quinta-feira, janeiro 24, 2013

Pais e filhos - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 24/01


Uma mãe, de Barra do Piraí, RJ, resolveu entregar o filho recém-nascido para a adoção no Conselho Tutelar da cidade.
Lá, segundo relatório da Secretaria municipal de Assistência Social, um conselheiro, já afastado, em vez de entregar o miúdo ao Juizado da Infância e da Juventude, como manda a lei, deu o pequeno para... um vereador. Este, por sua vez, o repassou a um casal mineiro.

Segue...
A mãe se arrependeu e, agora, luta para ter o filho de volta.

Diário de Justiça
A ministra Isabel Gallotti, do STJ, julga, em fevereiro, a ação de pensão alimentícia movida por Rosane Collor contra o ex-marido. Além de pensão de R$15 mil mensais, Collor, se condenado, terá que dar a ela, a título de “alimentos compensatórios”, dois apartamentos.

Lá vem o noivo
Juntos há 25 anos, Aldir Blanc, o grande compositor, e Mari se casaram, no civil, ontem.

Que nem Obama
Do juiz Alexandre Gavião Pinto, de Itaguaí, RJ, que concedeu a um transexual o direito de mudar o nome em seus documentos:
— É justo e aceitável que o transexual submetido a uma cirurgia de transgenitalização, seja compelido, arbitrária e injustamente, a carregar o nome e o sexo que lhe foram atribuídos em seu nascimento pelo resto de sua vida?

Freire em Lisboa
O grande pianista Nelson Freire vai se apresentar, dia 13 de março, no Teatro São Carlos, em Lisboa, dentro da programação do Ano do Brasil em Portugal.

BELEZA TIPO EXPORTAÇÃO
Lucy Ramos, 30 anos, a funkeira Sheila de “Salve Jorge”, a novela da TV Globo, vai aparecer assim linda como sempre no livro “Paradise in Brazil”, do escritor e fotógrafo Joaquim Nabuco, bisneto do abolicionista, que sai em março nos EUA pela editora Schiffer Books. A bela mulata, que vai desfilar na União da Ilha, como a Eurídice, da mitologia grega, é uma das 130 beldades brasileiras, captadas pelas lentes de JN, que vão encher o livro de beleza. Merece! 

Lula nada sabe
O Imprensa Que Eu Gamo, bloco dos coleguinhas cariocas, misturou Dirceu, Carolina Dieclamann e Lula. Deu samba. Veja um trecho da letra: “Zé Dirceu se perdeu/ Antes ele do que eu/A Carolina todo mundo viu pelada/Menos o Lula que nunca sabe de nada.” 
Faz sentido. 

Rei do Bacalhau
A Justiça do Rio marcou para 9 de abril o julgamento de Márcio dos Santos Pereira, o “Cachorrão”, acusado de matar um gerente do Rei do Bacalhau. Será o primeiro júri dos processos que envolvem o assassinato, em 2007, de Plácido da Silva Nunes, o português dono do restaurante.

Segue...
O crime, como se sabe, teria sido encomendado pelo filho de Plácido, Antônio Fernando da Silva.

Peito de frango
O Tribunal de Contas do Estado do Rio apontou ilegalidade na compra de alimentos, que a prefeitura de Nova Friburgo, fez, em 2010, para sua rede de saúde, no valor de R$1,3 milhão. Foi constatado superfaturamento no preço do peito de frango, batata inglesa e cenoura.

Força, Vasco!
Há uma articulação para fazer o advogado Wadih Damous, ex-presidente do OAB do Rio, candidato à presidência do Vasco. A chapa seria de oposição a Roberto Dinamite e a Eurico Miranda.

O outro lado
A Sony nega que a 16ª Câmara Cível do Rio tenha determinado o reajuste da multa, de R$ 1,5 milhão para R$ 2 milhões, por causa da música “Veja os cabelos dela”, de Tiririca. Diz que os autores da ação foram autorizados a se manifestarem sobre o cálculo dela. “Não quer dizer, de forma alguma, que haverá majoração do valor da multa imposta”, alega a gravadora.

Djavan na África
Depois de uma turnê de sucesso pelo Chile e pela Argentina, Djavan, o querido cantor da música brasileira, está de viagem marcada para a África. Vai fazer show, pela primeira vez, em Maputo, capital de Moçambique, nos dias 14 e 16 de fevereiro.

Alô, Beltrame
A coluna adora a Lapa e vive perguntando: o que a polícia do Rio faz pelo bairro boêmio? Uma turma foi atacada, sábado, na Rua Joaquim Silva, por mais de dez bandidos. Os assaltantes, veja só, usavam spray de pimenta. Foi assim: escolhiam a vítima, aplicavam o produto e, enquanto a pessoa esfregava os olhos, roubavam seus pertences.

Ponto Final

Cid Gomes, o da tunga dos royalties do Rio, confirma a tese do Barão de Itararé (1895-1971), que disse: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada.” Com todo o respeito.


Atores famosos no palco - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 24/01


Uma caraterística da telenovela talvez produza atores sempre atentos ao retorno da platéia


Passei um mês em Nova York -escrevendo, lendo e frequentando teatros, cinemas e galerias. Aproveitei para ver ao vivo alguns atores de cinema ou de televisão. Por que eu não estaria a fim de "conhecer os corpos" de atores que dão vida a ficções que me tocam?

No teatro, nunca desdenho uma primeira fileira, de onde é fácil ouvir a respiração e enxergar as gotas de suor e de saliva que constituem, para mim, o charme da presença material, física do ator.

Vi Jessica Chastain (a imperdível protagonista de "A Hora Mais Escura", de Kathryn Bigelow, que estreará em 15 de fevereiro), David Strathairn e Dan Stevens (o Matthew Crawley de "Downton Abbey" -agora no GNT), todos em "The Heiress" ("A Herdeira"), de R. e A. Goetz, no Walter Kerr Theatre. E vi Scarlett Johansson em "Cat on a Hot Tin Roof" ("Gata em Teto de Zinco Quente"), de Tennessee Williams, no Richard Rodgers Theatre.

Ao entrarem no palco, os atores eram recebidos por aplausos que sustavam a ação: afinal, o público estava lá para vê-los. Mas, fora essas breves suspensões, todos eles seguiam o que é hoje um padrão de atuação: uma sólida quarta parede. Explico.

No teatro, o palco é delimitado por três paredes, a quarta sendo a que está faltando, de modo que a plateia possa enxergar a ação. Os atores podem aproveitar dessa abertura para interagir com o público (lembrando assim a todos que se trata de uma peça) ou, no extremo oposto, agir como se eles estivessem sozinhos, entre quatro paredes.

Hoje, em regra, o ator (ainda mais se for de cinema) tende a atuar assim, entre quatro paredes, como se não houvesse câmera nem plateia. A ponto que uma cumplicidade com o público parece intencional -um jeito de transgredir o padrão dominante, de nos fazer rir ou de nos distanciar da história representada.

A experiência foi diferente quando fui ver Al Pacino em "Glengarry Glen Ross", de David Mamet, no Schoenfeld Theatre. Aqui, a atuação de Al Pacino era um grande aparte endereçado ao público. Mesmo nos diálogos com os outros atores, ele olhava e falava para nós.

Não vou me queixar de que, num diálogo comigo (e 800 outros, claro), ele usasse as manhas de Michael Corleone, Frank ("Perfume de Mulher") ou Lefty ("Donnie Brasco"). Afinal, eu estava lá para isso, não é?

No Brasil, também, já vi atores famosos do cinema e da televisão atuando no teatro. Nunca vi um deles dar uma de Al Pacino e quebrar a quarta parede para oferecer ao público um banho de presença estrelada.

Em compensação, fico quase sempre com a impressão de que, no Brasil, os atores mantêm uma conexão com a plateia que abre uma fresta na famosa quarta parede.

É óbvio que não estou me referindo a peças nas quais, de maneira intencional, os atores interagem com a plateia como se não houvesse quarta parede. É óbvio também que não estou falando de rupturas escrachadas da quarta parede, como, sei lá, apartes ou piscadinhas engraçadas para o público.

Ao contrário, gostaria de descrever (mas não consigo) uma impressão sutil de que os atores, aqui no Brasil, atuam PARA mim. Ou seja, que a presença da plateia pesa no que acontece no palco.

Se essa minha impressão capta alguma realidade, qual seria uma origem possível do fenômeno? É difícil superestimar a importância da telenovela na cultura nacional (e, por consequência, na formação dos atores). Ora, há uma especificidade da novela que dota a quarta parede de uma leve, mas constante transparência. Qual?

A novela é escrita enquanto está sendo gravada e vai ao ar -ela é um pouco herdeira da "commedia dell'arte", uma gloriosa forma de teatro em que os atores improvisavam a partir de uma sinopse.

A primeira consequência disso é que, na novela, como em nenhum outro gênero, a relevância de um personagem e seu destino na história podem depender da recepção que o público lhe reserva.

