ZERO HORA - 21/11
Era cedo da manhã e eu estava na sacada do meu apartamento lendo o jornal e pegando um pouco de sol. Foi quando a escavadeira começou o seu serviço. Com um barulho irritante, foi demolindo uma casa onde vivia uma velhinha miúda e briguenta. Não raro eu a via em plena calçada, de roupão, discutindo com algum vizinho. O que será que aconteceu a ela? Espero que esteja bem, mas sua casa morreu de morte matada.
No fim daquele mesmo dia, havia tudo sido posto abaixo. Pilares, paredes, telhado. Do ponto de vista de onde eu estava, a casa me pareceu pequena, uma miniatura insignificante. Mas nunca será insignificante um lugar onde foram criados filhos, onde refeições em família aconteceram, onde Natais foram celebrados, onde amigos foram recebidos e onde houve um jardim. Casas possuem algo de sagrado.
Nunca morei em casa, sempre em apartamentos que serviram de cenário para a história de vida que construí. O da Rua Fabrício Pillar, onde passei a infância, o da Dom Pedro II, onde vivi a adolescência, o da Lavras, onde morei sozinha, o da Mariz e Barros, onde escrevi meus poemas e tive minhas filhas, o da João Obino, onde as criei e comecei a escrever crônicas, e este onde vivo agora, num andar alto em que posso observar boa parte da cidade e o estrago que algumas escavadeiras fazem em volta.
Tenho ótimas lembranças dos meus ex-apartamentos, mas, se os edifícios em que se localizam fossem demolidos, a nostalgia seria repartida entre muitos, não me sentiria atingida de forma especial. Casa tem um status diferente. Cada casa é única. Traz o DNA da família. Não é produto de classificados.
Não moro em casa porque sou prática, gosto de bater a porta e não me preocupar com questões de segurança, além de fazer questão de vista panorâmica. Mas não deixo de admirar as casas de rua, casas passadas de pais para filhos, casas teimosas que se mantêm de pé a despeito das escavadeiras. Toda casa é uma sobrevivente, deveria exibir na porta uma medalha pela resistência.
Esse preâmbulo todo é pra falar do novo livro da Cintia Moscovich, Essa Coisa Brilhante que é a Chuva, onde ela reúne contos primorosos, com um humor muito peculiar e uma humanidade que nos nocauteia. O mais longo, que encerra o livro, narra a história de uma casa e de uma família.
“Uma forma de herança”, chama-se, e comove profundamente, pois traz à tona o que está mais que evidenciado: as escavadeiras andam passando por cima das nossas eternidades. Hoje não preservamos as matrizes da nossa história, viramos cidadãos dispersados, cada um sob seu teto. A solidão, quem diria, também pode ser um subproduto da especulação imobiliária.
A Feira acabou, mas os livros seguem no mercado. Anote: Essa Coisa Brilhante que é a Chuva, de Cintia Moscovich. Se você acha o título longo e difícil de guardar, decore ao menos uma palavra: brilhante.
quarta-feira, novembro 21, 2012
De PT, Ayres e egos - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 21/11
Foi preciso o discreto e recatado Ayres Britto se aposentar para que se prestasse atenção nele, como presidente, e não só no relator ou no revisor
Poucos dias depois que a Executiva Nacional do PT lançou uma nota oficial criticando as condenações da Ação Penal 470, vulgo mensalão, e acusando o STF de “instaurar um clima de insegurança jurídica no país”, o ex-presidente da Corte Carlos Ayres Britto, que acaba de se aposentar, deu uma longa entrevista aos repórteres Valdo Cruz e Felipe Seligman, da “Folha de S.Paulo”. Entre as duas manifestações, a do partido e a do ministro, há um abismo. Lendo o que ele disse e sabendo de sua inatacável reputação, é impossível admitir sem má-fé que esse poeta e filósofo declaradamente “contemplativo”, “espiritualista”, adepto da física quântica, da meditação e de um violão, íntegro, sereno e sensato, tenha permitido que a Casa presidida por ele tivesse sido capaz de “partidarizar” o julgamento, fazendo política em vez de justiça, entre outros desvios jurídicos como falta de isenção, “transferência do ônus da prova aos réus”, “transformação de indícios em provas”, “penas desproporcionais”.
É bom lembrar que, paradoxalmente, todas essas queixas-denúncias foram apresentadas justamente pelo partido no qual Ayres Britto militou durante 18 anos e pelo qual ainda nutre uma mal disfarçada simpatia, ressaltando, por exemplo, que o mensalão “não é o julgamento do PT; são réus que ocuparam cargos de direção no PT”. Ao analisar o que ele considera ser o esgotamento da “fase ideológica” do PSDB e do PT, com perda do que os gregos chamam de “Deus dentro da gente”, entusiasmo, ou seja, “aquele ímpeto depurador das instituições”, Britto adverte: “Não podemos ser injustos, porque o PT continua com quadros muito bons.” E cita o caso do governador Tarso Genro, “que chegou a escrever um artigo a favor do Supremo”.
Quando lhe foi perguntado se houve “traição” e se os presidentes petistas erraram nas nomeações, já que, dos dez ministros do julgamento, sete foram indicados por Lula ou Dilma, ele respondeu: “A nossa postura técnica, independente, isenta, desassombrada, é uma postura que honra os nomeantes. Não só os nomeados.” E aproveitou para esclarecer que Lula nunca “se aproximou para cobrar, fazer queixa”
Diante das homenagens que lhe estão sendo prestadas, é curioso observar que foi preciso o discreto e recatado Ayres Britto se aposentar para que se prestasse atenção nele, presidente, e não só no relator e no revisor. Uma questão de mais ou de menos ego.
Foi preciso o discreto e recatado Ayres Britto se aposentar para que se prestasse atenção nele, como presidente, e não só no relator ou no revisor
Poucos dias depois que a Executiva Nacional do PT lançou uma nota oficial criticando as condenações da Ação Penal 470, vulgo mensalão, e acusando o STF de “instaurar um clima de insegurança jurídica no país”, o ex-presidente da Corte Carlos Ayres Britto, que acaba de se aposentar, deu uma longa entrevista aos repórteres Valdo Cruz e Felipe Seligman, da “Folha de S.Paulo”. Entre as duas manifestações, a do partido e a do ministro, há um abismo. Lendo o que ele disse e sabendo de sua inatacável reputação, é impossível admitir sem má-fé que esse poeta e filósofo declaradamente “contemplativo”, “espiritualista”, adepto da física quântica, da meditação e de um violão, íntegro, sereno e sensato, tenha permitido que a Casa presidida por ele tivesse sido capaz de “partidarizar” o julgamento, fazendo política em vez de justiça, entre outros desvios jurídicos como falta de isenção, “transferência do ônus da prova aos réus”, “transformação de indícios em provas”, “penas desproporcionais”.
É bom lembrar que, paradoxalmente, todas essas queixas-denúncias foram apresentadas justamente pelo partido no qual Ayres Britto militou durante 18 anos e pelo qual ainda nutre uma mal disfarçada simpatia, ressaltando, por exemplo, que o mensalão “não é o julgamento do PT; são réus que ocuparam cargos de direção no PT”. Ao analisar o que ele considera ser o esgotamento da “fase ideológica” do PSDB e do PT, com perda do que os gregos chamam de “Deus dentro da gente”, entusiasmo, ou seja, “aquele ímpeto depurador das instituições”, Britto adverte: “Não podemos ser injustos, porque o PT continua com quadros muito bons.” E cita o caso do governador Tarso Genro, “que chegou a escrever um artigo a favor do Supremo”.
Quando lhe foi perguntado se houve “traição” e se os presidentes petistas erraram nas nomeações, já que, dos dez ministros do julgamento, sete foram indicados por Lula ou Dilma, ele respondeu: “A nossa postura técnica, independente, isenta, desassombrada, é uma postura que honra os nomeantes. Não só os nomeados.” E aproveitou para esclarecer que Lula nunca “se aproximou para cobrar, fazer queixa”
Diante das homenagens que lhe estão sendo prestadas, é curioso observar que foi preciso o discreto e recatado Ayres Britto se aposentar para que se prestasse atenção nele, presidente, e não só no relator e no revisor. Uma questão de mais ou de menos ego.
A favor do feriado - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 21/11
RIO DE JANEIRO - De quarta-feira até ontem à noite, o Brasil teve uma semana de feriado. Mesmo para os nossos padrões, deve ser recorde. Você dirá: Outros países não costumam enforcar tantos dias entre um feriado e outro. Eu responderia: Mas, em matéria de férias, direitos trabalhistas, assistência médica, aposentadoria etc., tudo neles difere de nós, não? Eles têm cidades em que os feriados são tão chatos que é melhor trabalhar.
Os brasileiros mais responsáveis deploram esse festival de feriados e forcas, e lamentam os dias em que, com as fábricas e boa parte do comércio fechadas, o país para, a produção estaciona, o desenvolvimento emperra. Mas será assim tão trágico? Os dias de vadiagem não trarão compensações em outras categorias?
Por exemplo: nos feriados, brasileiros e brasileiras multiplicam o seu quociente de beijos, abraços e carícias, sem contar as vias de fato -se incluirmos os turistas estrangeiros, tal quociente irá à estratosfera.
Os dias vazios convidam à maciça entrega mútua, do que se beneficiam bares, restaurantes, táxis, motéis. E a venda de Viagra, óleos e camisinhas? Alguém já calculou o que isso rende?
Nesses dias, aumenta também o índice de bocejos, sonecas, noites bem-dormidas e recuperação de sono atrasado. Além dos benefícios para a produtividade dos cidadãos quando eles voltarem de pilha nova ao trabalho, imagine a indispensável providência para se passar dias de molho: abarrotar a geladeira. Dispara o movimento nos supermercados, padarias e lojas de conveniência -quanto não vale isso em milhões?
Os shoppings, praias, hotéis, aviões e aeroportos bombam. E vende-se mais gasolina, protetor solar, cachorro-quente e biscoito Globo do que nunca. Enfim, muitos setores progridem e se expandem. Só diminui a corrupção -pelo fechamento das repartições oficiais. Viva o feriado.
RIO DE JANEIRO - De quarta-feira até ontem à noite, o Brasil teve uma semana de feriado. Mesmo para os nossos padrões, deve ser recorde. Você dirá: Outros países não costumam enforcar tantos dias entre um feriado e outro. Eu responderia: Mas, em matéria de férias, direitos trabalhistas, assistência médica, aposentadoria etc., tudo neles difere de nós, não? Eles têm cidades em que os feriados são tão chatos que é melhor trabalhar.
Os brasileiros mais responsáveis deploram esse festival de feriados e forcas, e lamentam os dias em que, com as fábricas e boa parte do comércio fechadas, o país para, a produção estaciona, o desenvolvimento emperra. Mas será assim tão trágico? Os dias de vadiagem não trarão compensações em outras categorias?
Por exemplo: nos feriados, brasileiros e brasileiras multiplicam o seu quociente de beijos, abraços e carícias, sem contar as vias de fato -se incluirmos os turistas estrangeiros, tal quociente irá à estratosfera.
Os dias vazios convidam à maciça entrega mútua, do que se beneficiam bares, restaurantes, táxis, motéis. E a venda de Viagra, óleos e camisinhas? Alguém já calculou o que isso rende?
Nesses dias, aumenta também o índice de bocejos, sonecas, noites bem-dormidas e recuperação de sono atrasado. Além dos benefícios para a produtividade dos cidadãos quando eles voltarem de pilha nova ao trabalho, imagine a indispensável providência para se passar dias de molho: abarrotar a geladeira. Dispara o movimento nos supermercados, padarias e lojas de conveniência -quanto não vale isso em milhões?
Os shoppings, praias, hotéis, aviões e aeroportos bombam. E vende-se mais gasolina, protetor solar, cachorro-quente e biscoito Globo do que nunca. Enfim, muitos setores progridem e se expandem. Só diminui a corrupção -pelo fechamento das repartições oficiais. Viva o feriado.
Do tempo das águas turvas - DIANA CORSO
ZERO HORA - 21/11
“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar um Ku Klux Klan, é país perdido para altos destinos.” Publicado na revista Bravo, edição 165, o trecho acima faz parte de uma carta enviada por Monteiro Lobato para um destinatário tão entusiasta da eugenia quanto ele próprio. Antes de ser ventilado o racismo de Lobato, lembro de ter enfrentado um constrangimento pessoal por suas posições.
Tinha o hábito de ler suas histórias para minhas filhas pequenas. Nos deliciávamos ao vê-lo trazer para nosso quintal um exército de personagens clássicos.
O ogro verde Shrek, nascido no século seguinte, foi muito elogiado por mixar e recriar os contos de fadas. Só que no Brasil já estávamos habituados a essas paródias graças à irreverência de Lobato. Peter Pan, Gato Félix, anjos e seres mágicos da mitologia, da literatura e do folclore confraternizam no Sítio do Picapau Amarelo. Era empolgante essa mestiçagem na ficção, algo que aparentemente ele não aprovava na vida real.
Quando apareceram expressões inaceitáveis alusivas à Tia Nastácia, minhas filhas se revoltaram e perderam o entusiasmo pelo Sítio. Acabaram reincidindo, não há menina brasileira que tenha crescido alheia às reinações de Narizinho. Aliás, é bom lembrar que ela casou com o príncipe peixe do Reino das Águas Claras sem nenhum preconceito! Essa pequena crise doméstica deixou-me claro que hoje banhamo-nos em outras águas, bem menos turvas.
