quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Polêmica no samba - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 13/02

Graça Foster, 59 anos, que desfilou anônima domingo na União da Ilha, como faz há mais de 20 anos, saiu em defesa de Diogo Nogueira. O sambista, como se sabe, criticou a influência de patrocinadores no enredo das escolas de samba.
Diogo citou o caso da Mangueira que, no ano do centenário de Jamelão, homenageou Cuiabá.
“O desfile da Mangueira estava maravilhoso”, diz a presidente da Petrobras. “Mas escolher Cuiabá como tema foi um horror.”

Segue...
Ela, naturalmente, não é contra o patrocínio no samba:
— Mas nada de patrocinador escolher o enredo. É por isso que surgem estes temas feios como Coreia do Sul ou Cuiabá. Os patrocinadores têm que dar total liberdade de criação.
Eu apoio.

A propósito
O governador Sérgio Cabral, que nasceu em berço de samba, defende que um enredo bem apresentado é imbatível:
— Não adianta escolher um bom tema sem traduzi-lo na Sapucaí. Pra isso precisa ter um bom samba e um bom carnavalesco.

Tema patrocinado
O enredo da escola de samba Grande Rio para 2014 será os 200 anos de Maricá, cuja relação com o samba é... não sei.

Aliás...
A Grande Rio convidou a atriz Bruna Marquezine, a namorada de Neymar, para ser a sua rainha de bateria no ano que vem.

Novo comentarista
Roger, o ex-jogador, assinou contrato com a TV Globo.

Calma, gente!
Ao sair fantasiada de toureira no carnaval da Bahia, Ivete Sangalo comprou briga com ONGs protetoras de animais. A Fala Bicho pede, em seu blog, que as pessoas enviem protestos à cantora. Ou seja, cantar a velha marchinha “Tourada em Madri” nem pensar. 
Francamente. 

Fogueira santa
Uma Kombi da igreja Assembleia de Deus passou ontem, na Praia de São Conrado, convidando as pessoas, pelo alto-falante, para o Bloco de Jesus. E anunciava: “Traga sua fantasia para queimar na fogueira santa!”

Vista liberada
Em pleno domingo de carnaval, o prefeito Eduardo Paes foi à Vista Chinesa com a família checar se uma ordem sua tinha sido obedecida. É que, até sábado passado, tapumes para uma futura obra atrapalhavam o acesso ao mirante. Paes viu e mandou desmontar tudo imediatamente. Durante o carnaval, o lugar ficou lotado.

iSexo
O motel Corinto, em Vila Isabel, inaugurou novas suítes equipadas com iPad. Dá para controlar a televisão, o som e a jacuzzi ao mesmo tempo, em meio a saliências. É o que dizem.

Mundo animal
Alice Dellal, a top internacional filha da brasileira Andréa com o inglês Guy Dellal, chamou muita atenção segunda no camarote da Devassa, na Sapucaí. Acredite. Usando um microsshort preto, a top pegou um prato, ficou de quatro e comeu com as mãos.

No mais
A ideia de uma mulher como Papa não deve passar pela cabeça da cúpula machista da Igreja Católica. Mas se este milagre ocorrer, questiona o professor e dicionarista Cláudio Cezar Henriques, da Uerj, a palavra papisa seria ressuscitada?

Aliás...
Tem uma lenda, tema de filme e livro, que diz que nos anos 850 a Igreja teve a Papisa Joana. Mas aí é outra história.

O PARABÉNS DO QUERIDO POETA DA VILA
Pouco antes de entrar na Sapucaí, na madrugada de ontem, ainda na concentração, Martinho da Vila recebeu uma homenagem dos amigos. Um bolo, com direito a velinha e parabéns, para festejar seus 75 anos. Ganhou de presente também esta charge do cartunista Ikenga.

Martinho nasceu em 12 de fevereiro de 1938, bem no meio do carnaval, na cidade de Duas Barras, interior do Rio. Filho de camponeses que trabalhavam como meeiros para fazendeiros, o nascimento do caçula em uma família com quatro mulheres encheu de orgulho o pai do sambista que disse para a sua mulher: “Vamos morar no Rio, não quero o meu filho abrindo porteira para fazendeiro.” Setenta e cinco anos depois, ele desfilou com a fantasia de fazendeiro, vestido de botas, colete, chapéu. Martinho, este ano, tem muito o que comemorar. Teve seu samba-enredo — ele é autorjunto com Arlindo Cruz, André Diniz, Tonico da Vila e Leonel — escolhido pela escola. Ele também foi homenageado pela Banda da Rua do Mercado. Que seja muito feliz!
Ana Cláudia Guimarães

Depois dos tablets, os ‘indies’ - ELIO GASPARI

O GLOBO - 13/02

Quem tem um livro na cabeça, deve escrevê-lo, porque será fácil colocá-lo na praça


Há apenas seis anos surgiu nos Estados Unidos o primeiro modelo do Kindle. Tinha o respaldo da Amazon, maior central de venda de livros do país, mas não decolou. Em 2009, com um modelo melhor, o mundo se deu conta de que os livros de papel, que fizeram a fortuna dos editores de Veneza no século XVI, haviam ganho um concorrente. Algo como a estranha sensação que os fabricantes de carruagens tiveram quando viram o primeiro veículo sem cavalos. Um ano depois, Steve Jobs mostrou ao mundo o iPad, como Henry Ford apresentou o modelo T. Ao final do ano passado haviam sido vendidas cerca de 130 milhões de tabuletas de vários fabricantes e, em apenas dois anos, os e-books fecharam 2012 com 22% das vendas de livros nos Estados Unidos.

É um bicho que o freguês compra em dois minutos, custa metade do preço, não ocupa espaço nem junta poeira.

Há poucos dias a Apple, cuja livraria tenta competir com a Amazon, mostrou que uma nova mudança está chegando à outra ponta do mercado, incentivando o acesso aos livros produzidos pelos autores. Criou na sua loja americana uma seção chamada “Breakout Books”. As produções independentes já existem há anos e a coisa funciona assim: o sujeito escreve seu livro (“indie”, em internetês, numa apropriação da gíria do mercado musical), manda o texto e uma capa para a loja eletrônica, grande ou pequena, e lá ele é vendido. Em geral esses livros custam metade do preço dos e-books do mercado. (Já existem iniciativas desse tipo no Brasil.)

Se as tabuletas facilitaram, baratearam e democratizaram o acesso aos livros, os “indies” terão o mesmo efeito na produção de autores. Todos mundo tem o direito de achar que o romance guardado em sua cabeça é um grande livro, mas nem todo mundo consegue uma editora. Como Hemingway e Stephen King tiveram originais rejeitados, fica-se com a esperança de que, havendo um editor, haverá mais um grande romancista. Facilitando-se o acesso da obra ao mercado, se ela pifa, o problema é do autor, sem custo de encalhe.

Com um diploma de economista por Stanford, Bella Andre saiu do mercado tradicional e foi para os “indies”. Botou seu livros eróticos na rede, inclusive nas grandes varejistas. Vendeu perto de um milhão de cópias e faturou mais de um milhão de dólares, talvez dois. Como essa modalidade de comércio ainda é incipiente no Brasil, por cá a edição em papel de um de seus romances sai por R$ 30 e o e-book por R$ 20. Na rede americana, os mais baratos custam zero e os mais caros ficam por US$ 5, ou R$ 10.

Andre entrou no mundo eletrônico depois de passar pelo mercado tradicional. O engenheiro aeronáutico Brian S. Pratt desencantou-se com a profissão. Queria ser escritor e teve que dirigir táxi. Em 2009, ganhou US$ 7,82 depois de colocar seu livro na loja da Smashwords. Dois anos depois, para horror da crítica gramatical e politicamente correta, recebeu um cheque de mais de US$ 100 mil.

Essa nova forma de produção e comercialização de livros dificilmente mudará o panorama literário. Poderá até piorá-lo, mas ajudará quem acredita que pode botar seu livro na praça.


Serviço: Mark Coker, o criador da maior distribudora de “indies”, a Smashwords, botou na rede seu livro “Secrets to ebook Publishing Success”. Evidentemente, é grátis.


Neymar: Só perde quem bate - SONIA RACY

O ESTADÃO - 13/02

Megan Fox não conseguiu visitar uma comunidade pacificada do Rio, em seu segundo dia na cidade – como gostaria de ter feito. Sua visita ao Complexo do Alemão foi cancelada, e a atriz ficou com o marido e o filho no hotel. Mas deixa no Brasil uma doação (estimada em R$ 100 mil) para projetos sociais, como o Jovens de Responsa.

Já Bruna Marquezine circulava, anteontem, pela concentração da Sapucaí com segurança digna de mulher de boleiro. Pouco antes, Neymar confirmara o namoro com a atriz, dizendo só estar no Sambódromo para vê-la desfilar na Grande Rio.

De boné preto e mascando chiclete, o craque chegou à área VIP do camarote da Brahma às 23h. Perto dele, Felipão e família assistiam (entretidos) ao desfile da Mangueira. Logo depois, foi a vez de Andrés Sanchez chegar. Os dois não se cumprimentaram. No mesmo espaço, os presidentes de Botafogo, Maurício Assumpção, e Fluminense, Peter Siemsen.

Do lado de fora do cercadinho, o holandês Seedorf, do Botafogo, acompanhava o desfile com a mulher, a ex-passista Luviana. Simpático, contou já estar adaptado ao Rio. “Quem não ficaria?”, brincou ele. Ronaldo, garoto-propaganda da Brahma, apareceu com o pai e sua nova namorada, Paula Morais, mais um punhado de amigos.

A sensação da noite aconteceu quando Neymar desceu para a frisa. Ao lado de Luana Piovani, do marido dela, o surfista Pedro Scooby, e outros amigos, tentou assistir aos desfiles ao lado de convidados menos famosos. Mas logo passou a tirar dezenas de fotos com fãs – alguns famosos, como o humorista Hélio de la Peña, que pediu para que ele posasse ao lado de seu filho.

“Estou acostumado com o assédio”, disse. E o pênalti que Ronaldinho perdeu contra a Inglaterra? “Qualquer um em campo tinha condições de bater. Só perde quem bate”, respondeu. “Fechou? Agora deixa eu curtir o carnaval?”, pediu o jogador, antes de voltar à área VIP para ver a namorada desfilar.