O ator sabe que, se seu personagem conquistar o público (pelo bem ou pelo mal), ele ganhará relevância nos capítulos seguintes (um personagem pode ser secundário na sinopse e se tornar central ao longo da novela). Ou seja, o caráter inacabado do texto impõe ao ator uma tarefa que corrói a opacidade da quarta parede: a tarefa de ser especialmente apreciado (gostado ou odiado, tanto faz).

Em suma, talvez a telenovela, por sua relevância e por essa sua caraterística, produza, entre nós, atores particularmente atentos ao retorno da plateia. Não sei se é um bem ou um mal.

A História e os cheiros - CORA RÓNAI

O GLOBO - 24/01


Fui para a Índia bastante preocupada com os cheiros que encontraria; pois me preocupei à toa

Tenho algumas perguntas que nunca serão respondidas. Gostaria de saber, por exemplo, qual era o gosto da comida na Idade Média. Posso ler mil descrições, mas nenhuma jamais corresponderá à garfada que me esclareceria essa dúvida. Tenho certeza de que eu detestaria praticamente qualquer prato, já que sutileza não era uma marca registrada da época. Já participei de alguns jantares “medievais” na Europa, em que cozinheiros criativos tentaram recriar antigas receitas, mas faltava-lhes metade dos ingredientes e, imagino, boa parte da coragem para carregar nos temperos.

Tenho também muita curiosidade em relação ao cheiro do mundo. Quando passeio por encantadoras cidades antigas, em que tudo parece cenário de filme de época, nunca esqueço que, no tempo em que viveram seu auge, as noções de higiene eram bem diferentes das nossas. As ruazinhas estreitas que tanto me encantam eram melequentas e imundas. Bichos de todos os tipos circulavam entre as pessoas, de bodes e vacas a ratos e insetos; ninguém tomava banho; havia esgotos a céu aberto. Cavalos, bois e burros ocupavam as ruas, montados ou puxando carroças, e deixavam por toda a parte o rastro da sua presença. Queimava-se incenso nas igrejas não por motivos sagrados, mas para dar um trato no bodum de tanta gente junta: havia quem acreditasse que a fumaça afastava doenças.

Tive dois momentos de grande percepção histórico-olfativa, digamos assim. O primeiro aconteceu na Turquia quando, circulando pelo interior, fui parar numa aldeia minúscula que pouco tinha mudado com os séculos. As casas eram construídas em dois pisos. No térreo ficavam os armazéns e os animais; no andar superior, as pessoas. Entrei em várias delas e, embora estivessem limpas, o aroma era — para usar um termo diplomático — intenso. Estávamos no começo da primavera, o que significava portas e janelas abertas e espaços arejados. Não tive imaginação suficiente para fazer ideia de como seria no inverno.

O outro momento aconteceu em Delhi. Fui para a Índia bastante preocupada com os cheiros que encontraria; pois me preocupei à toa. Não cheirei nada no país que já não tivesse cheirado, e bem pior, depois da passagem de um bloco pelas ruas do Rio. A exceção foi na Jama Masjid, a grande mesquita. Em frente ao magnífico edifício havia uma muvuca completa, em que se misturavam no ar os cheiros dos perfumes usados pelos indianos, das frituras preparadas pelos vendedores de comida, dos animais que seriam sacrificados no dia seguinte (estávamos às vésperas do Eid) e de um esgoto nauseabundo. Fiquei em estado de choque nasal — e devo ter ficado também meio esverdeada, pois logo um rapaz me ofereceu um frasco minúsculo com um cheiro suficientemente forte para encobrir os demais pela módica quantia de cinquenta rúpias. Mal sabia ele que eu teria dado qualquer coisa por aquilo!

Ali, de frasquinho nas ventas, tive plena consciência de que estava o mais perto possível do cheiro com que a Humanidade conviveu, universalmente, até descobrir as primeiras noções de higiene, há meros 200 anos.

Na sequência eu ia a Varanasi, antiquíssima cidade à beira do Ganges, onde, além de todos os cheiros já descritos, me esperava, ainda, a fumaça das piras de cremação. Pelo sim, pelo não, comprei mais um vidrinho de sais aromáticos do vendedor, que estava tendo um ótimo dia com os firangs. Cheguei a pensar em cancelar a viagem, o que teria sido um grave erro. Varanasi é a cidade mais impressionante que já visitei. É linda, está suspensa no tempo e cheira predominantemente a incenso e especiarias. Tem sua cota de ruas mal cheirosas, mas nada que se compare ao que encontrei em Delhi.

Quanto às piras funerárias, não cheiravam nem fediam. Os indianos dizem que isso se deve a Krishna; já eu acho que se deve à brisa. Só vim a descobrir qual é o cheiro que temos quando nos cremam em Pashupatinath, na área sagrada de Kathmandu, onde Krishna e o vento não trabalham, e onde não há incenso que dê jeito no ar. Muitos ocidentais mais sensíveis passam mal, mas eu estava curiosa demais para me dar a esse luxo.

Mas se o fedor do passado me interessa, mais ainda me interessa o perfume. Adoro incensos e gosto de imaginar que nos acompanham desde tempos imemoriais. Daria tudo para saber com que cheiro ficava Cleópatra depois dos seus famosos banhos e quais eram os perfumes favoritos dos egípcios e dos romanos. Podemos ter uma vaga ideia disso indo às perfumarias orientais que ainda trabalham com óleos essenciais naturais. Os cheiros de origem animal, como o ambar gris e o musk, ou os extraídos de flores, de especiarias e de madeiras, continuam basicamente iguais.

Durante séculos e séculos tivemos uma paleta de fragrâncias mais ou menos imutável. Só começamos a cheirar de acordo com os nossos tempos em 1889, ano em que a Torre Eiffel foi erguida em Paris e em que um jovem perfumista chamado Aimé Guerlain inventou de usar moléculas sintéticas.

Mas isso já é outra história.

Calcanhar ou ponta dos pés? - FERNANDO REINACH

O ESTADÃO - 24/01


Conta a lenda que perguntaram a um ancião com uma longa barba se, ao deitar, ele colocava a barba por baixo ou por cima do lençol. Ele não soube responder, mas dizem que nunca mais o ancião dormiu direito, preocupado com a posição de sua barba.

Fenômeno semelhante vem ocorrendo com praticantes de corridas de longa distância desde 2010. Um estudo relatado nesta coluna em 26 de fevereiro de 2010 (O tênis e o problema da evolução do pé) demonstrou que os grandes corredores de longa distância do Quênia, os kalenjin, que treinam descalços, correm pousando sobre a parte anterior dos pés e assim evitam o forte impacto do calcanhar no solo. Já os corredores ocidentais, que usam calçados especializados, pousam sobre o calcanhar e dependem do amortecedor dos sapatos para minimizar o impacto.

Qual a maneira correta de correr? Seria a supostamente usada por nossos ancestrais, que evita as lesões tão comuns entre corredores? Paranoicos de plantão suspeitaram de uma conspiração internacional cujo objetivo era promover a corrida com o calcanhar para induzir lesões e assim vender tênis cada vez mais caros e sofisticados. Agora um novo estudo analisou a maneira de correr de outra tribo do Quênia, os daasanach, e a história ficou mais complicada.

Nós e nossos ancestrais corremos faz mais de 2 milhões de anos. Pegadas fossilizadas descobertas no Quênia registram os passos descalços de nossos ancestrais há 1,5 milhão de anos. Pegadas mais recentes, de 20 mil anos, mostram homens correndo descalços na Austrália. Os sapatos mais antigos são de 8,3 mil anos atrás, criados pelos habitantes da região central dos EUA. Só por volta de 1970 que sapatos para corredores de longa distância foram desenvolvidos e ficou confortável correr com o calcanhar. Sem dúvida fomos selecionadas para correr descalços, mas utilizando qual dos métodos? Como é impossível descobrir o método dos nossos ancestrais, sobra descobrir como nossos contemporâneos que não usam sapatos correm.

Para responder a essa pergunta, cientistas foram a uma das aldeias dos daasanach, instalaram uma espécie de tapete capaz de medir o impacto dos pés no solo e filmou 19 homens e 19 mulheres correndo descalços. As pessoas foram instruídas a correr na velocidade necessária para longas distâncias (cada um podia escolher a velocidade que julgasse mais confortável). Depois, o teste foi repetido, mas as pessoas deviam correr o mais rápido possível. Analisando o filme, os cientistas calcularam a velocidade de cada corredor e como ele pousava o pé a cada passada. Analisando os dados gerados pelo tapete, puderam avaliar o impacto dos pés sobre o solo.

Os resultados demonstram que cerca de 80% dos daasanach, quando correm em ritmo de longa distância (2 a 3 metros por segundo) pousam - espanto geral - com o calcanhar. Metade desses mesmos corredores, quando correm mais rápido (6 a 7 metros por segundo), passa a usar a ponta dos pés para pousar. Os 20% que correm em baixa velocidade pousando com a ponta dos pés mantêm o mesmo comportamento em altas velocidades.

Esses resultados demonstram que os dois métodos de corrida são usados nessa tribo e que a preferência por um ou outro depende da velocidade em que os daasanach correm. As medidas de impacto sobre o solo confirmam os resultados anteriores: ele é muito maior quando as pessoas pousam com o calcanhar. Também foi observado que, à medida que a velocidade aumenta, o impacto aumenta nas duas formas de correr, o que já era esperado.

