias, que aumentou por causa da visita da blogueira cubana ao Brasil.
NA VILA
Yoani Sánchez chega hoje a São Paulo. Ficará hospedada na Vila Madalena, na casa de Jaime Pinsky, diretor da Contexto. Ele quer levá-la para passear num bairro nobre da cidade e também numa favela.
MIXARIA
O ex-jogador Denilson entrou no mercado de compras coletivas com o site Clube Mixaria. Nele, o internauta consegue descontos em produtos que vão de cachorro-quente a um tratamento de criolipólise (para congelar gorduras do corpo). A empreitada foi feita em parceria com o site Oferta Única.
UMA HISTÓRIA ESPECIAL
Impulsionado pela campanha #vemseanpenn, para que o ator americano veja o filme no Brasil, "Colegas" teve pré-estreia anteontem, no shopping Iguatemi. Os protagonistas Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola foram ao lançamento. Dirigido por Marcelo Galvão e produzido por Marçal Souza, que é cego e faz uma ponta no longa, ele entra em circuito no dia 1º. "O filme está sendo bem aceito porque não tem pretensão de ensinar nada a ninguém", diz Galvão sobre a história estrelada por jovens com síndrome de Down. Lima Duarte, Juliana Didone, Marco Luque e Otávio Mesquita estavam lá.
CURTO-CIRCUITO
Natalie Irish, que pinta quadros usando os lábios com batom, produz tela na estação Paraíso hoje.
O artista plástico Ricardo Aquino inaugura mostra hoje, no Spadaccino.
A ONG Spirit of Football fechou parceria com a produtora DGT Filmes. Vão produzir conteúdo nas cidades sedes da Copa 2014.
Roberto Mannes Júnior lança a marca de design de móveis Benita Brasil no hotel Unique, às 20h.
Rosa De Luca abre a exposição "Tempo" às 19h, na galeria Mônica Filgueiras & Eduardo Machado.
Juliana Amaral faz show no Sesc Santo Amaro na sexta, às 21h. 10 anos.
Ueba! Blogueira cubana é spam! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 20/02
E eu adoro aqueles dissidentes cubanos que fazem greve de fome. Greve de fome a ilha inteira faz!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sampa Urgente! São Paulo chove tanto que não vai ter mais população permanente, só população flutuante!
Ontem rolou um Datena bravo. Não se diz mais "caiu um temporal", se diz "rolou um Datena". São Paulo era a terra da garoa, agora é a terra da canoa!
E um leitor mandou perguntar: "Pra pegar a 23 de Maio eu viro a bombordo ou a estibordo?". E eu já disse que agora temos um novo transporte público: correnteza! "Você vai pro trabalho de que hoje?" "De correnteza." "Mas não vai se molhar?" "Não, vou em cima dum saco de lixo." Rarará!
E Bilhete Único vira Bilhete Úmido! E o túnel do Anhangabaú mudou de nome pra Alagabaú! Alagou o Alagabaá! Rarará!
E a blogueira cubana? A blogueira cubana é uma mistura de Heloísa Helena com a Soninha! E aqueles esquerdistas de época que foram pro aeroporto puxar o cabelo da blogueira não são esquerdistas, são cavernistas! Vieram das cavernas!
Essa historia é totalmente Túnel do Tempo! Anos 1960! E essa blogueira cubana é um spam. Um spam...talho! Rarará! Em Cuba não tem tesoura?!
E os cartazes no aeroporto? O revival da palavra ianque: "Cuba si, ianques no". "Agente da CIA." E o melhor cartaz : "Yoani Sánchez é persona non grata na Bahia". Rarará! Não existe persona non grata na Bahia!
E entendi tudo! A blogueira vai percorrer o mundo para espalhar a grande novidade do século: que em Cuba não tem liberdade de expressão e que a internet é uma merda!
E o site Sensacionalista revela que a blogueira declarou pra imprensa que "não adianta nada na ilha ter escola e hospital se não pode fazer check-in usando o Foursquare". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E internet em Cuba é assim: você liga o computador e aparece um aviso: "Acá es Fidel! Non foy possible completar su conexion". E o tuiteiro Jorge Miranda disse que o produto mais moderno em Cuba ainda é o charuto! Rarará!
E eu adoro aqueles dissidentes cubanos que fazem greve de fome. Greve de fome a ilha inteira faz! Pra protestar em Cuba, tem que comer! Rarará!
E essa blogueira cubana é mais chata que spam. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E eu adoro aqueles dissidentes cubanos que fazem greve de fome. Greve de fome a ilha inteira faz!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Sampa Urgente! São Paulo chove tanto que não vai ter mais população permanente, só população flutuante!
Ontem rolou um Datena bravo. Não se diz mais "caiu um temporal", se diz "rolou um Datena". São Paulo era a terra da garoa, agora é a terra da canoa!
E um leitor mandou perguntar: "Pra pegar a 23 de Maio eu viro a bombordo ou a estibordo?". E eu já disse que agora temos um novo transporte público: correnteza! "Você vai pro trabalho de que hoje?" "De correnteza." "Mas não vai se molhar?" "Não, vou em cima dum saco de lixo." Rarará!
E Bilhete Único vira Bilhete Úmido! E o túnel do Anhangabaú mudou de nome pra Alagabaú! Alagou o Alagabaá! Rarará!
E a blogueira cubana? A blogueira cubana é uma mistura de Heloísa Helena com a Soninha! E aqueles esquerdistas de época que foram pro aeroporto puxar o cabelo da blogueira não são esquerdistas, são cavernistas! Vieram das cavernas!
Essa historia é totalmente Túnel do Tempo! Anos 1960! E essa blogueira cubana é um spam. Um spam...talho! Rarará! Em Cuba não tem tesoura?!
E os cartazes no aeroporto? O revival da palavra ianque: "Cuba si, ianques no". "Agente da CIA." E o melhor cartaz : "Yoani Sánchez é persona non grata na Bahia". Rarará! Não existe persona non grata na Bahia!
E entendi tudo! A blogueira vai percorrer o mundo para espalhar a grande novidade do século: que em Cuba não tem liberdade de expressão e que a internet é uma merda!
E o site Sensacionalista revela que a blogueira declarou pra imprensa que "não adianta nada na ilha ter escola e hospital se não pode fazer check-in usando o Foursquare". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E internet em Cuba é assim: você liga o computador e aparece um aviso: "Acá es Fidel! Non foy possible completar su conexion". E o tuiteiro Jorge Miranda disse que o produto mais moderno em Cuba ainda é o charuto! Rarará!
E eu adoro aqueles dissidentes cubanos que fazem greve de fome. Greve de fome a ilha inteira faz! Pra protestar em Cuba, tem que comer! Rarará!
E essa blogueira cubana é mais chata que spam. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
A grande tacada - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 20/02
Em política já se viu de tudo. Exceto agendas políticas tão coincidentes quanto as de hoje e de ontem. O fato de a presidente Dilma Rousseff aproveitar a véspera do encontro do PT em São Paulo para anunciar a ampliação do Programa Bolsa-Família é um desses casos em que a coincidência não existe. Poderia ter escolhido qualquer dia deste mês. Mas… Bingo! Preferiu a véspera da festa partidária, em que poderá dizer que todos os passos para acabar com a pobreza extrema e garantir uma renda mínima a todos os brasileiros já foram dados pelo governo petista.
A oposição se zangou e não foi para menos. É dever do governo e da sociedade como um todo trabalhar em prol da melhoria das condições de vida para todos os brasileiros. Mas convém fazer isso como instrumento social, e não partidário. Ontem, o senador Aloysio Nunes Ferreira, líder do PSDB no Senado, lembrou por exemplo, que os números caminham ao sabor do vento dentro do governo. Primeiro, foram 36 milhões retirados da pobreza no governo Lula. O IBGE identificou 16,2 milhões na pobreza extrema, que foram contemplados com o programa Brasil Sem Miséria. Só aí seriam 52,2 milhões. Agora, vêm mais 2,5 milhões para inclusão no programa. A ideia é garantir um mínimo de R$ 70 para cada brasileiro.
Ou seja, quanto mais o governo acaba com a pobreza, mais pobres aparecem para que novos programas — ou ampliações dos já existentes — sejam anunciados. Especialmente esse de ontem, na boca do caixa eleitoral, ou seja, da festa do PT para comemorar seus 10 ano de governo e apagar as velinhas pelos 33 anos do partido. Não por acaso, o pré-candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves, irá à tribuna do Senado fazer seu pronunciamento. Não quer deixar essa grande tacada petista solta, sem um contraponto.
Quer a oposição goste ou não, os petistas têm hoje a faca e o queijo na mão para usar ao seu bel prazer. Assim como o governo Sarney postergou os ajustes no Plano Cruzado — e Fernando Henrique Cardoso assinou as primeiras cédulas de real quando ainda era ministro da Fazenda —, o governo Dilma-Lula amplia o Bolsa Família ou aumenta seus valores de forma a cair como uma luva justamente no mês do aniversário do partido.
Os programas sociais do governo formam a principal arma eleitoral do PT nesse momento em que a inflação bate à porta da nova classe média. Se a inflação tirar alguns votos, avaliam os próprios petistas em conversas reservadas, a classe mais pobre compensará essa perda.
Enquanto isso, nos demais ministérios…
A fórmula política do partido de Lula e de Dilma não termina nos programas sociais. Nos ministérios, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está todo nas mãos do partido. Quem for ao Ministério das Cidades (capitaneado pelo PP) ou ao da Integração Nacional (seara do PSB de Eduardo Campos) terá poucas chances de conseguir emplacar alguma emenda no PAC. Isso porque os limites de liberação quem dá é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. E a autorização para empenhar os recursos em favor da emenda do deputado A ou B quem fornece é o gabinete da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Os demais programas importantes, caso das concessões de aeroportos, rodovias, ferrovias e o que mais chegar, são da seara do Gabinete Civil, onde despacha a ministra Gleisi Hoffmann. Ou seja, as meninas de Dilma controlam tudo. Em outras palavras, a presidente controla tudo.
Diante de tanto controle, os partidos que não querem perder o pequeno espaço de poder ficam por ali, gravitando em torno do Planalto, obedientes aos ditames presidenciais porque sabem que, sem o aval desse grupo de ministras, não há recursos para as bases eleitorais. E sem recursos para as bases eleitorais, os deputados terminam descartados pelos prefeitos que os apoiam. Ou seja, o grau de dependência impede rebeliões explícitas na maioria dos casos. Além disso, serve para segurar a migração de apoios para os oposicionistas ou limitar a ação daqueles da própria base que desejam alçar voo próprio, leia-se o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. E se hoje as agendas do Executivo se ajustam às do partido e vice-versa, os integrantes da base aliada não têm dúvidas de que, daqui em diante, será daí para pior. É o “wei qi” de que falamos aqui outro dia: vale tudo para cercar os adversários e impedir que eles caminhem pelo tabuleiro. Por enquanto, Dilma tem a vantagem. Mas o jogo está mal começando.
Uma estátua em homenagem a Yoani Sánchez - RICARDO GALUPPO
BRASIL ECONÔMICO - 20/02
Em lugar de promover as manifestações que perseguem a blogueira cubana Yoani Sánchez aonde quer que ela pise, a rapaziada do PT e de outros partidos da "base aliada" deveria era erguer uma estátua em homenagem à moça.
Afinal, nunca antes na história recente um estrangeiro com alguma notabilidade fez um elogio tão sincero à infraestrutura deste país.
Na madrugada de segunda-feira passada, ao desembarcar no aeroporto do Recife, Yoani se espantou com a rapidez com que conseguiu acesso à internet e exclamou, para espanto de quem estava por perto, mais ou menos o seguinte: "Que conexão rápida!"
É claro que a única comparação que a moça tem até agora é com a internet de seu país, que é antiquada e superfiltrada pelos órgãos de espionagem. Certamente ela mudará de ideia nas próximas escalas de seu giro internacional.
Mas que ela elogiou, elogiou, e é isso que conta. Mesmo assim, a moça vem sendo mais apedrejada pelos "ativistas" da esquerda brasileira do que a Geni do Chico Buarque. O problema é que, no caso específico do elogio feito à internet, nem o mais otimista dos apoiadores do governo é capaz de concordar com a cubana.