Nosso tempo não perdoa o racismo. Hoje é inaceitável a incoerência de valores entre vida pessoal e obra. A hipocrisia, embora eterna, perdeu espaço. Como valorizar algo feito por aqueles que a história condenou? É sempre bom lembrar que os campos de extermínio nazista derramavam sua fumaça fétida sobre as comunidades que viviam coladas a eles.
Como era possível àquela gente conviver com esse horror? Condenando Lobato ao ostracismo, banindo suas obras, julgamos que nada se aproveita de alguém assim. Seria o mesmo que condenar todo o legado cultural da população da Alemanha e da Polônia pelo que promoveu. O julgamento é justo e necessário, mas separar o joio do trigo vale a pena. Principalmente porque as crianças precisam saber que o autor genial, assim como o cidadão vizinho ao campo, eram pessoas comuns como nós.
Eles cometeram muitos erros e, mesmo hoje, nenhum de nós está livre de imitá-los. Covardia é furtar-se a esse debate com filhos e alunos. A propósito, ontem foi o Dia da Consciência Negra, data pensada para lembrar as atrocidades que somos capazes de cometer.
“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar um Ku Klux Klan, é país perdido para altos destinos.” Publicado na revista Bravo, edição 165, o trecho acima faz parte de uma carta enviada por Monteiro Lobato para um destinatário tão entusiasta da eugenia quanto ele próprio. Antes de ser ventilado o racismo de Lobato, lembro de ter enfrentado um constrangimento pessoal por suas posições.
Tinha o hábito de ler suas histórias para minhas filhas pequenas. Nos deliciávamos ao vê-lo trazer para nosso quintal um exército de personagens clássicos.
O ogro verde Shrek, nascido no século seguinte, foi muito elogiado por mixar e recriar os contos de fadas. Só que no Brasil já estávamos habituados a essas paródias graças à irreverência de Lobato. Peter Pan, Gato Félix, anjos e seres mágicos da mitologia, da literatura e do folclore confraternizam no Sítio do Picapau Amarelo. Era empolgante essa mestiçagem na ficção, algo que aparentemente ele não aprovava na vida real.
Quando apareceram expressões inaceitáveis alusivas à Tia Nastácia, minhas filhas se revoltaram e perderam o entusiasmo pelo Sítio. Acabaram reincidindo, não há menina brasileira que tenha crescido alheia às reinações de Narizinho. Aliás, é bom lembrar que ela casou com o príncipe peixe do Reino das Águas Claras sem nenhum preconceito! Essa pequena crise doméstica deixou-me claro que hoje banhamo-nos em outras águas, bem menos turvas.
Nosso tempo não perdoa o racismo. Hoje é inaceitável a incoerência de valores entre vida pessoal e obra. A hipocrisia, embora eterna, perdeu espaço. Como valorizar algo feito por aqueles que a história condenou? É sempre bom lembrar que os campos de extermínio nazista derramavam sua fumaça fétida sobre as comunidades que viviam coladas a eles.
Como era possível àquela gente conviver com esse horror? Condenando Lobato ao ostracismo, banindo suas obras, julgamos que nada se aproveita de alguém assim. Seria o mesmo que condenar todo o legado cultural da população da Alemanha e da Polônia pelo que promoveu. O julgamento é justo e necessário, mas separar o joio do trigo vale a pena. Principalmente porque as crianças precisam saber que o autor genial, assim como o cidadão vizinho ao campo, eram pessoas comuns como nós.
Eles cometeram muitos erros e, mesmo hoje, nenhum de nós está livre de imitá-los. Covardia é furtar-se a esse debate com filhos e alunos. A propósito, ontem foi o Dia da Consciência Negra, data pensada para lembrar as atrocidades que somos capazes de cometer.
Veta, Dilma I - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 21/11
Veta, Dilma II...
Casagrande vem com o prefeito eleito de Vitória, Luciano Rezende, deputados federais e senadores do estado.
Veta, Dilma III...
Cabral também convidou Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, para a passeata.
O paulista ficou de pensar.
Veta, Dilma IV...
O estado de São Paulo também perde com a roubalheira dos royalties.
Mas alguns municípios paulistas ganham com o butim.
Os favoritos
Os alemães da Thyssen, dona da Companhia Siderúrgica do Atlântico, que está à venda, chamaram a CSN e a Techint para uma rodada final de conversa.
O encontro será esta semana.
Hora e vez de Dirceu
Do grande produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão, para um curioso que queria saber sobre o estado de espírito do seu amigo Zé Dirceu, condenado no mensalão:
— Ele está como o personagem Augusto Matraga, de Guimarães Rosa: cuidando de suas feridas.
No mais
No país de Joaquim Barbosa, diz o IBGE, apenas 13% dos juízes, profissão mais bem remunerada da nação, são pretos ou pardos.
Chica da Silva
Aderbal Freire-Filho, o querido diretor, escreveu e vai dirigir em 2013 um musical sobre a vida de Chica da Silva, a famosa escrava mineira que já virou filme, novela, samba-enredo.
O MinC autorizou a Showbrás Produções a captar R$ 1.961.350.
Itaparica em festa
João Ubaldo Ribeiro, 71 anos, o grande escritor membro da ABL, que nasceu na Ilha de Itaparica, na Bahia, é o novo imortal da Academia Baiana de Letras.
Toma posse amanhã e ocupará a cadeira nº 9, que foi de Cláudio Veiga.
O palhaço e o camarada
“O palhaço”, o longa de Selton Mello que vai representar o Brasil na disputa pelo Oscar, abre, hoje, o Festival de Cinema Brasileiro em Moscou.
Niemeyer no Marrocos
Avança o projeto de construção do Centro Cultural Mogador, em Essaouira, no Marrocos. O projeto é de Oscar Niemeyer.
Ontem, o embaixador brasileiro Frederico Duque Estrada Meyer se reuniu com o ministro da Cultura de lá, Sbihi Mohamed, para tratar do assunto.
CADÊ A CACHOEIRA QUE ESTAVA AQUI?
Um paraíso ambiental dentro de uma das maiores unidades de conservação do Rio esconde um triste cenário. A cachoeira da Mãe d'Água, no Parque Nacional da Tijuca, virou um "filhote d'água”, repare na foto ao lado, desde que passaram a captar de forma irregular o precioso líquido em sua nascente, cujo acesso é por uma trilha a partir da Rua Marianópolis, no Grajaú. A prática põe em risco a fauna e a flora locais. Frequentadores da cachoeira descobriram tubulações (veja acima parte do “gato”) de até um quilômetro de extensão, que desviariam boa parte da água para a favela da Borda do Mato, pacificada em 2010 e que ganhou uma caixa-d’agua novinha sem o aval da Cedae.
É sabido que ninguém pode viver sem água, mas as autoridades precisam impedir aberrações como esta. Se a situação continuar, Deus terá mais trabalho para protegera nossa querida natureza
A biografia do ator Reynaldo Gianecchini, que, como saiu aqui, vai se chamar “Giane - Vida, arte e luta”, já está na gráfica.
A obra, escrita pelo coleguinha Guilherme Fiuza, começa a ser vendida mês que vem, nas livrarias e em versão digital.
Ted Boy no carnaval
O “Meu bem, volto já”, o bloco de carnaval, fará homenagem a Ted Boy Marino, que faleceu em setembro.
No desfile do ano que vem, o cordão vai cantar seu samba de 2006, cujo enredo foi o herói do telecatch.
Cena carioca
O publicitário Armando Strozenberg estava, ontem à noite, curtindo o final do feriadão com amigos no Jojô Café Bistrô, no Horto, quando se aproxima um cara beirando uns 30 anos, de jeans, camisa branca e simpático:
— Desculpem a interrupção, mas gostariam de ouvir a palavra de Deus durante alguns poucos minutos?
Rio em alta
A revista “Vogue” deste mês celebra o Rio, viva!, com a capa “Rio: nunca foi tão bom viver lá”.E logo abaixo escreve: “28 novas razões para amar o balneário”.
Só que...
Balneário é o cacete.
Minhas idiossincrasias - PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 21/11
Pela primeira vez nos últimos 30 anos, troquei de carro para modelo e marca mais baratos.
Meu carro percorria três quilômetros e meio por cada litro de gasolina. O carro que comprei agora faz seis quilômetros com um litro dentro da cidade.
Fiz isso por falência múltipla de órgãos financeiros, não suportava gastar uma fortuna de gasolina com meu ex-carro.
Esse meu carro novo é menos confortável que o outro, tem menos potência (nem sei para que preciso disso, se não viajo de carro), o importante é que meu novo carrinho me leva e traz para o serviço, estou satisfeito.
Minha atitude é também um protesto contra o preço selvagem da gasolina, injustificável num país autossuficiente em petróleo. Serve também de protesto contra os cartéis das empresas distribuidoras de gasolina para os postos e também contra os postos que se combinam para fixar o preço dos combustíveis.
Meu novo carrinho é modesto, mas quem não tem cão caça com gato e eu estou protestando contra os gatos.
E, se prosseguirem a Petrobras e seus revendedores com essa ganância, trocarei imediatamente para uma bicicleta.
Gosto muito de carnes. E prefiro nitidamente as costelas com matambres.
Ocorre que muitas vezes as costelas e outros tipos de carne são duras, difíceis e incômodas de comer.
Agora, no entanto, o engenheiro químico Newton Augusto dos Santos, o popular Macaco, turfista emérito, ensinou-me um truque que passo para os meus leitores como dica preciosa: a gente envolve a costela num papel laminado, depois de dar-lhe um banho com amaciante de carnes marca Maggi. E lança ao forno.
Meus amigos, as costelas fica parecendo um salmão, de tão macias. Os matambres, que adoro, desmancham na boca.
É um milagre. Aproveitem essa dica, é um achado.
Determinei-me a não ler e-mails que me remetem e que têm mais de 15 linhas.
É uma questão técnica, eis que prometi a mim mesmo ler todos os e-mails que me enviam. E, se for ler os que têm mais de 15 linhas, não terei tempo de ler todos.
Tem gente que me manda e-mails de mais de 80 linhas, alguns até são relatórios de atividades de suas empresas, tenham dó, isso é um abuso.
Mais de 15 linhas, não leio. Devem conter assuntos interessantes, mas são inúteis, eu não leio.
Acontece que não tenho onde guardar esses calhamaços.
Outra coisa: recuso-me a receber livros que tenham mais de 400 gramas.
Mandam-me livros que pesam dois ou mais quilos, relatórios, pesquisas. Enfim, uma infinidade de volumes de mais de um quilo cada um.
Tem gente que escreve livros, relatórios, balanços ou tratados dificílimos de serem lidos e resolve mandar de presente para quem conhece. Ou para quem tem coluna muito lida.
Não recebo mais. Nem os toco. É um abuso.
Pela primeira vez nos últimos 30 anos, troquei de carro para modelo e marca mais baratos.
Meu carro percorria três quilômetros e meio por cada litro de gasolina. O carro que comprei agora faz seis quilômetros com um litro dentro da cidade.
Fiz isso por falência múltipla de órgãos financeiros, não suportava gastar uma fortuna de gasolina com meu ex-carro.
Esse meu carro novo é menos confortável que o outro, tem menos potência (nem sei para que preciso disso, se não viajo de carro), o importante é que meu novo carrinho me leva e traz para o serviço, estou satisfeito.
Minha atitude é também um protesto contra o preço selvagem da gasolina, injustificável num país autossuficiente em petróleo. Serve também de protesto contra os cartéis das empresas distribuidoras de gasolina para os postos e também contra os postos que se combinam para fixar o preço dos combustíveis.
Meu novo carrinho é modesto, mas quem não tem cão caça com gato e eu estou protestando contra os gatos.
E, se prosseguirem a Petrobras e seus revendedores com essa ganância, trocarei imediatamente para uma bicicleta.
Gosto muito de carnes. E prefiro nitidamente as costelas com matambres.
Ocorre que muitas vezes as costelas e outros tipos de carne são duras, difíceis e incômodas de comer.
Agora, no entanto, o engenheiro químico Newton Augusto dos Santos, o popular Macaco, turfista emérito, ensinou-me um truque que passo para os meus leitores como dica preciosa: a gente envolve a costela num papel laminado, depois de dar-lhe um banho com amaciante de carnes marca Maggi. E lança ao forno.
Meus amigos, as costelas fica parecendo um salmão, de tão macias. Os matambres, que adoro, desmancham na boca.
É um milagre. Aproveitem essa dica, é um achado.
Determinei-me a não ler e-mails que me remetem e que têm mais de 15 linhas.
É uma questão técnica, eis que prometi a mim mesmo ler todos os e-mails que me enviam. E, se for ler os que têm mais de 15 linhas, não terei tempo de ler todos.
Tem gente que me manda e-mails de mais de 80 linhas, alguns até são relatórios de atividades de suas empresas, tenham dó, isso é um abuso.
Mais de 15 linhas, não leio. Devem conter assuntos interessantes, mas são inúteis, eu não leio.
Acontece que não tenho onde guardar esses calhamaços.
Outra coisa: recuso-me a receber livros que tenham mais de 400 gramas.
