terça-feira, dezembro 17, 2013

Prisões suecas - CRISTOVÃO TEZZA

GAZETA DO POVO - PR - 17/12

Li recentemente que a Suécia fechou quatro presídios, por falta de presos. É a tal coisa: falta de planejamento. Fizeram um monte de cadeias, na pressa de resolver o momento presente, e não pensaram no futuro. Agora estão lá, gastando manutenção com prisão vazia. Ficam imaginando o que devem fazer com as penitenciárias inúteis – talvez transformá-las em centros culturais, museus, ou transferir para alguma repartição pública necessitada de espaço.

Como livre pensar é só pensar – dizia Millôr –, matutei se não seria uma boa ideia o Brasil arrendar as cadeias suecas. À primeira vista, parece uma solução maravilhosa para nós e para eles. O Brasil resolveria imediatamente a desgraça da superlotação carcerária, esse filme de horror que passa todos os dias e noites nas prisões, complexos penitenciários e delegacias brasileiras. Seria um alívio para todo mundo, e a polícia, em vez de cuidar de preso miúdo, poderia, enfim, se dedicar a resolver a pilha interminável de homicídios sem solução. E, para a Suécia, a importação de presos brasileiros – de maneira oficial, organizada, e não apenas com os fujões esporádicos, de colarinho branco, que aparecem na Europa – daria um destino digno aos prédios ociosos, ajudando a resolver os problemas penais do Terceiro Mundo, num exemplo de solidariedade global.

Não é só isso. Que preso vai reclamar de uma cadeia sueca? Eu já vi muito filme policial nórdico – sempre que aparece um preso, e lá provavelmente há mais presos nos filmes que na vida real, dá para perceber que a coisa é fina, celas com bom acabamento, refeições balanceadas, corredores impecáveis. Além disso, o banho de sol, nos cinco meses em que há sol na Suécia, é respeitado. Isso para ninguém reclamar – já que o Brasil só consegue tratar seus presos pobres como gado, exportá-los para a Suécia seria uma solução digna. Tortura em cadeia, na Escandinávia, nem pensar, o que acalmaria as comissões de direitos humanos.

Será que haveria uma reação nacionalista no Congresso? Tipo “A Prisãobrás é nossa!” Acho que não. A maior alegria de brasileiro, mesmo entre os que vivem soltos, é conseguir um passaporte estrangeiro e uma dupla nacionalidade. “Arre, consegui!”, dizem todos, mostrando o livrinho. E os presos já poderiam viajar integrados num programa de assimilação cultural – os europeus são muito sensíveis nessa área.

Para tranquilidade de todos, as prisões suecas já são naturalmente de segurança máxima. É difícil imaginar o pessoal cavando túnel e reaparecendo lá no Ártico como se fosse um quintal de borracharia. A comunicação clandestina com o exterior também não seria tão simples – até pelo preço dos interurbanos para o Brasil. E, depois, ninguém precisa saber de nada. “Fulano foi fazer um curso na Suécia”, diriam os parentes, com um toque de orgulho.

Não sei se daria certo. É só uma ideia.

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