Os cientistas acreditam que esses resultados são mais representativos de como corriam nossos ancestrais. De certa forma, esses novos dados podem ser conciliados com os dados de 2010 - afinal, os corredores kalenjin são atletas profissionais ou praticantes assíduos de corridas e é natural que usem a ponta dos pés.

E você, caro leitor, como deve correr, agora que sabe tudo isso? Com tênis e usando os calcanhares em baixas velocidades e descalço ou com um tênis fino quando corre mais rápido? Será que surgirão tênis autoajustáveis, que aumentam ou diminuem a altura e o amortecimento do calcanhar dependendo da velocidade do corredor? Mas o que é alta e baixa velocidade para um trabalhador de escritório que corre algumas vezes por semana?

Tudo indica que, com essas novas descobertas, os corredores terão o mesmo problema de nosso ancião. A mim só resta pedir desculpas por destruir parte do seu prazer de correr.

Ueba! Felipão convoca Murtosa! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/01


E o Kaká? O Felipão não convocou o Kaká só porque ele deu um carrinho na bispa Sonia! Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adorei a charge do Clayton com o juramento do Obama: "Juro que adorei sua franjinha, Michelle". Rarará! E esta: "Beyoncé dublou o hino na posse de Obama". Melhor a Beyoncé dublando que a Vanusa cantando! Rarará!

E quando a Beyoncé tem orgasmos, é ao vivo ou playback?! E atenção! O Felipão anuncia a Seleção do Torcedor: Lexotan, Rivotril, Apraz, Lorax, Vallium, Diazepan e Maracujina! E Canjebrina, Cachaça e Vaselina!

E porque o Felipão não convocou o ataque fulminante da Cooperativa Agrícola de Cotia: PAÇOCA e COMI O PAÇOCA?! Rarará!

E o chargista Marco Aurélio revela o Felipão anunciando a convocação: "Vamos aos nomes: Murtosa mais 11". Rarará! Esta foi a verdadeira convocação do Felipão: Murtosa mais 11! E o Ronaldinho Gaúcho foi convocado porque o Felipão é louco por um pandeiro! E o Ronaldinho Gaúcho tá sempre impedido porque os dentes chegam antes!

E o Kaká? Seleção sem o Kaká é um kokô! O Kaká já tá tiozinho! Sabe o que os outros falam pro Kaká no vestiário? "Tio, me passa a toalha!" E o Felipão não convocou o Kaká só porque ele deu um carrinho na bispa Sonia! E o goleiro Júlio César! Ele precisa tomar cuidado: é chegado num Big McChicken. E diz que tem os braços mais curtos que um recém-nascido.

E o site Futirinhas disse que "pro Júlio César defender uma cobrança de falta, tem que adivinhar o canto e pular duas semanas antes". Rarará! Sacanagem! Sempre digo que o melhor goleiro do mundo é a cueca: segura duas bolas e um atacante! Mas não conta pro Felipão senão ele pendura uma cueca no gol! Rarará!

E o aniversário do Rogério Ceni? Ele tem 40 anos de idade. E 87 de goleiro. Só no São Paulo. O Ceni defendeu o primeiro arremesso de tijolo da fundação do São Paulo. O segundo ele engoliu. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E tá crescendo a minha lista dos The Walking Deads: a Venezuela é governada por um morto. Cuba pelo irmão do morto. Argentina pela mulher do morto. Coreia do Norte pelo filho do morto.

Brasil pela sucessora de um que se finge de morto. O Maranhão por um que não morre jamais. E agora: Salvador pelo neto do morto. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!


O Brasil precisa de novos partidos? - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 24/01


No Brasil é assim. Sempre que um político perde espaço no partido que o abriga, cai na tentação de criar uma nova agremiação. E algumas vezes acaba criando mesmo. E o resultado pode até ser positivo para o político que liderou a iniciativa.

Mas para o eleitor e para o sistema partidário, de um modo geral, é uma lástima. Os novos partidos em nada contribuem para dar clareza ao debate político ou para encaminhar as votações das reformas de que o país necessita.

Assim, o efeito prático do surgimento de novas siglas quase sempre se reduz a mais uma boca para morder um naco do fundo partidário - dinheiro público destinado a cobrir as despesas básicas das agremiações - e mais um para dividir o tempo no horário eleitoral gratuito.

Se o partido obtém algum sucesso, e consegue eleger uma bancada expressiva, eventualmente, pleitear um ministério ou uma secretaria estadual em troca da promessa de apoio nas votações parlamentares de interesse do Executivo.

É nesse momento - o das alianças que aproximam os novos partidos das legendas das quais se desgarraram - que as novas agremiações revelam toda sua falta de compromisso com as ideias que justificaram sua existência.

Isso é dito, naturalmente, a propósito do Movimento por uma Nova Política, que pode resultar na criação de um novo partido, encabeçado pela ex-senadora Marina Silva, do Acre.

Marina, como se sabe, fez carreira política no PT, disputou as eleições presidenciais de 2010 pelo PV e, depois, rompeu com o partido e hoje está sem filiação partidária.

Tem uma história exemplar no que diz respeito à superação de dificuldades pessoais - mas, com exceção desses aspectos louváveis de sua biografia, pouco acrescenta ao panorama político brasileiro.

A bandeira da sustentabilidade, que ela empunha e que é o centro do discurso do movimento, é simpático, mas insuficiente para servir de mote à criação de uma nova legenda.

A causa da sustentabilidade é uma necessidade imperativa de sobrevivência, mas deve ser consequência de uma política que tenha a educação como princípio. Como ponto de partida de uma ação política, a bandeira da sustentabilidade torna-se excludente, pouco agregadora e revela o defeito de quase todos os partidos existentes no país: ser criado de cima para baixo, sem qualquer conexão com a sociedade.

Não apenas no que se refere ao partido de Marina mas a todos os demais, o que o Brasil precisa não é de novas legendas. O que o país precisa é de uma reforma geral na política e no compromisso dos políticos com o trabalho pesado da busca por uma nova ordem fiscal.

Sem esse compromisso e sem a percepção que o Estado brasileiro precisa de um novo ordenamento legal, não adianta criar partidos, pois tudo seguirá como antes. Sem tirar nem pôr.


Davos procura turma alternativa - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 24/04


Cansado com a falta de respostas para a crise, o Fórum volta-se para o 'Novo Pensamento Econômico'


DAVOS - O Fórum Econômico Mundial, uma instituição financiada por um punhado das mais portentosas corporações globais, parece ter se cansado de ficar ouvindo os de sempre, sem que surjam desses debates soluções para a crise em que se debate o mundo há cinco anos.

Acaba de anunciar que vai procurar novas ideias, com um novo parceiro, chamado exatamente Inet (sigla em inglês para Instituto para um Novo Pensamento Econômico).

A necessidade de sair do quadradinho ortodoxo em que estão encapsuladas as lideranças globais aparece na página on-line do Inet: "O estrago provocado pela recente crise financeira global tem demonstrado vivamente as deficiências das teorias econômicas atuais, e mostrado a necessidade de um novo pensamento econômico - agora".

Por que procurar uma instituição até agora fora do radar da ortodoxia, da grande mídia e dos governos? Simples: "O nível de confiança nas instituições [existentes] está no seu nível mais baixo historicamente", como disse Muhtar Kent, presidente da Coca-Cola, na entrevista coletiva em que os copresidentes do encontro anual 2013 do Fórum apresentaram suas expectativas.

Por isso, o Fórum e o Inet vão colaborar para "encontrar soluções inovadoras e duráveis para os problemas econômicos, sociais e políticos que persistem. Para fazê-lo, unirão esforços para mobilizar não somente uma nova geração de pensadores econômicos, mas também os eruditos mais influentes de um grande número de disciplinas".

Essa é a grande qualidade do Inet: busca um enfoque multidisciplinar, além de oferecer nomes de economistas que escapam da lista dos suspeitos de sempre, eternamente ouvidos pela mídia e pelo empresariado, apesar de errarem 11 de cada 10 previsões

Exemplo: há um curso do Inet que junta economia e teologia.

Por mera coincidência, dois dos principais jornais do planeta, os britânicos "Guardian" e "Financial Times" trataram ontem do estado de espírito de Davos.

O "Guardian", depois de lembrar o tom triunfalista que prevalecia nos encontros até a crise de 2008, diz que esse ânimo desapareceu, e decreta: "O modelo econômico estimulado pelo povo de Davos explodiu; qualquer conserto ou reformas duradouras terá que vir de lugares e perspectivas muito diferentes".

Já Gideon Rachman, no "Financial Times", escreve: "O Fórum Econômico Mundial era uma celebração da globalização e de suas possibilidades. Mas a crise financeira pôs um freio em tudo isso. Os quatro últimos fóruns de Davos têm sido sombrios, dominados por um sentimento de que o capitalismo global está em crise".

Concorda com eles Lee Howell, diretor-geral do Fórum: "A situação mundial indica que devemos questionar as hipóteses econômicas fundamentais e adotar uma nova maneira de pensar globalmente".

