sábado, novembro 17, 2012

Veta, Dilma - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 17/11

Vem aí o funk dos royalties. A Furacão 2000, de Rômulo Costa, por encomenda de Sérgio Cabral,
produz o jingle da manifestação do dia 26, “Veta, Dilma!”, em defesa dos royalties do petróleo do Rio.
O refrão terá a voz da minha, da sua, da nossa musa Camila Pitanga, que cantará assim: “Veta, Dilma!”

A voz da América
Aos poucos Neymar também conquista os EUA, um dos raros países onde o futebol não tem a preferência nacional.
Depois do jornalão “New York Times”, a revista “Time” fez matéria com o craque do Santos e da seleção.

Deficiência auditiva
O Bradesco lançou no Facebook, no início do mês, um aplicativo para acesso de pessoas com deficiência auditiva.
São vídeos em que, na Linguagem Brasileira de Sinais, uma moça dá conselhos sobre finanças e explica como usar serviços bancários. Ontem, atingiu a marca de mil usuários.

Peladona
Joelma, a vocalista da banda Calypso, foi convidada pela “Playboy” para posar nua.

No mais
Essa condenação de Maluf pela Justiça de Jersey, que o considerou culpado pelo desvio de R$ 22 milhões dos cofres públicos, não foi surpresa para ninguém, claro.
Muito menos para Lula, que, ainda assim, aceitou na eleição paulista ser fotografado numa visita ao ex-prefeito, na casa dele.

Crise moral...
Aliás, na época, os tucanos reclamaram das cenas tórridas entre Lula e Maluf. Mas são aliados do malufismo no governo paulista.

Prejuízo federal
De janeiro a setembro deste ano, a Petrobras teve um prejuízo de uns R$ 3,9 bilhões com a comercialização de diesel e gasolina.
Só com o diesel, a perda foi de R$ 3 bilhões. A conta é do consultor Adriano Pires.

Jesus de Nazaré
O Papa Bento XVI, que também é grande teólogo, vai lançar terça, no Vaticano, o último volume de seu livro “Jesus de Nazaré”.
Da entrevista coletiva, às 11h, participam o cardeal Ravasi, presidente do Pontifício Conselho de Cultura, o diretor da Livraria Vaticana e a brasileira Maria Clara Bingemer, professora de teologia na PUC-Rio.

De fora
O advogado Cézar Britto, ex-presidente nacional da OAB e sobrinho de Carlos Ayres Britto, diz, ao contrário do que saiu aqui, que não foi procurado por Zé Dirceu:
— Mesmo que fosse, eu estaria impedido de atuar nesse caso do mensalão por causa do ministro Britto.

REI JOAQUIM
Terça agora, Dia Nacional da Consciência Negra, faz 317 anos da morte de Zumbi, o rei do Quilombo de Palmares. Mas o herói não foi o único rei negro do Brasil — que o diga Pelé, coroado no coração de todos como monarca do futebol. Já se depender desta pichação gigante (tão grande, repare, que não coube numa foto só) no tapume em frente ao futuro Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) do governo do estado, na Cidade Nova, quem vai para o trono é o ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão 


Existência de Deus
Ontem no velório do querido dramaturgo Alcione Araújo, no lugar das orações, um poema de frei Leonardo Boff foi lido pelo diretor Aderbal Freire-Filho. Chama-se “Vazio do tamanho de Deus”.
Boff o escreveu em 2000, após debate com Alcione, no Planetário da Gávea, no Rio, sobre a existência de Deus.

Calma, gente
Dona Inflação já demarcou seu território para o réveillon.
Parceira da coluna tentou reservar o mesmo apartamento do Leme que havia alugado para o réveillon de 2012. O aluguel de 26 de dezembro a 1º de janeiro passou de R$ 4.900 para... R$10.900! Desistiu do negócio.

De Regina eterno
Roberto de Regina, 85 anos, o grande cravista brasileiro, a quem se atribui a construção do primeiro cravo no país, com 26 discos e cinco DVDs, vai gravar seu “Depoimento para a Posteridade”, a série do MIS, dia 21.

Casa do Saber
O advogado Antônio Alberto Gouvêa Vieira é o mais novo sócio da Casa do Saber, no Rio.

Zu nas favelas...
Aliás, nosso Zuenir Ventura dará uma aula em Manguinhos pelo programa Casa do Saber nas Comunidades.

Haja milho
A pré-estreia da última parte do filme “Amanhecer”, da saga “Crepúsculo”, que teve venda antecipada de mais de 145 mil ingressos, também alavancou os negócios nas bonbonnières da rede de cinemas Kinoplex.
Foram vendidos, acredite, 28.748 litros de refrigerante e 33.827 sacos de pipoca. O consumo foi de cinco toneladas de milho num único dia.

Não, os livros não vão acabar - CORA RÓNAI


O GLOBO - 17/11

Certos prazeres são possíveis apenas com volumes em papel, e não se aplicam a e-books em tablets e e-readers

Não sei se é a próxima chegada da Amazon ao Brasil ou a profecia maia do fim do mundo, mas o fato é que nunca vi tanta gente preocupada com o fim do livro. São estudantes que me escrevem motivados por pesquisas escolares, organizadores de eventos literários que me pedem palestras, leitores que manifestam sua apreensão. Em alguns casos, percebo uma espécie perversa de prazer apocalíptico, mas logo desaponto quem quer ver o mar pegando fogo para comer camarão cozido: é que absolutamente não acredito que o livro vai acabar.

