FOLHA DE SP - 01/01
RIO DE JANEIRO - Durante algum tempo, trabalhando na "Manchete", fazia previsões para o primeiro número de cada ano. Já tinham inventado um tal de Allan Richard Way, um indiano que morava em Londres numa casa em estilo Tudor. Acrescentei ao personagem um detalhe esclarecedor: era o único vidente cego da história humana.
Por mais delirantes que tenham sido suas previsões, volta e meia ele acertava, apesar de os leitores saberem que se tratava de um chute bem humorado da Redação. Mesmo assim, houve um ano em que ele previu um acidente na ponte Rio-Niterói, uma das pilastras estaria desabando. O Ministério da Marinha passou quase uma semana testando sinais de corrosão, pilastra por pilastra. Um jornal aqui da praça chegou a pedir que as autoridades interditassem a ponte.
Este tipo de brincadeira não seria possível num órgão como a Folha, que tem na credibilidade uma de suas pilastras. Acontece que a sabedoria dos maias previu o fim do mundo para o ano que acabou, de maneira que minha previsão mais séria garante que em 2013 o mundo não acabará.
Desprezando a cultura milenar dos maias (nada a ver com o nosso César Maia), deve-se fazer a previsão de coisas que não acontecerão no ano que hoje começa. Lula não recuperará a bela barba que o tornou símbolo nacional, os estádios e aeroportos para a Copa do Mundo não estarão prontos, o papa não morrerá, apesar de estar bastante avariado e, sobretudo, os ossos de Dana de Teffé não serão achados, nem a Comissão da Verdade encontrará os ossos de muitas das vítimas desaparecidas.
Outras coisas que não acontecerão, mas deviam acontecer: o deputado Tiririca cantará no Covent Garden, a Madonna se retirará para um convento no Tibete e o ministro Joaquim Barbosa não ganhará o prêmio da Paz.
terça-feira, janeiro 01, 2013
Objetividade, concisão e comedimento - FÁBIO ULHOA COELHO
FOLHA DE SP - 01/01
Há em nossa Justiça excesso de argumentos desimportantes, de linguagem redundante e com adjetivos demais e de mesuras desmedidas -e isso é recente
Não poderia ter sido mais feliz a receita para o aperfeiçoamento da Justiça brasileira formulada pelo ministro Joaquim Barbosa, em seu objetivo, conciso e comedido discurso de posse na presidência do Supremo Tribunal Federal. Para o novo presidente da Corte Suprema, precisamos de uma Justiça "sem firulas, sem floreios e sem rapapés".
Firulas são argumentos artificialmente complexos, usados como expediente diversionista, para impedir ou retardar a apreciação da essência das questões em julgamento (o mérito da causa). Apegos a detalhes formais sem importância é um exemplo de firula.
Floreios são exageros no uso da linguagem, oral ou escrita. Expediente empregado em geral no disfarce da falta de conteúdo do discurso, preenche-o de redundâncias, hipérboles e adjetivações.
E rapapés são mesuras desmedidas que mal escondem um servilismo anacrônico. Todos devemos nos tratar com respeito e cordialidade, dentro e fora dos ambientes judiciários, mas sempre com o virtuoso comedimento.
Firulas, floreios e rapapés são perniciosos porque redundam em inevitável desperdício de tempo, energia e recursos. Combater esses vícios de linguagem, por isso, tem todo o sentido no contexto do aprimoramento da Justiça.
O oposto da firula é a objetividade; o contrário dos floreios é a concisão; a negação dos rapapés é o comedimento. A salutar receita do ministro Barbosa recomenda discursos objetivos, concisos e comedidos. São discursos que, aliás, costumam primar pela elegância.
É uma recomendação dirigida a todos os profissionais jurídicos: magistrados, promotores e advogados. Precisam todos escrever e falar menos, para dizerem mais.
Arrazoados jurídicos e decisões longas são relativamente recentes.
Nas primeiras décadas do século passado, elas ainda eram escritas à mão. Isso por si só já estabelecia um limite (por assim dizer, físico) aos arroubos. Os pareceres de Clóvis Beviláqua, o autor do anteprojeto do Código Civil de 1916, tinham cerca de cinco ou seis laudas.
Depois, veio a máquina de escrever. Embora tenha tornado a confecção de textos menos cansativa, ela também impunha limites físicos à extensão. No tempo do manuscrito e da datilografia, o tamanho do texto era sempre proporcional ao tempo gasto na produção do papel.
O computador rompeu decididamente este limite. Com o "recorta e cola" dos programas informatizados de redação, produzem-se textos de extraordinárias dimensões em alguns poucos segundos.
Os profissionais do direito não têm conseguido resistir à tentação de fabricar alentados escritos abusando dos recursos da informática. Clientes incautos ainda são impressionáveis e ficam orgulhosos com a robustez das peças de seu advogado.
Claro, há questões de grande complexidade, que exigem dos profissionais do direito maiores digressões e fundamentações, gerando inevitavelmente textos mais extensos. Tamanho exagerado nem sempre, assim, é sinônimo de firula, floreio ou rapapé. Mas é um bom indicativo destes vícios, porque os casos realmente difíceis correspondem à minoria e são facilmente reconhecidos pelos profissionais da área. Não se justifica grande gasto de papel e tinta na significativa maioria dos processos em curso.
Pois bem. Se a receita do ministro Barbosa melhora a Justiça, então a questão passa a ser a identificação de medidas de incentivo ao discurso objetivo, conciso e comedido. A renovação da linguagem jurídica necessita de vigorosos estímulos.
Alegar que estimular maior objetividade fere o direito de acesso ao Judiciário ou à ampla defesa é firula. Lamentar que a concisão importa perda de certo tempero literário das peças processuais é floreio. Objurgar que o comedimento agride a tradição é rapapé.
Se a exortação do ministro Barbosa desencadear, como se espera, a renovação da linguagem jurídica, a sua posse na presidência do Supremo Tribunal Federal se tornará ainda mais histórica.
Há em nossa Justiça excesso de argumentos desimportantes, de linguagem redundante e com adjetivos demais e de mesuras desmedidas -e isso é recente
Não poderia ter sido mais feliz a receita para o aperfeiçoamento da Justiça brasileira formulada pelo ministro Joaquim Barbosa, em seu objetivo, conciso e comedido discurso de posse na presidência do Supremo Tribunal Federal. Para o novo presidente da Corte Suprema, precisamos de uma Justiça "sem firulas, sem floreios e sem rapapés".
Firulas são argumentos artificialmente complexos, usados como expediente diversionista, para impedir ou retardar a apreciação da essência das questões em julgamento (o mérito da causa). Apegos a detalhes formais sem importância é um exemplo de firula.
Floreios são exageros no uso da linguagem, oral ou escrita. Expediente empregado em geral no disfarce da falta de conteúdo do discurso, preenche-o de redundâncias, hipérboles e adjetivações.
E rapapés são mesuras desmedidas que mal escondem um servilismo anacrônico. Todos devemos nos tratar com respeito e cordialidade, dentro e fora dos ambientes judiciários, mas sempre com o virtuoso comedimento.
Firulas, floreios e rapapés são perniciosos porque redundam em inevitável desperdício de tempo, energia e recursos. Combater esses vícios de linguagem, por isso, tem todo o sentido no contexto do aprimoramento da Justiça.
O oposto da firula é a objetividade; o contrário dos floreios é a concisão; a negação dos rapapés é o comedimento. A salutar receita do ministro Barbosa recomenda discursos objetivos, concisos e comedidos. São discursos que, aliás, costumam primar pela elegância.
É uma recomendação dirigida a todos os profissionais jurídicos: magistrados, promotores e advogados. Precisam todos escrever e falar menos, para dizerem mais.
Arrazoados jurídicos e decisões longas são relativamente recentes.
Nas primeiras décadas do século passado, elas ainda eram escritas à mão. Isso por si só já estabelecia um limite (por assim dizer, físico) aos arroubos. Os pareceres de Clóvis Beviláqua, o autor do anteprojeto do Código Civil de 1916, tinham cerca de cinco ou seis laudas.
Depois, veio a máquina de escrever. Embora tenha tornado a confecção de textos menos cansativa, ela também impunha limites físicos à extensão. No tempo do manuscrito e da datilografia, o tamanho do texto era sempre proporcional ao tempo gasto na produção do papel.
O computador rompeu decididamente este limite. Com o "recorta e cola" dos programas informatizados de redação, produzem-se textos de extraordinárias dimensões em alguns poucos segundos.
Os profissionais do direito não têm conseguido resistir à tentação de fabricar alentados escritos abusando dos recursos da informática. Clientes incautos ainda são impressionáveis e ficam orgulhosos com a robustez das peças de seu advogado.
Claro, há questões de grande complexidade, que exigem dos profissionais do direito maiores digressões e fundamentações, gerando inevitavelmente textos mais extensos. Tamanho exagerado nem sempre, assim, é sinônimo de firula, floreio ou rapapé. Mas é um bom indicativo destes vícios, porque os casos realmente difíceis correspondem à minoria e são facilmente reconhecidos pelos profissionais da área. Não se justifica grande gasto de papel e tinta na significativa maioria dos processos em curso.
Pois bem. Se a receita do ministro Barbosa melhora a Justiça, então a questão passa a ser a identificação de medidas de incentivo ao discurso objetivo, conciso e comedido. A renovação da linguagem jurídica necessita de vigorosos estímulos.
Alegar que estimular maior objetividade fere o direito de acesso ao Judiciário ou à ampla defesa é firula. Lamentar que a concisão importa perda de certo tempero literário das peças processuais é floreio. Objurgar que o comedimento agride a tradição é rapapé.
Se a exortação do ministro Barbosa desencadear, como se espera, a renovação da linguagem jurídica, a sua posse na presidência do Supremo Tribunal Federal se tornará ainda mais histórica.
