O ESTADÃO - 15/12
Tenho a sensação de que a maioria que me atende preferia desabafar: "Não estou aqui porque quero, mas porque pre-ci-so".
E quanto maior a cidade, mais indiferente fica o morador. Como uma defesa. Mais indiferente a problemas que "não são da minha esfera". Como há milhões circulando diariamente, se você reclama atenção exclusiva num guichê, uma fila de gente que aceita as regras se forma atrás. Portanto, se você acredita que há problemas no serviço oferecido, nem vem, pois quem fica do outro lado do balcão, porque pre-ci-sa, não porque adora, grita sem muita consideração: "Próximo!"
Como aprendemos na infância, a expressão precisa de um reacionário, os incomodados que se retirem.
Parece uma contradição, afinal, os sumérios inventaram as cidades, os gregos as transformaram em Estado, os romanos as aperfeiçoaram e popularizaram soluções engenhosas de engenharia para civilizar tribos e antigos aldeões selvagens. A burocracia estatal se firmou como solução para problemas criados pelo convívio em massa em espaços apertados. Problemas que não tínhamos quando morávamos em cavernas, tribos, aldeias.
No ambiente labiríntico da burocracia estatal, a relação atendente & nós é tensa, ele está lá porque pre-ci-sa e ganha direitos específicos, imunidades, uma aposentadoria infinitamente mais justa que a nossa, privilégios do monopólio e estabilidade questionada do serviço público.
Muita gente não está onde está porque quer é um paradoxo urbano com que somos obrigados a conviver - a não ser que nos mudemos de chapéu e cuia para a casa do mesmo, onde Judas perdeu as botas, para plantar batatas, bananeiras e vermos se tem alguém na esquina.
A maioria gostaria de estar numa praia, numa rede, numa ilha deserta, num resort luxuoso, ou numa rede de uma praia de um resort luxuoso de uma ilha deserta a que só se chega de navio, ou até numa espaçonave, não num balcão atendendo às queixas de sujeitos que desconhecem leis, protocolos, imprevistos.
Estou aqui, pre-ci-so deste emprego, fiz concurso, fui indicado, escuto amigavelmente suas reclamações despropositais, para apontar com toda paciência e precisão o guichê correto, documento que falta, formulário a ser preenchido. E chego em casa afônico de tanto: "Próximo!"
No metrô, instalaram novas, como chamam aquilo, catracas? Mas não fazem "cá-tra-cá" quando acionadas. São duas lâminas de vidro verticais muito ameaçadoras, nada onomatopeicas. O sujeito enfia o bilhete. Elas abrem. Se não passar rápido, elas fecham, como uma tesoura, cortam você em dois. Não fazem "cá-tra-cá", mas "vupt". Intimidação que começa na entrada. "Tente me enganar, que te quebro!" O vupt pode virar crau!
Hora do rush. Depois de ultrapassarmos dentes afiados que excluem não pagantes, descemos pelo esôfago do transporte nada acolhedor, nos apertamos na plataforma até chegar nosso trem, o duodeno. Com movimentos peristálticos, viajamos pelos canais do intestino delgado, baldeação para o grosso, para sairmos do outro lado, noutra estação, no orifício de outro bairro, passando pelo esfíncter que dessa vez parece mais amigável e faz um vupt suave como um pum.
Andar e ser tratado diariamente como um toco de fezes deixa qualquer um abominavelmente selvagem.
Como em Londres, que tem o notório "mind the gap" (atente ao vão), o sistema de som dos metrôs daqui deveria, entre um quarteto de Mozart e uma ária de Bach, nos acalmar com uma voz doce, frases positivas e de cunho social, "quem espera sempre alcança", "seja justo e dê passagem", "calma, você vai chegar em tempo", "feche os olhos e pense numa rede de uma praia duma ilha deserta", "conte até dez, respire fundo", "acabamos de ouvir Concerto de Brandenburgo, allegro".
***
Interrompi um Jonathan Franzen no fim depois que me disseram que sua sombra, David Foster Wallace, é melhor. Fui checar. Seu Ficando Longe do Fato de Já Estar meio Que Longe de Tudo é realmente fascinante. Sua neurótica meticulosidade e capacidade de descrição lembram o nosso Renato Pompeu (Memórias de Uma Bola de Futebol). A precisão em descrever o sofrimento de uma lagosta cozida viva, uma privada a vácuo, uma jogada de Federer, com tantos detalhes, humor e como somos ridículos, também explorado por Franzen, colocam o cara na lista daqueles poucos escritores dos quais pretendemos ler tudo!
A insistência com longos pés de página pode se transformar num pé no saco se você está em dívida com o oculista. Wallace fragmenta seus textos com uma média de duas notas de pé de página por página, notas que poderiam ser inseridas na narrativa. Algumas têm três páginas. Uma é simplesmente "Dãã". O pior é que são imperdíveis.
Como a do Sorriso Profissional, praga americana no ramo da prestação de serviços: "Sorriso que não chega a envolver os olhos de quem sorri e que não significa nada além de uma calculada tentativa de promover os interesses daquele que sorri ao fingir que ele gosta da pessoa para quem sorri".
Não consigo apontar se Wallace é melhor que Franzen. Do segundo já li romances tijolos e contos. Romance será o quesito final. Criar personagens, narrar, bolar tramas e conflitos... É a diferença entre pintar um quadro e um teto de igreja. O romance mais cultuado de Wallace, Infinite Jest, ainda está em processo de tradução e será publicado em 2013. Aí, sim, a comparação será com tira-teima.
Se eu fosse o editor, manteria o título. "Jest" é algo como tirar um sarro, uma onda. Tomara que não usem Tirar Uma Onda Sem Parar, Zoando Infinitamente. Já não basta o que fizeram com Salinger e o seu Raise High the Roof Beam, Carpenters. Na Brasiliense virou Pra Cima com a Viga, Moçada. Quando passou para a Companhia das Letras, virou Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira. Não dá... E The Catcher in the Rye? Tiraram a sonoridade e beleza. Virou O Apanhador no Campo de Centeio. Por que não Para Onde Vão os Patos do Central Park no Inverno?
Não é preciso ser literal. Feliz Ano Velho em inglês virou Happy Old Year, em espanhol, Feliz Año Viejo, em italiano, Feliche Anno Vechio. Mas em alemão não faria sentido. A editora Rowohlt mudou para Sprung in der Sonne (me parece que é Um Mergulho para o Sol), que saiu com uma ilustração na capa da Avenida Paulista com coqueiros e um sol de rachar. Blecaute virou Jenseits der 4 Jahreszeit, que não tenho a menor ideia do que significa. Em checo, virou Stastny Stary Rok. Melhor nem saber o que é.
***
Sinto falta da prática do Sorriso Profissional no Brasil. O Sorriso Estou Aqui Porque Preciso, do paulistano, o Está Falando Comigo? Profissional, do carioca, e o Vai com Calma Meu Rei, do baiano, são sinceros, mas agregam o Custo Brasil.
sábado, dezembro 15, 2012
O importante é dar transparência à escolha - LUIS FRANCISCO AGUILAR CORTEZ
FOLHA DE SP - 15/12
Escancarado pelo ministro Luiz Fux, em esclarecedora entrevista à Folha, o processo "republicano" para escolha de ministros que integrarão o STF, retomam-se discussões a respeito do "método ideal" para as nomeações.
Não se tem, contudo, proposta objetiva que indique garantia de aperfeiçoamento em relação ao processo atual nem se pode afirmar que o modelo vigente tenha gerado más escolhas. Discordar de determinado julgamento ou conduta não é suficiente para avaliar os julgadores, o que dependerá da análise do conjunto do trabalho na Corte.
Seguimos o modelo norte-americano. A diversidade das condições existentes, porém, tem gerado certo desconforto na opinião pública (ou, ao menos, na opinião publicada).
Lá, o efetivo bipartidarismo implica posicionamentos mais claros e maior possibilidade de transparência sobre o processo de escolha e o perfil dos indicados, quando da aprovação (ou não) pelo Legislativo.
Aqui, a verdadeira "geleia" ideológico-partidária existente (29 partidos políticos atualmente) e a inafastável conquista de maioria parlamentar pelos presidentes eleitos ("presidencialismo de coalizão") faz com que a aprovação pelo Senado, após indicação pelo presidente dentre cidadãos "de notável saber jurídico e reputação ilibada", com idade entre 35 e 65 anos, represente mero exercício formal.
As escolhas brasileiras dependem de conhecimento prévio do presidente a respeito do escolhido, por conta de suas relações pessoais e profissionais ou das indicações do núcleo palaciano.
Como em ambos os casos o processo é "fechado", sempre poderão ser levantadas dúvidas a respeito da sua legitimidade, o que é ruim para quem escolhe e para os escolhidos, bem como enseja questionamentos quanto ao funcionamento da instituição, com evidentes reflexos para o processo democrático.
A maior "abertura" do processo de escolha pode reduzir tais riscos, sem alterar substancialmente o modelo constitucional.
Foi o que fez o primeiro governo Kirchner na Argentina, quando o presidente baixou decreto presidencial regulamentando a indicação a ser feita pelo próprio presidente, mas instituindo verdadeira "etapa de exposição pública" dos candidatos.
Por meio daquele ato normativo, é obrigatória prévia divulgação do nome dos indicados, das suas declarações de bens e de familiares (esposa e filhos), das sociedades civis ou comerciais que integram ou integraram, dos trabalhos publicados e dos nomes de eventuais clientes. Três meses após a divulgação é que será feita a indicação ao Senado pelo presidente.
Assim, antes da análise pelo Senado, é assegurada oportunidade de certo acompanhamento e participação nas indicações, por parte de toda a sociedade.
Permitir que a sociedade conheça previamente os indicados, seus dados pessoais e vínculos, além de outras informações consideradas relevantes para a função, e opine a respeito aumenta a autoridade presidencial ao demonstrar transparência e respeito à nação, revelando aspectos provavelmente já considerados mas não suficientemente expostos. Isso fortalece os indicados, cujos méritos estarão melhor evidenciados e aprovados.
Os ocupantes de cargos eletivos submetem-se ao processo eleitoral que, mal ou bem, significa algum controle social, não se justificando, então, o alijamento da sociedade em relação a nomeação de ministros para o STF -os quais, como agora fomos lembrados, poderão, um dia, julgar-nos.
Escancarado pelo ministro Luiz Fux, em esclarecedora entrevista à Folha, o processo "republicano" para escolha de ministros que integrarão o STF, retomam-se discussões a respeito do "método ideal" para as nomeações.
Não se tem, contudo, proposta objetiva que indique garantia de aperfeiçoamento em relação ao processo atual nem se pode afirmar que o modelo vigente tenha gerado más escolhas. Discordar de determinado julgamento ou conduta não é suficiente para avaliar os julgadores, o que dependerá da análise do conjunto do trabalho na Corte.
Seguimos o modelo norte-americano. A diversidade das condições existentes, porém, tem gerado certo desconforto na opinião pública (ou, ao menos, na opinião publicada).
Lá, o efetivo bipartidarismo implica posicionamentos mais claros e maior possibilidade de transparência sobre o processo de escolha e o perfil dos indicados, quando da aprovação (ou não) pelo Legislativo.
Aqui, a verdadeira "geleia" ideológico-partidária existente (29 partidos políticos atualmente) e a inafastável conquista de maioria parlamentar pelos presidentes eleitos ("presidencialismo de coalizão") faz com que a aprovação pelo Senado, após indicação pelo presidente dentre cidadãos "de notável saber jurídico e reputação ilibada", com idade entre 35 e 65 anos, represente mero exercício formal.
As escolhas brasileiras dependem de conhecimento prévio do presidente a respeito do escolhido, por conta de suas relações pessoais e profissionais ou das indicações do núcleo palaciano.
Como em ambos os casos o processo é "fechado", sempre poderão ser levantadas dúvidas a respeito da sua legitimidade, o que é ruim para quem escolhe e para os escolhidos, bem como enseja questionamentos quanto ao funcionamento da instituição, com evidentes reflexos para o processo democrático.
A maior "abertura" do processo de escolha pode reduzir tais riscos, sem alterar substancialmente o modelo constitucional.
Foi o que fez o primeiro governo Kirchner na Argentina, quando o presidente baixou decreto presidencial regulamentando a indicação a ser feita pelo próprio presidente, mas instituindo verdadeira "etapa de exposição pública" dos candidatos.
Por meio daquele ato normativo, é obrigatória prévia divulgação do nome dos indicados, das suas declarações de bens e de familiares (esposa e filhos), das sociedades civis ou comerciais que integram ou integraram, dos trabalhos publicados e dos nomes de eventuais clientes. Três meses após a divulgação é que será feita a indicação ao Senado pelo presidente.
Assim, antes da análise pelo Senado, é assegurada oportunidade de certo acompanhamento e participação nas indicações, por parte de toda a sociedade.
Permitir que a sociedade conheça previamente os indicados, seus dados pessoais e vínculos, além de outras informações consideradas relevantes para a função, e opine a respeito aumenta a autoridade presidencial ao demonstrar transparência e respeito à nação, revelando aspectos provavelmente já considerados mas não suficientemente expostos. Isso fortalece os indicados, cujos méritos estarão melhor evidenciados e aprovados.
Os ocupantes de cargos eletivos submetem-se ao processo eleitoral que, mal ou bem, significa algum controle social, não se justificando, então, o alijamento da sociedade em relação a nomeação de ministros para o STF -os quais, como agora fomos lembrados, poderão, um dia, julgar-nos.
Magistrados, OAB e docentes poderiam ajudar - NINO OLIVEIRA TOLDO
FOLHA DE SP - 15/12
A discussão sobre os critérios de escolha de ministros para o STF volta ao centro das discussões.
Isso é bom, pois se trata da escolha de quem tem o dever de interpretar e aplicar a Constituição. As decisões do STF provocam mudanças na vida de cada brasileiro. Com efeito, ele define, em última instância, o perfil de benefícios previdenciários, os limites para a cobrança de tributos e o contorno das liberdades civis, como o aborto de anencéfalos e a união homoafetiva.
Mais do que personalizar a discussão, importa discutir o perfil desejado para um membro do STF e, nesse sentido, se o atual critério de nomeação é adequado, bem como se há necessidade de se fixar um mandato para os ministros, já que no sistema atual o cargo é vitalício.
A Constituição atribui ao presidente o poder de nomear os ministros do STF, depois de aprovada a escolha pelo Senado, solução inspirada no modelo norte-americano.
Em princípio, parece boa e democrática a ideia de que o chefe do Poder Executivo nomeie o ministro, mediante aprovação do Senado.
No entanto, historicamente, o Senado tem aprovado sem maiores questionamentos as indicações feitas pelo presidente da República.
A realidade vem demonstrando que candidatos ao cargo de ministro do STF, ainda que tecnicamente muito preparados, necessitam de apoio político para concorrer, o que os leva a percorrer gabinetes das mais diversas autoridades estatais, nos três Poderes, bem como daqueles que possam influenciar o processo.
Sem nenhuma crítica aos atuais membros do STF, o modelo precisa ser aperfeiçoado. Não é por acaso que há sete propostas de emenda à Constituição (PEC) em tramitação na Câmara propondo mudanças.
É importante traçar alguns parâmetros de perfil e legitimação do processo de escolha. No primeiro aspecto, os contornos do atual texto constitucional são excessivamente vagos e indeterminados ("notório saber jurídico" e "reputação ilibada"), sem exigir do candidato uma demonstração de vocação para a atividade, como, por exemplo, o prévio exercício da magistratura.
Assim, uma das sugestões a serem examinadas seria a do estabelecimento de um percentual mínimo de membros oriundos da magistratura.
Um segundo aspecto a ser avaliado seria a formação de uma lista de "cidadãos notáveis", composta por um número razoável de integrantes e legitimada num foro do Poder Judiciário com participação da sociedade civil, como, por exemplo, do Conselho Nacional de Justiça. As indicações poderiam ser respaldadas por indicações prévias da sociedade civil, por intermédio das entidades de classe da magistratura, da OAB, de universidades e dos próprios tribunais.
Outra possibilidade a ser discutida é a de que o titular da escolha não seja único, alternando-se a indicação pelo Poder Executivo, pelo Legislativo e pelo Judiciário.
Por fim, merece apreciação a possibilidade de fixação de mandato para os membros do STF, acabando-se com a natureza vitalícia do cargo.
Para tanto, seria importante transformar o STF numa verdadeira corte constitucional, sendo vedados aos seus integrantes, durante o exercício do mandato, qualquer outra atividade, inclusive o magistério. No mundo moderno, em que há necessidade de contínua legitimação do exercício do poder, essa proposição merece reflexão.
O poder exclusivo do presidente de indicar ministros para o Supremo precisa ser reexaminado. A oportunidade para a discussão do tema está dada e não pode ser postergada. É imprescindível que a sociedade o entenda e o discuta, pois, das decisões tomadas por 11 pessoas, muita coisa pode mudar na vida de 180 milhões de cidadãos.
A discussão sobre os critérios de escolha de ministros para o STF volta ao centro das discussões.
Isso é bom, pois se trata da escolha de quem tem o dever de interpretar e aplicar a Constituição. As decisões do STF provocam mudanças na vida de cada brasileiro. Com efeito, ele define, em última instância, o perfil de benefícios previdenciários, os limites para a cobrança de tributos e o contorno das liberdades civis, como o aborto de anencéfalos e a união homoafetiva.
Mais do que personalizar a discussão, importa discutir o perfil desejado para um membro do STF e, nesse sentido, se o atual critério de nomeação é adequado, bem como se há necessidade de se fixar um mandato para os ministros, já que no sistema atual o cargo é vitalício.
A Constituição atribui ao presidente o poder de nomear os ministros do STF, depois de aprovada a escolha pelo Senado, solução inspirada no modelo norte-americano.
Em princípio, parece boa e democrática a ideia de que o chefe do Poder Executivo nomeie o ministro, mediante aprovação do Senado.
No entanto, historicamente, o Senado tem aprovado sem maiores questionamentos as indicações feitas pelo presidente da República.
A realidade vem demonstrando que candidatos ao cargo de ministro do STF, ainda que tecnicamente muito preparados, necessitam de apoio político para concorrer, o que os leva a percorrer gabinetes das mais diversas autoridades estatais, nos três Poderes, bem como daqueles que possam influenciar o processo.
Sem nenhuma crítica aos atuais membros do STF, o modelo precisa ser aperfeiçoado. Não é por acaso que há sete propostas de emenda à Constituição (PEC) em tramitação na Câmara propondo mudanças.
É importante traçar alguns parâmetros de perfil e legitimação do processo de escolha. No primeiro aspecto, os contornos do atual texto constitucional são excessivamente vagos e indeterminados ("notório saber jurídico" e "reputação ilibada"), sem exigir do candidato uma demonstração de vocação para a atividade, como, por exemplo, o prévio exercício da magistratura.
Assim, uma das sugestões a serem examinadas seria a do estabelecimento de um percentual mínimo de membros oriundos da magistratura.
Um segundo aspecto a ser avaliado seria a formação de uma lista de "cidadãos notáveis", composta por um número razoável de integrantes e legitimada num foro do Poder Judiciário com participação da sociedade civil, como, por exemplo, do Conselho Nacional de Justiça. As indicações poderiam ser respaldadas por indicações prévias da sociedade civil, por intermédio das entidades de classe da magistratura, da OAB, de universidades e dos próprios tribunais.
Outra possibilidade a ser discutida é a de que o titular da escolha não seja único, alternando-se a indicação pelo Poder Executivo, pelo Legislativo e pelo Judiciário.
Por fim, merece apreciação a possibilidade de fixação de mandato para os membros do STF, acabando-se com a natureza vitalícia do cargo.
Para tanto, seria importante transformar o STF numa verdadeira corte constitucional, sendo vedados aos seus integrantes, durante o exercício do mandato, qualquer outra atividade, inclusive o magistério. No mundo moderno, em que há necessidade de contínua legitimação do exercício do poder, essa proposição merece reflexão.
O poder exclusivo do presidente de indicar ministros para o Supremo precisa ser reexaminado. A oportunidade para a discussão do tema está dada e não pode ser postergada. É imprescindível que a sociedade o entenda e o discuta, pois, das decisões tomadas por 11 pessoas, muita coisa pode mudar na vida de 180 milhões de cidadãos.
A vez de difamar os ministros - ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR
O Estado de S.Paulo - 15/12
Curioso observar que o presidente do PT, Rui Falcão, e os condenados na Ação Penal 470 (mensalão) José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha não negaram a prática dos crimes apurados pelo Ministério Público e julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Realmente, nenhum deles teve a coragem de dizer que não foram desviados milhões de reais dos cofres públicos para distribuição a aliados e amigos. Esse dinheiro, como água suja, jorrou por um buraco negro no Palácio do Planalto, bem debaixo do nariz do então presidente Lula, o qual não sabia de nada, não viu nada.
Os quatro condenados a toda hora dizem que o STF agiu politicamente com o propósito de prejudicá-los e ao Partido dos Trabalhadores. Isso significaria que ministros da Suprema Corte indicados pelo próprio PT agiram politicamente com o fim de prejudicar a legenda.
Incrível, eles parecem pretender que a população brasileira engula esse sapo. Só os mais ingênuos não perceberão que essa é uma estratégia destinada a desmerecer as condenações e implantar um estado de dúvida entre os brasileiros. Chegaram ao ponto de fazer uma ameaça, consistente em obter perante a opinião pública o "julgamento do julgamento", ou seja, uma decisão popular contrária ao sentimento de aprovação que se verifica entre os brasileiros em relação aos ministros do STF e aos julgamentos já realizados.
No âmbito da raivosa militância petista, marcada por seu conhecido apetite de poder e de cargos, não terão dificuldades em obter esse veredicto, mas de validade restrita ao grupo. Também ante a fragilizada União Nacional dos Estudantes (UNE), braço do PT, não será difícil "julgar o julgamento". Mas, se saírem das áreas contaminadas pelo petismo, poderão verificar a formidável imagem consolidada pelos ministros do STF e pelo julgamento em si.
Impera claramente no Brasil, talvez pela primeira vez em nossa História, um coletivo sentimento não apenas de aprovação do trabalho do Supremo Tribunal, mas também de admiração pelo feito.
Por outro ângulo, é forçoso reconhecer que esses condenados estão à beira da prática de novos crimes. Na medida em que atribuem aos ministros do STF uma conduta desonrosa e desonesta, consistente em julgamentos por interesses pessoais e políticos, sugerem violação da conhecida tipicidade inserida há quase um século no Código Penal: a difamação.
Realmente, estão concorrendo para difamar ministros, que são agentes públicos e agiram no estrito cumprimento do dever de julgar. O artigo 139 do Código Penal não deixa dúvidas quanto à necessidade de condenar pessoas que imputam a outrem fato ofensivo à sua reputação. A pena é de três meses a um ano, além de multa. Mas pode ser acrescida de um terço quando o delito é cometido "contra funcionário público, em razão de suas funções" (artigo 141, II).
A imputação que eles fazem aos julgadores é de fato determinado, ou seja, promover julgamento político, conduta que resultaria em excluir o princípio de simples aplicação da lei em vigor. Afastar-se da lei, para julgar alguém com fundamento em razões políticas, significa ofensa das mais graves.
O direito de expressão está garantido pela Constituição federal e isso assegura aos condenados a possibilidade de demonstrar a sua insatisfação. Mas, na medida em que ultrapassam os limites da legislação penal em vigor, sem nenhuma dúvida correm novos riscos.
Não se deve esperar que nenhum dos ministros do STF chegue ao ponto de representar contra os difamadores. Eles possivelmente estarão relevando essas ofensas, até o momento, quem sabe, em que elas se tornem mais contundentes e mereçam uma resposta.
O fato de os condenados nada dizerem a respeito do dinheiro que vazou pelo buraco negro do Palácio do Planalto e se limitarem a condenar o julgamento é, sem dúvida, uma forma de poupar a figura de seu aliado Luiz Inácio Lula da Silva. Somente um tolo acreditará que aquela fortuna foi para o ralo sem que o então presidente da República efetivamente nada soubesse.
Não se tratava de alguns reais, e sim, conforme emergiu nos cálculos dos ministros do STF, de cerca de R$ 350 milhões. Essa volumosa quantia deixaria com água na boca o deputado federal Paulo Maluf, que tem o Ministério Público no seu pé por muito menos.
Não dá para concluir o que é pior: se ser presidente da República e nada saber ou ser presidente da República, saber e consentir. Essa dúvida vai permanecer entre nós, quem sabe, até o momento em que algum dos condenados, já atrás das grades, e diante dessa nova realidade, acabe por dar com a língua nos dentes.
O estado psicológico de pessoa submetida a processo criminal sofre variação muito forte quando ela se vê encarcerada. É quando cai na real e em muitos casos se mostra disposta a falar o que não disse durante o curso do processo.
Alguns dos condenados vão permanecer por longo período atrás das grades, tomados por sentimento de abandono, e isso poderá resultar em novas denúncias, que esclareçam o tipo de sociedade que havia entre o grupo e quais, realmente, eram os sócios.