Juliana Paes (de vestido longo que marcava a barriga de quatro meses de gravidez) conferiu a passagem das escolas sentada na mureta da frisa – com amigos e o marido, Carlos Eduardo Baptista. Cansada? “Se estivesse com 6 ou 7 meses, pensaria duas vezes antes de vir”, contou, no início da noite. “Vou ficar até a hora que aguentar”. Aguentou até a madrugada, quando a Vila Isabel fechou a noite e arrebatou a Sapucaí. Na empolgação, esqueceu o celular na mesa de um grupo próximo. Voltou para buscar quase meia hora depois – e achou.

No terceiro andar do camarote, Luana e Scooby se esbaldaram madrugada adentro no “baile charme”. “Sou Mangueira e Salgueiro”, ressaltou a bela, minutos antes. Usava short cor de rosa e um par de tênis da mesma cor, com detalhes em verde. Já o marido calçava tênis verde, para combinar.

O cercadinho VIP da Devassa, depois das 2h30, ficou apinhado de gente. Muitas celebridades disputavam o minúsculo espaço reservado à musa da cervejaria, Alinne Moraes. Débora Nascimento e o namorado, José Loreto, por exemplo, dividiram os poucos metros quadrados com Fernanda Torres e Paula Lavigne.

Marta Suplicy terminou seu périplo pelo carnaval do Brasil no camarote do governador Sérgio Cabral, anteontem. A ministra da Cultura, que passou pelas folias de São Paulo, Bahia e Recife, deixou a Marquês de Sapucaí meia-noite e meia, acompanhada do marido, Marcio Toledo. “O melhor de ter participado de todas essas festas foi perceber a diversidade do carnaval. Cada lugar tem seu jeito especial de festejar. O Galo da Madrugada, por exemplo, é a cara de Recife”, comentou à coluna.

Marta, aliás, deixou Pernambuco com “a certeza de que Eduardo Campos e o PT estarão juntos em 2014”.

Também Julio Semeghini, secretário de Planejamento de Alckmin, circulou pelo camarote do governador carioca. “Já que o PSDB não deu certo no Rio, vim fazer campanha para o Pezão”, disse, referindo-se ao vice-governador Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do PMDB ao governo do Rio em 2014. “A presença dele foi ótima”, retribuiu Pezão.

Feitos para o Carnaval - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 13/02

RIO DE JANEIRO - Leitores se surpreenderam ao ler aqui ("Samba e/é cultura", 11/2) que sambas hoje clássicos, como "Com Que Roupa?", de Noel Rosa, "Ó Seu Oscar", de Ataulpho Alves e Wilson Baptista, e "Ai, Que Saudades da Amélia", de Ataulpho e Mario Lago, tinham sido compostos para o Carnaval. Isso porque, quando se pensa em Carnaval, só nos vêm à cabeça velhas marchinhas e os raros sambas-enredo cuja melodia sobreviveu ao desfile.

Mas, em meio à desmemória geral, um punhado de sambas ainda é conhecido e lembrado -só nos esquecemos de que foram feitos para o Carnaval. É o caso, por exemplo, de "Despedida de Mangueira", de Benedito Lacerda e Aldo Cabral, do Carnaval de 1940; "O Trem Atrasou", de Romeu Gentil, Paquito e Estanislau Silva, de 1941; e "Praça Onze", de Herivelto Martins e Grande Otelo, de 1942. Mas tem mais.

O Carnaval de 1947 produziu "Palhaço", de Benedito e Herivelto, e "Onde Estão os Tamborins?", de Pedro Caetano. O de 1948, "É com Esse Que Eu Vou", também de Pedro Caetano, e "Não me Diga Adeus", de Paquito, Soberano e Correia da Silva. O de 1949, "Pedreiro Waldemar", de Wilson Baptista e Roberto Martins, e "Que Samba Bom!", de Geraldo Pereira. O de 1950, "A Lapa", também de Benedito e Herivelto. E o de 1951, "Pra Seu Governo", de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.

E vieram os sambas sociais de Luiz Antonio: "Sapato de Pobre", no Carnaval de 1951, "Lata D'Água", no de 1952 (ambos com Jota Junior), e "Zé Marmita", no de 1953 (com Brasinha), todos cantados por Marlene. Já 1958 foi o ano de "Madureira Chorou", de Carvalhinho e Julio Monteiro; 1961, o de "Quero Morrer no Carnaval", também de Luiz Antonio, com Eurico Campos; e 1962, o de "Oba!", de Oswaldo Nunes.

Com a volta triunfal dos blocos no Rio, os jovens estão merecendo aprender esses grandes sambas.

Bichos fora do mato - NINA HORTA

FOLHA DE SP - 13/02

Com o retorno da vida selvagem, os quintais se tornaram campos de batalha


Depois da lei de que não se pode cortar uma árvore, aquele meu pedaço, pelo menos, da serra do Mar, em Paraty, virou mato, mesmo, mata cerrada. Aparecem cabecinhas de macaco por onde se anda, uns "miquinhos" que nem sei o nome que vieram alegremente se juntar aos pernilongos, às pererecas, aos morcegos, às cobras, às aranhas e aos gambás. Esses são os bichos que na nossa cabeça deveriam morar lá fora, no mato, mas que vira e mexe vêm nos fazer companhia.

Vamos nos conformando, mas fiquei surpresa ao dar com o livro "Nature Wars": a incrível história de como, com o retorno da vida selvagem, os quintais se tornaram campos de batalha. O autor é Jim Sterba, editora Crown.

Livro de americano, realidade diferente da nossa, mas com muitas aproximações. Jim Sterba afirma que estamos perdendo certos direitos de propriedade para as criaturas selvagens. Parece que criamos um estilo de vida "bunda-no-sofá" e assistimos à natureza no canal Discovery. Não sabemos nada sobre florestas, quem são os bichos, como devem ser tratados. Pensamos que as galinhas já nascem depenadas, pescamos os peixes e os jogamos de volta ao mar com um beijo na boca. O que terá acontecido?

O autor acha que muito pouco tempo se passou depois que promovemos a extinção e a destruição de florestas e animais selvagens.

Nos Estados Unidos, o conservacionismo começou em 1880. Em 1950 já havia chegado a um bom nível de reflorestamento. E, em 2000, a maioria dos americanos morava em subúrbios altamente preservados, ou melhor, reflorestados. Nas décadas seguintes, criaram-se habitats em áreas rurais e foram reintroduzidas espécies em extinção. Deu certo por um período, mas começaram a perceber que algumas espécies não só se adaptavam, mas cresciam em número muito maior do que em seu próprio habitat. Principalmente porque nós, antigos predadores, passamos a protetores.

Essa mistura de homens, florestas e bichos nunca havia alcançado proporções semelhantes. Os mantenedores de vida selvagem se concentraram em manter populações saudáveis e os protetores dos animais se empenhavam em salvá-los do predador humano. Nenhum dos grupos estava preparado para o excesso de vida selvagem e à interação dos homens com os bichos.

Protetores de baleias, gatos, raposas, lobos, atum, bacalhau e mais e mais formaram exércitos proclamando que o seu bicho estava em extinção. Grandes campanhas foram feitas e o trabalho dos conservacionistas é sério e intenso.

Formaram-se grupos diferentes como os que são totalmente contra a morte de animais em benefício de qualquer ser humano. Grupos que não fazem objeções ao uso responsável de animais, contanto que eles não sofram. E outros que rejeitam a filosofia de direitos animais e acreditam em um uso responsável.

O assunto do livro é esse, a discussão, reflexão e constatação de como andam as coisas. Essa é uma pequena e incompleta resenha sobre um livro interessante. Não são opiniões minhas e não responderei a e-mails de ódio. O livro pode ser comprado naAmazon.com.

A renúncia do papa - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 13/02


Na homilia para a Sexta-Feira Santa de 2005, o cardeal Joseph Ratzinger, que um mês depois sucederia ao papa João Paulo II como Bento XVI, lamentou: "Muitas vezes, Senhor, a tua Igreja parece-nos um barco pronto para afundar". Ratzinger referia-se ao que lhe parecia ser o abandono progressivo da rígida doutrina da qual ele foi um dos principais zeladores. Passados oito anos de papado, Bento XVI anunciou sua renúncia, alegando não ter mais a saúde necessária para o desafio de "governar a barca de Pedro e anunciar o Evangelho". O gesto, grave e histórico, denota grande coragem moral, pois, embora a renúncia esteja plenamente prevista no direito canônico, não é corriqueiro que um papa, cujos predicados são geralmente vinculados à santidade, revele seus limites humanos. Mas foi também o ponto final de uma trajetória conturbada, que esteve longe de promover a conciliação de uma Igreja profundamente dividida e abalada por escândalos.

Teólogo de grande capacidade, provavelmente o intelectual mais preparado para ocupar o Trono de Pedro, Bento XVI é autor de encíclicas refinadas, como a Spe Salvi (salvos na esperança), que desvincula a mensagem de Cristo da política e que cita Kant, Platão, Dostoievski e Marx para discutir os limites da modernidade e da construção de um mundo sem Deus. Mas nos tempos atuais, em que o valor da mensagem parece depender primeiramente de seu impacto midiático global, não bastam palavras. Bento XVI reconheceu essa dificuldade em sua mensagem de renúncia, ao enfatizar que o mundo de hoje está "sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé". João Paulo II, o papa atlético que beijava o chão dos países que visitava, era o pontífice ideal dessa conjuntura e ajudou a eletrizar uma Igreja que, no entanto, já experimentava cisões importantes e crises graves.

Bento XVI, por sua vez, padeceu de sua falta de carisma e de uma imagem fortemente vinculada à intransigência doutrinária. Essa imagem foi alimentada pela ala progressista da Igreja, interessada em salientar, como contraponto, o legado do Concílio Vaticano II, que permitiu reformas modernizantes. Para os conservadores, Bento XVI, ao retomar princípios que o Concílio havia flexibilizado, tornou-se uma espécie de herói contra a suposta desfiguração dos pilares eclesiásticos por interesses políticos e ideológicos. De fato, da biografia do papa destaca-se seu papel como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nomeado por João Paulo II em 1981. Como chefe do órgão que sucedeu ao Santo Ofício, o cardeal Ratzinger era responsável pela defesa das tradições católicas contra tentativas reformistas por parte de sacerdotes e teólogos dissidentes. Como papa, manteve-se imune aos apelos por mudanças - no caso mais recente, em junho do ano passado, o Vaticano censurou um grupo de freiras americanas por promover "temas incompatíveis com a fé católica", isto é, a união homossexual, os anticoncepcionais e o divórcio.