Feliz ano novo de novo - ARNALDO JABOR
O GLOBO - 01/01
O ano de ver o eclipse do sol contra a neblina pela janela da infância, o ano de ver as primeiras imagens de minha mãe que era uma Greta Garbo com ombros altos e cabelo de coque “bomba atômica”, o ano do quarto onde meus pais conceberiam minha irmã, o ano de olhar árvores, bichos e gente como se eu morasse fora do mundo, o ano das pernas das mulheres, colunas altas e distantes, o ano dos fantasmas do fundo do corredor, o ano do cachorro atropelado, o ano dos meninos se comendo de solidão, o ano do medo de virar veado, o ano de ficar olhando o vento no quintal, o ano dos formigueiros, o ano do sarampo e sua lâmpada vermelha, o ano da catapora, o ano da luz azul do quarto da pneumonia, o ano da cabeça quebrada, o ano da cara quebrada, o ano de ver os miseráveis do morro da Mangueira perto de minha casa, o ano de ver o primeiro filme de minha vida, o “Ladrão de Bagdá”, e ficar sonhando com a odalisca no tapete voador, o ano dos balões no céu, o ano do Mercury “grená” de meu pai brilhando na luz da rua, o ano do cuspe, o ano da porrada na esquina, o ano dos palavrões, o ano da “merda” e da “puta que pariu”, o ano da inveja, o ano da bicicleta, o ano da primeira namorada que me tratava como nada, o ano de temer a Deus e de contar meus crimes aos padres negros de quem eu beijava a mão, o ano em que um padre me deu um beijo na boca e eu fugi com pânico na alma, o ano do Porcolino e do Pernalonga, das mil e uma noites, o ano da mula sem-cabeça e do mendigo que dava mijo para a mãe, o ano da camisa de Vênus boiando na beira da praia, o ano do negro comendo a empregada no quarto de passar roupa, o ano da febre, o ano da violência dos colegas de colégio, o ano das velas de ceras na igreja, o ano do coroinha sem fé, o ano do covarde, o ano do soco na cara do mais forte e do sangue no nariz do valentão, o ano da descoberta do orgulho, o ano do Tarzan, o ano do Super-Homem, o ano da porra, o ano da punheta por causa da mulher de biquíni na praia, o ano da empregada de peitos grandes e que deixava quase tudo, o ano da dor nos rins, o ano de entrar no porão com a menina, o ano de sentir o gosto de cuspe da menina, o ano de ficar escrevendo o dia inteiro numa febre de descobrir alguma coisa que ainda acho que vou achar, o ano da primeira mulher, uma aeromoça louca da Panair, o ano do meu corpo e do corpo da mulher, o ano das lágrimas quentes, o ano da solidão, o ano das pernas cruzadas dos primeiros puteiros visitados, o ano do Mangue, da indescritível visão do Mangue que só Segall conheceu com as mil mulheres tremendo a língua para fora e seminuas nas calçadas, o ano dos bordéis antigos de luz mortiça, o ano das coxas, dos peitos, o ano cabeludo, o ano oleoso, o ano das peles, o ano de nada entender, o ano da gonorreia, o ano de comer o primeiro amor e de flutuar de paixão sobre as calçadas de Copacabana, o ano da lua dourada, do sol vermelho, o ano de Ipanema, de Leila Diniz, o ano dos gritos da mulher amada no colchão sujo e esfarrapado numa noite de chuva dentro de um aparelho do Partido Comunista, o ano do amor e da revolução — as duas coisas se confundindo (“serão as bombas ou meu coração batendo?”, como em “Casablanca”), o ano da UNE pegando fogo, o ano dos exilados, o ano de Corisco, o ano de Tom e Vinicius, o ano do Carcará, o ano do Cinema Novo, da noite negra do Ato 5, o ano que não terminou, o ano da boca fechada, o ano da boca no cano de descarga, o ano do nervo do dente exposto na boca do torturado, o ano das unhas arrancadas, o ano dos gritos, o ano dos guerrilheiros suicidas, o ano de cortar a barriga com a faca de bambu, o ano de cortar os pulsos com gilete enferrujada, o ano das cabeças muito loucas, o ano de viver perigosamente, o ano da mescalina e do ácido, o ano das pernas e dos braços virando cobras na “bad trip” da beira da praia, o ano das ondas vermelhas e céus tangerina, o ano de Copacabana virando gelatina colorida, o ano de Janis Joplin de porre num puteiro baiano cantando ponto de candomblé, o ano da esperança nova, o ano de Nelson Rodrigues, de Darlene Gloria, o ano das filhas nascendo de dentro de um buraco estrelado, o ano da esperança, de sentido, o ano da inocência, o ano da ingenuidade, o ano do leite, o ano do ventre molhado, o ano dos quartos escuros, o ano da vida, o ano do sol, o ano do jambo vermelho, o ano das formigas, o ano das bonecas, o ano do olho furado, o ano de ficar louco, o ano do corno, o ano do babaca, o ano de chorar, o ano de aprender a viver de novo, o ano do cachorro, o ano da vaca louca, o ano da cachorra no ar, o ano da beira do abismo, o ano da volta à democracia, o ano do não, o ano do sim, o ano da hiperinflação, o ano da inflação zero, o ano do real, o ano da esperança, o ano da vitória na Copa, o ano de outras palavras contra velhas palavras, de novas agendas contra as velhas agendas, o ano dos Mamonas assassinadas, o ano dos índios queimados vivos, o ano dos desacontecimentos, o ano dos cabelos brancos, o ano do último voo de minha mãe, o ano de meu pai voando atrás dela, o ano da orfandade, o ano da marcha a ré, o ano do regressismo político, o ano dos eruditos burros, o ano da chegada dos bolchevistas ao poder, o ano da aliança da mão esquerda com a mão direita, o ano dos ladrões revolucionários, o ano da mentira que virou verdade, o ano da desmoralização da honestidade, o ano das alianças sujas, o ano dos peronistas aliados aos senhores feudais, o ano das mãos na cumbuca do país, o ano da decepção com o partido do povo, o ano da cortina rasgada do bordel que Jefferson nos revelou cantando ópera, o ano da descoberta do óbvio, o ano das ilusões perdidas, o ano do nascimento do Supremo Tribunal Federal, o ano do negão, o ano da coragem e da covardia, o ano que vai começar mais uma vez e vai terminar mais uma vez daqui a um ano deixando sempre a sensação de oportunidade perdida e de esperança fracassada até que comece um novo ano trazendo novas expectativas sempre frustradas até começar um novo ano.
O ano de ver o eclipse do sol contra a neblina pela janela da infância, o ano de ver as primeiras imagens de minha mãe que era uma Greta Garbo com ombros altos e cabelo de coque “bomba atômica”, o ano do quarto onde meus pais conceberiam minha irmã, o ano de olhar árvores, bichos e gente como se eu morasse fora do mundo, o ano das pernas das mulheres, colunas altas e distantes, o ano dos fantasmas do fundo do corredor, o ano do cachorro atropelado, o ano dos meninos se comendo de solidão, o ano do medo de virar veado, o ano de ficar olhando o vento no quintal, o ano dos formigueiros, o ano do sarampo e sua lâmpada vermelha, o ano da catapora, o ano da luz azul do quarto da pneumonia, o ano da cabeça quebrada, o ano da cara quebrada, o ano de ver os miseráveis do morro da Mangueira perto de minha casa, o ano de ver o primeiro filme de minha vida, o “Ladrão de Bagdá”, e ficar sonhando com a odalisca no tapete voador, o ano dos balões no céu, o ano do Mercury “grená” de meu pai brilhando na luz da rua, o ano do cuspe, o ano da porrada na esquina, o ano dos palavrões, o ano da “merda” e da “puta que pariu”, o ano da inveja, o ano da bicicleta, o ano da primeira namorada que me tratava como nada, o ano de temer a Deus e de contar meus crimes aos padres negros de quem eu beijava a mão, o ano em que um padre me deu um beijo na boca e eu fugi com pânico na alma, o ano do Porcolino e do Pernalonga, das mil e uma noites, o ano da mula sem-cabeça e do mendigo que dava mijo para a mãe, o ano da camisa de Vênus boiando na beira da praia, o ano do negro comendo a empregada no quarto de passar roupa, o ano da febre, o ano da violência dos colegas de colégio, o ano das velas de ceras na igreja, o ano do coroinha sem fé, o ano do covarde, o ano do soco na cara do mais forte e do sangue no nariz do valentão, o ano da descoberta do orgulho, o ano do Tarzan, o ano do Super-Homem, o ano da porra, o ano da punheta por causa da mulher de biquíni na praia, o ano da empregada de peitos grandes e que deixava quase tudo, o ano da dor nos rins, o ano de entrar no porão com a menina, o ano de sentir o gosto de cuspe da menina, o ano de ficar escrevendo o dia inteiro numa febre de descobrir alguma coisa que ainda acho que vou achar, o ano da primeira mulher, uma aeromoça louca da Panair, o ano do meu corpo e do corpo da mulher, o ano das lágrimas quentes, o ano da solidão, o ano das pernas cruzadas dos primeiros puteiros visitados, o ano do Mangue, da indescritível visão do Mangue que só Segall conheceu com as mil mulheres tremendo a língua para fora e seminuas nas calçadas, o ano dos bordéis antigos de luz mortiça, o ano das coxas, dos peitos, o ano cabeludo, o ano oleoso, o ano das peles, o ano de nada entender, o ano da gonorreia, o ano de comer o primeiro amor e de flutuar de paixão sobre as calçadas de Copacabana, o ano da lua dourada, do sol vermelho, o ano de Ipanema, de Leila Diniz, o ano dos gritos da mulher amada no colchão sujo e esfarrapado numa noite de chuva dentro de um aparelho do Partido Comunista, o ano do amor e da revolução — as duas coisas se confundindo (“serão as bombas ou meu coração batendo?”, como em “Casablanca”), o ano da UNE pegando fogo, o ano dos exilados, o ano de Corisco, o ano de Tom e Vinicius, o ano do Carcará, o ano do Cinema Novo, da noite negra do Ato 5, o ano que não terminou, o ano da boca fechada, o ano da boca no cano de descarga, o ano do nervo do dente exposto na boca do torturado, o ano das unhas arrancadas, o ano dos gritos, o ano dos guerrilheiros suicidas, o ano de cortar a barriga com a faca de bambu, o ano de cortar os pulsos com gilete enferrujada, o ano das cabeças muito loucas, o ano de viver perigosamente, o ano da mescalina e do ácido, o ano das pernas e dos braços virando cobras na “bad trip” da beira da praia, o ano das ondas vermelhas e céus tangerina, o ano de Copacabana virando gelatina colorida, o ano de Janis Joplin de porre num puteiro baiano cantando ponto de candomblé, o ano da esperança nova, o ano de Nelson Rodrigues, de Darlene Gloria, o ano das filhas nascendo de dentro de um buraco estrelado, o ano da esperança, de sentido, o ano da inocência, o ano da ingenuidade, o ano do leite, o ano do ventre molhado, o ano dos quartos escuros, o ano da vida, o ano do sol, o ano do jambo vermelho, o ano das formigas, o ano das bonecas, o ano do olho furado, o ano de ficar louco, o ano do corno, o ano do babaca, o ano de chorar, o ano de aprender a viver de novo, o ano do cachorro, o ano da vaca louca, o ano da cachorra no ar, o ano da beira do abismo, o ano da volta à democracia, o ano do não, o ano do sim, o ano da hiperinflação, o ano da inflação zero, o ano do real, o ano da esperança, o ano da vitória na Copa, o ano de outras palavras contra velhas palavras, de novas agendas contra as velhas agendas, o ano dos Mamonas assassinadas, o ano dos índios queimados vivos, o ano dos desacontecimentos, o ano dos cabelos brancos, o ano do último voo de minha mãe, o ano de meu pai voando atrás dela, o ano da orfandade, o ano da marcha a ré, o ano do regressismo político, o ano dos eruditos burros, o ano da chegada dos bolchevistas ao poder, o ano da aliança da mão esquerda com a mão direita, o ano dos ladrões revolucionários, o ano da mentira que virou verdade, o ano da desmoralização da honestidade, o ano das alianças sujas, o ano dos peronistas aliados aos senhores feudais, o ano das mãos na cumbuca do país, o ano da decepção com o partido do povo, o ano da cortina rasgada do bordel que Jefferson nos revelou cantando ópera, o ano da descoberta do óbvio, o ano das ilusões perdidas, o ano do nascimento do Supremo Tribunal Federal, o ano do negão, o ano da coragem e da covardia, o ano que vai começar mais uma vez e vai terminar mais uma vez daqui a um ano deixando sempre a sensação de oportunidade perdida e de esperança fracassada até que comece um novo ano trazendo novas expectativas sempre frustradas até começar um novo ano.
Lei dos meios - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 01/01
Nas últimas semanas, a Argentina voltou ao noticiário brasileiro devido aos imbróglios relativos à aplicação da chamada "Lei dos meios", responsável pela nova regulamentação dos serviços de comunicação. Alguns viram, no caráter antimonopolista da Lei, a expressão de uma sanha estatal visando limitar a liberdade de expressão, principalmente devido à arquirrivalidade entre o governo Kirchner e o maior grupo de mídia do pais: o grupo Clarín.
No entanto, há um debate importante que deve ser feito de maneira desapaixonada. Ele passa pela resposta à pergunta: "Precisamos ou não de leis que restrinjam a concentração da propriedade de canais de comunicação?". Ou seja, podemos afirmar que a concentração da mídia não afeta necessariamente o funcionamento da democracia?
Neste sentido, vale a pena lembrar que o mercado de mídia é, atualmente, um dos mais oligopolizados do mundo. Como vimos através do recente caso de Rupert Murdoch, isto não é sem consequências para nossa vida política.
Murdoch detinha um império mundial de TVs, jornais, editoras, revistas, rádios, estúdios de cinema, portais de internet que lhe dava uma capacidade de moldar o debate, pressionar governos e de intervir na política a ponto de prometer a um general norte-americano (David Petraeus) apoio irrestrito de seu império caso ele aceitasse concorrer à Presidência norte-americana.
Situações como esta não são exclusivas do mundo anglo-saxão. As últimas décadas conheceram uma tendência brutal à concentração de mídia que interfere, de maneira nociva, não apenas na política, mas também na cultura. Um grupo como Time Warner, por exemplo, controla, ao mesmo tempo, a produção, a difusão e o desenvolvimento das técnicas de reprodução. Por isto, podemos dizer que leis que impeçam a formação de oligopólios são uma forma da sociedade defender-se da uniformização forçada de opiniões e do silenciamento de perspectivas.
Pode-se contra-argumentar dizendo que a pulverização das mídias as deixa mais vulneráveis às pressões dos governos. Este é um argumento relevante. No entanto, a solução para esse problema não está na perpetuação de outro problema. Há de se pensar ações que impeçam os governos de moldarem as informações a partir de seus interesses.
No caso brasileiro, isso pede a limitação da capacidade de influência dos governos através da drástica limitação da publicidade governamental (reduzida apenas a campanhas de utilidade pública), do respeito à proibição de políticos e seus grupos operarem concessões de mídia, assim como de critérios absolutamente isonômicos de usos de verbas publicitárias de empresas estatais.
Nas últimas semanas, a Argentina voltou ao noticiário brasileiro devido aos imbróglios relativos à aplicação da chamada "Lei dos meios", responsável pela nova regulamentação dos serviços de comunicação. Alguns viram, no caráter antimonopolista da Lei, a expressão de uma sanha estatal visando limitar a liberdade de expressão, principalmente devido à arquirrivalidade entre o governo Kirchner e o maior grupo de mídia do pais: o grupo Clarín.
No entanto, há um debate importante que deve ser feito de maneira desapaixonada. Ele passa pela resposta à pergunta: "Precisamos ou não de leis que restrinjam a concentração da propriedade de canais de comunicação?". Ou seja, podemos afirmar que a concentração da mídia não afeta necessariamente o funcionamento da democracia?