Tenho escrito reiteradas vezes sobre o assunto; estou, aliás, numa posição bastante confortável para fazê-lo. Gosto igualmente de livros e de tecnologia, e seria a primeira a abraçar meus dois amores reunidos num só objeto; mas embora o Kindle e os vários pads tenham o seu valor como readers, os livros em papel não estão tão próximos da extinção quanto, digamos, o tigre de Sumatra.

Para começo de conversa, é preciso lembrar que o negócio das editoras não é vender papel, mas sim vender histórias. O papel é apenas o suporte para os seus produtos. Aos poucos, em alguns casos, ele tende a ser mesmo substituído pelos tablets. Não dou vida longa aos livros de referência em papel. Estes funcionam melhor, e podem ser mais facilmente atualizados, em forma eletrônica. O caso clássico é o da "Enciclopédia Britânica", cujos editores anunciaram, no começo do ano, que a edição corrente, de 2010, seria a última impressa, marcando o fim de 244 anos de uma bela - e volumosa - história em papel.

Embora quase todos os conjuntos de folhas impressas reunidos entre duas capas recebam o mesmo nome de livro, nem todos exercem a mesma função. Há livros e livros. Um manual técnico é um animal completamente diferente de um romance; um livro escolar não guarda nenhuma semelhança com um livro de arte; uma antologia poética e um guia de viagem são produtos que só têm em comum o fato de serem vendidos no mesmo lugar.

Há livros que só funcionam em papel. É o caso dos livros que os povos angloparlantes denominam coffee table books , "livros de mesinha de centro" - aqueles livrões bonitos, em formato grande, cheios de ilustrações e muito incômodos de ler no colo, impossíveis de levar para a cama. Estes são objetos que se destacam pelo tamanho, pela qualidade de impressão, pela vista que fazem. Quem quer ver um livro desses num tablet?

Há também os grandes clássicos, os romances que todos amamos e queremos ter ao alcance da mão. Esses são aqueles livros que, em geral, lemos pela primeira vez em formato de bolso, mas aos quais nos apegamos tanto que, não raro, acabamos comprando uma segunda edição, mais bonita, para nos fazer companhia pelo resto da vida. Isso explica as lindas edições que a Zahar, por exemplo, tem feito de obras que já encantaram várias gerações, como "Peter Pan", "Os três mosqueteiros" ou "Vinte mil léguas submarinas".

Há prazeres que só se tem com o papel. Um tablet pode me informar quantas páginas um volume tem, mas essa informação é abstrata. Saber que um livro tem 500 páginas ou ver que um livro tem 500 páginas são coisas diferentes. Gosto também de folhear um livro e de fazer uma espécie de leitura em diagonal antes de me decidir pela compra. Isso é impossível de fazer com e-books. Sem falar do cheiro inigualável dos livros em papel.

A vez primeira - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 17/11


A vez primeira em que me apaixonei, tinha 15 anos de idade. A menina por quem me apaixonei era de classe bem mais alta do que eu.

Fiquei apaixonado por ela durante uns 10 anos, a mim parece, estranhamente, que até hoje sou apaixonado por ela.

E o mais intrigante é que nunca falei com ela. Apenas a via todos os dias na Capela Sagrado Coração de Jesus, que deu origem à atual Igreja São Jorge, no Partenon.

Ela era religiosa. Eu não me aproximava dela porque tinha vergonha dos meus trajos. Meus sapatos eram sempre furados na sola, minhas calças sempre amarfanhadas, de tecido pobre. Como poderia eu me atrever a aproximar-me de uma moça de classe média alta?

Ela era Filha de Maria, um grupo de paróquia que se reunia quase todos os dias no salão ao lado da igreja para rezar e exercitar iniciativas de ajuda aos pobres.

Quando me recordo hoje de meu coração saltitante, vendo-a entrar na igreja, lembro de versos lindos do cancioneiro, autoria de César Costa Filho:

Ela passava distante e fria

Não demonstrava nos olhos

A ânsia dos meus.

Sei que Maria fugia,

Pois era esposa de Deus

A quem jamais trairia

Pra ter nos seus braços carinhos ateus.

E eu à mercê de Maria

Não sei o que faço da minha ilusão:

Folha amarela de outono caída no chão.

Nunca falei com ela e assim mesmo eu era apaixonado terrivelmente.

Desde que me levantava pela manhã, meus pensamentos se voltavam para ela.

Sonhava nos meus 15 anos vir um dia a ser pai de seus filhos. Tenho a impressão de que minha paixão por ela nasceu de que cruzamos na rua e ela sorriu ternamente para mim. Só isso, as labaredas da paixão incendiaram meu ser durante 10 anos.

Guardo essa recordação como uma das mais caras da minha vida, eis que aqueles 10 anos foram sem dúvida o período em que conheci pela primeira vez o que podia ser definido por amor, um sentimento que me parecia desconhecido e distante.

Imagino-a hoje com filhos adultos e netos adolescentes. Nem sei se ela guarda sequer apenas um fiapo de recordação de mim.

Ela se casou com um amigo meu do arrabalde. Devem ter sido felizes.

E eu, folha amarela caída no chão, fui seguir o meu destino. Tenho filhos, tenho netos, mas não se apaga de minha memória aquele virginal sentimento, inédito e delicioso sentimento que nutri por ela.

Sei que meus leitores, ao lerem essas linhas, rememoram também os tempos de colégio primário ou de Ensino Fundamental em que tiveram algum namorico fugaz com alguém.

Foram mais de 3 mil dias em que fiquei incendiado de amor por aquela menina.

Como é lindo quando duas pessoas ou, como nós, duas crianças, ficam assim serenamente inclinadas uma pela outra.