Até a presidente da República, Dilma Rousseff, acha que a internet brasileira não é tão rápida quanto crê Yoani.
Tanto acha que, no mesmo dia da declaração feita pela blogueira, mandou publicar o decreto que estabelece os parâmetros que as operadoras de telefonia deverão obedecer para fazer jus aos benefícios fiscais prometidos há dois anos (isso mesmo: dois anos atrás) se investirem na modernização das redes de transmissão de dados. Ainda faltam detalhes jurídicos para a lei começar a vigorar.
Se tudo correr bem, até o final do primeiro semestre deste ano, as operadoras apresentarão seus projetos, com o compromisso de concluir os investimentos até o final de 2016. Isso, claro, se não aparecer alguém disposto a melar o jogo.
A lei exigirá que as operadoras modernizem a internet com equipamentos fabricados no país. Isso, ao contrário do que pode parecer, é uma medida sensata e nada semelhante à reserva de mercado dos produtos de informática que vigorou no país até o início dos anos 1990.
Como a modernização contará com a renúncia fiscal concedida pelo governo, é natural que seja exigida alguma contrapartida que beneficie o país. E, nesse caso específico, a contrapartida exigida será o desenvolvimento de uma cadeia de fornecedores para um dos mercados que mais crescem no mundo.
Isso é muito positivo. Os novos investimentos podem fazer com que a rede local passe a receber elogios tão sinceros quanto o de Yoani - só que, daqui por diante, feitos por quem tem as informações que o governo da ilha nega a ela e a qualquer outro cubano.
Em lugar de promover as manifestações que perseguem a blogueira cubana Yoani Sánchez aonde quer que ela pise, a rapaziada do PT e de outros partidos da "base aliada" deveria era erguer uma estátua em homenagem à moça.
Afinal, nunca antes na história recente um estrangeiro com alguma notabilidade fez um elogio tão sincero à infraestrutura deste país.
Na madrugada de segunda-feira passada, ao desembarcar no aeroporto do Recife, Yoani se espantou com a rapidez com que conseguiu acesso à internet e exclamou, para espanto de quem estava por perto, mais ou menos o seguinte: "Que conexão rápida!"
É claro que a única comparação que a moça tem até agora é com a internet de seu país, que é antiquada e superfiltrada pelos órgãos de espionagem. Certamente ela mudará de ideia nas próximas escalas de seu giro internacional.
Mas que ela elogiou, elogiou, e é isso que conta. Mesmo assim, a moça vem sendo mais apedrejada pelos "ativistas" da esquerda brasileira do que a Geni do Chico Buarque. O problema é que, no caso específico do elogio feito à internet, nem o mais otimista dos apoiadores do governo é capaz de concordar com a cubana.
Até a presidente da República, Dilma Rousseff, acha que a internet brasileira não é tão rápida quanto crê Yoani.
Tanto acha que, no mesmo dia da declaração feita pela blogueira, mandou publicar o decreto que estabelece os parâmetros que as operadoras de telefonia deverão obedecer para fazer jus aos benefícios fiscais prometidos há dois anos (isso mesmo: dois anos atrás) se investirem na modernização das redes de transmissão de dados. Ainda faltam detalhes jurídicos para a lei começar a vigorar.
Se tudo correr bem, até o final do primeiro semestre deste ano, as operadoras apresentarão seus projetos, com o compromisso de concluir os investimentos até o final de 2016. Isso, claro, se não aparecer alguém disposto a melar o jogo.
A lei exigirá que as operadoras modernizem a internet com equipamentos fabricados no país. Isso, ao contrário do que pode parecer, é uma medida sensata e nada semelhante à reserva de mercado dos produtos de informática que vigorou no país até o início dos anos 1990.
Como a modernização contará com a renúncia fiscal concedida pelo governo, é natural que seja exigida alguma contrapartida que beneficie o país. E, nesse caso específico, a contrapartida exigida será o desenvolvimento de uma cadeia de fornecedores para um dos mercados que mais crescem no mundo.
Isso é muito positivo. Os novos investimentos podem fazer com que a rede local passe a receber elogios tão sinceros quanto o de Yoani - só que, daqui por diante, feitos por quem tem as informações que o governo da ilha nega a ela e a qualquer outro cubano.
Países latino-americanos representados por um genocida - RODRIGO SIAS
BRASIL ECONÔMICO - 20/02
A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) foi criada há três anos atrás, no México, com o objetivo de constituir um novo mecanismo de integração política e econômica entre os trinta e três países da América do Sul, América Central e Caribe.
Nas entrelinhas, o propósito diplomático era excluir EUA e Canadá do novo fórum. Mas por que os dois países da América do Norte deveriam ser excluídos? Por que a Organização dos Estados Americanos (OEA) não poderia funcionar como instância de integração?
A resposta é simples: esse novo bloco político permitiria a incorporação de Cuba, estabelecendo uma espécie de "OEA alternativa", cuja intenção será isolar diplomaticamente os EUA na região.
Em 1962, Cuba havia sido expulsa da OEA por ter adotado um regime comunista e entrado na esfera de influência do bloco socialista. A resolução que havia expulsado o país foi revogada recentemente, abrindo caminho para que o país fosse reintegrado.
No entanto, a Celac também funcionará com a meta implícita de esvaziar a Organização, simbolizando uma represaria histórica contra os EUA no caso cubano. O antiamericanismo ficou ainda mais explícito no início deste ano.
Depois de estar no centro dos acontecimentos políticos do continente durante os anos 1960 e 1970, financiando guerrilhas e revoluções na região, Cuba novamente está em foco, graças uma manobra diplomática preparada há tempos.
No fim de janeiro, Rául Castro, ditador de Cuba, assumiu a presidência rotativa da Comunidade. Os discursos dos Chefes de Estados da Celac deram o tom de hostilidade ostensiva contra os EUA. Cristina Kirchner, presidente da Argentina, falou que a liderança cubana marcaria "uma grande mudança" para a região.
Mesmo para Sebastian Piñera, presidente do Chile, país com estreito relacionamento com os EUA, a passagem da presidência pro tempore da entidade para Cuba marca "os tempos em que estamos vivendo".
Houve ainda o já tradicional apoio e solidariedade a Cuba contra o embargo econômico promovido pelos EUA em uma carta-manifesto, supostamente escrita por Hugo Chávez contra o bloqueio.
Segundo essa carta, lida por Maduro, vice-presidente venezuelano, "a América Latina e o Caribe estão dizendo aos EUA com uma só voz que todas as tentativas de isolar Cuba fracassaram e fracassarão".
Mais surpreendente ainda foi a participação da União Europeia, inclusive através da chanceler alemã, Ângela Merkel, endossando a liderança de Cuba na região.
Sobre a cúpula da Celac, realizada em conjunto com a União Europeia, o presidente Pepe Mujica, do Uruguai, fez um típico comentário "anti-imperialista". Segundo ele, pela primeira vez em mais de 70 anos, os presidentes latino-americanos estariam encontrando-se com lideranças europeias sem que "o chefão do Norte" estivesse na mesa de negociações.
Ao aceitar serem representados por uma ditadura genocida que já dura mais de meio século, os países latino-americanos mostram total desprezo pelos direitos humanos e pela democracia, unindo-se em torno do ódio aos EUA.
O ódio, no entanto, jamais constrói ou construiu coisa alguma. Enquanto o fantasma de Sierra Maestra não for exorcizado, a América Latina vai continuar com as "veias abertas", sangrando não pelo suposto "imperialismo americano", mas sim pela capacidade de adular ditadores e demagogos.
A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) foi criada há três anos atrás, no México, com o objetivo de constituir um novo mecanismo de integração política e econômica entre os trinta e três países da América do Sul, América Central e Caribe.
Nas entrelinhas, o propósito diplomático era excluir EUA e Canadá do novo fórum. Mas por que os dois países da América do Norte deveriam ser excluídos? Por que a Organização dos Estados Americanos (OEA) não poderia funcionar como instância de integração?
A resposta é simples: esse novo bloco político permitiria a incorporação de Cuba, estabelecendo uma espécie de "OEA alternativa", cuja intenção será isolar diplomaticamente os EUA na região.
Em 1962, Cuba havia sido expulsa da OEA por ter adotado um regime comunista e entrado na esfera de influência do bloco socialista. A resolução que havia expulsado o país foi revogada recentemente, abrindo caminho para que o país fosse reintegrado.
No entanto, a Celac também funcionará com a meta implícita de esvaziar a Organização, simbolizando uma represaria histórica contra os EUA no caso cubano. O antiamericanismo ficou ainda mais explícito no início deste ano.
Depois de estar no centro dos acontecimentos políticos do continente durante os anos 1960 e 1970, financiando guerrilhas e revoluções na região, Cuba novamente está em foco, graças uma manobra diplomática preparada há tempos.
No fim de janeiro, Rául Castro, ditador de Cuba, assumiu a presidência rotativa da Comunidade. Os discursos dos Chefes de Estados da Celac deram o tom de hostilidade ostensiva contra os EUA. Cristina Kirchner, presidente da Argentina, falou que a liderança cubana marcaria "uma grande mudança" para a região.
Mesmo para Sebastian Piñera, presidente do Chile, país com estreito relacionamento com os EUA, a passagem da presidência pro tempore da entidade para Cuba marca "os tempos em que estamos vivendo".
Houve ainda o já tradicional apoio e solidariedade a Cuba contra o embargo econômico promovido pelos EUA em uma carta-manifesto, supostamente escrita por Hugo Chávez contra o bloqueio.
Segundo essa carta, lida por Maduro, vice-presidente venezuelano, "a América Latina e o Caribe estão dizendo aos EUA com uma só voz que todas as tentativas de isolar Cuba fracassaram e fracassarão".
Mais surpreendente ainda foi a participação da União Europeia, inclusive através da chanceler alemã, Ângela Merkel, endossando a liderança de Cuba na região.
Sobre a cúpula da Celac, realizada em conjunto com a União Europeia, o presidente Pepe Mujica, do Uruguai, fez um típico comentário "anti-imperialista". Segundo ele, pela primeira vez em mais de 70 anos, os presidentes latino-americanos estariam encontrando-se com lideranças europeias sem que "o chefão do Norte" estivesse na mesa de negociações.
Ao aceitar serem representados por uma ditadura genocida que já dura mais de meio século, os países latino-americanos mostram total desprezo pelos direitos humanos e pela democracia, unindo-se em torno do ódio aos EUA.
O ódio, no entanto, jamais constrói ou construiu coisa alguma. Enquanto o fantasma de Sierra Maestra não for exorcizado, a América Latina vai continuar com as "veias abertas", sangrando não pelo suposto "imperialismo americano", mas sim pela capacidade de adular ditadores e demagogos.
Vantagens de uma guerra - MATIAS SPEKTOR
FOLHA DE SP - 20/02
Há uma verdade profunda e desconfortável: o ambiente devido à Guerra do Iraque foi benéfico para o Brasil
A Guerra do Iraque completa dez anos, deixando mais de meio milhão de mortos e um país devastado.
É impossível contar essa história sem ser tomado por um sentimento de revolta.
Afinal, as forças de ocupação, atuando sem autorização clara das Nações Unidas, foram campeãs de incompetência.
Destituíram as Forças Armadas do país, empurrando seus homens para a resistência. Privatizaram de modo ineficiente os serviços públicos, dificultando o processo de reconstrução no pós-guerra. Impuseram um regime que aos olhos de muitos é ilegítimo.
De quebra, mentiram, enganaram e torturaram, repugnâncias que não impedem a George W. Bush e Tony Blair viver hoje em liberdade.
Qual o impacto da guerra sobre a política externa brasileira?
Com a perspectiva de dez anos, agora é possível evitar a resposta mais superficial, segundo a qual o conflito teria sido nefasto para o Brasil porque esgarçou o direito internacional e, a um custo de quase US$ 3 trilhões, contribuiu para o desequilíbrio econômico do planeta.
Há uma verdade mais profunda e menos confortável: o ambiente internacional criado pela Guerra do Iraque foi benéfico ao Brasil.
Três dinâmicas merecem destaque. Primeiro, a guerra provocou uma avalanche de protestos em todo o planeta, legitimando a mensagem central da diplomacia brasileira -como o mundo ainda apresenta resquícios do velho sistema imperial, é urgente democratizar a gestão das relações internacionais. Essa demanda por alternativas foi precondição para que Lula se transformasse em ícone global.