No presente, permanece uma clara aliança pessoal e político-partidária entre Lula, Dirceu, Genoino e Delúbio. Fica a impressão de que o primeiro, se nada soubesse da trama urdida debaixo de seu nariz, com certeza estaria furioso com os aliados, porque, afinal, o desgaste que está sofrendo é incomensurável.
Ainda mais agora, quando sua amiga íntima Rosemary Nóvoa de Noronha - que havia sido secretária de José Dirceu por longos anos - ganhou as primeiras páginas dos jornais. Rose foi demitida pela presidente Dilma Rousseff sem aviso e quando Lula estava fora do Brasil.
Esse fato é significativo e projeta o surgimento de uma trinca na aliança que sempre existiu na cúpula petista.
Tecnologia que a cidade não vê - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 15/12
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso
Agricultura é um conceito amplo. Engloba todo produto de origem animal e vegetal que chega à mesa do brasileiro.
Começa pela madeira usada na construção da mesa, passa pela toalha de algodão que forra essa mesa e tem representação dupla nas carnes.
O frango e o porco são produtos agrícolas que têm como principal alimento a ração produzida à base de cereais. A produção de leite, para ter melhor rendimento e constância, também depende das rações à base de grãos.
É comum a confusão entre agricultura e agronegócio. A agricultura diz respeito ao trabalho do agricultor, da preparação da terra à colheita ou venda dos animais.
O conceito de agronegócio vai além. Abarca a agricultura e inclui as indústrias que produzem insumos dos quais o agricultor lança mão, bem como a indústria que beneficia a produção agrícola e toda a distribuição dos produtos comercializados.
Essa ampla agricultura brasileira, que há muito deixou de ser mera exportadora de commodity, é baseada em forte aparato tecnológico. Falar de agricultura no Brasil atual é discorrer sobre um universo rural de alta tecnologia, do qual a população urbana desfruta, mas pouco vê.
Sementes adaptadas são desenvolvidas com grande esforço por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Aí vêm as máquinas agrícolas, os defensivos, os fertilizantes, o emprego da biotecnologia para modificação das variedades adaptadas.
E ainda temos técnicas de seleção genética, fertilização in vitro e clonagem, largamente empregadas na produção animal, inclusive de peixes.
A despeito do romantismo que pressupõe a atividade de criar, plantar e colher, a disputa entre cada elo da cadeia por maior fatia do lucro do setor nada tem de poética.
O elo mais frágil é o agricultor. Ainda que faça uso da tecnologia, como regra geral ele o faz, não há como superar essa condição de fragilidade, especialmente se o agricultor não tiver escala de produção.
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso. Não interessa ao agro ser uma ilha de prosperidade e, sim, um continente de sucesso.
Aumentar, fortalecer e consolidar uma classe média rural deve ser o esforço de todos, como foi com a classe média urbana.
Esse caminho só será possível se fizermos com que toda inovação e toda tecnologia existentes no país cheguem à maioria dos produtores. Hoje, poucos têm acesso ao aparato tecnológico existente.
O instrumento capaz de democratizar o saber e a tecnologia no campo é a rápida implementação de uma política de extensão rural ou de assistência técnica.
Qualificar tecnicamente os produtores para que façam escolhas corretas, para que formatem um plano de negócios e melhorem sua capacitação gerencial são tarefas absolutamente indispensáveis.
São esses instrumentos que nos permitirão multiplicar a produção de nossas terras, sem que se desmate uma única árvore sequer.
O ato de disseminar conhecimento e tecnologia é quase uma profissão de fé. É a forma mais sustentável e honesta de proteger as pessoas e os seus negócios.
Enquanto governos de vários países subvencionam suas agriculturas mundo afora, injetando bilhões de dólares no setor, aqui não existe uma agricultura subsidiada.
O produtor trabalha com o controle de custo na mão e, na hora de definir seu sistema de produção, busca, no mercado, as tecnologias desenvolvidas a duras penas pela Embrapa e pelos produtores de insumo.
Nossa escolha é a busca da inovação, que faz com que possamos superar desafios do danoso custo Brasil.
A agricultura brasileira -que hoje sustenta a balança comercial, gera mais de 1 milhão de empregos a cada ano e participa com 22,5% de toda a riqueza produzida na nação- não vive de benesses governamentais. E não se queixa disso.
Só nos países ricos a sociedade pode se dar ao luxo de bancar a ineficiência de setores da economia que se recusam a investir em tecnologia e inovação, e vivem à caça de subsídios.
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso
Agricultura é um conceito amplo. Engloba todo produto de origem animal e vegetal que chega à mesa do brasileiro.
Começa pela madeira usada na construção da mesa, passa pela toalha de algodão que forra essa mesa e tem representação dupla nas carnes.
O frango e o porco são produtos agrícolas que têm como principal alimento a ração produzida à base de cereais. A produção de leite, para ter melhor rendimento e constância, também depende das rações à base de grãos.
É comum a confusão entre agricultura e agronegócio. A agricultura diz respeito ao trabalho do agricultor, da preparação da terra à colheita ou venda dos animais.
O conceito de agronegócio vai além. Abarca a agricultura e inclui as indústrias que produzem insumos dos quais o agricultor lança mão, bem como a indústria que beneficia a produção agrícola e toda a distribuição dos produtos comercializados.
Essa ampla agricultura brasileira, que há muito deixou de ser mera exportadora de commodity, é baseada em forte aparato tecnológico. Falar de agricultura no Brasil atual é discorrer sobre um universo rural de alta tecnologia, do qual a população urbana desfruta, mas pouco vê.
Sementes adaptadas são desenvolvidas com grande esforço por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Aí vêm as máquinas agrícolas, os defensivos, os fertilizantes, o emprego da biotecnologia para modificação das variedades adaptadas.
E ainda temos técnicas de seleção genética, fertilização in vitro e clonagem, largamente empregadas na produção animal, inclusive de peixes.
A despeito do romantismo que pressupõe a atividade de criar, plantar e colher, a disputa entre cada elo da cadeia por maior fatia do lucro do setor nada tem de poética.
O elo mais frágil é o agricultor. Ainda que faça uso da tecnologia, como regra geral ele o faz, não há como superar essa condição de fragilidade, especialmente se o agricultor não tiver escala de produção.
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso. Não interessa ao agro ser uma ilha de prosperidade e, sim, um continente de sucesso.
Aumentar, fortalecer e consolidar uma classe média rural deve ser o esforço de todos, como foi com a classe média urbana.
Esse caminho só será possível se fizermos com que toda inovação e toda tecnologia existentes no país cheguem à maioria dos produtores. Hoje, poucos têm acesso ao aparato tecnológico existente.
O instrumento capaz de democratizar o saber e a tecnologia no campo é a rápida implementação de uma política de extensão rural ou de assistência técnica.
Qualificar tecnicamente os produtores para que façam escolhas corretas, para que formatem um plano de negócios e melhorem sua capacitação gerencial são tarefas absolutamente indispensáveis.
São esses instrumentos que nos permitirão multiplicar a produção de nossas terras, sem que se desmate uma única árvore sequer.
O ato de disseminar conhecimento e tecnologia é quase uma profissão de fé. É a forma mais sustentável e honesta de proteger as pessoas e os seus negócios.
Enquanto governos de vários países subvencionam suas agriculturas mundo afora, injetando bilhões de dólares no setor, aqui não existe uma agricultura subsidiada.
O produtor trabalha com o controle de custo na mão e, na hora de definir seu sistema de produção, busca, no mercado, as tecnologias desenvolvidas a duras penas pela Embrapa e pelos produtores de insumo.
Nossa escolha é a busca da inovação, que faz com que possamos superar desafios do danoso custo Brasil.
A agricultura brasileira -que hoje sustenta a balança comercial, gera mais de 1 milhão de empregos a cada ano e participa com 22,5% de toda a riqueza produzida na nação- não vive de benesses governamentais. E não se queixa disso.
Só nos países ricos a sociedade pode se dar ao luxo de bancar a ineficiência de setores da economia que se recusam a investir em tecnologia e inovação, e vivem à caça de subsídios.
Navegar é preciso - RAFAEL KELMAN
O ESTADÃO - 15/12
Boa parte da soja produzida no Centro-Oeste segue por rodovia por 2 mil km até o Porto de Santos, de onde é exportada. No caminho, os caminhões gastam muito combustível, emitem gases de efeito estufa, congestionam e esburacam as estradas. Melhor seria se a produção pudesse escoar pelos rios com economia de escala. Um comboio duplo no Tietê transporta 6 mil toneladas, o mesmo que 170 carretas que, em fila indiana, se estenderiam por 3,5 km. As hidrovias também não induzem a ocupação territorial desordenada e de alto impacto socioambiental, diferentemente de algumas rodovias.
O custo do frete de Sorriso (MT) até Santos é quatro vezes maior que o de Illinois até Nova Orleans pela hidrovia do Rio Mississippi. O Brasil seria mais competitivo se seguisse o exemplo norte-americano de utilização dos rios para transporte de grandes cargas por longas distâncias. Ou o exemplo europeu. A Holanda, por exemplo, com menos de 1% da área do Brasil, tem cinco vezes mais eclusas.
As Bacias do Araguaia-Tocantins e do Teles Pires-Tapajós são candidatas naturais a intervenções de engenharia que tornem a navegação possível da região produtora aos portos de exportação. No caso do Teles Pires Tapajós, o investimento seria da ordem de RS 6 bilhões, de acordo com um estudo do Ministério dos Transportes de 2010, o que eqüivale ao custo de frete de só três anos. Portanto, um ótimo investimento.
Ocorre que os rios da Bacia do Tapajós têm também importante papel a desempenhar para a produção de energia elétrica. É por isso que o governo considera que a navegação fluvial e a geração elétrica são empreendimentos vitais e não excludentes paia o desenvolvimento sustentável do País (Diretrizes para a Política Nacional de Transporte Hidro- viário, 2012). Apesar desse posicionamento e das óbvias vantagens econômicas e ambientais, as hidrovias não avançam. Por que será?
A principal razão c a inadequação do marco regulatório. É preciso mudar a forma de fazer concessões de uso dos rios, tanto em termos geográficos (deixariam de ser pontuais, onde estão as quedas d"água, e passariam a abranger trechos de rios) quanto em termos de escopo (uso múltiplo dos recursos hídricos). Neste modelo, o concessionário seria responsável por construir, operar e manter estruturas de produção de energia e de transporte de carga no trecho sob sua administração. Os contratos explicitariam o direito de cobrar pedágio, como ocorre com as estradas.
Nem todos os rios têm vocação para navegação. É claro, se não houver perspectiva de movimentação de cargas, não se deveria cogitar de construir eclusas. Nos rios onde a demanda de transporte no início de operação da hidrovia for insuficiente, é conveniente que se admita o aporte de recursos do Tesouro, nos moldes das Parcerias Público- Privadas.
Esse arranjo induziria à confecção de projetos voltados ao aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos, contrastando com a prática atual, em que a produção de energia é priorizada e os projetos de eclusas e canais de navegação são apresentados para cumprir exigência formal do processo de outorga.
É compreensível que o setor elétrico veja com desconfiança a inserção de mais uma dimensão - a navegação - no complexo processo de implantação das hidrelétricas, que já é objeto de forte oposição. Além disso, a entrada em cena da navegação imporia uma nova lógica ao sequenciamento das usinas, pois não faz sentido construir uma eclusa aqui e outra acolá. Assim como não faz sentido construir uma ponte sem que haja estrada nas duas margens.
Se tem sido extraordinariamente difícil construir hidrelétricas, sobretudo com reservatórios, não seria a hora de encarar o problema de maneira diferente, adotando um enfoque estratégico para o País? Como diria Einstein, não podemos resolver nossos problemas com o mesmo raciocínio que usamos pai a criá-los.
Boa parte da soja produzida no Centro-Oeste segue por rodovia por 2 mil km até o Porto de Santos, de onde é exportada. No caminho, os caminhões gastam muito combustível, emitem gases de efeito estufa, congestionam e esburacam as estradas. Melhor seria se a produção pudesse escoar pelos rios com economia de escala. Um comboio duplo no Tietê transporta 6 mil toneladas, o mesmo que 170 carretas que, em fila indiana, se estenderiam por 3,5 km. As hidrovias também não induzem a ocupação territorial desordenada e de alto impacto socioambiental, diferentemente de algumas rodovias.
O custo do frete de Sorriso (MT) até Santos é quatro vezes maior que o de Illinois até Nova Orleans pela hidrovia do Rio Mississippi. O Brasil seria mais competitivo se seguisse o exemplo norte-americano de utilização dos rios para transporte de grandes cargas por longas distâncias. Ou o exemplo europeu. A Holanda, por exemplo, com menos de 1% da área do Brasil, tem cinco vezes mais eclusas.