Mandam-me livros que pesam dois ou mais quilos, relatórios, pesquisas. Enfim, uma infinidade de volumes de mais de um quilo cada um.
Tem gente que escreve livros, relatórios, balanços ou tratados dificílimos de serem lidos e resolve mandar de presente para quem conhece. Ou para quem tem coluna muito lida.
Não recebo mais. Nem os toco. É um abuso.
Pajelanças homéricas - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 21/11
Teatro e política não se unem numa coisa só, mas se transcendem numa catarse ritual
Para vencer a crueldade é preciso ser mais cruel ainda. Ajudar o próximo é tornar-se cúmplice da violência que o levou a pedir ajuda. Apesar de todo o progresso técnico, o preço do pão não diminui.
São ideias do velho Bertolt Brecht, em plena ebulição revolucionária europeia depois da Primeira Guerra Mundial.
Quem as ressuscita, a propósito da crise econômica de Espanha, Portugal e Grécia hoje em dia, é José Celso Martinez Corrêa, no espetáculo "Acordes".
Com textos de Brecht e música de Paul Hindemith, além de muitas intervenções próprias, José Celso criou uma espécie de ópera-teatro multimídia, em cartaz no Oficina até 23 de dezembro, com transmissões ao vivo pela internet.
O público é convidado a participar moderadamente do espetáculo, respondendo "sim" ou "não", como uma espécie de massa coral, às perguntas propostas pelo encenador.
Apesar das suas presumíveis convicções de esquerda, dificilmente alguém da plateia estaria disposto a levar às últimas consequências o elogio da crueldade revolucionária defendido no texto.
Nem mesmo o próprio José Celso, claro. Os atores e atrizes de sua companhia já foram mais bonitos do que atualmente, mas como sempre derramam o mel de seus olhares diretos sobre os espectadores alinhados na arquibancada do teatro.
Mais do que isso, oferecem pedaços de melancia à plateia, num momento em que a peça se abre para uma espécie de comunhão eucarística. Há outras referências ao imaginário cristão, aliás muito bem integradas à narrativa. Quando um ator se limpa da maquiagem que o desumanizava, para se tornar "apenas uma pessoa", seu lenço sujo de tinta azul e vermelha se apresenta como um Santo Sudário.
Despir-se de si mesmo, deixar de se considerar alguém, tornar-se "ninguém": a humildade cristã devora, nesse espetáculo, o materialismo de Brecht.
"Morte, onde está tua vitória?", perguntava São Paulo na epístola aos Coríntios. José Celso não seria José Celso, de todo modo, se não misturasse à mensagem bíblica todo tipo de referências, criando uma vasta pajelança contra o capitalismo.
Assim, temos Santos Dumont pelado, mas de chapéu, tomando banho de água fria; o médico-legista Harry Shibata com uma serra elétrica; depoimentos de índios guarani-caiová; vídeos do ministro Gilmar Mendes e homenagens a Henriette Morineau.
Poderiam aparecer Madame Satã e Giordano Bruno, Picasso e Friedenreich, pouco importa: a arte de José Celso, verdadeiramente grande, tem a capacidade de integrar tudo o que quiser numa bagunça que é apenas aparente.
E talvez sejam aparentes, também, as contradições e anacronismos da "mensagem" proposta pela peça. Com certeza, apesar de todo o desespero dos portugueses, dos espanhóis e dos gregos, a crise atual não se compara à de 1929; e o preço do pão, ainda que a barbárie continue, baixou muito daqueles tempos para cá.
Por isso mesmo, o Brecht vivido por Marcelo Drummond usa uma roupa dourada, e todo seu antigo esforço de mobilizar a massa da plateia é figurado, com grande poesia, pelo uso de serpentinas brilhantes que se trançam entre os espectadores, como uma rede carnavalesca e mágica, convidando-os delicadamente a sair de seus lugares.
Ideais mortos são assim revividos religiosamente, sincreticamente. Teatro e política não se unem numa coisa só, mas se transcendem numa catarse ritual.
Os mesmos problemas, com estilo parecido, mas sem a aspiração dionisíaca, estão presentes em outra excelente peça em cartaz. Trata-se da "Odisseia" de Homero, com dramaturgia de Samir Yazbek, direção de Marco Antonio Rodrigues e os esplêndidos atores (recém-formados) do grupo Estúdio da Cena.
Novamente, tudo pode entrar no espaço abafado do Galpão do Folias. Aquiles é Che Guevara, Penélope transformou Ítaca num vasto empreendimento imobiliário de luxo, a ilha dos lotófagos se traduz numa cracolândia admiravelmente realista.
Dentro de todos esses contextos, que não parecem nada forçados graças à encenação vibrante e criativa, Ulisses corresponderia ao velho ideal de esquerda procurando em vão uma terra firme nos dias atuais.
Poderia parecer apenas um sintoma de nostalgia ideológica, apesar da imaginação espantosa do espetáculo (que transforma, por exemplo, uma cena de estupro em verdadeira proeza de concisão poética). Mas a peça, na última hora, cria uma pausa ("tchecoviana", diz o texto) -e as ilusões se dissipam.
Já o teatro, aqui como em "Acordes", continua -e vai bem de saúde.
Teatro e política não se unem numa coisa só, mas se transcendem numa catarse ritual
Para vencer a crueldade é preciso ser mais cruel ainda. Ajudar o próximo é tornar-se cúmplice da violência que o levou a pedir ajuda. Apesar de todo o progresso técnico, o preço do pão não diminui.
São ideias do velho Bertolt Brecht, em plena ebulição revolucionária europeia depois da Primeira Guerra Mundial.
Quem as ressuscita, a propósito da crise econômica de Espanha, Portugal e Grécia hoje em dia, é José Celso Martinez Corrêa, no espetáculo "Acordes".
Com textos de Brecht e música de Paul Hindemith, além de muitas intervenções próprias, José Celso criou uma espécie de ópera-teatro multimídia, em cartaz no Oficina até 23 de dezembro, com transmissões ao vivo pela internet.
O público é convidado a participar moderadamente do espetáculo, respondendo "sim" ou "não", como uma espécie de massa coral, às perguntas propostas pelo encenador.
Apesar das suas presumíveis convicções de esquerda, dificilmente alguém da plateia estaria disposto a levar às últimas consequências o elogio da crueldade revolucionária defendido no texto.
Nem mesmo o próprio José Celso, claro. Os atores e atrizes de sua companhia já foram mais bonitos do que atualmente, mas como sempre derramam o mel de seus olhares diretos sobre os espectadores alinhados na arquibancada do teatro.
Mais do que isso, oferecem pedaços de melancia à plateia, num momento em que a peça se abre para uma espécie de comunhão eucarística. Há outras referências ao imaginário cristão, aliás muito bem integradas à narrativa. Quando um ator se limpa da maquiagem que o desumanizava, para se tornar "apenas uma pessoa", seu lenço sujo de tinta azul e vermelha se apresenta como um Santo Sudário.
Despir-se de si mesmo, deixar de se considerar alguém, tornar-se "ninguém": a humildade cristã devora, nesse espetáculo, o materialismo de Brecht.
"Morte, onde está tua vitória?", perguntava São Paulo na epístola aos Coríntios. José Celso não seria José Celso, de todo modo, se não misturasse à mensagem bíblica todo tipo de referências, criando uma vasta pajelança contra o capitalismo.
Assim, temos Santos Dumont pelado, mas de chapéu, tomando banho de água fria; o médico-legista Harry Shibata com uma serra elétrica; depoimentos de índios guarani-caiová; vídeos do ministro Gilmar Mendes e homenagens a Henriette Morineau.
Poderiam aparecer Madame Satã e Giordano Bruno, Picasso e Friedenreich, pouco importa: a arte de José Celso, verdadeiramente grande, tem a capacidade de integrar tudo o que quiser numa bagunça que é apenas aparente.
E talvez sejam aparentes, também, as contradições e anacronismos da "mensagem" proposta pela peça. Com certeza, apesar de todo o desespero dos portugueses, dos espanhóis e dos gregos, a crise atual não se compara à de 1929; e o preço do pão, ainda que a barbárie continue, baixou muito daqueles tempos para cá.
Por isso mesmo, o Brecht vivido por Marcelo Drummond usa uma roupa dourada, e todo seu antigo esforço de mobilizar a massa da plateia é figurado, com grande poesia, pelo uso de serpentinas brilhantes que se trançam entre os espectadores, como uma rede carnavalesca e mágica, convidando-os delicadamente a sair de seus lugares.
Ideais mortos são assim revividos religiosamente, sincreticamente. Teatro e política não se unem numa coisa só, mas se transcendem numa catarse ritual.
Os mesmos problemas, com estilo parecido, mas sem a aspiração dionisíaca, estão presentes em outra excelente peça em cartaz. Trata-se da "Odisseia" de Homero, com dramaturgia de Samir Yazbek, direção de Marco Antonio Rodrigues e os esplêndidos atores (recém-formados) do grupo Estúdio da Cena.
Novamente, tudo pode entrar no espaço abafado do Galpão do Folias. Aquiles é Che Guevara, Penélope transformou Ítaca num vasto empreendimento imobiliário de luxo, a ilha dos lotófagos se traduz numa cracolândia admiravelmente realista.
Dentro de todos esses contextos, que não parecem nada forçados graças à encenação vibrante e criativa, Ulisses corresponderia ao velho ideal de esquerda procurando em vão uma terra firme nos dias atuais.
Poderia parecer apenas um sintoma de nostalgia ideológica, apesar da imaginação espantosa do espetáculo (que transforma, por exemplo, uma cena de estupro em verdadeira proeza de concisão poética). Mas a peça, na última hora, cria uma pausa ("tchecoviana", diz o texto) -e as ilusões se dissipam.
Já o teatro, aqui como em "Acordes", continua -e vai bem de saúde.
Insistindo no mesmo diagnóstico - PEDRO FERREIRA e RENATO FRAGELLI
Valor Econômico - 21/11
Se uma mentira repetida mil vez pode se transformar em uma verdade, uma verdade repetida mil vezes deveria se transformar em uma obviedade. Essa verdade é que o Brasil tem um sério problema de (in)eficiência. A eficiência - ou produtividade total dos fatores, no jargão economês - é determinante para o crescimento. Como pouco se avançou nessa dimensão, dificilmente o país crescerá a taxas aceleradas em um futuro próximo.
O diagnóstico do governo parece ser que o lento crescimento do Brasil decorre de uma insuficiência na demanda. Assim, o arsenal de políticas utilizadas nos últimos tempos busca incentivar o investimento, o consumo e a exportação. Associado a essa visão de crescimento puxado pela demanda há a crença no papel central da indústria, seja pela sua dinâmica de inovação, seja pela sua capacidade de induzir atividade em outros ramos da economia. Tem-se aqui a outra perna das políticas de crescimento atual que se revelam, por exemplo, no crescente protecionismo e fechamento da economia contra a concorrência internacional.
Várias medidas vêm sendo tomadas para incentivar o investimento. O gradual fechamento da economia busca, teoricamente, aumentar a lucratividade da indústria e induzir gastos de capital. A taxa de juros está em seu mais baixo patamar na história recente do país, e as transferências vultosas do Tesouro para o BNDES permitem que este empreste, quase sem limites, a taxas subsidias ao setor privado. Ainda assim, a taxa de investimento da economia não dá sinais de responder.
Países pouco eficientes crescem pouco, e os países com regras instáveis crescem menos ainda.
A interferência no mercado de câmbio seria outra medida de indução do crescimento via demanda. O dólar, que há pouco tempo era comprado a menos de R$ 1,60, sofreu uma significativa desvalorização de 30%. Isso deveria provocar um aumento das exportações e contração das importações. Entretanto, seja devido à crise na Europa, ou uma clara hostilidade às importações, que encarecem custos de produção dos bens exportados, o fato é que as exportações não responderam à mudança no câmbio.
Quanto aos gastos do governo, observa-se uma decidida expansão e medidas pontuais de desoneração tributária (redução do IPI dos automóveis). De acordo com os tradicionais manuais de cursos de graduação em Economia, o aumento dos gastos do governo - ou redução dos tributos - deveria ter um efeito multiplicador sobre a economia e um significativo impacto sobre a demanda privada e crescimento. Entretanto, talvez por que os gastos sejam de "má qualidade" - os investimentos públicos teimam em não aumentar -, ou porque o diagnóstico esteja errado, o fato é que o acelerado crescimento dos gastos públicos até o momento não teve qualquer impacto significativo sobre o crescimento da economia. A menos, é claro, que a expansão das compras de automóveis no mês de agosto possa ser classificada como "crescimento sustentável de longo prazo".
Os sinais de que o problema não é insuficiência de demanda são claros. A taxa de desemprego brasileira Brasil está em nível historicamente baixo, indicando que o país encontra-se próximo do pleno emprego. Se houvesse fraca demanda, os preços deveriam apresentar tendência de queda, mas o que se observa é a inflação acima da meta. Se não fossem por desonerações e controles de preços administrados - como o dos combustíveis-, a inflação já teria estourado seu limite superior.