As turbulências de seu papado ganharam contornos constrangedores graças ao escândalo de pedofilia protagonizado por padres na Europa e nos Estados Unidos. Bento XVI procurou contornar a crise encontrando-se com vítimas dos abusos e determinando mudanças de conduta para impedir novos casos. Entretanto, o papa não se prontificou a disciplinar os bispos que, embora plenamente informados do que acontecia, nada fizeram para conter os padres pedófilos sob sua jurisdição. Uma dessas autoridades eclesiásticas, o cardeal Roger Mahony, de Los Angeles, estará entre os eleitores do novo papa.

O modo hesitante como o Vaticano lidou com o escândalo é certamente um dos pontos mais baixos da trajetória de Bento XVI, mas seu legado não pode ser tomado por isso. Na história deste pontificado, destaca-se muito mais a reafirmação de princípios morais inegociáveis. A própria renúncia de Bento XVI certamente é um ato de lucidez e, como tal, deverá ter a capacidade de influenciar na escolha de seu sucessor, sempre tendo em vista a defesa incondicional da doutrina contra a vaga dita progressista na Igreja. Eis o gesto derradeiro do grande teólogo e defensor da fé.

Foxy lady - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 13/02

Valdemar sente a cabeça latejando, prestes a explodir, como se um celular vibrasse dentro dela


VALDEMAR ACORDA ainda fantasiado de sultão. Sente a cabeça latejando, prestes a explodir, como se um celular vibrasse dentro de seu cérebro. Vira-se para o lado, na esperança de encontrar um copo d'água e uma aspirina na mesinha de cabeceira, mas não encontra sequer a mesinha de cabeceira: aquele não é seu quarto. Seu quarto não tem paredes cor-de-rosa. Nem lençóis de oncinha. Vira pro outro lado, na esperança de que sua mulher, Judith, lhe explique como foram parar ali, mas a pessoa com quem divide a cama não é sua mulher, e sim um ruivo vestido de noiva, que o encara com o que, na falta de palavra mais forte, vamos chamar de pânico.

- Quem é você?! - pergunta Valdemar.

- Quem é você?! - retruca o ruivo, arrancando o véu e a grinalda.

- Eu perguntei primeiro! Quem é você e o que que eu tô fazendo na sua casa?!

- Minha casa?! Cê acha que a minha casa tem parede cor-de-rosa e lençol de oncinha, parceiro?!

- Ué? Pra quem se veste de noiva...

- Olha quem fala, com esse teu saião aí!

- Que mané saião, amigo! Isso aqui é bata! Bata de sultão, entendeu?!

- Entendi. Não entendi é o que que eu tô fazendo aqui nessa cama.

Os dois olham em volta. Se encaram. Ficam quietos por intermináveis segundos, até que o ruivo rompe o silêncio.

- A última coisa que eu lembro é do bloco do Caroço, lá no Tremembé.

- Tremembé? Não, não, eu tava no cordão do Carcamano, no Bexiga. Eu lembro que tocou "Balancê", lembro que eu puxei um trenzinho, depois eu não lembro de mais nada. Que loucura, que perigo, podia ter acontecido alguma coisa séria comigo!

- Tipo acordar num quarto rosa, com lençol de oncinha, do lado de um ruivo vestido de noiva?

Eles se calam outra vez. Olham pro chão. Olham pro teto -espelhado. Valdemar toma coragem:

- Escuta, cê não acha que a gente... A gente...

- Que isso, parceiro?! Tá louco?! Eu sou espada!

- Eu também! Mas sei lá...

- Sei lá o escambau! Comigo não tem sei lá, não! Eu sei! Posso não lembrar de nada, mas eu sei! Eu sou espada!

- Beleza, calma... Perguntei só por perguntar. E agora, que que a gente faz?

- Você, eu não sei; eu vou voltar pro Tremembé.

O ruivo sai do quarto. Valdemar o segue. Pegam o elevador. Dão numa portaria. Atrás do balcão dourado, sob o logotipo do Foxy Lady Motel, um funcionário lhes sorri.

- Boa tarde, seu Valdemar, boa tarde, dr. Ubiratan. Precisa se preocupar com o pernoite, não, que o pessoal da televisão já pagou. E mandaram avisar que se não der pra ver o programa mais tarde, vai ficar na internet.

O ruivo sai correndo, gritando. Valdemar sente a cabeça latejando, prestes a explodir, como se um celular vibrasse dentro de seu cérebro -e é quase isso, pois leva a mão ao turbante e encontra o telefone enfiado numa dobra do tecido. Trinta e sete ligações não atendidas, todas da Judith, que faz agora a 38ª tentativa.

- Alô, Judith? Calma, Judith! Espera! Eu te explico chegando em casa! Não! É meio estranho, tem que ser pessoalmente! Segura as pontas! E, ó, pelamordedeus, não liga a televisão!

SAMBA, SUOR E UM COPINHO DE XIXI - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 13/02

Nanda Costa coloca a cara para fora da van em que está escondida, na concentração da Beija-Flor, anteontem. Ela será o destaque maior da escola de samba e finaliza, ali mesmo, maquiagem e roupa para entrar na avenida.-

Mas a produção tem um grande problema para resolver: a Morena da novela "Salve Jorge", da TV Globo, está com vontade de fazer xixi. O banheiro químico mais próximo "é longe e está impraticável". E, se sair na multidão, corre o risco de ela nem conseguir voltar a tempo, tantas são as pessoas que pedem para tirar fotos com "a Morena".

"Agora vamos atrás de um baldinho, uma latinha ou um copinho para ela fazer xixi, no carro mesmo", diz o publicitário Marcelo Sebá, irmão de Andrea Luz, empresária da atriz. "Não conta!", pede Nanda. "Isso é a Sapucaí, gente!", diz Sebá.

Acomodados na van estão assessores e o maquiador, André Veloso, que retoca o rosto de Nanda, sentada na segunda fileira de bancos. Ele ainda precisa passar creme Nivea no corpo dela. "É ótimo para a pele extrasseca. Coloco ainda um pigmento dourado. Fica uma textura linda para sair nas fotos e na TV."

São 23h30. Nanda começou a se arrumar em casa, às 19h, numa maratona que já dura quatro horas.

A atriz diz que não se preparou especialmente para a Sapucaí. "Mas você fez uma 'detox', que eu sei", entrega Sebá. Sim, ela adotou uma dieta sem proteína nem glúten. Acorda e toma suco verde, com pepino, cenoura, couve, gengibre e uma fruta, tudo batido no liquidificador. No almoço, pratos como escondidinho de espinafre.

"Ah, mas não foi para emagrecer. Fiz uma desintoxicação alimentar. Minha pele estava um pouco feia por causa de tanta maquiagem, por exemplo", justifica.

Ser protagonista da novela das nove não mudou sua vida nem seu jeito de ser, dizem os familiares. "Mas neste ano todos os camarotes [patrocinados por empresas no sambódromo] convidaram ela para ver os desfiles, com direito a carro e quantos convidados quisesse", diz Sebá. Nanda recusou. "Eu quero ficar com o povo da Beija-Flor."

Ela fala das críticas que recebe. "Ninguém 'taca' pedra em árvore que não dá fruto. Isso significa que tô fazendo, produzindo. Se falam da novela é porque estão vendo. Tem tanta oferta [de entretenimento] por aí..."

Latinhas de Red Bull são distribuídas na van. Chega também o copinho em que Nanda fará xixi. Os homens saem do veículo. Ela salta para o banco de trás.

Problema resolvido, a atriz se prepara para deixar o carro. O maquiador ordena: "Prende a respiração". Joga spray no rosto dela para fixar a maquiagem. Nanda respira. Sai da van e ganha a avenida.

Susana Vieira chega ao camarote da Grande Rio, escola na qual desfilará, cantando a música-tema de "Avenida Brasil". "Oi, oi, oi!"

Para ela, o "papo Megan Fox", ou seja, as críticas que fez à atriz americana que visitava o sambódromo, é página virada. Suas declarações só teriam ganho destaque porque "nada aconteceu" e "a imprensa não tinha assunto". Rodopia cantarolando "oi, oi, oi", quase se desequilibra e, com um safanão da própria mão, derruba um brinco. Repete: "Oi, oi, oi!".

Com um macacão verde de operador de plataforma de petróleo, fantasia com a qual desfilará na Grande Rio, Paulo Betti comemora a renúncia de Bento 16, "aquele papa terrível, carrasco do [Leonardo] Boff". Defende que o teólogo brasileiro seja o novo papa.

"Hoje é dia de Grande Rio, bebê", diz a atriz Christiane Torloni enquanto caminha apressada para a concentração. O casal Murilo Rosa e Fernanda Tavares sai na mesma ala de operariado. A modelo diz que falta "ar-condicionado na avenida".

No camarote da Brahma, Ronaldo apresenta a nova namorada, Paula Morais, a diretores da empresa. "É tudo amigo aqui, tudo patrão." Paula confirma a intenção de morar com o ex-jogador em Londres, por um ano. Uma repórter pergunta se ele "já pode falar em casamento". O ex-craque reclamaria mais tarde: "Estamos juntos há dois meses e o pessoal já quer saber sobre casamento?".

Ele se junta a alguns amigos, que não precisam ficar só na cerveja: Ronaldo levou três garrafas de uísque para o espaço. Um fotógrafo se aproxima. "Pô, não achou mais ninguém no camarote? O Neymar tá lá do outro lado, beijando uma menina", brinca.

A namorada do craque do Santos, a atriz Bruna Marquezine, desfilava pela Grande Rio. O surfista Pedro Scooby, noivo de Luana Piovani, agarra Neymar: "Ele veio aqui para ver a Mangueira entrar". É repreendido pela atriz: "Para, Pedro. Eu disse para".

Um amigo vascaíno reclama do traje de Neymar: relógio vermelho, bermuda, meia e tênis pretos, cores do Flamengo. O santista brinca que, "em 2014", quando terminar o contrato com o Peixe, vai defender o rubro-negro carioca. "Vou meter gol no Vasco e comemorar fazendo 'coraçãozinho' pra você."

As entranhas da história - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 13/02

SÃO PAULO - Podemos levar a história a sério? Até que ponto devemos acreditar que os relatos históricos que lemos nos livros descrevem as coisas como se passaram? Em que grau podemos confiar nas explicações que nos são oferecidas?

A história não é uma ciência no mesmo sentido em que o é a física ou até a economia. Ela não apenas é incapaz de nos dar um modelo por meio do qual possamos fazer previsões como ainda traz a incrível propriedade de tornar o próprio passado incerto.

