terça-feira, abril 23, 2013

Estilo vereadora - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 23/04
Ao ampliar a entrega de ônibus escolares, retroescavadeiras e outros equipamentos aos municípios, Dilma faz uma linha direta com os prefeitos, dispensando os intermediários, no caso, deputados, senadores, governadores e até ministros
Vale observar com uma lupa o périplo da presidente Dilma Rousseff pelos estados e municípios nos últimos tempos. Especialmente, quando conversa diretamente com os prefeitos. Para quem adora um protocolo - logo que chegou ao governo, ela distribuía broncas a ministros que saíam do script -, Dilma parece ter mudado bastante. Age como se quisesse fazer uma ponte direta com os municípios, dispensando intermediários, no caso, deputados, senadores e governadores.

Recentemente, num evento no Nordeste, um prefeito foi designado para receber retroescavadeiras em nome de todos os chefes das administrações municipais contemplados naquela leva. Eram quase 50. Ela, na hora da entrega dos equipamentos, mandou que todos subissem ao palanque. Brincou com todos eles, simpaticíssima. Quem acompanhou o evento, saiu com uma imagem que em nada combina com aquela da Dilma irascível, distribuidora de broncas que beiram o insulto pessoal - alguns interlocutores juram que ela já ultrapassou essa barreira algumas vezes.

Essas atitudes diretas de Dilma com os prefeitos têm sido observadas e registradas por todos. Setores da oposição consideram que isso mostra a insegurança da presidente com sua performance em 2014. Daí a necessidade de realizar essa linha direta com os municípios. Mas, dentro do governo, a visão é outra. Ao se comunicar diretamente com os prefeitos, Dilma age como Lula fazia nos tempos pós-mensalão: ia direto ao povo, de forma a não ficar tão refém dos partidos na hora de concorrer à reeleição.

No caso do ex-presidente, a estratégia deu certo. Até porque, ele não reuniu dissidentes da própria base. Até Marina Silva ainda estava no PT em 2006, quando Lula foi reeleito - ela era ministra do Meio Ambiente. O confronto direto entre Marina e a então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, se arrastaria de dezembro daquele ano até 2008. Naquele mês, Marina deixou o governo.

Dilma, além de Marina, tem no governador de Pernambuco, Eduardo Campos, outro aliado que começa a alçar voo próprio. Ou seja, a presidente não irá para a reeleição com as facilidades políticas que Lula manteve quando se recandidatou. Para completar, a imagem de durona que a acompanha no meio político ajuda a afastar os deputados e senadores.

Diante dessa perspectiva de divisão mais ampla no campo político - e das fragilidades da economia -, Dilma surge como uma vereadora nacional. Entrega retroescavadeiras, trechos de estradas, postos de saúde, kits de combate à seca, casas populares, ônibus escolares e ambulâncias A ordem é deixar cada obra que sai do governo federal marcadas com o seu perfume, de forma a não deixar dúvidas sobre quem foi responsável por aquele benefício. Pode ser apenas um detalhe, mas nunca é demais lembrar que detalhes muitas vezes fazem a diferença. Como diz o rei Roberto Carlos, detalhes tão pequenos são coisas muito grandes para se esquecer. E o que Dilma deseja é ser lembrada. Em outubro de 2014.

Enquanto isso, no STF.
Vem aí a boa polêmica levantada pelo Ministro Marco Aurélio Mello sobre o fato de dois de seus colegas, Celso de Mello e Luiz Fux, terem pedido para suprimir do acórdão do mensalão parte das sustentações orais que fizeram ao longo do julgamento. Pode parecer um detalhe, mas nos detalhes se constroem teses.

E no ninho tucano.
O ex-governador, ex-prefeito, ex-deputado, ex-senador e ex-ministro da Saúde e do Planejamento José Serra é personagem mantido sob observação dia e noite. Qualquer gesto que faça daqui em diante dará margens às mais diversas interpretações. Mas essa é outra história.

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