Causa uma grande saudade do nosso coração estreante.

A era das possibilidades - CLÁUDIA LAITANO

ZERO HORA - 17/11


Boa parte do prazer da leitura dos romances de Jane Austen vem do fato de que suas personagens pensam e agem por conta própria mesmo quando tudo em volta conspira em contrário. Paixões e gostos pessoais contavam muito pouco naquele ambiente em que o futuro casamento, a futura ocupação (ou falta de) e mais ou menos todo o resto já estavam praticamente definidos muito antes de a pessoa nascer.

Ainda assim, as personagens de Jane Austen amam, desejam, desobedecem – ou seja, vivem – movendo-se nos pequenos espaços de liberdade disponíveis na Inglaterra do século 19.

Se Elizabeth Bennet, a adorável protagonista de Orgulho e Preconceito (1813), vivesse nos dias que correm, talvez fosse afetada por aquela espécie de angústia difusa que parece atingir boa parte dos jovens de hoje.

Regras, cobranças e papéis sociais predefinidos já não tiram o sono de ninguém, mas a primeira geração de adultos criados em um ambiente globalizado e hiperconectado está tendo que aprender a lidar com a enorme ansiedade gerada pelas possibilidades virtualmente infinitas de invenção e reinvenção da própria vida (tanto mais infinitas quanto mais leite ninho o sujeito tomou na infância, porque algumas coisas não mudaram tanto assim).

Pegue um romance como Barba Ensopada de Sangue, do escritor Daniel Galera, e você vai encontrar um personagem tão formatado pela própria liberdade quanto Liz Bennet era pelas convenções. Como um típico habitante do século 21, o protagonista do livro pode escolher que espaço a família vai ter na sua vida, onde vai morar e com quem, o que vai fazer no seu tempo livre e como vai se sustentar.

Pode ainda contrariar o que os outros esperam dele (sempre alguém espera alguma coisa de nós) com pouca ou nenhuma consequência. Seu desafio, portanto, é mais ou menos o oposto daqueles personagens que, no século 19, precisavam inventar um espaço de individualidade.

Na ausência de uma trajetória previamente determinada pelo nascimento, pela religião ou pelas convenções, cabe aos jovens (e aos não tão jovens) protagonistas do século 21 o desafio de inventar uma causa, pessoal ou coletiva, que ofereça um sentido a suas vidas tão cheias de opções.

Em um texto publicado ontem no The New York Times, o articulista David Brooks batiza nossa época de “era das possibilidades”. Segundo o autor, o mundo tem ficado cada vez menos tolerante a tudo que parece restringir a liberdade individual – casamento e filhos, inclusive – e já há pesquisadores estudando como será esse futuro “pós-família” para o qual podemos estar nos encaminhando. (Entre as muitas implicações dessa tendência mundial – mais pessoas morando sozinhas, menores taxas de natalidade –, Brooks cita um recente impacto político: entre os solteiros, Obama venceu Romney com 62% dos votos, contra 35% do adversário.)

A “era das possibilidades” não chega sem sua cota de confusão e angústia – é difícil imaginar qualquer tipo de sociedade sem elas –, mas permite, entre outros avanços, que encaremos instituições antes consideradas sagradas, como o casamento, como aquilo que na verdade são: arranjos socialmente determinados, que podem mudar, evoluir ou mesmo desaparecer. Na “era das possibilidades”, dizer com quem você pode ou não casar (e mesmo se deve ou não casar) soa tão anacrônico quanto os casamentos arranjados dos romances de Jane Austen.

Como o pince-nez e as charretes, algumas ideias são cabras marcadas para morrer.

A súbita preocupação com os presídios - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 17/11


Quem sabe agora que petistas graduados e banqueiros se preparam para ser trancafiados a qualidade de vida nos presídios não começa a melhorar?



O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deputado petista, nega qualquer relação entre o comentário de que preferiria morrer a cumprir pena atrás das grades e a condenação à prisão em regime fechado do "núcleo político" do mensalão (José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, companheiros de alta patente do ministro no PT).

O tema fez parte da última sessão de julgamento da "Ação Penal 470", quarta-feira, quando o ministro Dias Toffoli, que não esconde a amizade com Dirceu, com quem trabalhou na Casa Civil, comparou as penas já definidas no julgamento a atos de purgação de pecadores praticados na Santa Inquisição. Um evidente exagero.

Para Toffoli, corruptos deveriam ser punidos com multas. Ora, se assim fosse, é bastante provável que houvesse ainda mais corrupção neste país, porque, afinal, garimpar dinheiro não é difícil para essa gente.

Os comentários do ministro Toffoli tiveram como pano de fundo a degradação do sistema penitenciário, a que se referira o ministro da Justiça. Nas intervenções feitas na Corte sobre o tema, destacaram-se as de Gilmar Mendes e Celso de Mello: o problema do sistema penitenciário não é novidade e, inclusive, faz parte da agenda de trabalho do Ministério da Justiça. Quer dizer, cabe ao ministro que reclama da degradação das cadeias acabar com o motivo de sua reclamação.

As estatísticas sobre as prisões brasileiras são macabras. Há quase 170 mil presos além da capacidade dos presídios, e por isso eles estão amontoados, literalmente, em vários estabelecimentos. Apenas no Piauí há folga no espaço físico em relação à população carcerária.

Ao todo, são 514.582 presos, e a situação seria ainda mais grave se não existissem 162 mil mandados de prisão não cumpridos — o que faria dobrar o déficit. A impunidade, portanto, é que evita mais problemas no sistema, o pior dos atenuantes.

Costuma-se dizer que se a classe média voltasse a colocar os filhos na escola pública, o ensino melhoraria de nível pela pressão política que este extrato social exerceria sobre os governantes. Quem sabe algo semelhante ocorra com as prisões? Agora que políticos afamados, do partido no poder em Brasília, e banqueiros estão em contagem regressiva para atravessar a porta de entrada da cadeia pode ser que, enfim, a questão da qualidade de vida em presídios superlotados venha a ser enfrentada como deve.

A cultura aristocrata que sobreviveu à própria proclamação da República estabeleceu que cadeia é para pobre e pessoas sem influência no mundo político. Este é outro aspecto memorável do desfecho do julgamento do mensalão: fazer valer a regra republicana de que todos são iguais perante a lei.

Com os olhos em Gaza - PAULO ROSENBAUM

Jornal do Brasil - 17/11


O Ministério adverte: este artigo não é recomendável para torcedores fanáticos nem para aqueles que insistem em ter razão a priori. O que está acontecendo entre Israel e o Hamas, que ocupou a Faixa de Gaza depois que as forças de defesa desocuparam aquela região, era o segundo mais previsível dos conflitos. O primeiro será a manobra derivacionista, conduzida sob o estímulo direto do Irã, parceiro de Assad nos massacres contra o povo sírio. Nos próximos dia, se tudo sair direitinho conforme planejado, o regime teocrático vai tentar reabrir novo front ao norte.

O que virá depois ninguém sabe. As superpotências e a ONU estão ocupadas demais com as bancarrotas financeiras nos seus quintais para bloquear a selvageria que acomete a região. Mesmo assim, é preciso um pouco de suspensão de qualquer crase ideológica para colocar qualquer luz nos fatos recentes. Os palestinos da Cisjordânia, ligados ao Fatah, têm sido mais pragmáticos e, mesmo capengas, os acordos de Oslo ainda dão alguma sustentação à ideia de dois Estados, a única saída para o conflito. Ninguém pode dizer que não há uma vida tensa, porém vigora certa normalidade, e até prosperidade econômica. Há uma classe média, politizada e crítica, e um crescimento econômico de 8% ao ano. Nada mal para tempos de recessão mundial.

Completamente diferente da situação da Palestina do sul, dominada pelo Hamas, organização paramilitar islamofascista, que usa a população civil de Israel como alvo preferencial de mísseis destrutivos, falsamente artesanais, há pelo menos oito anos. Essas provocações, que obviamente não são só feitas com biribas inócuas, provocam pânico, destruição e morte entre a população civil do sul de Israel, acarretando uma semivida em bunkers para cerca de 1 milhão de pessoas. Exatamente a mesma população de Gaza, onde, por sua vez, prevalece extrema pobreza, apesar de circular muito dinheiro. Lá, como no tráfico dos morros, o fluxo financeiro das doações é controlado com mão de ferro pelos aiatolás do Hamas. Esse controle permite sustentação política através da bem-sucedida politica assistencialista, que tanto seduz aqueles que querem dominar as massas sem lhes conceder independência de opinião, liberdade de expressão e aquelas palavras horríveis, que provoca sinceros arrepios nos populistas do mundo: consciência crítica. A convivência tácita entre os dois povos é uma realidade. Era essa a chance de diálogo que vem sendo desperdiçada há pelo menos uma década. Sempre será a paz fugidia, instável e permanentemente tensa, ainda assim paz.

Apesar da esmagadora superioridade militar das forças de defesa israelenses, a tática de guerrilha islâmica dá certo por uma conjunção de dois fatores interdependentes: o medo crescente da população civil e o consequente apoio da população israelense aos governos que usam preferencialmente a linguagem militar dura: só retaliações permanentes protegem. O fato é que não protegem, e na infernal retroalimentação agora o risco concreto é cair na velha armadilha e abrir novo front, desta vez por terra. O resultado já pode ser antecipado, e bem antes da abertura das urnas funerárias: mais foguetes e mais baixas entre civis, dos dois lados.

O agravante agudo é o Egito, agora com a irmandade muçulmana no poder, adepta da prima-irmã da doutrina que inspirou o Hamas. Mas o grande tabuleiro oculto vem do xadrez pesado que o Irã faz para hostilizar o Estado judaico através do expansionismo xiita e sua pan-influencia, que vai da Síria à Faixa de Gaza, passando pelo Líbano com sua sucursal naquele país, o Hezbollah.

Há poucos dias, uma efeméride chamou-me a atenção: um fato que desconhecia, no século V, um rei etíope puniu os judeus daquele país por ajudarem muçulmanos. Sabíamos dos antecedentes de ajuda mútua na Idade Média: no século X o mesmo aconteceu com os muçulmanos, desta vez por abrigarem e esconderem judeus das garras da Inquisição. Ou seja, há precedentes históricos de solidariedade e paz entre estes povos. Isso para dizer que o conflito não é, nunca foi atávico. Atávico virou uma designação politica contemporânea para confirmar que não tem jeito, que devemos nos conformar com o inexorável. Mas não só não devemos como podemos nos dar a este luxo!

Não é à toa que precisamos pedir ajuda aos Céus, onde ainda há esperança de vida inteligente.O fato de termos chegado a um lugar onde aparentemente não há uma saída visível para ninguém, evidencia que, mais uma vez, a sociologia da ignorância entrou em ação para mostrar todos seus resultados pedagógicos. Nenhum dos lados é santo, mas a culpa está sempre onde se concentram mais fanáticos. Estamos em pleno fogo que decerto vai respingar no mundo, quando poderíamos ter, todos nós, evitado mais essa vergonhosa saraivada de mísseis estúpidos.