As primeiras "novas maneiras de pensar globalmente" serão apresentadas já no "Davos de verão", o encontro de todo setembro, na China. Saber-se-á, então, se o novo de fato é capaz de enfrentar as crises de uma maneira integrada.

A volta dos leilões de petróleo e a licitação de gás de xisto - ADRIANO PIRES

BRASIL ECONÔMICO - 24/01


O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou a 11ª Rodada de Licitação e, também, a realização de uma rodada de licitação de áreas para exploração de gás de xisto para dezembro de 2013.

A rodada de gás de xisto foi anunciada apenas como intenção do governo em diversificar a matriz energética brasileira, mas depende ainda do resultado da coleta de dados na Agência Nacional da Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre a localização e volumes potenciais nas bacias.

Caso todos os blocos sejam arrematados, a área exploratória brasileira, que atualmente é de 114,3 mil km², e vinha diminuindo nos últimos anos, terá um crescimento de 106%.

Entre as áreas anunciadas, o destaque será a região conhecida como Margem Equatorial Brasileira, formada pelas bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar, todas de fronteira exploratória.

Essas áreas apresentam um potencial petrolífero promissor, caracterizado pelas descobertas comerciais nas bacias do Ceará, Pará-Maranhão e Potiguar, além dos numerosos indícios de petróleo registrados nos poços perfurados.

O petróleo identificado nessas bacias é considerado leve, de excelente qualidade, de até 44° API, e recentes descobertas na costa oeste africana, por exemplo, nas bacias de Gana e Costa do Marfim, com características geológicas análogas às bacias da margem equatorial brasileira, comprovam o potencial da região.

Em 2011, a ANP estimava em, aproximadamente, R$ 200 milhões o volume a ser arrecadado com bônus de assinatura pelos blocos, mas este valor poderá ser ainda mais expressivo, devido às condições de competitividade esperadas, com tantos anos de atraso de leilões.

O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) estima que os bônus possam alcançar US$ 1 bilhão (R$ 2,04 bilhões).

Outra questão importante é que a falta de solução para a divisão dos royalties entre os entes federativos traz um risco regulatório para a 11ª Rodada, na medida em que tanto estados produtores como os não-produtores podem levar o assunto para a justiça.

A indefinição poderia permitir que algum agente entrasse com uma liminar impedindo a realização do leilão. É esperado que o processo de debates para a apreciação do veto da presidente Dilma ao artigo 3º do Projeto de Lei aprovado no Congresso e para a votação em relação à Medida Provisória editada pela Presidência seja iniciado a partir de fevereiro.

Em relação a rodada relativa à exploração de gás de xisto para dezembro de 2013, a ANP está conduzindo um estudo que está previsto para até o final de 2013, o que pode atrasar o processo licitatório.

Os estudos envolvem as bacias do Parecis (MT), do Maranhão, do Piauí, do Tocantins e do São Francisco. É importante ressaltar que a falta de uma legislação e regulação especifica para o gás não convencional desestimula a sua produção.

Se o objetivo é tentar aumentar a produção de gás no Brasil, a ANP deveria propor uma legislação própria para o gás de xisto e, até mesmo, criar incentivos como a cobrança de royalty diferenciado para o gás não convencional.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 24/01


GOVERNO DO RIO QUER FISCALIZAR LIGHT E AMPLA
Estado vai propor àAneel transferência de atribuições, nos moldes do que São Paulo faz comas distribuidoras de energia
O governo do Rio quer assumir a fiscalização e a regulação das distribuidoras de energia do estado, nos moldes do que faz com a CEG, concessionária de gás. Após reuniões com Ampla e Light, em razão de uma série de interrupções no fornecimento de energia durante as festas de fim de ano e o início do verão, Julio Bueno, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e Energia, decidiu negociar com a Aneel a transferência de atribuições. A medida não seria inédita. São Paulo já tem acordo com o órgão regulador e fiscaliza as distribuidoras. "A fiscalização local nos daria mais flexibilidade para direcionar investimentos e resolver os problemas do setor. A Aneel fica em Brasília', argumenta o secretário. No par de encontro com as distribuidoras, o secretário descobriu que as empresas estão em dia com as exigências regulatórias de investimentos. Mas concluiu que o volume de recursos aplicados pela Ampla são insuficientes, em particular, na Costa Verde. A Light, por sua vez, carece de um programa eficaz de redução de perdas. O acordo com a Aneel vai depender do repasse ao estado de recursos para fiscalização e de poder para aplicar multas e regular as empresas.

Tá alta
O Itaú elevou para 0,93% a previsão para o IPCA deste mês. Se confirmado, será o maior resultado em quase uma década. A inflação ficou em 0,97% em abril de 2003.

Via Dutra
A Baixada ganhará mais um shopping. Ficará na Via Dutra, altura de Queimados. Projeto de R$ 240 milhões da Portfólio Asset, terá 260 lojas, cinema, academia e supermercado, em 40 mil metros quadrados de área locável. Fica pronto em 2015.

Minas industrial
O PIB de Pouso Alegre, no sul de Minas, deve bater R$ 8 bilhões este ano. É alta de 170% sobre 2012. Em julho, a chinesa XCMG, de máquinas pesadas, inaugura planta na cidade. No mês seguinte, a Unilever abre centro de distribuição. A previsão é abrir dez mil postos de trabalho em 2013.

Exportação 1
Pesquisa da DHL Express, múlti de logística, revela que 57% das operações do Brasil com o exterior são feitos por micro e pequenas empresas. Nove em dez pedidos (89%) envolvem documentos, encomendas de bens e amostras em geral.

Exportação 2
Engenharia pesada, química, e empresas alimentícias são as áreas que mais exportam. Em 2011, as MPEs giraram US$ 2,2 bi, diz o Sebrae. É crescente a importância na pauta externa brasileira.

Sucata da discórdia
A Câmara de Comércio Exterior se reúne amanhã para analisar o pedido de taxação das exportações brasileiras de sucata. A decisão sai dia 5 de fevereiro. Mas a chance de aplicação da sobretaxa é baixa, antecipa a própria Camex. É que no país só há três casos similares.

O Instituto Aço Brasil (IABr) reivindica o acréscimo para países que taxam a venda de sucata (reciprocidade). As
siderúrgicas se queixam da falta do insumo no país. O Inesfa, que representa o setor de sucata, diz que a taxação inviabilizaria o comércio internacional. E alega que, só em São Paulo, há 200 mil toneladas de sobras. Marco Polo de Mello Lopes, do IABr, diz que o setor precisa de um milhão de toneladas: "O estoque necessário é de 30 dias; 200 mil toneladas nos suprem só por cinco".

A agência France Press passa a distribuir notícias de arte e cultura na Nuvem de Livros. A biblioteca virtual é projeto da GolMobile para a Vivo. Reúne seis mil livros digitais.

0 Leoni Siqueira Advogados participa no fim de semana de duas feiras de recrutamento nos EUA. Quer trazer para o Brasil alunos da Columbia e da New York University.

A Soulier, de sapatos e acessórios, investiu R$ 20 mil em ações de carnaval. Terá kit com bolsa, viseira e doleira. Quer vender 20% mais.

Foi de R$ 27,5 bilhões a receita líquida de serviços da Oi em 2012. Ajustada à renda com venda de aparelhos, gera queda de cerca de 2,5%, não de 5%, na receita total.

LIQUIDAÇÃO DE CARROS
A Recreio Veículos, de concessionárias Volks, lança hoje a campanha 0fertas Campeãs, com descontos em mais de mil veículos. 0 filme, da 11:21, mostra um pátio lotado de carros. A meta é vender 18% mais.

VÍTIMAS DA SECA
A atriz Julia Lemmertz estrela campanha que a ActionAid põe na rua hoje. Pede doações para famílias vítimas da seca no Nordeste. 0 vídeo questiona se a situação na região pode piorar. Circula em redes sociais. A previsão é que seja assistido por cinco mil pessoas em um mês.

Know-how
O Senai Brasil exportou seu modelo de estudos sobre o setor de construção. Costa Rica, El Salvador, Honduras, República Dominicana e Panamá vão mapear tendências para planejar a capacitação da mão de obra.

Haircut
De olho nos estrangeiros que vêm ao Brasil, o Instituto LOréal Professionnel dará curso para cabeleireiros em inglês. Deve formar 60 este ano, no Rio e em São Paulo.

Malas prontas
A Rimowa, grife de malas de origem alemã, teve alta de 51% nas vendas no Brasil em 2012. Foi o melhor ano da empresa no país, em cinco de operação. A fábrica em SP monta 150 unidades por dia.

Atividade
O Aeroporto Internacional de Cabo Frio recebeu, na semana passada, quatro voos extras de carga, além de dois regulares. Traziam material para as companhias de óleo e gás da Bacia de Campos.

Refrão de Carnaval - PAULA CESARINO COSTA

FOLHA DE SP - 24/01


RIO DE JANEIRO - "Dai-me inspiração, ó pai!", implora a tradicional Mangueira no primeiro verso do seu samba, que tem como tema a capital de Mato Grosso, Cuiabá.

