O GLOBO - 05/02
Sabe aquelas moças que disputavam no grito os passageiros de táxi que desembarcam no Galeão? Pois bem. A disputa acabou. O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, com o apoio da Infraero, conseguiu um acordo com as empresas de táxi do aeroporto para a criação de um guichê único.
Meninos do Rio
Os atores Monica Bellucci, 48 anos, e Vincent Cassel, 46, vão desfilar na Grande Rio. O casal, como se sabe, adotou o Rio para viver.
Boletim médico
Marco Aurélio Garcia, o assessor de Dilma, está internado desde sábado no Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília.
Tiros na estrada
O coleguinha Alex Escobar, da TV Globo, passou um susto danado na madrugada de domingo, na estrada Grajaú-Jacarepaguá, no Rio. Estava voltando da Lapa com amigos, quando dois homens armados apareceram no meio da estrada querendo assaltá-los. A motorista acelerou e os bandidos atiraram quatro vezes contra o carro.
Vidas secas
Os reservatórios de água do setor elétrico estão em 38%. Ano passado, neste mesmo período, estavam em 80%.
No mais...
Nada justifica as incúrias que se abateram sobre o sistema elétrico brasileiro. Nada mesmo. Mas se tivesse acontecido aqui este apagão de mais de 30 minutos na final do Super Bowl americano, já teria gente pedindo o impeachment do presidente, fosse FH, Lula ou Dilma. Calma, gente!
CARNAVAL SEM PRECONCEITO
“No baile da diversidade, discriminação não entra” é o slogan da campanha de carnaval que o programa Rio Sem Homofobia lança quinta agora. Os panfletos e cartazes, criados pela Target, serão distribuídos em bares, boates e delegacias de toda a cidade. Além disso, o programa estadual contra o preconceito vai montar uma tenda na Central do Brasil, com advogados, psicólogos e assistentes sociais, para atendera vítimas de homofobia. Eu apoio!
Estreia no cinema
Com R$ 50 milhões disponíveis para investimento na produção cinematográfica, a Ancine anuncia hoje 40 projetos beneficiados. A lista inclui 14 diretores estreantes, como Carolina Jabor e Daniel Rezende, e diretores da antiga, como Nelson Pereira dos Santos e Domingos de Oliveira.
Troca na biblioteca
A Rádio Corredor dá como certa a saída de Galeno Amorim da presidência da Fundação Biblioteca Nacional. A ministra da Cultura, Marta Suplicy, já começou a sondar nomes no mercado.
Mas...
Encontrar um substituto não é fácil. A biblioteca passa por uma crise. Seu centenário prédio, na Cinelândia, sofre de problemas de infraestrutura. O ar-condicionado funciona mal. Ano passado, em dias de temporal, a água atingiu o precioso acervo. É pena.
Malas prontas
Caetano Veloso, viva ele!, é o principal convidado do Festival de Sanremo, que começa dia 12 agora. Ele sairá do carnaval de Recife, onde se apresenta, direto para a Itália.
Fundos de pensão
Um grupo de fundos de pensão deve participar junto com Eike Sempre Ele Batista do projeto de construção de um novo bairro onde funcionou o natimorto parque Terra Encantada, na Barra, no Rio.
Papo na esquina...
Eike promete que, diferentemente dos outros condomínios da Barra, o seu terá botequim na esquina, barbearia, sapataria, enfim, um ambiente de rua igual ao dos bairros comuns.
Lívia na Sapucaí
Cláudia Raia vai ser mestre de cerimônia da Beija-Flor. Sairá antes da comissão de frente da escola.
Samba de craque
Arlindo Cruz, Sandra de Sá e André Bocão fizeram um samba em homenagem a Zico, que fará 60 anos. O lançamento é no dia 3 de março, aniversário do ex-craque. A diretoria do Flamengo mandou até fazer uma estátua do ídolo.
A fiscalizadora
A ministra Eliana Calmon, ex-corregedora nacional de Justiça, abrirá a nova temporada de cursos da Casa do Saber, no Rio, na primeira semana de março, com o tema “A fiscalizadora da Justiça”.
Cena carioca
Um passageiro pra lá de especial deu um cansaço danado no pessoal do check-in da TAM no Galeão, às 7h da manhã de sábado. Invocado que só, resolveu que não queria embarcar de jeito nenhum. Fugiu da área de embarque, e até ameaçou outros passageiros que tentavam convencê-lo a partir. Era um poodle, que só foi contido por um batalhão de funcionários com rádios em punho e cabelos em pé.
Ponto Final
Com este calorão todo, entre um dia de chuva e outro, faz sentido o aviso colado na porta da Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, que diz: “Entre, ar-condicionado ligado.” Como se sabe, a coluna já defendeu a beatificação do americano WillisCarrier, o inventor do ar-condicionado, em 1902. Com todo o respeito
terça-feira, fevereiro 05, 2013
É proibido proibir? - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 05/02
Mas como responder aos direitos das "mães de aluguel"? Ou até dos "filhos comprados"?
É um dos vícios do mundo moderno: a crença patética de que tudo é possível, tudo é permissível. Ou, como diziam os filhos do maio de 68, é proibido proibir.
Um caso ilustra esse vício com arrepiante precisão: as "barrigas de aluguel".
Li a excelente matéria de Patrícia Campos Mello publicada nesta Folha no domingo. E entendo a pergunta que anima o negócio: se um casal não pode ter filhos por infertilidade da mulher, por que não contratar os serviços de uma "mãe de aluguel", que terá o seu óvulo fecundado pelo espermatozoide do pai adotivo?
Na Índia, a pergunta virou turismo: só na cidade de Anand, conta a jornalista, nasce uma criança a cada três dias para "exportação". Os "clientes" costumam ser americanos, britânicos, japoneses, canadenses. Mas também há brasileiros na lista de espera. Que dizer do cortejo?
Começo pelas questões éticas básicas: será que um filho deve ser comprado (US$ 20 mil na Índia) como se compra uma mala Louis Vuitton ou um par de sapatos Manolo Blahnik?
E será legítimo, ó consciências progressistas, transformar as pobres do mundo em incubadoras dos filhos dos ricos? Não é preciso ter lido Kant para saber que os seres humanos devem ser tratados como um fim em si, não como um meio para.
Fato: o negócio é voluntário. Todas as partes participam dele com "autonomia", para usar ainda a linguagem kantiana. Mas o argumento da autonomia, mil perdões, não chega.
Se chegasse, nada impediria que um ser humano optasse autonomamente por ser escravo de outro. Vamos permitir o regresso da escravidão, mesmo que voluntária, desde que o escravo e o seu senhor exerçam os seus papéis autonomamente?
Não creio. Até porque falar em "autonomia" para gente em situação de pobreza extrema não passa de uma piada de mau gosto: a "mãe de aluguel" indiana e a mãe adotiva americana não habitam o mesmo planeta. A segunda escolhe comprar porque pode. A primeira praticamente é forçada a vender pela miséria da sua situação.
Na discussão das "barrigas de aluguel", parece que só os direitos das mães adotivas têm verdadeira força ética -o direito a serem felizes; o direito a terem filhos; o direito a comprá-los; e etc. etc.
Mas como responder aos direitos das "mães de aluguel"? Ou até dos "filhos comprados"? Será que essas duas entidades têm direitos, no sentido prosaico do termo?
Tempos atrás, quando em Portugal se debatia a "maternidade de substituição" (um processo semelhante às "barrigas de aluguel", mas sem dinheiro envolvido), lembro-me de formular algumas questões a respeito que se aplicam com maior força às "mães de aluguel" a aos "filhos comprados" de Anand.
Que direitos terá uma "mãe de aluguel" depois de entregar o filho biológico ao casal adotivo? Poderá visitar a criança? Será obrigada a afastar-se dela? Como? Por quê? Com que legitimidade?
E se, durante a gestação, a "mãe de aluguel" se recusar a entregar o filho porque desenvolveu uma ligação emocional com ele? Haverá forma de a coagir a cumprir o negócio? Em caso afirmativo, será isso tolerável? Será, no mínimo, decente?
Melhor ainda: o que acontece, para citar alguns casos que ficaram célebres nos Estados Unidos, quando o feto apresenta uma malformação uterina e a mãe adotiva pretender abortá-lo contra a vontade da "mãe de aluguel"? Pode? Não pode? Deve? Não deve?
Sem falar do próprio filho, aqui transformado em mero brinquedo sem rosto ou dignidade própria. Quais são as consequências para uma criança quando ela é separada precocemente da sua mãe biológica? Que impacto isso terá no seu desenvolvimento psicológico ou social? Alguém sabe? Alguém se interessa?
Aliás, como irá essa criança reagir quando, mais tarde, ela souber que foi o produto de uma "encomenda"? Será que deve saber? Será que não deve?
As perguntas não são apenas minhas. Elas encontram-se na vastíssima literatura ética sobre o assunto -e cada uma dessas perguntas foi motivada por um drama concreto, vivido por gente concreta, que entrou no negócio por acreditar que um filho é precisamente isso: um negócio.
Não é. Exceto para cabeças ocas que transformam qualquer desejo em "direito" -e qualquer "direito" em exploração dos mais pobres.
Mas como responder aos direitos das "mães de aluguel"? Ou até dos "filhos comprados"?
É um dos vícios do mundo moderno: a crença patética de que tudo é possível, tudo é permissível. Ou, como diziam os filhos do maio de 68, é proibido proibir.
Um caso ilustra esse vício com arrepiante precisão: as "barrigas de aluguel".
Li a excelente matéria de Patrícia Campos Mello publicada nesta Folha no domingo. E entendo a pergunta que anima o negócio: se um casal não pode ter filhos por infertilidade da mulher, por que não contratar os serviços de uma "mãe de aluguel", que terá o seu óvulo fecundado pelo espermatozoide do pai adotivo?
Na Índia, a pergunta virou turismo: só na cidade de Anand, conta a jornalista, nasce uma criança a cada três dias para "exportação". Os "clientes" costumam ser americanos, britânicos, japoneses, canadenses. Mas também há brasileiros na lista de espera. Que dizer do cortejo?
Começo pelas questões éticas básicas: será que um filho deve ser comprado (US$ 20 mil na Índia) como se compra uma mala Louis Vuitton ou um par de sapatos Manolo Blahnik?
E será legítimo, ó consciências progressistas, transformar as pobres do mundo em incubadoras dos filhos dos ricos? Não é preciso ter lido Kant para saber que os seres humanos devem ser tratados como um fim em si, não como um meio para.
Fato: o negócio é voluntário. Todas as partes participam dele com "autonomia", para usar ainda a linguagem kantiana. Mas o argumento da autonomia, mil perdões, não chega.
Se chegasse, nada impediria que um ser humano optasse autonomamente por ser escravo de outro. Vamos permitir o regresso da escravidão, mesmo que voluntária, desde que o escravo e o seu senhor exerçam os seus papéis autonomamente?
Não creio. Até porque falar em "autonomia" para gente em situação de pobreza extrema não passa de uma piada de mau gosto: a "mãe de aluguel" indiana e a mãe adotiva americana não habitam o mesmo planeta. A segunda escolhe comprar porque pode. A primeira praticamente é forçada a vender pela miséria da sua situação.
Na discussão das "barrigas de aluguel", parece que só os direitos das mães adotivas têm verdadeira força ética -o direito a serem felizes; o direito a terem filhos; o direito a comprá-los; e etc. etc.
Mas como responder aos direitos das "mães de aluguel"? Ou até dos "filhos comprados"? Será que essas duas entidades têm direitos, no sentido prosaico do termo?
Tempos atrás, quando em Portugal se debatia a "maternidade de substituição" (um processo semelhante às "barrigas de aluguel", mas sem dinheiro envolvido), lembro-me de formular algumas questões a respeito que se aplicam com maior força às "mães de aluguel" a aos "filhos comprados" de Anand.
Que direitos terá uma "mãe de aluguel" depois de entregar o filho biológico ao casal adotivo? Poderá visitar a criança? Será obrigada a afastar-se dela? Como? Por quê? Com que legitimidade?
E se, durante a gestação, a "mãe de aluguel" se recusar a entregar o filho porque desenvolveu uma ligação emocional com ele? Haverá forma de a coagir a cumprir o negócio? Em caso afirmativo, será isso tolerável? Será, no mínimo, decente?
Melhor ainda: o que acontece, para citar alguns casos que ficaram célebres nos Estados Unidos, quando o feto apresenta uma malformação uterina e a mãe adotiva pretender abortá-lo contra a vontade da "mãe de aluguel"? Pode? Não pode? Deve? Não deve?
Sem falar do próprio filho, aqui transformado em mero brinquedo sem rosto ou dignidade própria. Quais são as consequências para uma criança quando ela é separada precocemente da sua mãe biológica? Que impacto isso terá no seu desenvolvimento psicológico ou social? Alguém sabe? Alguém se interessa?
Aliás, como irá essa criança reagir quando, mais tarde, ela souber que foi o produto de uma "encomenda"? Será que deve saber? Será que não deve?
As perguntas não são apenas minhas. Elas encontram-se na vastíssima literatura ética sobre o assunto -e cada uma dessas perguntas foi motivada por um drama concreto, vivido por gente concreta, que entrou no negócio por acreditar que um filho é precisamente isso: um negócio.
Não é. Exceto para cabeças ocas que transformam qualquer desejo em "direito" -e qualquer "direito" em exploração dos mais pobres.
Depois, o show continua - LUIZ GARCIA
O Globo - 05/02
O noticiário dos jornais sobre as consequências do incêndio na boate Kiss, no Rio Grande do Sul, tem um tema predominante: as providências que estão sendo tomadas em outros estados para evitar tragédias semelhantes.
Ainda bem: é sempre sensato correr na frente do prejuízo. Aqui, por exemplo, o governo estadual e a prefeitura carioca decidiram suspender os espetáculos em 49 espaços culturais, que incluem 13 teatros, que funcionam sem autorização dos bombeiros. A plateia agradece. Mas os cidadãos mais sensatos não podem evitar a pergunta óbvia: porque isso só acontece ante o impacto de uma tragédia?
Pode-se dizer que a reação das autoridades locais foi imediata e ágil. Mas não é possível esquecer que uma das tarefas mais importantes dos governos é prever problemas e desastres. Reagir também, mas só em face do inesperado, do imprevisível.
O cidadão carioca acaba de descobrir - por notícia no jornal, não por informação oficial - que o Rio tinha, até agora, quase 50 teatros e outros estabelecimentos públicos esperando por sua presença, mas não merecendo até agora a visita, por não garantir a sua segurança. É possível - talvez provável - que alguns empresários não sejam aprovados pelos bombeiros, e não seria má ideia, para que ficasse o exemplo, que sofram alguma forma de punição.
É uma tristeza que, inesperadamente, a cidade esteja privada - por curto tempo, esperamos todos - de casas importantes como Carlos Gomes, Maria Clara Machado e Ziembinski. Sem falar numa quantidade de museus e bibliotecas.
A Prefeitura carioca promete compensar financeiramente os empresários teatrais prejudicados com a suspensão dos espetáculos. É uma generosidade com restrições, ainda não especificadas.
São decisões corretas: um dos deveres do poder público é proteger e estimular atividades culturais - e o teatro certamente seria incluído entre as mais importantes, na hipótese ridícula de que existisse alguma ordem de importância entre as artes.