Como já se repetiu inúmeras vezes neste espaço, a eficiência produtiva brasileira é baixa e a evidência recente é de que esteja caindo. A partir de uma dada quantidade de fatores de produção - máquinas, estruturas, capital humano e trabalho -, produz-se no Brasil cerca de metade do que seria produzido nos Estados Unidos e demais economias líderes. Enfrentar o problema da (in)eficiência requer políticas totalmente diversas das que vêm sendo implementadas no país. São necessárias instituições estáveis, maior garantia de contratos, regras claras, regulação bem desenhada, maior abertura comercial e uma estrutura tributária menos distorciva e burocrática.
Ao errar o diagnóstico, mesmo medidas que visariam aumentar a "competitividade" acabam reduzindo a eficiência no longo prazo. É fato que as tarifas de eletricidade no Brasil são altas. Entretanto, a forma como se busca reduzi-las, de forma unilateral e utilizando uma contabilidade algo nebulosa que impõe significativas perdas às empresas do setor, tende a afastar os investidores. O preço da energia será reduzido, mas à custa de menor eficiência e comprometendo a expansão do setor. Na mesma linha, o controle de câmbio, a inflação acima da meta e o superávit primário declinante vêm solapando a credibilidade da política macroeconômica, o que desestimula investimentos de longa maturação.
Países pouco eficientes crescem pouco, países com regras instáveis menos ainda. A crescente intervenção do governo na economia, o virtual abandono ou "flexibilização" do regime de metas de inflação, o maior protecionismo comercial, a interrupção dos leilões de petróleo, a instabilidade no setor elétrico e a incapacidade do governo em levar a cabo seus investimentos planejados são fatores que apontam para um país menos produtivo e eficiente. Um país que, provavelmente, crescerá a taxas medíocres no futuro.
PT Fase 3 - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 21/11
Primeiro, eles eram um grupo de sindicalistas e intelectuais que, com seus ternos surrados e um jeito despojado, costuravam as próprias bandeiras para agitá-las pedindo auditoria nas contas públicas, na dívida externa e nos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, os petistas disputaram três eleições presidenciais. Na quarta vez, mais amadurecidos, chegaram ao poder e empreenderam as políticas sociais que, exitosas, deram ao ex-presidente Lula a primazia de fazer a sucessora, Dilma Rousseff. Agora, vem a terceira transformação do PT que, ao caminhar para o período pós-mensalão, segue um pouco mais para o centro do espectro político nacional.
Quem teve a oportunidade de ler a entrevista de Dilma, ontem, no jornal Valor Econômico percebeu o desafio que ela enfrenta hoje, de tentar manter o crescimento econômico em um situação adversa. E, para isso, anunciou: será pragmática. Ela não usa a expressão, mas certamente virão as privatizações, que os petistas tanto execraram no passado, numa série de concessões e parcerias público-privadas. Só para tratar do novo modelo de portos, por exemplo, foram feitas, até ontem, 42 reuniões na Casa Civil ao longo dos últimos meses, contadas por uma atenta consultora de relações institucionais.
Tudo isso não é por acaso. Passou a fase de os petistas discutirem se era preciso privatizar ou conceder esse ou aquele setor. Há a certeza de que é preciso capital — e dos bons — para alavancar a economia. E o modelo de concessão é o que mais atende a essa busca. Portanto, diz a pragmática Dilma, assim será feito.
Todos esses movimentos colocam Dilma puxando seu partido ainda mais para o centro, um movimento que deu seus primeiros passos há 10 anos, com a carta aos brasileiros em que Lula prometeu, se eleito, não provocar viradas bruscas na política econômica. Ali, começou a trajetória que Dilma agora pretende fechar. E, nesse caminho, vão ficando no acostamento muitas das ideias da esquerda.
O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) considera que esse caminho não se deu apenas pela economia, onde a presidente começa a ter voz nos fóruns internacionais. Ele cita ainda os comentários da presidente sobre o julgamento da Ação Penal 470. Equilibrada, disse que acata o resultado e ainda emendou que ninguém está livre de paixões e erros humanos. “Ao optar pelo centro e pelo equilíbrio, ela virou uma estadista”, diz Marquezelli.
Por falar em centro…
Diz a lei da física que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço simultaneamente. Logo, se o PT fincar suas raízes no centro, como já está fazendo, alguém sairá para lhe dar a cadeira. Nesse movimento, saem alguns tucanos — como no caso da eleição municipal paulista — e o PMDB que, embora parceiro dos petistas no plano nacional, perde terreno, como já dissemos aqui no último domingo. Os peemedebistas, entretanto, ainda têm alguns recursos, como um portfólio de governadores capaz de seguir rumo ao Senado daqui a dois anos, mas o caminho ainda é incerto.
Por falar em caminho…
Hoje a presidente Dilma Rousseff recebe o bloco PTB-PSC-PR liderado pelo senador Gim Argello (PTB-DF). O encontro faz parte da série de conversas de Dilma para se reaproximar dos partidos da base para preparar a segunda etapa de seu governo. Vale lembrar que esse grupo, de 14 senadores, já está fechado com a candidatura de Renan Calheiros à Presidência do Senado e Henrique Eduardo Alves na Câmara. Ontem, um político experiente do Congresso se referia à pré-candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) contra Henrique Alves como aquela ameaça de temporal que não se confirmou.
Enquanto isso, na sala de Gleisi…
A 42ª reunião da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, sobre a concessão de portos contou com a presença do advogado-geral da União (AGU), Luiz Inácio Adams. O texto já está pronto e passa pelas avaliações sob o ponto de vista jurídico.
Medida Provisória 579: uma guinada de 360° - ELENA LANDAU
Valor Econômico - 21/11
Coincidência ou não, no dia 11 de setembro o governo brasileiro iniciou o desmonte do setor elétrico brasileiro. Apesar das boas intenções da Medida Provisória (MP) 579 - reduzir o custo de energia no país e impor maior eficiência à Eletrobras - os meios destruíram os fins. Uma medida que deveria receber apoio da sociedade como um todo, já que reduz as tarifas de energia, acabou na prática só tendo recebido aprovação do próprio governo. Empresas, acionistas, governadores, consumidores do mercado livre e congressistas estão todos, por diferentes motivos, insatisfeitos. Além disso, o esforço exigido das empresas é muito maior do que a contribuição do governo federal, que não reduziu impostos e apenas retirou das tarifas encargos que ele mesmo elevou nos anos recentes. Não há também nenhuma proposta que ataque as ineficiências do setor, como o alto custo do gás natural, resultante do monopólio de fato da Petrobras. Nada foi dito tampouco sobre os erros no planejamento dos leilões de energia que fazem com que consumidores paguem por energia que não foi sequer gerada, como a do grupo Bertin, ou que não pode ser consumida porque não há linhas de transmissão disponíveis, como a gerada pelas eólicas.
Membros do governo argumentam que estão oferecendo um novo negócio às empresas concessionárias e não a prorrogação dos contratos a vencer. Por isso, podem mudar completamente a forma de remuneração, ressuscitando a tarifação pelo custo. Podem também intervir em contratos de venda de energia, forçar a cessão "compulsória" dos mesmos e, pior, obrigar as empresas a assumir os prejuízos dessa cessão. E o pior é que a intervenção afeta negativamente os preços no mercado livre onde se abastece o setor industrial gerando efeito inverso ao desejado. O novo negócio permite ao governo ignorar o conceito básico de "reversão" de ativos, oferecendo às empresas valores residuais por seus ativos infinitamente menores dos que teriam direito. Desconsideram-se assim investimentos prudentes e manutenção feitos além do projeto básico da usina e com aprovação do órgão regulador. A consequência é óbvia: as empresas pensarão duas vezes antes de investir novamente.
O governo oferece um novo negócio e não uma prorrogação. Trata-se de um novo contrato com bases totalmente diferentes dos contratos atuais. Com exigências draconianas, é natural que esse "novo negócio" seja recusado. É impossível para empresas, inclusive Eletrobras, explicarem a seus acionistas porque devem abrir mão de contratos válidos e melhores do que os propostos pela MP. Pior ainda, como justificar aos seus acionistas a liberalidade de entregar ativos ainda não amortizados sem indenização? Ao colocar em risco a sobrevivência das concessionárias, a MP não atende ao interesse público porque coloca em risco a própria sobrevivência das concessionárias. Se o governo está tão seguro que as tarifas propostas são suficientes para garantir tanto a operação das usinas quanto investimentos futuros, que tal se comprometer em lei a não colocar recursos do Tesouro na Eletrobras pelos próximos dez anos?
Em 2013 estaremos de volta a 1993, com controle tarifário, insegurança jurídica e intervencionismo
O encaminhamento recente das discussões com empresas e o Congresso agrava as preocupações dos analistas. Recentes declarações oficiais têm indicado que as bases dessa "proposta"- devem se tornar regra geral, atingindo inclusive empresas que não assinarem esse novo contrato. Não surpreende a queda das ações das empresas do setor, uma perda de valor jamais vista para um único setor.
A queda foi também decorrente do tratamento desigual imposto pelo governo entre ativos pertencentes ao governo federal e aqueles pertencentes às empresas estaduais. A presidente Dilma diz que a precificação feita pelo governo FHC gerou ganhos extraordinários para as empresas, daí a necessidade da mudança. Mas desde 2004 até hoje 29 usinas tiveram o direito a sua primeira prorrogação respeitado. E essa renovação se deu de forma não onerosa, mantendo a "precificação" anterior e remunerando ativos já amortizados. Entre essas usinas, destaca-se a Serra da Mesa, que pertence a Furnas, cujo contrato foi prorrogado em abril deste ano, quando as mudanças anunciadas pela MP 579 já estavam em discussão dentro do governo. Por outro lado, a usina Três Irmãos que pertence à Cesp ficou com seu pedido de prorrogação dormindo nas gavetas da Aneel por anos, e usinas da Cemig, como São Simão, que têm sua prorrogação garantida por contrato de concessão, tiveram seu direito ignorado.
Além do radicalismo do conteúdo, a forma também foi inadequada. Depois de anos de discussão do assunto na agenda do setor elétrico, a decisão oficial é comunicada via Medida Provisória. Além disso, a MP foi imediatamente regulamentada por decreto que obriga a adesão das concessionárias antes dos trabalhos da Comissão se encerrarem. Caso modificações importantes ocorram na conversão da MP em lei, como ficarão as concessões prorrogadas antes da lei ser conhecida? Uma insegurança jurídica criada desnecessariamente...
Não perdem só as empresas. Perde o país com a fuga de investidores estrangeiros que há anos colocam recursos na infraestrutura brasileira. O resultado final pode ser exatamente o oposto do desejado: menor investimento decorrente do maior risco de perdas regulatórias, provocando aumento no custo da energia ou até mesmo restrições de oferta. O que está em risco é a segurança energética do país. No momento em que assistimos à combinação de uma sequência de apagões e as usinas térmicas já estão produzindo no seu limite, esse é um risco real e imediato.
Também grave é o retrocesso regulatório que acompanha a medida. Em 1993, em função do uso de controle tarifário para o combate à inflação, as empresas do setor elétrico estavam endividadas e incapacitadas de realizar investimentos. A Lei 8.631/93 eliminou a remuneração pelo custo, introduziu a regulação por incentivos e realizou, na ocasião, um encontro de contas que custou mais de US$ 20 bilhões aos cofres públicos. Desde então o país passou por grandes reformas no setor, mas sempre respeitando os princípios básicos da boa regulação. A MP 579 é uma guinada de 360º - em 2013 corremos o risco de estar de volta a 1993, a um mundo de excessivo intervencionismo estatal, insegurança jurídica e controle tarifário.
Os desafios do agronegócio - ROGÉRIO AMATO
O Estado de S.Paulo - 21/11
Diversos estudos da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) e de outros organismos internacionais apontam como grande preocupação em relação aos próximos anos a dificuldade de produzir alimentos em quantidade suficiente para atender à população mundial crescente. Esse desafio se torna ainda mais complexo porque, em alguns países, as áreas antes destinadas à produção de alimentos vêm sendo utilizadas para produzir energia renovável, provocando não apenas a elevação dos preços dos alimentos, como o temor de que a quantidade disponível não seja suficiente para atender à demanda.
Neste cenário, o Brasil desponta como um dos países com maior potencial para atender às necessidades da demanda mundial de alimentos, sem prejuízo de sua capacidade de produzir energia renovável ou da conservação do meio ambiente. Na medida em que a agropecuária brasileira começou a se destacar como um grande competidor no mercado internacional de grãos e carnes, o País passou a enfrentar o protecionismo de muitas nações desenvolvidas e também agressões internas de grupos ideológicos, sob diversos pretextos.
Ações como as do MST, de invasões de propriedades rurais e atos de vandalismo injustificáveis, foram absurdamente toleradas por muitos anos pelos governos, como normais num regime democrático. A aparente retração desse movimento parece decorrer de certo esvaziamento do seu "exército", formado muito mais por trabalhadores urbanos desempregados, que foram em grande parte absorvidos pelo mercado de trabalho em expansão e pelas transferências governamentais.
Não por coincidência, enquanto diminui a atuação dos "sem-terra", ganha corpo o movimento indigenista exatamente nas regiões de maior expansão da agropecuária, com invasões de propriedades por grupos de índios, incentivados por organizações nacionais e estrangeiras. Assim como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) se omitia, ou até apoiava as ações do MST, a Fundação Nacional do Índio (Funai) se coloca na linha de frente do movimento pela ampliação das áreas indígenas, em vez de melhorar as condições de vida dos índios, que, no geral, vivem precariamente não por falta de terras, mas de assistência governamental.