Parece um pedido de socorro das escolas de samba cariocas.

"Um raio rasgando o céu cruzou o Borel. É trovoada. Na velocidade da luz, o filho de Odin anuncia a Alemanha encantada, na fantasia de um mundo imortal." É no impensável balanço germânico que a Tijuca vai tentar conquistar o bicampeonato.

"Coreia do Sul, tuas águas cristalinas são espelho. Na cadência da Baixada, deságuam no meu Rio de Janeiro." A estreante Inocentes de Belford Roxo ousou e abusou ao escolher como tema o país asiático.

A Beija-Flor até fez um belo samba a partir do inacreditável enredo sobre o cavalo manga-larga.

Sambas enredos absurdos -em grande parte, por causa de patrocínios-, com letras escalafobéticas, não são novidade. Mas, neste ano, a falta de ritmo e jeito parece ter ultrapassado o limite mesmo daqueles que têm boa vontade com o samba.

O Rio está virando Salvador, e a farra, a cada ano, está mais longa. O prefeito decretou a sexta de pré-Carnaval ponto facultativo para os servidores.

Os blocos já estão pela cidade. Já se vê pelas ruas pessoas despreocupadas e felizes, andando com bebida na mão e peruca colorida na cabeça.

Nos camarotes do Sambódromo, reina nova ordem. A Comissão de Ética Pública do Estado recomendou que autoridades e servidores estaduais não aceitem convites para camarotes de empresas privadas. Os conselheiros do Tribunal de Contas do Município foram proibidos pela Justiça de receber camarotes de graça de um evento a que devem fiscalizar.

Parece uma decisão óbvia como um refrão de Carnaval, mas rigor e compostura de autoridades não combinam com samba. Assim como não combinam Alemanha, Coreia e manga-larga marchador.

Os românticos do crack - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 24/01


SÃO PAULO - Após muita expectativa, revelou-se um tanto quanto tímido o tal programa de internações à força na cracolândia promovido por Alckmin. Temendo ser tachado de "higienista", o governo paulista tem se restringido aos casos em que familiares pedem providências. Os que não têm essa sorte, de modo geral, continuam largados na rua.

A cracolândia é, há anos, um dos lugares mais angustiantes de São Paulo. Uma espécie de quadrilátero do suicídio, onde a cidade concorda que centenas de pessoas, incluindo mulheres grávidas e crianças, vão se matando aos poucos, dia após dia.

ONGs e afins alegam que os usuários do crack têm o direito de recusar atendimento. Dizem que só devem ser internados aqueles que assim desejarem. Mas será mesmo que os 'noias' que perambulam pela cracolândia como 'zumbis' têm condição de cuidar da própria vida? A dependência à droga não se tornou mais forte do que o medo de morrer?

Outro argumento muito comum contra a internação à força é o da baixa eficiência terapêutica. Pode até ser verdade. Mas ainda assim é melhor tentar salvar os dependentes, internando-os com indicação médica, do que simplesmente deixá-los perecer na rua, como ocorre hoje.

O enfrentamento do problema perdeu força em 2012, quando Alckmin e Kassab iniciaram uma ação atabalhoada na cracolândia. A PM foi acionada para prender traficantes, mas acabou jogando bombas de efeito moral em dependentes; assistentes sociais foram mandados para a região, mas nem mesmo o centro de tratamento da prefeitura estava pronto para receber os doentes. O resultado foi o fracasso da operação.

Naquela ocasião, sobrou atitude, mas faltou planejamento para as autoridades, mais preocupadas com o calendário eleitoral. Agora, o problema parece ser o inverso. Com cerca de 700 leitos de retaguarda, o que parece faltar é determinação para enfrentar o discurso politicamente correto dos "românticos do crack".

O preço do radicalismo - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 24/01


Dominados pelo radicalismo, que os impede de entender as transformações pelas quais passa o mundo, especialmente o mundo do trabalho, dirigentes sindicais dos metalúrgicos de São José dos Campos inviabilizam investimentos na expansão do parque industrial da região, reduzem as oportunidades de emprego, prejudicam os trabalhadores que dizem defender e, cada vez mais distantes do realismo que marca a atuação de outros sindicalistas, decidiram prejudicar a população, com a interrupção do tráfego na Rodovia Presidente Dutra, que liga as duas maiores cidades do País. Agindo de modo insensato, afastam-se cada vez mais dos trabalhadores e se arriscam a perder o direito de se proclamarem seus representantes.

Talvez estimulados pela impunidade com que o fizeram pela primeira vez, em agosto do ano passado, e com as mesmas alegações, esses dirigentes mobilizaram trabalhadores da empresa General Motors (GM), que estavam em greve, para um protesto na Via Dutra, que constituiu na interdição total das duas pistas da rodovia na manhã de terça-feira, o que resultou em congestionamento de até 8 quilômetros no sentido São Paulo-Rio.

Como no ato realizado no ano passado, os sindicalistas protestavam contra a possível demissão de até 1,5 mil trabalhadores da GM. Enfrentando concorrência cada vez mais acirrada, como ocorre com outras empresas industriais instaladas no País, a montadora de veículos vem procurando reduzir seus custos operacionais, aumentar sua produtividade e, assim, defender seus mercados e, se possível, ampliá-los. Isso implica decisões cruciais em diferentes áreas, como a dos investimentos e a das relações trabalhistas.

Mudanças como a adoção de jornadas diferenciadas, revisão dos padrões de remuneração, definição de novos benefícios e responsabilidades, entre outras, fazem parte dos temas que precisam ser discutidos com serenidade por trabalhadores e empresas, para que se preservem as fábricas sem impor perdas aos empregados. No caso de São José dos Campos, no entanto, discussões como essas, embora inevitáveis no processo de transformações por que passa a indústria em todo o mundo, não avançam, por causa do radicalismo da direção sindical, dominada por representantes do PSTU e seu braço sindical, a Conlutas.

Resistente a qualquer iniciativa da empresa na área trabalhista, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos está forçando a GM a reduzir paulatinamente suas atividades na cidade, deslocando-a para outras unidades, como as de São Caetano do Sul (SP), Joinville (SC) e Gravataí (RS). Dados recentes indicam que, de R$ 5,5 bilhões investidos pela empresa em quatro anos, apenas R$ 800 milhões foram destinados à unidade de São José dos Campos.

Na fábrica do Vale do Paraíba estão empregados 7,5 mil trabalhadores. A interrupção da produção de modelos que ali eram fabricados e a escolha de outros locais para a montagem dos novos modelos estão reduzindo a importância de São José dos Campos na estrutura da GM brasileira, com reflexos no quadro de pessoal.

Desde agosto, 800 empregados foram colocados no regime de lay-off, isto é, permanecem em casa enquanto o ritmo de atividade da fábrica não se normalizar. Fazem parte do grupo de 1,5 mil trabalhadores que, segundo o sindicato, podem ser demitidos. Foi para protestar contra essa possível demissão que, depois de paralisar a produção, o sindicato levou os trabalhadores à via Dutra, para perturbar a vida da população.

Houve tempo em que sindicalistas do ABC agiam de modo semelhante e levaram as empresas a reduzir seus programas de investimentos na região e até a estudar a possibilidade de fechamento de fábricas. Felizmente para essas regiões e para os metalúrgicos, novos dirigentes sindicais souberam compreender as mudanças na economia mundial, que exigem cada vez mais eficiência e menores custos, e se adaptaram a elas, com benefícios para empregados, empregadores e para a economia local. Não é, lamentavelmente, o que se vê em São José dos Campos.

Aplausos, que eles merecem - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 24/01


Onde estão as 'pessoas de bem' dotadas de poderes para reagir à entrega do Legislativo ao aviltamento?


Segue a série de revelações diárias sobre os desvios de conduta do favorito à presidência do Senado, Renan Calheiros, seguido de perto na série pelo candidato à presidência da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Mas não é nas obras incompletas desses dois líderes políticos que se encontra o motivo mais forte de espanto e indignação. É no seu oposto. É nas outrora chamadas "pessoas de bem", hoje sem uma expressão que as designe.

Onde estão as "pessoas de bem" dotadas de poderes para reagir à esperada entrega do Poder Legislativo do país ao aviltamento escancarado? Onde estão a OAB nacional e suas seções regionais, que não movem sua autoridade histórica e seu patrimônio de conhecimento para ativar e liderar a defesa da sociedade civil? Acomodar-se no imobilismo e no silêncio permissivos é associar-se ao que merece reação. Os intelectuais, os artistas, os estudantes, onde pararam?

Antes daqueles todos, e até pelo nome que ostenta, deveria estar o Ministério Público fazendo a representação ativa da população desprovida de conhecimento e de meios para reagir às traições dos seus eleitos. Mas Renan Calheiros e Henrique Alves estão pendurados há anos em processos criminais que o Ministério Público, pela Procuradoria-Geral da República, guarda com zelo, para evitar que se movam até de uma gaveta a outra. Tal como fez em benefício de Carlos Cachoeira e seus companheiros do PSDB e do DEM.

