segunda-feira, março 11, 2013

Muito protagonismo com quase nenhum resultado - MARCO ANTÔNIO ROCHA

O ESTADO DE S. PAULO - 11/03

A presidente Dilma dizia recentemente que a hora de "fazer o diabo"é a hora das eleições. Subentende-se, para ganhar as eleições. Mas, no governo, não é para se fazer o diabo. E hora de apenas governar. E isso, acrescentou, exige prudência.

No que deu para entender, o raciocínio parece virtuoso. De fato, quando chega o momento da disputa eleitoral o governante teria, digamos, até o direito de aprontar loucuras em nome da vitória nas urnas. Mas não pode governar fazendo loucuras, pois o que o público mais quer do governante é sensatez, prudência.

O problema é que a conjuntura amai parece estar levando o governo a ter de "fazer o diabo" - seja isso o que for - para arrancar a economia do marasmo e para manter quase todo mundo feliz como vinha acontecendo. Só que essas coisas são um tanto quanto conflitantes. Por exemplo, arrancar a economia do marasmo exige investimentos, que são fruto de poupança - é preciso poupar para investir. E é preciso juro baixo. Mas juro baixo também estimula o consumo em detrimento da poupança. E cria o risco de gastos perdulários. Na verdade, é o que temos nos últimos anos, por influência e pressão do governo: muita gastança e poucos poupança e investimento. O resultado é essa dose de aumento do PIB, uma das menores da história econômica do Brasil.

Por alguma razão que está deixando perplexos os técnicos do governo, o tal do "espírito animal" do empresariado não mostra muita vontade de sair da toca e partir em busca dos "polpudos lucros" de que frequentemente são acusados por agentes e autoridades do próprio governo.

O ministro Cuido Mantega se reuniu, na semana passada, com representantes das principais entidades empregadoras para tentar saber, na prática, o que é que pode ser feito para anabolizar a natural vontade de investir do empresário e prometeu uma nova rodada de benefícios fiscais. Deve ter ouvido palavras de conforto e de esperança.

Mas, no mesmo dia da reunião, o governo decretou um aumento de 5% no diesel. E a notícia, mais ou menos inesperada, veio com duas faces: ainda um pouco o problema de caixa que a Petrobrás enfrenta há tempos por causa da incúria deste governo e do antecessor no que se refere aos preços dos combustíveis; mas alimenta mais um pouco a perspectiva de aumento da inflação, por causa da repercussão nos preços de tudo praticamente, uma vez que este é um país movido quase de inteiramente por frete rodoviário.

Por outro lado, ao acenar com novas desonerações fiscais em futuro próximo, principalmente nos produtos da cesta básica, o governo autoriza os agentes econômicos a se perguntarem, um tanto perplexos, como isso pode ser feito numa fase em que a arrecadação fiscal anda caindo. Ora, não seria impossível, caso o governo se dispusesse a cortar de fato alguns gastos correntes. Mas isso, como já aprendêramos brasileiros, em muitos governos, é sonho de uma noite de verão. O mais certo é que a desoneração da cesta básica implique onerar outros produtos, de outros setores.

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada manteve a taxa básica de juros no nível de 7,5% ao ano, como se previa, mas acenou com a hipótese de ela ser aumentada quando o Banco Central (BC) considerar- necessário.

Tem gente dizendo que isso seria até necessário, não tanto como forma de deter o assalto da inflação que se avizinha, mas para que o BC demonstre que recuperou sua autoridade e independência diante da voluntariosa chefe do governo, que bateu na mesa para que os juros baixassem.

Ora, entre os vários fatores que tolhem os investimentos no Brasil, não podem ser descartadas as incertezas sobre como o governo age e a queda de credibilidade da administração da economia.

Lembremos que, no seu período, Lula aderiu à ortodoxia de Henrique Meirelles em política monetária, que presidiu o BC do primeiro ao último dia dos oito anos Lula, sob pesada artilharia do PT, que o acusava de "neoliberal". E Lula não deixou que Mantega atrapalhasse o BC e o Copom e se sobrepusesse a Meirelles, no seu segundo período. Isso assegurou ao público e aos investidores que as políticas, monetária e macroeconômica, seriam conduzidas by the book. Não foi apenas por sorte que Lula terminou seu mandato com o PIB crescendo 7,5%, os investimentos aumentando e a inflação sob controle. A ortodoxia de Meirelles, e a herança de Pedro Malan, tiveram papel nada desprezível.

Já Dilma talvez tenha achado que precisava de um pouco da heterodoxia experimental de Mantega para os projetos de eliminação da miséria que tinha em mente, pois o manual da economia não aponta muitos caminhos nessa direção. Acabou ficando sem uma boa política de eliminação da miséria e sem uma boa política de avanço do capitalismo privado, pois seu ministro e seu presidente do BC são incapazes de projetai" e implementar essa ponte.

As políticas monetária e macroeconômica neste governo se tornaram políticas de "canetadas" ao sabor dos ventos. Não há um plano, um projeto minimamente definido, ortodoxo, heterodoxo ou misto. O que há é mixórdia, como diziam nossos avós, com iniciativas semanais que alimentam o noticiário, mas nem são de fato implementadas. Muito protagonismo e quase nenhum resultado.


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