As Bacias do Araguaia-Tocantins e do Teles Pires-Tapajós são candidatas naturais a intervenções de engenharia que tornem a navegação possível da região produtora aos portos de exportação. No caso do Teles Pires Tapajós, o investimento seria da ordem de RS 6 bilhões, de acordo com um estudo do Ministério dos Transportes de 2010, o que eqüivale ao custo de frete de só três anos. Portanto, um ótimo investimento.
Ocorre que os rios da Bacia do Tapajós têm também importante papel a desempenhar para a produção de energia elétrica. É por isso que o governo considera que a navegação fluvial e a geração elétrica são empreendimentos vitais e não excludentes paia o desenvolvimento sustentável do País (Diretrizes para a Política Nacional de Transporte Hidro- viário, 2012). Apesar desse posicionamento e das óbvias vantagens econômicas e ambientais, as hidrovias não avançam. Por que será?
A principal razão c a inadequação do marco regulatório. É preciso mudar a forma de fazer concessões de uso dos rios, tanto em termos geográficos (deixariam de ser pontuais, onde estão as quedas d"água, e passariam a abranger trechos de rios) quanto em termos de escopo (uso múltiplo dos recursos hídricos). Neste modelo, o concessionário seria responsável por construir, operar e manter estruturas de produção de energia e de transporte de carga no trecho sob sua administração. Os contratos explicitariam o direito de cobrar pedágio, como ocorre com as estradas.
Nem todos os rios têm vocação para navegação. É claro, se não houver perspectiva de movimentação de cargas, não se deveria cogitar de construir eclusas. Nos rios onde a demanda de transporte no início de operação da hidrovia for insuficiente, é conveniente que se admita o aporte de recursos do Tesouro, nos moldes das Parcerias Público- Privadas.
Esse arranjo induziria à confecção de projetos voltados ao aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos, contrastando com a prática atual, em que a produção de energia é priorizada e os projetos de eclusas e canais de navegação são apresentados para cumprir exigência formal do processo de outorga.
É compreensível que o setor elétrico veja com desconfiança a inserção de mais uma dimensão - a navegação - no complexo processo de implantação das hidrelétricas, que já é objeto de forte oposição. Além disso, a entrada em cena da navegação imporia uma nova lógica ao sequenciamento das usinas, pois não faz sentido construir uma eclusa aqui e outra acolá. Assim como não faz sentido construir uma ponte sem que haja estrada nas duas margens.
Se tem sido extraordinariamente difícil construir hidrelétricas, sobretudo com reservatórios, não seria a hora de encarar o problema de maneira diferente, adotando um enfoque estratégico para o País? Como diria Einstein, não podemos resolver nossos problemas com o mesmo raciocínio que usamos pai a criá-los.
Ouro de tolos - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 15/12
Por mais distante que você tente se manter de toda essa guerra dos royalties, é justamente esse o desejo de políticos espertos e de algumas personalidades: levá-lo para o meio do campo da batalha política, como um soldado sem causa
As cenas a seguir são absurdas. Mas, vamos lá, faça um esforço. Imagine que, de uma hora para outra, o vizinho capixaba bate à porta e despeja um lote de impropérios, chegando mesmo a chamar você, nascido em Pernambuco, de aproveitador por querer tirar dinheiro do Espírito Santo. Ou suponha você, na verdade um capixaba ou talvez carioca, abordado por um paraibano que o chama de egoísta por não querer dividir o bolo orçamentário. Por mais distante que você tente se manter de toda essa guerra dos royalties, é justamente esse o desejo de políticos espertos e de algumas personalidades: levá-lo para o meio do campo da batalha política, como um soldado sem causa. Você, é claro, não tem nada com isso.
A disputa pelo futuro dinheiro do petróleo virou algo insano, em que todos se xingam, como na sessão de terça-feira, quando um deputado do baixo clero — tão baixo que ninguém sabia o nome — gritava “é sacanagem, sacanagem, é sacanagem...”. Pela indignação de botequim, parecia alguém irritado com o pedido de votação de urgência dos vetos da presidente Dilma Rousseff aos artigos de um projeto sobre redistribuição dos royalties, aquele dinheiro pago aos governos federal e estaduais pelas empresas exploradoras do petróleo. Diga-se que a discussão nunca passou pela eficiência na gestão dos recursos. Ao contrário. Ficou no bate-boca emotivo sobre quem merecia o dinheiro do ouro preto.
A estratégia de cariocas e de capixabas depois da aprovação do regime de urgência — o que levará o projeto para a pauta na próxima semana — foi culpar a falta de liderança de Dilma. O mal-estar aumentou quando a presidente disse que não havia mais nada o que fazer depois do veto à parte do texto. “Eu já fiz todos os pleitos. O maior foi vetar. Não tem nenhum gesto meu mais forte do que o veto. O resto seria impossível. Eu não vou impedir que ninguém vote de acordo com a sua consciência”, disse Dilma, em Moscou. Assim, foi acusada por cariocas e capixabas de não ter força. É uma injustiça tão grande quanto insuflar brasileiros de um estado contra brasileiros de outro a partir de passeatas com artistas.
A presidente fez o que pôde, como disse. Inclusive mandou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para coordenar uma entrevista coletiva há duas semanas sobre os vetos. O camarada se saiu tão bem — fazendo uma defesa tão eloquente sobre a necessidade de respeitar os contratos já assinados — que chegou a ser elogiado por parlamentares da oposição. Ou seja, Dilma vetou e se justificou cuidadosamente. Mas não adiantou. É razoável acreditar que tais brigas fazem parte do jogo político por espaço e orçamento. Chega a ser até aceitável, a partir de determinados argumentos, defender a manutenção das regras atuais para áreas licitadas e distribuir o bolo para os contratos futuros. O que é impensável é deixar você, meu caro leitor, contra o vizinho de porta. Esqueça.
Niemeyer
No último sábado, pedi aos leitores que imaginassem como seria o Congresso com o arquiteto Oscar Niemeyer no cargo de senador — algo factível em 1986, como mostrou este Correio. Entre as manifestações, uma chegou por carta. Em três laudas, Danilo Gomes escreveu que Niemeyer teria pouca paciência com o parlamento. “Ele não teria jogo de cintura e vocação para agüentar (faço questão do trema) oito anos no Senado (...). Em pouco tempo ele faria um histórico discurso de protesto e cairia fora, voltando para o seu amado Rio e para a sua prancheta, onde criou obras em inúmeros países.”
Outra coisa
A vida de um correspondente internacional parece glamourosa. O mundo real é diferente, entretanto, pelo menos para os repórteres honestos, aqueles capazes de fazer relatos crus e certeiros. É o caso de Andrei Netto, jornalista brasileiro baseado em Paris, que acaba de lançar O silêncio contra Muamar Kadafi (Companhia das Letras, 400 páginas, R$ 49,50). O texto de Andrei é em primeira pessoa e relata viagens à Líbia, incluindo o período da morte do ditador e o próprio sequestro, feito pelos milicianos pró-Kadafi. Andrei faz um belo making-of do trabalho de correspondente. Obrigatório a estudantes de jornalismo.
Por mais distante que você tente se manter de toda essa guerra dos royalties, é justamente esse o desejo de políticos espertos e de algumas personalidades: levá-lo para o meio do campo da batalha política, como um soldado sem causa
As cenas a seguir são absurdas. Mas, vamos lá, faça um esforço. Imagine que, de uma hora para outra, o vizinho capixaba bate à porta e despeja um lote de impropérios, chegando mesmo a chamar você, nascido em Pernambuco, de aproveitador por querer tirar dinheiro do Espírito Santo. Ou suponha você, na verdade um capixaba ou talvez carioca, abordado por um paraibano que o chama de egoísta por não querer dividir o bolo orçamentário. Por mais distante que você tente se manter de toda essa guerra dos royalties, é justamente esse o desejo de políticos espertos e de algumas personalidades: levá-lo para o meio do campo da batalha política, como um soldado sem causa. Você, é claro, não tem nada com isso.
A disputa pelo futuro dinheiro do petróleo virou algo insano, em que todos se xingam, como na sessão de terça-feira, quando um deputado do baixo clero — tão baixo que ninguém sabia o nome — gritava “é sacanagem, sacanagem, é sacanagem...”. Pela indignação de botequim, parecia alguém irritado com o pedido de votação de urgência dos vetos da presidente Dilma Rousseff aos artigos de um projeto sobre redistribuição dos royalties, aquele dinheiro pago aos governos federal e estaduais pelas empresas exploradoras do petróleo. Diga-se que a discussão nunca passou pela eficiência na gestão dos recursos. Ao contrário. Ficou no bate-boca emotivo sobre quem merecia o dinheiro do ouro preto.
A estratégia de cariocas e de capixabas depois da aprovação do regime de urgência — o que levará o projeto para a pauta na próxima semana — foi culpar a falta de liderança de Dilma. O mal-estar aumentou quando a presidente disse que não havia mais nada o que fazer depois do veto à parte do texto. “Eu já fiz todos os pleitos. O maior foi vetar. Não tem nenhum gesto meu mais forte do que o veto. O resto seria impossível. Eu não vou impedir que ninguém vote de acordo com a sua consciência”, disse Dilma, em Moscou. Assim, foi acusada por cariocas e capixabas de não ter força. É uma injustiça tão grande quanto insuflar brasileiros de um estado contra brasileiros de outro a partir de passeatas com artistas.
A presidente fez o que pôde, como disse. Inclusive mandou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para coordenar uma entrevista coletiva há duas semanas sobre os vetos. O camarada se saiu tão bem — fazendo uma defesa tão eloquente sobre a necessidade de respeitar os contratos já assinados — que chegou a ser elogiado por parlamentares da oposição. Ou seja, Dilma vetou e se justificou cuidadosamente. Mas não adiantou. É razoável acreditar que tais brigas fazem parte do jogo político por espaço e orçamento. Chega a ser até aceitável, a partir de determinados argumentos, defender a manutenção das regras atuais para áreas licitadas e distribuir o bolo para os contratos futuros. O que é impensável é deixar você, meu caro leitor, contra o vizinho de porta. Esqueça.
Niemeyer
No último sábado, pedi aos leitores que imaginassem como seria o Congresso com o arquiteto Oscar Niemeyer no cargo de senador — algo factível em 1986, como mostrou este Correio. Entre as manifestações, uma chegou por carta. Em três laudas, Danilo Gomes escreveu que Niemeyer teria pouca paciência com o parlamento. “Ele não teria jogo de cintura e vocação para agüentar (faço questão do trema) oito anos no Senado (...). Em pouco tempo ele faria um histórico discurso de protesto e cairia fora, voltando para o seu amado Rio e para a sua prancheta, onde criou obras em inúmeros países.”
Outra coisa
A vida de um correspondente internacional parece glamourosa. O mundo real é diferente, entretanto, pelo menos para os repórteres honestos, aqueles capazes de fazer relatos crus e certeiros. É o caso de Andrei Netto, jornalista brasileiro baseado em Paris, que acaba de lançar O silêncio contra Muamar Kadafi (Companhia das Letras, 400 páginas, R$ 49,50). O texto de Andrei é em primeira pessoa e relata viagens à Líbia, incluindo o período da morte do ditador e o próprio sequestro, feito pelos milicianos pró-Kadafi. Andrei faz um belo making-of do trabalho de correspondente. Obrigatório a estudantes de jornalismo.
Monopólio do atraso - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 15/12
SÃO PAULO - Contrariando o mito da eficiência americana, o consulado dos EUA em São Paulo transformou o sistema de distribuição de vistos numa pequena calamidade, frustrando os planos de um bom número de brasileiros que pretendia viajar para a América e nela despejar uma quantidade ainda maior de dólares. Nesse quesito, o pessoal do consulado rivaliza com a nossa valorosa Polícia Federal, que já revelou toda sua incompetência organizacional na fila dos passaportes.
Essa novela dos vistos, entretanto, serve para chamar a atenção para o problema do monopólio dos Correios, para o qual normalmente não damos muita bola. Vale lembrar que a presente crise começou depois que a ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), reclamando seu privilégio legal, obteve na Justiça uma liminar que impedia o consulado de usar os serviços da DHL para devolver os passaportes a seus donos. A medida acabou sendo cassada, mas aí o caos já estava instalado.
A pergunta crucial é: faz sentido que a ECT detenha o monopólio na distribuição de cartas, cartões-postais e correspondência agrupada, como determina a lei nº 6.538/78? O Supremo, que se debruçou sobre a questão em 2009, entendeu que a reserva é constitucional, mas não é preciso ser um gênio da logística para perceber que essa é uma disposição anacrônica e contraproducente.
Se o privilégio já fez sentido numa época em que os Correios eram o único modo de levar informação através de longas distâncias e era preciso obter economia de escala para assegurar preços baixos e uniformes, tal lógica perdeu toda a razão de ser em tempos de informática e telefonia avançada, em que se discute a própria sobrevivência das cartas físicas.
Vale aqui o princípio geral de que devemos desconfiar das exclusividades. Sempre que um grupo ganha o direito de fazer algo em caráter monopolístico, o mais provável é que a sociedade esteja perdendo.
SÃO PAULO - Contrariando o mito da eficiência americana, o consulado dos EUA em São Paulo transformou o sistema de distribuição de vistos numa pequena calamidade, frustrando os planos de um bom número de brasileiros que pretendia viajar para a América e nela despejar uma quantidade ainda maior de dólares. Nesse quesito, o pessoal do consulado rivaliza com a nossa valorosa Polícia Federal, que já revelou toda sua incompetência organizacional na fila dos passaportes.
Essa novela dos vistos, entretanto, serve para chamar a atenção para o problema do monopólio dos Correios, para o qual normalmente não damos muita bola. Vale lembrar que a presente crise começou depois que a ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), reclamando seu privilégio legal, obteve na Justiça uma liminar que impedia o consulado de usar os serviços da DHL para devolver os passaportes a seus donos. A medida acabou sendo cassada, mas aí o caos já estava instalado.
A pergunta crucial é: faz sentido que a ECT detenha o monopólio na distribuição de cartas, cartões-postais e correspondência agrupada, como determina a lei nº 6.538/78? O Supremo, que se debruçou sobre a questão em 2009, entendeu que a reserva é constitucional, mas não é preciso ser um gênio da logística para perceber que essa é uma disposição anacrônica e contraproducente.
Se o privilégio já fez sentido numa época em que os Correios eram o único modo de levar informação através de longas distâncias e era preciso obter economia de escala para assegurar preços baixos e uniformes, tal lógica perdeu toda a razão de ser em tempos de informática e telefonia avançada, em que se discute a própria sobrevivência das cartas físicas.
Vale aqui o princípio geral de que devemos desconfiar das exclusividades. Sempre que um grupo ganha o direito de fazer algo em caráter monopolístico, o mais provável é que a sociedade esteja perdendo.
Vários tons de cinza em 2013 - ALKIMAR R. MOURA E ANTONIO C. MANFREDINI OLIVEIRA
O ESTADÃO - 15/12
Na história recente do Brasil, poucos anos apresentaram desafio tão intratável para a construção de cenários econômicos quanto 2013. As dificuldades de realizar tal exercício para 2013 são muitas, começando por entender a situação da economia do País no final de 2012, com a surpreendente combinação de desaceleração do crescimento do PIB, inflação acima do centro da meta e um mercado de trabalho com indícios de plena ocupação. Esse cenário indigesto não fazia parte das previsões para este ano, realizadas há um ano pelos analistas do setor privado, do setor público e do mundo acadêmico.
Parece haver relativo consenso de que o desempenho recente da economia foi determinado por fatores ligados à demanda agregada. O mais significativo componente para explicar o crescimento do PIB parece ter sido a expansão do consumo das famílias e dos indivíduos, movido pelo incremento do emprego, da renda e, sobretudo, o notável crescimento do crédito bancário. Mas tal ciclo de expansão esbarra em limites definidos, seja do lado da demanda de crédito, pelo comprometimento da renda familiar com encargos do endividamento, seja pelo lado da oferta, pelo aumento da taxa de inadimplência sobretudo entre novos tomadores de empréstimos. Não se pode esperar, pois, a repetição do movimento de consumo movido a crédito para 2013.
O componente demanda do setor público enfrenta restrições ligadas à necessidade de geração de superávit primário. Do lado externo, pesam sobre a economia global três incógnitas interdependentes: a resolução do "abismo fiscal" dos EUA, a crise da dívida soberana na região da Eurolândia e o desempenho da economia chinesa. É difícil, pois, esperar um desempenho robusto da economia internacional em 2013. Por último, a taxa de investimento se reduziu nos últimos períodos. Assim, não é provável que a demanda agregada contribua para o crescimento em 2013.
Entre as opiniões convergentes sobre os desafios imediatos está a necessidade de abordar problemas que têm se acumulado do lado da oferta agregada. Especialmente saliente e não independente é a necessidade de promover as reformas e aumentar o nível de investimentos. Quanto ao último ponto, há pelo menos quatro aspectos ligados ao setor público que não têm contribuído para fazê-los deslanchar. O governo tem se atrapalhado em seu próprio jogo. São quatro tons de cinza: 1) qualidade da gestão dos empreendimentos do PAC; 2) desenho dos processos de concessão/privatização; 3) independência e qualidade das agências reguladoras; e 4) natureza distorciva dos recursos oriundos do BNDES. Nos quatro casos, o governo conspira contra os desejados investimentos, em geral, e contra os em infraestrutura, especificamente.
O primeiro tom de cinza vem desde os tempos de Lula, quando Dilma foi ungida a mãe do PAC. No novo governo, a presidente tornou-o a principal meta do Ministério do Planejamento. Ainda assim, problemas de implantação e gestão, basicamente associados à máquina pública, impedem o programa de deslanchar, mesmo após cinco anos e duas fases. Em parte, por reconhecer limitações de gestão, o governo decidiu abrir à iniciativa privada investimentos em infraestrutura. A estreia com os aeroportos não foi encorajadora e o próprio governo reconhece que o desenho do processo causou seleção adversa: trouxe concessionários nem sempre entre os mais desejáveis. A nova fase de concessões (portos, ferrovias) até agora não augura resultados auspiciosos. Problemas de desenho nas concessões ainda afugentam investidores desejáveis.
Muito se debateu a interferência do Executivo nas agências reguladoras, que deveriam ser instrumentos de Estado, independentes de governos. Isso estaria conspirando para afugentar potenciais investimentos em infraestrutura. Recentes episódios de indicação de gestores não qualificados para agências certamente não ajudaram a solucionar o problema - apenas somaram ingerência indevida à desqualificação e corrupção no coração das agências. Tom cinza pesado.
Por fim, há um problema de financiamento associado aos investimentos. A fonte generosa de recursos do BNDES tem sido, nos últimos anos, o Tesouro. O repasse oculta subsídios, diminuindo a transparência e a credibilidade da política fiscal. Não ajuda que pareça uma manifestação macroeconômica do efeito de contabilidade mental estudado em economia comportamental.
Os quatro problemas são originados de escolhas governamentais que, possivelmente, poderiam ser alteradas com certa facilidade. Nada impede que o governo mude a qualidade da gestão (se aceitar terceirizá-la em parte). Nada obsta o desenho de processos de concessão que evitem seleção adversa e, pois, atraiam interessados mais qualificados. Nada bloqueia a busca e indicação de gestores qualificados e independentes para as agências reguladoras. E nada torna impossível a mudança das fontes de financiamento do BNDES.
A paleta de investimentos pode ser menos monocromática e o futuro, mais brilhante.
Ueba! Natal do peru alagado! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 15/12
Eu tenho a foto da Clarice gritando "Vai Corinthians". Vai ser tema de discussão na Flip! Rarará!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta direto de Curitiba: "Corintiano esquece que é foragido, sai com a camisa do clube e dá de cara com a polícia". Coitado! Mano azarado!
E adorei a charge do NeoCorreia. Recado da Dilma pro Sarney: "Não Mexa Em Nada". Isso! Não aperta nenhum botão pelo amor de Deus! Presidente de bigode nem o diabo pode! E o Alckmin disse que pode usar o helicóptero pra buscar o neto no aeroporto porque ele é governador 24h! Ganhou o apelido de Caixa Eletrônico! Rarará!
E a chuva? Cuspiram na gente e acho que foi um argentino! Foi o Pipo, o técnico do Tigre! E ontem o programa do Datena deu 23 pontos. De alagamento! São Paulo alaga tanto que já tá encavalando alagamento. Já tem alagamento esperando no acostamento. Neste ano o peru vai fazer glub glub glub, em vez de glu glu glu. O Natal do peru alagado!
E amanhã! Timão X Chelsea! Timão X Chelssi Tamo Ino! Amanhã os mano infarta! Engarrafamento de ambulância do Samu! Zona Leste tem piripaque. E como é domingo, os manos não vão precisar de atestado médico! Se o Timão ganhar, se preparem! Eles gastaram todo o dinheiro da mistura em rojão!
E quer zicar o Timão? O site CornetaFC revela quatro zicas poderosas. 1) Bota o nome dos jogadores na boca de um sapo, amarra e enterra. Um programa bem fofo pra fazer domingo cedinho. 2) Compra um frango, coloca o nome do Cássio e assa! Aquele frangão de domingo. Frangão do Timão. 3) Alfinetar um boneco do Tite durante o jogo. E quatro, a zica mais poderosa: tocar o CD da Xuxa ao contrário! Rarará!
E sabe quem foi a autora do grito "Vai Corinthians"? Clarice Lispector. É verdade! Eu tenho a foto da Clarice gritando "Vai Corinthians". Vai ser tema de discussão na Flip! Rarará!
E esta: "Polícia americana descobre plano para sequestrar, castrar e matar Justin Bieber". Credo, até que ponto vai a irritação dos ouvintes! E castrado ele já tá. Com aquela voz fina, castrati! Queriam cortar o bieber do Bieber! Rarará!
E a Dilma atinge recorde de popularidade de novo! Tomou Red Bull! Vai furar a camada de ozônio! E eu já disse que a Dilma atinge recorde de popularidade porque esse é o Ano do Dragão! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Os ex-presidentes - ALDO FORNAZIERI
O ESTADÃO - 15/12
As especulações acerca da possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato ao governo do Estado de São Paulo em 2014, ou até mesmo à Presidência da República, suscitam a oportunidade para discutir o papel político de um ex-presidente. Antes de tudo, há que registrar que essas especulações têm sido negadas pelo próprio Lula.
Na contemporaneidade, dois americanos - Jimmy Carter e Bill Clinton - poderiam ser adotados como modelos analíticos para se discutir uma possível tipologia de conduta de ex-presidentes. Jimmy Carter constitui o modelo por excelência: depois de sair derrotado na busca de um segundo mandato presidencial, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2002 e o reconhecimento e a admiração gerais por se dedicar a causas humanitárias universais. Bill Clinton, numa escala talvez um pouco menor, também exerce atividades nada desprezíveis, mobilizando recursos e vontades ligadas a causas humanitárias e a necessidades de grupos específicos. Esses dois ex-presidentes dos Estados Unidos criaram fundações ou institutos, preservam o seu legado e proferem palestras, levantando recursos seja para fins humanitários ou particulares.
Como exemplos de causas humanitárias e universais podem ser indicadas a luta pela paz mundial ou pela paz em conflitos localizados; o desarmamento nuclear; as lutas pela redução da fome, da miséria e da pobreza; a luta contra epidemias; o combate ao racismo e às discriminações; a luta pelo reconhecimento e por direitos de grupos sociais, sexuais e minorias étnicas; a questão ambiental, etc.
Se levarmos em conta apenas a atividade dos ex-presidentes brasileiros que foram eleitos diretamente e terminaram os seus mandados - Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT) -, podemos dizer que, grosso modo, não chega a haver uma diferença substantiva entre ambos. Fernando Henrique e Lula constituíram institutos, proferem conferências, intervêm em assuntos políticos conjunturais, participam de campanhas e desenvolvem atividades em seus respectivos partidos. O que há é uma variação de ênfases e de intensidade: Lula é mais assertivo na atividade política cotidiana. Já Fernando Henrique tende a se vincular a causas mais gerais.
Lula saiu do governo com um capital político maior do que o levado por Fernando Henrique. Por isso mesmo corre maiores riscos e terá de dedicar mais empenho para preservá-lo. O que pareceria recomendável, nessas circunstâncias, é uma ação orientada pela prudência, visando a manter o que alcançou e, na medida do possível, ampliar o que já tem em termos de reconhecimento e de conteúdo historicamente significativo. Mas o petista, ao que parece, dispõe-se a pôr o seu capital político em risco, com intervenções e apostas impetuosas. Mais cauteloso, Fernando Henrique, buscando preservar o que obteve, dispõe-se a correr riscos calculados e, na medida do possível, acrescentar algo mais ao que já conquistou.
Ser ex-presidente parece não ser uma tarefa nada fácil. Depois de ter ocupado a magistratura máxima do país, tudo o que fizer em termos políticos hodiernos terá um significado menor do que aquilo que já fez como presidente e correrá maiores riscos de desgaste. É justamente por isso que o aconselhável é que um ex-presidente se volte para atividades e causas de caráter humanista e universalizante. Do ponto de vista da política interna, deveria tornar-se uma espécie de conselheiro da nação, do povo, e do presidente em exercício. Deveria também conter-se para se pronunciar apenas em momentos históricos decisivos, em situações de crise, de dúvidas, emitindo conselhos positivos e expressando uma conduta exemplar. Essa tipologia de conduta acrescentaria a um ex-presidente mais reconhecimento e respeito.