Em um só dia, ontem, soube-se que Renan Calheiros já negociou a comissão de meio ambiente para o senador Blairo Maggi, o imperador da soja sempre citado quando o assunto é desmatamento ou agronegócio; e a importante Comissão de Constituição e Justiça para o senador Vital do Rego, até há pouco presidente da anti-CPI do Cachoeira, aquela que se dissolveu ao esbarrar em indícios de crimes a serem apurados -entre eles, além dos envolvimentos de políticos do PSDB e do PMDB, os de ligação de Carlos Cachoeira, a empreiteira Delta e o empreiteiro Fernando Cavendish.

E outra: é de Renan Calheiros, pedinte oficial das bocas-ricas em nome do PMDB, a carta indicando para alto cargo no governo o negocista Paulo Vieira, da turma orientada pela tal Rose do escritório da Presidência da República em São Paulo.

Logo serão outras as novidades. Também com duração de 24 horas, porque a indiferença não é terreno propício a que produzam consequências.

Não é preciso refletir muito para admitir que os renans de todos os calibres têm razão. Se fazem o que fazem, são o que são, e têm êxito, aí está a evidência de contarem com consentimento amplo, geral e irrestrito. A indiferença e o silêncio que os acompanham são formas de aprovação. Ou de aplauso, mesmo.

Sobe e desce - SONIA RACY


O ESTADÃO - 24/01


Interessados nos aeroportos regionais aguardam, com ansiedade, regras que serão colocadas em audiência pública no dia 31. Estão preocupados com os subsídios anunciados por Dilma para passagens.

Acham que esse tipo de incentivo não funciona – a não ser para criar insegurança e atrair empresas aventureiras, como já aconteceu no passado da aviação brasileira.

A ideia da presidente, segundo fonte credenciada do setor, limita o projeto a um… “voo de galinha”.

Tête-à-tête
Guido Mantega se prepara para conversa com Dilma. Pauta? Os números divulgados ontem pelo IBGE, que mostram inflação acumulada acima de 6% nos últimos 12 meses. A coluna apurou que também serão discutidos IPI dos carros e aumento de combustíveis e de tarifas de ônibus.

Outro dono
E o Ciência sem Fronteiras mudou de nome nos EUA. “Science Without Borders” já está registrado pela Khaled bin Sultan Living Oceans Foundation – financiada pelo príncipe saudita Khaled bin Sultan.

O programa brasileiro virou “Mobilidade Científica”.

Sonháticos
Um dos desejos de Marina Silva e dos integrantes do Movimento por uma Nova Política é ter Luiza Erundina e Eduardo Suplicy no novo partido.

Sonháticos 2
A ex-senadora já tem grito de guerra. Em encontro na Vila Madalena, anteontem, apoiadores diziam “rou” cada vez que concordavam com uma fala.

Mistério
Embora Paulinho da Forçae a cúpula do PDT digam que a operação para fundar o Partido Solidariedade tenha sido abortada, a Justiça Eleitoral recebe, diariamente, listas de apoiadores.

Para que a legenda saia do papel, será preciso reunir quase 500 mil assinaturas.

À portuguesa
Maria de Medeiros está no Brasil para ensaiar sua peça Aos Nossos Filhos, com direção de João das Neves. Estreia? No CCBB de Brasília.

Dúvida cruel
Pergunta que não quer calar: por que fazer jantar de arrecadação de fundos para pagar multas de petistas se… nem os condenados sabem o quanto terão de desembolsar?

Família Scolari
Conversa particular de Hernanes com Vladimir Petkovic, treinador da Lazio, foi decisiva para o retorno do jogador à seleção brasileira. O meia, que vinha atuando mais à frente, pediu ao técnico para voltar a jogar como volante.

Com 11 gols na temporada, Hernanes chamou a atenção de Felipão.

“Mobile”
Lily Lyons, diretora da Calder Foundation, está em SP – ciceroneada pelo art advisor Ricardo Kugelmas. Busca obras produzidas no Brasil por…Alexander Calder no fim dos anos 40.

Chilli beans
Fernando Henrique Cardoso receberá, dia 9, o Grande Prêmio Chapultepec de Liberdade de Imprensa – da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Em Puebla, no México.

Dá a pata!
O Ibama comemora: com ajuda da PM, salvou a vida, esta semana, de 3.540 caranguejos-uçá na Paraíba. Até 2 de fevereiro, é proibida a captura do crustáceo.

À chinesa
Domingo, torcedor corintiano levou cartaz, no mínimo, ufanista para as numeradas do estádio do Paulista, em Jundiaí.

Em letras pretas, lia-se: “Zizao é melhor do que Messi”.

Na frente
O Museu de Arte Sacra inaugura a mostra 459 Paulistinhas. Amanhã.

Fabio Barbirato participa de simpósio sobre psiquiatria infantil, em Washington.

Acontece, dia 25, a cantata O Diário de Anne Frank. Na Catedral Metropolitana.

Correções. Esta coluna se confundiu. Conforme informa o cineasta Marcos Prado, Lereby e O2 não fazem parte da distribuidora Nossa. E aconcessionária que administra Viracopos informa que o aeroporto tem cinco veículos de combate a incêndios. E não somente um.

BOTECO FRANCÊS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 24/01


O chef Benny Novak e Renato Ades, do Ici Bistrô, se uniram à Cia. Tradicional de Comércio (Astor, Lanchonete da Cidade etc.), que tem entre os sócios Ricardo Garrido, para abrir neste mês o Ici Brasserie no shopping JK Iguatemi. "O maior elogio é gente que sai e fala: 'Nem parece que eu tava num shopping'", diz Garrido. "Queremos quebrar esse preconceito de que a gastronomia em shoppings tem que ser de comida rápida, sem muita qualidade."

PADRE NOSSO
Fábio Assunção e Maria Padilha estão no elenco de "País do Desejo", filme que teve pré-estreia anteontem, no shopping Cidade Jardim. Gabriel Braga Nunes, que também atua no filme de Paulo Caldas, foi à sessão do longa, em que Padilha é uma pianista e Assunção, um padre.

BRINCAR DE COMER
Mauricio de Sousa foi recebido na semana passada pelo governador Geraldo Alckmin, que deve decidir em breve se sanciona ou manda para a gaveta projeto de lei que proíbe a publicidade infantil para alimentos e bebidas pobres em nutrientes ou com alto teor de açúcar, de gordura saturada ou de sódio. "Todo mundo quer o bem para a criançada", diz o pai da Turma da Mônica, que enfeita produtos como macarrão instantâneo e bolachas.

BRINCAR DE COMER 2
"Minha preocupação é certo radicalismo, que prejudica a economia, a vontade e a liberdade das crianças", afirma o desenhista. Está também nas mãos de Alckmin um segundo projeto que proíbe redes de fast food de vender brinquedos com os lanches. Grupos como Idec, ProTeste, Rede Nutritodos e Rede Nossa SP são favoráveis à proibição.

PARQUE DO INTERIOR
Mauricio de Sousa diz que a conversa com o governador também englobou a cidade onde será construído novo complexo da Turma da Mônica. "O governador é entusiasta de um grande parque no centro do Estado de SP."

CHIQUE
Vendido ao Paris Saint-Germain por 43 milhões de euros, o atacante Lucas optou por morar em um condomínio de casas em Neuilly-sur-Seine, subúrbio elegante da capital francesa. "Está a 15 minutos da Champs-Elysées e a 25 do estádio Parc des Princes", diz Wagner Ribeiro, seu empresário. O jogador vive com os pais e a namorada. O ex-presidente Nicolas Sarkozy e Carla Bruni são vizinhos de bairro.

TUDO EM FAMÍLIA
Luara Russomanno, 25, filha de Celso Russomanno (PRB-SP), vai se casar em outubro com Bruno Queiroz, 22, na igreja São Francisco de Assis, na Vila Mariana. Estão juntos desde 2008. Ele é sócio do pai na The Original Cupcake e se filiou ao PTB -aliado do sogro na disputa pela Prefeitura de SP.

A conta do casório será rateada entre as famílias "e inclusive os noivos", diz ela.

PEDE PARA ACESSAR
O novo site do Bope, lançado no sábado, registrava 28 mil acessos até a tarde de ontem. A seção mais visitada é a de cursos, voltada a PMs. Na grade curricular: vida na selva, explosivos e combate policial em áreas de alto risco. Para senhoras da comunidade, o batalhão dá aulas de ginástica. As alunas, de 46 a 76 anos, se tratam por números -01, 02, 03.

FUNK NA SAPUCAÍ
Os cantores Naldo e Preta Gil se apresentarão no camarote Brahma na Sapucaí, no Carnaval do Rio. O espaço também contará com DJs dos bailes Favorita e Charme.

QUE CARIMBA POSTAIS
Três mil envelopes brancos compõem o cenário do show em comemoração dos 350 anos dos Correios, amanhã, no mezanino do prédio da empresa no vale do Anhangabaú. Durante a apresentação dos 14 cantores -entre eles, Virgínia Rosa, Joyce e Zé Renato-, pedaços do cenário serão retirados por um ator vestido de carteiro, revelando artistas que estamparam selos.