Quando eu era garoto, o duque de Caxias era o herói inconteste da Guerra do Paraguai (1864-70). Nos anos 90, tornou-se um genocida furioso e, agora, está em algum lugar entre essas duas interpretações.

Tamanha elasticidade é possível porque o cérebro humano não foi concebido para fazer história. Qualquer evento histórico é fruto de um número tão grande de interações entre pessoas e ocorrências (climáticas, econômicas etc.) que é simplesmente impossível calculá-las. Só que nossas mentes não se acanham diante da intratabilidade do problema e adotam sua hipótese preferida como eixo explicativo, ignorando tudo que não se encaixe nela. A história é necessariamente refém de nossos gostos, preferências, condicionamentos, isto é, de nossa ideologia.

Isso significa que não há como evitar o vale-tudo na hora de apresentar e interpretar eventos? Calma lá. A frouxidão epistêmica da história não deve servir para acobertar mentiras ou omissões gritantes. Fatos ainda são fatos. O material didático adotado pelo Exército em suas escolas caminha perigosamente perto da falsificação, ao sugerir que a deposição de João Goulart se deu dentro da lei ou deixar de mencionar a tortura.

Eu concordo com Vinicius Mota, que escreveu neste espaço que não é o caso de criar novas comissões para controlar o conteúdo de livros. Ainda assim, temos o dever moral de apontar crimes de lesa-historiografia sempre que topamos com eles.

Cinzas e repetições - ROBERTO DaMATTA

O Estado de S.Paulo - 13/02


Nesta vida todo mundo, querendo ou não, é pautado. Todos somos levados, obrigados, arrolados ou dirigidos a fazer muita coisa. Algumas, impossíveis, como não mentir ou ser pusilânime. No caso do jornal, temos que escrever; no caso da vida, de seguir alguma regra ou viver com ou sem o bom senso.

Os planos para nossas vidas existem antes do nosso aparecimento no mundo. Antes do nosso nascimento, pai e mãe tinham expectativas fulminantes em relação às nossas vidas. Nossas pautas existenciais são os projetos e esquemas que figuram na nossa sociedade e cultura: instruções do tipo como comer, vestir-se, limpar-se e dormir - caminhos simbólicos e reais a serem necessária e precisamente percorridos como a escolha de certas profissões e valores religiosos e políticos; rituais de crise de vida ou de passagem celebrados em nossa honra ou para os outros, os quais temos de - querendo ou não - acompanhar. Do nascimento até a morte, seguimos esquemas precisos e implacáveis e, mesmo depois de termos partido, continuamos a segui-los, porque não há sociedade que abandone seus mortos.

As festas nos pautam coletivamente. Antigamente, como ritos obrigatórios e hoje, como feriados que nos permitem a evasão. Tal experiência acaba de ocorrer com o carnaval, que terminou ontem e, como tenho a obrigação de escrever na quarta-feira, todo ano eu tenho uma pauta suculenta sobre o que escrever: o carnaval e seus arredores que são densos, fartos, curiosos e inflamados de símbolos e textos.

As cinzas são a consumação do fogo. O fogo é sinal de vida ativa que passa de brasa a cinza. O pó para o qual tudo tende. A entropia que sinaliza o desgaste final de qualquer forma ou armadura em fluxo.

Todo ano tem carnaval que é metaforicamente fogo e que termina metonimiamente na Quarta-Feira de Cinzas. A repetição fala de algo planificado e anunciado. As celebrações são repetições que extinguem o tempo, ou pelo menos tentam lutar contra ele, como ocorre nas músicas e dramas quando o palhaço cai sempre no mesmo lugar. A mesma festa no mesmo país numa mesma época promove um sentimento único de dizer quem somos. Tudo passou e mudou, menos o momento da festa. Até mesmo a festa também mudou - seja o truísmo boboca - mas continua sendo a mesma festa. No carnaval, como sabemos, tudo cabe porque tudo é possível na celebração daquilo que não deve ser levado a sério, mas que é uma das instituições mais graves do Brasil. Aceitamos incompetências e malandragens políticas, mas não aceitamos quem ofenda o carnaval. Mudamos algumas vezes o regime e tem gente trabalhando ferozmente para mudá-lo novamente. Mas não há uma proposta para mudar o carnaval. Aliás, falar em suprimi-lo promoveria uma revolução.

Estou, pois, reiterando essa alternância de fogo com cinza, de carne com peixe, de riso com seriedade, de alegria com circunspecção, de exagero com controle que nós realizamos todo ano como carnaval sem saber de todas as suas implicações.

Tudo mudou e tudo continua na mesma. Meus amigos mais politizados estão saindo em blocos e dizem que estão revivendo um carnaval de rua que eu bem conheci. Os blocos são sintomáticos desse desejo insaciável de pertencer a um grupo fechado? Ou são, como no meu tempo, uma prova do desejo igualmente inextinguível de singularizar-se contra um outro grupo da mesma magnitude social, como ocorre nos grandes desfiles?

Do mesmo modo, num mundo de dinheiro racionalmente acumulado, de trabalho e poupança, onde o futuro tem que ser comprado ou se transforma em divida, o carnaval leva a gastar e apresenta uma estética de exagero e luxo, como definiu com propriedade Joãozinho Trinta. Rico gosta de pobreza, pobre adora luxo. Não vemos riqueza no carnaval. Vemos o luxo do desvalido vestido de deus ou deusa, espalhando riso e alegria. Um jornalista um dia me perguntou: como é que pode haver festa tão rica num país tão pobre?

Eu disse: precisamente por isso! Boas cinzas.

O Brasil ainda será uma grande Venezuela - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÕMICO - 08/02

Pela maneira com que a questão trabalhista é tratada por aqui, a impressão que se tem é a de que o Brasil caminha a passos acelerados para se transformar numa imensa Venezuela.

No paraíso bolivariano criado por Hugo Chávez, é praticamente impossível demitir um empregado, mesmo que a empresa onde ele trabalha atravesse sérias dificuldades financeiras.

Pelo que se percebe nas medidas tomadas pelos legisladores e nas decisões da própria Justiça, a situação no Brasil só não é a mesma por falta de oportunidade - e as empresas, por esse ponto de vista, não contratam empregados porque precisam deles para produzir e vender.

Elas investem pesado na seleção e no treinamento do pessoal e arcam com um custo trabalhista abusivo apenas pelo prazer de, na hora certa, colocar o funcionário no olho da rua.

E para evitar que os patrões malvados pisoteiem o direito dos trabalhadores, o Brasil dispõe de um conjunto de normas absurdas, que tornam o custo da demissão proibitivo - ainda que a intenção da empresa, ao dispensar alguns profissionais, seja salvar os empregos dos que permaneceram contratados.

Tudo isso está sendo dito aqui a propósito de uma decisão tomada na quarta-feira passada pelo Supremo Tribunal.

A corte se manifestou sobre o direito dos trabalhadores demitidos antes de outubro de 2011 de se beneficiarem das novas regras do aviso prévio, a indenização que o empregado recebe quando a empresa o dispensa sem justa causa.

Até aquela data, o demitido, independentemente do tempo de permanência no trabalho, recebia um mês de salário a título de indenização.

A partir de então, a indenização varia de acordo com o tempo de serviço, podendo ser de até três meses de salário. É uma medida estranha, pois, a princípio, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço existe justamente para isso. Mas a lei foi feita, aprovada e está em vigor.

O que o Supremo considerou foi que pessoas demitidas antes da promulgação da lei também têm o mesmo direito. Existem condições para que o pagamento seja feito.

A principal delas é a de que o demitido já tivesse recorrido à Justiça antes da aprovação da lei - mesmo que o princípio constitucional que previa o direito não estivesse regulamentado até aquele momento.

O efeito financeiro da medida, conforme observou o ministro Gilmar Mendes, tende a ser pequeno.

Pode ser que pouca gente cumpra o requisito para fazer jus a essa regra. Mas, ainda assim, algumas empresas no Brasil correm o risco de ser punidas por uma lei que passou a existir depois que a decisão de dispensar o empregado foi tomada.

Seria o mesmo que alguém ter a carteira de habilitação apreendida porque, dois anos antes de serem estabelecidos os padrões atuais para a Lei Seca, dirigiu depois de ter tomado uma dose de uísque. Decisões da Justiça têm que ser cumpridas - mas podem ser discutidas.

E essa decisão com relação ao aviso prévio, com todo respeito, é de um atraso espetacular.

Estagnação econômica e inflação em alta - ROGÉRIO MORI

BRASIL ECONÔMICO - 13/02

Sem sucesso, o governo tem feito de tudo para tentar reativar a economia brasileira. Os estímulos monetários proporcionados a partir dos cortes de juros promovidos pelo Banco Central e os incentivos fiscais se mostraram insuficientes para que a atividade econômica registrasse uma recuperação mais vigorosa.

Como é amplamente reconhecido, o PIB brasileiro deve ter crescido cerca de 1,5% em 2012 relativamente ao ano anterior. As perspectivas para o começo de 2013 também não são das melhores.

Para piorar a situação, a inflação não dá trégua ao governo. O resultado do IPCA de janeiro mostrou uma nova aceleração da inflação, com a maior parte dos itens que compõem o índice mostrando alta de preços. Não chega a ser uma alta generalizada de preços, mas a situação é preocupante.

Se o quadro do comportamento dos preços verificado em janeiro persistir por mais dois ou três meses, o cenário ficará muito mais complexo e o Banco Central terá de jogar a toalha.

Até o momento, o governo resiste a uma reversão no sentido da política monetária, apostando que as altas verificadas ao longo dos últimos meses representam choques transitórios adversos de preços e que se dissiparão em breve. Até o momento, boa parte dos economistas ainda aposta em uma inflação medida pelo IPCA na casa dos 6% neste ano. Resultados adversos no campo da inflação nos próximos meses claramente detonarão um processo de revisão das expectativas para cima.

O quadro de estagnação econômica com inflação em alta, como o que o Brasil vivencia neste momento, não é comum para nossa economia. Desde a implementação do real, em meados de 1994, as inversões de ciclos foram pontuadas pelas diversas crises verificadas ao longo do tempo, mas em momento algum a economia brasileira deixou de reagir a estímulos monetários e fiscais. Nesse sentido, analistas e técnicos deveriam se debruçar com maior afinco para tentar caracterizar o que de fato está acontecendo.