Estranhamente, o governo, que deveria ser o maior defensor do agronegócio por sua importância para o abastecimento interno e para a balança comercial, não sai em defesa do setor. Pelo contrário. Após a polêmica demarcação da Reserva Raposa-Serra do Sol, o relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Menezes Direito, estabeleceu claros limites para as futuras demarcações de terras indígenas, para impedir a expansão desordenada das reservas. A Advocacia-Geral da União (AGU) ratificou esses limites com uma portaria. E, como a Funai parece não concordar com a portaria da AGU - que simplesmente reproduz as condicionantes estabelecidas pelo STF -, o ministro Luís Inácio Adams recentemente suspendeu a vigência da norma, levando intranquilidade e insegurança ao campo.
As pressões para a suspensão e para a posterior revogação da Portaria n.º 303/12 da AGU, praticadas por ONGs nacionais e estrangeiras, que desencadearam campanhas nesse sentido no Brasil e no exterior, pretendem submeter a decisão do STF ao crivo das comunidades indígenas e da "sociedade civil", da qual se intitulam representantes sem ter nenhuma legitimidade para isso.
O agronegócio brasileiro enfrenta as graves deficiências da infraestrutura para competir no mercado mundial. Em vez de receber estímulos para continuar ajudando a balança comercial do Brasil, o setor tem de enfrentar as constantes agressões que visam a enfraquecer o direito de propriedade, elemento fundamental da economia de mercado.
Câmbio: rumo à próxima estação? - CRISTIANO ROMERO
Valor Econômico - 21/11
Se havia alguma dúvida de que o governo deixará o real se desvalorizar ainda mais frente ao dólar americano, agora, depois da esclarecedora entrevista da presidente Dilma Rousseff ao Valor, não há mais. A exemplo do que dissera o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a presidente deixou claro que, mesmo após depreciação de 30% no espaço de um ano, o real, na sua opinião, ainda está valorizado.
"Nós estamos em busca de um câmbio que não seja esse, de um dólar desvalorizado e o real supervalorizado", declarou Dilma a Vera Brandimarte e Cláudia Safatle. A entrevista elimina o que antes eram apenas suspeitas: o governo está insatisfeito com o nível da taxa de câmbio e fará tudo ao seu alcance para mudar essa situação.
O movimento de desvalorização do real já pode ter começado. Depois de oscilar entre R$ 2,00 e R$ 2,04 entre junho e o último dia 12, a taxa de câmbio saiu do período de hibernação. Na segunda-feira, último dia útil do mercado, fechou a R$ 2,08 sem que o Banco Central (BC) mexesse uma palha para interromper a depreciação.
Governo dá sinais de que real caminha para novo patamar
Um pouco de memória ajuda a entender onde estamos. Até meados do ano passado, a cotação do real ainda refletia os termos de troca do país, isto é, a relação entre preços de exportações e preços de importações. Desde o início dos anos 2000, esses termos foram favoráveis ao Brasil, uma vez que o país tirou proveito do boom da economia chinesa, que se tornou uma das maiores consumidoras de bens primários do planeta, para exportar commodities.
Termos de troca favoráveis provocam inevitavelmente a apreciação da taxa de câmbio. No segundo semestre do ano passado, preocupado com a valorização do real, interpretada em Brasília como principal fator de perda de competitividade da indústria nacional, o governo começou a adotar medidas para diminuir o grau de abertura da conta de capitais e, desta forma, dificultar a entrada de dólares e diminuir a valorização do real.
A partir de setembro de 2011, mesmo com os desmentidos do BC, ficou claro que as autoridades estavam satisfeitas com uma banda informal de flutuação da taxa de câmbio de R$ 1,70 a R$ 1,90 - antes, o câmbio estava abaixo de R$ 1,70. No regime de câmbio flutuante, trabalhar com bandas é um contrassenso porque não deveria haver piso nem teto para a flutuação do dólar. A cotação da moeda deve refletir os termos de troca e os fundamentos da economia.
O BC, evidentemente, intervém no mercado para evitar movimentos bruscos nas duas direções (quando, por exemplo, uma multinacional faz uma remessa pesada de juros e dividendos ao exterior ou quando um investidor traz dólares para aplicar no país). Desde que foi implantado pela última vez no Brasil, em 1999, o regime de câmbio flutuante teve flutuação "suja", como, ademais, ocorre na maioria dos países que operam sob esse regime.
A banda informal de R$ 1,70- R$ 1,90 foi superada por outra, de R$ 1,90-R$ 2,00, em maio deste ano. Antes, em março e abril, com o agravamento da crise europeia, o real sofreu forte desvalorização, provocada pelo aumento da aversão dos investidores a risco. Dono de reservas cambiais na ocasião já superiores a US$ 300 bilhões, o BC poderia ter atuado para segurar a depreciação, mas, com o claro propósito de ajudar a indústria (isso foi confirmado a esta coluna por um integrante da equipe econômica), deixou o real se desvalorizar frente ao dólar.
De maio para cá, a taxa de câmbio variou pouco, dentro de uma banda mais estreita que as anteriores - de R$ 2,00 a R$ 2,05. Agora, participantes do mercado acreditam que o BC levará o real para uma banda de variação entre R$ 2,10 e R$ 2,15. No momento seguinte, sempre de forma gradual, seguirá para algo como R$ 2,20-R$ 2,25 até atingir o que o Ministério da Fazenda considera a taxa de câmbio "ótima" para o país.
"Uma coisa importante a ser lembrada é que, toda vez que o ministro Mantega e companhia falam sobre câmbio, eles claramente dizem que consideram legítimo defender a moeda por meio de uma flutuação "suja" e que o dólar a R$ 2,03 ainda estaria sobrevalorizado em 20%", diz um experiente integrante do mercado.
A taxa "ótima" é estimada em R$ 2,30. Numa declaração recente, o ministro Mantega chegou a dizer que o câmbio estaria 19% sobrevalorizado. Ao responder a críticas de que o governo teria readotado o câmbio fixo, de triste memória para o Brasil, afirmou que o câmbio flutuaria, sim, mas apenas para cima.
Uma nova depreciação do real cria desafios para o BC em 2013. Estima-se que 10% de depreciação da moeda nacional aumenta a inflação de 0,4 a 0,6 ponto percentual. Isso equivale ao ganho que a redução da conta de energia, a partir de janeiro, produzirá na inflação do próximo ano, de acordo com estimativas oficiais. Como não poderá contar com a ajuda do câmbio para controlar preços, o BC, em tese, terá que recorrer ao juro, mas, como já disse que esse ficará estável por período prolongado, resta lançar mão de medidas macroprudenciais.
Ainda estão para ser comprovados os efeitos positivos da desvalorização recente do real sobre a competitividade da indústria. A desvalorização começou no ano passado e a indústria continua inerte. A taxa de juros real está no menor patamar da história e também não há reação dos investimentos.
Se, por um lado, o dólar mais caro ajuda, em tese, a proteger os setores menos competitivos da indústria, por outro, penaliza os mais eficientes, uma vez que eleva o custo de capital. Como os períodos de apreciação do real são comuns, dadas as características da economia brasileira (exportadora de commodities, de baixa poupança e importadora de capitais), as empresas aproveitam para importar máquinas mais modernas e, desta forma, ampliar a produtividade. Companhias saudáveis acessam também mercados de capitais lá fora para tomar empréstimos mais baratos.
Com o dólar 30% mais caro em um ano, o jogo ficou mais difícil para as empresas competitivas e, pelo jeito, não melhorou muito as condições de quem já não conseguia competir.
O governo talvez esteja subestimando um elemento fundamental para a concretização do crescimento econômico: a confiança dos empresários. E essa parece estar abalada justamente pelas mudanças do arcabouço macroeconômico, que se tornou menos previsível.
Debaixo de nossos narizes - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 21/11
Somos ridículos: novos ricos da natureza, tentando disfarçar nossas origens para esquecer nosso destino
Não sei se é consequência do aquecimento global ou sinal da aridez contemporânea -deste mundo tão competitivo em que até o mais reles assistente de almoxarifado busca ajuda em tratados de guerra, em workshops com ironmen e cursos de reciclagem com sobreviventes de hecatombes-, mas a julgar pelo que está acontecendo com os desodorantes, nunca se suou tanto sobre a face da Terra.
Faz bem pouco tempo, os antiperspirantes eram uma raridade. Uma espécie de tarja preta a que você recorria numa emergência -um primeiro encontro, uma fala em público, uma negociação salarial. Rapidamente, contudo, com suas armaduras metálicas (espécies de SUVs da higiene), foram tomando o espaço das ingênuas bisnaguinhas de plástico, hoje só encontráveis nas prateleiras mais baixas de farmácias de bairro e mercearias mixurucas, estabelecimentos aparentemente desconectados da grande guerra que está sendo travada diuturnamente nas metrópoles do globo e em nossas axilas: a guerra contra a sudorese.
Ainda lembro do dia, não muito distante, em que vi o primeiro frasco oferecendo "24 horas de proteção". Eu, que sou um ingênuo, achei que fosse um exagero semântico: a gente não passa mais do que umas 16 horas acordado, quem precisa de 24 sem transpirar? Talvez se você tivesse um encontro de noite, dormisse na casa da moça, saísse sem tomar banho, encarasse uma negociação salarial, ralasse o dia todo e, à tarde, ainda desse uma palestra, pudesse ser útil. Mas será que o pessoal por aí estava com uma vida tão animada? Verdadeiros triatletas do trabalho, do sexo e da vida social, buscando gabaritar o Zeitgeist sem derramar uma única gota? Aparentemente, sim, pois se não bastassem as 24 horas de proteção, agora surgiram produtos oferecendo o nocaute de nossas glândulas sudoríficas por 48 e até, olhe só, 72 horas.
Meus caros, sejamos francos: três dias confiando na mesma espreiada são, evidentemente, três dias sem tomar banho. Só imagino pessoas longe do chuveiro por tanto tempo se estiverem presas nos escombros depois de um terremoto, participando do Paris-Dakar ou perdidas na selva. E suspeito que quem se encontre nessas situações terá preocupações mais urgentes do que, digamos, a qualidade de seu cecê.
Veja, não quero fazer o papel do hippie natureba, defender o futum contra o capitalismo. Sou filho de minha época -e, devo dizer, um filho bem asseado-, concordo que o direito do sovaco de um vai só até onde começa a narina do outro, mas me parece haver algo de desequilibrado nessa obsessão antiperspirante. Algo daquilo que Nietzsche -perdão, Friedrich, por evocar seu nome numa mera crônica sobre desodorantes...- chamou de "horror ao humano", negação de tudo o que nos lembra de nossa origem animal, de nossa concretude corpórea.
Que ridículos somos: novos ricos da natureza, tentando disfarçar nossas origens para esquecer de nosso destino. Realmente acreditamos que aparando os pelos, branqueando os dentes e inibindo os odores conseguiremos fugir da verdade, a única verdade que, desde que saímos do útero, está aí, bem debaixo de nossos narizes.
Somos ridículos: novos ricos da natureza, tentando disfarçar nossas origens para esquecer nosso destino
Não sei se é consequência do aquecimento global ou sinal da aridez contemporânea -deste mundo tão competitivo em que até o mais reles assistente de almoxarifado busca ajuda em tratados de guerra, em workshops com ironmen e cursos de reciclagem com sobreviventes de hecatombes-, mas a julgar pelo que está acontecendo com os desodorantes, nunca se suou tanto sobre a face da Terra.
Faz bem pouco tempo, os antiperspirantes eram uma raridade. Uma espécie de tarja preta a que você recorria numa emergência -um primeiro encontro, uma fala em público, uma negociação salarial. Rapidamente, contudo, com suas armaduras metálicas (espécies de SUVs da higiene), foram tomando o espaço das ingênuas bisnaguinhas de plástico, hoje só encontráveis nas prateleiras mais baixas de farmácias de bairro e mercearias mixurucas, estabelecimentos aparentemente desconectados da grande guerra que está sendo travada diuturnamente nas metrópoles do globo e em nossas axilas: a guerra contra a sudorese.
Ainda lembro do dia, não muito distante, em que vi o primeiro frasco oferecendo "24 horas de proteção". Eu, que sou um ingênuo, achei que fosse um exagero semântico: a gente não passa mais do que umas 16 horas acordado, quem precisa de 24 sem transpirar? Talvez se você tivesse um encontro de noite, dormisse na casa da moça, saísse sem tomar banho, encarasse uma negociação salarial, ralasse o dia todo e, à tarde, ainda desse uma palestra, pudesse ser útil. Mas será que o pessoal por aí estava com uma vida tão animada? Verdadeiros triatletas do trabalho, do sexo e da vida social, buscando gabaritar o Zeitgeist sem derramar uma única gota? Aparentemente, sim, pois se não bastassem as 24 horas de proteção, agora surgiram produtos oferecendo o nocaute de nossas glândulas sudoríficas por 48 e até, olhe só, 72 horas.
Meus caros, sejamos francos: três dias confiando na mesma espreiada são, evidentemente, três dias sem tomar banho. Só imagino pessoas longe do chuveiro por tanto tempo se estiverem presas nos escombros depois de um terremoto, participando do Paris-Dakar ou perdidas na selva. E suspeito que quem se encontre nessas situações terá preocupações mais urgentes do que, digamos, a qualidade de seu cecê.