O problema da conduta de um ex-presidente diz respeito ao que ele quer deixar como legado histórico. É de supor que uma pessoa que alcança a Presidência da República, além de deixar uma obra significativa para a História, busque alcançar a honra e a glória imorredoura, que era o objetivo perseguido pelos grandes líderes e estadistas do mundo antigo. Nesse sentido, um presidente que não seja um mero aproveitador das circunstâncias nem aja movido por vaidade e cobiça, que exerça a política por vocação e queira deixar um legado, buscará imprimir aos seus atos um sentido de grandeza e heroicidade.
O protótipo de herói, como nos mostra Hannah Arendt, foi Aquiles, que, depois de realizar grandes feitos, morreu jovem, impedindo que o tempo arruinasse o que havia conseguido. Alcançou assim a imortalidade da glória eterna.
Ninguém pode exigir a mesma coisa de um presidente ou de um ex-presidente. Com o desaparecimento do sentido trágico da existência (e da política), os políticos que não sucumbem à fama efêmera do momento têm a alternativa de buscar o heroísmo épico com o qual se procura contribuir de forma singular para a construção da História da nação. Ulisses, guiado pela astúcia e pela prudência, poderia servir de modelo.
Resta discutir o retorno de Lula. Ser governador de um Estado brasileiro é algo menor do que ser presidente da República, fator que representaria uma descapitalização do significado histórico do ex-presidente. Quanto ao retorno à Presidência, excetuando a trágica normalidade da pobreza e da desigualdade, o Brasil não vive um momento de excepcionalidade que requeira a presença de um "homem imprescindível", aos moldes de um Franklin Delano Roosevelt, que teve quatro mandados sucessivos.
A volta proporciona o risco de produzir resultados aquém daquilo que já se realizou. No retorno não há mais o vigor e a força do primeiro momento. Uma volta só se justificaria se o Brasil corresse grande perigo ou sofresse grave ameaça. Na experiência brasileira, na volta ao poder Getúlio Vargas teve de se resgatar com um tiro no coração.
As especulações acerca da possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser candidato ao governo do Estado de São Paulo em 2014, ou até mesmo à Presidência da República, suscitam a oportunidade para discutir o papel político de um ex-presidente. Antes de tudo, há que registrar que essas especulações têm sido negadas pelo próprio Lula.
Na contemporaneidade, dois americanos - Jimmy Carter e Bill Clinton - poderiam ser adotados como modelos analíticos para se discutir uma possível tipologia de conduta de ex-presidentes. Jimmy Carter constitui o modelo por excelência: depois de sair derrotado na busca de um segundo mandato presidencial, ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2002 e o reconhecimento e a admiração gerais por se dedicar a causas humanitárias universais. Bill Clinton, numa escala talvez um pouco menor, também exerce atividades nada desprezíveis, mobilizando recursos e vontades ligadas a causas humanitárias e a necessidades de grupos específicos. Esses dois ex-presidentes dos Estados Unidos criaram fundações ou institutos, preservam o seu legado e proferem palestras, levantando recursos seja para fins humanitários ou particulares.
Como exemplos de causas humanitárias e universais podem ser indicadas a luta pela paz mundial ou pela paz em conflitos localizados; o desarmamento nuclear; as lutas pela redução da fome, da miséria e da pobreza; a luta contra epidemias; o combate ao racismo e às discriminações; a luta pelo reconhecimento e por direitos de grupos sociais, sexuais e minorias étnicas; a questão ambiental, etc.
Se levarmos em conta apenas a atividade dos ex-presidentes brasileiros que foram eleitos diretamente e terminaram os seus mandados - Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT) -, podemos dizer que, grosso modo, não chega a haver uma diferença substantiva entre ambos. Fernando Henrique e Lula constituíram institutos, proferem conferências, intervêm em assuntos políticos conjunturais, participam de campanhas e desenvolvem atividades em seus respectivos partidos. O que há é uma variação de ênfases e de intensidade: Lula é mais assertivo na atividade política cotidiana. Já Fernando Henrique tende a se vincular a causas mais gerais.
Lula saiu do governo com um capital político maior do que o levado por Fernando Henrique. Por isso mesmo corre maiores riscos e terá de dedicar mais empenho para preservá-lo. O que pareceria recomendável, nessas circunstâncias, é uma ação orientada pela prudência, visando a manter o que alcançou e, na medida do possível, ampliar o que já tem em termos de reconhecimento e de conteúdo historicamente significativo. Mas o petista, ao que parece, dispõe-se a pôr o seu capital político em risco, com intervenções e apostas impetuosas. Mais cauteloso, Fernando Henrique, buscando preservar o que obteve, dispõe-se a correr riscos calculados e, na medida do possível, acrescentar algo mais ao que já conquistou.
Ser ex-presidente parece não ser uma tarefa nada fácil. Depois de ter ocupado a magistratura máxima do país, tudo o que fizer em termos políticos hodiernos terá um significado menor do que aquilo que já fez como presidente e correrá maiores riscos de desgaste. É justamente por isso que o aconselhável é que um ex-presidente se volte para atividades e causas de caráter humanista e universalizante. Do ponto de vista da política interna, deveria tornar-se uma espécie de conselheiro da nação, do povo, e do presidente em exercício. Deveria também conter-se para se pronunciar apenas em momentos históricos decisivos, em situações de crise, de dúvidas, emitindo conselhos positivos e expressando uma conduta exemplar. Essa tipologia de conduta acrescentaria a um ex-presidente mais reconhecimento e respeito.
O problema da conduta de um ex-presidente diz respeito ao que ele quer deixar como legado histórico. É de supor que uma pessoa que alcança a Presidência da República, além de deixar uma obra significativa para a História, busque alcançar a honra e a glória imorredoura, que era o objetivo perseguido pelos grandes líderes e estadistas do mundo antigo. Nesse sentido, um presidente que não seja um mero aproveitador das circunstâncias nem aja movido por vaidade e cobiça, que exerça a política por vocação e queira deixar um legado, buscará imprimir aos seus atos um sentido de grandeza e heroicidade.
O protótipo de herói, como nos mostra Hannah Arendt, foi Aquiles, que, depois de realizar grandes feitos, morreu jovem, impedindo que o tempo arruinasse o que havia conseguido. Alcançou assim a imortalidade da glória eterna.
Ninguém pode exigir a mesma coisa de um presidente ou de um ex-presidente. Com o desaparecimento do sentido trágico da existência (e da política), os políticos que não sucumbem à fama efêmera do momento têm a alternativa de buscar o heroísmo épico com o qual se procura contribuir de forma singular para a construção da História da nação. Ulisses, guiado pela astúcia e pela prudência, poderia servir de modelo.
Resta discutir o retorno de Lula. Ser governador de um Estado brasileiro é algo menor do que ser presidente da República, fator que representaria uma descapitalização do significado histórico do ex-presidente. Quanto ao retorno à Presidência, excetuando a trágica normalidade da pobreza e da desigualdade, o Brasil não vive um momento de excepcionalidade que requeira a presença de um "homem imprescindível", aos moldes de um Franklin Delano Roosevelt, que teve quatro mandados sucessivos.
A volta proporciona o risco de produzir resultados aquém daquilo que já se realizou. No retorno não há mais o vigor e a força do primeiro momento. Uma volta só se justificaria se o Brasil corresse grande perigo ou sofresse grave ameaça. Na experiência brasileira, na volta ao poder Getúlio Vargas teve de se resgatar com um tiro no coração.
Hórario Lindbergh de verão - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém
O GLOBO - 15/12
Ao sair, ainda da antessala, ligou para alguém, comemorando o feito:
— Acabo de ficar três horas e meia com a presidente!
Um ministro da casa confirma:
— Realmente, ele ficou muito tempo. Não saberia precisar. Mas, seguramente, não foram três horas e meia. Para isso, teria que ter participado de toda a agenda da presidente, o que, com certeza, não aconteceu.
A um petista do Rio, o senador:
— Fiquei, na verdade, duas horas e vinte minutos.
Dois dias depois, Lindbergh já informava não ter passado de uma hora sua conversa com a Dilma, o que já seria muita coisa.
E encerrou a semana reconhecendo que a audiência não passou de meia hora, o mesmo tempo admitido por um ministro, que esperava despacho com a presidente.
Versões e...
Agora vem o mais importante: o que conversaram durante tanto tempo?
Lindbergh jura que foi ao Planalto ouvir instruções de como deve se comportar até Dilma e Lula conseguirem convencer Cabral que a candidatura Pezão é inviável.
Fatos
Assim que lindinho saiu do gabinete, Dilma ligou para Cabral.
Não que quisesse dar satisfação ao governador. Pelo contrário, ainda como candidata, certa vez, botou para correr quem sugeriu que, diante do falatório, deveria contar a Cabral o encontro secreto que tivera com Garotinho.
Dilma ligou para Cabral, mas para contar que Lindbergh e ela tiveram uma boa conversa sobre os royalties.
E para dizer que incumbiu o senador de transmitir sua posição a Cabral.
Olha aí, Cabral
O que fazia Dilma aos 12 minutos das 12 horas do dia 12 de dezembro?
Estava no hotel De la Cité, ouvindo o prefeito Bertrand Delanoë falar que Paris é o Brasil da Europa, “alegre e criativa”.
— E solidária — completou Dilma, pelo asilo dado aos brasileiros que deixaram o país, por causa da ditadura.
Roto X Esfarrapado
A ingrata bancada do PMDB se prepara para trair a quem sempre lhe deu as mãos: Eduardo Cunha, candidato a líder.
Lançaram a candidatura alternativa do deputado Sandro Mabel.
Vai ser uma disputa acirradíssima, já que ambos têm o mesmo prontuário.
Cada um alega ter mais tempo de partido que o outro.
Assim, não querem bater chapas.
Querem bater carteiras. (De filiação partidária)
Licença
Em Roma, como os romanos, Gilmar Mendes me liga para dizer que só volta em janeiro.
Partiu com a certeza de que o voto de Celso de Mello será o voto de Celso de Mello.
Apresentou-me razões práticas contra a disputa inútil entre Judiciário e Legislativo:
— A Câmara dará licença para o deputado cumprir pena?
Bela defesa
Por falar nisso, a advogada Adrienne Sena disse que bota o marido para fora de casa, se Jobim fizer as pazes com Gilmar.
O ódio é tanto que, ao saber que Gilmar está processando Zé de Abreu, ofereceu-se para defender o ator.
Maracatu
Aldo Rebelo convidou Jorge Mautner, a quem chama de “O profeta da pátria”, para ser consultor cultural do Ministério dos Esportes.
Impasse
Antônio Pedro, secretário de Turismo do Rio, criou um gatil no Sambódromo para abrigar gatos abandonados. Já são mais de 200, que terão de deixar o local no carnaval por causa dos fogos que abrem os desfiles de cada escola.
Os amigos da bicharada preferem que os desfiles sejam feitos sem fogos do que ver os gatinhos fora da nova morada.
Desafio para o ator Cláudio Cavalcanti, novo secretário de proteção aos animais.
Vovó Noé
Dilma vai aproveitar viagem a Porto Alegre para trazer Gabrielzinho para passar o Natal com ela em Brasília.
Lindas, as três
Kelly Mattos, atenta repórter da RBS, acha que Manu D’Ávila está com os cabelos iguais aos da Carolina Dieckmann, quando era Leona.
TRABALHO QUE ALIMENTA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 15/12
Oscar Niemeyer, que faria 105 anos hoje, posou em julho para Paula Klien em seu escritório na avenida Atlântica. Uma das imagens foi para a exposição "Edible", que a fotógrafa fez no Rio -o retrato ao lado é inédito. Na ocasião, Paula perguntou ao arquiteto de que ele se alimentava, um dos temas da mostra. Niemeyer respondeu: "Me alimento de trabalho todos os dias".
DEUS UNE
A TV Globo recebeu a visita da Confederação dos Conselhos de Pastores Evangélicos em seus estúdios recentemente. Sugeriu que os pastores organizassem um calendário nacional com os grandes eventos evangélicos para fornecer à emissora carioca.
ALELUIA
Entre os eventos que teriam cobertura maior está a Marcha para Jesus, manifestação religiosa que chega a reunir mais de 300 mil pessoas em passeata em SP. Em contrapartida, os evangélicos apoiariam iniciativas da Globo como o festival de música gospel Promessas, que será exibido hoje.