Enfrentando a realidade - ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ


O Estado de S.Paulo - 17/11


O Ministério de Minas e Energia pôs em audiência pública o Plano Decenal de Energia (PDE) 2021, trazendo as diretrizes para a expansão da oferta de energia elétrica e dos sistemas de transmissão nos próximos dez anos. As projeções levam em conta um crescimento do consumo de energia de 4,7% ao ano, até 2021. A previsão foi feita com base numa estimativa de crescimento do PIB de 4,7% ao ano até 2021.

O documento aponta questões relacionadas ao processo de licenciamento ambiental que apresenta complicadores à viabilização dos projetos. Ressalta que, em junho de 2012, de acordo com levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 563 MW de obras tinham andamento adequado; 983 MW eram de projetos com impedimentos de diversas naturezas; e 991 MW, de projetos que nem sequer dispunham de licença de instalação.

Um aspecto não considerado no PDE decorre das recentes alegações sobre o direito do Paraguai de usar a sua cota-parte de energia de Itaipu, cota que abastece o maior centro de carga do Brasil. Saliente-se que já em 2023 essa cota-parte lhe será plena nos termos acordados em tratado, e isso deveria ser considerado com seriedade, e não com o desdém com que tem sido tratado o assunto. Relembre-se que a energia da cota-parte do Paraguai - mesmo sabendo que nos próximos dez anos esse país não terá a capacidade de consumi-la - representa cerca de 15% do consumo do maior centro de carga do Brasil, abastecendo precipuamente a Região Sul/Sudeste em cerca de 25% da demanda.

A solução passa pela consideração de que, nos dez anos após uma nova negociação, o Brasil possa concordar em que o Paraguai utilize a cada ano um bloco de energia dimensionado de sorte que, ao mesmo tempo, o Brasil compense a cessão deste bloco de forma coordenada ao incremento de geração adicional que venha a ser construída em território nacional. Uma outra hipótese seria suprir a energia hoje comprada do Paraguai por meio da construção de mais de 100 pequenas centrais elétricas, 4 ou 5 centrais nucleares como Angra 2 ou 3 ou, ainda, cerca de 6 ou 7 centrais térmicas de grande porte. Esse processo leva tempo e, ao olharmos o assunto com seriedade, teríamos de começar os projetos desde já, porque na decisão de fazê-los teremos de aprovar a sua construção, obter licenciamentos ambientais e construir os terminais para recepção do gás natural ou carvão.

O Paraguai, por sua vez, tem uma agenda extensa que passa por alcançar seis reivindicações que constam da declaração dos presidentes de 25 de julho de 2009 sobre seus direitos sobre a Hidrelétrica de Itaipu, englobadas nos seguintes pontos: 1) Garantia da binacionalidade em todos os níveis de gestão; 2) Livre disponibilidade da energia; 3) Venda direta de energia paraguaia de Itaipu para o Brasil e para terceiros países; 4) Auditoria na dívida contraída unilateralmente pelo Brasil e a auditoria pelos órgãos de controle dos dois Estados, a Controladoria-Geral e o Tribunal de Contas da União; 5) Justo preço para a transferência de energia para o Brasil; 6) Execução de obras na margem direita e de navegação ou transposição para assegurar o acesso à Bacia do Prata.

Seria mais sensato analisar o tema prevendo pelo menos que metade da energia da cota-parte paraguaia seja consumida por aquele país e a outra metade possa ser vendida ao Brasil ou à Argentina. Nessa hipótese, deveríamos começar considerando no planejamento do setor um programa de construção de centrais de geração na região, o que poderia definir leilões regionais e por fonte tendo como referência os preços da energia que terá de ser substituída.

Se essa verdade é desconsiderada pelo nosso governo, em 2023 o tema retornará em sua plenitude, porque nesse ano, até onde está estabelecido, o direito paraguaio se tornará pleno e o PDE nem sequer faz referência a essa realidade. Então por que não se antecipar ao futuro imbróglio e estabelecer uma negociação em que os interesses bilaterais sejam preservados?

Um gesto absolutamente inútil - JORGE BASTOS MORENO


O GLOBO - 17/11

Quando o ministro Lewandowski levantou-se da cadeira e saiu da sessão em protesto contra o relator Joaquim Barbosa, a comunidade jurídica do país pensou estar diante, novamente, de um gesto de ousadia e coragem que marcou a história da Suprema Corte e do próprio país: ao ver o STF aprovar, contra um único voto, o seu, a lei de censura prévia, o então ministro Adauto Lúcio Cardoso, numa encenação cinematográfica, levantou-se da cadeira, arrancou a toga e a jogou no meio do plenário, como o pantaneiro costuma fazer com as redes de pescar, às margens do Rio Cuiabá. E nunca mais voltou.

Mas Lewandowski não fez isso. Prevalece, portanto, ainda, na literatura jurídica do país, o vaticínio do mestre Evandro Lins e Silva, no livro-depoimento "O salão dos passos perdidos": "A verdade, parece-me, é que a atitude do ministro Adauto Lúcio Cardoso foi única, continua única, e provavelmente nunca se repetirá".

Lewandowski saiu, mas se esqueceu de não voltar.

Cultura
A título de curiosidade: Adauto, antes, já havia renunciado à presidência da Câmara, em protesto contra as cassações dos mandatos de seis deputados. Foi um dos dois mais ilustres filhos de Curvelo (MG). O outro foi o escritor Lúcio Cardoso, seu irmão, cujo centenário está sendo comemorado agora. Lúcio, homossexual assumido, foi a grande paixão de Clarice Lispector.