Enfim, o carioca terá de sofrer um jejum desagradável - mas por uma boa causa. Serão apenas 20 dias, tempo considerado necessário para uma vistoria em todas as casas de espetáculos. Depois, o show continua.
O noticiário dos jornais sobre as consequências do incêndio na boate Kiss, no Rio Grande do Sul, tem um tema predominante: as providências que estão sendo tomadas em outros estados para evitar tragédias semelhantes.
Ainda bem: é sempre sensato correr na frente do prejuízo. Aqui, por exemplo, o governo estadual e a prefeitura carioca decidiram suspender os espetáculos em 49 espaços culturais, que incluem 13 teatros, que funcionam sem autorização dos bombeiros. A plateia agradece. Mas os cidadãos mais sensatos não podem evitar a pergunta óbvia: porque isso só acontece ante o impacto de uma tragédia?
Pode-se dizer que a reação das autoridades locais foi imediata e ágil. Mas não é possível esquecer que uma das tarefas mais importantes dos governos é prever problemas e desastres. Reagir também, mas só em face do inesperado, do imprevisível.
O cidadão carioca acaba de descobrir - por notícia no jornal, não por informação oficial - que o Rio tinha, até agora, quase 50 teatros e outros estabelecimentos públicos esperando por sua presença, mas não merecendo até agora a visita, por não garantir a sua segurança. É possível - talvez provável - que alguns empresários não sejam aprovados pelos bombeiros, e não seria má ideia, para que ficasse o exemplo, que sofram alguma forma de punição.
É uma tristeza que, inesperadamente, a cidade esteja privada - por curto tempo, esperamos todos - de casas importantes como Carlos Gomes, Maria Clara Machado e Ziembinski. Sem falar numa quantidade de museus e bibliotecas.
A Prefeitura carioca promete compensar financeiramente os empresários teatrais prejudicados com a suspensão dos espetáculos. É uma generosidade com restrições, ainda não especificadas.
São decisões corretas: um dos deveres do poder público é proteger e estimular atividades culturais - e o teatro certamente seria incluído entre as mais importantes, na hipótese ridícula de que existisse alguma ordem de importância entre as artes.
Enfim, o carioca terá de sofrer um jejum desagradável - mas por uma boa causa. Serão apenas 20 dias, tempo considerado necessário para uma vistoria em todas as casas de espetáculos. Depois, o show continua.
Negação e racionalização - FRANCISCO DAUDT
FOLHA DE SP - 05/02
Precisamos de mecanismos de defesa que nos protejam do excesso de realidade e da consciência da morte
Um cliente me explicou que, quando Hitler começou sua ascensão ao poder, os judeus alemães se dividiram em três grupos: o primeiro, de baixo teor de negação, anteviu o desastre e se mandou; o segundo, em que a negação conversava com a racionalização ("Afinal, não pode ser tão ruim, ele está melhorando a Alemanha". "É, mas o discurso dele é autoritário, e você sabe como ele se sente em relação aos judeus". "Mas nós ainda somos uma democracia, podemos fazer alguma coisa"), escapou por um triz, na última hora.
O terceiro negou até o fim e acabou nos Auschwitz da morte.
Negação e racionalização fazem um par de mecanismos de defesa automáticos, necessários para nossa saúde mental, mas que se tornam doença quando passam do ponto.
Precisamos de mecanismos de defesa que nos protejam do excesso de realidade. Sem eles, a consciência da morte nos deixaria imobilizados, e ninguém entraria num avião (duas violências contra nossos instintos: confinamento e altura).
Veja a conversa dos dois: "Não vai acontecer nada", diz a negação. "O avião é a maneira mais segura de viajar, já pensou quantos voos partem e chegam ao destino, inteiros por dia?", diz a racionalização.
Há uma negociação permanente, uma avaliação de custos e benefícios que usa esses mecanismos: "Risco há, mas pequeno". "E, depois, eu chego a Paris". "Logo comigo vai acontecer alguma coisa?". É raro que tomemos consciência desse diálogo interno, mas ele se dá, praticamente, a cada ação humana.
Esses mecanismos nos defendem das ameaças que vêm de outro programa mental, o superego. Ele nasce conosco para nos dar medo de perigos ancestrais (escuro, altura, confinamento, cobras e insetos voadores, por exemplo). Não se tem medo de automóveis, é coisa muito nova para o superego ter absorvido.
Alimentado por nossa criação, ele pode ser um crítico exigente e severo, sempre a nos julgar mal e a nos ameaçar com a imaginação das piores coisas. Nessa hora, entram os mecanismos de defesa, para abafá-lo.
Vivemos um equilíbrio delicado: se o superego passa do ponto (como quando pensamos em problemas no escuro da noite insone ou em situações de estresse), somos capazes de adoecer de depressão, de vícios ou de loucura (mecanismos de defesa graves).
Se esses mecanismos passam do ponto, podemos desconsiderar perigos e acabar como os judeus de Auschwitz.
A presidente falando na TV me apavorou. Além de vender uma negação absurda (só pensam em racionamento os inimigos do Brasil), ela dividiu o país em dois grupos: "nós" (patriotas e apoiadores do governo/país) e "eles" (pessimistas, críticos do governo/país, que ela parece pensar como uma só coisa).
Uma espécie de "Brasil, ame-o ou deixe-o". Médici não faria melhor.
Sou um "deles". Em que grupo de judeus estarei eu? Acho que no segundo. "Ainda somos uma democracia". "Mas, e a Venezuela, que essa turma adora?". "Olha o Supremo!". "Olha o Congresso...". "Mas tem a oposição". "Que oposição?".
Está bem, vou ficando, fazendo o que posso, mas de olho!
Precisamos de mecanismos de defesa que nos protejam do excesso de realidade e da consciência da morte
Um cliente me explicou que, quando Hitler começou sua ascensão ao poder, os judeus alemães se dividiram em três grupos: o primeiro, de baixo teor de negação, anteviu o desastre e se mandou; o segundo, em que a negação conversava com a racionalização ("Afinal, não pode ser tão ruim, ele está melhorando a Alemanha". "É, mas o discurso dele é autoritário, e você sabe como ele se sente em relação aos judeus". "Mas nós ainda somos uma democracia, podemos fazer alguma coisa"), escapou por um triz, na última hora.
O terceiro negou até o fim e acabou nos Auschwitz da morte.
Negação e racionalização fazem um par de mecanismos de defesa automáticos, necessários para nossa saúde mental, mas que se tornam doença quando passam do ponto.
Precisamos de mecanismos de defesa que nos protejam do excesso de realidade. Sem eles, a consciência da morte nos deixaria imobilizados, e ninguém entraria num avião (duas violências contra nossos instintos: confinamento e altura).
Veja a conversa dos dois: "Não vai acontecer nada", diz a negação. "O avião é a maneira mais segura de viajar, já pensou quantos voos partem e chegam ao destino, inteiros por dia?", diz a racionalização.
Há uma negociação permanente, uma avaliação de custos e benefícios que usa esses mecanismos: "Risco há, mas pequeno". "E, depois, eu chego a Paris". "Logo comigo vai acontecer alguma coisa?". É raro que tomemos consciência desse diálogo interno, mas ele se dá, praticamente, a cada ação humana.
Esses mecanismos nos defendem das ameaças que vêm de outro programa mental, o superego. Ele nasce conosco para nos dar medo de perigos ancestrais (escuro, altura, confinamento, cobras e insetos voadores, por exemplo). Não se tem medo de automóveis, é coisa muito nova para o superego ter absorvido.
Alimentado por nossa criação, ele pode ser um crítico exigente e severo, sempre a nos julgar mal e a nos ameaçar com a imaginação das piores coisas. Nessa hora, entram os mecanismos de defesa, para abafá-lo.
Vivemos um equilíbrio delicado: se o superego passa do ponto (como quando pensamos em problemas no escuro da noite insone ou em situações de estresse), somos capazes de adoecer de depressão, de vícios ou de loucura (mecanismos de defesa graves).
Se esses mecanismos passam do ponto, podemos desconsiderar perigos e acabar como os judeus de Auschwitz.
A presidente falando na TV me apavorou. Além de vender uma negação absurda (só pensam em racionamento os inimigos do Brasil), ela dividiu o país em dois grupos: "nós" (patriotas e apoiadores do governo/país) e "eles" (pessimistas, críticos do governo/país, que ela parece pensar como uma só coisa).
Uma espécie de "Brasil, ame-o ou deixe-o". Médici não faria melhor.
Sou um "deles". Em que grupo de judeus estarei eu? Acho que no segundo. "Ainda somos uma democracia". "Mas, e a Venezuela, que essa turma adora?". "Olha o Supremo!". "Olha o Congresso...". "Mas tem a oposição". "Que oposição?".
Está bem, vou ficando, fazendo o que posso, mas de olho!
Ueba! O Pato virou coelho! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 05/02
A gente cria apego. Eu cresci vendo o Sarney pela televisão. O Sarney e a Xuxa! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Adorei a charge do Paixão! Sabe o que o Sarney falou pro Renan? "Cuida bem, que eu volto já!" Saudades do Sarney! A gente cria apego. Eu cresci vendo o Sarney pela televisão. O Sarney e a Xuxa! Rarará!
E olha o e-mail que recebi de um baiano: "O Carnaval tá quase acabando e você não veio!". É que hoje, no Nordeste, se você ligar um liquidificador, sai todo mundo correndo atrás pensando que é trio elétrico!
E o gol do Pato? Gol miojo! Entrou em campo e, no primeiro chute, gol! É pato ou coelho? O Pato virou coelho! Será que ele faz gol a jato na filha do Berlusconi também? Pato com ejaculação precoce! Ops, artilharia precoce. Pato, o artilheiro mais rápido do Oeste.
Uns estão chamando o Pato de "O Iluminado". Outros dizem que o Pato fez gol porque a bola era de fisioterapia. Rarará!
E como disse um cara no Twitter: "O Pato é tão bom em estreia que acho que comeu a filha do Berlusconi no primeiro encontro!". Rarará! E o pensamento do dia: enquanto o Pato brilha, o Ganso afoga! Granja News! Rarará!
E o PMDB! E aquele Henrique Alves do PMDB é o virtual novo presidente da Câmara. Com 11 mandatos. Onze mandatos? Então só de um minuto de silêncio ele deve ter uns cinco anos!
E esta: "Alves do PMDB espera uma vitória bonita". A única vitória bonita do PMDB é a mulher do Michel Temer. Rarará!
E PMDB quer dizer Pegamos Ministérios de Baciada.
É sempre assim: o PMDB quer o Ministério da Saúde, da Doença, das Férias, o pipoqueiro da praça dos Três Poderes e indicação de três filhos pro "BBB 14"!
E eu tenho uma amiga que tá tão barriguda que fez uma lipo desesperação. E um amigo foi com a namorada pro motel, tirou a cueca e disse: "É pequeno, mas é de coração". Rarará!
E esta: "Apagão de 34 minutos no Super Bowl". Imagina na Copa! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha a placa num portão em São Paulo: "Interfone Quebrado! Favor bater palmas e gritar desesperadamente".
E este restaurante de beira de estrada em Extrema, Minas: "Hoje! Costelinha com barbicu". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
simao@uol.com.br
A gente cria apego. Eu cresci vendo o Sarney pela televisão. O Sarney e a Xuxa! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Adorei a charge do Paixão! Sabe o que o Sarney falou pro Renan? "Cuida bem, que eu volto já!" Saudades do Sarney! A gente cria apego. Eu cresci vendo o Sarney pela televisão. O Sarney e a Xuxa! Rarará!
E olha o e-mail que recebi de um baiano: "O Carnaval tá quase acabando e você não veio!". É que hoje, no Nordeste, se você ligar um liquidificador, sai todo mundo correndo atrás pensando que é trio elétrico!
E o gol do Pato? Gol miojo! Entrou em campo e, no primeiro chute, gol! É pato ou coelho? O Pato virou coelho! Será que ele faz gol a jato na filha do Berlusconi também? Pato com ejaculação precoce! Ops, artilharia precoce. Pato, o artilheiro mais rápido do Oeste.
Uns estão chamando o Pato de "O Iluminado". Outros dizem que o Pato fez gol porque a bola era de fisioterapia. Rarará!
E como disse um cara no Twitter: "O Pato é tão bom em estreia que acho que comeu a filha do Berlusconi no primeiro encontro!". Rarará! E o pensamento do dia: enquanto o Pato brilha, o Ganso afoga! Granja News! Rarará!
E o PMDB! E aquele Henrique Alves do PMDB é o virtual novo presidente da Câmara. Com 11 mandatos. Onze mandatos? Então só de um minuto de silêncio ele deve ter uns cinco anos!
E esta: "Alves do PMDB espera uma vitória bonita". A única vitória bonita do PMDB é a mulher do Michel Temer. Rarará!
E PMDB quer dizer Pegamos Ministérios de Baciada.
É sempre assim: o PMDB quer o Ministério da Saúde, da Doença, das Férias, o pipoqueiro da praça dos Três Poderes e indicação de três filhos pro "BBB 14"!
E eu tenho uma amiga que tá tão barriguda que fez uma lipo desesperação. E um amigo foi com a namorada pro motel, tirou a cueca e disse: "É pequeno, mas é de coração". Rarará!
E esta: "Apagão de 34 minutos no Super Bowl". Imagina na Copa! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha a placa num portão em São Paulo: "Interfone Quebrado! Favor bater palmas e gritar desesperadamente".
E este restaurante de beira de estrada em Extrema, Minas: "Hoje! Costelinha com barbicu". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
simao@uol.com.br
De volta do Planeta Férias - TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 05/02
Trinta dias fora da órbita do noticiário nacional deixa qualquer um atordoado no retorno às bancas de jornal. Particularmente, fiquei de cara com a impressão de que, embora uma tragédia não tenha nada a ver com a outra, a volta indecorosa de Renan Calheiros à presidência do Senado acabou se beneficiando da sombra de indignação que a fumaça de Santa Maria espalhou pelo País.
Embalada pelas gargalhadas de Collor, Jader & Cia, a sucessão de José Sarney seria por si só afronta suficiente para deflagrar a primeira grande gritaria do ano contra tudo-isso-que-aí-está, não fosse a concorrência do absurdo insuperável que lidera o ranking de más notícias de 2013, quiçá da década.
A urgência do fim do mundo detectado em uma boate a 2.093 quilômetros da Praça dos Três Poderes desviou o foco do combate à esculhambação federal que assola o País.
Todo poder ao Corpo de Bombeiros, mas é pouco provável que uma fiscalização mais rigorosa dos ambientes públicos no Brasil leve ao fechamento do Congresso.
Se bem que, no momento, seria fácil culpar meia dúzia de extintores vencidos pela interdição da casa, né não?!
De alta
Fidel Castro teve bons motivos para reaparecer em público pela primeira vez em 2 anos: "Quem está de cama em Havana é o Hugo Chávez!"
Lava a jato
O mau tempo tem sido camarada com o pré-carnaval carioca. Todo domingo cai uma chuvarada à tardinha para lavar o xixi no rastro dos blocos. Já se fala na cidade que a Prefeitura teria encomendado o serviço ao Cacique Cobra Coral.
