quarta-feira, novembro 21, 2012

PT Fase 3 - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 21/11

Primeiro, eles eram um grupo de sindicalistas e intelectuais que, com seus ternos surrados e um jeito despojado, costuravam as próprias bandeiras para agitá-las pedindo auditoria nas contas públicas, na dívida externa e nos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, os petistas disputaram três eleições presidenciais. Na quarta vez, mais amadurecidos, chegaram ao poder e empreenderam as políticas sociais que, exitosas, deram ao ex-presidente Lula a primazia de fazer a sucessora, Dilma Rousseff. Agora, vem a terceira transformação do PT que, ao caminhar para o período pós-mensalão, segue um pouco mais para o centro do espectro político nacional.

Quem teve a oportunidade de ler a entrevista de Dilma, ontem, no jornal Valor Econômico percebeu o desafio que ela enfrenta hoje, de tentar manter o crescimento econômico em um situação adversa. E, para isso, anunciou: será pragmática. Ela não usa a expressão, mas certamente virão as privatizações, que os petistas tanto execraram no passado, numa série de concessões e parcerias público-privadas. Só para tratar do novo modelo de portos, por exemplo, foram feitas, até ontem, 42 reuniões na Casa Civil ao longo dos últimos meses, contadas por uma atenta consultora de relações institucionais.

Tudo isso não é por acaso. Passou a fase de os petistas discutirem se era preciso privatizar ou conceder esse ou aquele setor. Há a certeza de que é preciso capital — e dos bons — para alavancar a economia. E o modelo de concessão é o que mais atende a essa busca. Portanto, diz a pragmática Dilma, assim será feito.

Todos esses movimentos colocam Dilma puxando seu partido ainda mais para o centro, um movimento que deu seus primeiros passos há 10 anos, com a carta aos brasileiros em que Lula prometeu, se eleito, não provocar viradas bruscas na política econômica. Ali, começou a trajetória que Dilma agora pretende fechar. E, nesse caminho, vão ficando no acostamento muitas das ideias da esquerda.

O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) considera que esse caminho não se deu apenas pela economia, onde a presidente começa a ter voz nos fóruns internacionais. Ele cita ainda os comentários da presidente sobre o julgamento da Ação Penal 470. Equilibrada, disse que acata o resultado e ainda emendou que ninguém está livre de paixões e erros humanos. “Ao optar pelo centro e pelo equilíbrio, ela virou uma estadista”, diz Marquezelli.

Por falar em centro…

Diz a lei da física que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço simultaneamente. Logo, se o PT fincar suas raízes no centro, como já está fazendo, alguém sairá para lhe dar a cadeira. Nesse movimento, saem alguns tucanos — como no caso da eleição municipal paulista — e o PMDB que, embora parceiro dos petistas no plano nacional, perde terreno, como já dissemos aqui no último domingo. Os peemedebistas, entretanto, ainda têm alguns recursos, como um portfólio de governadores capaz de seguir rumo ao Senado daqui a dois anos, mas o caminho ainda é incerto.

Por falar em caminho…

Hoje a presidente Dilma Rousseff recebe o bloco PTB-PSC-PR liderado pelo senador Gim Argello (PTB-DF). O encontro faz parte da série de conversas de Dilma para se reaproximar dos partidos da base para preparar a segunda etapa de seu governo. Vale lembrar que esse grupo, de 14 senadores, já está fechado com a candidatura de Renan Calheiros à Presidência do Senado e Henrique Eduardo Alves na Câmara. Ontem, um político experiente do Congresso se referia à pré-candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) contra Henrique Alves como aquela ameaça de temporal que não se confirmou.

Enquanto isso, na sala de Gleisi…

A 42ª reunião da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, sobre a concessão de portos contou com a presença do advogado-geral da União (AGU), Luiz Inácio Adams. O texto já está pronto e passa pelas avaliações sob o ponto de vista jurídico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário