sábado, janeiro 12, 2013

A indústria sofre o peso da política de encargos sociais - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 12/01


O valor da folha de pagamentos numa indústria é em função do número de pessoal ocupado e do número de horas efetivamente pagas. Mas o valor dos salários pode elevar consideravelmente o valor da folha, o que aconteceu em novembro do ano passado. Naquele mês, o número do pessoal ocupado caiu 1%, em razão do recuo da produção industrial, e o número de horas pagas teve queda de 0,2% (o que reflete um ligeiro aumento da produtividade), mas a folha de pagamentos real aumentou 11,3%, anulando, assim, qualquer ganho de produtividade.

O mês de novembro foi atípico: além de pagar as indenizações ao pessoal que perdeu o emprego, houve o pagamento do 13.º salário e, em alguns setores, de um 14.º salário, em razão dos dissídios.

É a décima quarta vez consecutiva que o número de assalariados recua, um sinal da situação difícil da indústria, que não consegue manter o emprego. Este caiu 1,4% no acumulado do ano, enquanto o número de horas pagas caiu 1,9%. A folha de salários real, no entanto, no acumulado do ano, apresentou crescimento de 3,9%, o que parece se explicar pelas dificuldades em contratar pessoal qualificado.

De fato, dos 19 setores da indústria, 14 apresentaram uma queda de produção maior do que a do nível de emprego. Fica claro que a indústria faz todos os esforços para manter o seu pessoal na esperança de uma retomada da atividade, que se verificou apenas em outubro e não se prolongou. Registram-se algumas exceções, como no setor de material de transporte, de máquinas e equipamentos, de refino de petróleo e da produção de álcool, em que o pessoal empregado baixou menos do que a produção.

O que fica evidenciado no levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre emprego e salário é que uma parte da falta de competitividade da indústria brasileira está no excesso de encargos sobre os salários, especialmente nos setores que ocupam mão de obra intensivamente. Nesses casos, algumas medidas tomadas pelo governo para aliviar os encargos sobre os salários foram positivas, mas certamente insuficientes.

Atualmente, os países da União Europeia que enfrentam recessão são geralmente os que têm uma política de encargos mais protecionista e estão condenados, neste momento, ao que é pior: o desemprego. A produtividade na indústria depende essencialmente de equipamentos mais modernos, mas a competitividade depende de uma revisão da política de encargos, cujo custo - o desemprego - é muito elevado para o Brasil.

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