Segundo, a guerra criou um forte incentivo para que os Estados Unidos promovessem o ativismo brasileiro na América do Sul.
O vasto leque de iniciativas brasileiras de integração regional não apenas recebeu o beneplácito de Washington, mas também seu apoio explícito. Para a Casa Branca de Bush, um Brasil ativista poderia reduzir custos, liberando recursos escassos para o trabalho no Oriente Médio.
Terceiro, a guerra pôs Índia e Turquia no mapa. Embora não tivesse o mesmo valor geopolítico, o Brasil beneficiou-se por tabela depois que Bush criou novos procedimentos diplomáticos para se relacionar com as "novas potências emergentes". Obteve fôlego a crença em que países como o Brasil mereciam deferências especiais e doses crescentes de atenção.
O Brasil ganhou porque foi pragmático. Junto ao resto do mundo, ouviu de Bush que "toda nação tem uma escolha para fazer neste conflito [...] não há território neutro".
Lula fez a sua. "Presidente, entendo sua posição", disse ao colega na Casa Branca. "Mas minha guerra é outra."
Em vez de ficar contrariado, o presidente americano ficou admirado. "Gosto desse cara", comentou com assessores depois do encontro. "Ele vai fazer negócio comigo". E fez.
Em política internacional termina-se sempre com o estômago embrulhado. Aqui não é diferente. Horrorosa como foi, a Guerra do Iraque moldou o contexto da ascensão brasileira, com tudo o que nela há de real e de imaginário.
Há uma verdade profunda e desconfortável: o ambiente devido à Guerra do Iraque foi benéfico para o Brasil
A Guerra do Iraque completa dez anos, deixando mais de meio milhão de mortos e um país devastado.
É impossível contar essa história sem ser tomado por um sentimento de revolta.
Afinal, as forças de ocupação, atuando sem autorização clara das Nações Unidas, foram campeãs de incompetência.
Destituíram as Forças Armadas do país, empurrando seus homens para a resistência. Privatizaram de modo ineficiente os serviços públicos, dificultando o processo de reconstrução no pós-guerra. Impuseram um regime que aos olhos de muitos é ilegítimo.
De quebra, mentiram, enganaram e torturaram, repugnâncias que não impedem a George W. Bush e Tony Blair viver hoje em liberdade.
Qual o impacto da guerra sobre a política externa brasileira?
Com a perspectiva de dez anos, agora é possível evitar a resposta mais superficial, segundo a qual o conflito teria sido nefasto para o Brasil porque esgarçou o direito internacional e, a um custo de quase US$ 3 trilhões, contribuiu para o desequilíbrio econômico do planeta.
Há uma verdade mais profunda e menos confortável: o ambiente internacional criado pela Guerra do Iraque foi benéfico ao Brasil.
Três dinâmicas merecem destaque. Primeiro, a guerra provocou uma avalanche de protestos em todo o planeta, legitimando a mensagem central da diplomacia brasileira -como o mundo ainda apresenta resquícios do velho sistema imperial, é urgente democratizar a gestão das relações internacionais. Essa demanda por alternativas foi precondição para que Lula se transformasse em ícone global.
Segundo, a guerra criou um forte incentivo para que os Estados Unidos promovessem o ativismo brasileiro na América do Sul.
O vasto leque de iniciativas brasileiras de integração regional não apenas recebeu o beneplácito de Washington, mas também seu apoio explícito. Para a Casa Branca de Bush, um Brasil ativista poderia reduzir custos, liberando recursos escassos para o trabalho no Oriente Médio.
Terceiro, a guerra pôs Índia e Turquia no mapa. Embora não tivesse o mesmo valor geopolítico, o Brasil beneficiou-se por tabela depois que Bush criou novos procedimentos diplomáticos para se relacionar com as "novas potências emergentes". Obteve fôlego a crença em que países como o Brasil mereciam deferências especiais e doses crescentes de atenção.
O Brasil ganhou porque foi pragmático. Junto ao resto do mundo, ouviu de Bush que "toda nação tem uma escolha para fazer neste conflito [...] não há território neutro".
Lula fez a sua. "Presidente, entendo sua posição", disse ao colega na Casa Branca. "Mas minha guerra é outra."
Em vez de ficar contrariado, o presidente americano ficou admirado. "Gosto desse cara", comentou com assessores depois do encontro. "Ele vai fazer negócio comigo". E fez.
Em política internacional termina-se sempre com o estômago embrulhado. Aqui não é diferente. Horrorosa como foi, a Guerra do Iraque moldou o contexto da ascensão brasileira, com tudo o que nela há de real e de imaginário.
A preocupação do BC com a difusão do IPCA - CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO -20/02
O aumento do índice de difusão da inflação nos últimos meses é o elemento que mais preocupa o Banco Central (BC) neste momento e o que deve levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a aumentar a taxa básica de juros (Selic) no curtíssimo prazo. Esse índice, que mede a proporção de itens com variação positiva no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), atingiu em janeiro o valor mais alto (75%) desde abril de 2003, mês em que a inflação, em 12 meses, chegou a quase 17%.
Os reajustes de preços vêm se generalizando desde meados do ano passado. Em junho de 2012, quando o IPCA em 12 meses estava abaixo de 5%, o índice de difusão (sem ajuste sazonal e incluindo alimentos) foi de 62%. Em dezembro, saltou para 71% e, no primeiro mês de 2013, elevou-se para 75%. Mesmo retirando do índice os alimentos, produtos que pressionaram fortemente a inflação no segundo semestre do ano passado, o índice de difusão permaneceu elevado - 70% (ver gráfico).
Foi apenas depois de conhecer o IPCA de janeiro (0,86%, o maior índice para meses de janeiro desde 2003) que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, elevou o tom do discurso em relação à inflação, dando a entender de que o Copom pode mudar a estratégia de curto prazo da política de juros e recorrer a um novo ciclo de aperto monetário. Ontem, ao discursar em evento, Tombini reiterou que a estratégia adotada pelo BC "permanece válida neste momento".
Essa estratégia, renovada na ata da última reunião do Copom, prevê juro estável em 7,25% ao ano por "período suficientemente prolongado". Alguns analistas encararam a referência à principal mensagem da última ata como uma indicação de que o Copom não elevará a Selic tão cedo.
Na verdade, Tombini pode estar apenas seguindo um ritual de comunicação. Primeiro, mostrou ao mercado que não está confortável com o comportamento da inflação e que, portanto, o BC pode atuar para corrigir essa situação. Ele abriu a possibilidade de intervenção via aumento de juro, desmontou a ideia de que o Copom está inerte por razões políticas e, com isso, tenta melhorar as expectativas, que por si só respondem por cerca de 1/3 da inflação.
Tombini manteve o discurso austero mesmo diante da informação divulgada ontem pelo IBGE de que as vendas a varejo recuaram 0,5% em dezembro, uma indicação de que a economia continuaria fraca. Sua preocupação, como ele disse ontem, é com o "cenário prospectivo" da inflação. Além disso, ele deixou claro que a mensagem da última ata vale "neste momento"; o diagnóstico e a estratégia podem mudar nas próximas semanas. E lembrou que os "ciclos monetários" não foram abolidos.
A possibilidade de elevação de juros neste momento não estava posta até duas semanas atrás. Muito provavelmente, o Copom não mexerá na taxa Selic na reunião que termina no dia 6 de março, mas, possivelmente no comunicado e depois na ata da reunião a ser divulgada no dia 14, o Comitê fará uma sinalização, indicando possibilidade de alta no encontro seguinte, agendado para 17 de abril.
Contra inflação, BC usa câmbio e deve recorrer a juros
Por enquanto, trata-se de uma probabilidade. As falas de Tombini mostram que ele não se comprometeu totalmente com um aumento de juros no curtíssimo prazo, mas definitivamente colocou o tema no radar. Daqui até a reunião de abril vão se passar quase 60 dias. É provável que o cenário inflacionário não se altere muito, o que apenas justificará uma ação do BC.
A presidente Dilma Rousseff não se opõe ao uso do juro, mas sua maior preocupação neste momento é com a recuperação da economia, que teve crescimento pífio até agora em seu mandato. O Palácio do Planalto atribui a inflação elevada de janeiro a fatores sazonais (preços dos alimentos) e à "incompetência" de órgãos do próprio governo.
A referencia, nesse caso, é à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que, na opinião do governo, não administrou adequadamente os estoques reguladores de alimentos em janeiro, especialmente no Nordeste. "Os indicadores mostram que a inflação de janeiro foi uma inflação nordestina", diz uma fonte, referindo-se à alta de preços de produtos como farinha de mandioca (alta de 10,73% em janeiro e de 111,85% em 12 meses) e feijão-mulatinho (8,33% e 43,66%, respectivamente).
O governo acha, também, que a inflação cederá daqui em diante graças à redução das tarifas de energia e à desoneração da folha de pessoal de 27 setores da economia. Aposta-se, igualmente, em desonerações do PIS-Cofins de alguns produtos e na eliminação de tributos incidentes sobre a cesta básica.
Nesses dois casos, é importante ponderar que mesmo a equipe econômica não compartilha de tamanho otimismo porque o corte de PIS-Cofins será feito com cuidado, por meio de experiência-piloto, com efeitos apenas no longo prazo, e a desoneração da cesta básica também levará algum tempo. Ademais, como a demanda continua firme, a tendência das empresas diante das desonerações é aumentar a margem de lucro, em vez de reduzir preços.
Os reajustes de preços vêm se generalizando desde meados do ano passado. Em junho de 2012, quando o IPCA em 12 meses estava abaixo de 5%, o índice de difusão (sem ajuste sazonal e incluindo alimentos) foi de 62%. Em dezembro, saltou para 71% e, no primeiro mês de 2013, elevou-se para 75%. Mesmo retirando do índice os alimentos, produtos que pressionaram fortemente a inflação no segundo semestre do ano passado, o índice de difusão permaneceu elevado - 70% (ver gráfico).
Foi apenas depois de conhecer o IPCA de janeiro (0,86%, o maior índice para meses de janeiro desde 2003) que o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, elevou o tom do discurso em relação à inflação, dando a entender de que o Copom pode mudar a estratégia de curto prazo da política de juros e recorrer a um novo ciclo de aperto monetário. Ontem, ao discursar em evento, Tombini reiterou que a estratégia adotada pelo BC "permanece válida neste momento".
Essa estratégia, renovada na ata da última reunião do Copom, prevê juro estável em 7,25% ao ano por "período suficientemente prolongado". Alguns analistas encararam a referência à principal mensagem da última ata como uma indicação de que o Copom não elevará a Selic tão cedo.
Na verdade, Tombini pode estar apenas seguindo um ritual de comunicação. Primeiro, mostrou ao mercado que não está confortável com o comportamento da inflação e que, portanto, o BC pode atuar para corrigir essa situação. Ele abriu a possibilidade de intervenção via aumento de juro, desmontou a ideia de que o Copom está inerte por razões políticas e, com isso, tenta melhorar as expectativas, que por si só respondem por cerca de 1/3 da inflação.
Tombini manteve o discurso austero mesmo diante da informação divulgada ontem pelo IBGE de que as vendas a varejo recuaram 0,5% em dezembro, uma indicação de que a economia continuaria fraca. Sua preocupação, como ele disse ontem, é com o "cenário prospectivo" da inflação. Além disso, ele deixou claro que a mensagem da última ata vale "neste momento"; o diagnóstico e a estratégia podem mudar nas próximas semanas. E lembrou que os "ciclos monetários" não foram abolidos.
A possibilidade de elevação de juros neste momento não estava posta até duas semanas atrás. Muito provavelmente, o Copom não mexerá na taxa Selic na reunião que termina no dia 6 de março, mas, possivelmente no comunicado e depois na ata da reunião a ser divulgada no dia 14, o Comitê fará uma sinalização, indicando possibilidade de alta no encontro seguinte, agendado para 17 de abril.
Contra inflação, BC usa câmbio e deve recorrer a juros
Por enquanto, trata-se de uma probabilidade. As falas de Tombini mostram que ele não se comprometeu totalmente com um aumento de juros no curtíssimo prazo, mas definitivamente colocou o tema no radar. Daqui até a reunião de abril vão se passar quase 60 dias. É provável que o cenário inflacionário não se altere muito, o que apenas justificará uma ação do BC.