Neste sentido, vale a pena lembrar que o mercado de mídia é, atualmente, um dos mais oligopolizados do mundo. Como vimos através do recente caso de Rupert Murdoch, isto não é sem consequências para nossa vida política.
Murdoch detinha um império mundial de TVs, jornais, editoras, revistas, rádios, estúdios de cinema, portais de internet que lhe dava uma capacidade de moldar o debate, pressionar governos e de intervir na política a ponto de prometer a um general norte-americano (David Petraeus) apoio irrestrito de seu império caso ele aceitasse concorrer à Presidência norte-americana.
Situações como esta não são exclusivas do mundo anglo-saxão. As últimas décadas conheceram uma tendência brutal à concentração de mídia que interfere, de maneira nociva, não apenas na política, mas também na cultura. Um grupo como Time Warner, por exemplo, controla, ao mesmo tempo, a produção, a difusão e o desenvolvimento das técnicas de reprodução. Por isto, podemos dizer que leis que impeçam a formação de oligopólios são uma forma da sociedade defender-se da uniformização forçada de opiniões e do silenciamento de perspectivas.
Pode-se contra-argumentar dizendo que a pulverização das mídias as deixa mais vulneráveis às pressões dos governos. Este é um argumento relevante. No entanto, a solução para esse problema não está na perpetuação de outro problema. Há de se pensar ações que impeçam os governos de moldarem as informações a partir de seus interesses.
No caso brasileiro, isso pede a limitação da capacidade de influência dos governos através da drástica limitação da publicidade governamental (reduzida apenas a campanhas de utilidade pública), do respeito à proibição de políticos e seus grupos operarem concessões de mídia, assim como de critérios absolutamente isonômicos de usos de verbas publicitárias de empresas estatais.
TIRA O PÉ DO CHÃO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 01/01
Camila Morgado é capa da revista "29 Horas", distribuída no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A atriz viverá Mara, uma empresária de cantora de axé, na microssérie "O Canto da Sereia" (Globo), que estreia no dia 8. Para se inteirar sobre o Carnaval da Bahia, Camila diz que conversou com a empresária Flora Gil e com a equipe de Ivete Sangalo. "Elas me ajudaram a entender como funcionam os bastidores do Carnaval baiano, um evento que é uma verdadeira empresa", afirma.
TIRO DE FESTIM
Caiu a venda legal de armas de fogo no Brasil: foram comercializadas 80.777 unidades em 2012, contra 93.334 em 2011. Em 2010, eram 155.834 armas. O levantamento exclui as que são destinadas para as Forças Armadas.
DESARMA SP
São Paulo é o Estado em que o ritmo diminuiu de forma mais significativa, em termos absolutos. Foram vendidas 28.059 armas em 2012, contra 40.448 no ano passado. Na Paraíba, que em 2011 registrou 374 armas comercializadas, 99 foram anotadas no sistema do Exército, que controla as vendas e é responsável pelos dados.
DESARMA SP 2
O Exército afirma que a falta de grandes vendas para empresas de segurança ou órgãos públicos pode ter puxado os números para baixo.
CAIPIRINHA
Caio Blat afirma que com "Meus Dois Amores" realiza "o maior de todos os sonhos": atuar num filme "total Mazzaroppi". Maria Flor vive seu par na comédia caipira. Mas, na tela, ele não sabe se fica com a moça ou com uma mula de estimação.
PARADA MUSICAL
Nando Reis, Paralamas do Sucesso, Péricles, Margareth Menezes e Gaby Amarantos estão entre os artistas que tocarão no festival Parada Musical, coproduzido pela Geo. Os shows acontecem no próximo dia 25, simultaneamente, em Curitiba, Brasília, Rio, Salvador e Manaus.
TERRA DO CACAU
O ator Marcos Palmeira passa a primeira semana do ano no sul da Bahia, em uma fazenda em Itabuna.
SAGAZ SEGALL
Uma obra do artista Lasar Segall, nascido na Lituânia e radicado no Brasil, é tema central de mostra em Dresden, na Alemanha. O retrato a lápis de Will Grohmann, feito em 1921, está exposto junto com obras de Wassily Kandinsky, George Braque, Paul Klee e Francis Bacon.
O diretor do Museu Lasar Segall em SP, Jorge Schwartz, foi à Alemanha acompanhar o empréstimo do trabalho, em exposição até a metade de janeiro no Staatliche Kunstsammlungen.
DILMA BARBADA
Gustavo Mendes, que imitava Dilma Rousseff no programa "Casseta & Planeta Vai Fundo" (TV Globo), aproveita a viagem a Porto Seguro (BA) para deixar a gilete de lado. "O melhor das férias é não ter que fazer a barba", diz o humorista.
UH, JURERÊ
O jogador Neymar, a top Alessandra Ambrósio, o cantor Buchecha, o ator Bruno Gissoni e Roger Rodrigues curtiram a noite do Cafe de La Musique na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis. Na mesma praia, as atrizes Monique Alfradique e Sophia Abrahão circularam pela boate Posh.
CURTO-CIRCUITO
Vai até amanhã o Réveillon no festival Aho, de música eletrônica, na Ilha Comprida, litoral de SP.
A peça "A Minha Primeira Vez", de Isser Korik, estreia na sexta no Teatro Folha. Com Ronny Kriwat, Emiliano D'Avila e Luana Martau no elenco. 18 anos.
Estão abertas na Aliança Cultural Brasil-Japão as inscrições para curso de língua e de cultura japonesas da Fundação Japão em São Paulo. As aulas começam em 30 de janeiro
Camila Morgado é capa da revista "29 Horas", distribuída no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A atriz viverá Mara, uma empresária de cantora de axé, na microssérie "O Canto da Sereia" (Globo), que estreia no dia 8. Para se inteirar sobre o Carnaval da Bahia, Camila diz que conversou com a empresária Flora Gil e com a equipe de Ivete Sangalo. "Elas me ajudaram a entender como funcionam os bastidores do Carnaval baiano, um evento que é uma verdadeira empresa", afirma.
TIRO DE FESTIM
Caiu a venda legal de armas de fogo no Brasil: foram comercializadas 80.777 unidades em 2012, contra 93.334 em 2011. Em 2010, eram 155.834 armas. O levantamento exclui as que são destinadas para as Forças Armadas.
DESARMA SP
São Paulo é o Estado em que o ritmo diminuiu de forma mais significativa, em termos absolutos. Foram vendidas 28.059 armas em 2012, contra 40.448 no ano passado. Na Paraíba, que em 2011 registrou 374 armas comercializadas, 99 foram anotadas no sistema do Exército, que controla as vendas e é responsável pelos dados.
DESARMA SP 2
O Exército afirma que a falta de grandes vendas para empresas de segurança ou órgãos públicos pode ter puxado os números para baixo.
CAIPIRINHA
Caio Blat afirma que com "Meus Dois Amores" realiza "o maior de todos os sonhos": atuar num filme "total Mazzaroppi". Maria Flor vive seu par na comédia caipira. Mas, na tela, ele não sabe se fica com a moça ou com uma mula de estimação.
PARADA MUSICAL
Nando Reis, Paralamas do Sucesso, Péricles, Margareth Menezes e Gaby Amarantos estão entre os artistas que tocarão no festival Parada Musical, coproduzido pela Geo. Os shows acontecem no próximo dia 25, simultaneamente, em Curitiba, Brasília, Rio, Salvador e Manaus.
TERRA DO CACAU
O ator Marcos Palmeira passa a primeira semana do ano no sul da Bahia, em uma fazenda em Itabuna.
SAGAZ SEGALL
Uma obra do artista Lasar Segall, nascido na Lituânia e radicado no Brasil, é tema central de mostra em Dresden, na Alemanha. O retrato a lápis de Will Grohmann, feito em 1921, está exposto junto com obras de Wassily Kandinsky, George Braque, Paul Klee e Francis Bacon.
O diretor do Museu Lasar Segall em SP, Jorge Schwartz, foi à Alemanha acompanhar o empréstimo do trabalho, em exposição até a metade de janeiro no Staatliche Kunstsammlungen.
DILMA BARBADA
Gustavo Mendes, que imitava Dilma Rousseff no programa "Casseta & Planeta Vai Fundo" (TV Globo), aproveita a viagem a Porto Seguro (BA) para deixar a gilete de lado. "O melhor das férias é não ter que fazer a barba", diz o humorista.
UH, JURERÊ
O jogador Neymar, a top Alessandra Ambrósio, o cantor Buchecha, o ator Bruno Gissoni e Roger Rodrigues curtiram a noite do Cafe de La Musique na praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis. Na mesma praia, as atrizes Monique Alfradique e Sophia Abrahão circularam pela boate Posh.
CURTO-CIRCUITO
Vai até amanhã o Réveillon no festival Aho, de música eletrônica, na Ilha Comprida, litoral de SP.
A peça "A Minha Primeira Vez", de Isser Korik, estreia na sexta no Teatro Folha. Com Ronny Kriwat, Emiliano D'Avila e Luana Martau no elenco. 18 anos.
Estão abertas na Aliança Cultural Brasil-Japão as inscrições para curso de língua e de cultura japonesas da Fundação Japão em São Paulo. As aulas começam em 30 de janeiro
Todos contra - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 01/01
A presidente Dilma avisou ao PT que não apoiará em hipótese alguma o projeto que regula os meios de comunicação e que não aceita propostas que restrinjam a liberdade de imprensa. O PMDB está em campanha contra o texto, com o aval do vice Michel Temer. O PT, que culpa a mídia pelas condenações dos mensaleiros, quer tratar do tema com prioridade este ano.
Vai empacar
A depender da bancada do Rio, o Congresso só irá apreciar o veto dos royalties no fim deste ano. Adiada para fevereiro, a votação vai sofrer forte obstrução. O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) fez as contas: 205 projetos relativos aos 3 mil vetos têm que ser votados antes dos royalties, segundo determinou o STF. Para cada projeto, dez deputados podem discursar no plenário por seis minutos. Então, serão 2.050 oradores falando por 12 mil minutos. Dividindo esse tempo, chega-se à necessidade de 50 sessões do Congresso. Sendo otimista, calculando duas sessões por semana, e descontando recessos de janeiro e julho, estaremos em... dezembro.
“Há 12 anos o setor elétrico é gerenciado pessoalmente pela presidente Dilma e só agora vem admitir que falta manutenção”
Bruno Araújo
Deputado federal PSDB-PE
Cotado
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) pode voltar à liderança do governo na Câmara, substituindo Arlindo Chinaglia (PT-SP). Pesa na decisão do Planalto o trânsito que o gaúcho tem em todas as bancadas e as trapalhadas de Chinaglia, principalmente, na insistência em votar o veto dos royalties, enquanto Dilma era contra.
Pouca força
O Planalto cogitava para a liderança do governo na Câmara o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Mas ele acabou perdendo força porque não conseguiu unir sua própria bancada para ser eleito vice-presidente da Câmara.
Expandindo os negócios
Os Correios começam o ano diversificando os negócios. A empresa estatal abrirá um escritório em Miami e lançará celular com sua marca. Deve ainda entrar nas licitações do trem-bala e da privatização dos correios de Portugal.
O PMDB e a reforma ministerial
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN) diz que a escolha do ministro Gastão Vieira (Turismo) foi da bancada e não do presidente do Senado, José Sarney (AP). Sobre as mudanças que a presidente Dilma vai fazer na esplanada, Alves diz que o partido perdeu ministérios importantes como Saúde e Comunicações, e que acredita que será agora melhor compensado.
Um passo para trás
O DEM vai dar um passo para trás nas eleições de 2014 para ver se consegue retomar crescimento. A ideia é lançar seus principais políticos a deputado federal, como o ex-vice presidente Marco Maciel (PE), e o ex-senador Heráclito Fortes (PI).
Maior ainda
Com as posses de prefeitos, hoje, em todo o país, o PT ampliará o número de deputados na Câmara. Entrarão três petistas que ficaram na suplência em vagas originalmente do PMDB e PSB. O PT passará de 86 para 89 deputados.
Dobradinha.
A presidente Dilma avisou ao PT que não apoiará em hipótese alguma o projeto que regula os meios de comunicação e que não aceita propostas que restrinjam a liberdade de imprensa. O PMDB está em campanha contra o texto, com o aval do vice Michel Temer. O PT, que culpa a mídia pelas condenações dos mensaleiros, quer tratar do tema com prioridade este ano.
Vai empacar
A depender da bancada do Rio, o Congresso só irá apreciar o veto dos royalties no fim deste ano. Adiada para fevereiro, a votação vai sofrer forte obstrução. O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) fez as contas: 205 projetos relativos aos 3 mil vetos têm que ser votados antes dos royalties, segundo determinou o STF. Para cada projeto, dez deputados podem discursar no plenário por seis minutos. Então, serão 2.050 oradores falando por 12 mil minutos. Dividindo esse tempo, chega-se à necessidade de 50 sessões do Congresso. Sendo otimista, calculando duas sessões por semana, e descontando recessos de janeiro e julho, estaremos em... dezembro.