Veja, não quero fazer o papel do hippie natureba, defender o futum contra o capitalismo. Sou filho de minha época -e, devo dizer, um filho bem asseado-, concordo que o direito do sovaco de um vai só até onde começa a narina do outro, mas me parece haver algo de desequilibrado nessa obsessão antiperspirante. Algo daquilo que Nietzsche -perdão, Friedrich, por evocar seu nome numa mera crônica sobre desodorantes...- chamou de "horror ao humano", negação de tudo o que nos lembra de nossa origem animal, de nossa concretude corpórea.
Que ridículos somos: novos ricos da natureza, tentando disfarçar nossas origens para esquecer de nosso destino. Realmente acreditamos que aparando os pelos, branqueando os dentes e inibindo os odores conseguiremos fugir da verdade, a única verdade que, desde que saímos do útero, está aí, bem debaixo de nossos narizes.
Gabinete de crise - SONIA RACY
O ESTADÃO - 21/11
Hoje, embora não exista previsão legal para liberação coletiva em datas especiais, cerca de 20 mil detentos são colocados nas ruas nesses períodos – sem fiscalização adequada. O Estado tem apenas 4.800 tornozeleiras eletrônicas.
A proposta do TJ é que as autorizações sejam distribuídas ao longo do ano para que, a cada vez, saiam da cadeia no máximo 4.500 presos.
Menina dos olhos
Em encontro com a bancada paulista do PT na Câmara, Haddad pediu aos deputados atenção especial à Região Metropolitana de SP. Ele pretende elaborar plano de governo comum para a área, com foco na saúde e nos transportes.
As primeiras ações começam nos próximos dias, quando o petista se reúne com os prefeitos eleitos da região – considerada peça fundamental para o partido rumo a 2014.
Símbolo
Interlocutores de Alckmin revelam que o governador está preocupado com a falta de uma marca para seu governo. A avaliação é que 2013 seja o Ano-Chave para que ela seja criada e concretizada.
Na justiça
Às vésperas da eleição na OAB,projeto que reforça a posição dos advogados da Assistência Judiciária –- em contraposição aos defensores públicos – voltará a ser discutido na Assembleia paulista.
Campos Machado, autor do projeto, defende que a simples criação de cargos na Defensoria não supre a demanda dos casos de pessoas carentes em todo o estado.
Futebol pacífico
Foi aprovada, pela Ancine, a captação de R$ 950 mil para a realização de Campos da Paz.
Trata-se de documentário, de João Gilmar Rodrigues, sobre as dificuldades dos palestinos em formar uma seleção de futebol.
Outra bola
Arnaldo Tirone comemora: acabam de chegar ao Parque Antártica três novos jogadores, além de Arturo Alvarez, técnico espanhol de renome internacional.
Para reforçar a equipe de basquete do Verdão...
Tempero nativo
O catering do avião presidencial, na volta da visita oficial de Dilma à Espanha, teve parrillada de verduras com presunto ibérico, arroz biro-biro e farofa de ovo, entre outras iguarias.
Tudo com assinatura do Rubaiyat de Madri.
Hermano?
Neymar, que levou o prêmio Puskas de mais belo gol em 2011, está de novo na briga. Só Muricy anda cismado: “Imagina se dá Messi, e logo com aquele gol contra o Brasil”, disse à coluna.
O argentino também está na disputa. Mas fontes na Fifa garantem: ninguém tira a taça do colombiano Falcão Garcia.
Squindô
A festa de posse de Joaquim Barbosa como presidente do STF, na quinta, terá muito ritmo.
E o ministro garantiu a amigos que tentará “pelo menos um sambinha”, apesar das crônicas dores nas costas.
Na frente
•O rei Roberto Carlos inaugura, com show exclusivo, o Espaço das Américas. Dia 4, na Barra Funda.
•Robert Wilson apresenta seu inédito Macbeth no Teatro Municipal. A partir de sexta-feira.
•Daniel Galera autografa seu novo livro. Hoje, na Livraria da Vila da Fradique.
•Jonathan Medved dá palestra durante café da manhã. Amanhã, no Teatro Eva Herz.
•Marina de la Riva apresenta, sexta, o show Viva la Canción, no MIS.
•No hotel Museum, na Capadócia, a ocupação é 80% de brasileiros. Que também aproveitaram o feriado em Esmirna e Istambul. Será efeito da novela?
UM MILHÃO DE PIPOCAS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 21/11
Os cineastas Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky comemoram amanhã, às 19h30, no parque Ibirapuera, 1 milhão de espectadores do Cine Tela Brasil. A sessão de cinema será feita em um dos telões que viaja o país, exibindo filmes de graça. Os dois também trabalham juntos no projeto de um novo longa, "Como Nossos Pais", que ele roteirizou e ela vai dirigir. "Não funcionaria dirigir junto", diz ela, "porque é um olhar específico".
JOAQUIM FALA
Aguardado com expectativa, o discurso de posse de Joaquim Barbosa na Presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) amanhã deve desapontar os que apostam em uma fala recheada de recados à presidente Dilma Rousseff, a outros Poderes ou mesmo a magistrados. O ministro é avesso a esse tipo de iniciativa.
DE PERTO
Aos poucos interlocutores com quem tem conversado, Barbosa dia que só quem não o conhece bem aposta numa gestão com crises gratuitas, internas ou na relação com a Presidência e o Congresso.
DE PERTO 2
Em entrevista exclusiva à Folha, em outubro, o próprio ministro afirmou, sobre divergências com colegas do STF, que "uma coisa é você estar lá [no plenário], no embate de ideias e pontos de vista. Outra é você ter a responsabilidade pelo todo".
DE PERTO 4
Barbosa afirmou também o que agora tem repetido a interlocutores: ele deve abordar questões delicadas do Judiciário. "No Brasil, coisas absurdas são admitidas como as mais naturais. Por exemplo, filhos e mulheres de juízes advogarem nas cortes em que seus parentes atuam".
CHURRASCO
Na despedida da Espanha, Dilma Rousseff jantou no Rubaiyat de Madri. Encarou uma chuleta de cordeiro como prato principal. Na companhia do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e de diplomatas, degustou, de entrada, o tradicional presunto espanhol pata negra e pão de queijo recheado com uva, vinho tinto e queijo.
PAREM AS ROTATIVAS
O diretor Jorge Furtado começa a rodar seu novo longa que tem a imprensa como tema. "Mercado de Notícias" se baseia na peça homônima do dramaturgo inglês Ben Jonson, contemporâneo de Shakespeare. "Vou misturar encenação e documentário para discutir o papel da mídia", diz. As filmagens começam 4 de dezembro com entrevistas de jornalistas que vão falar da cobertura de escândalos recentes ocorridos no país.
SER TÃO SERTÃO
Chambinho do Acordeon, que interpreta Gonzagão no filme "Gonzaga - de Pai para Filho", viverá o rei do baião fora da tela.
Foi convidado por Milú Villela para fazer show no sábado e no domingo no Itaú Cultural, na av. Paulista.
FOGO NO GELO
Representantes da Marinha do Brasil e do Instituto de Arquitetos do Brasil estudam lançar um concurso público internacional para escolher o projeto da nova Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída em incêndio em fevereiro. A competição deve ser realizada no primeiro trimestre de 2013.
QUER QUE DESENHE?
Simon Collins, reitor da renomada faculdade inglesa de design Parsons, dará palestra a estudantes de moda e arquitetura brasileiros.
Ele fala em SP no dia 26, a convite da Student Travel Bureau.
BALDE DE VOLTA
A banda gaúcha de rock Bidê ou Balde volta à ativa após oito anos. Lança o CD "Eles São Assim. E Assim Por Diante" ainda neste mês e grava clipe para a música "+Q1Amigo" na semana que vem. O vídeo é sobre a história de amor entre um homem sem rosto e uma mulher com um espelho no lugar da face. O grupo é coadjuvante no filme.
NA RAÇA
A atriz Cacau Protásio foi uma das homenageadas do Troféu Raça Negra, anteontem. O rapper Mano Brown e a jogadora de vôlei Fabiana assistiram a show de Jair Rodrigues, na Sala São Paulo. Luiz Fux, ministro do STF, foi à cerimônia, em que também esteve Bernice King, filha do líder Martin Luther King Júnior.
CURTO-CIRCUITO
Regina Duarte inaugura hoje, às 19h30, exposição de fotos e de vídeos sobre sua carreira. "Espelho da Alma - A Atriz e seu Tempo" fica em cartaz por dois meses, no Liceu de Artes e Ofícios de SP.
O restaurante Rive Gauche Cuisine abre hoje no shopping Cidade Jardim.
É hoje o lançamento da coleção da Mixed para a rede C&A,às 21h, no shopping Iguatemi.
A exposição "Luz, Linhas, Lugares", de Candida Höfer, é aberta às 21h de hoje, na galeria Leme.
Salles & Von Brusky Escritório de Arte realiza leilão a partir do dia 26.
JOAQUIM FALA
Aguardado com expectativa, o discurso de posse de Joaquim Barbosa na Presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) amanhã deve desapontar os que apostam em uma fala recheada de recados à presidente Dilma Rousseff, a outros Poderes ou mesmo a magistrados. O ministro é avesso a esse tipo de iniciativa.
DE PERTO
Aos poucos interlocutores com quem tem conversado, Barbosa dia que só quem não o conhece bem aposta numa gestão com crises gratuitas, internas ou na relação com a Presidência e o Congresso.
DE PERTO 2
Em entrevista exclusiva à Folha, em outubro, o próprio ministro afirmou, sobre divergências com colegas do STF, que "uma coisa é você estar lá [no plenário], no embate de ideias e pontos de vista. Outra é você ter a responsabilidade pelo todo".
DE PERTO 4
Barbosa afirmou também o que agora tem repetido a interlocutores: ele deve abordar questões delicadas do Judiciário. "No Brasil, coisas absurdas são admitidas como as mais naturais. Por exemplo, filhos e mulheres de juízes advogarem nas cortes em que seus parentes atuam".
CHURRASCO
Na despedida da Espanha, Dilma Rousseff jantou no Rubaiyat de Madri. Encarou uma chuleta de cordeiro como prato principal. Na companhia do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e de diplomatas, degustou, de entrada, o tradicional presunto espanhol pata negra e pão de queijo recheado com uva, vinho tinto e queijo.
PAREM AS ROTATIVAS
O diretor Jorge Furtado começa a rodar seu novo longa que tem a imprensa como tema. "Mercado de Notícias" se baseia na peça homônima do dramaturgo inglês Ben Jonson, contemporâneo de Shakespeare. "Vou misturar encenação e documentário para discutir o papel da mídia", diz. As filmagens começam 4 de dezembro com entrevistas de jornalistas que vão falar da cobertura de escândalos recentes ocorridos no país.
SER TÃO SERTÃO
Chambinho do Acordeon, que interpreta Gonzagão no filme "Gonzaga - de Pai para Filho", viverá o rei do baião fora da tela.
Foi convidado por Milú Villela para fazer show no sábado e no domingo no Itaú Cultural, na av. Paulista.
FOGO NO GELO
Representantes da Marinha do Brasil e do Instituto de Arquitetos do Brasil estudam lançar um concurso público internacional para escolher o projeto da nova Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída em incêndio em fevereiro. A competição deve ser realizada no primeiro trimestre de 2013.
QUER QUE DESENHE?
Simon Collins, reitor da renomada faculdade inglesa de design Parsons, dará palestra a estudantes de moda e arquitetura brasileiros.
Ele fala em SP no dia 26, a convite da Student Travel Bureau.
BALDE DE VOLTA
A banda gaúcha de rock Bidê ou Balde volta à ativa após oito anos. Lança o CD "Eles São Assim. E Assim Por Diante" ainda neste mês e grava clipe para a música "+Q1Amigo" na semana que vem. O vídeo é sobre a história de amor entre um homem sem rosto e uma mulher com um espelho no lugar da face. O grupo é coadjuvante no filme.
NA RAÇA
A atriz Cacau Protásio foi uma das homenageadas do Troféu Raça Negra, anteontem. O rapper Mano Brown e a jogadora de vôlei Fabiana assistiram a show de Jair Rodrigues, na Sala São Paulo. Luiz Fux, ministro do STF, foi à cerimônia, em que também esteve Bernice King, filha do líder Martin Luther King Júnior.
CURTO-CIRCUITO
Regina Duarte inaugura hoje, às 19h30, exposição de fotos e de vídeos sobre sua carreira. "Espelho da Alma - A Atriz e seu Tempo" fica em cartaz por dois meses, no Liceu de Artes e Ofícios de SP.
O restaurante Rive Gauche Cuisine abre hoje no shopping Cidade Jardim.
É hoje o lançamento da coleção da Mixed para a rede C&A,às 21h, no shopping Iguatemi.
A exposição "Luz, Linhas, Lugares", de Candida Höfer, é aberta às 21h de hoje, na galeria Leme.
Salles & Von Brusky Escritório de Arte realiza leilão a partir do dia 26.