Aparentemente, o cenário atual é resultante de dois fatores que atuam conjuntamente: moeda forte e perda de dinamismo do lado do crédito. No que se refere à nossa moeda, apesar da depreciação observada ao longo do ano passado, o real ainda se encontra extremamente apreciado e o Brasil é uma das economias mais caras do mundo. Isso afeta a competitividade da economia brasileira, particularmente da indústria.

A perda de dinamismo industrial pode ser observada em diversos indicadores, ao mesmo tempo que as importações seguem em alta. Do lado do crédito, aparentemente o processo de endividamento das famílias brasileiras começa a demonstrar seus limites.

Como boa parte desse endividamento é constituído por dívidas de perfil longo, a resposta a novas tomadas de crédito por conta da queda dos juros tende a ser mais moderada.

Em face do quadro pouco positivo que se tem observado no caso brasileiro nos últimos trimestres os humores de empresários e investidores começa a mudar gradativamente.

O reflexo claro disso é a contínua retração nos investimentos produtivos que se tem observado no Brasil ao longo dos últimos trimestres. Esse fenômeno vem a agravar as possibilidades de crescimento futuro do país.

Renunciar é humano! - TUTTY VASQUES

O Estado de S.Paulo - 13/02

Se Jânio Quadros teve pelo menos a lucidez de não renunciar no carnaval, justiça seja igualmente feita a Bento XVI, o papa não perdeu o juízo a ponto de sair por aí evocando "forças ocultas" para justificar sua decisão!

O fato é que renúncia, quando não se precipita por apego do renunciante a direitos políticos maiores que seu cargo, é sempre uma surpresa pra todo mundo.

Ninguém renuncia atendendo a abaixo-assinado, como supõe o brasileiro indignado com a reeleição de Renan Calheiros na presidência do Senado.

Também não é da índole da raça abdicar do poder pelo bem de todos e felicidade geral da nação, daí a dificuldade de se compreender a atitude do outro ao abandonar um alto posto de comando aqui ou no Vaticano.

Mal comparando a renúncia do papa com a do Jânio, o choque com a notícia é o mesmo!

"Por quê?" - perguntam-se ainda agora fiéis e foliões perplexos com o gesto magnânimo de Bento XVI.

Tem um dado de humanidade bacana nessa história. O papa sai de cena renovando esperança de que o ser humano não perdeu de todo a capacidade de surpreender. Ainda tem coisa que não se explica, graças a Deus!


Meu Deus!

De Thor, filho de Eike Batista, sobre o truque dos xarás da comissão de frente da Unidos da Tijuca para fazer martelo levitar: "Grandes coisas!"

Bode expiatório

Entreouvido nos corredores do Vaticano após a renúncia de Bento XVI: "E se a gente botar a culpa de novo no mordomo?"

Papo cabeça

Se é mesmo verdade que Bento XVI tomou a decisão de renunciar após viagem a Cuba, em março de 2012, precisa ver se não contribuiu para isso a pergunta que Fidel Castro fez ao visitante durante encontro em Havana: "O que faz um papa?"

Ô, raça!

Para evitar confusão como a do ano passado durante a apuração do carnaval de São Paulo, a Liga das Escolas de Samba fechou o Anhembi ao público para o ritual de abertura dos envelopes dos jurados. Prevaleceu a tese de que, não importa o perigo, tirando o ser humano de cena, tudo melhora!

Acredite se quiser

Quem cruzou com Dunga no camarote da Devassa garante: o técnico está voltando a ser aquela pessoa extrovertida, animada e brincalhona de outros carnavais.

Nem aí!

Onde diabos Aécio Neves passou o carnaval? O senador não dá mais as caras no Leblon nem quando está de folga, caramba!

Off-Carnaval

Lincoln é forte concorrente ao Oscar de filme mais chato em cartaz. Não se fazia nada assim na categoria biografia de ex-presidente desde Lula, o Filho do Brasil.

PÁ DE CAL

"SEM BENTO XVI, O CARNAVAL PERDE A GRAÇA DE VEZ!"

Zeca Pagodinho

Início de jogo - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 13/02

Passado o carnaval, é hora de o Brasil “se agarrar no serviço”. E quanto antes melhor. Em especial, o governo e o parlamento. Vamos tratar aqui do Poder Executivo. Aos poucos, começam a aparecer as impressões de empresários e banqueiros em relação aos encontros com a presidente Dilma Rousseff ao longo do mês de janeiro. E essas impressões, que eles relatam apenas aos amigos mais chegados, são bem diferentes daquelas declarações feitas na saída do Planalto em frente às câmeras de tevê. Parte desses interlocutores convidados a se reunir com Dilma não saiu muito confiante e por vários motivos.

Uma das razões foi a de que, em meio à primeira fase desse diálogo, aberto por iniciativa de Dilma, veio a notícia da maquiagem das contas públicas para cumprimento do superavit primário. Isso somado ao fato de os empresários acreditarem que os projetos de infraestrutura continuam travados já seria um problema. Mas tem mais: eles não crêem nas previsões otimistas do ministro da Fazenda, Guido Mantega — que, aliás, estava de férias quando essas conversas ocorreram.

Mantega, na avaliação de muitos, demorou muito no ano passado a admitir que o crescimento econômico não atingiria sequer dois pontos. O ministro fazia previsões de crescimento acima de 3%, quando o mercado já sabia que a economia nacional não chegaria a dois terços desse cálculo. O “pibinho”, como definiram muitos, terminou por solapar a confiança nas palavras de Mantega e fez surgir as especulações de que ele deixaria o governo em 2013.

Substituir Mantega, entretanto, não é tão fácil quanto se pensa. E não se trata apenas de um ministro ligado ao ex-presidente Lula. Dilma substituiu muitos antigos colaboradores de Lula. Mantega, na verdade, é apenas executor das ordens que recebe da presidente, a verdadeira condutora da economia, dada a poucos conselheiros. Quem conhece a forma como a presidente se relaciona com seus ministros garante que poucos teriam a fleuma que Mantega apresenta em tensas reuniões palacianas. Este ano, então, com a obrigação de fazer a economia deslanchar, esses encontros prometem ser ainda piores.

Se as previsões de Mantega fossem o único problema para tirar o ânimo do empresariado, estava fácil. Mas há outros piores. A principal deles é a trava nos projetos governamentais. Os empresários se recordam, por exemplo, das notícias publicadas no primeiro semestre de 2011 apresentando o trem de alta velocidade (TAV) entre São Paulo e Rio como uma obra para deslanchar a partir do segundo semestre de 2012. O ano virou e o projeto continua fora dos trilhos. O projeto foi anunciado várias vezes e agora é que se percebeu a ausência de integração de um trem caro e desse porte com os trens regionais. Haverá alterações, por exemplo, na estação em São Paulo, cujo local ainda não foi definido. Ou seja, anunciou-se uma obra, fez aquela propaganda toda e até agora nada.

O mesmo vale para o pré-sal. O anúncio de tanto petróleo foi um carnaval danado. Mais apoteótico que o desfile das escolas de samba do grupo especial de domingo e de segunda-feira. Cadê? É a Petrobras no prejuízo, a gasolina subindo, o petróleo liderando o ranking das importações brasileiras, com US$ 13 bilhões em 2012.

Quanto às concessões, o empresariado também não sentiu muita firmeza. As empresas querem ter a garantia de um lucro que lhe torne o negócio atrativo. O governo, obviamente, quer a garantia da prestação do serviço. Ocorre que os empresários consideram haver interferência governamental demais nos serviços a serem oferecidos e demora na publicação de editais.

Técnicos do governo têm dito que é melhor o edital demorar e sair direito, do que fazer a coisa de qualquer jeito e lá na frente dar problema. O Brasil tem vários exemplos de projetos liberados de qualquer maneira que, logo ali, apresentaram falhas. O alambrado da Arena do Grêmio, que sucumbiu à avalanche da torcida é um exemplo. Isso para não citar a liberação da boate Kiss, sem saída de emergência, em Santa Maria(RS).

Ninguém tem dúvidas de que o governo age certo em querer rever os projetos para evitar surpresas desagradáveis lá na frente, mas não pode e nem deve fazer uma propaganda danada com as propostas se ainda não tem segurança de que estão prontas para sair do papel. O trem-bala e o pré-sal, citados acima, são os maiores exemplos. Espera-se que, este ano, quando todos estarão correndo para em 2014 mostrar o serviço feito, as coisas saiam do papel de modo correto e seguro — o oposto do que fazia Lula, ao prometer muito e inaugurar pouco.

Talvez, por isso, Dilma esteja direcionando o discurso ao combate à miséria. Nesse ponto, o governo tem resultados bons a apresentar. O problema é que esse aspecto merece todos os aplausos, as honras, mas ainda é insuficiente para animar o empresariado. O que fará a turma do dinheiro sair da toca é o resultado da gestão das contas públicas, dos projetos estruturantes e de energia. Se o dever de casa não for feito, não terá conversa no Planalto que dê jeito.

A irmã de Freud - ELIANA CARDOSO

O ESTADÃO - 13/02

Vi a casa: número 20, Maresfield Gardens, Londres. Ali Freud morou um ano até setembro de 1939, quando morreu. Escapara dos nazistas em 1938, levando consigo a mulher, a cunhada, a filha, o filho, o médico com sua própria família, duas domésticas, o cachorrinho, a biblioteca e enorme coleção de objetos comprados de antiquários. Para trás deixou as irmãs, que morreram em campos de concentração.

Li Freud's Sister (Penguin). O escritor macedônio Goce Smilevski dá voz a uma delas, Adolfina. O romance baseia-se em fatos, porém cria no leitor o sentimento desconfortável de que, ao retratar Sigmund Freud como vilão, o autor busca a polêmica. Ao mesmo tempo, ao narrar a vida de Adolfina como cheia de crueldade e loucura, Smilevski inventa uma obra de arte que muitos leitores acharão fascinante e outros, controversa.

Uma irmã leva à outra e eu, da de Freud, chego à de Shakespeare, invenção de Virgínia Woolf no ensaio Um teto todo seu. O que teria sido a vida da irmã de Shakespeare se ela tivesse existido e nascido com o talento do irmão? Responde Woolf: "Qualquer mulher nascida com um grande talento no século XVI teria certamente enlouquecido (...). Pois não é preciso muito conhecimento de psicologia para se ter certeza de que uma jovem altamente dotada que tentasse usar sua veia poética teria sido tão contrariada e impedida pelas outras pessoas, tão torturada e dilacerada pelos próprios instintos conflitantes, que teria decerto perdido a saúde física e mental".

