sexta-feira, dezembro 27, 2013

2013, o ano que ainda não terminou - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 27/12

O principal evento neste ano velho estendido é a mudança de alguns princípios do governo Dilma


Alguns anos chegam a seu final dando ao analista o sentimento de que não vão terminar no dia 31 de dezembro.

Fica a impressão de que os principais acontecimentos que estamos vivendo --no mundo e no Brasil-- ainda não chegaram a seu clímax e que será preciso mais algum tempo para passarem definitivamente a compor nossa história. Por isso, os méritos acumulados por longos dias não podem ser passados a um ano novo que ninguém ainda conhece só por uma imposição burocrática.

É o que sinto quando escrevo ao leitor da Folha sobre o que de mais importante aconteceu na economia mundial em 2013. Por exemplo, ninguém vai tirar de 2013 o mérito de ter sido o momento em que a grave crise financeira, gerada no ventre de Wall Street em 2007 e em 2008, terminou e a maior economia do mundo retomou o caminho do crescimento econômico, que é a sua vocação natural.

Muitos analistas ainda duvidam dessa retomada, embora nos últimos meses os dados econômicos nos EUA tenham tornado a tarefa dos pessimistas muito mais difícil.

Cultivar o fracasso do capitalismo americano como um destino inevitável desapareceu da imprensa mundial. Mas não tenho dúvida de que 2013 será um marco na história e, desta vez, não teremos a Segunda Guerra Mundial para tornar menos clara a vitória do pensamento keynesiano no combate a uma depressão econômica em formação.

Nesse sentido, o presidente do Fed (Federal Reserve), Ben Bernanke, sai de cena como o grande herói destes tempos difíceis e sofridos.

No Brasil também tenho a impressão de que 2013 não terminará no dia 31 e que viveremos os primeiros meses do ano novo como se no velho estivéssemos ainda.

O principal evento neste ano velho estendido é a mudança em curso de alguns princípios importantes da política econômica do governo Dilma. Os dois exemplos recentes mais marcantes dessas mudanças são a construção de uma pauta mais ambiciosa para as concessões de estradas e o aumento do IPI dos automóveis na virada do ano.

Eles representam as duas faces de uma mesma moeda: de um lado, o reconhecimento de que não será pelos estímulos fiscais --e de crédito também-- ao consumo que o governo vai acelerar o crescimento econômico; do outro, o reconhecimento tardio de que o governo tem que restabelecer uma política de boas relações com os mercados, seja ele nacional ou estrangeiro, para que o investimento possa ser a grande força, nos próximos anos, a puxar o PIB.

Refazer uma parceria que funcionou de forma eficiente durante os anos Lula, depois de mais de dois anos em que o sentimento do governo em relação ao setor privado foi no máximo de tolerância, não é uma tarefa difícil.

O que as lideranças privadas apresentam como uma agenda mínima, para ancorar com mais segurança e confiança o futuro, é muito simples de ser acordado pelo governo, pois são poucas as questões mais importantes. Não será preciso arrochar salários e disponibilidade de crédito como muitos temem, mas apenas reconhecer que precisamos de um freio de arrumação nos gastos fiscais e estímulos ao consumo.

Algumas dessas medidas já estão presentes no dia a dia do gover- no. A mudança na direção da política monetária do Banco Central --claramente expressa no último relatório de inflação do ano-- e os termos dos editais dos últimos leilões de rodovia são provas disso.

Mas ainda falta um ingrediente importante para cimentar uma posição mais construtiva do setor privado em relação ao futuro: é a confiança em uma política fiscal mais austera e previsível. A volta do IPI do setor automobilístico, dada a importância dele no valor agregado da indústria brasileira, é um bom sinal.

Mas, em razão do vaivém da política fiscal neste ano, com a utilização de instrumentos legítimos e ilegítimos para financiar os gastos do governo, a volta da confiança vai exigir bem mais do que isso.

Alguns poucos analistas já identificaram essa nova atitude do governo nas últimas decisões tomadas ainda em 2013. Mas os mercados vão esperar os primeiros meses de 2014 para mudar ou não a avaliação que têm do governo Dilma e aí, sim, poderemos ter um ano novo verdadeiramente novo começando.

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