Voz do povo
Corre entre os fãs do Big Brother Brasil 13 a suspeita de que o pernambucano Aslan foi eliminado no último paredão por ter se emocionado em demasia com o documentário Jorge Mautner - O Filho do Holocausto, dirigido por Pedro Bial e exibido de véspera no jardim da "casa". O povo achou tudo aquilo muito estranho!
Blecaute
Imagine uma decisão do Campeonato Brasileiro interrompida durante 34 minutos por causa de um apagão no estádio. Aconteceu na 47.ª edição do Super Bowl, a grande final do futebol americano. Essas coisas a oposição não vê - ô, raça!
Pobre Bill!
Depois de quatro anos cumprindo agenda de secretária de Estado em visitas a 112 países, Hillary Clinton acordou ontem sem ter nada pra fazer em casa. Já viu, né?
Dúvida real
Levantamento em clínicas de cirurgia plástica da Grã-Bretanha revela que, em matéria de padrão de beleza, as britânicas não sabem o que querem, se o nariz da Kate Middleton ou o bumbum da irmã dela.
Tática de guerrilha
Marília Gabriela levou o namorado italiano Riccardo de Angelis no domingo ao show de Baby do Brasil. Isso quer dizer o seguinte: a jornalista deve estar doida para ficar solteira de novo!
Trinta dias fora da órbita do noticiário nacional deixa qualquer um atordoado no retorno às bancas de jornal. Particularmente, fiquei de cara com a impressão de que, embora uma tragédia não tenha nada a ver com a outra, a volta indecorosa de Renan Calheiros à presidência do Senado acabou se beneficiando da sombra de indignação que a fumaça de Santa Maria espalhou pelo País.
Embalada pelas gargalhadas de Collor, Jader & Cia, a sucessão de José Sarney seria por si só afronta suficiente para deflagrar a primeira grande gritaria do ano contra tudo-isso-que-aí-está, não fosse a concorrência do absurdo insuperável que lidera o ranking de más notícias de 2013, quiçá da década.
A urgência do fim do mundo detectado em uma boate a 2.093 quilômetros da Praça dos Três Poderes desviou o foco do combate à esculhambação federal que assola o País.
Todo poder ao Corpo de Bombeiros, mas é pouco provável que uma fiscalização mais rigorosa dos ambientes públicos no Brasil leve ao fechamento do Congresso.
Se bem que, no momento, seria fácil culpar meia dúzia de extintores vencidos pela interdição da casa, né não?!
De alta
Fidel Castro teve bons motivos para reaparecer em público pela primeira vez em 2 anos: "Quem está de cama em Havana é o Hugo Chávez!"
Lava a jato
O mau tempo tem sido camarada com o pré-carnaval carioca. Todo domingo cai uma chuvarada à tardinha para lavar o xixi no rastro dos blocos. Já se fala na cidade que a Prefeitura teria encomendado o serviço ao Cacique Cobra Coral.
Voz do povo
Corre entre os fãs do Big Brother Brasil 13 a suspeita de que o pernambucano Aslan foi eliminado no último paredão por ter se emocionado em demasia com o documentário Jorge Mautner - O Filho do Holocausto, dirigido por Pedro Bial e exibido de véspera no jardim da "casa". O povo achou tudo aquilo muito estranho!
Blecaute
Imagine uma decisão do Campeonato Brasileiro interrompida durante 34 minutos por causa de um apagão no estádio. Aconteceu na 47.ª edição do Super Bowl, a grande final do futebol americano. Essas coisas a oposição não vê - ô, raça!
Pobre Bill!
Depois de quatro anos cumprindo agenda de secretária de Estado em visitas a 112 países, Hillary Clinton acordou ontem sem ter nada pra fazer em casa. Já viu, né?
Dúvida real
Levantamento em clínicas de cirurgia plástica da Grã-Bretanha revela que, em matéria de padrão de beleza, as britânicas não sabem o que querem, se o nariz da Kate Middleton ou o bumbum da irmã dela.
Tática de guerrilha
Marília Gabriela levou o namorado italiano Riccardo de Angelis no domingo ao show de Baby do Brasil. Isso quer dizer o seguinte: a jornalista deve estar doida para ficar solteira de novo!
O Congresso mais próximo da sociedade - RENAN CALHEIROS
FOLHA DE SP - 05/02
Sou cativo da liberdade de expressão. Sei como foi duro reconquistá-la e tenho especial orgulho de ter contribuído para isso
O Brasil está no meio do caminho entre os países em desenvolvimento e as grandes potências. O Congresso Nacional tem responsabilidades nesse processo. Além de olharmos para os aprimoramentos administrativos internos, devemos trabalhar como facilitadores dos investimentos no Brasil.
Durante a eleição para a presidência do Senado, apresentamos quatro prioridades para o Congresso Nacional. A primeira delas, de ordem interna, prevê o aprofundamento da austeridade. Vamos cortar gastos, fundindo ou extinguindo órgãos da instituição. Esse planejamento terá metas, prazos e parâmetros que possam ser acompanhados e cobrados pela sociedade.
De outro lado, vamos elaborar uma agenda prioritária, reunindo projetos que representem desburocratização, regulamentações e proposições que facilitem o ambiente de investimentos, o chamado Brasil mais fácil. O Congresso Nacional também buscará com trabalhadores, empresários e a sociedade civil as sugestões que visem eliminar todos os gargalos existentes no país.
Outra iniciativa, aproximando o Senado da sociedade, cria -sem custos, apenas com remanejamentos internos- uma secretaria de transparência. Ela irá coordenar as ações para atender as demandas da Lei de Acesso à Informação. Assim como aconteceu na acessibilidade, seremos, em breve, uma referência nesse campo: a instituição mais transparente do país.
Outro passo relevante é a defesa do nosso modelo democrático, a fim de impedir a ameaça à liberdade de expressão, como vem ocorrendo em alguns países. O chamado inverno andino não ultrapassará nossas fronteiras.
A imprensa livre é pedra angular da democracia e a tentativa de controle a qualquer pretexto é inadmissível. A liberdade de expressão é um dos nossos direitos mais preciosos. Temos que nos inspirar, sim, nas brisas de uma primavera democrática e criar uma barreira contra os calafrios provocados pelo inverno andino. Vamos criar uma trincheira sólida, se preciso legal, a fim de barrar a passagem desses ares gélidos e soturnos.
Em governos democráticos, não deve haver nenhuma pretensão de se imiscuir no conteúdo dos jornais, nem nas atividades dos jornalistas. Por isso, uma imprensa livre precisa ter a proteção do Estado.
Do ponto de vista conceitual, a liberdade de manifestação do pensamento, além de direito natural do homem, é premissa elementar às demais liberdades: política, econômica, de associação e de credo religioso. Não por outra razão, as nações livres não mexem nesse alicerce, mestre de todas as liberdades.
A invenção da imprensa tem uma contribuição insubstituível para a democracia. Ela está na gênese da multiplicação do conhecimento e, consequentemente, da própria democracia. Gutenberg, ao inventar a imprensa, derrubou o monopólio obscurantista da informação e a popularizou nos jornais. Informação e conhecimento sempre foram sinônimos de poder e capacidade de libertação, e aqueles que os têm exercem grande influência em seu meio.
Ao retirar-se o controle da informação das mãos da elite de outrora e da Igreja -distribuindo-a pela sociedade-, a humanidade evoluiu admiravelmente e as pessoas passaram a conquistar autonomia para decidir seus rumos e os destinos da comunidade onde viviam.
Sou cativo da liberdade de expressão. Sei como foi duro reconquistá-la e tenho especial orgulho de ter contribuído para isso, como deputado federal constituinte, em 1988, inserindo na nossa Carta Magna a liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Sou cativo da liberdade de expressão. Sei como foi duro reconquistá-la e tenho especial orgulho de ter contribuído para isso
O Brasil está no meio do caminho entre os países em desenvolvimento e as grandes potências. O Congresso Nacional tem responsabilidades nesse processo. Além de olharmos para os aprimoramentos administrativos internos, devemos trabalhar como facilitadores dos investimentos no Brasil.
Durante a eleição para a presidência do Senado, apresentamos quatro prioridades para o Congresso Nacional. A primeira delas, de ordem interna, prevê o aprofundamento da austeridade. Vamos cortar gastos, fundindo ou extinguindo órgãos da instituição. Esse planejamento terá metas, prazos e parâmetros que possam ser acompanhados e cobrados pela sociedade.
De outro lado, vamos elaborar uma agenda prioritária, reunindo projetos que representem desburocratização, regulamentações e proposições que facilitem o ambiente de investimentos, o chamado Brasil mais fácil. O Congresso Nacional também buscará com trabalhadores, empresários e a sociedade civil as sugestões que visem eliminar todos os gargalos existentes no país.
Outra iniciativa, aproximando o Senado da sociedade, cria -sem custos, apenas com remanejamentos internos- uma secretaria de transparência. Ela irá coordenar as ações para atender as demandas da Lei de Acesso à Informação. Assim como aconteceu na acessibilidade, seremos, em breve, uma referência nesse campo: a instituição mais transparente do país.
Outro passo relevante é a defesa do nosso modelo democrático, a fim de impedir a ameaça à liberdade de expressão, como vem ocorrendo em alguns países. O chamado inverno andino não ultrapassará nossas fronteiras.
A imprensa livre é pedra angular da democracia e a tentativa de controle a qualquer pretexto é inadmissível. A liberdade de expressão é um dos nossos direitos mais preciosos. Temos que nos inspirar, sim, nas brisas de uma primavera democrática e criar uma barreira contra os calafrios provocados pelo inverno andino. Vamos criar uma trincheira sólida, se preciso legal, a fim de barrar a passagem desses ares gélidos e soturnos.
Em governos democráticos, não deve haver nenhuma pretensão de se imiscuir no conteúdo dos jornais, nem nas atividades dos jornalistas. Por isso, uma imprensa livre precisa ter a proteção do Estado.
Do ponto de vista conceitual, a liberdade de manifestação do pensamento, além de direito natural do homem, é premissa elementar às demais liberdades: política, econômica, de associação e de credo religioso. Não por outra razão, as nações livres não mexem nesse alicerce, mestre de todas as liberdades.
A invenção da imprensa tem uma contribuição insubstituível para a democracia. Ela está na gênese da multiplicação do conhecimento e, consequentemente, da própria democracia. Gutenberg, ao inventar a imprensa, derrubou o monopólio obscurantista da informação e a popularizou nos jornais. Informação e conhecimento sempre foram sinônimos de poder e capacidade de libertação, e aqueles que os têm exercem grande influência em seu meio.
Ao retirar-se o controle da informação das mãos da elite de outrora e da Igreja -distribuindo-a pela sociedade-, a humanidade evoluiu admiravelmente e as pessoas passaram a conquistar autonomia para decidir seus rumos e os destinos da comunidade onde viviam.
Sou cativo da liberdade de expressão. Sei como foi duro reconquistá-la e tenho especial orgulho de ter contribuído para isso, como deputado federal constituinte, em 1988, inserindo na nossa Carta Magna a liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
Hegemonia? - FABIANO SANTOS
O Globo - 05/02
Duas questões relevantes e interligadas surgem deste início de ano legislativo: que impacto o controle das duas Casas legislativas pelo PMDB pode causar sobre a dinâmica política? Mais especificamente, em que medida ver-se-iam alterados os fundamentos das relações entre o Executivo e o Legislativo?
É importante assinalar, antes de mais nada, que o cenário que desponta é o de continuidade. As escolhas de Renan Calheiros e Henrique Alves não resultam de um realinhamento de forças na base governista nem de movimentos inesperados do chamado "baixo clero". Tratou-se, nos dois casos, da consagração de entendimentos entre as lideranças do Legislativo a respeito de como conduzir o processo político intramuros.
Os parâmetros das relações entre Executivo e Legislativo tampouco devem sofrer modificação digna de nota. Presidir uma Casa legislativa conta pouco quando o quadro partidário se caracteriza pela pluralidade de forças. Nenhuma proposição relevante é levada a voto sem que os principais parceiros da coalizão dominante concordem sobre seus termos mínimos. Partidos outros que não o PMDB controlarão postos de central importância no Legislativo, como é o caso da presidência de algumas comissões. Isto não quer dizer que o governo encontrará um contexto de plena calmaria no Congresso. Todavia, não há motivo para que se espere aumento significativo no grau de conflito de perspectivas e de interesse entre os dois Poderes do primeiro biênio para o atual.
Indagação final, igualmente legítima, diz respeito ao histórico de denúncias de que são alvos os recém-eleitos presidentes. Diversas preocupações surgem, desde aquelas ligadas à imagem institucional do Legislativo, até as de ordem mais pragmática, vinculadas à condução do processo político rotineiro do Congresso. Difícil especular sobre o que pode ocorrer quando não apenas a dimensão pública dos personagens da política está em jogo. O que se sabe é que ambos são parlamentares de longuíssima carreira no Legislativo. Poucos conhecem tão bem como funciona a atividade parlamentar no Brasil.
Como quase todas as decisões cruciais da vida, a escolha de líderes importa benefícios e riscos. Os parlamentares parecem ter optado pelo risco da multiplicação de denúncias, com as quais estão habituados, do que conceder a prerrogativa de conduzir o Congresso a parlamentares pouco experientes ou desprovidos de compromissos seja com a governabilidade, seja com os interesses vitais dos principais partidos.
Duas questões relevantes e interligadas surgem deste início de ano legislativo: que impacto o controle das duas Casas legislativas pelo PMDB pode causar sobre a dinâmica política? Mais especificamente, em que medida ver-se-iam alterados os fundamentos das relações entre o Executivo e o Legislativo?
É importante assinalar, antes de mais nada, que o cenário que desponta é o de continuidade. As escolhas de Renan Calheiros e Henrique Alves não resultam de um realinhamento de forças na base governista nem de movimentos inesperados do chamado "baixo clero". Tratou-se, nos dois casos, da consagração de entendimentos entre as lideranças do Legislativo a respeito de como conduzir o processo político intramuros.
Os parâmetros das relações entre Executivo e Legislativo tampouco devem sofrer modificação digna de nota. Presidir uma Casa legislativa conta pouco quando o quadro partidário se caracteriza pela pluralidade de forças. Nenhuma proposição relevante é levada a voto sem que os principais parceiros da coalizão dominante concordem sobre seus termos mínimos. Partidos outros que não o PMDB controlarão postos de central importância no Legislativo, como é o caso da presidência de algumas comissões. Isto não quer dizer que o governo encontrará um contexto de plena calmaria no Congresso. Todavia, não há motivo para que se espere aumento significativo no grau de conflito de perspectivas e de interesse entre os dois Poderes do primeiro biênio para o atual.
Indagação final, igualmente legítima, diz respeito ao histórico de denúncias de que são alvos os recém-eleitos presidentes. Diversas preocupações surgem, desde aquelas ligadas à imagem institucional do Legislativo, até as de ordem mais pragmática, vinculadas à condução do processo político rotineiro do Congresso. Difícil especular sobre o que pode ocorrer quando não apenas a dimensão pública dos personagens da política está em jogo. O que se sabe é que ambos são parlamentares de longuíssima carreira no Legislativo. Poucos conhecem tão bem como funciona a atividade parlamentar no Brasil.
Como quase todas as decisões cruciais da vida, a escolha de líderes importa benefícios e riscos. Os parlamentares parecem ter optado pelo risco da multiplicação de denúncias, com as quais estão habituados, do que conceder a prerrogativa de conduzir o Congresso a parlamentares pouco experientes ou desprovidos de compromissos seja com a governabilidade, seja com os interesses vitais dos principais partidos.
A biblioteca roubada - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 05/02
"A Carta Roubada" é um dos contos mais célebres de Edgar Allan Poe. Nele, o escritor norte-americano conta a história de um ministro que resolve chantagear a rainha roubando a carta que lhe fora endereçada por um amante.
Desesperada, a rainha encarrega sua polícia secreta de encontrar a carta, que provavelmente deveria estar na casa do ministro. Uma astuta análise, com os mais modernos métodos, é feita sem sucesso. Reconhecendo sua incompetência, o chefe de polícia apela a Auguste Dupin, um detetive que tem a única ideia sensata do conto: procurar a carta no lugar mais óbvio possível, a saber, em um porta-cartas em cima da lareira.
A leitura do conto de Edgar Allan Poe deveria ser obrigatória para os responsáveis pela educação pública. Muitas vezes, eles parecem se deleitar em procurar as mais finas explicações, contratar os mais astutos consultores internacionais com seus métodos pretensamente inovadores, sendo que os problemas a combater são primários e óbvios para qualquer um que queira, de fato, enxergá-los.
Por exemplo, há semanas descobrimos, graças ao Censo Escolar de 2011, que 72,5% das escolas públicas brasileiras simplesmente não têm bibliotecas. Isto equivale a 113.269 escolas. Um descaso que não mudou com o tempo, já que, das 7.284 escolas construídas a partir de 2008, apenas 19,4% têm algo parecido com uma biblioteca.
Mesmo São Paulo, o Estado mais rico da Federação, conseguiu ter 85% de suas escolas públicas nessa situação. Ou seja, um número pior do que a média nacional.
Diante de resultados dessa magnitude, não é difícil entender a matriz dos graves problemas educacionais que a-travessamos. Difícil é entender por que demoramos tanto para ter uma imagem dessa realidade.
Ninguém precisa de mais um discurso óbvio sobre a importância da leitura e do contato efetivo com livros para a boa formação educacional. Ou melhor, ninguém a não ser os administradores da educação pública, em todas as suas esferas. Pois não faz sentido algum discutir o fracasso educacional brasileiro se questões elementares são negligenciadas a tal ponto.
Em política educacional, talvez vamos acabar por descobrir que "menos é mais". Quanto menos "revoluções na educação" e quanto mais capacidade de realmente priorizar a resolução de problemas elementares (bibliotecas, valorização da carreira dos professores etc.), melhor para todos.
A não ser para os consultores contratados a peso de ouro para vender o mais novo método educacional portador de grandes promessas.
"A Carta Roubada" é um dos contos mais célebres de Edgar Allan Poe. Nele, o escritor norte-americano conta a história de um ministro que resolve chantagear a rainha roubando a carta que lhe fora endereçada por um amante.
Desesperada, a rainha encarrega sua polícia secreta de encontrar a carta, que provavelmente deveria estar na casa do ministro. Uma astuta análise, com os mais modernos métodos, é feita sem sucesso. Reconhecendo sua incompetência, o chefe de polícia apela a Auguste Dupin, um detetive que tem a única ideia sensata do conto: procurar a carta no lugar mais óbvio possível, a saber, em um porta-cartas em cima da lareira.
A leitura do conto de Edgar Allan Poe deveria ser obrigatória para os responsáveis pela educação pública. Muitas vezes, eles parecem se deleitar em procurar as mais finas explicações, contratar os mais astutos consultores internacionais com seus métodos pretensamente inovadores, sendo que os problemas a combater são primários e óbvios para qualquer um que queira, de fato, enxergá-los.
Por exemplo, há semanas descobrimos, graças ao Censo Escolar de 2011, que 72,5% das escolas públicas brasileiras simplesmente não têm bibliotecas. Isto equivale a 113.269 escolas. Um descaso que não mudou com o tempo, já que, das 7.284 escolas construídas a partir de 2008, apenas 19,4% têm algo parecido com uma biblioteca.
Mesmo São Paulo, o Estado mais rico da Federação, conseguiu ter 85% de suas escolas públicas nessa situação. Ou seja, um número pior do que a média nacional.
Diante de resultados dessa magnitude, não é difícil entender a matriz dos graves problemas educacionais que a-travessamos. Difícil é entender por que demoramos tanto para ter uma imagem dessa realidade.
Ninguém precisa de mais um discurso óbvio sobre a importância da leitura e do contato efetivo com livros para a boa formação educacional. Ou melhor, ninguém a não ser os administradores da educação pública, em todas as suas esferas. Pois não faz sentido algum discutir o fracasso educacional brasileiro se questões elementares são negligenciadas a tal ponto.
Em política educacional, talvez vamos acabar por descobrir que "menos é mais". Quanto menos "revoluções na educação" e quanto mais capacidade de realmente priorizar a resolução de problemas elementares (bibliotecas, valorização da carreira dos professores etc.), melhor para todos.
A não ser para os consultores contratados a peso de ouro para vender o mais novo método educacional portador de grandes promessas.
O crescimento de 2013 - ANTONIO DELFIM NETTO
Valor Econômico - 05/02
Foi muito bom que o ilustre ministro da Fazenda, Guido Mantega tenha declarado enfaticamente: 1) que a política fiscal é anticíclica, mas responsável; 2) que a taxa Selic não está "engessada" e que a escolha dos instrumentos para o controle da meta inflacionária é tarefa do Banco Central e, por fim, mas não menos importante; 3) que "a taxa de câmbio não é instrumento para baixar preços".
Uma afirmação como essa era necessária para reduzir o ruído que se estabeleceu sobre a política econômica nas últimas semanas. Ruído que disseminou um pessimismo exagerado sobre o crescimento de 2013, incompatível com as medidas já tomadas pelo governo: a redução da taxa de juros real, a sustentação do crédito pelos bancos estatais, o corte da tarifa de energia, a desoneração da folha de pagamentos, a mudança da política cambial, a perspectiva de leilões inteligentes para a aceleração das concessões das obras de infraestrutura e a boa safra que se aproxima.
O efeito conjunto da desoneração da folha e uma relativa melhoria cambial está mudando a nossa capacidade de concorrer no mercado internacional, como já é visível em alguns setores (até na produção de bens de capital, onde é grande a capacidade ociosa). A recente intervenção do Banco Central no mercado de câmbio causou um estresse nos exportadores, que acreditam na política do governo e tomaram o risco de voltar a procurar seus clientes.
Expansão entre 3,5% e 4% parece factível, se mantida a atual política
É ridículo afirmar, como tem sido feito, que como a "mudança cambial não aumentou as exportações é melhor usá-la no controle da inflação", ignorando que a destruição produzida por anos de insensata supervalorização não pode ser superada em alguns meses de política econômica correta.
Os números do PIB de 2012 mostram que o medíocre resultado que tanto nos incomoda tem múltiplos ingredientes, mas a causa causans foi o mergulho da produção industrial que desde 2008 (quando cresceu 3,1%), vem flutuando para reduzir-se a -2,7% em 2012. De 2008 a 2012, a produção industrial praticamente não cresceu, contra 4,3% entre 2004 e 2008.
Honestamente, é preciso perguntar o que mudou entre os pontos médios dos dois períodos (2006 e 2009) em matéria de instituições, de legislação, de política de crédito, de produtividade da infraestrutura, de absorção de novas tecnologias? Ouso dizer que praticamente nada, nem mesmo a taxa de inflação (5,4% ao ano entre 2004-08 e 5,6% entre 2009-12), ou a política fiscal. O déficit nominal médio foi de 3% do PIB no período 2004-09, contra 2,7% de 2009-12, e a relação dívida líquida/PIB caiu, monotonicamente, de 47% em 2006, para 36% em 2012.
Entre os dois períodos mudou apenas uma coisa: a taxa de câmbio: a média no período 2004-09 foi de R$ 2,22 por dólar; no período 2009-12, R$ 1,85 por dólar.
Supondo uma inflação média mundial de 2% ao ano, a valorização da taxa de câmbio real entre os pontos médios foi da ordem de 25%. O saldo em conta corrente com relação ao PIB saltou de positivo 0,81, para negativo de 2,07. Entre 2009 e 2012, acumulamos um déficit em conta corrente de quase US$ 180 bilhões!
No ano de 2009, quando a crise mundial bateu duro à nossa porta, a produção industrial caiu 7,4% e nossa exportação de produtos manufaturados caiu 27,3%, com a taxa cambial rodando em torno de R$ 2 o dólar. Em 2010, a produção industrial apenas recuperou o nível de antes da crise (2008). O "famoso" crescimento industrial de 10,1% em 2010 (como o do PIB, 7,5%) é apenas um artefato estatístico. De fato, a produção industrial antes de 2009 vinha crescendo em torno de 3% ao ano. Caiu 7,4% em 2009. O crescimento de 10,1% em 2010 foi pura recuperação do nível de 2008.
A desastrosa política cambial de supervalorização de 2009 a meados de 2012 está, seguramente, na base da destruição da estrutura industrial dos últimos quatro anos. Hoje, a produção se encontra no mesmo nível de 2008. E isso está na base do pequeno crescimento do PIB de 2011 e 2012.
É preciso cuidado com a falácia que a produção industrial está estagnada pela falta de produtividade da mão de obra. Esse é um fenômeno pró-cíclico. Como o custo de ajustar o emprego é muito alto, enquanto o empresário tem esperança de que sua demanda voltará a crescer, ele tende a mantê-lo, o que produz outro artefato estatístico: a produtividade "aparente" do trabalho fica constante.
É claro que uma taxa de câmbio relativamente desvalorizada e estável não é tudo. Mas a política governamental não parou aí. A redução do custo da energia, por exemplo, é fundamental. É sempre temerário fazer comparações entre preços separados por 40 anos, mas suspeito que em 2012 a tarifa média anual do kWh em dólares na indústria é quase dez vezes maior do que era no momento de rápido crescimento do país.
A taxa de juros real retorna ao que foi naquele momento. Há alguma desoneração fiscal permanente. Se concretizar-se a melhoria da qualidade dos leilões e estimularmos a competição, o mercado fixará as menores taxas de retorno compatíveis com a qualidade dos serviços de infraestrutura especificada pelo governo, o que abrirá espaço para o investimento privado.
Não há razão para não acreditar que em 2013 podemos acelerar o crescimento sem criar maior tensão inflacionária e sem aumentar o déficit comercial. Qualquer coisa entre 3,5% e 4,0% de crescimento parece hoje factível, se persistirmos na atual política e reduzirmos o estresse com o setor privado. Um fator coadjuvante é que a situação mundial será melhor em 2013 do que foi em 2012.
Foi muito bom que o ilustre ministro da Fazenda, Guido Mantega tenha declarado enfaticamente: 1) que a política fiscal é anticíclica, mas responsável; 2) que a taxa Selic não está "engessada" e que a escolha dos instrumentos para o controle da meta inflacionária é tarefa do Banco Central e, por fim, mas não menos importante; 3) que "a taxa de câmbio não é instrumento para baixar preços".
Uma afirmação como essa era necessária para reduzir o ruído que se estabeleceu sobre a política econômica nas últimas semanas. Ruído que disseminou um pessimismo exagerado sobre o crescimento de 2013, incompatível com as medidas já tomadas pelo governo: a redução da taxa de juros real, a sustentação do crédito pelos bancos estatais, o corte da tarifa de energia, a desoneração da folha de pagamentos, a mudança da política cambial, a perspectiva de leilões inteligentes para a aceleração das concessões das obras de infraestrutura e a boa safra que se aproxima.
O efeito conjunto da desoneração da folha e uma relativa melhoria cambial está mudando a nossa capacidade de concorrer no mercado internacional, como já é visível em alguns setores (até na produção de bens de capital, onde é grande a capacidade ociosa). A recente intervenção do Banco Central no mercado de câmbio causou um estresse nos exportadores, que acreditam na política do governo e tomaram o risco de voltar a procurar seus clientes.
Expansão entre 3,5% e 4% parece factível, se mantida a atual política
É ridículo afirmar, como tem sido feito, que como a "mudança cambial não aumentou as exportações é melhor usá-la no controle da inflação", ignorando que a destruição produzida por anos de insensata supervalorização não pode ser superada em alguns meses de política econômica correta.
Os números do PIB de 2012 mostram que o medíocre resultado que tanto nos incomoda tem múltiplos ingredientes, mas a causa causans foi o mergulho da produção industrial que desde 2008 (quando cresceu 3,1%), vem flutuando para reduzir-se a -2,7% em 2012. De 2008 a 2012, a produção industrial praticamente não cresceu, contra 4,3% entre 2004 e 2008.
Honestamente, é preciso perguntar o que mudou entre os pontos médios dos dois períodos (2006 e 2009) em matéria de instituições, de legislação, de política de crédito, de produtividade da infraestrutura, de absorção de novas tecnologias? Ouso dizer que praticamente nada, nem mesmo a taxa de inflação (5,4% ao ano entre 2004-08 e 5,6% entre 2009-12), ou a política fiscal. O déficit nominal médio foi de 3% do PIB no período 2004-09, contra 2,7% de 2009-12, e a relação dívida líquida/PIB caiu, monotonicamente, de 47% em 2006, para 36% em 2012.
Entre os dois períodos mudou apenas uma coisa: a taxa de câmbio: a média no período 2004-09 foi de R$ 2,22 por dólar; no período 2009-12, R$ 1,85 por dólar.
Supondo uma inflação média mundial de 2% ao ano, a valorização da taxa de câmbio real entre os pontos médios foi da ordem de 25%. O saldo em conta corrente com relação ao PIB saltou de positivo 0,81, para negativo de 2,07. Entre 2009 e 2012, acumulamos um déficit em conta corrente de quase US$ 180 bilhões!
No ano de 2009, quando a crise mundial bateu duro à nossa porta, a produção industrial caiu 7,4% e nossa exportação de produtos manufaturados caiu 27,3%, com a taxa cambial rodando em torno de R$ 2 o dólar. Em 2010, a produção industrial apenas recuperou o nível de antes da crise (2008). O "famoso" crescimento industrial de 10,1% em 2010 (como o do PIB, 7,5%) é apenas um artefato estatístico. De fato, a produção industrial antes de 2009 vinha crescendo em torno de 3% ao ano. Caiu 7,4% em 2009. O crescimento de 10,1% em 2010 foi pura recuperação do nível de 2008.
A desastrosa política cambial de supervalorização de 2009 a meados de 2012 está, seguramente, na base da destruição da estrutura industrial dos últimos quatro anos. Hoje, a produção se encontra no mesmo nível de 2008. E isso está na base do pequeno crescimento do PIB de 2011 e 2012.
É preciso cuidado com a falácia que a produção industrial está estagnada pela falta de produtividade da mão de obra. Esse é um fenômeno pró-cíclico. Como o custo de ajustar o emprego é muito alto, enquanto o empresário tem esperança de que sua demanda voltará a crescer, ele tende a mantê-lo, o que produz outro artefato estatístico: a produtividade "aparente" do trabalho fica constante.