A presidente Dilma Rousseff não se opõe ao uso do juro, mas sua maior preocupação neste momento é com a recuperação da economia, que teve crescimento pífio até agora em seu mandato. O Palácio do Planalto atribui a inflação elevada de janeiro a fatores sazonais (preços dos alimentos) e à "incompetência" de órgãos do próprio governo.
A referencia, nesse caso, é à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que, na opinião do governo, não administrou adequadamente os estoques reguladores de alimentos em janeiro, especialmente no Nordeste. "Os indicadores mostram que a inflação de janeiro foi uma inflação nordestina", diz uma fonte, referindo-se à alta de preços de produtos como farinha de mandioca (alta de 10,73% em janeiro e de 111,85% em 12 meses) e feijão-mulatinho (8,33% e 43,66%, respectivamente).
O governo acha, também, que a inflação cederá daqui em diante graças à redução das tarifas de energia e à desoneração da folha de pessoal de 27 setores da economia. Aposta-se, igualmente, em desonerações do PIS-Cofins de alguns produtos e na eliminação de tributos incidentes sobre a cesta básica.
Nesses dois casos, é importante ponderar que mesmo a equipe econômica não compartilha de tamanho otimismo porque o corte de PIS-Cofins será feito com cuidado, por meio de experiência-piloto, com efeitos apenas no longo prazo, e a desoneração da cesta básica também levará algum tempo. Ademais, como a demanda continua firme, a tendência das empresas diante das desonerações é aumentar a margem de lucro, em vez de reduzir preços.
Sem espaço para desculpas - ANDRÉ MELONI NASSAR
O ESTADÃO - 20/02
A Organização Mundial do Comércio tem recebido alguma atenção da imprensa brasileira, ultimamente, por causa da candidatura do embaixador Roberto Azevedo a seu diretor-geral. Também se tem falado com maior intensidade sobre o tema acordos comerciais, não somente porque o acordo regional Mercosul-União Europeia (UE) dominou boa parte das discussões do 6.º Encontro Empresarial Brasil-UE, mas principalmente pelo anúncio de que os Estados Unidos e a UE iniciaram os entendimentos para buscar um acordo transatlântico de comércio e investimento.
O reaparecimento na imprensa da agenda de comércio internacional traz de volta o debate acerca do que queremos em política comercial. Compartilho a ideia dos que afirmam que a diplomacia no Brasil é muito mais política do que econômica. Isso é facilmente observado até nos fóruns de política comercial. A escolha feita pelo Brasil na negociação da Rodada Doha de atuar de maneira ofensiva na abertura dos mercados e na redução dos subsídios agrícolas dos países ricos, e de se aliar a países em desenvolvimento que eram contrários a qualquer abertura de mercado ou ao aumento de disciplinas em suas políticas para a agricultura, exemplifica bem essa supremacia da diplomacia política em temas que são da agenda econômica.
As ações do Brasil na Rodada Doha, no entanto, mesmo que influenciadas pela diplomacia política, ainda eram, essencialmente, orientadas para objetivos comerciais, tanto do lado ofensivo da agricultura como do lado defensivo dos produtos industriais. Mas a hibernação da rodada, em 2008, fechou a última e única frente de estratégia de política comercial que ainda sobrevivia no Brasil. A penúltima havia sido a interrupção das negociações com a UE, em 2004. Nem vale a pena mencionar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A realidade, assim, é que a agenda comercial brasileira desapareceu de vez com a interrupção da Rodada Doha.
É claro que o Brasil continuou fazendo política comercial, até porque optou por elevar tarifas e aumentar impostos associados às importações de alguns setores. O País passou também a utilizar mecanismos de defesa comercial de forma mais intensa. Mas não há como negar que o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento abandonaram a política comercial em seu conceito amplo, alicerçada em acordos com o objetivo de promover crescimento do comércio internacional e dos fluxos de investimentos. Pelas razões que exponho a seguir, se o Brasil continuar de braços cruzados em política comercial, nossos setores exportadores serão atropelados pelos acordos comerciais de que o País não será parte. É literalmente o "não me inclua fora dessa".
Por mais política e menos econômica que tenha sido a nossa diplomacia, podemos, numa visão Poliana, justificar essa escolha com base em argumentos de conveniência. Com a crise de 2008 o comércio internacional perdeu relevância como propulsor de crescimento econômico. O mundo, então, passou por um processo de fechamento administrado dos mercados - seja via barreiras comerciais, seja via administração cambial. E o Brasil não foi diferente de alguns outros países.
No contexto brasileiro, a partir de 2005, à medida que a economia nacional se consolidava e crescia, e a taxa de câmbio se apreciava, o País entrou num ciclo de aumento das importações. De 2005 a 2011 estas cresceram ao redor de 20% ao ano. Esse crescimento foi mais intenso que o dos anos 1990 - década de forte valorização cambial -, que assistiram às importações aumentando 15% ao ano. Daí que o contínuo incremento das importações vinha servindo de razão principal para bloquear negociações comerciais.
Assim, o contexto mundial e o brasileiro foram desculpas eficazes para justificar o abandono, até hoje, da política comercial no seu conceito amplo. Os motivos de tais desculpas, todavia, não estão mais em vigor.
Em primeiro lugar, o comércio global já retomou o ritmo de crescimento pré-crise de 2008. As exportações mundiais em 2012 fecharam o ano na casa dos US$ 14 trilhões, o mesmo patamar de 2011 e 18% maior que o de 2008, ano de recorde nas transações internacionais. Desse modo o comércio retomou seu papel promotor de desenvolvimento econômico.
Em segundo lugar, 2012 marca o fim da expansão das importações brasileiras. Pela primeira vez desde 2002, as importações caíram. Justificar o não engajamento em negociações pelo lado defensivo, ou seja, como forma de proteção da indústria brasileira, não se sustenta mais.
Portanto, não existem razões, nem de ordem macroeconômica nem de cenário internacional, que deem base para qualquer adiamento do envolvimento do Brasil em negociações comerciais daqui para a frente.
Com o arrefecimento das importações brasileiras e a retomada do crescimento econômico mundial, é chegada a hora de a política comercial ser tratada como tema econômico. Se no passado poderíamos dizer que a perda dos setores ofensivos pela falta de acordos era menor do que o ganho dos setores defensivos, essa equação mudou e não existe mais. Com a retomada dos acordos comerciais mundo afora, à medida que o comércio global se recupera, o custo da falta de acordos amplos de comércio vai-se tornar cada vez mais alto para os setores exportadores, ao passo que o benefício para os setores defensivos é claramente crescente.
É improvável que o atual governo faça qualquer movimento significativo na direção de engajar o Brasil em acordos bilaterais. Um governo que acredita no Estado como propulsor da economia dificilmente tomará atitudes para intensificar o grau de integração no comércio mundial. Contudo nunca houve, nos últimos dez anos, momento tão favorável para um governo vencer suas convicções políticas e perder o medo de integrar mais o Brasil no mundo e, assim, colher seus frutos com maior crescimento econômico.
A Organização Mundial do Comércio tem recebido alguma atenção da imprensa brasileira, ultimamente, por causa da candidatura do embaixador Roberto Azevedo a seu diretor-geral. Também se tem falado com maior intensidade sobre o tema acordos comerciais, não somente porque o acordo regional Mercosul-União Europeia (UE) dominou boa parte das discussões do 6.º Encontro Empresarial Brasil-UE, mas principalmente pelo anúncio de que os Estados Unidos e a UE iniciaram os entendimentos para buscar um acordo transatlântico de comércio e investimento.
O reaparecimento na imprensa da agenda de comércio internacional traz de volta o debate acerca do que queremos em política comercial. Compartilho a ideia dos que afirmam que a diplomacia no Brasil é muito mais política do que econômica. Isso é facilmente observado até nos fóruns de política comercial. A escolha feita pelo Brasil na negociação da Rodada Doha de atuar de maneira ofensiva na abertura dos mercados e na redução dos subsídios agrícolas dos países ricos, e de se aliar a países em desenvolvimento que eram contrários a qualquer abertura de mercado ou ao aumento de disciplinas em suas políticas para a agricultura, exemplifica bem essa supremacia da diplomacia política em temas que são da agenda econômica.
As ações do Brasil na Rodada Doha, no entanto, mesmo que influenciadas pela diplomacia política, ainda eram, essencialmente, orientadas para objetivos comerciais, tanto do lado ofensivo da agricultura como do lado defensivo dos produtos industriais. Mas a hibernação da rodada, em 2008, fechou a última e única frente de estratégia de política comercial que ainda sobrevivia no Brasil. A penúltima havia sido a interrupção das negociações com a UE, em 2004. Nem vale a pena mencionar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A realidade, assim, é que a agenda comercial brasileira desapareceu de vez com a interrupção da Rodada Doha.
É claro que o Brasil continuou fazendo política comercial, até porque optou por elevar tarifas e aumentar impostos associados às importações de alguns setores. O País passou também a utilizar mecanismos de defesa comercial de forma mais intensa. Mas não há como negar que o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento abandonaram a política comercial em seu conceito amplo, alicerçada em acordos com o objetivo de promover crescimento do comércio internacional e dos fluxos de investimentos. Pelas razões que exponho a seguir, se o Brasil continuar de braços cruzados em política comercial, nossos setores exportadores serão atropelados pelos acordos comerciais de que o País não será parte. É literalmente o "não me inclua fora dessa".
Por mais política e menos econômica que tenha sido a nossa diplomacia, podemos, numa visão Poliana, justificar essa escolha com base em argumentos de conveniência. Com a crise de 2008 o comércio internacional perdeu relevância como propulsor de crescimento econômico. O mundo, então, passou por um processo de fechamento administrado dos mercados - seja via barreiras comerciais, seja via administração cambial. E o Brasil não foi diferente de alguns outros países.
No contexto brasileiro, a partir de 2005, à medida que a economia nacional se consolidava e crescia, e a taxa de câmbio se apreciava, o País entrou num ciclo de aumento das importações. De 2005 a 2011 estas cresceram ao redor de 20% ao ano. Esse crescimento foi mais intenso que o dos anos 1990 - década de forte valorização cambial -, que assistiram às importações aumentando 15% ao ano. Daí que o contínuo incremento das importações vinha servindo de razão principal para bloquear negociações comerciais.
Assim, o contexto mundial e o brasileiro foram desculpas eficazes para justificar o abandono, até hoje, da política comercial no seu conceito amplo. Os motivos de tais desculpas, todavia, não estão mais em vigor.
Em primeiro lugar, o comércio global já retomou o ritmo de crescimento pré-crise de 2008. As exportações mundiais em 2012 fecharam o ano na casa dos US$ 14 trilhões, o mesmo patamar de 2011 e 18% maior que o de 2008, ano de recorde nas transações internacionais. Desse modo o comércio retomou seu papel promotor de desenvolvimento econômico.
Em segundo lugar, 2012 marca o fim da expansão das importações brasileiras. Pela primeira vez desde 2002, as importações caíram. Justificar o não engajamento em negociações pelo lado defensivo, ou seja, como forma de proteção da indústria brasileira, não se sustenta mais.
Portanto, não existem razões, nem de ordem macroeconômica nem de cenário internacional, que deem base para qualquer adiamento do envolvimento do Brasil em negociações comerciais daqui para a frente.
Com o arrefecimento das importações brasileiras e a retomada do crescimento econômico mundial, é chegada a hora de a política comercial ser tratada como tema econômico. Se no passado poderíamos dizer que a perda dos setores ofensivos pela falta de acordos era menor do que o ganho dos setores defensivos, essa equação mudou e não existe mais. Com a retomada dos acordos comerciais mundo afora, à medida que o comércio global se recupera, o custo da falta de acordos amplos de comércio vai-se tornar cada vez mais alto para os setores exportadores, ao passo que o benefício para os setores defensivos é claramente crescente.