O articulador
Mercadante, agora, tem participado de quase todas as reuniões políticas da Dilma.

É hoje, seguramente, o segundo mais importante do governo.

Só perde para a sua própria vaidade, que sempre estará em primeiro lugar.

A Marta e o Padilha precisam saber que política é como a Bovespa: recusaram as ações do Mercadante na baixa, agora terão que correr atrás do prejuízo.

Nas alturas
Só agora, depois que a Dilma instalou uma UPP entre os morros da Saúde e da Educação, é que estou autorizado, por quem de direito, a contar esta história sensacional.

No auge da troca de "carinhos" entre Mercadante e Padilha, Dilma, durante uma viagem, resolve chamar os dois, separadamente, à cabine presidencial. E repete a um o que dissera ao outro:

- Se continuarem com essa palhaçada, eu demito os dois, e o Lula que vá arranjar emprego para vocês em outra freguesia!

Direita, volver!
Se essa guria aí, a Cibele Bumbel Baginski, líder da Nova Arena, resolver recuperar os quadros da velha Arena, o governo perde sua base no Congresso.

Quero ver as caras do Sarney, do Jucá, do Lobão e de outros voltando para o antigo ninho, de cabeças baixas.

Briga de foice
Conhecido fofoqueiro do Planalto, que não é o Gilberto Carvalho (esse se regenerou e virou ex-fofoqueiro), mandou-me esta nota pronta que repasso a vocês pelo mesmo preço que comprei:

"Não ouse falar de Ideli Salvatti para Marco Maia, nem de Maia para Ideli."

O clima, que já não andava bom, azedou de vez com a votação dos royalties.

Dizem que Maia quer pegar a vaga da ministra e, por isso, estaria criando dificuldade para vender a facilidade.

E a Ideli está de cabelo em pé com os projetos que o Marco Maia quer colocar em votação - principalmente o do fator previdenciário.

Pensando nisso, ela ligou pro Sarney pra pedir que ele enviasse uma MP à Câmara e, com isso, trancasse a pauta e acabasse com a alegria do Marco Maia.

Como presidente em exercício, Marco Maia despachou ontem com a Ideli.

Pareciam até parceiros.

Gafe
Dilma não repreendeu Cardozão por causa da frase dele de que preferiria morrer do que ir para a cadeia, como crítica ao sistema presidiário brasileiro. Para Dilma, esse desabafo de Cardozão já virou ladainha: ele fala isso sempre.

O problema foi que o ministro da Justiça falou a coisa certa, mas na hora errada: em cima da dosimetria do Supremo.

Pareceu, assim, que Cardozão falou de corda em partido de enforcados.

A bola da vez
O tucano Eduardo Azeredo sabe que seu julgamento será político:

- A suposta prova utilizada contra mim no processo é um "recibo" com falsificação grosseira de minha assinatura. Trata-se de uma cópia, cujo original nunca apareceu.

Prova de revezamento - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 17/11


Em manobra para pavimentar a aliança PSD-PT, Gilberto Kassab proporá a Fernando Haddad rodízio entre as siglas no comando da Câmara paulistana. Pelo desenho formulado pelo prefeito, seu bloco, composto por 15 vereadores, se revezaria com o dos petistas na presidência a partir de 2013. Kassab já indicou ao QG haddadista que deseja manter no posto o aliado José Police Neto, reservando a José Américo, nome favorito do PT, a perspectiva de conduzir a Casa em 2014.
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Falta combinar 
A bancada de vereadores do PT admite fechar o pacto, mas deixa claro que pretende comandar a Mesa no exercício inaugural do governo de Haddad.

Veja bem 
O deputado Vicente Cândido (PT-SP) diz que recusou convite para o secretariado por duas razões: quer se dedicar à votação do Código Comercial e formalizar sua candidatura à presidência da CCJ na Câmara.

Camaradas 
Hoje à frente da Secretaria Especial da Copa, que deverá ser integrada à de Esportes, o PC do B passou a postular também o comando da SPTuris, empresa de turismo e eventos controlada pela prefeitura.

Onipresente 
Prestes a retomar seu matutino "Patrulha do Consumidor", Celso Russomanno (PRB) negocia com a TV Record espaço também em programas da grade vespertina da emissora.

Muita calma 
Embora as estatísticas de crimes tenham refluído na semana, o governo paulista evita comemorar a "Operação Saturação". Relatos diários do comando da PM a Geraldo Alckmin têm resultados apenas pontuais.

Na berlinda 
Denunciado pelo Ministério Público no caso do uso de pátios particulares, sem licitação, para guardar veículos e máquinas caça-níqueis apreendidas, o chefe da Polícia Civil, Marcos Carneiro, vem sendo aconselhado no governo a se afastar até o fim da investigação.

Cortesia 
Uma semana após criticar duramente Ideli Salvatti (Relações Institucionais), o presidente em exercício, Marco Maia (PT-RS), afagou a ministra ao recebê-la ontem no Planalto. Abrindo os braços, exclamou: "Minha ministra preferida!".

Vida real 
Com a inesperada cordialidade, Ideli cobrou de Maia agilidade na tramitação de três projetos que garantem os reajustes prometidos em agosto para servidores grevistas.

Partilha 
A reunião mais concorrida do primeiro dia de Maia na Presidência se deu no almoço: expoentes da bancada petista mapearam os cargos da sigla no Legislativo para o biênio 2013-14.