“Há 12 anos o setor elétrico é gerenciado pessoalmente pela presidente Dilma e só agora vem admitir que falta manutenção”
Bruno Araújo
Deputado federal PSDB-PE
Cotado
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) pode voltar à liderança do governo na Câmara, substituindo Arlindo Chinaglia (PT-SP). Pesa na decisão do Planalto o trânsito que o gaúcho tem em todas as bancadas e as trapalhadas de Chinaglia, principalmente, na insistência em votar o veto dos royalties, enquanto Dilma era contra.
Pouca força
O Planalto cogitava para a liderança do governo na Câmara o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Mas ele acabou perdendo força porque não conseguiu unir sua própria bancada para ser eleito vice-presidente da Câmara.
Expandindo os negócios
Os Correios começam o ano diversificando os negócios. A empresa estatal abrirá um escritório em Miami e lançará celular com sua marca. Deve ainda entrar nas licitações do trem-bala e da privatização dos correios de Portugal.
O PMDB e a reforma ministerial
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN) diz que a escolha do ministro Gastão Vieira (Turismo) foi da bancada e não do presidente do Senado, José Sarney (AP). Sobre as mudanças que a presidente Dilma vai fazer na esplanada, Alves diz que o partido perdeu ministérios importantes como Saúde e Comunicações, e que acredita que será agora melhor compensado.
Um passo para trás
O DEM vai dar um passo para trás nas eleições de 2014 para ver se consegue retomar crescimento. A ideia é lançar seus principais políticos a deputado federal, como o ex-vice presidente Marco Maciel (PE), e o ex-senador Heráclito Fortes (PI).
Maior ainda
Com as posses de prefeitos, hoje, em todo o país, o PT ampliará o número de deputados na Câmara. Entrarão três petistas que ficaram na suplência em vagas originalmente do PMDB e PSB. O PT passará de 86 para 89 deputados.
Dobradinha.
PSB ensaia aproximação com PSDB na votação de projetos relacionados ao pacto federativo. Socialistas divergem do governo.
As surpresas de 2012 e suas implicações - ILAN GOLDFAJN
O Estado de S.Paulo - 01/01
Feliz ano-novo, querido leitor. Estou em férias no sul do México, terra dos maias. Daqui atesto que um novo ciclo - denominado baktun pelos maias - está apenas começando. Nada de fim do mundo.
No Brasil, e no mundo, a sensação é, de fato, de uma transição entre ciclos econômicos mais longos. Típicas dessas transições são as surpresas que nos acompanham. Abaixo relaciono as mudanças que caracterizaram o ano velho e suas implicações para o novo ano.
O risco de ruptura na zona do euro diminuiu. No entanto, não foi abolida a volatilidade. Graças ao Super-Mario (Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu), o risco de quebra na zona do euro diminui. A promessa de fazer "o que for necessário" para manter a zona do euro funcionando deu resultado. A disposição de comprar títulos soberanos (espanhóis, italianos, etc.), quando e se necessário, permitiu reduzir os juros cobrados e viabilizar o financiamento dos países periféricos. A melhora no ambiente financeiro, no entanto, pode levar as autoridades dos países a postergar novamente os duros ajustes necessários e a uma volta da desconfiança dos mercados. Ou, inversamente, a persistência nos ajustes pode levar à fadiga e a novos protestos nas ruas. Os problemas na Europa não acabaram, mas o fim do euro está mais longe.
Não houve recessão global, mas sim crescimento mais baixo, que deve continuar. Falou-se muito no mergulho duplo (nova recessão) nos EUA e no mundo. Todavia nada disso ocorreu. Observou-se mais do mesmo: nem recessão nem aceleração, apenas o crescimento baixo se consolidando. O mundo completou meia década (2007 a 2012) perdida desde o início da crise do subprime, que levou à crise financeira internacional. Tudo indica que continuará perdida por mais alguns anos. A desalavancagem (redução das dívidas) é um processo lento, que ainda precisa terminar. Nos EUA o setor privado já sacudiu a poeira e as dívidas (como a melhora nas bolsas e no mercado imobiliário sinalizam), mas deixou tudo na mão do setor público, que ainda precisa se ajustar. Os debates do abismo fiscal e limites do teto da dívida no Congresso americano são sinais do imenso desafio à frente.
A China ameaçou com um "hard landing", mas o crescimento estabilizou-se em torno de 7,5%-8%. Enquanto a China desacelerava, a sensação de queda livre dominou as expectativas. Sem esse motor do crescimento mundial, temia-se sobre o futuro global, especialmente nas economias emergentes, e na América Latina em particular. Mas a parada brusca (hard landing) não ocorreu, no segundo semestre o crescimento estabilizou-se e até ensejou uma recuperação no final do ano. Os sinais são de um crescimento menor, mas ainda forte, na China nos próximos anos.
As commodities resistiram bem aos problemas globais. Esperamos que permaneçam nesse patamar relativamente alto. Com o risco de ruptura na Europa, recessão nos EUA e parada brusca na China, o preço das commodities podia se ajustar de forma contundente, ameaçando o ganha-pão de vários países da América Latina. A região respirou aliviada e agradeceu apresentando um crescimento sólido, com notáveis exceções.
O crescimento no Brasil decepcionou (em torno de 1%) em 2012. Retomada moderada parece o mais provável. Apesar da queda dos juros, de incentivos fiscais, quase fiscais, monetários e cambiais, não ocorreu a vigorosa retomada que tanto se esperava. Persistir é o moto de alguns, aguardando a volta da "normalidade" do crescimento da última década no Brasil. Outros já se debruçam sobre as causas estruturais da falta de crescimento (ausência de reformas, confiança abalada no futuro, perda de dinamismo global, etc.). O fato é que a taxa de investimento voltou a cair no ano passado, ao invés de subir, condição necessária para o crescimento sustentável. Enquanto isso, delineia-se uma retomada lenta e decepcionante (terceiro trimestre com um crescimento anualizado de 2,5% e o quarto trimestre, espera-se, em torno de 3%). Entretanto, os riscos são elevados. Os problemas estruturais podem ameaçar o crescimento por mais tempo, a exemplo do baixo crescimento do México na década passada (seria o caso de um "se eu fosse você" soberano).
Apesar da desaceleração do PIB, o desemprego apresenta recorde de baixa e os salários, de alta, no Brasil. O equilíbrio é frágil. O PIB mais fraco normalmente levaria a um enfraquecimento no mercado de trabalho, o que não ocorreu no ano passado. O crescimento forte da economia em setores com uso intenso de mão de obra explica a tendência. A resistência das empresas a demitir, e ter de recontratar mais adiante, explica a força do mercado de trabalho no atual ciclo. Mas é bom ter claras as perspectivas. A dicotomia entre o crescimento fraco do PIB e a força do mercado de trabalho não se pode perpetuar. Algo terá de mudar. A retomada do PIB, mesmo que moderada, sustenta o emprego e os salários. Um PIB persistentemente fraco ameaça a força de trabalho e seus subprodutos: consumo, a nova classe média e melhoras socioeconômicas, incluindo a distribuição de renda.
A taxa Selic chegou a 7,25%, o câmbio elevou-se acima de R$ 2 por dólar. O crescimento fraco deve manter esses estímulos na economia. A inflação permanece elevada. A perspectiva de retomada da economia no ano passado não permitia vislumbrar facilmente que a taxa de juros Selic chegaria a patamares tão baixos (juros reais de 1,5%) nem que o governo precisaria induzir uma desvalorização do câmbio de quase 20%. Para a frente, a perspectiva de uma retomada apenas moderada da economia não permitirá a retirada desses estímulos este ano. A inflação elevada (5,7% em 2012) põe limites à depreciação cambial. Os fundamentos da economia brasileira demandam uma apreciação cambial, na ausência de poupança doméstica que substitua a externa. Uma depreciação excessiva pode levar a uma inflação corretiva, para alinhar o câmbio real.
Todos sabem, nada acontece - ROBERTO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 01/01
As reuniões sobre segurança alimentar já são enfadonhas. O risco de desabastecimento e outros desafios são famosos. Mas nada concreto é feito...
Desde a Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, na sigla em inglês, instituição que antecedeu a OMC, Organização Mundial do Comércio), os países se agrupavam de acordo com a similaridade dos seus interesses.
Mas foi com a Rodada de Doha, iniciada há 11 anos e cujos avanços até agora foram pífios, que surgiram muitos outros grupos, cuja designação sempre começa com a letra G.
Destaca-se o G20, liderado pelo Brasil, com uma visão flexível sobre a abertura do comércio agrícola, embora seus membros disputem diferentes posições quanto ao nível dessa abertura. É natural, pois aí estão gigantes como a China e a Índia, ao lado de países pequenos como Cuba e a Bolívia, entre outros.
Já havia o G-Cairns, o grupo de países exportadores agrícolas, a Austrália à frente. Este perdeu um pouco de protagonismo com o G20.
Há o G10, de países que se consideram vulneráveis às importações agrícolas, o grupo Africano, o grupo de países de economia em transição, o G7, dos países mais ricos do mundo, e assim por diante.
Apesar do imobilismo de Doha, a ideia dos grupos permaneceu, dando origem a outro G20, composto pelas principais economias do planeta, cujo objetivo foi enfrentar as crises financeiras, a partir de 2008. Boa parte de suas metas se deve à falta de atuação de outras organizações multilaterais e aos riscos decorrentes desse vazio institucional.
Pois bem. O mundo está diante de um desafio monumental, o da segurança alimentar e energética sustentáveis. Não passa uma semana sem que, em diversos países, sábios, cientistas, especialistas, economistas, sociólogos, engenheiros, agrônomos, administradores, advogados, traders, políticos, diplomatas e todo tipo de profissionais se debrucem sobre esse tema em eventos variados.
Já há um certo enfado nas reuniões. Todo mundo sabe que em 2050 teremos 9 bilhões de pessoas no mundo, que até lá precisaremos dobrar a produção de alimentos e fazer mais do que isso em energia. Todos sabem que é preciso preservar os recursos naturais (inclusive por causa do aquecimento global), que o poder aquisitivo da população de países emergentes vai crescer, que as regras de comércio agrícola precisam ser flexibilizadas (com redução dos subsídios dos ricos).
Todos sabem que a tecnologia agrícola tropical tem que ser levada ao continente africano, que a agroenergia não pode suplantar a produção de alimentos, que o desmatamento deve diminuir etc., etc., etc.
Todo mundo está careca de saber disso. Mas nada de concreto é feito, por mais que a FAO (Organização de Agricultura e Alimentação da ONU) se esforce para convencer o mundo dos riscos de desabastecimento.
Boa parte desta inércia se deve à falta de lideranças globais. Boa parte se deve ainda à visão urbana de muitos governos, que entendem segurança alimentar apenas sob a ótica do abastecimento, porque isso dá votos, e se esquecem de que não se abastece sem produção.
Falta um esforço dirigido para a produção, com ênfase aos fatores ligados a ela: tecnologia, logística, financiamento, estoques, seguro de preços, regras de comércio, bolsas eficientes, infraestrutura etc.
E muitos países produtores sabem como fazer isso tudo, mas falta coesão em torno do assunto.
Está na hora de criar um novo grupo, o G da produção. Os países com disponibilidade de terra, tecnologia ou know how poderiam se juntar, com apoio da FAO, e montar um gigantesco projeto de aumento da produção rural, com renda garantida aos produtores pequenos, médios e grandes de todos os continentes.
O Brasil tem que estar no comando deste G, ao lado do Canadá, Argentina, China, Estados Unidos, Índia, Rússia, Ucrânia, Indonésia, Sudão, Congo e Austrália, entre outros.
Eis um desafio formidável para a boa equipe do Itamaraty liderar.
As reuniões sobre segurança alimentar já são enfadonhas. O risco de desabastecimento e outros desafios são famosos. Mas nada concreto é feito...
Desde a Rodada Uruguai do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, na sigla em inglês, instituição que antecedeu a OMC, Organização Mundial do Comércio), os países se agrupavam de acordo com a similaridade dos seus interesses.
Mas foi com a Rodada de Doha, iniciada há 11 anos e cujos avanços até agora foram pífios, que surgiram muitos outros grupos, cuja designação sempre começa com a letra G.
Destaca-se o G20, liderado pelo Brasil, com uma visão flexível sobre a abertura do comércio agrícola, embora seus membros disputem diferentes posições quanto ao nível dessa abertura. É natural, pois aí estão gigantes como a China e a Índia, ao lado de países pequenos como Cuba e a Bolívia, entre outros.
Já havia o G-Cairns, o grupo de países exportadores agrícolas, a Austrália à frente. Este perdeu um pouco de protagonismo com o G20.
