quinta-feira, janeiro 10, 2013

Vende-se energia - AGOSTINHO VIEIRA


O GLOBO - 10/01
Em países como Alemanha, Japão, Espanha e EUA, onde o sistema já funciona há alguns anos, ele chega a representar cerca de 10% da matriz energética. No Brasil, a microgeração ou minigeração de energia, como são chamadas, entraram em vigor apenas no último dia 17 de dezembro, mas já aparecem como uma boa alternativa nestes tempos de reservatórios muito baixos e temperaturas elevadíssimas.

Agora, qualquer consumidor pode se transfor­mar num produtor de energia, fornecer o ex­cedente às concessionárias e ter a conta de luz reduzida. Basta ter dinheiro para investir no equipa­mento e esperar cerca de 60 dias pela aprovação do projeto. A resolução da Agência Nacional de energia elétrica (Aneel) fala em fontes de energia limpa, e in­clui a eólica, a biomassa e algumas outras. Mas o mercado aposta que esse será o caminho por onde a energia solar crescerá no país.

O custo ainda é alto, mas vem caindo. Quase todos os equipamentos são importados. Um sistema com­pleto custa alguma coisa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, podendo ser mais, dependendo da energia gerada e da complexidade para a instalação. Além disso, é preciso pagar por um novo relógio que vai controlar a geração e o consumo. Mas isso custa cerca de R$ 100. Os especialistas estimam em cinco anos, no máximo, o prazo para que este investimento tenha retorno.

Funciona como uma espécie de conta corrente. Durante o dia, as pessoas saem de cása e deixam os seus painéis solares trabalhando por elas, gerando energia e fornecendo para uma concessionária como a Light ou a Eletropaulo. À noite, elas consomem a energia disponibilizada pelas empresas. No final do mês é feito um balanço. Se o usuário forneceu mais do que consumiu, ele fica com um crédito, que deve ser utilizado em até 36 meses. Lembra um pouco a história da cigarra e da formiga. A comida ou energia economizada no verão pode ser utilizada no inverno.

Com pouco mais de vinte dias desde que a resolu­ção da Aneel foi publicada, a Light recebeu até agora apenas dois pedidos de instalação do sistema. Um de um consumidor domiciliar, não identificado, e outro da Biblioteca Pública do Estado. A biblioteca já com­prou os painéis fotovoltaicos (solares) e deve se transformar no primeiro microgerador do Rio. O su­perintendente técnico da Light, Gustavo Cesar de Alencar, diz que a empresa está preparada para aten­der a qualquer solicitação. Ela só estabeleceu um prazo de 60 dias para analisar cada projeto do ponto de vista técnico e de segurança. Gustavo lembra a im­portância de ter um profissional qualificado acom­panhando a compra e a instalação dos equipamen­tos, que têm 20 anos de vida útil.

O coordenador da campanha Clima e Energia do Greenpeace, Ricardo Baitelo, é um entusiasta da ini­ciativa. Ele acredita que o Brasil tem um enorme po­tencial para esse tipo de geração e uma série de van­tagens sobre outros países. Na Alemanha e na Espa­nha, por exemplo, foram criadas tarifas promocio­nais para estimular as pessoas a instalarem os equi­pamentos. Aqui, com o sol forte quase o ano inteiro, isso não é necessário e o retorno deve acontecer mais rapidamente. E exagera: "pode ser um investimento melhor do que botar dinheiro na poupança"

Baitelo, no entanto, acha que o governo precisa cri­ar mecanismos de financiamento para a compra dos sistemas e estabelecer políticas de atração de fabri­cantes para o país. Nos últimos três anos, os preços caíram quase pela metade, mas ainda estão muito al­tos para o padrão brasileiro. Até agora, os principais clientes dos painéis solares se concentravam nas áre­as rurais e os equipamentos incluíam baterias para armazenar a energia. Mas a situação tende a mudar.

A embaixada da Itália, por exemplo, já tem 605 pai­néis fotovoltaicos instalados no telhado, com uma potência de 50 quilowatts. Nos próximos meses terá também cinco usinas eólicas de pequeno porte. Com isso, o prédio na capital federal se transforma numa referência nacional em termos de produção de ener­gia renovável. Mas passa a ser também uma espécie dê showroom das tecnologias italianas disponíveis para o setor. Na atual fase do projeto, já foi possível reduzir em 20% o consumo de energia.

O apagão de 2001 trouxe lições que, infelizmente, foram esquecidas com o tempo. A primeira e óbvia é a importância de um planejamento consistente. A segunda, não menos óbvia, é a necessidade de eco­nomizar sempre, reduzir desperdícios. Há dez anos, o consumo ficou 20% menor e a vida seguiu normal­mente. Por fim, a certeza de que é preciso buscar al­ternativas limpas e sustentáveis. Seria uma falha hu­mana grave não aproveitar essa chance.

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