É improvável que o atual governo faça qualquer movimento significativo na direção de engajar o Brasil em acordos bilaterais. Um governo que acredita no Estado como propulsor da economia dificilmente tomará atitudes para intensificar o grau de integração no comércio mundial. Contudo nunca houve, nos últimos dez anos, momento tão favorável para um governo vencer suas convicções políticas e perder o medo de integrar mais o Brasil no mundo e, assim, colher seus frutos com maior crescimento econômico.
Golpes estatísticos - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 20/02
O governo deu novo passo para melhorar as suas estatísticas econômicas sem necessariamente melhorar a vida dos brasileiros miseráveis de maneira efetiva. Todas as famílias cadastradas no programa Bolsa Família passam a ter a garantia de que cada um de seus membros terá no mínimo R$ 70 por mês, faixa que marca o necessário para alguém não ser considerado miserável estatisticamente. O fim da pobreza extrema é o principal mote da campanha de reeleição da presidente Dilma. Ninguém pode ser contra dar dinheiro a miseráveis, como anunciou ontem a presidente, mas dar a um mero ajuste estatístico no Bolsa Família o tom épico que ela deu chega a ser cruel uso da propaganda política.
Mesmo que sua situação concreta não melhore em relação a quando ganhava apenas R$ 1 a menos, o cidadão estará fora da linha da pobreza extrema. Essa linha meramente estatística que separa a pobreza extrema da pobreza está dentro dos padrões do Banco Mundial, que considera US$ 1 por dia o mínimo para definir quem está acima da linha da miséria absoluta. Mas aí temos novos problemas meramente "economicistas".
Dependendo da cotação do dólar, precisa-se de mais de R$ 70 para acabar com a miséria absoluta. Além disso, o governo não reajusta desde 2009 esse valor pela inflação, o que congela o número de miseráveis. Assim como já houve casos em que o governo deu mais R$ 2 para o cidadão passar da linha de miséria, haverá muitos casos em que famílias receberão pouco mais de R$ 10 com a mudança anunciada, para constar da nova estatística que tirará milhões de pessoas da pobreza extrema sem objetivamente melhorar suas vidas. O mesmo efeito o governo consegue com a chamada "nova classe média", que já representaria hoje mais de 50% da população. Essa classe é composta por famílias com renda mensal domiciliar total (somando todas as fontes) entre R$ 1.064 e R$ 4.561, que hoje, com o crédito mais amplo, entraram no mercado consumidor.
Além de questões como a inadimplência, há quem discuta os critérios de definição de classes e, sobretudo, essa maneira de encarar as classes sociais apenas pelo aspecto monetário, sem avaliar questões como educação, saúde e valores pessoais.
Mas não há dúvida de que a desigualdade vem sendo reduzida nos últimos anos graças aos programas sociais e ao aumento real do salário mínimo, fortalecido pelo pleno emprego. A questão central é saber se essa situação é sustentável sem que reformas estruturais sejam feitas.
A interferência de Cuba em questões internas brasileiras, como agora na visita da blogueira cubana Yoani Sánchez, já ocorrera outras vezes, como quando os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara fugiram da concentração durante o Pan no Rio e foram repatriados pelo governo brasileiro a bordo de avião do governo venezuelano que pousou em Brasília na calada da noite.
Pois, depois que a revista "Veja" denunciou uma armação do governo cubano com partidos políticos para pressionar a blogueira em sua visita ao país, todos os fatos vão se confirmando sem que o Itamaraty ou o Planalto se preocupem em questionar o governo cubano sobre sua atuação indevida.
O embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, reuniu militantes do PT e do PCdoB na embaixada do seu país, em Brasília, para distribuir dossiê contra a blogueira e anunciar que ela seria vigiada. Aonde vai, Yoani é perseguida por manifestantes do PCdoB e do PT que não se limitam a protestar contra sua presença, o que seria aceitável em uma democracia, mas tentam impedir que fale e até mesmo agredi-la. E da conspiração participou funcionário da Secretaria-Geral da Presidência da República, especialista em redes sociais, que em seguida foi a Havana participar de seminário sobre "guerra cibernética".
O engraçado é que todos os textos que apareceram na internet nos chamados "blogs sujos" que formam a rede de apoio ao governo, muitos pagos pelo dinheiro oficial, usam os mesmos termos e as mesmas acusações, como se fossem escritos por uma só pessoa. No mínimo, têm a mesma origem: CD distribuído na reunião da embaixada cubana.
O governo deu novo passo para melhorar as suas estatísticas econômicas sem necessariamente melhorar a vida dos brasileiros miseráveis de maneira efetiva. Todas as famílias cadastradas no programa Bolsa Família passam a ter a garantia de que cada um de seus membros terá no mínimo R$ 70 por mês, faixa que marca o necessário para alguém não ser considerado miserável estatisticamente. O fim da pobreza extrema é o principal mote da campanha de reeleição da presidente Dilma. Ninguém pode ser contra dar dinheiro a miseráveis, como anunciou ontem a presidente, mas dar a um mero ajuste estatístico no Bolsa Família o tom épico que ela deu chega a ser cruel uso da propaganda política.
Mesmo que sua situação concreta não melhore em relação a quando ganhava apenas R$ 1 a menos, o cidadão estará fora da linha da pobreza extrema. Essa linha meramente estatística que separa a pobreza extrema da pobreza está dentro dos padrões do Banco Mundial, que considera US$ 1 por dia o mínimo para definir quem está acima da linha da miséria absoluta. Mas aí temos novos problemas meramente "economicistas".
Dependendo da cotação do dólar, precisa-se de mais de R$ 70 para acabar com a miséria absoluta. Além disso, o governo não reajusta desde 2009 esse valor pela inflação, o que congela o número de miseráveis. Assim como já houve casos em que o governo deu mais R$ 2 para o cidadão passar da linha de miséria, haverá muitos casos em que famílias receberão pouco mais de R$ 10 com a mudança anunciada, para constar da nova estatística que tirará milhões de pessoas da pobreza extrema sem objetivamente melhorar suas vidas. O mesmo efeito o governo consegue com a chamada "nova classe média", que já representaria hoje mais de 50% da população. Essa classe é composta por famílias com renda mensal domiciliar total (somando todas as fontes) entre R$ 1.064 e R$ 4.561, que hoje, com o crédito mais amplo, entraram no mercado consumidor.
Além de questões como a inadimplência, há quem discuta os critérios de definição de classes e, sobretudo, essa maneira de encarar as classes sociais apenas pelo aspecto monetário, sem avaliar questões como educação, saúde e valores pessoais.
Mas não há dúvida de que a desigualdade vem sendo reduzida nos últimos anos graças aos programas sociais e ao aumento real do salário mínimo, fortalecido pelo pleno emprego. A questão central é saber se essa situação é sustentável sem que reformas estruturais sejam feitas.
A interferência de Cuba em questões internas brasileiras, como agora na visita da blogueira cubana Yoani Sánchez, já ocorrera outras vezes, como quando os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara fugiram da concentração durante o Pan no Rio e foram repatriados pelo governo brasileiro a bordo de avião do governo venezuelano que pousou em Brasília na calada da noite.
Pois, depois que a revista "Veja" denunciou uma armação do governo cubano com partidos políticos para pressionar a blogueira em sua visita ao país, todos os fatos vão se confirmando sem que o Itamaraty ou o Planalto se preocupem em questionar o governo cubano sobre sua atuação indevida.
O embaixador de Cuba no Brasil, Carlos Zamora Rodríguez, reuniu militantes do PT e do PCdoB na embaixada do seu país, em Brasília, para distribuir dossiê contra a blogueira e anunciar que ela seria vigiada. Aonde vai, Yoani é perseguida por manifestantes do PCdoB e do PT que não se limitam a protestar contra sua presença, o que seria aceitável em uma democracia, mas tentam impedir que fale e até mesmo agredi-la. E da conspiração participou funcionário da Secretaria-Geral da Presidência da República, especialista em redes sociais, que em seguida foi a Havana participar de seminário sobre "guerra cibernética".
O engraçado é que todos os textos que apareceram na internet nos chamados "blogs sujos" que formam a rede de apoio ao governo, muitos pagos pelo dinheiro oficial, usam os mesmos termos e as mesmas acusações, como se fossem escritos por uma só pessoa. No mínimo, têm a mesma origem: CD distribuído na reunião da embaixada cubana.
2014 está no ar - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 20/02
BRASÍLIA - O PT promove hoje um "rendez-vous" para celebrar os 33 anos de sua fundação e os dez anos no comando da República. Será o primeiro ato da campanha de reeleição de Dilma Rousseff.
Ao lado de seu antecessor, Lula, a presidente fará um discurso descrito como "forte" pelos que participaram de sua formulação. O evento será em um hotel em São Paulo, com todo o esmero técnico e imagético que o PT aprendeu com Duda Mendonça e aperfeiçoou com João Santana, os marqueteiros da corte.
Além do discurso forte, Dilma e Lula (mais Lula do que Dilma) vão se ocupar, a partir de agora, da reedição da maior aliança que um candidato vitorioso ao Planalto teve no Brasil moderno.
Em 2010, Dilma ganhou ancorada em uma coalizão de dez partidos. Nunca depois da ditadura militar houve uma aliança formal tão robusta em torno de um candidato a presidente vencedor.
Como o tempo apaga um pouco a memória, eis a lista dos dez partidos oficialmente pró-Dilma na eleição de 2010, em ordem alfabética: PC do B, PDT, PMDB, PR, PRB, PSB, PSC, PT, PTC e PTN.
Pelo menos três dessas siglas ameaçam pular fora do barco: PDT, PR e PSB. Os dois primeiros se acomodam com um pouco de fisiologia. Já o PSB dependerá do apetite do seu único líder, Eduardo Campos, cuja pretensão atual é sair em voo solo numa campanha para presidente.
Como compensação para eventuais defecções, Dilma tem à porta o novo partido criado por Gilberto Kassab, o PSD. Essa agremiação já é a quarta maior do país em tempo de TV e rádio, o predicado que faz a diferença numa eleição no Brasil.
Com o aumento do Bolsa Família ontem, uma penca de partidos ao seu lado e o tal discurso forte hoje, só faltará a Dilma que a economia cresça acima de 2% para pavimentar de uma vez sua reeleição. Por enquanto, o roteiro parece exequível.
BRASÍLIA - O PT promove hoje um "rendez-vous" para celebrar os 33 anos de sua fundação e os dez anos no comando da República. Será o primeiro ato da campanha de reeleição de Dilma Rousseff.
Ao lado de seu antecessor, Lula, a presidente fará um discurso descrito como "forte" pelos que participaram de sua formulação. O evento será em um hotel em São Paulo, com todo o esmero técnico e imagético que o PT aprendeu com Duda Mendonça e aperfeiçoou com João Santana, os marqueteiros da corte.
Além do discurso forte, Dilma e Lula (mais Lula do que Dilma) vão se ocupar, a partir de agora, da reedição da maior aliança que um candidato vitorioso ao Planalto teve no Brasil moderno.
Em 2010, Dilma ganhou ancorada em uma coalizão de dez partidos. Nunca depois da ditadura militar houve uma aliança formal tão robusta em torno de um candidato a presidente vencedor.
Como o tempo apaga um pouco a memória, eis a lista dos dez partidos oficialmente pró-Dilma na eleição de 2010, em ordem alfabética: PC do B, PDT, PMDB, PR, PRB, PSB, PSC, PT, PTC e PTN.
Pelo menos três dessas siglas ameaçam pular fora do barco: PDT, PR e PSB. Os dois primeiros se acomodam com um pouco de fisiologia. Já o PSB dependerá do apetite do seu único líder, Eduardo Campos, cuja pretensão atual é sair em voo solo numa campanha para presidente.
Como compensação para eventuais defecções, Dilma tem à porta o novo partido criado por Gilberto Kassab, o PSD. Essa agremiação já é a quarta maior do país em tempo de TV e rádio, o predicado que faz a diferença numa eleição no Brasil.
Com o aumento do Bolsa Família ontem, uma penca de partidos ao seu lado e o tal discurso forte hoje, só faltará a Dilma que a economia cresça acima de 2% para pavimentar de uma vez sua reeleição. Por enquanto, o roteiro parece exequível.
