FOLHA DE SP - 08/11
SÃO PAULO - O "stop and frisk" (parar e revistar) foi um dos destaques da eleição para prefeito de Nova York. A discussão é boa mesmo.
Baseada na filosofia da tolerância zero, a polícia de Nova York mantém um programa agressivo de "stop and frisk". Entre 2004 e 2012, abordou 4,4 milhões de pessoas nas ruas, revistando-as em busca de armas e drogas. O problema é que 80% dos suspeitos eram negros e latinos, o que levou associações de direitos civis a contestar a prática na Justiça.
Seus defensores afirmam que ela é fundamental para reduzir o crime. Trata-se de um argumento consequencialista: ainda que inocentes arbitrariamente parados sofram uma injustiça, isso seria plenamente compensado pelo benefício geral.
Pode ser. O ponto fraco aqui é que não existem estudos de qualidade a demonstrar o nexo entre as revistas e a diminuição da delinquência.
Já seu detratores dizem que a política é francamente racista e fomenta a desconfiança entre policiais e a população dos bairros pobres, o que é contraproducente no médio prazo.
Faz sentido, mas me pergunto se um programa dessa natureza poderia não envolver estereótipos. Pulemos da polícia de Nova York para o agente antidrogas no aeroporto. Se ele quer fazer uma apreensão de maconha, deve revistar o hippie cabeludo ou a senhora de meia idade com tailleur? Se ele optar pela mulher, amplia a probabilidade de estar desperdiçando dinheiro público.
Como resolver a celeuma? O problema está na matemática das revistas. Mesmo que funcionem, geram um número muito alto de falsos positivos, isto é, os 90% de abordados com as quais não se encontram armas ou drogas, mas que são submetidos a constrangimento. É um dano concreto. Já o bônus é só uma possibilidade teórica. Se a polícia quer continuar com o "stop and frisk", deveria mostrar, com um experimento prospectivo e bem controlado, que ele produz os resultados alegados.
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