Há o G10, de países que se consideram vulneráveis às importações agrícolas, o grupo Africano, o grupo de países de economia em transição, o G7, dos países mais ricos do mundo, e assim por diante.
Apesar do imobilismo de Doha, a ideia dos grupos permaneceu, dando origem a outro G20, composto pelas principais economias do planeta, cujo objetivo foi enfrentar as crises financeiras, a partir de 2008. Boa parte de suas metas se deve à falta de atuação de outras organizações multilaterais e aos riscos decorrentes desse vazio institucional.
Pois bem. O mundo está diante de um desafio monumental, o da segurança alimentar e energética sustentáveis. Não passa uma semana sem que, em diversos países, sábios, cientistas, especialistas, economistas, sociólogos, engenheiros, agrônomos, administradores, advogados, traders, políticos, diplomatas e todo tipo de profissionais se debrucem sobre esse tema em eventos variados.
Já há um certo enfado nas reuniões. Todo mundo sabe que em 2050 teremos 9 bilhões de pessoas no mundo, que até lá precisaremos dobrar a produção de alimentos e fazer mais do que isso em energia. Todos sabem que é preciso preservar os recursos naturais (inclusive por causa do aquecimento global), que o poder aquisitivo da população de países emergentes vai crescer, que as regras de comércio agrícola precisam ser flexibilizadas (com redução dos subsídios dos ricos).
Todos sabem que a tecnologia agrícola tropical tem que ser levada ao continente africano, que a agroenergia não pode suplantar a produção de alimentos, que o desmatamento deve diminuir etc., etc., etc.
Todo mundo está careca de saber disso. Mas nada de concreto é feito, por mais que a FAO (Organização de Agricultura e Alimentação da ONU) se esforce para convencer o mundo dos riscos de desabastecimento.
Boa parte desta inércia se deve à falta de lideranças globais. Boa parte se deve ainda à visão urbana de muitos governos, que entendem segurança alimentar apenas sob a ótica do abastecimento, porque isso dá votos, e se esquecem de que não se abastece sem produção.
Falta um esforço dirigido para a produção, com ênfase aos fatores ligados a ela: tecnologia, logística, financiamento, estoques, seguro de preços, regras de comércio, bolsas eficientes, infraestrutura etc.
E muitos países produtores sabem como fazer isso tudo, mas falta coesão em torno do assunto.
Está na hora de criar um novo grupo, o G da produção. Os países com disponibilidade de terra, tecnologia ou know how poderiam se juntar, com apoio da FAO, e montar um gigantesco projeto de aumento da produção rural, com renda garantida aos produtores pequenos, médios e grandes de todos os continentes.
O Brasil tem que estar no comando deste G, ao lado do Canadá, Argentina, China, Estados Unidos, Índia, Rússia, Ucrânia, Indonésia, Sudão, Congo e Austrália, entre outros.
Eis um desafio formidável para a boa equipe do Itamaraty liderar.
O que mais agrega valor? - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 01/01
O baixo desempenho do setor produtivo do Brasil ao longo de 2012 expôs alguns dos pressupostos equivocados com que agiu o governo Dilma.
Um deles é que basta estimular o consumo para garantir um PIB mais alentado. Foi o que tentou o governo com desvalorização cambial, queda dos juros, mais crédito, renúncias tributárias (queda de impostos) e veementes apelos para que o empresário mobilizasse seu espírito animal.
Mesmo com todos os estímulos, o comportamento da indústria em 2012 foi um fiasco. Até outubro, a queda na produção foi de 2,9% em relação aos dez primeiros meses de 2011.
Os analistas ligados ao governo federal olham para a força do consumo e interpretam o recuo de resultados da indústria como desova de estoques. Se o diagnóstico estivesse correto, o processo estaria demorando demais. A indústria não dá conta da elevação do consumo porque não consegue competir.
O governo precisa definir o que de fato quer. Se quer "um pibão grandão", como pede a presidente Dilma, terá de estimular outros setores - não tanto a indústria. Os serviços pesam nada menos que 67% no PIB total e a indústria, 28%. Mais incentivos aos serviços (ensino, saúde, transportes, comunicações, turismo, finanças) gerariam resultado melhor.
Se, no entanto, quer elevação relevante da produção industrial, terá de enfrentar o alto custo Brasil, principalmente a sobrecarga tributária e a infraestrutura cara e ruim. Mas ninguém se iluda: em razão da baixa participação da indústria no PIB, mesmo um forte desempenho industrial terá impacto relativamente baixo.
Sempre que a necessidade de reindustrializar o País, como reivindica a Fiesp, volta às discussões, entra em jogo o surrado argumento da agregação de valor. O pressuposto é de que é melhor fabricar e vender produtos industrializados em vez de artigos básicos e intermediários, porque a transformação sempre agrega valor.
Caso esse princípio estivesse inquestionavelmente correto, conforme tanta gente pensa, seria incompreensível a recusa da Vale do Rio Doce em diversificar e despejar capitais na siderurgia. Ou, então, outros capitais acorreriam pressurosos para construir refinarias de petróleo no Brasil.
Ao contrário das lendas ainda correntes na economia, as atividades que mais agregam valor são a mineração, a agricultura e determinados serviços. No subsolo, petróleo e minério de ferro pouco valem. Extraídos, pegam um preço dez vezes mais alto. Diante dessas magnitudes, a agregação de valor é apenas marginal. Semente de soja necessária para o plantio de um hectare está custando, na média, R$ 200; a produção desse mesmo hectare rende hoje ao produtor perto de R$ 3,5 mil.
As empresas de ponta na Europa e nos Estados Unidos não fazem mais questão da transformação industrial braçal. Transferem essas unidades para a Ásia ou para o Leste Europeu. Dão prioridade a atividades mais bem remuneradas, como a do design, a de criação de produtos e a de avanços tecnológicos.
Em vez de lamentar a desindustrialização do País, os dirigentes do setor produtivo e o próprio governo deveriam se dedicar mais à busca de nova estratégia para o setor produtivo, que começa a ter grande peso na exportação de commodities.
Em busca do tempo perdido - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 01/01
Em 2013 a presidente Dilma Rousseff terá seu ano decisivo. No terceiro ano de governo ela tentará deslanchar o crescimento para ter mais um mandato no Planalto. O crescimento medíocre do primeiro biênio e a inflação em patamar alto só não corroeram sua popularidade porque o consumo tem sido turbinado pelo crédito. Mas sua imagem de gerente perdeu consistência.
Na área internacional a incerteza terá como foco os Estados Unidos. A Europa tentará a difícil tarefa da construção das bases da união bancária, mas o continente passará o ano em recessão. A China pode crescer um pouco mais, mas não volta ao patamar de dois dígitos de alguns anos atrás. A crise política americana produzirá novos eventos de ameaça à recuperação.
O mundo pode não prejudicar muito o Brasil, mas não ajudará, como fez de 2003 a 2007 no governo Lula. Não se espera um novo boom de commodities, no máximo que o minério de ferro não caia abaixo do nível de 2012.
Aqui dentro há chances razoáveis de um ano com um PIB mais forte. Ontem, a média das projeções do mercado confirmaram os 3,3%, o que não quer dizer nada porque eles erraram muito em 2012, mas depois de dois anos de baixo crescimento, há o efeito até estatístico de recuperação. O crescimento não poderá contar apenas com o aumento do endividamento das famílias, porque esse processo está se esgotando. Houve no ano passado preocupação com o excesso de comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas. Muito devedor ainda está encalacrado. A relação crédito-PIB saiu de 25% para 52% em dez anos. Como os juros do crédito ao consumo continuam altos, os níveis de crédito-PIB de outros países não são parâmetro para nós.
O investimento público tem que ser maior e mais eficiente. Como recentemente disse o ex-presidente do BC Armínio Fraga, adianta pouco usar o investimento público na construção de pirâmides. O governo tem que ser capaz de fazer as apostas certas e mais racionais em projetos que realmente aumentem a competitividade do Brasil e eliminem gargalos.
A inflação deve permanecer alta, mas haverá alguns pontos de redução. Os alimentos não devem subir tanto, porque no ano passado o aumento foi em parte pela seca nos Estados Unidos. Eventos extremos de clima têm se repetido ano a ano, mas não se espera algo como a perda de grande parte das lavouras de soja, milho e trigo nos Estados Unidos. Mesmo assim, a inflação de alimentos, que ficou em 10% em 2012, permanecerá forte. A de serviços pode cair, porque o reajuste do salário mínimo será em percentual menor. E há ainda a queda dos preços de energia. Esse efeito será em parte neutralizado pelo reajuste da gasolina.
O governo tentará fazer algo mais forte para impulsionar a retomada do crescimento porque sabe que este ano é fundamental para os projetos do PT de permanecer no governo, seja com Dilma ou Lula.
O ano mais fácil de qualquer governo é sempre o primeiro e Dilma o perdeu. O governo parou nas sucessivas denúncias de corrupção que derrubaram sete dos seus ministros. Na economia foi preciso conter a inflação que refletiu os excessos de gastos eleitoreiros de 2010 e que bateram em 2011. Todas as previsões eram de recuperação do crescimento no ano passado, mas o país ficou estagnado.
A presidente Dilma tem cada vez menos entusiastas dos seus métodos de gestão. Tem muita decisão que depende apenas da sua atuação e fica estacionada em sua mesa. Bom gerente decide com agilidade. A política econômica é dominada pelo pacotismo que gera mais incerteza do que estímulo. É adepta dos projetos de impacto, como os do governo militar, mas sem ligação com as urgências do país, como o trem-bala. É lenta em decisões como a da privatização do Galeão que consumiu dois anos de hesitação.
Nesses dois anos que faltam para o fim do mandato, Dilma terá que superar seus erros gerenciais e focar no investimento público, se quiser melhorar seu desempenho na área econômica. Ao mesmo tempo terá que ter mais cuidado com a área fiscal. As contas finais não chegaram, mas até agora há risco de não cumprimento das metas de 2012 e o governo tem comprometido demais os bancos públicos em financiamento que não terá retorno garantido, principalmente Caixa e Banco do Brasil. Fazer bolha é fácil. O ano precisará ser de crescimento com boa gerência.
Em 2013 a presidente Dilma Rousseff terá seu ano decisivo. No terceiro ano de governo ela tentará deslanchar o crescimento para ter mais um mandato no Planalto. O crescimento medíocre do primeiro biênio e a inflação em patamar alto só não corroeram sua popularidade porque o consumo tem sido turbinado pelo crédito. Mas sua imagem de gerente perdeu consistência.
Na área internacional a incerteza terá como foco os Estados Unidos. A Europa tentará a difícil tarefa da construção das bases da união bancária, mas o continente passará o ano em recessão. A China pode crescer um pouco mais, mas não volta ao patamar de dois dígitos de alguns anos atrás. A crise política americana produzirá novos eventos de ameaça à recuperação.
O mundo pode não prejudicar muito o Brasil, mas não ajudará, como fez de 2003 a 2007 no governo Lula. Não se espera um novo boom de commodities, no máximo que o minério de ferro não caia abaixo do nível de 2012.
Aqui dentro há chances razoáveis de um ano com um PIB mais forte. Ontem, a média das projeções do mercado confirmaram os 3,3%, o que não quer dizer nada porque eles erraram muito em 2012, mas depois de dois anos de baixo crescimento, há o efeito até estatístico de recuperação. O crescimento não poderá contar apenas com o aumento do endividamento das famílias, porque esse processo está se esgotando. Houve no ano passado preocupação com o excesso de comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas. Muito devedor ainda está encalacrado. A relação crédito-PIB saiu de 25% para 52% em dez anos. Como os juros do crédito ao consumo continuam altos, os níveis de crédito-PIB de outros países não são parâmetro para nós.
O investimento público tem que ser maior e mais eficiente. Como recentemente disse o ex-presidente do BC Armínio Fraga, adianta pouco usar o investimento público na construção de pirâmides. O governo tem que ser capaz de fazer as apostas certas e mais racionais em projetos que realmente aumentem a competitividade do Brasil e eliminem gargalos.
A inflação deve permanecer alta, mas haverá alguns pontos de redução. Os alimentos não devem subir tanto, porque no ano passado o aumento foi em parte pela seca nos Estados Unidos. Eventos extremos de clima têm se repetido ano a ano, mas não se espera algo como a perda de grande parte das lavouras de soja, milho e trigo nos Estados Unidos. Mesmo assim, a inflação de alimentos, que ficou em 10% em 2012, permanecerá forte. A de serviços pode cair, porque o reajuste do salário mínimo será em percentual menor. E há ainda a queda dos preços de energia. Esse efeito será em parte neutralizado pelo reajuste da gasolina.
O governo tentará fazer algo mais forte para impulsionar a retomada do crescimento porque sabe que este ano é fundamental para os projetos do PT de permanecer no governo, seja com Dilma ou Lula.