DO CORAÇÃO
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, tirou do armário a camiseta do São Paulo. Um dia depois da conquista do título da Copa Sul-Americana de futebol, vestiu o uniforme tricolor para ir às sessões de fisioterapia.
STF VERSUS CONGRESSO
E outros integrantes do Supremo estavam preocupados ontem com a possibilidade de o ministro Luiz Fux dar liminar suspendendo a votação, pelo Congresso, do veto da presidente Dilma Rousseff que garante ao Rio e ao Espírito Santo a atual distribuição dos royalties do petróleo. Acham que o momento é o pior possível: o da discussão da perda de mandato de parlamentares condenados no mensalão.
TÃO DELICADO
Os dois temas são delicados, já que neles se discute até que ponto o STF invade ou não atribuições exclusivas do parlamento. Até magistrados que defendem que o STF determine a cassação acham que, em casos de suspensão de deliberação do Congresso, todos os ministros deveriam participar da discussão -e não apenas um, decidindo por liminar.
PADILHA NA ESTRADA
Quem passar pela rodovia Presidente Dutra hoje, na altura do pedágio Arujá, vai topar com o ministro Alexandre Padilha (Saúde).
Ele vai panfletar e conversar com motoristas sobre o risco de beber e dirigir.
EU GOSTO DE TEATRO
Luiz Villaça, que estreou na direção teatral no ano passado, ensaia agora seu segundo espetáculo: "A Descida do Monte Morgan", de Arthur Miller.
No elenco, Ary França, Lavinia Pannunzio, Ju Colombo e Paula Ravache, entre outros. A estreia será em março, no teatro do Masp.
LAERTE MONROE
O cartunista Laerte, que se veste como mulher, será capa da próxima edição da revista gay "Junior".
Ele mesmo fez uma ilustração em que é retratado em "versão tropical" de Marilyn Monroe no filme "Diamonds are a Girl's Best Friend".
NARRATIVA
Deficientes visuais de sete instituições, como o Instituto Benjamin Constant e a Fundação Dorina Nowill, ganharão audiobooks dos 12 livros finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura deste ano. O material será doado pelo instituto Oi Futuro.
É PIQUE
A empresária Maythe Birman reuniu as amigas no restaurante Fasano para comemorar seu aniversário. A estilista Lilly Sarti e a ex-modelo Marina Sanvicente foram cumprimentá-la.
TRAÇOS
O livro "Roberto Loeb", sobre a obra do arquiteto, foi lançado anteontem na galeria Marilia Razuk, em São Paulo. Silvana Rosso com a filha Annita e Sergio e Kati Loeb passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
A galeria Zipper inaugura hoje, a partir das 14h, a exposição coletiva "Imagem Mi(g)rante".
Cássio Reis apresenta hoje a campanha Dê uma Mãozinha para o Boldrini, do hospital de câncer infantil Boldrini, em Campinas. O telefone para doar R$ 10 é 0500-3787-010.
A Baby.com fechou parceria com o hospital Albert Einstein para oferecer uma lembrança às mães que tiverem seus bebês lá.
O modelo brasileiro Marlon Teixeira estampa a capa da "Vogue Itália".
Reviravolta - SONIA RACY
O ESTADÃO - 15/12
Gleisi Hoffmann entrega a Dilma, semana que vem, proposta neste sentido. A ministra da Casa Civil foi convencida pelos senadores Ana Amélia e Cyro Miranda.
Reviravolta 2
Ana Maria Machado, presidente da ABL, responsável por organizar as normas da nova ortografia, reage com preocupação ao adiamento de três anos,visto que o Brasil já se adaptou. “Como vai ser? Os livros já impressos serão recolhidos? Confesso que, a esta altura, nada me espanta.”
A academia, entretanto, só se posicionará oficialmente caso a mudança ocorra.
Ave euro
Se a valorização do euro ante o real continuar, o São Paulo receberá quase 10% a mais pela venda de Lucas ao PSG. O valor acertado, em agosto, foi de 43 milhões de euros.
E os R$ 107,5 milhões na época pularam para atuais R$ 117 milhões. O dinheiro cai na conta do clube em janeiro.
Au revoir
Lucas embarca para a Europa ainda este ano. Mas não decidiu se passa o réveillon em Paris. A outra opção é o Qatar, país do patrocinador do PSG.
Antes, porém, descansará na Riviera de São Lourenço.
Ponte aérea
Márcio Rosa, procurador-geral de Justiça de SP, tem voado semanalmente a Brasília para tentar convencer parlamentares a barrar a PEC 37, que veta o poder de investigação do Ministério Público.
Aliás, foi lançado ontem, em SP, manifesto contra a tramitação da proposta no Congresso.
Sensualidade
E a Editora Paralela continua na onda dos eróticos best sellers. Para Sempre Sua, de Sylvia Day–último da série Crossfire –, deve sair em maio.
Com as mãos
Se todo corintiano anda nervoso com a final de amanhã, contra o Chelsea, tem quem não dormiu por causa do jogo de hoje entre Timão e Vasco da Gama. É a final do Brasileirão... de futebol americano.
Mais insones? O técnico Marco Nessi e o quarterback americano Casey Frost.
Mistério no céu
Poucos entenderam a lógica do plano de Dilma de construir 860 aeroportos (um para cada seis cidades no Brasil) –baseado no modelo europeu –, em 30 anos.
Esta coluna procurou investidores, empreiteiros e empresas aéreas e ninguém se arriscou a comentar publicamente a ideia. A Anac avisou que não era com ela. EWagner Bittencourtpassou o dia de ontem na Casa Civil.
Nas internas, as críticas são fortes.
Con te partirò
Além de enfrentar trânsito caótico quinta à noite, fãs de Andrea Bocelli sofreram com a falta de infraestrutura no Jockey Club. Chão cheio de barro, assentos molhados, capas de chuva a R$ 20 cada, falta de estacionamento e despreparo dos atendentes. Houve gritos, brigas e reclamações. Muita gente foi embora.
Lembrete: na área VIP, o ingresso médio custava R$ 1,5 mil.
A conferir
Corre que a Abril comprou a rede de escolas de inglês Wise Up.
No hablo...
E Lula “escorregou” em discurso na Catalunha, anteontem. Ao receber prêmio durante evento de promoção da cultura local e reforço ao separatismo, o ex-presidente pediu desculpas por não falar catalão... em espanhol.
Na frente
. Cacique tucano não entende por que os petistas defendem Lula usando o recém-publicado índice de aprovação popular de... Dilma.
. Reinaugurado, o Copacabana Palace terá quadra de tênis a partir de segunda-feira. Quando começa o Grand Champions Rio.
. Milton Nascimento se apresenta no SESC Itaquera no domingo. Parte das comemorações do Ano de Portugal no Brasil. Participam do espetáculo a Orquestra Heliópolis, o maestro Cesário Costa, os artistas António Zambujo e Carminho, além de Roberta Sá.
. A sunset party Clubinho tem edição hoje. Com direito à bateria da Mangueira, no Espaço Villa Lobos.
. Correção: é hoje a abertura da exposição de colagens de Aurelio Martinez Flores. Na Galeria Raquel Arnaud.
. E os quase 500 judeus brasileiros corintianos que estão em Tóquio ganham festa de... Hanukkah. Promovida pelo Beit Chabad.
'É um avião' - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 15/12
O relatório da Operação Porto Seguro sobre autoridades com foro privilegiado mostra a proximidade do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado no mensalão, com o ex-diretor da Agência Nacional de Águas Paulo Vieira. Em março, Valdemar diz por telefone ao ex-prefeito de Lorena Marcelo Bustamante que Vieira é "um craque, um avião". "É nosso irmão, nosso amigo, faz parte do nosso time." Vieira é acusado de comandar esquema de tráfico de influência.
Tentáculos Em outro diálogo interceptado, Valdemar diz a Vieira que vai almoçar com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e quer encontrá-lo em seguida. "Tô com o prefeito aqui'', diz o deputado do PR.
Na alegria... O relatório da PF assinala a intimidade de Rosemary Noronha com José Dirceu. Em conversa com Paulo Vieira em 12 de novembro, ela conta que passaria o feriado da Proclamação da República na Bahia com o ex-ministro da Casa Civil e que também o acompanhou no feriado de Finados. "Eu converso bastante com ele.''
... e na tristeza Vieira sonda Rose se Dirceu estaria "com cabeça" para resolver questões que o texto da PF não detalha. A ex-assessora da Presidência diagnostica: "Ele não pode ficar preso dentro de casa. A vida corre''.
Multiplicação O anúncio, feito por Dilma Rousseff, de 800 novos aeroportos regionais no país se transformou numa saia justa para a Infraero e para a Secretaria de Aviação Civil. O número está errado, mas ninguém quer corrigir a presidente.
Modesto O estudo, ainda em fase de conclusão na SAC, prevê a construção de 200 novos aeroportos de menor capacidade, o que, por si só, já representa mais que o dobro do número de aeroportos desse tipo existentes hoje.
Saúde... Em licença médica prolongada do Senado desde agosto, Blairo Maggi (PR-MT) tem viajado com frequência a Brasília, onde participa de reuniões para tentar articular uma troca de partido sem perder o mandato.
... de ferro O senador licenciado também fez recente viagem à China para tratar de negócios de suas empresas.
Cidade limpa De um tucano diante da nomeação do kassabista Ricardo Teixeira para o secretariado de Fernando Haddad (PT): "Sua primeira ação pelo meio ambiente poderia ser retirar todas as faixas e placas de apoio ao Serra que espalhou pela cidade nas eleições''.
Digitais O comando da transição paulistana identifica o vereador eleito Paulo Fiorillo como o mentor da rebelião da bancada petista na Câmara contra o critério de indicação técnica para o comando das subprefeituras, anunciado por Haddad.
Não muda Geraldo Alckmin está propenso a não dividir mais as atuais atribuições da Casa Civil. Aliados aconselharam o governador paulista que um esvaziamento da principal pasta do governo não seria bom politicamente, e que a reforma administrativa dependeria de difícil negociação com a Assembleia.
Fórmula Para implementar um controle maior dos projetos em andamento, justificativa de Alckmin para dividir a pasta, o Bandeirantes estuda turbinar a Secretaria de Gestão Pública, hoje meramente burocrática.
Sem teto O PT de Belo Horizonte está ameaçado de despejo do prédio locado na capital mineira. Petistas alegam que a arrecadação do partido caiu desde que quase 800 militantes deixaram a gestão do prefeito Márcio Lacerda, reeleito em outubro.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Somos todos iguais perante a Constituição. Portanto, as acusações de Marcos Valério contra Lula devem ser investigadas."
DO SENADOR PEDRO TAQUES (PDT-MT), sobre o depoimento do empresário à Procuradoria-Geral da República, que envolve o ex-presidente no mensalão.
contraponto
Com a devida vênia
Sem poder encerrar o julgamento do mensalão devido à ausência do ministro Celso de Mello, o STF retomou a análise de outros processos. No debate do primeiro caso, a ministra Rosa Weber votava quando ouviu-se o hino do Flamengo em alto e bom som no plenário, para espanto de todos. Era o toque do celular de Marco Aurélio Mello, que, constrangido rapidamente desligou o telefone. Ao fim do voto da colega, ele pediu a palavra:
-Queria pedir desculpas à colorada Rosa Weber.
-Como o meu Inter é vermelho como o seu Flamengo, vossas desculpas estão aceitas -, respondeu a ministra.
Arrocho já - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 15/12
Ei, você aí, me dá um dinheiro...
Os parlamentares da base do governo estão com os nervos à flor da pele. Ocorre que em sete de dezembro o governo fechou o Siafi e eles estão sem notícias sobre a liberação das emendas parlamentares até agora. Ontem, o governo abriu o sistema para obras do PAC. No ano passado, o governo liberou PAC e emendas parlamentares. Este ano, por causa da crise, só PAC. Os líderes estão de plantão, em Brasília, pedindo providências para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). As assessorias parlamentares dos ministérios e os funcionários que liberam os recursos estão tensos também. Faltam apenas oito dias úteis para fechar o ano.
“Hoje (sexta-feira)
comemoramos nove anos da expulsão do PT. Orgulho deter sido expulsa pelos mensaleiros!”
Luciana Genro Dirigente do PSOL-RS
O petróleo é nosso
No encontro em Moscou, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou o que a presidente Dilma queria ouvir. A estatal russa Gazprom vai investir, a partir do ano que vem, US$ 1 bilhão na exploração de petróleo no Rio Solimões (AM).
Articulação
O ministro Luiz Fux (STF) vai se posicionar sobre o primeiro mandado de segurança pedindo para suspender a votação do veto dos royalties. Ele foi impetrado, na noite de quarta-feira, pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o deputado Leonardo
Picciani (PMDB-RJ). Seu texto foi preparado pelo chefe da Casa Civil do Rio, Régis Fichtner.