O comissariado não toma jeito - ELIO GASPARI
O GLOBO - 20/02
Tarso Genro quer que o Congresso revide: você pagará as campanhas e os partidos dirão quem será eleito
O PT tem dois ex-presidentes e um ex-tesoureiro condenados a penas em regime fechado e quer mudar o sistema eleitoral brasileiro para pior. A saber: José Dirceu deve dez anos e dez meses, José Genoíno, seis anos e onze meses e Delúbio Soares, oito anos e onze meses. Todos condenados por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal. Todos continuam no partido e Genoíno, protegido pelo manto das prerrogativas do Legislativo, ocupa uma cadeira de deputado federal. Quando o ex-governador Olivio Dutra teve a coragem de dizer que Genoíno deveria renunciar, o deputado André Vargas (PT-PR) lembrou que quando ele "passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo". Pela vontade de seu partido e a compreensão de seus pares, Vargas é o primeiro vice-presidente da Câmara.
Os comissários blindaram-se na defesa de seus companheiros, todos condenados por práticas confessas. É direito deles. Quem esperava um sopro de interesse pela moralidade, perdeu seu tempo. Deu-se o contrário. Na melhor prática petista, decidiram "partir para cima". Em vez de discutir a conduta de seus dirigentes, querem mudar de assunto.
A proposta vem do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Ele sugere um "revide". Levanta de novo a bandeira de uma reforma política que crie o financiamento público para as campanhas eleitorais e estabeleça o voto de lista para a escolha dos deputados e vereadores.
Pelo voto de lista os eleitores perdem o direito de escolher o candidato em quem votam. Pelo sistema atual, um cidadão de São Paulo votou em Delfim Netto e elegeu Michel Temer. É um sistema meio girafa, mas o eleitor sempre poderá lembrar que votou em Delfim. Pelo voto de lista, os partidos organizam as listas, o cidadão vota na sigla e serão eleitos os primeiros nomes da preferência das caciquias. Se os companheiros do PMDB colocarem Temer em primeiro lugar e Delfim em 20º, não haverá força humana capaz de levá-lo à Câmara. A escolha deixa de ser do eleitor, que a vê transferida para partidos, por cujas direções passaram Genoino, Dirceu, Delúbio. Ou ainda Valdemar Costa Neto, presidente do PL, condenado a sete anos e dez meses de prisão e Roberto Jefferson, do PTB, com sete anos e catorze dias.
O segundo pilar do "revide" é o financiamento público de campanha. Acaba-se com um sistema no qual os diretores de empresas usam dinheiro dos acionistas para investir em políticos e transfere-se a conta para a patuleia. Nesse sistema, por baixo, a Viúva gastaria R$ 1 bilhão para financiar candidatos. Todas as maracutaias interpartidárias do mensalão deram-se ludibriando-se leis vigentes. Ganha uma passagem de ida a Cuba quem acredita que esse tipo de financiamento acabará com o caixa dois. Se o PT quer falar sério, pode defender uma drástica limitação das doações de pessoas jurídicas, deixando a Viúva em paz.
A proposta do "revide" é a síntese ideológica e fisiológica da mensalagem. Você paga e eles decidem quem irá para a Câmara. Eles, quem? José Dirceu, José Genoíno, Delubio Soares, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, com um patrimônio de 41 anos e seis meses de cadeia, ou seus dignos sucessores.
Tarso Genro quer que o Congresso revide: você pagará as campanhas e os partidos dirão quem será eleito
O PT tem dois ex-presidentes e um ex-tesoureiro condenados a penas em regime fechado e quer mudar o sistema eleitoral brasileiro para pior. A saber: José Dirceu deve dez anos e dez meses, José Genoíno, seis anos e onze meses e Delúbio Soares, oito anos e onze meses. Todos condenados por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal. Todos continuam no partido e Genoíno, protegido pelo manto das prerrogativas do Legislativo, ocupa uma cadeira de deputado federal. Quando o ex-governador Olivio Dutra teve a coragem de dizer que Genoíno deveria renunciar, o deputado André Vargas (PT-PR) lembrou que quando ele "passou pelos problemas da CPI do Jogo do Bicho, teve a compreensão de todo mundo". Pela vontade de seu partido e a compreensão de seus pares, Vargas é o primeiro vice-presidente da Câmara.
Os comissários blindaram-se na defesa de seus companheiros, todos condenados por práticas confessas. É direito deles. Quem esperava um sopro de interesse pela moralidade, perdeu seu tempo. Deu-se o contrário. Na melhor prática petista, decidiram "partir para cima". Em vez de discutir a conduta de seus dirigentes, querem mudar de assunto.
A proposta vem do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Ele sugere um "revide". Levanta de novo a bandeira de uma reforma política que crie o financiamento público para as campanhas eleitorais e estabeleça o voto de lista para a escolha dos deputados e vereadores.
Pelo voto de lista os eleitores perdem o direito de escolher o candidato em quem votam. Pelo sistema atual, um cidadão de São Paulo votou em Delfim Netto e elegeu Michel Temer. É um sistema meio girafa, mas o eleitor sempre poderá lembrar que votou em Delfim. Pelo voto de lista, os partidos organizam as listas, o cidadão vota na sigla e serão eleitos os primeiros nomes da preferência das caciquias. Se os companheiros do PMDB colocarem Temer em primeiro lugar e Delfim em 20º, não haverá força humana capaz de levá-lo à Câmara. A escolha deixa de ser do eleitor, que a vê transferida para partidos, por cujas direções passaram Genoino, Dirceu, Delúbio. Ou ainda Valdemar Costa Neto, presidente do PL, condenado a sete anos e dez meses de prisão e Roberto Jefferson, do PTB, com sete anos e catorze dias.
O segundo pilar do "revide" é o financiamento público de campanha. Acaba-se com um sistema no qual os diretores de empresas usam dinheiro dos acionistas para investir em políticos e transfere-se a conta para a patuleia. Nesse sistema, por baixo, a Viúva gastaria R$ 1 bilhão para financiar candidatos. Todas as maracutaias interpartidárias do mensalão deram-se ludibriando-se leis vigentes. Ganha uma passagem de ida a Cuba quem acredita que esse tipo de financiamento acabará com o caixa dois. Se o PT quer falar sério, pode defender uma drástica limitação das doações de pessoas jurídicas, deixando a Viúva em paz.
A proposta do "revide" é a síntese ideológica e fisiológica da mensalagem. Você paga e eles decidem quem irá para a Câmara. Eles, quem? José Dirceu, José Genoíno, Delubio Soares, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, com um patrimônio de 41 anos e seis meses de cadeia, ou seus dignos sucessores.
Limites da democracia - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 20/02
SÃO PAULO - Os protestos de grupos esquerdistas contra a blogueira cubana Yoani Sánchez em sua passagem pelo Brasil configuram uma tremenda falta de educação e, talvez, revelam falhas na organização da visita, mas acho complicado afirmar que representam um veto à liberdade de expressão da jornalista e, portanto, constituem uma atitude antidemocrática.
Quem melhor demarcou a natureza do problema foi a própria blogueira, quando, de forma bastante elegante, por sinal, disse que gostaria de ver a mesma liberdade de manifestação em seu país. De fato, estaríamos diante de uma inequívoca agressão aos primados da sociedade aberta se autoridades brasileiras tivessem dado um jeito de impedir os jovens revolucionários de expressar suas opiniões, por mais absurdas e anacrônicas que as julguemos.
Por falar nisso, é preciso habitar um museu contíguo ao Vaticano para acreditar que o regime cubano deva ser imitado. Se viver ali fosse bom ou mesmo tolerável, o governo de Havana não teria passado mais de 50 anos impedindo viagens de cidadãos ao exterior. E não há sucessos na saúde e na educação que compensem a ausência de liberdades tão fundamentais como a de dizer o que pensa ou a de viver num outro país.
Uma vez que não dá para proibir manifestações nem incutir juízo e urbanidade na cabeça de jovens comunistas, a alternativa para garantir que Yoani possa tranquilamente passar seu recado aos que queiram ouvi-la é organizar melhor os próximos eventos, ainda que ao preço de restringi-los apenas para convidados.
Eu até gostaria que as disputas políticas fossem uma justa cavalheiresca, na qual cada lado ouviria galantemente os argumentos do adversário e os retrucaria só com raciocínios lógicos. Infelizmente, a democracia é um processo algo mais conturbado e que não tem o dom de eliminar o conflito da sociedade. Ela tenta apenas e muito imperfeitamente discipliná-lo.
SÃO PAULO - Os protestos de grupos esquerdistas contra a blogueira cubana Yoani Sánchez em sua passagem pelo Brasil configuram uma tremenda falta de educação e, talvez, revelam falhas na organização da visita, mas acho complicado afirmar que representam um veto à liberdade de expressão da jornalista e, portanto, constituem uma atitude antidemocrática.
Quem melhor demarcou a natureza do problema foi a própria blogueira, quando, de forma bastante elegante, por sinal, disse que gostaria de ver a mesma liberdade de manifestação em seu país. De fato, estaríamos diante de uma inequívoca agressão aos primados da sociedade aberta se autoridades brasileiras tivessem dado um jeito de impedir os jovens revolucionários de expressar suas opiniões, por mais absurdas e anacrônicas que as julguemos.
Por falar nisso, é preciso habitar um museu contíguo ao Vaticano para acreditar que o regime cubano deva ser imitado. Se viver ali fosse bom ou mesmo tolerável, o governo de Havana não teria passado mais de 50 anos impedindo viagens de cidadãos ao exterior. E não há sucessos na saúde e na educação que compensem a ausência de liberdades tão fundamentais como a de dizer o que pensa ou a de viver num outro país.
Uma vez que não dá para proibir manifestações nem incutir juízo e urbanidade na cabeça de jovens comunistas, a alternativa para garantir que Yoani possa tranquilamente passar seu recado aos que queiram ouvi-la é organizar melhor os próximos eventos, ainda que ao preço de restringi-los apenas para convidados.
Eu até gostaria que as disputas políticas fossem uma justa cavalheiresca, na qual cada lado ouviria galantemente os argumentos do adversário e os retrucaria só com raciocínios lógicos. Infelizmente, a democracia é um processo algo mais conturbado e que não tem o dom de eliminar o conflito da sociedade. Ela tenta apenas e muito imperfeitamente discipliná-lo.
Sempre a reboque - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 20/02
Os 3.060 vetos presidenciais não se acumularam na pauta do Poder Legislativo da noite para o dia nem do ano passado para cá. É coisa antiga: dizem que há vetos ainda do tempo de Itamar Franco na Presidência da República para serem examinados.
Nem por isso, nesses anos todos, o Congresso deixou de aprovar o Orçamento do ano seguinte antes de entrar no período de recesso de fim de ano.
Agora vem essa história muito mal contada de o Parlamento decidir esperar a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a ordem de apreciação dos vetos para poder votar o Orçamento na União para o ano que já começou.
Uma novidade surgida depois que uma manifestação do ministro Luiz Fux, decorrente de consulta sobre o veto parcial da presidente Dilma Rousseff à nova lei de distribuição dos royalties do petróleo, levantou essa questão dos vetos adormecidos.
O ministro Fux simplesmente esclareceu que os vetos não poderiam ser examinados como estava pretendendo o Congresso: embrulhados num pacotão. Era preciso obedecer à ordem cronológica.
Como a Constituição determina que vetos não apreciados no prazo de 30 dias trancam a pauta, ficou a dúvida se o Orçamento não poderia ser objeto de contestação judicial caso fosse votado antes dos vetos.
Em fevereiro, o ministro Luiz Fux voltou a se manifestar para esclarecer: uma coisa não tem a ver com a outra.
Poder-se-ia acrescentar: nunca teve. Assim como no caso das medidas provisórias que deveriam simplesmente ser devolvidas ao Executivo se não forem relevantes e/ou urgentes, o Congresso nunca respeitou a Constituição no que tange ao rito dos vetos.
Assim como recentemente o STF decidiu que o Parlamento deve examinar a urgência e a relevância das MPs, mas teve o realismo de fazer valer interpretação para dali em diante, obviamente o Supremo não condicionará o Orçamento de 2013 a vetos de 20 anos atrás.
Não faz, portanto, nenhum sentido essa alegação de espera. Apenas deixa o Congresso mais uma vez a reboque do Executivo e do Judiciário.
Ao Planalto, claro, não interessa que sejam examinados os vetos, principalmente aqueles que correm o risco de ser derrubados (com destaque para royalties e Código Florestal).