A lei num mundo sem fronteiras - JORGE NÓBREGA
O GLOBO - 21/11
Misturar o conceito de liberdade no ambiente da internet, incluindo o de liberdade de expressão, com a ideia de fim das fronteiras, sem incluir a lei, é sugerir que a pós-modernidade é anárquica
Há dois mil anos, os romanos consolidaram as ideias de fronteira e lei como pilares de seu império. Além da lei e da fronteira, só existia a barbárie. Como lembra Umberto Eco, se lei e fronteira não são reconhecidas, então, não pode haver civitas — a cidadania. O longo período de trevas em que o mundo europeu mergulhou na Idade Média surgiu em decorrência do rompimento das fronteiras romanas e de suas leis. Só a lenta organização dos Estados europeus, forjando leis nacionais e desenhando fronteiras, recriou a civilização como a conhecemos, muitos séculos depois.
O mundo contemporâneo flexibilizou os limites que já não são quase visíveis fisicamente. Podemos cruzar de avião muitas fronteiras nacionais sem percebê-las. Nossa comunicação digital com qualquer um em qualquer parte do mundo, as compras que fazemos pela Amazon, a circulação instantânea da informação são alguns exemplos que nos dão a impressão de que vivemos num “mundo sem fronteiras”. Quem tem mais dificuldade de viver essa realidade é a gente mesmo, fisicamente, com todos os aparatos de controle de migração e segurança que enfrentamos. Faz até pensar em como seria bom viajar só com nossos corpos virtuais, o que talvez seja possível um dia.
O que vemos hoje, no ambiente digital, é o incentivo ao conceito do mundo sem fronteiras como a nova utopia. Mas essa sedutora utopia do mundo global, com menos limites reais e virtuais, facilitando o trânsito de mercadorias, capitais e ideias, só pode ser alcançada à medida que a lei também se torna mais ampla, incorporando esses avanços. Esse processo é permanente e contínuo e, às vezes, descompassado. Cada ampliação do conceito de fronteira precisa encontrar seu correspondente no ambiente legal. Afinal, o mundo sem limites não pode significar o mundo sem lei. O que é o atual problema europeu senão o da criação de uma moeda que atravessa fronteiras, o euro, sem uma correspondente legislação tributária que regule de forma coerente os efeitos de sua adoção?
Misturar o conceito de liberdade no ambiente da internet, incluindo o de liberdade de expressão, com a ideia de fim das fronteiras, sem incluir a lei, é sugerir que a pós-modernidade é anárquica, e, intencionalmente, levar à conclusão de que a lei não pode ou não deve regulá-la. A quem interessa esse movimento? Vamos dar nome aos bois: interessa, principalmente, a quem atua globalmente no mundo virtual, de forma monopolista, sem pagar impostos e sem se sujeitar às leis dos Estados nacionais, ou mesmo às leis internacionais. Na semana passada, uma das megaempresas mundiais de busca na internet foi condenada a pagar um bilhão de euros em impostos não recolhidos na França, pois, como num passe de mágica, transferia virtualmente as atividades reais que fazia em território francês para a Irlanda, país de regulação tributária mais favorável. Atrás do escudo dessa utopia pós-moderna, em si um oxímoro, esconde-se o conluio entre a malícia de poucos e a ingenuidade de muitos.
O mundo virtual dilui fronteiras, mas isso não pode ser justificativa para diluir a lei. O desafio do nosso tempo é criar leis que promovam a justiça e ordenem o funcionamento da sociedade nas diferentes formas em que a vida social se manifesta, inclusive no ambiente virtual. Isso não tem nada a ver com controlar a vida do cidadão ou transformar o Estado num Grande Irmão (muito pelo contrário, pois a vida de todos nós já está muito bem registrada nos computadores privados das empresas digitais). Afinal, não há diferença entre arrombar fisicamente um banco e surrupiar virtualmente uma conta bancária. Difamar alguém num blog é o mesmo que fazê-lo numa revista. Não recolher imposto numa transação virtual internacional não passa de contrabando digital. Ou a sociedade entende isso, ou caminhará alegremente para a barbárie, fantasiada de pós-modernidade digital. Para o deleite e lucro de uns poucos — esses sim, muito reais.
Misturar o conceito de liberdade no ambiente da internet, incluindo o de liberdade de expressão, com a ideia de fim das fronteiras, sem incluir a lei, é sugerir que a pós-modernidade é anárquica
Há dois mil anos, os romanos consolidaram as ideias de fronteira e lei como pilares de seu império. Além da lei e da fronteira, só existia a barbárie. Como lembra Umberto Eco, se lei e fronteira não são reconhecidas, então, não pode haver civitas — a cidadania. O longo período de trevas em que o mundo europeu mergulhou na Idade Média surgiu em decorrência do rompimento das fronteiras romanas e de suas leis. Só a lenta organização dos Estados europeus, forjando leis nacionais e desenhando fronteiras, recriou a civilização como a conhecemos, muitos séculos depois.
O mundo contemporâneo flexibilizou os limites que já não são quase visíveis fisicamente. Podemos cruzar de avião muitas fronteiras nacionais sem percebê-las. Nossa comunicação digital com qualquer um em qualquer parte do mundo, as compras que fazemos pela Amazon, a circulação instantânea da informação são alguns exemplos que nos dão a impressão de que vivemos num “mundo sem fronteiras”. Quem tem mais dificuldade de viver essa realidade é a gente mesmo, fisicamente, com todos os aparatos de controle de migração e segurança que enfrentamos. Faz até pensar em como seria bom viajar só com nossos corpos virtuais, o que talvez seja possível um dia.
O que vemos hoje, no ambiente digital, é o incentivo ao conceito do mundo sem fronteiras como a nova utopia. Mas essa sedutora utopia do mundo global, com menos limites reais e virtuais, facilitando o trânsito de mercadorias, capitais e ideias, só pode ser alcançada à medida que a lei também se torna mais ampla, incorporando esses avanços. Esse processo é permanente e contínuo e, às vezes, descompassado. Cada ampliação do conceito de fronteira precisa encontrar seu correspondente no ambiente legal. Afinal, o mundo sem limites não pode significar o mundo sem lei. O que é o atual problema europeu senão o da criação de uma moeda que atravessa fronteiras, o euro, sem uma correspondente legislação tributária que regule de forma coerente os efeitos de sua adoção?
Misturar o conceito de liberdade no ambiente da internet, incluindo o de liberdade de expressão, com a ideia de fim das fronteiras, sem incluir a lei, é sugerir que a pós-modernidade é anárquica, e, intencionalmente, levar à conclusão de que a lei não pode ou não deve regulá-la. A quem interessa esse movimento? Vamos dar nome aos bois: interessa, principalmente, a quem atua globalmente no mundo virtual, de forma monopolista, sem pagar impostos e sem se sujeitar às leis dos Estados nacionais, ou mesmo às leis internacionais. Na semana passada, uma das megaempresas mundiais de busca na internet foi condenada a pagar um bilhão de euros em impostos não recolhidos na França, pois, como num passe de mágica, transferia virtualmente as atividades reais que fazia em território francês para a Irlanda, país de regulação tributária mais favorável. Atrás do escudo dessa utopia pós-moderna, em si um oxímoro, esconde-se o conluio entre a malícia de poucos e a ingenuidade de muitos.
O mundo virtual dilui fronteiras, mas isso não pode ser justificativa para diluir a lei. O desafio do nosso tempo é criar leis que promovam a justiça e ordenem o funcionamento da sociedade nas diferentes formas em que a vida social se manifesta, inclusive no ambiente virtual. Isso não tem nada a ver com controlar a vida do cidadão ou transformar o Estado num Grande Irmão (muito pelo contrário, pois a vida de todos nós já está muito bem registrada nos computadores privados das empresas digitais). Afinal, não há diferença entre arrombar fisicamente um banco e surrupiar virtualmente uma conta bancária. Difamar alguém num blog é o mesmo que fazê-lo numa revista. Não recolher imposto numa transação virtual internacional não passa de contrabando digital. Ou a sociedade entende isso, ou caminhará alegremente para a barbárie, fantasiada de pós-modernidade digital. Para o deleite e lucro de uns poucos — esses sim, muito reais.
Atrasos e caneladas - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 21/11
Atraso "é da regra do jogo", disse a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao comentar a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), um sucesso muito maior nos balanços oficiais do que na realidade dos canteiros de obras. Mais do que contestável, essa é uma afirmação perigosa. Atrasos elevam custos e quem paga a conta é o contribuinte. Quanto maior a demora, maior o risco de revisão de contratos para aumento de preços. Se fosse necessário algum exemplo, bastaria apontar os investimentos previstos para a Copa do Mundo. Toda a projeção de gastos foi amplamente estourada, porque os trabalhos se atrasaram desde o começo e só ganharam algum impulso depois de humilhantes pressões da Fifa.
A ministra incorreu numa evidente confusão. Há sempre o risco de atrasos, como há também o perigo, quase certo, de caneladas num jogo de futebol. Nenhum desses eventos, no entanto, é "da regra do jogo". Ao contrário: uns e outros são infrações e normalmente acarretam ou deveriam acarretar punições.
A frase da ministra, no entanto, dá uma ideia incompleta da posição do governo. A tolerância ao baixo ritmo de execução das obras é maior do que pode parecer inicialmente. Os responsáveis pela avaliação atribuem selo verde às obras consideradas em ritmo adequado, amarelo àquelas merecedoras de atenção e vermelho àquelas consideradas preocupantes. O selo verde pode ser concedido, no entanto, a uma obra fora do prazo, se nenhum obstáculo importante for detectado no exame. "Se eu colocasse cada dia de atraso, tudo teria de ser vermelho", explicou a ministra a jornalistas, na segunda-feira.
Apesar dessa explicação - ou confissão -, o governo considera adequado o andamento do PAC, segundo a ministra do Planejamento. Ela apenas admitiu alguma preocupação com o ritmo de algumas obras. De modo geral, no entanto, tanto os desembolsos quanto a execução dos projetos são satisfatórios e vêm-se tornando mais eficientes, segundo sua exposição.
É uma estranha concepção de eficiência. Quando se consideram apenas os gastos incluídos no Orçamento-Geral da União (OGU) e custeados pelo Tesouro, os resultados continuam abaixo de medíocres. De janeiro ao fim de outubro, foram pagos R$ 26,6 bilhões, equivalentes a 56,1% do total previsto para o ano e a 67,3% da dotação correspondente a dez meses. Mais de dois terços dos desembolsos - 68,4% - foram realizados, no entanto, com restos a pagar, isto, é, com dinheiro empenhado em exercícios anteriores. Da verba orçada para o ano só saíram R$ 8,3 bilhões.
O quadro continua pouco animador quando se examina a execução total do programa, com projetos sob responsabilidade do Tesouro, das estatais, do setor privado e dos Estados e municípios. As aplicações totais do PAC 2, desde o começo do ano passado até setembro deste ano, chegaram a R$ 385,9 bilhões, ou 40,4% do valor previsto para ser gasto até o fim de 2014. Parte daquelas aplicações corresponde a desembolsos. Outra parte, relativa aos projetos da Marinha Mercante, das concessões aeroportuárias, dos financiamentos habitacionais do sistema de poupança e empréstimo e do programa Minha Casa, Minha Vida, é composta de montantes contratados. Todos os valores são contados como investimentos, graças a uma licença poética.
Essa licença consiste na inclusão dos financiamentos habitacionais no total investido. Os empréstimos e subsídios para habitação - R$ 154,9 bilhões - equivalem a 40,1% dos R$ 385,9 bilhões aplicados entre o começo do ano passado e o fim de setembro deste ano. Só com uma formidável dose de boa vontade é possível incluir esses financiamentos no total dos investimentos do PAC. Mas nem essa boa vontade é suficiente para tornar o conjunto mais entusiasmante: os investimentos necessários para tornar a economia mais eficiente - estradas, portos, aeroportos, sistemas de geração, transmissão e distribuição de eletricidade, produção e processamento de petróleo e gás, etc. - são muito menores do que o valor total proclamado pelo governo. Em alguns desses projetos ocorrem os maiores atrasos considerados pelo governo como "da regra do jogo".
Imagine até a Copa - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 21/11
Chamar o amistoso de hoje de Superclássico das Américas é inapropriado e inconveniente
Se o campeão e os quatro classificados para a Libertadores não fossem já conhecidos, o jogo de hoje, inapropriadamente chamado de Superclássico das Américas, como se fosse entre os times titulares de Brasil e Argentina, seria ainda mais inconveniente e mais fora de hora.
Fernando Pessoa escreveu, em um de seus poemas: "Tudo é símbolo". Ele diria hoje que tudo é marketing. As coisas não são como são. São como são anunciadas e vendidas. Só falta dizerem que é a partida do século.
Todos somos marqueteiros.
Uns mais que os outros. O marqueteiro é sempre otimista. Isso pode ser bom ou ruim.
Partidas com muita emoção, mas de péssima qualidade técnica, tornaram-se espetaculares. Jogadores medíocres são importantes taticamente, e os bons passam a ser craques. A Copa no Brasil, mesmo com tanto desperdício de dinheiro público, demolição de escolas e coisas suspeitas, será a melhor de todos os tempos, do passado, do presente e do futuro.
Imagine o que dirão até a Copa!
Escrevi sobre os jogadores supervalorizados do Brasileirão. No futebol mundial, o maior de todos é Fernando Torres. Há muito tempo, ele não joga nada. Antes das partidas, cria-se uma grande expectativa sobre a atuação do centroavante espanhol. Parece que todos torcem por ele, ainda mais com sua cara de menino triste. O apelido de "El Niño" seria por isso? Quando faz um gol, é saudado como um craque. Só falta a torcida do Chelsea cantar: "O Torres voltou, o Torres voltou".