Como em vários países ainda hoje, nos anos em que Virgínia Woolf escreveu e Freud se mudou de Viena para Londres, séculos de inércia pautavam a vida feminina. No quarto capítulo de Freud's Sister, Adolfina sofre com um aborto, intervenção então ilegal na Europa. Hoje a legalização mudou esse cenário na maioria dos países desenvolvidos, mas em outros continua a causar traumas. O tema continua ligado à pergunta do que querem as mulheres.

A mulher quer duas coisas fundamentais, que parecem garantidas ao homem. A primeira é a soberania do próprio corpo. É essa soberania do corpo que lhe garante que não sofrerá mutilações (ao contrário do que ocorre no Egito), escolherá seus parceiros sexuais (ao contrário do que ocorre na Índia) e decidirá quando ter filhos (ao contrário do que ocorre onde não existe acesso irrestrito aos serviços de saúde reprodutiva).

Em segundo lugar, ela quer a oportunidade de ganhar uma renda com seu trabalho e dela dispor como julgar conveniente. Dinheiro é fundamental. Mas seria muito pouco enfatizar apenas o papel do dinheiro na desigualdade entre os gêneros. A mudança de percepções e atitudes tem importância similar. Precisamos - para homens e mulheres - de uma mentalidade andrógina, como a de Shakespeare, e não de uma mentalidade machista, como a de Freud. Dizia Virgínia Woolf em Um teto todo seu: "É fatal ser um homem ou uma mulher, pura e simplesmente; é preciso ser masculinamente feminina ou femininamente masculino".

Durante milênios o discurso da diferença entre os gêneros contribuiu para manter as mulheres sob o jugo masculino. A mulher que tem sucesso nos negócios ou na política leva a pecha de masculina ou agressiva ou, simplesmente, de feia, enquanto ninguém se ocupa de discutir a beleza de Getúlio Vargas ou Hugo Chávez.

Essa mentalidade muda devagar. No evento de formalização do projeto Women Entrepreneurship Banking - uma parceria entre o BID e o Itaú Unibanco para a promoção do crédito e outros serviços para mulheres empreendedoras no Brasil - distribuiu-se material à imprensa. Neste material, a diretora do Itaú descreve a necessidade de novos projetos, porque "as mulheres pensam, agem e trabalham de maneira diferente dos homens". Não é por aí, amiga. Esse discurso abre as portas à discriminação e à remuneração diferenciada devida à diferença de gêneros numa mesma atividade. Independentemente de suas características biológicas, homens, mulheres e transexuais são iguais perante a lei.

As infinitas e sutis diferenças entre homens e mulheres (devidas em parte à biologia, em parte à cultura e em parte não explicadas) - assim como as que existem entre homens e homens, entre mulheres e mulheres, entre homossexuais e entre pansexuais - resolvem-se no nível individual. No trabalho a mulher quer competir em condição de igualdade. Por exemplo. Interessa a ela que a lei conceda os mesmos direitos de licença por ocasião do nascimento de uma criança a homens e mulheres, revolucionando a mentalidade fora e dentro de casa.

Portanto, a iniciativa BID-Itaú terá relevância na medida em que a criação de oportunidades de financiamento para mulheres ajudar a reduzir diferenças impostas por discriminações - não por diferenças nas características de gênero - e, ao criar oportunidades, contribuir para o crescimento do País.

Vale entender que o desperdício de talento feminino debilita a economia, o abuso das mulheres corrompe a sociedade e sua marginalização enfraquece o sistema político. A desigualdade de gênero não é apenas moralmente indefensável. Ela é ruim para os negócios e ruim para a economia. Recomendo a leitura do relatório Gender Inequality, preparado pelo Emerging Markets Symposium (disponível a partir de 15/2 no site http://ems.gtc.ox.ac.uk/).

Já se tornou clichê invocar a importância da educação na promoção da mobilidade social, no aumento da produtividade e na redução da incidência de gravidez precoce. Também se conhece a necessidade do apoio do setor privado para soluções criativas no cuidado de crianças e velhos. A igualdade de gênero deveria constituir objetivo nacional e os governos mais esclarecidos terão de se engajar na luta para que, nas condições impostas em empréstimos, as instituições financeiras multilaterais (como o Banco Mundial) incorporem práticas para a promoção da igualdade entre os gêneros. Afinal, como dizem os chineses, as mulheres sustentam a metade do céu.

Dia de bom futebol - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 13/02

Atlético-MG x São Paulo e Real Madrid x Manchester United são as duas grandes partidas de hoje


QUANDO UM time, nitidamente superior, com melhores jogadores, com mais força coletiva e com um futebol mais moderno, perde um jogo decisivo, temos de relativizar o resultado, já que existe um grande número de fatores surpreendentes e ocasionais envolvidos no placar, em vez de mudar os conceitos e diminuir as virtudes da equipe favorita.

Se Espanha e Brasil fizessem hoje a final da Copa, e a seleção brasileira vencesse, o futebol coletivo e o estilo de jogar dos espanhóis, com muita troca de passes, continuaria com a mesma qualidade e eficiência. Analisar o jogo a partir somente de um resultado é uma visão estreita e medíocre, diante da complexidade de uma partida.

Hoje, pela Libertadores, o jogo mais esperado é entre Atlético-MG e São Paulo. Deveria ser no Mineirão. Apesar das palavras do presidente Alexandre Kalil, suspeito que a principal razão de o Galo preferir o Independência é técnica, e não comercial. Os jogadores, Cuca e o presidente sabem que, no Independência, são maiores as chances de o Atlético-MG vencer.

No Brasileirão, o Atlético-MG sufocava os adversários, pela pressão da torcida e pela maneira de jogar, marcando mais à frente. A bola estava sempre próxima do gol. As principais jogadas eram aéreas, com os cruzamentos de Ronaldinho para os grandalhões Jô, Leonardo Silva e Réver, ou os chutões e os passes longos para o pivô Jô ajeitar para o companheiro. Deu certo. No Mineirão, a postura teria de mudar.

Outro grande jogo hoje é entre Real Madrid e Manchester United, pela Liga dos Campeões. Por jogar em casa e ter maior número de craques, o Real tem mais chances de vencer. Não dou tanta importância aos tantos problemas de relacionamento noticiados entre Mourinho e os jogadores. Quando o time estava no auge, acontecia o mesmo.

O Manchester United tem uma grande qualidade, cada dia mais rara, que é possuir uma dupla de ótimos atacantes, formada por Rooney e Van Persie. Não há um centroavante fixo. Os dois dão passes e fazem gols. Em vez de ter uma linha de três meias e um centroavante, o time inglês joga com um meia de cada lado e dois atacantes. A armação das jogadas pelo centro é feita por um dos atacantes, que recua para receber a bola, ou por um volante que avança.

Foi o que fez o Corinthians contra o Chelsea, quando Tite tirou o meia Douglas e colocou Emerson mais à frente, formando dupla com Guerrero. O técnico repete essa formação, com Pato e Guerrero. No Brasileirão, o Fluminense cresceu quando Wellington Nem passou a atuar mais próximo de Fred.

Nada mais ultrapassado do que jogar todo compartimentado, com volantes para marcar, com um meia de ligação para dar passes decisivos, com um centroavante para fazer o gol e com um meia de cada lado, que vai e volta.

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV - 13/02


12h - Brasil Open, tênis, Bandsports

14h30 - Brasil Open, tênis, Bandsports e SporTV

17h - Brasil Open, tênis, Bandsports e SporTV

17h30 - Real Madrid x Manchestet United, Copa dos Campeões, ESPN, ESPN HD e Band

19h30 - Deportes Iquique (CHI) x Peñarol (URU), Libertadores, FoxSports

20h - Brasil Open, tênis, Bandsports e SporTV

20h - Asa x ABC, Copa do Nordeste, Esporte Interativo

22h - Caracas (VEN) x Fluminense, Libertadores, Globo (menos para SP)

22h - Atlético-MG x São Paulo, Libertadores, Globo (para SP), FoxSports e SporTV

22h - Campinense x Sport, Copa do Nordeste, Esporte Interativo

22h - Fortaleza x Santa Cruz, Copa do Nordeste, Esporte Interativo (para o Nordeste)

22h30 - Boston Celtics x Chicago Bulls, NBA, ESPN e ESPN HD

Voos restritos - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 13/02

Embora tenham autonomia para voar 24h, os Vants, aviões de vigilância do governo, não podem ficar no ar toda essa jornada. Os países vizinhos reclamaram ao Brasil de eventuais invasões de seus espaços aéreos. Outro problema que o governo enfrenta é que, como esses aviões sobrevoam áreas sem conflito, as autoridades precisam cuidar para evitar colisões com outras aeronaves.

Quem é o chefe
Mesmo com dificuldades de percorrer as fronteiras e com implantação atrasada, há disputa no governo pelo controle dos Vants. A Polícia Federal e o Comando da Aeronáutica travam uma queda de braço pelos aviões, que têm como função percorrer o espaço aéreo brasileiro e os 16 mil quilômetros de fronteiras com dez países para coibir o narcotráfico e o contrabando de armas. A Aeronáutica quer coordenar o uso de todos os aparelhos, deixando a PF como subordinada. Mas o primeiro round foi vencido pelos policiais federais. A presidente Dilma decidiu que cada órgão comanda os seus Vants.

“É revoltante o quanto o Parlamento se apequena. A grande preocupação são os cargos e a liberação de emendas”
José Antônio Reguffe
Deputado federal (PDT-DF)

Sem auxílio
Servidores vulneráveis da PF não estão encontrando serviço de apoio psicológico criado pelo órgão. No ano passado, ocorreram 12 suicídios, número que alarmou a entidade.

Mas a ajuda prometida não está chegando na ponta.

Novo marco
Está nas mãos de Giles Azevedo, chefe de gabinete da presidente Dilma, o marco regulatório da mineração.

Geólogo de formação e concursado do Departamento Nacional de Produção Mineral, Giles está comandando o debate dentro do governo sobre as novas regras do setor que atingem, principalmente, Minas Gerais e Pará.

Mensalão na telona
Um ministro do STF assistia ao filme "Lincoln", em Brasília. Quando os personagens falam em suborno para aprovar emenda do fim da escravidão, tascou: "isso me lembra o Delúbio!".

Cargos sem fim
A presidente Dilma vai se dedicar nos próximos dias a preencher cargos no Executivo e no Judiciário. Além da minirreforma ministerial, precisa indicar nomes para três agências reguladoras. Não houve ainda substituição dos irmãos Paulo e Rubens Vieira na ANA e na Anac, pegos na Operação Porto Seguro. A ANTT atua com três interinos.