O ano mais fácil de qualquer governo é sempre o primeiro e Dilma o perdeu. O governo parou nas sucessivas denúncias de corrupção que derrubaram sete dos seus ministros. Na economia foi preciso conter a inflação que refletiu os excessos de gastos eleitoreiros de 2010 e que bateram em 2011. Todas as previsões eram de recuperação do crescimento no ano passado, mas o país ficou estagnado.
A presidente Dilma tem cada vez menos entusiastas dos seus métodos de gestão. Tem muita decisão que depende apenas da sua atuação e fica estacionada em sua mesa. Bom gerente decide com agilidade. A política econômica é dominada pelo pacotismo que gera mais incerteza do que estímulo. É adepta dos projetos de impacto, como os do governo militar, mas sem ligação com as urgências do país, como o trem-bala. É lenta em decisões como a da privatização do Galeão que consumiu dois anos de hesitação.
Nesses dois anos que faltam para o fim do mandato, Dilma terá que superar seus erros gerenciais e focar no investimento público, se quiser melhorar seu desempenho na área econômica. Ao mesmo tempo terá que ter mais cuidado com a área fiscal. As contas finais não chegaram, mas até agora há risco de não cumprimento das metas de 2012 e o governo tem comprometido demais os bancos públicos em financiamento que não terá retorno garantido, principalmente Caixa e Banco do Brasil. Fazer bolha é fácil. O ano precisará ser de crescimento com boa gerência.
'Retrospectiva 2013' - JOSÉ PAULO KUPFER
O Estado de S.Paulo - 01/01
Não foi o que o governo projetava, mas também não chegou ao pessimismo de muitos analistas. Nem 4,5%, como queria Brasília, nem 2,5%, como imaginaram economistas críticos, nem mesmo 3,3%, conforme o último Boletim Focus de 2012. O PIB de 2013 cresceu 3,7%.
Foi um resultado suficiente para manter sob pressão tanto o mercado de trabalho quanto os índices de preços. Na virada para o ano eleitoral de 2014, último do primeiro mandato de Dilma Rousseff, a taxa de desemprego continuou baixa, não passando de 5,5%, assim como o IPCA, contrariando o Banco Central, não convergiu para o centro da meta, embora tenha fechado em 5,4%, abaixo dos 5,7% do ano anterior.
Essa permanência dos índices de preços em zonas desconfortáveis se deveu em parte à nova redução do superávit primário fiscal, em relação à meta. Reprisando o ano anterior, a margem das receitas públicas sobre as despesas, sem considerar os gastos com juros da dívida pública, ficou pouco acima de 2% e longe da velha meta de 3,1% do PIB. A redução dos gastos com juros, no entanto, assegurou espaço para novo recuo no volume de dívida líquida pública em relação ao PIB.
Com reduções nos custos de energia e isenções generalizadas dos encargos nas folhas de pagamento, os investimentos, tão ansiados, deram o ar da graça e, finalmente, registraram expansão no ano. O crescimento foi até razoável, mas o avanço de 6% no período mal recuperou o forte recuo do último ano. De todo modo, os estímulos adotados em 2012, reforçados pelo ciclo natural de inversões, após longo período de acumulação de estoques, indicaram uma tendência de aumento da oferta.
Ainda assim, para crescer, a economia continuou dependente do consumo. Nesse aspecto, a combinação da manutenção dos descontos em impostos para bens duráveis com avanços, mesmo que mais moderados, na massa salarial e no crédito, desempenhou papel relevante. O clima favorável, os preços atraentes e o crédito razoável impulsionaram a agropecuária a crescer em ritmo superior a 6%.
Mas a melhor notícia foi a de que a indústria esboçou uma primeira reação com mais consistência. Destaque para o segmento crítico de bens de capital, com expansão acima de 20%, depois de queda de 10% no ano anterior. Puxado por bens de capital, o pesado trem da indústria cresceu, no ano, depois de longo período de recuo, em torno de 4%.
Mudanças anteriores nos juros e no câmbio tiveram influência positiva na melhora do ambiente econômico. Propriamente no ano, as duas taxas permaneceram no nível em que já se encontravam - 7,25% e R$ 2-2,10 por dólar, respectivamente. Vale lembrar, nesse aspecto, que, embora o déficit em conta corrente tenha sido mais largo, os investimentos externos diretos, por mais um ano, cobriram praticamente todo o saldo negativo das contas externas.
O cenário internacional, ainda travado, mas com menor grau de incertezas, também ajudou na relativa retomada da economia brasileira. A economia internacional cresceu 3% no ano. Outra vez, como se observa há meia década, os emergentes continuaram a puxar o ritmo de crescimento, enquanto os países maduros contabilizaram mais um período de atoleiro. Os EUA, por exemplo, escaparam do abismo fiscal depois de um acordo repleto de ressalvas, que, no fim das contas, não ajudou a impulsionar a economia. A responsabilidade de manter o nível de atividades em terreno positivo permaneceu sobre os ombros do banco central e o resultado foi mais do mesmo, com crescimento e taxas de desemprego repetindo, com variações não significativas, os números do ano anterior.
Também na Europa não apareceram muitas luzes no fim do túnel. O Banco Central Europeu continuou a injetar recursos nas economias debilitadas, esforçando-se para evitar descontroles na rolagem das dívidas dos países. No balanço geral, crescimento muito baixo, inclusive na Alemanha, foi a marca econômica de mais um ano, na região.
Fato importante foi a estabilização da economia chinesa, num ritmo de crescimento de 7,5%, nos dois últimos anos. Com isso, garantiu-se, igualmente, alguma estabilidade, em níveis relativamente altos, na cotação das commodities. Países do sul da Ásia, Índia incluída, seguiram a onda, que ainda impactou, favoravelmente, África e América Latina - a região teve, no geral, um ano econômico pouco melhor que o anterior.
Essa "retrospectiva" do ano que está começando é um exercício de projeção, com base no balanceamento de previsões de analistas nacionais e internacionais. O viés é otimista, mas não fora da realidade possível. A mensagem é de esperança, acompanhando os votos de feliz novo ano a todos.
Feliz 2013 - BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SP - 01/01
O melhor hoje é lembrar as boas notícias de 2012, e não ficar apontando problemas e dificuldades para o ano
Tenho a rara oportunidade -e a responsabilidade- de escrever neste espaço em 1º de janeiro. Num dia como esse, não dá para ficar apontando problemas e citando dificuldades que o país vai enfrentar no exercício que se inicia. Afinal, as pessoas só pensam em desejar feliz ano novo e querem passar longe de aborrecimentos.
Então, imaginei que a melhor ideia seria lembrar notícias boas, que não deixassem ninguém preocupado nem nervoso com problemas e deficiências a superar.
A primeira lembrança que me veio à mente não é de economia nem muito recente, mas de dez anos atrás. Em junho de 2002, a seleção brasileira ganhou sua última Copa do Mundo.
Num domingo de manhã, todos acordamos cedo, ligamos a televisão e lavamos a alma de verde-amarelo quando o segundo gol contra a Alemanha, de Ronaldo, garantiu o pentacampeonato. Foi um dia feliz. Esperamos revivê-lo no ano que vem, na Copa do Brasil. O competente Luiz Felipe Scolari vai dirigir a seleção e poderá repetir a proeza.
Lembrei-me disso porque uma boa notícia do ano que acabou foi a inauguração dos dois primeiros estádios brasileiros que serão usados na Copa: o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte. Nada mal. Essa conclusão, 18 meses antes da Copa, serve para aplacar críticas de quem sempre diz que o país não tem condição de sediar o megaevento de futebol.
Notícia alegre do ano foi também a da menina de sete anos, de Filadélfia, nos EUA, curada de um câncer por meio do uso de vírus HIV deficientes, causadores da Aids. Os médicos programaram geneticamente o vírus, inocularam-no na menina e a doença desapareceu. Um surpreendente resultado, que deixa esperanças sobre a descoberta da cura do câncer, uma das maiores aspirações da humanidade no século 21.
Também nos EUA, o brasileiro Alexandre Lopes foi eleito o melhor entre os 180 mil professores da rede estadual de ensino da Flórida e vai concorrer ao título de melhor professor dos EUA. Quem sabe ele possa nos ensinar e inspirar a melhorar a qualidade de nossas escolas públicas e privadas.
A população mundial ganhou mais de dez anos de esperança de vida. Em 187 países, os homens tinham expectativa de viver 56,4 anos, em média, em 1970. Hoje, são 67,5 anos. No caso das mulheres, o salto foi de 61,2 anos para 73,3 anos. O brasileiro nasce hoje com a esperança de viver 74 anos e 29 dias, três anos e sete meses a mais do que no ano 2000.
Notícia edificante também foi a do morador de rua Rejaniel Jesus dos Santos. Ele e a mulher encontraram um pacote com R$ 20 mil em notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20 e
R$ 10. O embrulho estava embaixo do viaduto, ao lado da cama improvisada em que dormiam. Ligaram para o 190 e entregaram o dinheiro à polícia, que o devolveu ao dono, um comerciante de São Paulo. Brasileiros simples e honestíssimos, foram recompensados.
O Rio de Janeiro deu continuidade ao projeto de pacificação de favelas, cujo principal objetivo é recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes de drogas e milicianos. No fim do ano passado, 28 favelas haviam sido devolvidas a seus moradores, pacificadas e com segurança pública. Até 2014, o número deve subir para 44.
Os juros básicos da economia brasileira fecharam o ano abaixo de dois dígitos. A taxa anual está em 7,25%, dois pontos acima da inflação, e não deve subir neste ano inteiro, segundo as previsões do próprio mercado. Um grande estímulo ao investimento produtivo.
O Brasil criou 1,77 milhão de empregos formais de janeiro a novembro do ano que terminou, apesar do fraco crescimento econômico. Nos últimos dez anos, o número de novas vagas atingiu 18,5 milhões. Em novembro, a taxa de desemprego no país era de 4,9%, uma das mais baixas do mundo.
É difícil encontrar notícia melhor do que esta última para a economia e o bem-estar do brasileiro. Então, termino com ela, não sem antes observar que, para cada um de nós, a boa notícia é a saúde e a felicidade de nossas famílias e a possibilidade de viver com dignidade, em paz e segurança. Tudo de muito bom a todos. Feliz 2013!
O melhor hoje é lembrar as boas notícias de 2012, e não ficar apontando problemas e dificuldades para o ano
Tenho a rara oportunidade -e a responsabilidade- de escrever neste espaço em 1º de janeiro. Num dia como esse, não dá para ficar apontando problemas e citando dificuldades que o país vai enfrentar no exercício que se inicia. Afinal, as pessoas só pensam em desejar feliz ano novo e querem passar longe de aborrecimentos.
Então, imaginei que a melhor ideia seria lembrar notícias boas, que não deixassem ninguém preocupado nem nervoso com problemas e deficiências a superar.
A primeira lembrança que me veio à mente não é de economia nem muito recente, mas de dez anos atrás. Em junho de 2002, a seleção brasileira ganhou sua última Copa do Mundo.
Num domingo de manhã, todos acordamos cedo, ligamos a televisão e lavamos a alma de verde-amarelo quando o segundo gol contra a Alemanha, de Ronaldo, garantiu o pentacampeonato. Foi um dia feliz. Esperamos revivê-lo no ano que vem, na Copa do Brasil. O competente Luiz Felipe Scolari vai dirigir a seleção e poderá repetir a proeza.
Lembrei-me disso porque uma boa notícia do ano que acabou foi a inauguração dos dois primeiros estádios brasileiros que serão usados na Copa: o Castelão, em Fortaleza, e o Mineirão, em Belo Horizonte. Nada mal. Essa conclusão, 18 meses antes da Copa, serve para aplacar críticas de quem sempre diz que o país não tem condição de sediar o megaevento de futebol.
Notícia alegre do ano foi também a da menina de sete anos, de Filadélfia, nos EUA, curada de um câncer por meio do uso de vírus HIV deficientes, causadores da Aids. Os médicos programaram geneticamente o vírus, inocularam-no na menina e a doença desapareceu. Um surpreendente resultado, que deixa esperanças sobre a descoberta da cura do câncer, uma das maiores aspirações da humanidade no século 21.
Também nos EUA, o brasileiro Alexandre Lopes foi eleito o melhor entre os 180 mil professores da rede estadual de ensino da Flórida e vai concorrer ao título de melhor professor dos EUA. Quem sabe ele possa nos ensinar e inspirar a melhorar a qualidade de nossas escolas públicas e privadas.
A população mundial ganhou mais de dez anos de esperança de vida. Em 187 países, os homens tinham expectativa de viver 56,4 anos, em média, em 1970. Hoje, são 67,5 anos. No caso das mulheres, o salto foi de 61,2 anos para 73,3 anos. O brasileiro nasce hoje com a esperança de viver 74 anos e 29 dias, três anos e sete meses a mais do que no ano 2000.