É claro que uma taxa de câmbio relativamente desvalorizada e estável não é tudo. Mas a política governamental não parou aí. A redução do custo da energia, por exemplo, é fundamental. É sempre temerário fazer comparações entre preços separados por 40 anos, mas suspeito que em 2012 a tarifa média anual do kWh em dólares na indústria é quase dez vezes maior do que era no momento de rápido crescimento do país.
A taxa de juros real retorna ao que foi naquele momento. Há alguma desoneração fiscal permanente. Se concretizar-se a melhoria da qualidade dos leilões e estimularmos a competição, o mercado fixará as menores taxas de retorno compatíveis com a qualidade dos serviços de infraestrutura especificada pelo governo, o que abrirá espaço para o investimento privado.
Não há razão para não acreditar que em 2013 podemos acelerar o crescimento sem criar maior tensão inflacionária e sem aumentar o déficit comercial. Qualquer coisa entre 3,5% e 4,0% de crescimento parece hoje factível, se persistirmos na atual política e reduzirmos o estresse com o setor privado. Um fator coadjuvante é que a situação mundial será melhor em 2013 do que foi em 2012.
Confiança deteriorada - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/02
As expectativas de inflação estão em franca deterioração. Há apenas quatro semanas, as cerca de cem instituições do mercado ouvidas semanalmente pelo Banco Central apontavam para evolução do IPCA ao final de 2013 de 5,49%. Agora, trabalham com projeção média mais alta, de 5,68% - como mostrou ontem a pesquisa Focus. Os cinco analistas que mais acertam suas estimativas anteriores (os "Top Five") vão algo além: preveem para este ano inflação de 5,69%.
A última projeção do Banco Central saiu no Relatório de Inflação divulgado em dezembro. Lá foi apontada uma inflação de apenas 4,8%. Em reiteradas ocasiões, o Banco Central deu indicações de não contar mais com a inflação na meta (4,5%) em 2013. Até dezembro, preferiu dizer que a convergência viria, embora "de forma não linear". A autoridade monetária já não garante o compromisso de obter a inflação na meta dentro do ano-calendário, como determina a lei. Seu nível de tolerância cresceu.
Em princípio, nada de errado em prever uma convergência para a meta em prazos mais longos do que os de um ano. Outros bancos centrais, como o da Inglaterra, operam institucionalmente assim. Mas, nesse caso, não faria mais sentido admitir as faixas de escape, hoje de 2 pontos porcentuais ao ano, tanto para cima como para baixo.
Elas só existem porque a lei brasileira obriga a procurar a convergência nos 12 meses terminados em dezembro. Nessas condições, os administradores da política monetária sempre estão sujeitos a imprevistos (choques de oferta, como secas, alta dos preços do petróleo, catástrofes) que não poderiam ser neutralizadas a tempo - uma vez que a política monetária (política de juros) leva sempre um prazo que varia de seis a nove meses para apresentar resultados.
Para esta quinta-feira, está agendada a divulgação da inflação de janeiro. Caso confirmada a projeção do mercado para o mês, a evolução do custo de vida em 12 meses terá saltado para 6,14% - veja o gráfico. Com exceção da Argentina, nenhum país emergente com alguma densidade econômica tem inflação tão alta, num ambiente global de forte recuo dos preços. E o Brasil, que já tem sido rebaixado nas tabelas de prestígio internacional, colocará na sua vitrine dois números vexatórios: o pibinho chinfrim e essa inflação fora de propósito.
As autoridades se apressarão a dizer que é preciso paciência, esperar mais alguns meses pelo recuo da inflação. Em outros tempos, esses apelos seriam mais ouvidos e poderiam estancar remarcações defensivas por parte dos agentes da economia. No entanto, como o Banco Central enfrenta deterioração da confiança, não só segurar o ímpeto das remarcações de preços fica mais complicado, mas também assegurar eficácia à política de metas de inflação.
Uma forma de garantir uma rápida reversão das atuais expectativas ruins de inflação seria um compromisso firme do governo Dilma com a condução austera das contas públicas e com a obtenção de um superávit primário robusto. Mas a conversa que se ouve lá no Ministério da Fazenda vai na direção oposta: é necessário gastar mais para produzir uma política anticíclica.
FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA
O GLOBO - 05/02
Nível dos reservatórios continua baixo
Nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, hidrelétricas fecharam janeiro com metade da água armazenada um ano atrás
As chuvas de janeiro não foram suficientes para devolver ao setor elétrico a tranquilidade quanto ao nível dos reservatórios das hidrelétricas. Nas usinas das regiões Sudeste/Centro-Oeste, janeiro chegou ao fim com 37,46% de armazenamento, praticamente metade de um ano atrás (76,23%). No Nordeste, foram 32,86%, contra 71,72% em janeiro de 2012. No Sul, a quantidade de água retida saiu de 63,28% para 43,77%; no Norte, de 90,02% para 51,08%. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com esses números, é zero a chance de desligamento das usinas termoelétricas acionadas para compensar a falta de água no parque hídrico. As térmicas, incluindo a central nuclear de Angra, entraram em fevereiro fornecendo um quinto (20,77%) da energia consumida no país. Itaipu respondia por 11,9% na 6ª passada; as demais hidrelétricas, por 66,58%. O Brasil, diz uma fonte, está migrando do modelo hídrico para termo-hídrico. É possível que a margem de segurança usada para despachar as térmicas mude, de modo a preservar o nível dos reservatórios das hidrelétricas, mesmo quando novas usinas, caso de Belo Monte, entrarem em operação.
no fim de fevereiro
No relatório Ophen, o ONS estima que, dia 28, os reservatórios de SE-CO estarão com metade da capacidade, contra 80,13% em 2012. As regiões respondem por 70% do nível de armazenamento.
Sumiu
O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) vai cobrar do MME explicações sobre a queda nos investimentos da Petrobras no Comperj. É que nas estatísticas oficiais, a estatal reduziu de R$ 6,992 bilhões, em outubro, para R$ 4,370 bi, em dezembro, a dotação orçamentária para construção da refinaria em Itaboraí. Com a mudança, em vez de gastar 62%, a empresa executou 99% do orçado, cerca de R$ 4,343 bi.
Investiu
A Eletrobras cumpriu 80% do orçamento de 2012. Ao todo, o grupo gastou R$ 9,9 bilhões, dos R$ 12,3 bi previstos. A conta inclui tanto os investimentos corporativos, quando os projetos nos quais a estatal tem sócios, caso das hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte.
Classificadas
A Austral e a Austral Re, da Vinci Partners, receberam rating brA- da S&P. As seguradoras encomendaram a classificação de risco à agência, para se antecipar à possível exigência em concessões públicas.
Previdência
A Icatu Seguros montou fundo enquadrado às novas regras da previdência complementar. No Classic Dividendos 49, os 51% de renda fixa serão aplicados em ativos indexados à inflação; os 49% de renda variável, em dividendos. Quer captar mais de R$ 30 milhões em um ano.
Quem chega
A Fundação Dom Cabral investiu R$ 3,5 milhões em unidade no Rio. Ocupará 1.280 metros quadrados no Leblon. Deve abrir as portas em março. “Teremos pós-graduação no setor de óleo, gás e energia”, diz Ricardo Siqueira Campos, diretor de relações institucionais da FDC. Terá capacidade para 110 alunos.
Intercâmbio
A estilista Alessa Migani mostrará a coleção de inverno ao sócio de um shopping do Kwait. A Brasil Beverages se reunirá com a holandesa Distriforce. Os encontros integram o Projeto Carnaval 2013, da Apex-Brasil. De hoje a dia 20, empresas brasileiras se reunirão com estrangeiras.
Carnaval 1
Metade dos pacotes fechados na AmbepTur Seguros para o carnaval são para os EUA. Nova York e Orlando lideram. Chefes de família, de 35 a 50 anos, casados, com filhos, são maioria entre os clientes.
Carnaval 2
A Leader vai patrocinar a Mocidade, no Rio, e os blocos Eva e Nu Outro, em Salvador. Na Bahia, distribuirá dez mil martelos infláveis. A varejista tem 77 lojas no país; quer fechar o ano com cem. O Nordeste é prioridade. Em dia As cooperativas de crédito de São Paulo registraram 2,7% de inadimplência em setembro de 2012. Bem abaixo dos 7,9% dos bancos, diz o Sescoop/SP.
Campeão na construção
O Rio foi o estado do país que mais gerou empregos na construção civil em 2012. O levantamento do Sinduscon Rio se baseia nos dados do Caged. O saldo entre contratações e demissões foi de 32.956 (veja o gráfico), contra 24.417 em São Paulo, o 2º colocado. Em 2012, a criação de vagas no setor em todo o país caiu 33,7%. No Rio, a queda foi de 11,8%; em São Paulo, de 41,5%. Minas, Goiás e Mato Grosso tiveram alta de um ano para o outro.
Vinho
A gaúcha Perini terá linha de quatro vinhos para exportação. Aporte de R$ 400 mil, foi batizada de Macaw (arara, em inglês). Mês que vem, chega aos EUA o primeiro lote, com 15 mil a 30 mil garrafas. Deve render em faturamento R$ 5 milhões por ano.
Espumante
A Dal Pizzol fechou parceria com os hotéis Rio Othon Palace e Caesar Park. Vai fornecer espumante para feijoadas de carnaval. Quer vender 20% mais. Investiu R$ 80 mil em marketing.
Suco
A Bela Ischia lançará suco de maçã light na Super Rio Expofood 2013, em março. A empresa investiu R$ 200 mil. Ano passado, cresceu 35%.
Livre Mercado
O navio Sérgio Buarque de Holanda, da Transpetro, partiu ontem para a 1ª viagem internacional. Foi buscar, no Caribe, 300 mil barris de diesel, que vão para São Luís (MA).
A MSC Cruzeiros incluiu Ilhéus (BA) nas escalas do transatlântico Preziosa no Nordeste. O navio chega ao Brasil em novembro.
Domingos Vargas, da AgeRio, assina na 5ª feira parceria com a Ampeb. A intenção é facilitar os empréstimos da agência estadual de fomento aos microempresários da Baixada.
A Lunetterie Sportif abre quiosque hoje no Riosul. Investimento de R$ 100 mil, terá óculos das marcas Nike, Adidas e Oakley, entre outras. A rede quer 90 franquias até 2014.
A Continental terá bebedouro com saída de água quente, além de natural e gelada. Lança este mês.
Leonardo Letelier, da Sitawi, fala sobre empreendedorismo social em Harvard (EUA), no sábado. A ONG empresta dinheiro a juros baixos.
Nível dos reservatórios continua baixo
Nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, hidrelétricas fecharam janeiro com metade da água armazenada um ano atrás
As chuvas de janeiro não foram suficientes para devolver ao setor elétrico a tranquilidade quanto ao nível dos reservatórios das hidrelétricas. Nas usinas das regiões Sudeste/Centro-Oeste, janeiro chegou ao fim com 37,46% de armazenamento, praticamente metade de um ano atrás (76,23%). No Nordeste, foram 32,86%, contra 71,72% em janeiro de 2012. No Sul, a quantidade de água retida saiu de 63,28% para 43,77%; no Norte, de 90,02% para 51,08%. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com esses números, é zero a chance de desligamento das usinas termoelétricas acionadas para compensar a falta de água no parque hídrico. As térmicas, incluindo a central nuclear de Angra, entraram em fevereiro fornecendo um quinto (20,77%) da energia consumida no país. Itaipu respondia por 11,9% na 6ª passada; as demais hidrelétricas, por 66,58%. O Brasil, diz uma fonte, está migrando do modelo hídrico para termo-hídrico. É possível que a margem de segurança usada para despachar as térmicas mude, de modo a preservar o nível dos reservatórios das hidrelétricas, mesmo quando novas usinas, caso de Belo Monte, entrarem em operação.
no fim de fevereiro
No relatório Ophen, o ONS estima que, dia 28, os reservatórios de SE-CO estarão com metade da capacidade, contra 80,13% em 2012. As regiões respondem por 70% do nível de armazenamento.
Sumiu
O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) vai cobrar do MME explicações sobre a queda nos investimentos da Petrobras no Comperj. É que nas estatísticas oficiais, a estatal reduziu de R$ 6,992 bilhões, em outubro, para R$ 4,370 bi, em dezembro, a dotação orçamentária para construção da refinaria em Itaboraí. Com a mudança, em vez de gastar 62%, a empresa executou 99% do orçado, cerca de R$ 4,343 bi.
Investiu
A Eletrobras cumpriu 80% do orçamento de 2012. Ao todo, o grupo gastou R$ 9,9 bilhões, dos R$ 12,3 bi previstos. A conta inclui tanto os investimentos corporativos, quando os projetos nos quais a estatal tem sócios, caso das hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte.
Classificadas
A Austral e a Austral Re, da Vinci Partners, receberam rating brA- da S&P. As seguradoras encomendaram a classificação de risco à agência, para se antecipar à possível exigência em concessões públicas.
Previdência
A Icatu Seguros montou fundo enquadrado às novas regras da previdência complementar. No Classic Dividendos 49, os 51% de renda fixa serão aplicados em ativos indexados à inflação; os 49% de renda variável, em dividendos. Quer captar mais de R$ 30 milhões em um ano.
Quem chega
A Fundação Dom Cabral investiu R$ 3,5 milhões em unidade no Rio. Ocupará 1.280 metros quadrados no Leblon. Deve abrir as portas em março. “Teremos pós-graduação no setor de óleo, gás e energia”, diz Ricardo Siqueira Campos, diretor de relações institucionais da FDC. Terá capacidade para 110 alunos.
Intercâmbio
A estilista Alessa Migani mostrará a coleção de inverno ao sócio de um shopping do Kwait. A Brasil Beverages se reunirá com a holandesa Distriforce. Os encontros integram o Projeto Carnaval 2013, da Apex-Brasil. De hoje a dia 20, empresas brasileiras se reunirão com estrangeiras.
Carnaval 1
Metade dos pacotes fechados na AmbepTur Seguros para o carnaval são para os EUA. Nova York e Orlando lideram. Chefes de família, de 35 a 50 anos, casados, com filhos, são maioria entre os clientes.
Carnaval 2
A Leader vai patrocinar a Mocidade, no Rio, e os blocos Eva e Nu Outro, em Salvador. Na Bahia, distribuirá dez mil martelos infláveis. A varejista tem 77 lojas no país; quer fechar o ano com cem. O Nordeste é prioridade. Em dia As cooperativas de crédito de São Paulo registraram 2,7% de inadimplência em setembro de 2012. Bem abaixo dos 7,9% dos bancos, diz o Sescoop/SP.
Campeão na construção
O Rio foi o estado do país que mais gerou empregos na construção civil em 2012. O levantamento do Sinduscon Rio se baseia nos dados do Caged. O saldo entre contratações e demissões foi de 32.956 (veja o gráfico), contra 24.417 em São Paulo, o 2º colocado. Em 2012, a criação de vagas no setor em todo o país caiu 33,7%. No Rio, a queda foi de 11,8%; em São Paulo, de 41,5%. Minas, Goiás e Mato Grosso tiveram alta de um ano para o outro.