Estão vagos três postos no STJ e um no STF.

Agora vai
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), convidou os 27 governadores para reunião, dia 13 de março. Quer discutir o novo pacto federativo, porque o atual sistema de distribuição de recursos está "falido".

Virou piada
Nada como rir de si mesmo. Deputados e senadores peemedebistas não param de sugerir nomes do partido para o lugar do Papa Bento XVI nas redes sociais. Os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) lideram.

TUDO CERTO
Michel Temer será reconduzido à presidência do PMDB. Continuará licenciado e o vice, Valdir Raupp, seguirá no comando.

Fantasmas da seca - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 13/02

Relatório inédito do Ministério da Integração aponta indícios de fraude em cinco dos 14 lotes da transposição do São Francisco, principal obra do PAC no Nordeste e cuja realização está atrasada em cinco anos. O processo foi enviado ao TCU e ao Ministério Público Federal. A investigação teve início em maio de 2012, quando empreiteiras contratadas tentavam receber por serviços não realizados, incluindo desde escavações até a retirada de pedras de locais onde não havia canteiros.

Onde pega Foram listadas irregularidades nos lotes 1, 2, 9, 10 e 11. O pente-fino no lote 9 já foi finalizado. Os processos restantes serão averiguados pela Consultoria Jurídica do ministério até abril. A varredura não estimou o prejuízo aos cofres públicos. O cálculo caberá ao TCU.

Conluio Além da devolução de valores recebidos, as empreiteiras citadas poderão ser excluídas de concorrências públicas por até dois anos. O documento também acusa a empresa contratada pelo governo para fiscalizar a obra de acobertar as falhas.

Outro lado O ministério confirma as investigações, mas só irá se pronunciar após defesa das empresas, o que deverá ocorrer em um prazo de 15 dias. Os casos apurados são relativos ao período de março a dezembro de 2010.

Repaginado Pré-candidato ao governo do Rio, Luiz Fernando Pezão passa por série de procedimentos estéticos em preparação para o pleito. O vice de Sérgio Cabral emagreceu e fez tratamento dentário. Em março, usará as inserções do PMDB para se apresentar na TV.

Desagravo A despeito das críticas de seu partido a Roberto Gurgel, Domingos Dutra (PT-MA) atacou, na tribuna da Câmara, Fernando Collor (PTB-AL), algoz do Procurador-Geral da República. "Não creio que [Collor] tenha autoridade moral para questionar o Ministério Público".

Genuflexório O silêncio protocolar de governo de Dilma Rousseff sobre a renúncia de Bento 16 chamou a atenção de observadores da diplomacia internacional. Ontem, o Itamaraty emitiu nota oficial sobre os testes nucleares norte-coreanos, mas não se manifestou a respeito da mudança no Vaticano.

Número mágico O QG de Fernando Haddad trabalha com a perspectiva de conquistar 42 votos entre 55 possíveis para aprovação, com margem razoável de segurança, do pacote de projetos que o prefeito enviará à Câmara paulistana após a folia.

Vem comigo Para atingir a marca, os responsáveis pela articulação política do PT intensificarão o corpo a corpo com as bancadas independentes até a próxima semana. Espaço no governo e influência nas subprefeituras estão no "kit" de sedução.

Sabor do campo Candidata a assumir ministério na cota do PSD, a senadora Kátia Abreu (TO) exibiu nas redes sociais fotos de pamonhas que diz ter preparado com amigas em sua fazenda durante o feriado de Carnaval. "Ficou deliciosa: doce, salgada ou com pimenta."

Reação... Mesmo com a onda de ataques do crime organizado ganhando corpo em Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD) vê com reservas o envio de tropas da Força Nacional de Segurança ao Estado. Até ontem, 29 cidades haviam sido afetadas.

... em cadeia Aliados do governador dizem que os agentes federais são treinados para ações cirúrgicas em morros, confrontos de rua e tomada de posições. E que a gênese da crise catarinense está nos presídios. "O que nos ajudaria é apoio na inteligência policial", afirma um interlocutor de Colombo.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
Lula não aceita ser papa porque já se acha Deus. E, como Terceira Pessoa da Trindade, pretende inspirar os cardeais no conclave.
DE JOSÉ HENRIQUE REIS LOBO (PSDB), ex-secretário do governo José Serra, relacionando a sucessão de Bento 16 à conduta do petista como ex-presidente.

contraponto


Direto ao ponto


Na semana passada, Dilma Rousseff recebeu congressistas do PR, fechando rodada de conversa com líderes do partido. Presente ao encontro, o deputado Anthony Garotinho (RJ) desandou a relembrar os tempos em que ele e a presidente eram filiados ao PDT, legenda de Leonel Brizola. Após alguns minutos do discurso do ex-governador do Rio, Alfredo Nascimento (AM), líder do Senado, interrompeu Garotinho.

Nascimento, presidente da sigla brincou:

-Ei, vamos parando por aqui porque até você chegar no PR vai acabar o nosso tempo com a presidente...

Vem aí um conclave inesquecível - ELIO GASPARI

O ESTADÃO - 13/02

É possível que se acabe a época de papados eurocêntricos que começou em 1978 com João Paulo II


Tudo o que se pode esperar da escolha do sucessor de Bento 16 é o fim de um Vaticano eurocêntrico. Desde que Karol Wojtyla tornou-se João Paulo 2º a Europa é o centro das atenções da Cúria. O papa polonês cumpriu uma fenomenal missão histórica ajudando a desmontar décadas de tolerância com as ditaduras comunistas. Seu sucessor teve um pontificado medíocre enrolado pela tolerância com escândalos sexuais e financeiros de sacerdotes. Um deles passou de raspão pelo Brasil, num trambique do namorado da atriz Anne Hathaway, sócio do sobrinho do atual decano do Colégio de Cardeais, o poderoso ex-secretário de Estado Angelo Sodano. A moça micou em US$ 135 mil e o rapaz foi preso nos Estados Unidos.

As dificuldades do Vaticano com suas finanças são antigas. Foi Pio 9º quem avisou: "Posso ser infalível, mas estou falido." Já os desempenhos sexuais de alguns sacerdotes, mesmo sendo coisa antiga, tornou-se uma encrenca recente, com a qual João Paulo 2º e Bento 16 nunca conseguiram lidar direito, envenenando a missão pastoral de dioceses europeias e americanas.

O eurocentrismo da Cúria Romana refletiu-se no Brasil. Durante o pontificado de Paulo 6º, Pindorama passou de dois para oito cardeais. Hoje tem cinco. Bento 16 deixou sem o barrete cardinalício as arquidioceses de Rio e Brasília. Porto Alegre teve cardeal e está sem. Recife, a primeira sé cardinalícia do país, está na segunda divisão desde os anos 60, quando a ditadura hostilizava d. Helder Câmara e não queria vê-lo cardeal. Se foi econômico com os barretes brasileiros, Bento 16 foi generoso aspergindo-os pela Europa. Elevou a diocese de Valência (800 mil habitantes), na Espanha, mas não confirmou o barrete de Porto Alegre (1,4 milhão de habitantes).

Quem especular o nome do sucessor de Ratzinger pode jogar cara ou coroa. Nos seis últimos conclaves elegeram-se três favoritos (Ratzinger, Paulo 6º e Pio 12) e três azarões (João Paulo 2º, João Paulo 1º e João 23, um gorducho que mal cabia nas vestes preparadas pelos alfaiates que trabalharam no conclave).

Pode-se esperar que depois de um papa saído da academia de teólogos e da burocracia de Roma, venha um pastor, como os dois João Paulo e João 23. Um administrador de diocese do Terceiro Mundo uniria o útil ao agradável. É assim que entra nas listas, com um sopro romano, o cardeal de São Paulo, d. Odilo Scherer, pastor de uma das maiores arquidioceses do mundo. Aos 63 anos, teria um longo pontificado. Ele tem uma característica anfíbia. É brasileiro, mas, como quatro outros cardeais brasileiros (Cláudio Hummes, Paulo Evaristo Arns, Aloísio Lorscheider e Vicente Scherer, seu parente distante), descende da imigração alemã. A mola mestra da eleição dos dois últimos papas foi a capacidade de articulação da hierarquia alemã.

D. Odilo lidera a facção conservadora do clero brasileiro, derrotada na última eleição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e nas eleições gerais em que se meteu. Para consumo mundial, preenche o requisito de um papa do Terceiro Mundo, condição só superável pela escolha de um africano como Francis Arinze, de Lagos, na Nigéria. Mais que africano, Arinze tem 80 anos e passou 25 em Roma. Seria um papa de transição.

Com uma eleição marcada para o fim de março e um papa vivo, vem aí um conclave inesquecível.

As cartas nas mangas no pôquer do poder - JOSÉ NEUMANNE

O ESTADÃO - 13/02

As circunstâncias que cercaram a eleição e a posse de Renan Calheiros na presidência do Senado e de Henrique Eduardo Alves na da Câmara e a eventual diferença entre o que este disse a seus pares e depois aparentemente, e só aparentemente, contradisse à imprensa à saída do Supremo Tribunal Federal (STF) exibem cartas escondidas nas mangas dos poderosos da República. E a verdade que não quer calar se impõe: os políticos, especialmente os detentores de mandatos parlamentares, não abrem mão de uma prerrogativa que acham inerente à própria condição no Estado Democrático de Direito à brasileira - a de estarem acima da lei que eles mesmos aprovam e serem mais iguais do que os outros cidadãos perante a dita-cuja.

Desde a promulgação da Constituição de 1988 foi-se adotando a regra consuetudinária e nunca explicitada de que os políticos profissionais se arrogam o direito de gozar privilégios negados ao zé-ninguém do populacho. Até o histórico julgamento pelo STF do escândalo do mensalão, o grupo que se assenhoreou do poder sob as barbas do profeta Lulinha Paz e Amor deixou claro que se sentia no direito consagrado por Deus e pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de praticar um crime contábil, o caixa 2, pelo simples fato de que os adversários também o cometiam impunemente. Era algo similar à declaração de inocência de um assassino confesso sob o argumento de que desde o fratricida bíblico Caim inúmeros homicidas não foram punidos pelo delito.