Notícia edificante também foi a do morador de rua Rejaniel Jesus dos Santos. Ele e a mulher encontraram um pacote com R$ 20 mil em notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20 e
R$ 10. O embrulho estava embaixo do viaduto, ao lado da cama improvisada em que dormiam. Ligaram para o 190 e entregaram o dinheiro à polícia, que o devolveu ao dono, um comerciante de São Paulo. Brasileiros simples e honestíssimos, foram recompensados.
O Rio de Janeiro deu continuidade ao projeto de pacificação de favelas, cujo principal objetivo é recuperar territórios ocupados há décadas por traficantes de drogas e milicianos. No fim do ano passado, 28 favelas haviam sido devolvidas a seus moradores, pacificadas e com segurança pública. Até 2014, o número deve subir para 44.
Os juros básicos da economia brasileira fecharam o ano abaixo de dois dígitos. A taxa anual está em 7,25%, dois pontos acima da inflação, e não deve subir neste ano inteiro, segundo as previsões do próprio mercado. Um grande estímulo ao investimento produtivo.
O Brasil criou 1,77 milhão de empregos formais de janeiro a novembro do ano que terminou, apesar do fraco crescimento econômico. Nos últimos dez anos, o número de novas vagas atingiu 18,5 milhões. Em novembro, a taxa de desemprego no país era de 4,9%, uma das mais baixas do mundo.
É difícil encontrar notícia melhor do que esta última para a economia e o bem-estar do brasileiro. Então, termino com ela, não sem antes observar que, para cada um de nós, a boa notícia é a saúde e a felicidade de nossas famílias e a possibilidade de viver com dignidade, em paz e segurança. Tudo de muito bom a todos. Feliz 2013!
O abastecimento de gasolina - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 01/01
Com a produção nacional de gasolina e outros derivados de petróleo chegando ao limite máximo, a Petrobrás improvisa soluções para evitar problemas de abastecimento. Por exemplo, foi estabelecido pela Instrução Normativa 282, de 16 de julho, da Secretaria da Receita Federal, um prazo de 50 dias para entrega ao Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) da documentação relativa à importação de petróleo, derivados e gás natural. As empresas, em geral, têm prazo de 20 dias para a apresentação desses documentos. Com isso, criou-se uma defasagem na contabilização pela Secretaria do Comércio Exterior (Secex) da importação de combustíveis. A verdade pode tardar, mas acaba aparecendo. Pelas últimas estatísticas disponíveis, verifica-se que o valor acumulado de janeiro a outubro das compras de gasolina no exterior atingiu US$ 2,328 bilhões, um aumento de 122% em relação ao mesmo período de 2011. E estima-se que o gasto efetivo em 2012 ultrapasse US$ 6 bilhões, embora parte desse total só seja contabilizada em 2013. Agora, com o congestionamento dos portos, a Petrobrás estabeleceu "polos alternativos" para distribuição de gasolina, o que agrava os problemas de logística, principalmente no Norte e no Nordeste, onde o combustível chega por navio.
Segundo projeção do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), o consumo de gasolina no País este ano deve crescer 6,5%, mais de seis vezes a taxa de expansão do PIB, que o mercado estima em 1%. "Não me lembro de um PIB tão pequeno com vendas de combustíveis tão elevadas", comentou Alísio Vaz, presidente da entidade. Entre os fatores para esse descompasso, são mencionados o aumento de renda do consumidor (crescimento previsto de 6% da massa salarial), ampliação muito rápida da frota de veículos em circulação, queda na oferta de etanol hidratado e o congelamento pelo governo dos preços dos combustíveis.
Os responsáveis pela política econômica, como é claro, vêm segurando o reajuste dos combustíveis para não agravar a inflação, que pode fechar 2012 na marca de 5,5%, pelas projeções do mercado. Mas, com o aumento de custos e a aceleração das importações de combustíveis, chegará o dia em que será impraticável manter os preços no patamar atual, sem prejudicar seriamente as receitas e os investimentos da Petrobrás, como a própria presidente da estatal, Graça Foster, tem alertado.
As preocupações com o abastecimento de gasolina crescem nesta época do ano, quando o consumo aumenta. O Sindicom fala em "restrições" ou "estresse" no abastecimento, mas, por enquanto, só houve falta generalizada de combustível no Amapá. A Petrobrás garante que não haverá desabastecimento de gasolina, mas, ainda segundo o Sindicom, a estatal começou, desde setembro, a ampliar o prazo de entrega do combustível às distribuidoras no Norte e no Nordeste. A estatal nega ter alterado prazos nos contratos em vigor.
Comprovando a situação de incerteza existente nessa área, surge uma tendência para aumentar a estocagem de combustíveis, de modo a garantir o abastecimento, pelo menos em algumas regiões. Isso gera naturalmente um aumento de custos, o que leva a negociações para que as distribuidoras assumam parte deles. Nesse caso, o custo adicional acabaria sendo repassado ao consumidor.
Contudo, mesmo essa alternativa pode não se mostrar viável em muitos casos, uma vez que as instalações especiais para armazenagem de combustíveis são limitadas. O presidente do Sindicom se declarou favorável a investimentos em estoques, de modo a dar mais flexibilidade para atendimento ao mercado. Para esse fim, disse ele, as distribuidoras investiram R$ 1 bilhão este ano. Pelos seus cálculos, será possível expandir a capacidade de estocagem de 20% a 50%, se esse ritmo de investimentos for mantido "nos próximos anos".
A questão central é que o Brasil está altamente dependente da importação de gasolina e outros combustíveis e não há previsão de que o quadro se altere antes de 2014.
Boa sorte e juízo! - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 01/01
BRASÍLIA - A nova leva de prefeitos que assume hoje traz uma lufada de otimismo à política brasileira. Inaugura o pós-mensalão e projeta o futuro. Corrupção sempre haverá, mas projeta-se uma fase de mais pudor na gestão pública.
A estrela da festa é Fernando Haddad, que chega à prefeitura mais importante do país por um empurrão decisivo dos 80% de popularidade de Lula, mas tem todos os atributos pessoais e vem adquirindo os políticos para fazer não apenas uma boa gestão em São Paulo, mas também abrir horizontes para o PT. Nova cara, nova esperança.
Há, ainda, promessas em diferentes regiões e de diferentes partidos, como Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba, Geraldo Júlio (PSB) em Recife, Rui Palmeira (PSDB) em Maceió, assim como Clécio Luís (PSOL) na distante Macapá. Apenas exemplos de sangue novo, para revigorar o combalido corpo político brasileiro.
Tudo, porém, está só começando. Haddad passou pelo MEC, Fruet e Palmeira, de famílias políticas, foram deputados, Geraldo Júlio, cria de Miguel Arraes, foi secretário em Pernambuco, e Clécio Luís, professor da rede pública, era vereador. Mas é agora que vão enfrentar o seu grande desafio, uma espécie de BBB político. O futuro de cada um depende de erros e acertos nas prefeituras.
Há histórico de prefeitos que fizeram excelentes carreiras, mas não faltam exemplos dos que naufragaram para todo o sempre. O mais recente é a de Micarla de Sousa em Natal. Jovem, bonita, tida como inteligente, ela disputou e ganhou a prefeitura pelo charmoso PV. Foi um fracasso retumbante e sai do cargo escorraçada pela decepção popular.
Não é, obviamente, o que se deseja aos novos e promissores prefeitos, que emprestam boas caras, currículos respeitáveis e milhões de boas intenções às suas cidades e às expectativas de seus eleitores. Que estejam à altura delas, deles e do futuro.
BRASÍLIA - A nova leva de prefeitos que assume hoje traz uma lufada de otimismo à política brasileira. Inaugura o pós-mensalão e projeta o futuro. Corrupção sempre haverá, mas projeta-se uma fase de mais pudor na gestão pública.
A estrela da festa é Fernando Haddad, que chega à prefeitura mais importante do país por um empurrão decisivo dos 80% de popularidade de Lula, mas tem todos os atributos pessoais e vem adquirindo os políticos para fazer não apenas uma boa gestão em São Paulo, mas também abrir horizontes para o PT. Nova cara, nova esperança.
Há, ainda, promessas em diferentes regiões e de diferentes partidos, como Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba, Geraldo Júlio (PSB) em Recife, Rui Palmeira (PSDB) em Maceió, assim como Clécio Luís (PSOL) na distante Macapá. Apenas exemplos de sangue novo, para revigorar o combalido corpo político brasileiro.
Tudo, porém, está só começando. Haddad passou pelo MEC, Fruet e Palmeira, de famílias políticas, foram deputados, Geraldo Júlio, cria de Miguel Arraes, foi secretário em Pernambuco, e Clécio Luís, professor da rede pública, era vereador. Mas é agora que vão enfrentar o seu grande desafio, uma espécie de BBB político. O futuro de cada um depende de erros e acertos nas prefeituras.
Há histórico de prefeitos que fizeram excelentes carreiras, mas não faltam exemplos dos que naufragaram para todo o sempre. O mais recente é a de Micarla de Sousa em Natal. Jovem, bonita, tida como inteligente, ela disputou e ganhou a prefeitura pelo charmoso PV. Foi um fracasso retumbante e sai do cargo escorraçada pela decepção popular.
Não é, obviamente, o que se deseja aos novos e promissores prefeitos, que emprestam boas caras, currículos respeitáveis e milhões de boas intenções às suas cidades e às expectativas de seus eleitores. Que estejam à altura delas, deles e do futuro.
Entre os votos de feliz 2013 e a realidade - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 01/01/13
Missão estratégica de Ano Novo para o governo deve ser uma autocrítica para entender por que não consegue levar o empresariado a investir
Em um balanço de fim de ano, o ministro da Secretaria Geral da presidência, Gilberto Carvalho, ponte entre o PT lulista e a presidente Dilma, confessou que o governo ficou “perplexo” com o baixo crescimento da economia em 2012. Na entrevista, concedida ao programa “É Notícia”, da Rede TV, Gilberto Carvalho disse, ainda, na tentativa de contrabalançar a frustração com o resultado ruim da política econômica no ano passado, que talvez a metodologia de cálculo do PIB seguida pelo IBGE não tenha captado todos os movimentos da produção. E que, por isso, o assunto estará em pauta no governo, para se saber se a anêmica evolução do país em 2012 foi mesmo “real”.
Duas impropriedades nas percepções ministeriais. Uma delas, a que, diante da febre alta, passa-se a culpar o termômetro, conhecido cacoete de governantes diante de más notícias. A suspeita sobre os métodos de aferição do “pibinho” calculado pelo IBGE, nascida no Ministério da Fazenda, pode até fazer sentido técnico — só saberemos disso nas revisões periódicas que o IBGE faz de seus indicadores —, mas causa temores de que se possa pensar em seguir o desastroso caminho argentino de intervir politicamente na aferição de índices. Numa visão otimista, estimulada pelo clima de Ano Novo, estamos a léguas de distância deste desastre — devido à sensatez do Planalto e ao merecido respeito técnico ao IBGE. Esperamos.
Outra impropriedade é a perplexidade revelada pelo ministro. Ora, ela não faz sentido, pois há meses analistas alertam que a política de incentivo ao consumo havia se esgotado. Os cortes de IPI para vários bens (veículos, linha branca) já tinham antecipado o consumo ao limite, e o endividamento das famílias atingira o teto. A hora era, portanto, mais do que nunca, de estímulo ao investimento. E continua a ser.
Não que o governo rejeite estimular os investimentos na ampliação da capacidade produtiva e numa depauperada infraestrutura. Ele dá sinais é de não saber como fazê-lo. O importante dever de casa do corte dos juros está feito ou quase. Mas não basta. Se bastasse, os Estados Unidos, há tempos com os juros básicos quase zero, já ostentariam grande vitalidade econômica.
Este ano, o governo precisa, mais uma vez, aprender fazendo. Projeta-se um crescimento de 3%, nada mal diante do cerca de 1% de 2012. Mas, até por efeito estatístico — a base de comparação é baixa —, não deve ser difícil chegar a este nível.
A questão é como elevar a poupança (19% do PIB) e, por tabela, a ínfima taxa de investimento (18,7%). O Planalto não tem despertado o “espírito animal”, termo de Keynes, do empresariado, para levá-lo a assumir riscos. Este aconselhável exercício oficial de autocrítica deveria passar, no mínimo, pelas ações estabanadas de intervenção em mercados e nos maus agouros que trazem o fato de, mesmo com um “pibinho”, a inflação se aproximar dos 6%, um ponto e meio acima do centro da meta. Esta mistura sempre foi indigesta.
