domingo, janeiro 20, 2013

A agenda global e o Brasil - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADÃO - 20/01

As duas maiores economias do planeta acabam de lançar sinais animadores para todo o mundo, reforçando a expectativa de um cenário global melhor em 2013. Nos Estados Unidos, a grande surpresa dos últimos dias foi o vigor de uma atividade muito importante para a geração de empregos, a construção de casas. Em dezembro, a construção de imóveis residenciais aumentou 12,1% e chegou ao nível mais alto desde junho de 2008. Além disso, a procura de seguro-desemprego foi menor que a esperada pelos analistas: 350 mil, enquanto as previsões indicavam 370 mil. Do outro lado do globo, o governo chinês anunciou um crescimento econômico de 7,8% em 2012 e uma aceleração no quarto trimestre, quando o Produto Interno

Bruto (PIB) aumentou em ritmo equivalente a 7,9% ao ano. O resultado foi o mais baixo em mais de uma década, mas indicou uma sensível recuperação da atividade. A previsão mais otimista apontava uma expansão de 7,7% no ano. Para o Brasil, fornecedor de matérias-primas, é uma boa novidade. Mas é uma rara notícia positiva sobre as perspectivas de 2013, por enquanto muito duvidosas para boa parte dos analistas.

As notícias positivas dos Estados Unidos e da China são insuficientes para iluminar as zonas cinzentas do quadro mundial. Mas alguns dos maiores perigos foram contornados. A ajuda à Grécia foi renovada e o país ganhou algum tempo para a arrumação de suas contas - um benefício já concedido a Portugal, como reconhecimento dos avanços em seu programa de ajuste. Os bancos espanhóis foram socorridos e os governos mais acuados nò mercado financeiro têm conseguido rolar suas dívidas em condições mais favoráveis. Os americanos escaparam, por enquanto, do abismo fiscal, graças a um acordo parcial entre governo e oposição. Na Europa, os governos conseguiram entender-se para evitar o colapso da união monetária e para desenhar novos instrumentos de política econômica.

Um bom resumo dos melhores resultados do ano e da agenda remanescente foi apresentado em Washington, na quinta-feira, pela dire- tora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagar- de: "Interrompemos o colapso, devemos evitar a recaída e não é hora de relaxar". Em outras palavras: desastres maiores foram evitados, mas a travessia para tempos melhores é incompleta e o risco de retrocesso é considerável. Mas é preciso cuidar de três itens de importância crucial.

Para consolidar o crescimento é preciso eliminar incertezas. A solução é avançar com firmeza nas políticas de ajuste e de reformas. O ritmo pode variar de país para país, mas a firmeza é essencial. Os europeus, por exemplo, devem progredir no uso de seus novos instrumentos financeiros e na implementação de sua união bancária. Os americanos têm de dar prioridade ao interesse nacional, ao tratar de questões como o teto da dívida e o ajuste das contas federais a médio prazo. Em segundo lugar, é indispensável completar com rapidez a reforma do setor financeiro, foco principal da crise iniciada em 2007-2008. Em terceiro, é preciso buscar o crescimento global equilibrado (mensagem dirigida especialmente à China e a outros grandes superavitários).

A diretora Christine Lagarde falou brevemente sobre a economia brasileira, provocada por uma pergunta de jornalista. Confessou alguma preocupação com o baixo ritmo de crescimento, mas concentrou a resposta em um ponto por ela definido como "a questão real". Trata- se de saber, afirmou, se o País está crescendo no limite de sua capacidade ou se há um espaço de ociosidade para ser preenchido por meio de medidas macroeconômicas. Com poucas palavras, e de forma diplomática, ela chamou a atenção para uma das críticas mais importantes à política econômica. O governo erra ao insistir no estímulo à demanda, especialmente de consumo, porque o grande entrave ao crescimento está do lado da oferta, têm dito alguns dos analistas mais cômpetentes. O desafio, explicam, é elevar o potencial de crescimento, hoje muito baixo. Sem tomar partido no debate, a diretora do FMI tocou na "questão real". Esse ponto é uma das maiores diferenças entre o Brasil e os países mais dinâmicos.

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