NAS BANCAS
A próxima edição da revista inglesa "Gramophone" destaca o brasileiro Heitor Villa-Lobos como compositor do mês. A reportagem cita as gravações que a Osesp fez do autor, incluindo o registro integral de suas 11 sinfonias, que começou a ser lançado em 2012.

ENSAIO ABERTO
A peça "Ensaio", com Maria Helena Chira, estreou no teatro Geo, em Pinheiros. A atriz Chris Couto, o cineasta Fernando Meirelles, o apresentador Marcelo Tas e os músicos Patrícia Coelho e Marcelo Pelegrini foram à estreia, na sexta-feira.

Curto-circuito
A festa "Las Locas Noches de Verano" acontece hoje, no Caravaggio. 18 anos.

Karina Kattan é a nova diretora de comunicação do grupo Fasano.

O festival Grito Rock acontece em fevereiro no Auditório Ibirapuera. Com Lobão, Scandurra, Wanderléa e Thiago Pethit.

Mudou, sim. E não funciona - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 24/01


É a maldição: em política econômica, toda gambiarra gera uma contra-gambiarra



Trata-se de uma quase unanimidade. Tirante os economistas do Banco Central, praticamente todos os demais acham que a inflação brasileira não alcança a meta oficial (4,5%, pelo IPCA, índice do IBGE) nem neste ano, nem no próximo, nem sabe-se lá quando.

Mas depois desse consenso, as opiniões começam a se dividir. Uma turma acha que isso é grave, que não se pode brincar com a inflação no Brasil e que a alta de preços é um imposto contra os mais pobres. Aliás, a inflação das famílias mais pobres está mais elevada do que a dos ricos.

Outra turma, dos economistas do governo ou aliados, acha que não tem nada demais numa inflação de 6,5% ao ano, número que estaria dentro da meta. Não é bem assim. Convém explicar: a meta, fixada pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% ao ano. Admite uma margem de tolerância (ou de erro, se quiserem) de dois pontos abaixo ou acima, isso para situações excepcionais, fora do controle do Banco Central.

Mas três anos seguidos com inflação na média de 6% ao ano não podem ser chamados de excepcionais. Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, a inflação corrente subiu de novo para os 6%. Ou seja, este é o ritmo de alta de preços no Brasil, acima da meta, abusando da margem de tolerância.

E isso apesar dos truques, como aquele, quase permanente, de segurar o preço da gasolina e outro, mais recente, de acertar com os prefeitos do Rio e São Paulo o adiamento do reajuste das tarifas de ônibus, previsto para este mês. No primeiro caso, estraga as contas da Petrobrás. No segundo, das prefeituras. É a maldição: em política econômica, toda gambiarra gera uma contra-gambiarra.

Mas todo esse debate poderia ser resolvido de modo muito fácil, dizem aliados do governo. Basta dizer que a meta de inflação agora é de até 6,5%. Mesma coisa que esses mesmos economistas estão propondo para o superávit primário. Em vez de o governo roubar nas contas para atingi-lo, basta reduzir o alvo.

Por que o governo não fez isso?

Reparem que é o mesmo padrão no caso do dólar, tratado aqui na semana passada. Todo mundo sabe que o real foi deliberadamente desvalorizado pelo governo e que a cotação agora varia numa banda de R$ 2,00 a 2,10 por dólar. De novo, críticos e aliados da presidente Dilma concordam nessa constatação, os primeiros, claro, achando errado, os segundos, certo. Mas o governo jura que não tem banda e sim uma clássica de taxa de câmbio flutuante.

Economistas ligados à linha desenvolvimentista (alguns preferem neo-desenvolvimentismo, sabe-se lá por que) sempre sustentaram que um país emergente terá inflação mais alta que os desenvolvidos e estáveis. Não haveria problema com alta de preços de 10% ou até 15% ao ano, se esse fosse o custo para uma expansão acelerada. Mais inflação em troca de mais crescimento, tal é o mote.

Acrescentam-se a essa receita a moeda desvalorizada e gastos públicos elevados.

Se o governo Dilma não está fazendo isso, então faz algo muito parecido. Mais ainda: havia mesmo a expectativa de que a presidente fosse pouco a pouco alterando os parâmetros da política econômica herdados da era FHC e que haviam sido mantidos por Lula por necessidade e não por convicção.

Assim, resultam duas possibilidades. Ou a política não mudou, apenas estaria sendo, digamos, mal executada. Ou mudou e o governo não quer admitir isso para não criar expectativas negativas, sobretudo lá fora, ou porque a mudança não está funcionando.

Afinal, temos inflação elevada e baixíssimo crescimento. O governo aumenta seus gastos e as obras não aparecem. O real foi desvalorizado, mas as importações crescem e os brasileiros continuam torrando dólares lá fora (US$ 22 bilhões no ano passado!).

Até aqui pelo menos, os fatos dizem o seguinte: a política mudou e não deu certo. Que fazer? Voltar ao padrão clássico ou aumentar a aposta neodesenvolvimentista?

Pode ser também que o governo não tenha uma política, mas apenas alvos. E cada vez que atira em um, acerta no que não devia. Um exemplo da hora: a redução das tarifas de energia vai estimular famílias e empresas a consumir mais, lógico. Isso em um momento em que os reservatórios das hidrelétricas, a energia mais barata, estão em ponto crítico, exigindo o auxílio das usinas termoelétricas, mais caras. O processo ainda retira recursos das companhias hidrelétricas, diminuindo sua capacidade de investir em novas fontes.

O pior de tudo é que o Brasil já viu isso nos anos 70 e 80.

O fim do pior cenário - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 24/01

A Europa vive duas situações distintas: o FMI prevê que a zona do euro terá o segundo ano de recessão, o desemprego aumenta, mas as bolsas e o mercado de títulos públicos vivem um período de euforia. Portugal voltou ontem ao mercado, a bolsa da Grécia subiu 60% em seis meses, e a Espanha teve a maior demanda da sua história, na terça-feira, pelos seus papéis.

Em janeiro de 2012, o custo para rolagem da dívida grega era de 35%. Ontem, foi negociado a 10%. Portugal voltou ao mercado pela primeira vez desde que recebeu socorro em abril de 2011. Vendeu ¬ 2,5 bilhões em títulos, mas a demanda foi cinco vezes maior, com mais de 90% de investidores estrangeiros. Aconteceu o mesmo com a Espanha. O governo espanhol, na terça-feira, teve demanda de ¬ 9,6 bilhões para apenas ¬ 2,7 bi de títulos ofertados. Foi a maior procura por papéis do país em um único leilão. Nos últimos seis meses, as bolsas tiveram alta de 35% na Espanha, 30% em Portugal, e 60% na Grécia.

O que explica a melhora é o anúncio feito pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de garantir a compra de títulos dos países, em caso de agravamento na crise, e também de injetar recursos diretamente nos bancos sem que suba a dívida dos governos. Isso tirou do radar o pior cenário: a saída de um dos países do bloco e um possível efeito dominó.

- O anúncio do Mario Draghi controlou o incêndio no mercado de títulos públicos. Sem a ameaça de saída de um dos países, o apetite por risco ficou maior. As bolsas da Europa também estão subindo muito, por motivo semelhante - explicou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

Mas os problemas estruturais da Europa continuam. Ontem, o FMI revisou para baixo a projeção de crescimento da zona do euro este ano, de 0,2% para -0.2%. A taxa de desemprego atingiu 11,8% em novembro. Na Espanha, é de 26,6%, com uma taxa de 56% entre os jovens. A produção industrial do bloco caiu pelo terceiro mês seguido. A dívida bruta do governo português chegou a 120% no terceiro trimestre. A da Itália, subiu a 127%, e a da Irlanda, a 111%. Ou seja, não faltam números ruins.

José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, acha que a economia alemã passará por um período de recessão este ano:

- Olhando para títulos e bolsas, parece que a Europa vive o melhor início de ano dos últimos tempos. Mas olhando para o nível de atividade, não. Até a Alemanha deve entrar em recessão. A previsão do banco central do país é de alta de 0,3% no PIB de 2013 e isso implica um período recessivo.

O economista Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do banco Modal, acha que há um aumento do apetite por risco, de forma geral, não só na Europa. Chama atenção para outro dado: o Brasil parece de fora dessa festa.

- Há melhora de expectativa em relação aos EUA e à China, que pode puxar a Europa. O que vemos é uma volta dos investidores a mercados mais arriscados. Mas pouca coisa tem vindo para o Brasil, porque a percepção de nossa economia, vista de fora, é cada vez pior.

A inflação assusta - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 24/01


O Banco Central já esperava uma esticada na inflação de janeiro, mas não tanto.

Já avisara que havia pressões "no curto prazo", mas os números do mês surpreenderam até mesmo os analistas independentes, como indicam as pesquisas.

A inflação não saltava para níveis superiores a 6,0% em 12 meses desde janeiro de 2012 (veja gráfico). E isso acontece mesmo depois de colocada em marcha operação de represamento dos reajustes, como acontece com os preços dos combustíveis e com as tarifas do transporte público.