Consolação 
Ala do partido quer instalar Nelson Pelegrino (BA) na liderança governista no Congresso por entender que José Pimentel (CE) ficará sobrecarregado na vice-presidência do Senado.

Refundação 1
Aliado de Aécio Neves, o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) reuniu em almoço recente no Rio Luis Werneck Vianna, Rubem Barboza e Luis Sergio Henriques. Aecistas buscam envolver intelectuais independentes do PT no debate do novo programa do PSDB.

Refundação 2 
No almoço, os cientistas políticos manifestaram pessimismo com o quadro político, mas concordaram em colaborar com ideias. Sugeriram intercâmbio com o Partido Democrata, de Barack Obama.

Made in Minas 
Na tentativa de divulgar atrativos mineiros a empresários e acadêmicos norte-americanos, Antonio Anastasia fará incursão pelos EUA entre os dias 25 e 29. A agenda do governador tucano inclui Washington, Boston e Nova York.

com FÁBIO ZAMBELI e BRENO COSTA
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tiroteio

"A dívida do aliado Maluf não constrange apenas Haddad. Com o PP no governo Alckmin, tucanos ficarão de bico calado."

DO PRESIDENTE DO PSOL PAULISTANO, MAURÍCIO COSTA, sobre a decisão judicial que pode levar o deputado a devolver até US$ 22 milhões à prefeitura.
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contraponto


Parlamento jovem

Ao final de encontro com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), na semana passada, Geraldo Alckmin agradecia a todos os presentes pela participação. Ao mencionar seu secretário particular Marco Castello Branco, lembrou que ele tinha uma longa experiência na vida pública. Disse, inclusive, que ele já havia sido deputado e secretário na gestão de Franco Montoro (1983-87).

Sidney Beraldo, chefe da Casa Civil, interrompeu:

-Isso não significa que ele seja idoso...

Castello arrematou, arrancando gargalhadas:

-É que fui deputado com 14 anos!

Descontração - SONIA RACY


O ESTADÃO - 17/11

Em raríssimo encontro com empresários este ano,Angela Merkel recebeu, quinta-feira, em Berlim, seleto grupo comandado por João Doria, do Lide. Todos integrantes da viagem Audi Business à Alemanha. Entre eles, Leandro Radomile, da Audi; Jackson Schneider, da Embraer; José Seripieri Junior, da Qualicorp; Mario Anseloni, da Itautec; Luiz Furlan, da BrF; e Marcelo Lyra, da Braskem.

Ponto marcante da reunião: Merkel pediu aos presentes que, se realmente quisessem ajudar na crise econômica internacional, que investissem... na Espanha e em Portugal.

Impressão geral? A chanceler alemã foi considerada para lá de simpática.

Pente fino

O Sebrae fará levantamento nas contas dos estados para descobrir o que eles mais compram e quanto gastam. E, assim, identificar oportunidades de negócios entre governos e empresários de pequeno porte - – com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões.

O anúncio será na terça, emBH.

Queda de braço

Às vésperas da escolha do novo presidente da OAB, discussão polêmica voltará com força total em São Paulo: a atuação de advogados privados no lugar de defensores públicos.

Por causa da aprovação, na Alesp, de projeto que criará 400 cargos na Defensoria Pública nos próximos 4 anos.

Abaporu

Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Alfredo Volpi, Anita Malfatti e Di Cavalcanti ganharam destaque no jantarem torno de Marta Suplicy, na casa de Mário Vilalva –- embaixador do Brasil em Portugal –, anteontem, em Lisboa. A decoração das mesas teve inspiração nas obras dos artistas. Ideiade VâniaVilalva, mulher do embaixador.

A ministra desembarcou no país para inaugurar o Espaço Brasil e promover o Ano do Brasil em Portugal.

Quem vem

Diane Von Furstenberg voltaa SPem dezembro. Paraparticipar do Woman in The World Summit, organizado por Tina Brown, além de ações para a marca.

Acelera, Rubinho

E Barrichello até quer ficar, mas ainda é incerta a permanência da equipe Medley na Stock Car em 2013.
Segundo apurou a coluna, o piloto anda mexendo os pauzinhos para garantir lugar no grid na próxima temporada.

Temer e Merkel

Angela Merkel abriu largo sorriso ao receber, quinta-feira, em Berlim, carta de Dilma iniciada com um despretensioso “Prezada Angela...”. Na missiva, entregue em mãos por Michel Temer (que foi recebido pela chanceler alemã pela manhã) a presidente brasileira agradeceu, antecipadamente, a participação de empresas alemãs no processo de investimento pesado na infraestrutura brasileira.

“Ela me pareceu bastante receptiva ao Brasil”, contou Temer à coluna, depois de jantar na embaixada brasileira em Berlim, oferecido pelo embaixador Everton Vargas a integrantes de missão empresarial da Audi Business/Lide.
A seguir, trechos da conversa com o vice-presidente do Brasil - também recebido por Joachim Gauck, presidente alemão, e Norbert Lammert, presidente do Parlamento.

•Foi difícil marcar audiência com a mais poderosa da Europa? 

A Alemanha dá grande importância para as relações bilaterais com o Brasil. Tanto é assim que Merkel adiou sua viagem à Rússia para nos receber.

•O que ela disse sobre as relações Brasil-Alemanha?
Ela concordou em criar uma comissão de consulta permanente, política, entre os dois países. Hoje, existe essa relação entre Brasil e Rússia, bem como entre Brasil e China.

•E quem lidera essas comissões pelo Brasil?
A vice-presidência.