Se o Congresso quisesse resolver o problema poderia, nesse meio tempo entre a liminar no ministro Fux e o início da sessão legislativa em 4 de fevereiro, ter-se organizado para limpar a pauta dos vetos. Preferiu, mais uma vez, abrir mão de suas prerrogativas em favor dos colegas de Praça dos Três Poderes. Na realidade, dois.
Nem lá nem cá. É difícil de ser entendida a posição da nova legenda a ser criada e por enquanto batizada de Rede Sustentabilidade quanto à aceitação de gente condenada por instância colegiada de Justiça.
Primeiro os chamados fichas-sujas não seriam aceitos no partido. Agora serão porque, segundo justificam os sonháticos, pode haver condenação injusta.
Mas, de acordo com a ex-senadora Marina Silva, quem não tiver a ficha limpa será constrangido a se afastar do novo partido pela aversão com que serão tratados pelos companheiros.
Ora, se são aceitos pelo pressuposto da inocência como podem ao mesmo tempo ser rejeitados pela certeza da culpa?
Laço de aço. Os protestos contra o direito da cubana Yoani Sánchez de discordar da ditadura e almejar uma democracia para seu país, ocorridos na chegada dela ao Brasil, têm algo em comum com as manifestações de certa militância petista que vê crime de lesa-pátria no exercício da opinião contrária: o horror pelo contraditório e a completa falta de modos.
Os 3.060 vetos presidenciais não se acumularam na pauta do Poder Legislativo da noite para o dia nem do ano passado para cá. É coisa antiga: dizem que há vetos ainda do tempo de Itamar Franco na Presidência da República para serem examinados.
Nem por isso, nesses anos todos, o Congresso deixou de aprovar o Orçamento do ano seguinte antes de entrar no período de recesso de fim de ano.
Agora vem essa história muito mal contada de o Parlamento decidir esperar a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a ordem de apreciação dos vetos para poder votar o Orçamento na União para o ano que já começou.
Uma novidade surgida depois que uma manifestação do ministro Luiz Fux, decorrente de consulta sobre o veto parcial da presidente Dilma Rousseff à nova lei de distribuição dos royalties do petróleo, levantou essa questão dos vetos adormecidos.
O ministro Fux simplesmente esclareceu que os vetos não poderiam ser examinados como estava pretendendo o Congresso: embrulhados num pacotão. Era preciso obedecer à ordem cronológica.
Como a Constituição determina que vetos não apreciados no prazo de 30 dias trancam a pauta, ficou a dúvida se o Orçamento não poderia ser objeto de contestação judicial caso fosse votado antes dos vetos.
Em fevereiro, o ministro Luiz Fux voltou a se manifestar para esclarecer: uma coisa não tem a ver com a outra.
Poder-se-ia acrescentar: nunca teve. Assim como no caso das medidas provisórias que deveriam simplesmente ser devolvidas ao Executivo se não forem relevantes e/ou urgentes, o Congresso nunca respeitou a Constituição no que tange ao rito dos vetos.
Assim como recentemente o STF decidiu que o Parlamento deve examinar a urgência e a relevância das MPs, mas teve o realismo de fazer valer interpretação para dali em diante, obviamente o Supremo não condicionará o Orçamento de 2013 a vetos de 20 anos atrás.
Não faz, portanto, nenhum sentido essa alegação de espera. Apenas deixa o Congresso mais uma vez a reboque do Executivo e do Judiciário.
Ao Planalto, claro, não interessa que sejam examinados os vetos, principalmente aqueles que correm o risco de ser derrubados (com destaque para royalties e Código Florestal).
Se o Congresso quisesse resolver o problema poderia, nesse meio tempo entre a liminar no ministro Fux e o início da sessão legislativa em 4 de fevereiro, ter-se organizado para limpar a pauta dos vetos. Preferiu, mais uma vez, abrir mão de suas prerrogativas em favor dos colegas de Praça dos Três Poderes. Na realidade, dois.
Nem lá nem cá. É difícil de ser entendida a posição da nova legenda a ser criada e por enquanto batizada de Rede Sustentabilidade quanto à aceitação de gente condenada por instância colegiada de Justiça.
Primeiro os chamados fichas-sujas não seriam aceitos no partido. Agora serão porque, segundo justificam os sonháticos, pode haver condenação injusta.
Mas, de acordo com a ex-senadora Marina Silva, quem não tiver a ficha limpa será constrangido a se afastar do novo partido pela aversão com que serão tratados pelos companheiros.
Ora, se são aceitos pelo pressuposto da inocência como podem ao mesmo tempo ser rejeitados pela certeza da culpa?
Laço de aço. Os protestos contra o direito da cubana Yoani Sánchez de discordar da ditadura e almejar uma democracia para seu país, ocorridos na chegada dela ao Brasil, têm algo em comum com as manifestações de certa militância petista que vê crime de lesa-pátria no exercício da opinião contrária: o horror pelo contraditório e a completa falta de modos.
Fim da farra - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 20/02
O MST cai no samba
O compositor Martinho da Vila recebeu e-mail inusitado na sexta-feira (15), elogiando a campeã do carnaval Vila Isabel e seu samba-enredo. A escola teve o patrocínio da Basf, empresa alemã, e, na sua mensagem, João Pedro Stédile, dirigente do Movimento dos Sem Terra, relata que enviou carta à direção da escola preocupado com uma eventual apologia da empresa, dos agrotóxicos e do agronegócio. Passada a folia, Stédile se rendeu ao samba e ao desfile da Vila: "Felizmente fomos salvos pela sabedoria e genialidade de Martinho da Vila, que fez um samba espetacular". (No Blog a carta e o samba, composto também por Arlindo Cruz, André Diniz, Tonico da Vila e Leonel.)
“O PT e o governo não podem passar recibo de adversários de Eduardo Campos. Ele nos ajudou nas vitórias de Lula e de Dilma”
Marcelo Déda
Governador de Sergipe e filiado ao PT
Operação 2014
A presidente Dilma orientou todos os seus ministros a procurarem os empresários de suas áreas de atuação. O objetivo é ouvir suas reivindicações para que a economia cresça e sugerir propostas de atendimento ao Planalto.
No rastro
Quem quiser saber quais os candidatos a governador, em 2014, que contam com a simpatia do ex-presidente Lula deve procurar pelas digitais do jornalista João Santana. Hoje, no Rio, vão ao ar inserções de TV do PT, com o protagonismo do senador Lindbergh Farias (PT), que foram produzidas por Santana, marqueteiro de Lula e da presidente Dilma.
Pés no freio
Irritada com alguns aliados, que começaram a demitir ministros pela imprensa, a presidente Dilma decidiu segurar as mudanças pontuais que fará. Contrariada, a presidente reclama que se trata de um constrangimento desnecessário.
Pressionados pelo Planalto
Os ministros do STF estão inclinados a adotar uma fórmula chamada "Modulação Temporal de Efeitos", pela qual a decisão do ministro Luiz Fux, de limpar a pauta de vetos, valerá apenas para o futuro. Os antigos vão permanecer na gaveta, permitindo que seja pinçado para votar o veto da Lei dos Royalties. O governador Sérgio Cabral já se prepara para o embate do mérito no STF.
Em posição de alerta
O governo Dilma está monitorando sindicatos trabalhistas envolvidos em obras para a Copa do Mundo (2014) e das Confederações (2013), como construção de estádios. Há ameaças veladas de greves, como ocorreram na Copa da África do Sul.
Dobradinha PT-PSDB
A cubana Yoani Sánchez será recebida hoje pelo presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e falará numa das comissões da Casa. Tudo articulado pelo deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
LIGADO ao contraventor Carlos Cachoeira, o vereador Elias Vaz (GO) foi a um dos lançamentos do Rede Sustentabilidade de Marina Silva.
Dois no palanque - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 20/02
Dilma Rousseff e Aécio Neves inauguram hoje a campanha de 2014. A presidente usará o discurso na festa do PT para reforçar a continuidade entre o seu governo e o de Lula e atacar a "subcultura do medo'' dos que criticaram o governo pela redução da tarifa de energia. No Senado, o tucano dirá que sempre que teve de "escolher entre o Brasil e o partido", o PT optou por si. Citará a eleição de Tancredo Neves e o apoio a Itamar Franco, ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal.
E um ausente Esperado na festa do PT hoje, o também presidenciável Eduardo Campos (PSB) -um dos poucos governadores aliados que faltaram à pajelança do Brasil Sem Miséria ontem- optou por comparecer à missa de sétimo dia do ex-ministro Fernando Lyra, em Recife.
No barco Já o ex-prefeito Gilberto Kassab, que ainda não embarcou oficialmente no governo Dilma, confirmou presença no convescote.
Precedência Texto do convite oficial do PT, assinado por Rui Falcão, para o evento de hoje: "A presidência do PT convida para o ato inaugural das comemorações dos dez anos do Governo Democrático e Popular. O presidente Lula e a presidenta Dilma estarão presentes".
Seletivo Em exposição fotográfica nos corredores da Câmara dos Deputados na qual resgata cronologicamente sua história, o PT "pulou'' 2005, ano em que eclodiu o escândalo do mensalão.
Oremos Sites evangélicos que ajudam no mutirão de adesões para oficializar a Rede, novo partido de Marina Silva, chamam a ex-ministra de "missionária Marina".
Na estrada Depois de emitir nota rechaçando candidatura de Michel Temer ao governo paulista em aliança com o PT, o PMDB convocou Paulo Skaf e Gabriel Chalita para um giro pelo interior aos sábados a partir de março.
Bolão Alheios ao decantado favoritismo de Heleno Torres e Humberto Ávila, ministros do Supremo torcem por um "azarão" para a vaga de Carlos Ayres Britto: o subprocurador da República Eugênio Aragão. Apesar de ser ligado ao procurador-geral, Roberto Gurgel, Aragão tem bom trânsito com petistas.
Da água... O ministro do Turismo, Gastão Vieira, fez menção ontem às especulações sobre a sua eventual substituição durante a posse do novo diretor de Relações Internacionais da pasta, Acir Madeira Pimenta Filho.
... para o vinho "Todos sabem que estamos fazendo um excelente trabalho. Tanto que o ministério, que antes estava nas páginas policiais, hoje é cobiçado", desabafou.
Carona... Antes de deixar a presidência da Câmara, Marco Maia (PT-RS) arquivou requerimento em que Rubens Bueno (PPS-PR) requeria acesso à lista de passageiros em aviões oficiais com presidente da República, ministros e parlamentares. O pedido foi feito em 2011.
... republicana? Em dezembro passado, a Mesa Diretora acolheu parecer de Rose de Freitas (PMDB-ES), para quem a publicação da lista feria as prerrogativas institucionais da Presidência. "Afinal, os interesses defendidos nessas viagens são sempre do Brasil'', dizia o relatório.
Tapetão O PPS recorreu ontem à Comissão de Constituição e Justiça para ter acesso à relação de nomes.
Pegadinha O entorno de Geraldo Alckmin vê como armadilha a pressão de Fernando Haddad para implantar a inspeção veicular no Estado. Na visão dos tucanos, o projeto que tramita Assembleia dificilmente será aprovado neste ano. "Deputado não cria taxa em ano pré-eleitoral", afirma um governista.
Querência Os ministros Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário) e Maria do Rosário (Direitos Humanos) já disputam, nos bastidores, a indicação do PT-RS para o Senado na coalizão reeleitoral de Tarso Genro.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"O que Dilma dá com a mão da Bolsa Família, tira com a outra, com a volta da carestia, nome que se dava antigamente à inflação."
DO LÍDER DO PSDB NO SENADO, ALOYSIO NUNES (SP), sobre a expansão do programa de combate à extrema miséria, anunciada ontem pela presidente.
contraponto
Só que não
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), deixava a reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anteontem, quando foi abordado por jornalistas. Cercado pelos repórteres, que pediam para que o presidente se aproximasse ainda mais das câmeras de TV, Alves fez graça com o assédio:
-Com esse monte de microfones, estou me sentindo a Gisele Bündchen!
A dualidade espacial de Minas - PAULO R. HADDAD
O ESTADÃO - 20/02
Robert Stavins, da Universidade Harvard, identifica muitos mitos prevalecentes entre os economistas sobre a forma como consideram o meio ambiente.