Cidinha no governo Cabral
O governador Sérgio Cabral (PMDB) vai ampliar o cacife do PDT em seu governo. Para isso, vai criar uma nova secretaria, a de Defesa do Consumidor. No dia 1º de fevereiro, a deputada Cidinha Campos (PDT) assumirá a nova pasta.
De olho na Copa do Mundo
Os administradores do Castelão romperam o pool dos donos de estádios e fizeram um acordo com as operadoras de celular para ampliar a capacidade de recepção e transmissão de fotos, filmes e mensagens da nova “Arena”. Amanhã, a presidente Dilma e o governador Cid Gomes (CE) não vão ficar isolados do mundo na inauguração do estádio com um show de Raimundo Fagner.
PSB sai do governo Agnelo
O PSB pulou fora do governo Agnelo Queiroz (PT), no Distrito Federal. Mas seu secretário do Turismo, Luiz Otávio, que fora indicado pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSDB-DF), decidiu permanecer e ainda rasgou sua ficha de filiação.
Ministro simpatia
O ministro Gastão Vieira (Turismo) fez do limão uma limonada. A pasta proibiu liberar emendas para pagar artistas e bandas. Mas permitiu que os parlamentares a trocassem por gastos em obras de infraestrutura e já liberou R$ 600 milhões.
A PRESIDENTE DILMA decidiu passar o Natal em Brasília com a família. Na semana do Ano Novo, passará uns dias na Base de Aratu, na Bahia.
Lula deve, sim, explicações - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 15/12
Pelo mais elementar bom senso, a vítima de acusações caluniosas é sempre a principal interessada na imediata e rigorosa apuração das maquinações que a atingem, para que a verdade cristalina venha à tona, eliminando qualquer resquício de dúvida sobre uma reputação ilibada. Por que, então, diante da torrente de denúncias que têm colocado a reverenciada figura de Luiz Inácio Lula da Silva na berlinda, ele próprio e o PT têm preferido atacar a se defender, esforçando-se para desqualificar liminarmente os acusadores e as acusações? Por que a presidente Dilma Rousseff, que vinha primando por manter prudente distância do mar de sujeira que ameaça o lulopetismo, decidiu agora mobilizar o governo na tentativa de blindar seu padrinho? Por que não exigem, todos, que se abra rapidamente uma investigação oficial do Ministério Público que coloque em pratos limpos toda essa infamante campanha articulada pelas forças do mal para destruir Lula e o PT? Afinal, quem não deve não teme.
Mas a verdade, e é por isso que o lulopetismo anda batendo cabeça em evidente sintoma de pânico, é que Lula deve, sim. Deve, pelo menos, muitas explicações à Nação.
Muitos preferem não ver, outros não conseguem, mas o desapreço do Grande Chefe por aquilo que os petistas ideológicos chamam de "moral burguesa" é marca registrada de seu comportamento. Até mesmo como chefe de governo, Lula deu claras demonstrações desse desvio de conduta nas várias oportunidades em que, ao longo de seus dois mandatos, não hesitou em tratar publicamente com indulgência ou com inconveniente deboche os companheiros "aloprados" pegos com a boca na botija. E despediu-se da Presidência demonstrando em grande estilo como se sente "mais igual" do que todo mundo, ao ordenar ao obsequioso chanceler Celso Amorim que, ao arrepio da lei, distribuísse passaportes diplomáticos para toda a sua prole. E logo depois, já como ex-presidente, "a convite" do então ministro da Defesa, foi refestelar-se às expensas do agradecido povo brasileiro em dependências do Exército nas praias do Guarujá. Comportamento típico de quem se considera todo-poderoso, acima do bem e do mal. Não exatamente de alguém que, como apregoam seus acólitos, ostenta "reputação ilibada".
Lula, portanto, deve realmente muitas explicações ao País. Mas prefere, com o apoio da habitual corte de bajuladores e beneficiários de sua liderança, fazer aquilo em que ele próprio e o PT são craques: atacar.
A estratégia para blindá-lo está se desenvolvendo em vários planos: no comando do partido, na base aliada e nos quadros governamentais, por decisão, até certo ponto surpreendente, de Dilma Rousseff. Vários ministros já procuraram jornalistas para protestar contra a "falsidade impressionante" das denúncias que envolvem o Grande Chefe.
A direção nacional do PT, por sua vez, divulgou mais uma nota oficial, desta vez conclamando a militância, parlamentares e governadores a "expressarem sua indignação diante de mais esse ataque, essa sucessão de mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com setores do Ministério Público, insiste em continuar veiculando". Como de hábito em manifestações de autoria de Rui Falcão, boa parte da nota, e do depoimento gravado veiculado pelo site oficial do PT, dedica-se a atacar a imprensa, porque dá ouvidos às mentiras de "um condenado". Para o PT, definitivamente, Marcos Valério não está entre os condenados injustamente pelo STF.
Na base aliada, além do notório José Sarney, para quem Lula está acima de qualquer suspeita, agora Fernando Collor - logo quem! -, dá uma mãozinha, como presidente da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, ao fogo de encontro solicitado pelo líder petista na Câmara, Jilmar Tatto: propôs o convite a FHC e ao procurador-geral Roberto Gurgel para deporem sobre supostas irregularidades cometidas, no passado, sob suas respectivas responsabilidades. Como explicou Tatto, "se eles querem guerra, vão ter".
Não há dúvida. Pela primeira vez, desde que chegou ao governo em 2003, Lula sentiu um golpe. Pela primeira vez teme as consequências dos seus atos.
Esta história está apenas começando.
0 rei está nu - JAYME EDUARDO MACHADO
ZERO HORA - 15/12
A partir das bolsinhas, o seu reino alcançou altos índices de desenvolvimento social
Era uma vez, no palácio de um reino distante, um monarca muito vaidoso, mas muito amado pelo seu povo. Suas grandes virtudes: a generosidade e a persuasão. Pela generosidade, queria que todos os pobres ficassem ricos como ele. Pela persuasão, a todos convencia. E todos o ouviam, e todos acreditavam no que ele dizia. Era tido por sábio, principalmente quando dizia que não sabia.
Mas, desde que foi coroado, se angustiava com o pesadelo de um dia não ser mais rei. Afinal, à coroa tudo devia, pois com ela tudo podia. Adorava viajar. Tudo com o dinheiro arrecadado dos súditos que pagavam rigorosamente os impostos ao tesouro do rei, temerosos de que, caso os sonegassem, ele mandasse soltar os leões famintos que mantinha, para esse fim, numa jaula junto à estrebaria do palácio. Mas o de que ele mais gostava mesmo era de passear pelas terras do seu reino numa bela carruagem que de tão grande tinha até um compartimento escuro do lado oposto àquele do cocheiro. Lá _ cochichavam as fofoqueiras do reino _ se ele quisesse (?) até que poderia levar alguma cortesã, que no palácio elas eram abundantes. Era preciso eternizar seu governo.
A melhor ideia foi encomendar aos tecelões da aldeia milhares de bolsinhas de pano, que mandou distribuir aos mais pobres. Cheias de moedinhas, para que, segundo se dizia, não precisassem mais trabalhar, nem escolher outro rei. Com isso, aumentou o número de cavalos e de carretas pelas trilhas do reino _ embora continuassem péssimas _, dando muito trabalho aos seleiros, carpinteiros e a todos os trabalhadores. Inclusive aos curandeiros, pois os afetados pelas pestes continuavam amontoados, e até morrendo nas precárias enfermarias do reino. Mas isso não aparecia, e, a partir das bolsinhas, o seu reino alcançou o que, no futuro, passaria a se chamar de altos índices de desenvolvimento social.
Pois foi então que o mais esperto dos tecelões mandou ao palácio dois malandros para vender ao rei vaidoso um tecido jamais visto, de uma seda mágica que, de tão linda, só pessoas estúpidas ou incompetentes seriam incapazes de admirá-la. Embora não tenha enxergado nada do que os embusteiros afirmavam estar mostrando, mas para não passar por estúpido, concordou com eles. Seus acólitos _ que no futuro seriam chamados "puxa-sacos" _ também não quiseram passar por ignorantes, muito menos contrariar seu soberano e encomendaram o "traje" para um desfile inaugural. Não sem antes seus marqueteiros _ que então já os havia mas com o nome de arautos _ tratarem de bolar uma sigla para tirar proveito político, relacionando o traje do rei com o fim da pobreza. E a escolhida foi IDS, que fazia combinar o tecido (i)nvisível (d)e (s)eda com os altos (i)ndices de (d)esenvolvimento (s)ocial de seu governo.
Pois foi enquanto o rei desfilava trajando seu flamante IDS imaginário, que uma criança, na sua inocência, gritou: "Coitadinho, o rei está nu!". E é quando todos ganham coragem para dizer a verdade e repetem em coro: "O rei está nu! O rei está nu...!"
Mas aí já era tarde, porque, temendo que tivesse que fugir se descobrissem tudo, antes de deixar o palácio o rei passou a chave para sua filha...
(O articulista agradece à alma de Hans Christian Andersen, autor do conto "A roupa nova do rei", o prazer de sua leitura).
A partir das bolsinhas, o seu reino alcançou altos índices de desenvolvimento social
Era uma vez, no palácio de um reino distante, um monarca muito vaidoso, mas muito amado pelo seu povo. Suas grandes virtudes: a generosidade e a persuasão. Pela generosidade, queria que todos os pobres ficassem ricos como ele. Pela persuasão, a todos convencia. E todos o ouviam, e todos acreditavam no que ele dizia. Era tido por sábio, principalmente quando dizia que não sabia.
Mas, desde que foi coroado, se angustiava com o pesadelo de um dia não ser mais rei. Afinal, à coroa tudo devia, pois com ela tudo podia. Adorava viajar. Tudo com o dinheiro arrecadado dos súditos que pagavam rigorosamente os impostos ao tesouro do rei, temerosos de que, caso os sonegassem, ele mandasse soltar os leões famintos que mantinha, para esse fim, numa jaula junto à estrebaria do palácio. Mas o de que ele mais gostava mesmo era de passear pelas terras do seu reino numa bela carruagem que de tão grande tinha até um compartimento escuro do lado oposto àquele do cocheiro. Lá _ cochichavam as fofoqueiras do reino _ se ele quisesse (?) até que poderia levar alguma cortesã, que no palácio elas eram abundantes. Era preciso eternizar seu governo.
A melhor ideia foi encomendar aos tecelões da aldeia milhares de bolsinhas de pano, que mandou distribuir aos mais pobres. Cheias de moedinhas, para que, segundo se dizia, não precisassem mais trabalhar, nem escolher outro rei. Com isso, aumentou o número de cavalos e de carretas pelas trilhas do reino _ embora continuassem péssimas _, dando muito trabalho aos seleiros, carpinteiros e a todos os trabalhadores. Inclusive aos curandeiros, pois os afetados pelas pestes continuavam amontoados, e até morrendo nas precárias enfermarias do reino. Mas isso não aparecia, e, a partir das bolsinhas, o seu reino alcançou o que, no futuro, passaria a se chamar de altos índices de desenvolvimento social.
Pois foi então que o mais esperto dos tecelões mandou ao palácio dois malandros para vender ao rei vaidoso um tecido jamais visto, de uma seda mágica que, de tão linda, só pessoas estúpidas ou incompetentes seriam incapazes de admirá-la. Embora não tenha enxergado nada do que os embusteiros afirmavam estar mostrando, mas para não passar por estúpido, concordou com eles. Seus acólitos _ que no futuro seriam chamados "puxa-sacos" _ também não quiseram passar por ignorantes, muito menos contrariar seu soberano e encomendaram o "traje" para um desfile inaugural. Não sem antes seus marqueteiros _ que então já os havia mas com o nome de arautos _ tratarem de bolar uma sigla para tirar proveito político, relacionando o traje do rei com o fim da pobreza. E a escolhida foi IDS, que fazia combinar o tecido (i)nvisível (d)e (s)eda com os altos (i)ndices de (d)esenvolvimento (s)ocial de seu governo.
Pois foi enquanto o rei desfilava trajando seu flamante IDS imaginário, que uma criança, na sua inocência, gritou: "Coitadinho, o rei está nu!". E é quando todos ganham coragem para dizer a verdade e repetem em coro: "O rei está nu! O rei está nu...!"
Mas aí já era tarde, porque, temendo que tivesse que fugir se descobrissem tudo, antes de deixar o palácio o rei passou a chave para sua filha...
(O articulista agradece à alma de Hans Christian Andersen, autor do conto "A roupa nova do rei", o prazer de sua leitura).