quinta-feira, fevereiro 14, 2013

A inserção das usinas a gás natural - ADRIANO PIRES

BRASIL ECONÔMICO - 14/02

O baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas, verificado nos últimos meses de 2012 e início de 2013, tem obrigado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a acionar termoelétricas.

Embora a situação atual nos remeta ao racionamento ocorrido em 2001, existem diferenças significativas na composição da matriz elétrica brasileira, que na época era composta predominantemente por hidrelétricas, cerca de 90% e, o restante por usinas térmicas, ao passo que a atual, possui menor participação das hidrelétricas, de 68%, e maior das térmicas, de 28%.

A recente opção do governo de construir hidrelétricas a fio d'água e incentivar a expansão de energias que possuem mais dificuldades para serem despachadas, como é o caso das usinas eólicas, levanta a discussão da necessidade de se incluir as usinas a gás natural na base do sistema.

Os investimentos em termoeletricidade se intensificaram após o ano 2000, devido a diversas interrupções no fornecimento de energia e aos baixos índices pluviométricos dos anos anteriores, levando ao lançamento do Programa Prioritário Termoelétrico (PT).

O programa tinha o objetivo de aumentar a oferta de energia, através da construção de 48 termoelétricas, e reduzir a dependência das condições hidrológicas desfavoráveis.

A construção de usinas térmicas no país representou um reforço no fornecimento de energia, atuando para aumentar a confiabilidade do sistema, ao serem construídas para atuar na ponta do sistema, servindo como reserva de energia.

No entanto, 75% das térmicas a gás em funcionamento no Brasil são centrais flexíveis com ciclo aberto, adequadas para operar na ponta do sistema elétrico, funcionando como reserva de energia.

Essas térmicas são consideradas vantajosas somente quando usadas na ponta, pois este modelo de contratação permite que só haja gastos com combustíveis fósseis quando o despacho é necessário para manter a segurança do abastecimento.

No caso de se incluir as usinas térmicas a gás definitivamente na base do sistema, as de ciclo combinado, por serem mais inflexíveis, são as mais adequadas. Tais térmicas produzem uma geração constante, devido ao despacho contínuo, com garantia de geração por vários meses do ano, podendo levar a contratos vantajosos com os fornecedores de combustíveis.

O acionamento de térmicas a gás de forma permanente, para garantir a segurança no abastecimento, deveria levar o governo brasileiro a estudar novas formas de contratação desse tipo de usina. Nesse sentido, deveriam ser realizados leilões direcionados e por critério de quantidade e não mais por disponibilidade.

Nos últimos dez anos, a principal preocupação do governo tem sido a modicidade tarifária, em detrimento da segurança no abastecimento. A falta de balanceamento entre esses dois objetivos levou ao não atingimento de ambos. Chegou a hora de colocar térmicas a gás de ciclo combinado na base do sistema e com isso afastar o cenário de desabastecimento.

2 comentários:

  1. TÉRMICAS NA BASE AFINAL
    Foi o uso intensivo de reservatórios – com térmicas e outras fontes à disposição – que levou à atual falta de água nos reservatórios.
    Apesar de ter predominância de hidroelétricas – 70% segundo Roberto Pereira D'Araújo do MME – as usinas geram 90% da energia e apenas metade da sua capacidade térmica.
    Se as térmicas tivessem entrado em operação antes – ou melhor, se nem fossem desligadas antes de outubro – a situação hoje seria outra. Hoje as usinas são contratadas por disponibilidades. Ficam paradas à espera de um chamado do ONS. (Luiz Pinguelli Rosa).
    Ora, 20 GWmed de energia, gerados por 20GW de capacidade instalada de térmicas não podem ficar paradas a maior parte do tempo a espera do chamado do ONS. È uma quantidade expressiva de energia, 1/3 da energia gerada por hidroelétricas em condições normais.

    Tomemos o exemplo de Roberto Araujo: um sistema com 70 GW de CI em hidroelétricas e 20GW em termoelétricas.
    As térmicas, com FC=1, podem gerar: 20 GWmédio ou 1/3
    As hidros, com FC=.55, geram: 40 GWmédio ou 2/3
    Total de geração térmica: 60 GWmédio ou 1/1
    90% por hidroelétricas: 54 GWmédio
    10% por térmicas : 6 GWmédio
    Tem qualquer coisa de errado nisso! ...devem estar usando hidroelétricas para economizar combustível de térmicas, se esquecendo da segurança:
    Isso só poderia ter acontecido pela utilização intensa dos reservatórios, o que ocasionou o rápido esvaziamento. Por esta razão as térmicas foram ligadas – por precaução – em outubro, quando nunca deveriam ter sido desligadas.
    Aqui há uma diferença de 14 GWmedio fornecidos a mais por Hidroelétricas e fornecidos a menos térmicas.
    Hidroelétricas passaram de 40 para 54 GWmedio, enquanto térmicas reduziram de 20 para 6 GWmedios.

    Não se trata mais de um sistema complementado por um punhado de hidroelétricas antigas a vapor, mas de um sistema hidrotérmico com forte presença de térmicas.
    Para que continuem existindo essas antigas térmicas a vapor de baixo rendimento precisam ser melhoradas para que continuem funcionando com maior rendimento do conjunto. Para tanto, basta que sejam acopladas à térmicas a gás de alto rendimento e que – acima de tudo – aproveite todo o calor dos gases para finalidades térmicas.
    O mesmo se pode dizer das novas térmicas a gás. Precisam estar combinadas à indústria que aproveite a energia dos gases de escape: cimenteiras, fábricas de papel e celulose, indústria cerâmica, etc. e não apenas queimar o combustível gás em “calor de processo”.

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  2. RESERVATÓRIOS CHEIOS E A ENERGIA DE PONTA
    Reservatórios quase cheios é a contingência natural do sistema que se torna cada vez mais hidrotérmico.
    “O acionamento das UTE durante todo o ano de 2013 indica que o novo paradigma hidrotérmico veio para ficar, o que exigirá um esforço muito grande da política e do planejamento energético, que terá que alterar práticas, ações, métodos e modelos computacionais”. Nivalde de Castro.
    Não só isso, diríamos, processos que levem em conta o aproveitamento integral do combustível na produção e consumo das 2 formas de energia: calor e eletricidade, que são indissociáveis. Não se pode aperfeiçoar um sem negligenciar o outro.

    A geração hidrelétrica de ponta também poderá ser aumentada pela construção de novas unidades geradoras em poços provisionados em algumas usinas hidrelétricas já existentes (5 GW segundo a Abrage), o que torna baixo os custos para o atendimento da demanda máxima do SIN.
    Isso gera uma expectativa atraente para os produtores do mercado livre dado que com tarifas maiores os produtores vão utilizar a grande quantidade de energia secundária para a produção sazonal de bens que a energia elétrica consegue produzir, tais como hidrogênio, lítio, por exemplo. Não só isso, alguns consumidores vão migrar para este novo mercado, com perda de clientes das concessionárias.

    Antes, eram térmicas a vapor de baixa qualidade técnica que garantiam ponta com combustível barato. O máximo do desperdício de energia. O tempo do combustível barato já passou.
    Agora, os papéis se invertem: são térmicas a gás combinadas que economizam combustível fóssil das antigas térmicas.

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