Vinho
A gaúcha Perini terá linha de quatro vinhos para exportação. Aporte de R$ 400 mil, foi batizada de Macaw (arara, em inglês). Mês que vem, chega aos EUA o primeiro lote, com 15 mil a 30 mil garrafas. Deve render em faturamento R$ 5 milhões por ano.
Espumante
A Dal Pizzol fechou parceria com os hotéis Rio Othon Palace e Caesar Park. Vai fornecer espumante para feijoadas de carnaval. Quer vender 20% mais. Investiu R$ 80 mil em marketing.
Suco
A Bela Ischia lançará suco de maçã light na Super Rio Expofood 2013, em março. A empresa investiu R$ 200 mil. Ano passado, cresceu 35%.
Livre Mercado
O navio Sérgio Buarque de Holanda, da Transpetro, partiu ontem para a 1ª viagem internacional. Foi buscar, no Caribe, 300 mil barris de diesel, que vão para São Luís (MA).
A MSC Cruzeiros incluiu Ilhéus (BA) nas escalas do transatlântico Preziosa no Nordeste. O navio chega ao Brasil em novembro.
Domingos Vargas, da AgeRio, assina na 5ª feira parceria com a Ampeb. A intenção é facilitar os empréstimos da agência estadual de fomento aos microempresários da Baixada.
A Lunetterie Sportif abre quiosque hoje no Riosul. Investimento de R$ 100 mil, terá óculos das marcas Nike, Adidas e Oakley, entre outras. A rede quer 90 franquias até 2014.
A Continental terá bebedouro com saída de água quente, além de natural e gelada. Lança este mês.
Leonardo Letelier, da Sitawi, fala sobre empreendedorismo social em Harvard (EUA), no sábado. A ONG empresta dinheiro a juros baixos.
Os trapalhões - RODRIGO CONSTANTINO
O GLOBO - 05/02
Presidente usa seu poder para criar ‘campeões nacionais’, enquanto todos os privilégios e subsídios concedidos acabam prejudicando o restante, longe das graças estatais
Sou uma pessoa nostálgica. Uma das boas lembranças que tenho de minha infância é ficar no colo do meu falecido avô assistindo “Os Trapalhões”. Eu adorava. É por isso que devo agradecer ao governo Dilma por resgatar lembranças tão doces de minha vida. Acompanhar os atos de seus ministros é voltar no tempo, é como ver as trapalhadas da turma do Didi.
Comecemos pelos malabarismos contábeis que o governo fez para apresentar o superávit fiscal de 2012. A coisa foi tão primária que faria um mágico de festa infantil ruborizar diante do amadorismo. Poderiam ao menos ter chamado um David Copperfield para ajudar a esconder as peripécias!
O ministro Mantega é imbatível. Sua declaração sobre a taxa de câmbio comprova: “O câmbio é flutuante, mas, se exagerar na dose, a gente vai lá e conserta.” Ou seja, o câmbio flutua, desde que na direção do valor que o governo considera “correto”.
Na mesma linha, o ministro Lobão (não confundir com o músico inteligente) nos brindou com essa pérola ao falar sobre o aumento da gasolina: “O mercado é livre, mas não deve exceder o limite do razoável.” Traduzindo: o mercado é livre, desde que coloque o preço que eu considero razoável.
Quem precisa de preços tabelados quando se tem uma “liberdade” dessas? O governo Dilma demonstra a cada dia seu forte ranço intervencionista. Pretende controlar toda a economia. Triste o país em que os preços mais importantes são todos decididos pelo governo!
Mas o nexo causal nunca foi o forte dessa equipe econômica. Eles acreditam que a economia ainda não se recuperou a despeito de suas fantásticas medidas. Não passa por suas brilhantes cabeças que é justamente o contrário: a economia patina e a inflação sobe por causa do governo!
Os investidores estão assustados com o grau de intervenção arbitrária. Também, pudera: a presidente usa seu poder para criar “campeões nacionais”, enquanto todos os privilégios e subsídios concedidos acabam prejudicando o restante, longe das graças estatais. O cobertor é curto. Para ajudar os “amigos do rei”, o governo tem destruído setores inteiros.
Basta ver o que aconteceu com o setor elétrico. As estatais foram dizimadas em bolsa, pois o governo, com foco no curtíssimo prazo, decidiu dar mais uma ajudinha aos industriais. Quem, em sã consciência, investiria em geração de energia em um cenário desses? Mas isso não impediu a presidente de fazer propaganda eleitoral, anunciando a queda das tarifas e abusando do ufanismo boboca: quem critica a medida está contra o país!
A Petrobras tem sido utilizada para fins políticos desde o começo da gestão petista. O governo segura o preço da gasolina defasado para não impactar as taxas de inflação. Faltam recursos para a estatal investir, e sua ineficiência cria a necessidade de importação de combustível. O Brasil perde, mas nunca se esqueçam de que “o petróleo é nosso” e a Petrobras é motivo de “orgulho nacional”.
Curiosidade: por que a presidente não fez uso da rede nacional de rádio e televisão para comunicar ao povo o aumento da gasolina, como fez para anunciar a queda das tarifas de eletricidade? Pergunta retórica, claro. Sabemos a resposta.
Mas o governo tem cartas na manga para conter a “inflação” (na verdade, o índice oficial, não a inflação verdadeira). A gasolina aumentou? Então basta aumentar a parcela de etanol na sua composição, diluindo o efeito. Se o próximo vilão for o feijão, já sabemos qual a solução: basta acrescentar mais água na feijoada!
Não devemos ficar surpresos com tais trapalhadas, quando lembramos que a Argentina é admirada por nosso governo, e que Delfim Netto é bastante influente na economia. Aliás, Delfim influencia nossa economia há décadas, sempre perto do poder. É uma espécie de Sarney da economia. O Brasil idolatra o fracasso.
O resumo da ópera bufa? Não temos mais câmbio flutuante, a Lei de Responsabilidade Fiscal foi abandonada, a inflação ameaça sair de controle, os bancos públicos criaram uma bolha de crédito, a inadimplência aumentou, os investimentos não vêm e a economia não cresce. Promissor?
O crescimento dos últimos anos, que já foi medíocre, teve boa ajuda externa. Tanto que nossa produtividade não aumentou quase nada. Tivemos um empurrão da alta das commodities. Isso acabou. E agora? Como crescer com esses trapalhões no governo?
Eu achava graça nas piadas dos Trapalhões. Elas eram inofensivas, ainda que politicamente incorretas para nossos padrões chatos de hoje. Mas as trapalhadas do governo não têm a menor graça. Elas vão custar muito caro ao Brasil.
Presidente usa seu poder para criar ‘campeões nacionais’, enquanto todos os privilégios e subsídios concedidos acabam prejudicando o restante, longe das graças estatais
Sou uma pessoa nostálgica. Uma das boas lembranças que tenho de minha infância é ficar no colo do meu falecido avô assistindo “Os Trapalhões”. Eu adorava. É por isso que devo agradecer ao governo Dilma por resgatar lembranças tão doces de minha vida. Acompanhar os atos de seus ministros é voltar no tempo, é como ver as trapalhadas da turma do Didi.
Comecemos pelos malabarismos contábeis que o governo fez para apresentar o superávit fiscal de 2012. A coisa foi tão primária que faria um mágico de festa infantil ruborizar diante do amadorismo. Poderiam ao menos ter chamado um David Copperfield para ajudar a esconder as peripécias!
O ministro Mantega é imbatível. Sua declaração sobre a taxa de câmbio comprova: “O câmbio é flutuante, mas, se exagerar na dose, a gente vai lá e conserta.” Ou seja, o câmbio flutua, desde que na direção do valor que o governo considera “correto”.
Na mesma linha, o ministro Lobão (não confundir com o músico inteligente) nos brindou com essa pérola ao falar sobre o aumento da gasolina: “O mercado é livre, mas não deve exceder o limite do razoável.” Traduzindo: o mercado é livre, desde que coloque o preço que eu considero razoável.
Quem precisa de preços tabelados quando se tem uma “liberdade” dessas? O governo Dilma demonstra a cada dia seu forte ranço intervencionista. Pretende controlar toda a economia. Triste o país em que os preços mais importantes são todos decididos pelo governo!
Mas o nexo causal nunca foi o forte dessa equipe econômica. Eles acreditam que a economia ainda não se recuperou a despeito de suas fantásticas medidas. Não passa por suas brilhantes cabeças que é justamente o contrário: a economia patina e a inflação sobe por causa do governo!
Os investidores estão assustados com o grau de intervenção arbitrária. Também, pudera: a presidente usa seu poder para criar “campeões nacionais”, enquanto todos os privilégios e subsídios concedidos acabam prejudicando o restante, longe das graças estatais. O cobertor é curto. Para ajudar os “amigos do rei”, o governo tem destruído setores inteiros.
Basta ver o que aconteceu com o setor elétrico. As estatais foram dizimadas em bolsa, pois o governo, com foco no curtíssimo prazo, decidiu dar mais uma ajudinha aos industriais. Quem, em sã consciência, investiria em geração de energia em um cenário desses? Mas isso não impediu a presidente de fazer propaganda eleitoral, anunciando a queda das tarifas e abusando do ufanismo boboca: quem critica a medida está contra o país!
A Petrobras tem sido utilizada para fins políticos desde o começo da gestão petista. O governo segura o preço da gasolina defasado para não impactar as taxas de inflação. Faltam recursos para a estatal investir, e sua ineficiência cria a necessidade de importação de combustível. O Brasil perde, mas nunca se esqueçam de que “o petróleo é nosso” e a Petrobras é motivo de “orgulho nacional”.
Curiosidade: por que a presidente não fez uso da rede nacional de rádio e televisão para comunicar ao povo o aumento da gasolina, como fez para anunciar a queda das tarifas de eletricidade? Pergunta retórica, claro. Sabemos a resposta.
Mas o governo tem cartas na manga para conter a “inflação” (na verdade, o índice oficial, não a inflação verdadeira). A gasolina aumentou? Então basta aumentar a parcela de etanol na sua composição, diluindo o efeito. Se o próximo vilão for o feijão, já sabemos qual a solução: basta acrescentar mais água na feijoada!
Não devemos ficar surpresos com tais trapalhadas, quando lembramos que a Argentina é admirada por nosso governo, e que Delfim Netto é bastante influente na economia. Aliás, Delfim influencia nossa economia há décadas, sempre perto do poder. É uma espécie de Sarney da economia. O Brasil idolatra o fracasso.
O resumo da ópera bufa? Não temos mais câmbio flutuante, a Lei de Responsabilidade Fiscal foi abandonada, a inflação ameaça sair de controle, os bancos públicos criaram uma bolha de crédito, a inadimplência aumentou, os investimentos não vêm e a economia não cresce. Promissor?
O crescimento dos últimos anos, que já foi medíocre, teve boa ajuda externa. Tanto que nossa produtividade não aumentou quase nada. Tivemos um empurrão da alta das commodities. Isso acabou. E agora? Como crescer com esses trapalhões no governo?
Eu achava graça nas piadas dos Trapalhões. Elas eram inofensivas, ainda que politicamente incorretas para nossos padrões chatos de hoje. Mas as trapalhadas do governo não têm a menor graça. Elas vão custar muito caro ao Brasil.
A Argentina e seus dados falsos - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 05/02
Sempre disposta a sobressair-se entre outros dirigentes nacionais e a fazer sua Argentina destacar-se dos demais países, sobretudo os vizinhos, a presidente Cristina Kirchner alcançou seus objetivos, embora de forma que certamente não desejava. Seu governo e seu país são os primeiros, em toda a história do FMI, a receber uma moção pública de censura da diretoria da instituição por causa da má qualidade de suas estatísticas, que resultam em índices de inflação e de crescimento do PIB sem credibilidade, o que impede sua comparação com os de outros países, distorce os cálculos econômicos e dificulta a correta avaliação da situação econômica da Argentina.
Na nota na qual informa a censura à Argentina, o Fundo critica a falta de progresso na adoção de medidas pelo governo Kirchner para melhorar a qualidade das estatísticas, sobretudo para a aferição do Índice de Preços ao Consumidor na região da grande Buenos Aires e do PIB. A diretoria da instituição deu prazo até 29 de setembro para que essas medidas sejam implementadas, pois a diretora-gerente Christine Lagarde terá de apresentar um relatório sobre o caso no dia 13 de novembro. A moção de censura é a primeira de uma série de sanções que poderão ser aplicadas pelo FMI à Argentina. Elas podem incluir a suspensão dos direitos de voto do país nas reuniões da instituição e até sua expulsão.
A censura formal do FMI à Argentina era esperada. O Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec), que realiza trabalho semelhante ao do IBGE, está sob intervenção do governo desde 2007. Foi a maneira que o governo Kirchner (antes de Cristina, a presidência foi ocupada por seu marido, Néstor) encontrou para evitar que a inflação, já sentida no bolso dos cidadãos e na contabilidade das empresas, fosse integralmente aferida pelas estatísticas oficiais. Desde então, os dados do Indec vêm sendo contestados por economistas e instituições privadas. No ano passado, por exemplo, a inflação argentina ficou em cerca de 25%, na média dos cálculos privados, mas, para o Indec, limitou-se a 10,8%.
Fato conhecido no país e no resto do mundo - há anos os relatórios do FMI publicam dados sobre a Argentina acompanhados de nota na qual adverte para sua falta de credibilidade. A deliberada manipulação das estatísticas nacionais, com objetivo visivelmente políticos, tem sido desmentida com vigor pelo governo Kirchner.
Em setembro, usando uma linguagem futebolística, pertinente por se tratar da Argentina, a diretora-gerente do Fundo afirmara que, ao determinar que o governo Kirchner providenciasse as correções necessárias nas suas estatísticas, a instituição aplicava-lhe um "cartão amarelo". Como sempre faz em situações como essa, Cristina Kirchner respondeu de maneira ríspida, dizendo que a Argentina não era um time de futebol, mas um país.
Também desta vez, Kirchner reagiu asperamente. Sem explicar por que as estatísticas argentinas se tornaram tão ruins, tratou de atacar o FMI no twitter - do qual parece ter-se tornado usuária compulsiva, a ponto de um comentarista do jornal La Nación chamá-la de "tuiteira furiosa". "Onde estava o FMI que não conseguiu prever nenhuma crise?", perguntou, irritada.
A resposta está documentada. No seu Panorama Econômico Mundial divulgado em setembro de 2006 - dois anos, portanto, antes do início da crise mundial -, o FMI advertiu que uma ruptura do mercado imobiliário poderia provocar uma abrupta queda no ritmo da economia americana, como acabou acontecendo. Em outubro de 2007, observou que a economia mundial entrara num período de incertezas e de dificuldades potenciais. Os problemas nos mercados de crédito haviam sido graves nos meses anteriores e poderiam ter desdobramentos, como tiveram.
O ministro da Economia, Hernán Lorenzino, de sua parte, repetiu a promessa de elaborar um novo índice de preços. Mas não para setembro, como exige o FMI. Esse índice seria testado em 2014 e seus primeiros resultados sairiam em 2015 e, não por coincidência, quando termina o mandato de Cristina Kirchner.
