segunda-feira, fevereiro 25, 2013

O custo Brasil começa nos atoleiros - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 25/02

Não serão necessárias filas de caminhões nas rodovias próximas aos portos ou congestionamentos de navios à espera de carregamento para que o agronegócio sofra com os gargalos logísticos

As discussões sobre logística, os embates a respeito dos portos e as divergências sobre novas ferrovias mostram que o Brasil está se preocupando mais com os gargalos que elevam os custos do escoamento da produção agrícola. Porém, a colheita da soja e do milho de verão mal entrou em sua fase mais intensa e o país já se depara com problemas primários, como atoleiros em importantes estados produtores: Mato Grosso, Paraná, Goiás e Minas Gerais. O agravamento desse problema nas próximas semanas será um fator de risco para a economia brasileira, que há 12 anos depende das exportações do setor para registrar superávits na balança comercial.

Aparentemente, caminhões atolados dão prejuízo apenas para as empresas transportadoras e para os donos das cargas. E a conservação das estradas rurais, por sua vez, é responsabilidade das prefeituras. Mas a extensão desse drama vai além da esfera local. A ampliação dos custos e a demora no transporte tiram competitividade do Brasil nas exportações. A multa cobrada quando um navio demora para ser carregado acaba sendo repassada a produtores – na redução do preço da soja – e consumidores, quando a logística eleva o custo dos alimentos.

Dessa forma, a gravidade das filas de caminhões que se formam em estradas rurais após dois ou três dias de chuva está na elevação do custo Brasil. E o caso é apenas simbólico. Além dos atoleiros, faltam redes de energia elétrica e comunicação nas regiões de expansão das lavouras, reparos nas rotas de asfalto mais utilizadas, e estrutura para estacionamento de caminhões e descanso de caminhoneiros que percorrem trechos de mais de 2 mil quilômetros. Até chegar aos projetos de ampliação das ferrovias e de reestruturação dos portos, essa lista vai longe.

Não serão necessárias filas de caminhões nas rodovias próximas aos portos ou congestionamentos de navios à espera de carregamento para que o agronegócio sofra com os gargalos logísticos. Eles ocorrem em praticamente todos os elos da cadeia da soja e do milho, atingindo, consequentemente, as indústrias que dependem dessas matérias-primas, como a da carne de frango e a da carne suína. Os atoleiros são apenas a ponta de um iceberg.

As iniciativas que buscam soluções para esses problemas deveriam unir governos locais, estaduais e federais. No entanto, o que predomina é a criação de fundos para aplicação em infraestrutura, mas que frequentemente acabam sendo usados para outros fins. Em Mato Grosso, o agronegócio reclama que R$ 530 milhões recolhidos ao Fethab para abertura e conservação de rodovias foram destinados, nos últimos quatro anos, a ações relacionadas à Copa de 2014. Isso teoricamente. A Secopa, que controla os gastos da Copa, informou que apenas um terço dos R$ 530 milhões foi aplicado.

No Paraná, a conservação das estradas rurais promete entrar em uma nova fase neste ano. O governo estadual passa a oferecer apoio às prefeituras, colocando à disposição de consórcios regionais 30 conjuntos de máquinas com retroescavadeira, trator de esteira, pá-carregadeira, motoniveladoras e rolos compactadores. As obras começam em março, na Região Sudoeste do estado. Se o projeto engrenar, devem ser investidos R$ 110 milhões ao ano na locação das máquinas.

O problema dos atoleiros, mesmo assim, não será resolvido de vez tão cedo. O que há de diferente na iniciativa é a união de esforços para a solução de um problema que praticamente todos os municípios enfrentam. As prefeituras, que sempre reclamam estar assumindo responsabilidade do governo estadual no transporte escolar, têm nesse projeto uma espécie de contrapartida. Terão de se organizar em consórcios, o que não é uma tarefa tão simples. Os esforços farão sentido se, com transporte menos problemático, os produtores conseguirem reduzir custos e melhorar sua renda; se os agricultores familiares conseguirem injetar mais recursos nas economias regionais; e se, por tabela, o acesso das comunidades rurais a escolas também for facilitado.

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