O primeiro mito é que os economistas pensam que o mercado resolve todos os problemas, o que efetivamente não ocorre quando as consequências de produzir ou consumir um bem ou um serviço são externas ao mercado (poluição hídrica, emissão de gases de efeito estufa, etc.). O segundo mito é que os economistas sempre recomendam uma solução de instrumentos de mercado para um problema de mercado. Esses instrumentos nem sempre proveem as melhores soluções e, muitas vezes, nem mesmo as soluções mais favoráveis. O mito seguinte é que, quando soluções extramercados são adotadas, os economistas ainda procuram usar preços de mercado para avaliá-las. É o que ocorre com o esforço para precificar o valor dos serviços ambientais quando submetidos às regras de comando e controle.
Como tem insistido Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia de 1998, a responsabilidade social de sustentabilidade não pode ser deixada inteiramente por conta do mercado, uma vez que o futuro não está adequadamente representado no mercado - pelo menos o futuro mais distante. O Estado deve servir como gestor dos interesses das futuras gerações, por meio de políticas públicas que utilizem mecanismos regulatórios ou de mercado, adaptando a estrutura de incentivos a fim de proteger o meio ambiente global e a base de recursos para as pessoas que ainda vão nascer.
Essa questão pode ser ilustrada por meio da configuração histórica de uma dualidade espacial no processo de desenvolvimento no Estado de Minas Gerais. Apesar do esforço político-administrativo de diferentes administrações estaduais, a economia de Minas ainda está entre as que têm um nível de crescimento inferior à média do nível do Brasil. Alguns números são ilustrativos.
Em 1985, a participação relativa do PIB do Estado em relação ao PIB do Brasil, a preços correntes, era de 9,61%. Sem ultrapassar a marca dos 10%, essa participação chegou a 9,32% em 2010. Da mesma forma, o PIB per capita de Minas, que representava 91,6% do PIB per capita do Brasil em 2000, chegou a 90,7% em 2010.
Considerando que, ao longo dos últimos 15 anos, houve várias experiências bem-sucedidas de promoção industrial visando a atrair novos projetos de investimento para o Estado, por que essa situação de persistência de uma posição relativamente estagnada da economia de Minas no cenário nacional? Basta observar que, dos 853 municípios do Estado, 453 tinham PIB per capita inferior à metade do PIB per capita brasileiro em 2010. Quase todos esses municípios se localizam no norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha, no Vale do Mucuri e em algumas microrregiões do Vale do Rio Doce e da Zona da Mata. Desses 453 municípios, 159 têm o PIB per capita inferior a 30% do PIB per capita brasileiro.
Como sobrevivem economicamente? Em geral, cerca de 60% de suas famílias estão protegidas por alguma política social compensatória do governo federal e mais de 70% dos recursos orçamentários de inúmeras de suas prefeituras vêm de alguma forma das transferências fiscais do governo federal.
O que esses municípios têm em comum em sua dinâmica econômica? Uma história do uso predatório ou não sustentável de sua base de recursos naturais renováveis e não renováveis. Historicamente, é possível situar essa degradação ambiental ao longo do ciclo do ouro, do ciclo do diamante, do desmatamento da Mata Atlântica, da ocupação desordenada do Cerrado, etc. A perda da qualidade dos recursos ambientais nessas regiões resulta em sensível redução da produtividade dos seus recursos naturais e, em sequência, a formação dos bolsões de pobreza. Esses bolsões se contrapõem à prosperidade econômica e ao progresso social das áreas do triângulo mineiro, do sul de Minas, do Alto Paranaíba e do noroeste de Minas, configurando uma dualidade espacial no desenvolvimento do Estado.
Robert Stavins, da Universidade Harvard, identifica muitos mitos prevalecentes entre os economistas sobre a forma como consideram o meio ambiente.
O primeiro mito é que os economistas pensam que o mercado resolve todos os problemas, o que efetivamente não ocorre quando as consequências de produzir ou consumir um bem ou um serviço são externas ao mercado (poluição hídrica, emissão de gases de efeito estufa, etc.). O segundo mito é que os economistas sempre recomendam uma solução de instrumentos de mercado para um problema de mercado. Esses instrumentos nem sempre proveem as melhores soluções e, muitas vezes, nem mesmo as soluções mais favoráveis. O mito seguinte é que, quando soluções extramercados são adotadas, os economistas ainda procuram usar preços de mercado para avaliá-las. É o que ocorre com o esforço para precificar o valor dos serviços ambientais quando submetidos às regras de comando e controle.
Como tem insistido Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia de 1998, a responsabilidade social de sustentabilidade não pode ser deixada inteiramente por conta do mercado, uma vez que o futuro não está adequadamente representado no mercado - pelo menos o futuro mais distante. O Estado deve servir como gestor dos interesses das futuras gerações, por meio de políticas públicas que utilizem mecanismos regulatórios ou de mercado, adaptando a estrutura de incentivos a fim de proteger o meio ambiente global e a base de recursos para as pessoas que ainda vão nascer.
Essa questão pode ser ilustrada por meio da configuração histórica de uma dualidade espacial no processo de desenvolvimento no Estado de Minas Gerais. Apesar do esforço político-administrativo de diferentes administrações estaduais, a economia de Minas ainda está entre as que têm um nível de crescimento inferior à média do nível do Brasil. Alguns números são ilustrativos.
Em 1985, a participação relativa do PIB do Estado em relação ao PIB do Brasil, a preços correntes, era de 9,61%. Sem ultrapassar a marca dos 10%, essa participação chegou a 9,32% em 2010. Da mesma forma, o PIB per capita de Minas, que representava 91,6% do PIB per capita do Brasil em 2000, chegou a 90,7% em 2010.
Considerando que, ao longo dos últimos 15 anos, houve várias experiências bem-sucedidas de promoção industrial visando a atrair novos projetos de investimento para o Estado, por que essa situação de persistência de uma posição relativamente estagnada da economia de Minas no cenário nacional? Basta observar que, dos 853 municípios do Estado, 453 tinham PIB per capita inferior à metade do PIB per capita brasileiro em 2010. Quase todos esses municípios se localizam no norte de Minas, no Vale do Jequitinhonha, no Vale do Mucuri e em algumas microrregiões do Vale do Rio Doce e da Zona da Mata. Desses 453 municípios, 159 têm o PIB per capita inferior a 30% do PIB per capita brasileiro.
Como sobrevivem economicamente? Em geral, cerca de 60% de suas famílias estão protegidas por alguma política social compensatória do governo federal e mais de 70% dos recursos orçamentários de inúmeras de suas prefeituras vêm de alguma forma das transferências fiscais do governo federal.
O que esses municípios têm em comum em sua dinâmica econômica? Uma história do uso predatório ou não sustentável de sua base de recursos naturais renováveis e não renováveis. Historicamente, é possível situar essa degradação ambiental ao longo do ciclo do ouro, do ciclo do diamante, do desmatamento da Mata Atlântica, da ocupação desordenada do Cerrado, etc. A perda da qualidade dos recursos ambientais nessas regiões resulta em sensível redução da produtividade dos seus recursos naturais e, em sequência, a formação dos bolsões de pobreza. Esses bolsões se contrapõem à prosperidade econômica e ao progresso social das áreas do triângulo mineiro, do sul de Minas, do Alto Paranaíba e do noroeste de Minas, configurando uma dualidade espacial no desenvolvimento do Estado.
Pessimistas - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 20/02
Há um evidente exagero no pessimismo sobre a política econômica. Faz-se tábula rasa do claro progresso social que está gestando uma classe média mais educada e, consequentemente, mais exigente de qualidade dos serviços públicos, sem a qual não se consolidam as instituições democráticas que contribuem para o aumento paulatino da igualdade de oportunidades.
Pior, finge-se ignorar avanços importantes: a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo público; a bem-sucedida substituição dos juros reais de 6% na caderneta de poupança; o enfrentamento dos custos dos insumos básicos (energia e portos); o aprendizado nos leilões de concessão dos projetos de infraestrutura, que deve atrair o investimento privado; o controle do aumento de salários no serviço público por três anos; a redução ordenada da taxa de juros reais; a exoneração da folha de pagamentos para setores exportadores que, combinada com uma relativa desvalorização da taxa cambial, começa a estimular a exportação industrial; a redução pontual da carga tributária; pequenos aperfeiçoamentos no sistema tributário etc.
E, por último, mas não menos importante, a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, que deve levar o empresário a introjetar o fato de que a política econômica é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade. Isso pode nos levar a um PIB entre 3% e 4% em 2013.
A afirmação de que se abandonou o famoso tripé da política econômica canônica a que se apegam nossos sacerdotes é falsa. Do ponto de vista fiscal, reconheçamos a inutilidade das "manobras criativas", pecado venial expiado pela crítica severa de amigos e inimigos. Vamos à essência. Um crescimento do PIB de 1% não justifica uma política anticíclica? Um deficit nominal de 2,5% do PIB com uma relação dívida líquida/PIB de 36% representa o abandono da responsabilidade fiscal?
Do ponto de vista monetário, uma taxa de inflação de 6%, empurrada por um choque de oferta agrícola que, provavelmente, tenderá a amenizar-se em menos de seis meses, é sinal de que o Banco Central abandonou a meta de 4,5%? Ou que ele tenha perdido a "autonomia"? Não parece que esse seja o momento para um aumento da taxa Selic. Quando o dr. Tombini diz que não se sente confortável com o comportamento da inflação, o que ele quer dizer senão que pode fazê-lo se for necessário?
Do ponto de vista cambial, a discussão beira o ridículo quando ouvimos François Hollande, Mario Draghi e Shinzo Abe. Quem ainda acredita em taxa de câmbio livremente fixada pelo "mercado em função dos seus fundamentais"?
Há um evidente exagero no pessimismo sobre a política econômica. Faz-se tábula rasa do claro progresso social que está gestando uma classe média mais educada e, consequentemente, mais exigente de qualidade dos serviços públicos, sem a qual não se consolidam as instituições democráticas que contribuem para o aumento paulatino da igualdade de oportunidades.
Pior, finge-se ignorar avanços importantes: a aprovação do sistema previdenciário do funcionalismo público; a bem-sucedida substituição dos juros reais de 6% na caderneta de poupança; o enfrentamento dos custos dos insumos básicos (energia e portos); o aprendizado nos leilões de concessão dos projetos de infraestrutura, que deve atrair o investimento privado; o controle do aumento de salários no serviço público por três anos; a redução ordenada da taxa de juros reais; a exoneração da folha de pagamentos para setores exportadores que, combinada com uma relativa desvalorização da taxa cambial, começa a estimular a exportação industrial; a redução pontual da carga tributária; pequenos aperfeiçoamentos no sistema tributário etc.
E, por último, mas não menos importante, a melhora do entendimento entre o poder incumbente e o setor privado, que deve levar o empresário a introjetar o fato de que a política econômica é amigável e objetiva o aumento da competição e da produtividade. Isso pode nos levar a um PIB entre 3% e 4% em 2013.
A afirmação de que se abandonou o famoso tripé da política econômica canônica a que se apegam nossos sacerdotes é falsa. Do ponto de vista fiscal, reconheçamos a inutilidade das "manobras criativas", pecado venial expiado pela crítica severa de amigos e inimigos. Vamos à essência. Um crescimento do PIB de 1% não justifica uma política anticíclica? Um deficit nominal de 2,5% do PIB com uma relação dívida líquida/PIB de 36% representa o abandono da responsabilidade fiscal?
Do ponto de vista monetário, uma taxa de inflação de 6%, empurrada por um choque de oferta agrícola que, provavelmente, tenderá a amenizar-se em menos de seis meses, é sinal de que o Banco Central abandonou a meta de 4,5%? Ou que ele tenha perdido a "autonomia"? Não parece que esse seja o momento para um aumento da taxa Selic. Quando o dr. Tombini diz que não se sente confortável com o comportamento da inflação, o que ele quer dizer senão que pode fazê-lo se for necessário?
Do ponto de vista cambial, a discussão beira o ridículo quando ouvimos François Hollande, Mario Draghi e Shinzo Abe. Quem ainda acredita em taxa de câmbio livremente fixada pelo "mercado em função dos seus fundamentais"?