Não são lanas caprinas a obviedade de que o apelo ao crime menor era um jeitinho à brasileira para gozar a prescrição num costume ancestral de processos prolongados por infinitas apelações de plena defesa. No entanto, no julgamento, alguns ministros do STF, com destaque para Cármen Lúcia, não deixaram de reclamar do acinte cínico de quem apelava para o falacioso caixa 2 e declarar que crime é crime e não pode ficar sem punição. No mensalão, o Judiciário acabou por jogar no lixo a pretensão estapafúrdia dos políticos da licença para delinquir.

Ao longo da mais desastrada gestão na presidência da Câmara dos Deputados da História, Marco Maia (PT-RS) fez coro às reclamações dos mandatários mensaleiros condenados contra a "indevida" interferência do Supremo na decisão de cassar, ou não, seus mandatos, cabendo a decisão, a seu ver, aos colegas. A ideia de que o Parlamento é um clube fechado em que os sócios se reservam o direito de dar bolas brancas, vermelhas ou pretas a sócios forçados a deixar seu convívio por condenações judiciais dá bem uma ideia da democracia extravagante que nossos representantes no Congresso têm do exercício dessa representação. Teria Henriquinho a avalizado ao reivindicar a "última palavra" no caso?

Sim e não. De fato, como lembrou com clarividência o ministro do STF Gilmar Mendes, o Supremo é que condena e cassa, cabendo à Câmara providenciar o afastamento dos membros condenados, et pour cause, impedidos de exercer mandato de representação popular. Então, o novo presidente não mentiu aos pares ao lhes atribuir a "última palavra" nem ao presidente do Supremo e relator do mensalão, Joaquim Barbosa, ao negar qualquer tentativa de não dar provimento à decisão judicial em última instância, quando ela for tomada (ainda falta julgar recursos). Com o devido respeito, seria o caso de usar aqui o estratagema do marido que diz ter sempre a última palavra em casa. E ela é: "Sim, senhora". A eventualidade do atrito entre Poderes resultou de açodamento de quem a noticiou.

Henriquinho não desafiou a Justiça, mas os colegas que o elegeram, como os que sufragaram Renan Calheiros no Senado, passaram um recado mais preocupante à Nação: o de que se dispõem a usar os mandatos de representação como se fossem cartas brancas, sem dar a mínima para eventuais queixas da sociedade por suas escolhas. As denúncias contra ambos contrastadas com as margens da vitória afastam dúvidas quanto a isso.

Renan deu-se ao luxo de apresentar a candidatura à undécima hora e Henriquinho se fez de vítima, ajudado pelo surgimento de um dossiê anônimo reunindo acusações que todos os votantes já conheciam, porque foram tiradas do noticiário impresso dos dias anteriores. Tal noticiário expõe a hipocrisia do Poder Executivo, que ao longo do processo de escolha dos dignitários fez prosperarem indícios de que preferia candidatos de currículo menos polêmico na linha sucessória da presidente da República. Talvez seja mais fácil acreditar que o PT blefa no pôquer do poder com duas cartas: ou aproveita as denúncias para enfraquecer os interlocutores na presidência das duas Casas do Congresso ou espera que as denúncias os arranquem das cadeiras. Nesta hipótese, dois companheiros ascenderiam aos postos: André Vargas (PT-PR), da tropa de choque de José Dirceu, e Jorge Vianna (PT-AC), irmão de Tião, que há cinco anos ascendeu ao posto de Renan, vergado este ao peso do "denunciômetro".

Papel ainda mais hipócrita - e no caso, ridículo - foi feito pelos opositores. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), tido e havido como a bola de vez da oposição para evitar a reeleição de Dilma Rousseff, rompeu sua longa ausência da tribuna para fazer um apelo aos correligionários tucanos para que não optassem por Renan. Ou discursou para os anais sem contar com as consequências de suas palavras vazias, sendo sonso, ou, de tão ausente na obrigação de liderar o dissenso na Casa, ninguém lhe deu atenção alguma, fazendo ele as vezes de bobo da Corte.

Com Dilma dando prioridade à reeleição sobre a gestão e a oposição fingindo se fingir de morta para evitar que se perceba que já morreu e se esqueceram de enterrá-la, segue o País à deriva. Resta à cidadania confiar em que mais uma vez o único Poder que não escolhe, o Judiciário, consiga impor-se sobre as tentativas que na certa o Legislativo fará para adiar o quanto for possível a inevitável cassação dos quatro congressistas condenados por corrupção e formação de quadrilha.

Taxa de juros fica onde está - CRISTIANO ROMERO

VALOR ECONÔMICO - 13/02

Desde que ficou claro que o Banco Central (BC) não usaria, por um bom tempo, a taxa básica de juros (Selic) para combater a inflação, o mercado passou a entender que o câmbio passaria a ser o instrumento usado com essa finalidade, uma vez que o terceiro recurso (o controle da demanda agregada via redução dos gastos públicos) foi abandonado em 2012 e neste ano. O BC reforçou essa percepção entre o início de dezembro, quando atuou de forma firme no mercado para tirar a cotação do dólar do patamar de R$ 2,13, e o fim de janeiro, quando voltou a intervir, desta vez, para apreciar a taxa um pouco mais e estabelecer um "equilíbrio" em torno de R$ 2.

Na semana passada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, achou por bem prestar alguns esclarecimentos após o anúncio, pelo IBGE, da inflação de janeiro, que ficou em 0,86%, o maior índice para janeiro desde 2003. De fato, seria desaconselhável que, divulgado o avanço do IPCA, a autoridade monetária se calasse.

Com declarações à imprensa, Tombini procurou coordenar expectativas. Reconheceu o desconforto do BC com uma inflação que, em 12 meses, chegou a 6,15%, valor perigosamente próximo do teto da banda (6,5%), e sinalizou que "está avaliando tudo" ao seu alcance para enfrentar o problema. O mercado entendeu que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode elevar a taxa Selic antes do esperado.

Para BC, taxa de equilíbrio do câmbio está em torno de R$ 2

De fato, Tombini teve a intenção de transmitir uma mensagem forte para corrigir a percepção, disseminada nas ruas, de que o BC, pressionado politicamente pelo Palácio do Planalto, está disposto a correr riscos no front inflacionário. O presidente do BC tentou deixar claro que não.

Apesar disso, a estratégia não mudou. Vale o que está na ata da última reunião do Copom: a Selic, que está em 7,25% ao ano, ficará estável por um período "suficientemente prolongado". O Comitê julga que não faz sentido elevar os juros com o Produto Interno Bruto (PIB) rodando bem abaixo do potencial. Promover um aperto monetário agora poderia abortar uma ainda incipiente recuperação da atividade.

Nos cálculos do BC, a inflação em 12 meses recua no segundo semestre, mas antes vai subir mais pouco mais. Convergência à meta no terceiro trimestre está descartada, conforme apurou a jornalista Angela Bittencourt, do Valor. Mas o BC atuará, nesta fase mais difícil, para melhorar as expectativas.

O câmbio ajuda. Depois de sofrer depreciação de 30% entre setembro de 2011 e setembro de 2012, apreciou mais de 6% desde o início de dezembro, quando o BC decidiu interromper a escalada do dólar e acabar com a expectativa de que a taxa iria a R$ 2,30 ou R$ 2,40. A apreciação dos últimos dois meses foi resultado das intervenções da autoridade no mercado.

O jogo é combinado. Para não pressionar ainda mais a inflação, o governo aumentou a gasolina abaixo do que vinha pedindo a PETROBRAS, mas a apreciação do câmbio diminuiu a defasagem dos preços dos combustíveis. O efeito combinado de reajuste com real mais valorizado impulsiona os investimentos da estatal, que, desta forma, dá sua contribuição para o crescimento do PIB. Com a apreciação do câmbio, as importações ficam mais baratas e o Banco Central tem uma ajuda importante para segurar os preços domésticos.

A PETROBRAS vinha pedindo há tempos autorização para reajustar a gasolina. No debate interno, o BC sempre alegou que a gasolina no Brasil é a mais cara da América Latina e que o ideal seria trabalhar os fatores que provocam uma diferença considerável entre o preço na bomba, para o consumidor, e o preço na refinaria. Enquanto este está abaixo dos valores internacionais, o da bomba é altíssimo.

Importadora de óleo diesel, gasolina e PETRÓLEO leve (mais caro), a PETROBRAS sofreu impactos negativos com a maxidesvalorização do real em 2011 e 2012. A defasagem dos preços estava custando a seus cofres prejuízo mensal estimado em R$ 1,8 bilhão, segundo apurou o repórter Fernando Torres, do Valor. Isso certamente diminuiu a capacidade de investimento da estatal, que responde sozinha por cerca de 8% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do país.

A taxa de investimento da economia, medida pela FBCF, isto é, pela compra de máquinas e equipamentos e pelos gastos com construção, está em queda há cinco trimestres. O reforço de caixa da PETROBRAS pode ser, portanto, um alento nessa área, dada a sua participação na FBCF.

Economistas da Ibiúna Investimentos estimam que, após o reajuste autorizado há duas semanas, a defasagem do preço da gasolina caiu para 7,5%. Se a taxa de câmbio continuasse apreciando, quando chegasse a R$ 1,90, a diferença cairia para 2,6%. Se caísse para R$ 1,85, hipótese neste momento improvável, a defasagem desapareceria.

O BC foi informado antes do percentual de reajuste da gasolina. Tanto que divulgou o percentual (aproximado para 5%) na última ata do Copom, antes do anúncio oficial do reajuste. O BC ficou sabendo antes também que o corte da tarifa de energia seria maior (de 18%, em média) que o previsto inicialmente. Precisava dessas informações para sinalizar, na ata, que as pressões inflacionárias seriam enfrentadas.

Resumindo o enredo, temos que o BC "concordou" com o reajuste da gasolina, mas convenceu o Palácio do Planalto a não autorizar o reajuste solicitado (15%). Em troca, o governo concordou com uma certa apreciação da taxa de câmbio, o que, por sua vez, ajudou a diminuir a defasagem dos preços dos combustíveis, beneficiando a PETROBRAS e o investimento.

O pano de fundo de toda essa trama é: a taxa de juros baixa, uma das principais bandeiras políticas da presidente Dilma Rousseff, continuará na mínima histórica. Até quando? Por um bom tempo.

A taxa de câmbio já se moveu. Caiu de R$ 2,13 (pico de 2012) para R$ 1,97 na sexta-feira passada. A tendência é que fique em torno de R$ 2. Sempre que houver movimentos bruscos para cima ou para baixo, o BC atuará. Mas uma coisa é certa: neste momento, a política de desvalorização deliberada do real para ajudar a indústria está suspensa. A prioridade neste momento é conter a inflação.