Sem máscara - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 05/09

De diferentes formas, alguns governantes começam a partir para ações firmes com o objetivo de evitar que manifestações pacíficas, em favor de mudanças para fazer o país avançar, se transformem frequentemente em depredações, provocando prejuízos aos setores público e privado e ameaçando a integridade física da população. Pernambuco saiu na frente, ao determinar, por meio de sua Secretaria de Segurança, que só serão permitidos protestos nos quais os manifestantes participem sem máscara. Agora chegou a vez do Rio de Janeiro, com a decisão do governador Sérgio Cabral de mobilizar com sucesso seus aliados para aprovar projeto de lei na Assembleia proibindo que pessoas cubram o rosto em manifestações.
Trata-se de questão polêmica, uma vez que não existe lei impedindo o uso de máscaras, e o ato, por si só, não pode ser criminalizado. A capital mundial do Carnaval terá dificuldade em abolir das ruas esse acessório ou de estabelecer uma fronteira nítida entre o protesto e outras formas de expressão da personalidade e do pensamento. Recentemente, o parlamento francês causou polêmica mundial ao proibir o uso do véu feminino muçulmano em público, com base em argumentos que iam da segurança à proteção dos direitos individuais, e que por sua vez foi criticada como simples manifestação de islamofobia. Mesmo no Brasil, restrições adotadas por alguns municípios e estabelecimentos ao uso de capacete por clientes, motivadas por roubos em que os assaltantes escondiam o rosto com esse acessório, têm sido questionadas em distintos fóruns.
Ainda assim, é positivo que governadores se empenhem em buscar alternativas constitucionais que possam garantir a liberdade de todos se manifestarem dentro da lei sem precisarem recorrer ao anonimato. O país vive hoje uma democracia justamente porque muitos brasileiros foram às ruas lutar por ela, sem medo de se expor e sem impor tantos danos materiais, cuja conta acaba ficando com o conjunto da sociedade.