Falei que estou preocupado com Daniel Alves e David Luiz. Não disse que os dois não mereçam ser titulares da seleção. Não há outras melhores opções.
O Barcelona, desde o ano passado, está também preocupado com Daniel Alves. David Luiz alterna ótimas partidas, como a contra a Colômbia, com outras fracas, como no último jogo pelo Campeonato Inglês. Ele, às vezes, é afoito e corre demais atrás dos atacantes.
Entre tantos motivos para a queda do Palmeiras, o principal é técnico. Os responsáveis são os últimos treinadores e o diretor de futebol. O time contratou, por sugestão dos técnicos, vários jogadores fracos, alguns caríssimos.
Arnaldo Tirone e nenhum outro presidente de clube entendem de detalhes de futebol. O presidente tem de saber administrar o clube, o que não sei se Tirone sabe.
Na última semana, o grande lance do futebol foi o gol de Ibrahimovic. Há jogadas que não têm explicação e/ou não sabemos descrevê-las, por falta de talento literário.
Luís Fernando Veríssimo, em uma de suas crônicas sobre pessoas estarem nos lugares e nos momentos certos, disse que o primeiro homem a pisar na Lua deveria ter sido um grande poeta. Faltou um Nelson Rodrigues, um Armando Nogueira, para descrever o gol de Ibrahimovic.
Chamar o amistoso de hoje de Superclássico das Américas é inapropriado e inconveniente
Se o campeão e os quatro classificados para a Libertadores não fossem já conhecidos, o jogo de hoje, inapropriadamente chamado de Superclássico das Américas, como se fosse entre os times titulares de Brasil e Argentina, seria ainda mais inconveniente e mais fora de hora.
Fernando Pessoa escreveu, em um de seus poemas: "Tudo é símbolo". Ele diria hoje que tudo é marketing. As coisas não são como são. São como são anunciadas e vendidas. Só falta dizerem que é a partida do século.
Todos somos marqueteiros.
Uns mais que os outros. O marqueteiro é sempre otimista. Isso pode ser bom ou ruim.
Partidas com muita emoção, mas de péssima qualidade técnica, tornaram-se espetaculares. Jogadores medíocres são importantes taticamente, e os bons passam a ser craques. A Copa no Brasil, mesmo com tanto desperdício de dinheiro público, demolição de escolas e coisas suspeitas, será a melhor de todos os tempos, do passado, do presente e do futuro.
Imagine o que dirão até a Copa!
Escrevi sobre os jogadores supervalorizados do Brasileirão. No futebol mundial, o maior de todos é Fernando Torres. Há muito tempo, ele não joga nada. Antes das partidas, cria-se uma grande expectativa sobre a atuação do centroavante espanhol. Parece que todos torcem por ele, ainda mais com sua cara de menino triste. O apelido de "El Niño" seria por isso? Quando faz um gol, é saudado como um craque. Só falta a torcida do Chelsea cantar: "O Torres voltou, o Torres voltou".
Falei que estou preocupado com Daniel Alves e David Luiz. Não disse que os dois não mereçam ser titulares da seleção. Não há outras melhores opções.
O Barcelona, desde o ano passado, está também preocupado com Daniel Alves. David Luiz alterna ótimas partidas, como a contra a Colômbia, com outras fracas, como no último jogo pelo Campeonato Inglês. Ele, às vezes, é afoito e corre demais atrás dos atacantes.
Entre tantos motivos para a queda do Palmeiras, o principal é técnico. Os responsáveis são os últimos treinadores e o diretor de futebol. O time contratou, por sugestão dos técnicos, vários jogadores fracos, alguns caríssimos.
Arnaldo Tirone e nenhum outro presidente de clube entendem de detalhes de futebol. O presidente tem de saber administrar o clube, o que não sei se Tirone sabe.
Na última semana, o grande lance do futebol foi o gol de Ibrahimovic. Há jogadas que não têm explicação e/ou não sabemos descrevê-las, por falta de talento literário.
Luís Fernando Veríssimo, em uma de suas crônicas sobre pessoas estarem nos lugares e nos momentos certos, disse que o primeiro homem a pisar na Lua deveria ter sido um grande poeta. Faltou um Nelson Rodrigues, um Armando Nogueira, para descrever o gol de Ibrahimovic.
Shakespeare no Brasil - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 21/11
"O mundo é um palco e todos os homens e mulheres são meros atores. Eles têm suas entradas e saídas de cena e cada homem, a seu tempo, representa muitos papéis."
Essa profunda descoberta está na peça Como Gostais ou Como Quereis (em inglês, As You Like It), de William Shakespeare. A obra foi escrita em 1599, quando o Brasil, gloriosamente habitado por tupinambás, fundava suas primeiras cidades e era invadido pelos franceses. Vale lembrar essa reflexão sobre o teatro e o mundo que eu chamo de "axioma de Shakespeare" neste Brasil de 2012, habitado por tribos que querem o poder a qualquer preço e por políticos que, diferentemente de Rosalinda (a mocinha da peça), não sabem que há uma razoável distância entre ator e papel, entre o cargo (com suas demandas) e quem o ocupa (com suas limitações).
Ademais, é preciso liquidar de vez com a relação entre política e teatro porque, se há muito de teatral na política, política não é teatro. No palco pode haver esse "as you like it" - esse "a teu gosto" shakespeariano. Mas na política é preciso cumprir metas atacando de frente a injustiça e a desigualdade ou - como lembrou o ministro da Justiça - multiplicar o número de prisões e tirá-las de um medievalismo desumano.
Num caso, tudo é fantasia e tem hora para começar e terminar; no outro, a luta contra a iniquidade não acaba e o Brasil, como estamos fartos de saber, está atrasado em quase tudo. Repetimos dramas que não deveriam mais ser vistos com uma insistência que causa vergonha e não os aplausos que conferimos com gosto no teatro.
O fato central é que o axioma de Shakespeare, esse fundador do humano, na opinião douta de Harold Bloom, nos leva a discutir se o papel faz a pessoa ou se ocorre justamente o oposto.
Eis a questão que tem permeado a democracia liberal e a modernidade tão exemplarmente demarcadas por Alexis de Tocqueville quando descobre que, na América que visitou nos 1830, o mundo era construído mais de indivíduos do que de pessoas, como ocorria nas aristocracias das quais ele fazia parte. Nas aristocracias, o mundo era fixo, as pessoas entravam nos papéis. Nas democracias, dava-se exatamente o contrário: o papel era moldado por pessoas que os redesenhavam ou expandiam. Novos papéis eram sempre inventados.
Mas até que ponto podemos sair e entrar nos papéis que o grande palco da vida nos obriga a desempenhar? Até onde eles devem ser levados a sério? Será que hoje vivemos uma dessacralização de todos os papéis?
* * * *
Penso que não. Sobretudo se falamos dos papéis públicos - os chamados cargos governamentais. Esses papéis tão pouco discutidos no Brasil, mas que têm sido centrais no meu trabalho.
Cargos públicos ou papéis sociais coletivos, voltados para o bem ou para o mal comum, são parcialmente escolhidos e legitimados. Uma pessoa quer ser ministro, mas para tanto precisa ser escolhido pelo presidente. Ser e estar, como disse Eduardo Portella, é um traço fundamental desses ofícios. Eu posso estar e não ser; ou posso ser e não estar. O lado individual tem de ser conjugado pelo lado legitimador da autoridade. Ninguém é ministro sozinho e quando se está ministro não se está individualizado. Pode um ministro dar publicamente uma opinião como cidadão?
Melhor não fazê-lo. Imagine um general dizendo que seus soldados são uns merdas. Ou um presidente dizendo que a tarefa é maior do que ele imaginava. Ou um juiz que se comporta como advogado de defesa.
Tais casos configuram, no máximo, má-fé e estelionato coletivo (algo que nos últimos dez anos temos assistido passiva e covardemente no Brasil) e, no mínimo, falta de consciência de que um cargo público (pertencendo à coletividade) não permite que o seu ocupante tenha vida privada. Há cargos e cargos. Mas os públicos devoram o lado íntimo das pessoas que os ocupam. O cargo, sendo coletivo, contamina o ator obrigando-o a uma complexa transparência. Só nós, brasileiros, que estamos sempre a reinventar o mundo legal e político com ficções que legitimam o crime como heroísmo e o roubo como parte de uma boa biografia, nos surpreendemos com esse fato.
Se assim não fosse, eu poderia ter as páginas deste jornal para falar grosso disso ou daquilo. Não falo porque não sou ministro; porque não tenho a presença coletiva de um cargo que não é meu, mas é do País e da sociedade. Os pais podem maldizer ou abençoar seus filhos e os ocupantes de cargos públicos podem desgraçar ou exaltar partidos e governos.
É o que vemos hoje no Brasil. Uma shakespeariana troca de papéis com - graças a Deus - consequências e, espero eu, consciência.
Campo minado - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 21/11
Fernando Haddad deve nomear o vereador Chico Macena (PT), tesoureiro de sua campanha, para a Secretaria de Coordenação de Subprefeituras. A pasta fará a ruptura do modelo implantado por Gilberto Kassab nas 31 unidades regionais, dirigidas por coronéis. Macena já foi administrador da Vila Prudente na gestão de Luiza Erundina. Caberá a ele domar o apetite por cargos dos colegas de Câmara, que desejam recuperar espaço na "máquina" em seus redutos eleitorais.
Headhunter O prefeito eleito diz que levará em conta o critério político na escolha dos subprefeitos, mas exigirá currículos de gestor.
Xadrez Eliseu Gabriel (PSB), também vereador, recebeu convite para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e deve aceitar. Seu suplente, o petista Alessandro Guedes, é ligado ao deputado federal José Mentor.
Cada um no... Como Netinho de Paula (PC do B) assumirá a nova Secretaria de Igualdade Racial, o PP indicará o titular da Habitação e o PV sugeriu Roberto Trípoli para o Verde, resta solucionar o impasse com o PMDB.
... seu quadrado Haddad e Gabriel Chalita discutem instalar um peemedebista na Ação Social. Vereadores da sigla, contudo, resistem. Pleitearam, sem sucesso, Esportes para Nello Rodolfo.
Zona do agrião A hipótese mais provável é que a pasta, que herdará as atribuições da Secretaria da Copa, seja ocupada pelo ex-jogador Raí, que gerencia a ONG "Atletas pela Cidadania".
Repatriado O futuro secretário de Finanças de São Paulo, Marcos Cruz, chegou domingo da Turquia e vai se integrar imediatamente à equipe de transição de Haddad, instalada no escritório da Caixa Econômica Federal.
Torcida... Após encontro com José Dirceu, ontem, em Brasília, o presidente da UNE, Daniel Iliescu, anunciou que a entidade realizará eventos para debater o que chama de "injusta condenação" do ex-ministro pelo STF.
... organizada A ideia é reunir intelectuais e representantes de movimentos sociais em atos públicos em São Paulo e no Rio, em dezembro.
Colateral O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não se surpreendeu com a recomendação feita pelo relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), para que o CNMP abra investigação contra ele. Para o PGR, é uma tentativa de atingi-lo após a condenação de petistas no mensalão.
Voo solo O PMDB reprovou a decisão de Odair Cunha de não submeter o texto antes à bancada do partido, como era esperado. Por isso, os peemedebistas se dizem agora liberados para votar contra pontos do documento.
Protocolar Na última hora, liderada pelo deputado Carlos Sampaio, a bancada do PSDB na CPI procurou o relator para tentar reverter o indiciamento do governador Marconi Perillo (GO).
Mago O "hit" do almoço oferecido pelo rei Juan Carlos, da Espanha, aos chefes de Estado em Madri foi o novo corte de cabelo do escritor Paulo Coelho, careca na frente com um rabo de cavalo longo atrás. Houve fila para autógrafos de fãs na saída.
Encontros... Dilma Rousseff recebe hoje à tarde, no Planalto, senadores do bloco PR-PTB-PSC. Deverá ter conversa reservada com Blairo Maggi (MT) sobre sua intenção de deixar a legenda.
...e reencontros Na lista dos convidados está o senador Alfredo Nascimento, ex-ministro defenestrado por ela dos Transportes em 2011.
com FÁBIO ZAMBELI e BRENO COSTA
tiroteio
"Presídios e hospícios serão os destinos dos que defendem a fusão do PTB com o DEM, eliminando a sigla criada por Getulio Vargas."
DO PRESIDENTE DO PTB-SP, CAMPOS MACHADO, sobre a proposta de fusão de seu partido com o Democratas, defendida por setores petebistas.
contraponto
Uma coisa de cada vez
Paulo Paim (PT-RS), defensor de reajuste para aposentados, participava, ontem, da reunião da Comissão Mista de Orçamento. O senador, que é negro, recebeu homenagem do presidente da comissão, Paulo Pimenta (PT-RS).
-Hoje é Dia da Consciência Negra, e queria elogiar sua atuação, sempre tão firme nesta causa.
Paim respondeu:
-Me sentiria mais homenageado se a comissão apoiasse a proposta de aumento para os aposentados.
-Senador, hoje é dia da Consciência Negra. O Dia dos Aposentados é outro- finalizou o deputado petista.