Sempre disposta a sobressair-se entre outros dirigentes nacionais e a fazer sua Argentina destacar-se dos demais países, sobretudo os vizinhos, a presidente Cristina Kirchner alcançou seus objetivos, embora de forma que certamente não desejava. Seu governo e seu país são os primeiros, em toda a história do FMI, a receber uma moção pública de censura da diretoria da instituição por causa da má qualidade de suas estatísticas, que resultam em índices de inflação e de crescimento do PIB sem credibilidade, o que impede sua comparação com os de outros países, distorce os cálculos econômicos e dificulta a correta avaliação da situação econômica da Argentina.
Na nota na qual informa a censura à Argentina, o Fundo critica a falta de progresso na adoção de medidas pelo governo Kirchner para melhorar a qualidade das estatísticas, sobretudo para a aferição do Índice de Preços ao Consumidor na região da grande Buenos Aires e do PIB. A diretoria da instituição deu prazo até 29 de setembro para que essas medidas sejam implementadas, pois a diretora-gerente Christine Lagarde terá de apresentar um relatório sobre o caso no dia 13 de novembro. A moção de censura é a primeira de uma série de sanções que poderão ser aplicadas pelo FMI à Argentina. Elas podem incluir a suspensão dos direitos de voto do país nas reuniões da instituição e até sua expulsão.
A censura formal do FMI à Argentina era esperada. O Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec), que realiza trabalho semelhante ao do IBGE, está sob intervenção do governo desde 2007. Foi a maneira que o governo Kirchner (antes de Cristina, a presidência foi ocupada por seu marido, Néstor) encontrou para evitar que a inflação, já sentida no bolso dos cidadãos e na contabilidade das empresas, fosse integralmente aferida pelas estatísticas oficiais. Desde então, os dados do Indec vêm sendo contestados por economistas e instituições privadas. No ano passado, por exemplo, a inflação argentina ficou em cerca de 25%, na média dos cálculos privados, mas, para o Indec, limitou-se a 10,8%.
Fato conhecido no país e no resto do mundo - há anos os relatórios do FMI publicam dados sobre a Argentina acompanhados de nota na qual adverte para sua falta de credibilidade. A deliberada manipulação das estatísticas nacionais, com objetivo visivelmente políticos, tem sido desmentida com vigor pelo governo Kirchner.
Em setembro, usando uma linguagem futebolística, pertinente por se tratar da Argentina, a diretora-gerente do Fundo afirmara que, ao determinar que o governo Kirchner providenciasse as correções necessárias nas suas estatísticas, a instituição aplicava-lhe um "cartão amarelo". Como sempre faz em situações como essa, Cristina Kirchner respondeu de maneira ríspida, dizendo que a Argentina não era um time de futebol, mas um país.
Também desta vez, Kirchner reagiu asperamente. Sem explicar por que as estatísticas argentinas se tornaram tão ruins, tratou de atacar o FMI no twitter - do qual parece ter-se tornado usuária compulsiva, a ponto de um comentarista do jornal La Nación chamá-la de "tuiteira furiosa". "Onde estava o FMI que não conseguiu prever nenhuma crise?", perguntou, irritada.
A resposta está documentada. No seu Panorama Econômico Mundial divulgado em setembro de 2006 - dois anos, portanto, antes do início da crise mundial -, o FMI advertiu que uma ruptura do mercado imobiliário poderia provocar uma abrupta queda no ritmo da economia americana, como acabou acontecendo. Em outubro de 2007, observou que a economia mundial entrara num período de incertezas e de dificuldades potenciais. Os problemas nos mercados de crédito haviam sido graves nos meses anteriores e poderiam ter desdobramentos, como tiveram.
O ministro da Economia, Hernán Lorenzino, de sua parte, repetiu a promessa de elaborar um novo índice de preços. Mas não para setembro, como exige o FMI. Esse índice seria testado em 2014 e seus primeiros resultados sairiam em 2015 e, não por coincidência, quando termina o mandato de Cristina Kirchner.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 05/02
Medidas do governo podem não ajudar o setor de construção civil
A desoneração de encargos previdenciários na construção civil pode não ter o efeito desejado.
O alerta é do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon), Sérgio Watanabe.
"Muitas empresas do setor terceirizaram muito sua mão de obra. É preciso discutir alguns ajustes com o governo para que, em vez da desoneração, não aconteça uma oneração das construtoras", diz.
Watanabe, entretanto, ressalva que as medidas que entram em vigor em abril são importantes para o setor.
"A desoneração de encargos é necessária e o governo tomou uma decisão acertada. Precisamos apenas discutir alguns detalhes para que todas as construtoras sejam beneficiadas", afirma.
O número de empregos gerados no segmento no Brasil registrou alta de 6%, de janeiro a dezembro de 2012 com o mesmo período do ano anterior. Mesmo assim, as novas vagas ficaram abaixo do projetado para o período.
"Nossa expectativa era que superasse os 7%."
Apesar do saldo positivo, o patamar de emprego na construção civil nacional teve retração de 3,02% em dezembro de 2012 na comparação com o mês anterior. Mais de 100 mil vagas foram fechadas em todo o país.
"O fechamento de postos de trabalho é comum no fim de ano, mas em 2012 foi maior. É preciso que o setor volte a receber investimentos", conclui Watanabe.
Confiança do comerciante paulistano cai em janeiro
Os empresários do comércio da cidade de São Paulo estão menos confiantes.
O índice que mensura a segurança do comerciante no cenário econômico caiu 5,1% em janeiro e fechou o mês em 114 pontos (em escala que vai de 0 a 200, na qual números positivos indicam otimismo).
Dados da FecomercioSP mostram também que o indicador de investimentos do setor teve retração de 8,8%, sendo o que mais puxou a confiança para baixo.
Para a entidade, a pesquisa aponta que os empresários estão mais cautelosos, pois não acreditam que o governo continue estimulando o consumo interno para evitar uma desaceleração na economia -ao contrário do ocorrido no mesmo período de 2012.
Apesar da queda na confiança, pouco mais de 60% dos comerciantes afirmam que a condição de sua empresa melhorou no último mês e 76% dizem que a expectativa para a economia brasileira também é positiva.
O otimismo é maior entre as empresas com mais de 50 funcionários e no segmento de produtos semi-duráveis.
Novo... Os novos contratos de locação de imóvel comercial fechados em São Paulo cresceram 11% em 2012, diz a Lello.
...contrato Os contratos de aluguel comercial representaram 32% do total de novas locações.
Escritório Dos novos aluguéis comerciais, 38% foram salas para a área de saúde, advocacia, contabilidade e outros.
TELEFONEMA ITALIANO
A Almaviva do Brasil, do grupo italiano Almaviva, está investindo R$ 30 milhões na instalação de um call center em Aracaju (SE), que empregará 3.000 pessoas.
A companhia pretende fazer outro aporte ainda neste ano para estabelecer mais um empreendimento como esse.
"Provavelmente será no Nordeste e deverá ter o mesmo tamanho ou ser um pouco menor", diz Giulio Salomone, vice-presidente do conselho da empresa.
A escolha pela região decorre da disponibilidade de mão de obra qualificada, de acordo com Salomone.
A expectativa do executivo é que o centro comece a operar em março.
O Brasil é hoje o segundo mercado mais importante para o grupo, atrás da Itália e à frente de China e Tunísia.
Em 2012, 15% dos € 730 milhões faturados globalmente pela companhia foram gerados no Brasil. Neste ano, a expectativa é que o país seja responsável por 20% da receita.
TEMPO LIMITADO
A contratação de trabalhadores para a Páscoa já começou na indústria e no comércio, mas as vagas ainda não foram totalmente preenchidas, segundo a Asserttem (associação de empresas de trabalho temporário).
Ao todo, devem ser contratados 73,7 mil temporários. Ainda há 29,4 mil vagas disponíveis em todo o país.
Até agora, no comércio, apenas 30% das vagas abertas foram ocupadas. Segundo a entidade, o setor costuma preenchê-las mais tarde. Para ajudar a ocupar os postos, desde 2012, o setor já flexibilizou critérios de contratação.
Passeio no... Sebrae e Instituto Chico Mendes fecharam convênio para desenvolver trabalhos em parques nacionais.
...parque A meta é capacitar pequenas empresas para gerir lanchonetes e estacionamentos de parques e reservas.
Sol A Votorantim Metais passou a fornecer alumínio para o segmento de coletores solares, para aquecer água.
Cenário ideal - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 05/02
Tudo dominado
Com as presidências da Câmara e do Senado, além da vice-presidência da República, o PMDB avalia que chegou no auge. Um peemedebista da cúpula contou que o poder é tanto que o partido tem cacife para decidir tudo, a partir de agora. Desde as votações no Congresso, passando pelos palanques nos estados, até a eleição presidencial. O PMDB segue firme e forte com a presidente Dilma, mas com condição "de ir para onde quiser". Inclusive, brincou o peemedebista, para vice de Eduardo Campos (PSB-PE). No PMDB, é consenso que Renan Calheiros (AL), Henrique Alves (RN) e Michel Temer (SP) são políticos experientes e, portanto, de espírito independente.
“Pior do que este Parlamento, só um Parlamento fechado”
Miro Teixeira, após as eleições na Câmara e no Senado
Deputado federal (PDT-RJ)
Autonomia de voo
O presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), transformará a Corregedoria em órgão autônomo. Ela integrava a 2ª Vice-Presidência e, na semana passada, foi para a 3ª Secretaria. Cabe à Corregedoria investigar denúncias contra deputados.
Batendo cabeça
A luta política maranhense desembarcou na Esplanada. O ministro Gastão Vieira (Turismo), na foto, e o presidente da Embratur, Flavio Dino, estão se desentendendo. Pesquisa de preços da hotelaria anunciada pela autarquia não era de conhecimento do ministro. E, no dia em que Vieira fez reunião com o setor, Dino não foi.
Boca de urna
A candidata a presidente da Câmara Rose de Freitas (PMDB-ES) conseguiu a proeza de ter mais cabos eleitorais espalhados pelo plenário do que votos: eram 82 voluntários fazendo boca de urna. Ela acabou recebendo 47 votos.
Sempre elas
A votação do Orçamento, marcada para a noite de hoje, está ameaçada. Deputados da base aliada avisaram ao Planalto que, sem o empenho das emendas individuais, prometidas no fim do ano, haverá obstrução. O governo prometeu R$ 5 milhões, em média, mas muito menos do que isso foi cumprido.
A que ponto
O deputado Vilson Covatti (PP-RS) espalhou "cola" falsa de cédulas com seu nome para uma vaga na Mesa da Câmara. Mas o candidato oficial do partido era Simão Sessim (RJ). Deputados vão acioná-lo na Comissão de Ética do PP.
Segurança para quê?
Em vistoria dos Bombeiros no prédio da Polícia Federal, em Brasília, foi sugerida instalação de escadas de incêndio pelas laterias, onde são as salas das chefias. Mas os diretores vetaram a obra para não perderem espaço em seus gabinetes.
O TITULAR desta coluna, Ilimar Franco, está de férias até o dia 18, período no qual esta será de responsabilidade de Simone Iglesias.
Tragédia e reparação - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 05/02
O governo federal vai cobrar dos donos da boate Kiss, em Santa Maria (RS), os benefícios previdenciários pagos aos familiares e às vítimas do incêndio que matou 237 pessoas em 27 de janeiro. A AGU (Advocacia Geral da União) vai impetrar ações regressivas previdenciárias para receber de volta o valor gasto em pensões e aposentadorias. Medidas desse tipo já são adotadas, com êxito, em acidentes por falta de segurança no trabalho e agressões enquadradas na Lei Maria da Penha.
Despejo 1 Em outro front, a AGU ajuizou ontem na Justiça Federal ação de reintegração de posse do chamado Palácio das ONGs, prédio no centro do Rio que pertencia à extinta LBA, foi cedido em comodato em 1999 e hoje abriga cerca de 30 entidades.
Despejo 2 As ONGs faziam intenso lobby junto ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) para obter a posse definitiva do imóvel, mas o TCU (Tribunal de Contas da União) instou o governo a pedir sua devolução imediata.
Fatura Eleito Henrique Eduardo Alves (RN), o PMDB vai enfrentar uma guerra pelas comissões da Câmara. Alves prometeu ao PSD a Comissão de Finanças e Tributação. Mas o novo líder, Eduardo Cunha (RJ), se comprometeu a manter a vaga com a seção mineira de seu partido.
Prejuízo Nas contas do PMDB, o partido de Gilberto Kassab prometeu, mas não entregou todos os votos a Alves. A cúpula do partido esperava mais de 300 votos para o presidente, que teve 271.
Nichos O PP pleiteia a Comissão de Minas e Energia; o PTB, a de Trabalho, e o PSDB, a de Turismo. Osmar Terra (RS), adversário de Cunha na briga pela liderança, quer Seguridade Social.
Salão Azul Aliados de Cunha atribuem a Renan Calheiros (PMDB-AL) a votação aquém do esperado pelo líder. O presidente do Senado agiu para que as bancadas do Maranhão e do Pará apoiassem Sandro Mabel (GO).
Estilhaço Se Henrique Alves não levar para a presidência o assessor Francisco Bruzzi, Cunha o demitirá. Bruzzi aparece em vídeo da Polícia Federal recebendo dinheiro de um empresário.
Justiça lenta Não é só a indicação do novo ministro do STF que Dilma Rousseff está segurando. Dormitam na mesa da presidente, à espera de sua assinatura, várias promoções de juízes federais a integrantes de Tribunais Regionais Federais (o equivalente a desembargadores).
Sinal verde A Cetesb concedeu ontem a licença ambiental de instalação para o Rodoanel Norte, vitrine eleitoral de Geraldo Alckmin. O documento permite início das obras em 45% do trajeto.
Feira Pré-candidato ao governo paulista em 2014, Gilberto Kassab (PSD) começou a percorrer eventos de grande concentração de público no interior. No final de semana, o ex-prefeito da capital foi às tradicionais festas da Uva, em Jundiaí e Vinhedo, e do Figo, em Valinhos.
Motim Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, convocou uma plenária para discutir amanhã a paralisação de funcionários em portos de todo o país contra a Medida Provisória do governo sobre o setor. Para o deputado, a MP diminui mão de obra ao conceder os portos à iniciativa privada.
Páreo Vicente Cândido ensaia disputar a presidência do PT paulista. Nas últimas semanas, pediu apoio a Fernando Haddad, Luiz Marinho e Edinho Silva, atual presidente. O deputado, que recusou posto na prefeitura, pode concorrer com Emídio de Souza, ex-prefeito de Osasco.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
Havia clima de consenso, mas a votação foi mais magra que o esperado. O Executivo terá de buscar mais diálogo com os deputados.
DO DEPUTADO FEDERAL ESPIRIDÃO AMIN (PP-SC), sobre a pequena margem da vitória de Henrique Eduardo Alves (RN) na eleição para presidente da Câmara.
contraponto
Sem vocação para herói
Ao cruzar com os irmãos Vieira Lima ontem, no plenário da Câmara, deputados brincaram com o episódio em que Geddel ficou preso em um elevador da Casa, no domingo. Dirigindo-se ao seu irmão Lúcio, Danilo Fortes (PMDB-CE) disse que, se o incidente fosse com ele, teria morrido, já que sofre de claustrofobia.