Missão estratégica de Ano Novo para o governo deve ser uma autocrítica para entender por que não consegue levar o empresariado a investir
Em um balanço de fim de ano, o ministro da Secretaria Geral da presidência, Gilberto Carvalho, ponte entre o PT lulista e a presidente Dilma, confessou que o governo ficou “perplexo” com o baixo crescimento da economia em 2012. Na entrevista, concedida ao programa “É Notícia”, da Rede TV, Gilberto Carvalho disse, ainda, na tentativa de contrabalançar a frustração com o resultado ruim da política econômica no ano passado, que talvez a metodologia de cálculo do PIB seguida pelo IBGE não tenha captado todos os movimentos da produção. E que, por isso, o assunto estará em pauta no governo, para se saber se a anêmica evolução do país em 2012 foi mesmo “real”.
Duas impropriedades nas percepções ministeriais. Uma delas, a que, diante da febre alta, passa-se a culpar o termômetro, conhecido cacoete de governantes diante de más notícias. A suspeita sobre os métodos de aferição do “pibinho” calculado pelo IBGE, nascida no Ministério da Fazenda, pode até fazer sentido técnico — só saberemos disso nas revisões periódicas que o IBGE faz de seus indicadores —, mas causa temores de que se possa pensar em seguir o desastroso caminho argentino de intervir politicamente na aferição de índices. Numa visão otimista, estimulada pelo clima de Ano Novo, estamos a léguas de distância deste desastre — devido à sensatez do Planalto e ao merecido respeito técnico ao IBGE. Esperamos.
Outra impropriedade é a perplexidade revelada pelo ministro. Ora, ela não faz sentido, pois há meses analistas alertam que a política de incentivo ao consumo havia se esgotado. Os cortes de IPI para vários bens (veículos, linha branca) já tinham antecipado o consumo ao limite, e o endividamento das famílias atingira o teto. A hora era, portanto, mais do que nunca, de estímulo ao investimento. E continua a ser.
Não que o governo rejeite estimular os investimentos na ampliação da capacidade produtiva e numa depauperada infraestrutura. Ele dá sinais é de não saber como fazê-lo. O importante dever de casa do corte dos juros está feito ou quase. Mas não basta. Se bastasse, os Estados Unidos, há tempos com os juros básicos quase zero, já ostentariam grande vitalidade econômica.
Este ano, o governo precisa, mais uma vez, aprender fazendo. Projeta-se um crescimento de 3%, nada mal diante do cerca de 1% de 2012. Mas, até por efeito estatístico — a base de comparação é baixa —, não deve ser difícil chegar a este nível.
A questão é como elevar a poupança (19% do PIB) e, por tabela, a ínfima taxa de investimento (18,7%). O Planalto não tem despertado o “espírito animal”, termo de Keynes, do empresariado, para levá-lo a assumir riscos. Este aconselhável exercício oficial de autocrítica deveria passar, no mínimo, pelas ações estabanadas de intervenção em mercados e nos maus agouros que trazem o fato de, mesmo com um “pibinho”, a inflação se aproximar dos 6%, um ponto e meio acima do centro da meta. Esta mistura sempre foi indigesta.
A regra é complicar - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 01/01
Decisão de adiar para 2016 o acordo ortográfico, que na prática já vale no Brasil, abre brecha para uma inoportuna rediscussão das mudanças
Ficou célebre a frase do poeta Ferreira Gullar: "A crase não foi feita para humilhar ninguém". Com mais razão seria possível acrescentar que ninguém estará ameaçado de cadeia ou multa se desobedecer às regras do novo acordo ortográfico, adotado no Brasil a partir de 2009.
Chega a ser notável, aliás, a diligência com que tantos brasileiros trataram de se adaptar às modificações impostas. Manuais explicativos, dicionários atualizados, edições refeitas de antigos livros se produziram em quantidade e -no que sem dúvida consistiu em forte motivo para todo o desassossego- se venderam com rapidez.
Eis que a presidente Dilma Rousseff aceitou adiar, para janeiro de 2016, a plena vigência desse acordo, que muitos acreditavam, ingenuamente, já imperante no papel e na tinta.
A origem do problema -como não poderia deixar de ser em questões de correção vernacular- está em Portugal. Lá se previu um período mais longo de transição para as novas normas, o que é justo, pois é maior o impacto das mudanças na grafia lusitana.
Enquanto isso, o Brasil se complica. O tempo a transcorrer até que se adotem, formalmente, as regras que já se adotaram no cotidiano serve para inspirar o Senado a rediscutir o tema.
Reforme-se a reforma, mude-se a mudança: é o que propõem, por exemplo, o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) e a senadora Ana Amélia (PP-RS). Argumentam, ao lado dos inevitáveis gramáticos dissidentes, que muita coisa não faz sentido ou é complicada demais no acordo ortográfico.
Sem dúvida, há aspectos irritantes e enigmáticos no novo sistema. Nenhum tão nocivo, talvez, quanto a abolição do acento diferencial que tornou a preposição "para" indistinguível do verbo "parar" na terceira pessoa do singular.
Paciência. Abrir de novo a discussão -verdadeira caixa de Pandora das preocupações puristas e das ociosidades diplomáticas- traria mais uma rodada de reedições de livros, em especial os destinados ao público escolar.
Excetuada essa área de interesse, que mobiliza recursos de vulto nas compras governamentais, qualquer alteração no que já se decidiu traria apenas mais descrédito. Quem sabe seja esse o objetivo inconsciente de todo o quiproquó.
O acordo ortográfico, surpreendentemente, fugiu à regra das famosas "leis que não pegam" no Brasil. Não que todos conheçam suas imposições, mas houve empenho em saber que existiam. Mais uma reforma, entretanto, e ninguém saberá escrever mais nada.
Decisão de adiar para 2016 o acordo ortográfico, que na prática já vale no Brasil, abre brecha para uma inoportuna rediscussão das mudanças
Ficou célebre a frase do poeta Ferreira Gullar: "A crase não foi feita para humilhar ninguém". Com mais razão seria possível acrescentar que ninguém estará ameaçado de cadeia ou multa se desobedecer às regras do novo acordo ortográfico, adotado no Brasil a partir de 2009.
Chega a ser notável, aliás, a diligência com que tantos brasileiros trataram de se adaptar às modificações impostas. Manuais explicativos, dicionários atualizados, edições refeitas de antigos livros se produziram em quantidade e -no que sem dúvida consistiu em forte motivo para todo o desassossego- se venderam com rapidez.
Eis que a presidente Dilma Rousseff aceitou adiar, para janeiro de 2016, a plena vigência desse acordo, que muitos acreditavam, ingenuamente, já imperante no papel e na tinta.
A origem do problema -como não poderia deixar de ser em questões de correção vernacular- está em Portugal. Lá se previu um período mais longo de transição para as novas normas, o que é justo, pois é maior o impacto das mudanças na grafia lusitana.
Enquanto isso, o Brasil se complica. O tempo a transcorrer até que se adotem, formalmente, as regras que já se adotaram no cotidiano serve para inspirar o Senado a rediscutir o tema.
Reforme-se a reforma, mude-se a mudança: é o que propõem, por exemplo, o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) e a senadora Ana Amélia (PP-RS). Argumentam, ao lado dos inevitáveis gramáticos dissidentes, que muita coisa não faz sentido ou é complicada demais no acordo ortográfico.
Sem dúvida, há aspectos irritantes e enigmáticos no novo sistema. Nenhum tão nocivo, talvez, quanto a abolição do acento diferencial que tornou a preposição "para" indistinguível do verbo "parar" na terceira pessoa do singular.
Paciência. Abrir de novo a discussão -verdadeira caixa de Pandora das preocupações puristas e das ociosidades diplomáticas- traria mais uma rodada de reedições de livros, em especial os destinados ao público escolar.
Excetuada essa área de interesse, que mobiliza recursos de vulto nas compras governamentais, qualquer alteração no que já se decidiu traria apenas mais descrédito. Quem sabe seja esse o objetivo inconsciente de todo o quiproquó.
O acordo ortográfico, surpreendentemente, fugiu à regra das famosas "leis que não pegam" no Brasil. Não que todos conheçam suas imposições, mas houve empenho em saber que existiam. Mais uma reforma, entretanto, e ninguém saberá escrever mais nada.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
Dilma inicia o ano nomeando 3 ministros no STJ
A presidenta Dilma vai começar o terceiro ano de governo com quatro vagas para preencher no cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça, a segunda maior corte do País, composto por 33 ministros. Ela hoje tem à disposição as vagas abertas com a aposentadoria dos ministros Hamilton Carvalhido, Cesar Asfor Rocha e Massami Uyeda, e a renúncia de Teori Zavascki, atualmente no Supremo Tribunal Federal.
Antecipação
Dois outros ministros do STJ podem antecipar a aposentadoria: o atual vice-presidente do STJ, Gilson Dipp e do ex-presidente Ari Pargendler.
Saúde e vontade
O ministro Gilson Dipp continua hospitalizado em São Paulo e Ari Pargendler tem admitido a colegas pendurar a toga em 2013.
Roriz quer voltar
Ainda popular no DF, Joaquim Roriz consultará a Justiça Eleitoral para saber se pode disputar a sucessão de Agnelo Queiroz (PT), em 2014.
Eleições 2014
O deputado André Vargas (PT-PR) diz ter “coragem” para enfrentar o senador Alvaro Dias (PSDB) na disputa pelo governo Paraná, em 2014.
Economia seguirá difícil em 2013, adverte a ONU
A ONU divulgou relatório com um quadro sombrio do comportamento da economia mundial em 2013. Três são as grandes ameaças: o abismo fiscal americano, a crise da Europa e a desaceleração da economia chinesa. O desarranjo global pode aprofundar a recessão, adverte a ONU. Para seu diretor do departamento de pesquisa e análise econômica, Robert Vos, são reduzidos os espaços do otimismo.
Crescimento baixo
A ONU se viu obrigada a rever as estimativas de crescimento para 2013: a projeção inicial de 3,1% foi reduzida para 2,2%.
Fantasia
No Brasil o ministro Guido Mantega (Fazenda) acha que o crescimento em 2013 será duas vezes mais acelerado do que o resto do mundo.
Ouvidos moucos
Diante dos péssimos resultados de 2011 e 2012, e das estimativas fajutas, ninguém no mercado dá a menor bola ao ministro Mantega.
Precavidos
País rico é assim: além dos salários e cabides diversos, o respeitável contribuinte pagará R$ 45 mil à Infraero pelo uso da sala VIP dos senadores e deputados no aeroporto de Brasília, em 2013.
Muro das lamentações
O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, não despacha com a presidenta Dilma há pelo menos um mês, desde que estourou o escândalo com o adjunto, José Weber Holanda. Adams está deprimido.
Preocupação
A prefeita reeleita de Campos dos Goytacazes (RJ), Rosinha Garotinho (PR), diz que começa o ano “cheia de ideias”, mas com medo de que a nova divisão dos royalties do petróleo impeça a execução.
No alambrado
Fundador histórico do PDT, o jornalista Osvaldo Maneschi vai ganhar R$ 36 mil do governo federal para escrever a biografia “sintetizada” do ex-governador e líder Leonel Brizola, que desconfiava de Lula.
Vida de craque
Após aparecer entre os deputados mais atuantes em um ranking da revista Veja, o deputado Romário (PSB-RJ) promete tentar se superar em 2013. “É sempre uma honra ser reconhecido pelo meu trabalho”.
Parece, mas...
O comércio começou as promoções de Natal para compensar quedas nas vendas e o valor médio dos presentes também foi menor. Parece notícia do Brasil, mas é dos jornais de Portugal. Esses portugueses...
O céu é o limite
Constatação da consultoria contratada pela estatal Infraero no Plano de Carreira: concursados entram com R$ 1,3 mil, superintendentes ganham R$ 17 mil; salários de diretores e presidente furam as nuvens.
Oxigenação
A deputada distrital e ex-vice-governadora do DF Arlete Sampaio (PT) caminha todas as manhãs pelas quadras da Asa Norte, em Brasília, para “esquecer os problemas e oxigenar o cérebro”.
Pergunta no Planalto
Quando o governo vai baixar o IPI de leques, velas, lampiões e lamparinas para enfrentar os apagões de verão?
Poder sem pudor
Tiquinho de presidente
Ao saber que um certo marechal Castelo Branco fora indicado presidente, após o golpe de 1964, o deputado Padre Godinho descobriu seu endereço (rua Nascimento e Silva, Ipanema, Rio) e foi lá apresentar cumprimentos. Ficou na portaria, com um amigo, até aparecerem algumas pessoas.
- Cadê o homem, o Castelo?
- Sou eu.
Padre Godinho se apresentou e foi embora. E cutucou o amigo, referindo-se ao baixinho que virou presidente:
- Só isso?
TERÇA NOS JORNAIS
- Globo: Rio na era de ouro
- Folha de SP: Brasileiro mantém confiança apesar de crescimento pífio
- O Estado de S. Paulo: Haddad diz que só falará com líderes, mas Câmara duvida
- Correio Braziliense: 13 razões para celebrar 2013
- Jornal do Commercio: ProUni exigirá nota no Enem de 450 pontos