Aumenta a desarrumação dos fundamentos da economia, que enfrenta agora uma síndrome multicontraditória de inflação progressiva, atividade econômica fraca (ou em retração), pleno emprego e consumo aquecido.

As autoridades não reconhecem que esteja equivocada a estratégia de incentivo ao consumo num quadro de custos crescentes para o setor produtivo. Preferem afirmar que esses desajustes são normais e temporários depois das mudanças de fundo da economia, como as que derrubaram os juros básicos (Selic) e providenciaram a desvalorização cambial (alta do dólar) perto de 20%.

No entanto, a atual estocada da inflação está fortemente concentrada no setor de alimentos e bebidas e de despesas pessoais. Apenas esses itens concorreram em 61% para a inflação dos últimos 30 dias terminados em 15 de janeiro. São indicações de uma demanda excessivamente aquecida, sem oferta suficiente.

Como nos desastres aéreos, não há uma única causa para o crescente desarranjo. O mais recente deles são os estímulos ao consumo, conjugados com queda forte dos juros e desvalorização cambial, sem que esse mix de estímulos tenha sido compensado com aperto na condução das contas públicas (mais austeridade fiscal). É o que o Banco Central vem apontando há mais de dois meses quando afirma em seus documentos que a política fiscal se tornou expansionista.

Nessas condições, mais estímulo ao consumo que proviesse da redução do superávit primário, como vem sendo pensado, trabalharia contra os objetivos do governo, como já vem acontecendo. Em vez de aumentar a produção da indústria, a elevação do consumo está vazando para o exterior; impulsiona as importações de combustíveis, de matérias-primas, de componentes e de bens de consumo. Além disso, puxa para cima a procura por serviços, que não comportam importações.

Os fatos estão atropelando a atual política econômica. Mas, em vez de se dobrar a eles e de concluir que há algo de errado no arranjo, o governo dobra sua aposta no que entende por políticas anticíclicas, imaginando que a virada está logo aí, atrás do nevoeiro. É por isso que insiste no adiamento dos reajustes de preços. Entende que essas pressões inflacionárias são de fôlego curto e que, adiante, mais espaço se abrirá para recomposição de preços.

O tempo passa e, com ele, vai tomando corpo a percepção de que o governo não consegue cumprir seus objetivos. Mais ainda, vai sendo surpreendido todos os dias pela mediocridade dos resultados. E a erosão na confiança torna tudo mais difícil.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 24/01


Receita de times brasileiros avança em 2012
Corinthians, São Paulo e Flamengo aumentaram suas receitas na temporada 2011/2012 e estão entre os 50 clubes do mundo com maior arrecadação, segundo estudo da consultoria Deloitte.

O Corinthians aparece, pela primeira vez, entre os 40 primeiros e é o não europeu mais bem colocado, com uma receita de 1 94,1 milhões gerada em 2011 (excluindo as transferências de jogadores).

O São Paulo, com receita de 1 82,5 milhões, e o Flamengo, com 1 73,9 milhões, completam o ranking.

Corinthians e São Paulo já figuravam entre os 50 primeiros, com receita entre 1 70 milhões e 1 80 milhões na temporada 2010/2011, segundo a consultoria. O Flamengo está na lista das maiores arrecadações pela primeira vez.

"Existe uma potencialização do mercado brasileiro com gastos de patrocínio, além da profissionalização na administração de alguns clubes", diz John Auton, sócio-líder de negócios esportivos da Deloitte no Brasil.

Os 20 primeiros clubes do atual ranking somaram 1 4,8 bilhões, um crescimento de aproximadamente 10% sobre o ano anterior.

Pela oitava vez seguida, a liderança foi do Real Madrid, com arrecadação de 1 512,6 milhões, seguido pelo rival Barcelona (1 483 milhões).

Manchester United, com 1 395,9 milhões, Bayern Munich, com 1 368,4 milhões, e Chelsea, com 1 322,6 milhões, fecham as cinco posições dos clubes que mais arrecadaram com suas marcas na temporada passada.

PACOTE DE MÁS NOTÍCIAS
A Petrobras resolveu dar de uma vez só as duas más notícias que tem para o mercado sobre o desempenho da empresa em 2012, e pela primeira vez vai divulgar a produção junto com o balanço anual da companhia.

Além de um lucro menor em relação a 2011 em pelo menos 20%, segundo consenso de analistas no próprio site da empresa, mas que pode ser ainda pior, segundo outros analistas, que esperam queda pela metade do lucro de R$ 33 bilhões de 2011, a estatal teve uma produção quase 1% menor em 2012, a primeira queda contra o ano anterior em oito anos.

No front positivo, a companhia vai mostrar que em dezembro a produção se recuperou, voltando ao patamar de 2 milhões de barris diários perdido em março do ano passado.

CIMENTO EM DAVOS
Vitor Hallack, presidente do grupo Camargo Corrêa, comentava ontem, em Da­vos, a validação da compra da produtora de cimento Cimpor pelo Cade.

"Na primeira reunião ple­nária do ano, o Cade reco­nheceu a agilidade da Inter­Cement [holding que integra os ativos de cimento do grupo] em cumprir todos os compromissos assumidos de quando da aprovação pelo órgão antitruste da aquisi­ção da Cimpor", afirmou o executivo.

"Essa valida­ção é fundamental para permitir a fusão e capturar as grandes sinergias da com­pra",

comemorou. O primeiro lance da aquisição foi há três anos, acrescentou.

ESTIMAÇÃO
Com investimentos de aproximadamente R$ 15 milhões para este ano, o Pet Center Marginal, rede de mercados de produtos para animais de estimação, abrirá sete novas lojas.

Uma delas, cujo contrato acaba de ser assinado, será no Rio de Janeiro, próxima a Niterói. Para São Paulo, também estão previstas unidades em São Caetano e Butantã.

Algumas das novas lojas ficarão anexas a grandes supermercados para aproveitar o fluxo de consumidores, segundo Hélio Freddi Filho, diretor da empresa.

"Já estamos procurando mais pontos no Rio", afirma.

Após a abertura de um centro de distribuição, a companhia, que está concentrada no Estado de São Paulo, "está com a logística estruturada e ganhou musculatura para se expandir para outros Estados", de acordo com Filho.

A empresa tem estudos avançados para começar a desenvolver um modelo de franquias que daria suporte à expansão pelo país.

NÚMEROS
R$ 15 milhões será o investimento aproximado realizado pela companhia para a abertura de novas unidades neste ano

7 é o número de lojas próprias que serão inauguradas pela empresa em 2013

25 é o número de unidades que a companhia pretende ter ao final deste ano

R$ 14 milhões foi o total dos recursos investidos pela rede para a inauguração de oito lojas no ano passado

MESTRE CORPORATIVO
A Vale abrirá neste ano sua primeira turma de mestrado profissional.

O curso, sobre uso sustentável de recursos minerais, será ministrado no ITV (Instituto Tecnológico da Vale), em Belém.

A empresa pretende criar mais dois mestrados nos próximos três anos -o segundo de Belém e o primeiro de Outro Preto (MG), onde também existe uma unidade do ITV.

"Há algum tempo, decidimos montar um centro de pesquisas. Agora estamos trabalhando para consolidá-lo", diz o diretor-presidente do instituto, Luiz Mello.

Com o curso, a Vale quer melhorar a qualificação do seu quadro de funcionários, gerar inovação e enriquecer a oferta de mão de obra na região, de acordo com o coordenador do mestrado, Roberto Dall'Agnol.

"A companhia tem uma demanda muito grande por profissionais nessa área de recursos minerais", afirma o professor.

"Mas precisa que eles [os funcionários] vejam os projetos de mineração interdisciplinarmente, considerando os desdobramentos sociais e ambientais."

O mestrado, que já foi aprovado pelo Ministério da Educação, oferecerá 20 vagas (dez para funcionários da companhia).

O ITV contratou 28 pesquisadores para trabalharem no projeto.

FREIO NO CONSUMO
São Paulo, tanto a capital quanto o interior do Estado, apresenta queda no consumo de produtos em supermercados, farmácias, padarias e bares entre janeiro e outubro de 2012 em comparação com o mesmo período de 2011.

É o que mostra uma pesquisa da empresa de informações Nielsen, realizada em todo o Brasil com amostras de 133 categorias de produtos.

Grande São Paulo (-1,5%) e interior do Estado (-4,1%) foram os únicos locais onde houve queda no consumo. Grande Rio (3%) e região Sul (2,9%) tiveram maiores altas.

No geral, as vendas se desaceleraram no país em 2012, alta de 0,4%, menor que o aumento de 1,8% registrado de janeiro a outubro de 2011.

A maior expansão foi verificada nos produtos do grupo higiene, saúde e beleza, com crescimento de 2,5% no volume consumido.

A categoria com pior resultado foi a de produtos perecíveis: queda de 0,8% em relação a 2011.

As variações por produto mostram que vinho (20,8%), suco de frutas (13,2%) e bronzeador (12,8%) foram os itens com maior elevação no consumo. Sabão em barra (-9,8%), inseticida (-8%) e farinha de trigo (-7%) tiveram as maiores quedas.