Em seguida, Mário Negromonte (PP-BA) questionou:
-Lúcio, você não foi lá salvar o seu irmão?
O deputado peemedebista respondeu, levando o ex-ministro e vice-presidente da Caixa às gargalhadas:
-Eu? Eu estava correndo atrás dos Bombeiros!
Elefante branco - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 05/02
Nunca tantos ficaram tão acabrunhados nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado.
Constrangimento insuficiente para gerar reação em prol de um Poder Legislativo melhor, mas um desconforto evidente resumido na frase precisa do deputado Chico Alencar: "O Parlamento está mal". Nem no PMDB o clima é de regozijo com o acúmulo de tanto poder: as presidências das duas Casas e a Vice-Presidência da República.
O partido gosta da posição, é claro, mas há muita gente ali percebendo que talvez não valha a pena o preço de ter um presidente do Senado com extenso telhado de vidro e um presidente da Câmara que nem de longe pode representar alguma expectativa de novos ares.
Os adversários Rose de Freitas (47 votos), Julio Delgado (165) e Chico Alencar (11) dedicaram um bom tempo de seus discursos às razões que rebaixam o Congresso na escala das instituições avaliadas em pesquisas de opinião.
Já o vitorioso Henrique Eduardo Alves (271 votos) fez de conta que o mar está para peixe. Reconheceu um erro aqui, outro ali - omissão no exame dos vetos presidenciais e nas regras para distribuição do Fundo de Participação dos Estados.
Preferiu falar de questões internas: distribuição mais igualitária de relatorias, obrigatoriedade na liberação de recursos de emendas individuais ao Orçamento e, em homenagem ao corporativismo explícito, propor uma TV Câmara "menos TV e mais Câmara", que deixe de lado evidências como plenário vazio e se dedique a divulgar as andanças dos deputados em seus Estados.
A ética celebrada ontem foi aquela da palavra firme dos partidos no cumprimento dos acertos entre bancadas.
Pronunciamento que torna a vitória autoexplicativa e não autoriza nenhuma esperança de que o Congresso consiga ao menos em breve, apesar do acentuado desconforto com a situação, reunir forças para enfrentar temas que poderiam ajudar na recuperação da credibilidade da instituição.
Três exemplos: fim dos 14º e 15º salários, fim do voto secreto para cassação de mandatos (propostas já aprovadas pelo Senado) e uma reforma política que reformule de verdade os meios e modos da relação entre representantes e representados.
A julgar pelos balanços das respectivas gestões feitos nas despedidas do senador José Sarney e do deputado Marco Maia, o Congresso tem atuado com extraordinária eficiência e decência. Ambos atribuíram a crescente opinião negativa do público em relação ao Parlamento a "injustiças e incompreensões" resultantes da "transparência" do Poder Legislativo.
O tipo do autoengano que não engana ninguém e, sobretudo, não devolve a estatura que deveria ter o ambiente onde se reúnem as pessoas eleitas para legislar, fiscalizar os atos do Executivo, debater os problemas nacionais.
Em suas despedidas Sarney e Maia saudaram enfaticamente os avanços tecnológicos ocorridos na Câmara e no Senado, sentindo-se, por isso, modernos e dignos de elogios.
Quanto a práticas que fazem a política brasileira permanecer atolada no atraso, não há informatização que dê jeito nem evite que a atual sessão legislativa comece velha, desgastada e, a despeito da desfaçatez da maioria, faça do Legislativo um poder combalido, envergonhado de si.
E nisso está coberto de razão.
Mão do gato. Nem bem assumiu a presidência do Senado, na sexta-feira, Renan Calheiros deixou de lado a discrição e tentou influir na escolha do líder do PMDB na Câmara.
Juntou-se a Jader Barbalho e José Sarney para trabalhar por Sandro Mabel - que acabou perdendo para Eduardo Cunha - e conseguiu virar votos no Maranhão e no Pará, reduzindo a votação de Cunha.
A ofensiva aumentou a tensão na bancada, expressa no resultado apertado, 46 votos a 32, de um PMDB onde começa de novo a se corroer a unidade interna já na perspectiva de 2014.
Nunca tantos ficaram tão acabrunhados nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado.
Constrangimento insuficiente para gerar reação em prol de um Poder Legislativo melhor, mas um desconforto evidente resumido na frase precisa do deputado Chico Alencar: "O Parlamento está mal". Nem no PMDB o clima é de regozijo com o acúmulo de tanto poder: as presidências das duas Casas e a Vice-Presidência da República.
O partido gosta da posição, é claro, mas há muita gente ali percebendo que talvez não valha a pena o preço de ter um presidente do Senado com extenso telhado de vidro e um presidente da Câmara que nem de longe pode representar alguma expectativa de novos ares.
Os adversários Rose de Freitas (47 votos), Julio Delgado (165) e Chico Alencar (11) dedicaram um bom tempo de seus discursos às razões que rebaixam o Congresso na escala das instituições avaliadas em pesquisas de opinião.
Já o vitorioso Henrique Eduardo Alves (271 votos) fez de conta que o mar está para peixe. Reconheceu um erro aqui, outro ali - omissão no exame dos vetos presidenciais e nas regras para distribuição do Fundo de Participação dos Estados.
Preferiu falar de questões internas: distribuição mais igualitária de relatorias, obrigatoriedade na liberação de recursos de emendas individuais ao Orçamento e, em homenagem ao corporativismo explícito, propor uma TV Câmara "menos TV e mais Câmara", que deixe de lado evidências como plenário vazio e se dedique a divulgar as andanças dos deputados em seus Estados.
A ética celebrada ontem foi aquela da palavra firme dos partidos no cumprimento dos acertos entre bancadas.
Pronunciamento que torna a vitória autoexplicativa e não autoriza nenhuma esperança de que o Congresso consiga ao menos em breve, apesar do acentuado desconforto com a situação, reunir forças para enfrentar temas que poderiam ajudar na recuperação da credibilidade da instituição.
Três exemplos: fim dos 14º e 15º salários, fim do voto secreto para cassação de mandatos (propostas já aprovadas pelo Senado) e uma reforma política que reformule de verdade os meios e modos da relação entre representantes e representados.
A julgar pelos balanços das respectivas gestões feitos nas despedidas do senador José Sarney e do deputado Marco Maia, o Congresso tem atuado com extraordinária eficiência e decência. Ambos atribuíram a crescente opinião negativa do público em relação ao Parlamento a "injustiças e incompreensões" resultantes da "transparência" do Poder Legislativo.
O tipo do autoengano que não engana ninguém e, sobretudo, não devolve a estatura que deveria ter o ambiente onde se reúnem as pessoas eleitas para legislar, fiscalizar os atos do Executivo, debater os problemas nacionais.
Em suas despedidas Sarney e Maia saudaram enfaticamente os avanços tecnológicos ocorridos na Câmara e no Senado, sentindo-se, por isso, modernos e dignos de elogios.
Quanto a práticas que fazem a política brasileira permanecer atolada no atraso, não há informatização que dê jeito nem evite que a atual sessão legislativa comece velha, desgastada e, a despeito da desfaçatez da maioria, faça do Legislativo um poder combalido, envergonhado de si.
E nisso está coberto de razão.
Mão do gato. Nem bem assumiu a presidência do Senado, na sexta-feira, Renan Calheiros deixou de lado a discrição e tentou influir na escolha do líder do PMDB na Câmara.
Juntou-se a Jader Barbalho e José Sarney para trabalhar por Sandro Mabel - que acabou perdendo para Eduardo Cunha - e conseguiu virar votos no Maranhão e no Pará, reduzindo a votação de Cunha.
A ofensiva aumentou a tensão na bancada, expressa no resultado apertado, 46 votos a 32, de um PMDB onde começa de novo a se corroer a unidade interna já na perspectiva de 2014.
Triste legislatura - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/02
Na economia, o ano não começou muito bem, mas pode melhorar. Na política, sem chance. A foto do ex-presidente Fernando Collor e do novo presidente do Senado, Renan Calheiros, rindo lembra aqueles pesadelos em que ficamos prisioneiros de uma cena que se repete. A frase de Lobão Filho sobre a vestal desossada parece uma confissão coletiva de mau comportamento.
Segundo Lobão Filho, "a última vestal nesta Casa foi desossada pela imprensa - Demóstenes Torres. Então, não há ninguém para levantar o dedo ao Renan Calheiros". Primeiro, acreditou na hipocrisia de Demóstenes quem quis. Segundo, ele perdeu mandato não pelo que disse, mas pelo que fez. Praticava o que condenava. Há outros defensores da ética que não são "desossados". E isso porque simplesmente se comportam como os princípios que defendem. Mas a declaração de Lobão Filho parece ser uma ameaça a quem quiser "levantar dedo" contra o presidente do Senado e um convite para que nos conformemos com o padrão moral dos novos comandantes e líderes.
A oposição mais uma vez mostrou a sua falta de espinha dorsal. Para defender uma secretaria no Senado para o mais controverso dos seus senadores, o PSDB de novo hipotecou metade da sua alma. Com a outra metade tentou salvar as aparências.
De saída da Presidência do Senado, que ocupou por quatro vezes, José Sarney chorou, disse que a Casa foi "pioneira em transparência" e citou Lincoln para dizer que nunca cravou, "por meu desejo", espinho no peito de ninguém. Deve ter sido sincero no choro. O escândalo dos atos secretos derruba a sua tese do pioneirismo da transparência. Quanto aos espinhos, Sarney foi um fiel sustentáculo político de um regime que cravou, deliberadamente, mais que espinhos no peito dos discordantes. Foi uma dose tripla porque, no fim de semana, houve a escolha de um líder polêmico para o PMDB na Câmara e depois a eleição, também controversa, de Henrique Eduardo Alves. Com todos eles, teremos isso, uma triste legislatura.
Na economia, as coisas também não estão bem, mas, como disse acima, com chance de melhorar. A indústria terminou 2012 com enorme retração, a balança comercial começou o ano com uma vermelhidão não vista em décadas. O pior do déficit comercial de US$ 4 bi é ele ter sido fruto de mais uma operação de administração das contas do país pela equipe alquimista que administra nossa economia.
Com a defasagem do registro das importações pela Petrobras é possível que nem todo o vermelho de 2012 tenha sido incluído nos números. Mas, de qualquer maneira, ao longo do ano o país deve acumular superávit no seu comércio externo.
A indústria pode se recuperar no ano, até pela base muito fraca, e ter resultados melhores. Na área fiscal, o pior não foi o país ter descumprido a meta de superávit primário. Isso seria compreensível se fosse explicado como resultado isolado de um ano de economia fraca e com o compromisso de fazer esforço maior nos anos bons. O pior mesmo foi a confusão nas contas públicas para maquiar resultados e esconder números que retiraram transparência dos indicadores. A dose da alquimia foi tão forte, tão criticada, que há uma chance de que a equipe econômica recorra menos a esses expedientes. Mas este ano, como um todo, tem chance de o país ter um desempenho melhor do que o que passou.
O que tem ficado cada vez mais estranho no executivo é a desenvoltura do ex-presidente Lula de se envolver na administração. Lula disse que seu maior desafio era o de aprender a ser ex-presidente. Deve se esforçar mais porque tem regredido nesse quesito. Ele está cobrando dos ministros o cumprimento das metas do governo. Reúne-se com a presidente com atitudes de chefe. Faz admoestações até do exterior. Esquisito. Para uma presidente que tem dito, em privado, querer governar oito anos, a presidente Dilma está passando a perigosa sensação de ter um governo tutelado.
Na economia, o ano não começou muito bem, mas pode melhorar. Na política, sem chance. A foto do ex-presidente Fernando Collor e do novo presidente do Senado, Renan Calheiros, rindo lembra aqueles pesadelos em que ficamos prisioneiros de uma cena que se repete. A frase de Lobão Filho sobre a vestal desossada parece uma confissão coletiva de mau comportamento.
Segundo Lobão Filho, "a última vestal nesta Casa foi desossada pela imprensa - Demóstenes Torres. Então, não há ninguém para levantar o dedo ao Renan Calheiros". Primeiro, acreditou na hipocrisia de Demóstenes quem quis. Segundo, ele perdeu mandato não pelo que disse, mas pelo que fez. Praticava o que condenava. Há outros defensores da ética que não são "desossados". E isso porque simplesmente se comportam como os princípios que defendem. Mas a declaração de Lobão Filho parece ser uma ameaça a quem quiser "levantar dedo" contra o presidente do Senado e um convite para que nos conformemos com o padrão moral dos novos comandantes e líderes.
A oposição mais uma vez mostrou a sua falta de espinha dorsal. Para defender uma secretaria no Senado para o mais controverso dos seus senadores, o PSDB de novo hipotecou metade da sua alma. Com a outra metade tentou salvar as aparências.
De saída da Presidência do Senado, que ocupou por quatro vezes, José Sarney chorou, disse que a Casa foi "pioneira em transparência" e citou Lincoln para dizer que nunca cravou, "por meu desejo", espinho no peito de ninguém. Deve ter sido sincero no choro. O escândalo dos atos secretos derruba a sua tese do pioneirismo da transparência. Quanto aos espinhos, Sarney foi um fiel sustentáculo político de um regime que cravou, deliberadamente, mais que espinhos no peito dos discordantes. Foi uma dose tripla porque, no fim de semana, houve a escolha de um líder polêmico para o PMDB na Câmara e depois a eleição, também controversa, de Henrique Eduardo Alves. Com todos eles, teremos isso, uma triste legislatura.
Na economia, as coisas também não estão bem, mas, como disse acima, com chance de melhorar. A indústria terminou 2012 com enorme retração, a balança comercial começou o ano com uma vermelhidão não vista em décadas. O pior do déficit comercial de US$ 4 bi é ele ter sido fruto de mais uma operação de administração das contas do país pela equipe alquimista que administra nossa economia.
Com a defasagem do registro das importações pela Petrobras é possível que nem todo o vermelho de 2012 tenha sido incluído nos números. Mas, de qualquer maneira, ao longo do ano o país deve acumular superávit no seu comércio externo.
A indústria pode se recuperar no ano, até pela base muito fraca, e ter resultados melhores. Na área fiscal, o pior não foi o país ter descumprido a meta de superávit primário. Isso seria compreensível se fosse explicado como resultado isolado de um ano de economia fraca e com o compromisso de fazer esforço maior nos anos bons. O pior mesmo foi a confusão nas contas públicas para maquiar resultados e esconder números que retiraram transparência dos indicadores. A dose da alquimia foi tão forte, tão criticada, que há uma chance de que a equipe econômica recorra menos a esses expedientes. Mas este ano, como um todo, tem chance de o país ter um desempenho melhor do que o que passou.
O que tem ficado cada vez mais estranho no executivo é a desenvoltura do ex-presidente Lula de se envolver na administração. Lula disse que seu maior desafio era o de aprender a ser ex-presidente. Deve se esforçar mais porque tem regredido nesse quesito. Ele está cobrando dos ministros o cumprimento das metas do governo. Reúne-se com a presidente com atitudes de chefe. Faz admoestações até do exterior. Esquisito. Para uma presidente que tem dito, em privado, querer governar oito anos, a presidente Dilma está passando a perigosa sensação de ter um governo tutelado.