•Merkel revelou ao senhor o que iria levar para a Rússia? 

Ela não entrou em detalhes, mas disse que fez uma lista de 17 itens para apresentar a Vladimir Putin. Contei que, quando me encontrei com o presidente russo, ele me apresentou uma lista com 25 itens. Fui surpreendido e, desde então, preparo fichas para este tipo de encontro.

•Algo mais sobre Brasil?

 Em 2005, o acordo de bitributação entre Brasil e Alemanha foi denunciado. E desde então, nada foi colocado em seu lugar. Ela cobrou uma solução.

ALÉM DAS LETRAS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 17/11

A escritora espiritualista Zibia Gasparetto, 86, lança ainda neste ano a coletânea "Contos do Dia a Dia", com textos que diz terem sido ditados por espíritos de autores já falecidos. Entre eles estão o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre e o escritor e dramaturgo modernista Oswald de Andrade.

ESTADO DE ESPÍRITO
"A publicação dos textos do meu pai está proibida por causa de uma disputa familiar. Esse é um jeito de a obra dele sair", diz Marília de Andrade, filha de Oswald. "Pelo menos o meu pai está sendo lembrado", diz Sônia Freyre, herdeira de Gilberto.

CANA DURA
Sônia Moura, mãe de Eliza Samudio, se preparou para ficar pelo menos dez dias em Contagem (MG) para acompanhar o julgamento do goleiro Bruno e dos demais acusados da morte da filha. O júri está previsto para começar na segunda-feira. Arrolada como testemunha, ela espera uma pena dura. "O justo seria prisão perpétua, mas não existe no Brasil. Se eles pegarem 30 anos, não vão cumprir tudo", lamenta.

FILHO DE BOLEIRO
Com dois anos e nove meses, Bruninho, filho de Eliza e do ex-jogador, vai ficar em Campo Grande (MS) aos cuidados de parentes. O garoto já fala tudo e tem fixação por bola. Ele está pesando quase 20 kg e mede 1,1 m. "Está um tourinho", diz a avó.

CORRIDA ELEITORAL
A pesquisa Ibope que tem causado polêmica na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de SP mede o peso dos apoios aos candidatos à presidência da entidade. De acordo com advogado que teve acesso aos números, Alberto Toron, aliado a Rosana Chiavassa, tem 33% dos votos. Em empate técnico, com 30%, aparece Marcos da Costa, apoiado pelo atual presidente, Luiz Flávio D'Urso.

CORRIDA ELEITORAL 2
Ricardo Sayeg, que também concorre ao comando da entidade, anunciou o registro de um boletim de ocorrência questionando a circulação da sondagem.

DERCY DE VERDADE
Dercy Gonçalves pode ganhar exposição em 2013. O projeto "Dercy Bem Brasileira", com filmes, fotografias e debates sobre ela, foi autorizado a captar recursos via Lei Rouanet. O plano é abrir a mostra em fevereiro, no Centro Cultural Correios do Rio.

CARA DE UM...
O desembargador Renato Nalini anda recolhendo cartões de visita para Pedro Herz, da Livraria Cultura. "Fazem confusão entre nós dois, então eu nem explico mais que não sou ele. Pego os cartões e entrego para o Pedro", diz Nalini.

LU PATINADORA
Mais de 5.000 quilos de gelo picado estão sendo usados no espetáculo "Branca de Neve on Ice", que é exibido neste fim de semana na Via Funchal, em SP.
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DANÇA DO LEÃO

Johnny Luxo e Theodoro Cochrane foram os DJs da festa Ultralions, na quarta. A cantora Vanessa da Mata e o arquiteto e colunista da Folha Guto Requena foram dançar ao som de suas músicas no clube Lions, no centro.

NOVÍSSIMOS BAIANOS

A fotógrafa Micaela Wernicke, o videomaker Fred Siewerdt e a estudante Debora Andrade foram a show que homenageou Gilberto Gil no Sesc da Vila Mariana. No palco, o músico Lucas Santtana e a banda Bixiga 70 tocaram sucessos do cantor e autor baiano.
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CURTO-CIRCUITO
A exposição "Portais Dimensionais Visíveis a Olho Nu", de Rafael Silveira, é aberta na galeria Choque Cultural. A partir das 15h.

Blubell faz show gratuito com Daniel Szafran, Igor Pimenta, Carlinhos Mazzoni e Hugo Hori no Sesc Pinheiros, às 14h. 14 anos.

O escritório de arquitetura Aflalo & Gasperini comemora com festa 50 anos de existência. Às 21h da sexta, no Hotel Unique.

Filosofia de táxi - ARNALDO BLOCH


O GLOBO - 17/11

Ficar com o carro parado na oficina tem vantagens. Caminha-se mais, e, eventualmente, se emagrece. Tira-se a bicicleta do porão. Pega-se um ônibus para ver a rua com humildade. Ou, da janela de um táxi, curte-se no rosto um vento noturno de maresia.

O táxi é um universo singular. Não tem a dispersão do ônibus nem a solidão do automóvel. O taxista, sua atitude, sua conversa, é sempre uma incógnita. O futebol. Uma grande perda ou desilusão. A tensão por causa de um engarrafamento, entre suspiros e tapas no console. E, cada vez mais, especulações sobre a existência, a vida e a morte. Como aquele senhor que puxou conversa no domingo passado.

- O senhor é católico, não é?

- Não, judeu.

- Bom, mas o senhor tem um deus.

- Se tiver, é o mesmo que o senhor tem... o pai... o eterno... o criador... não é?

- É, dizem.

- Dizem.

- Estou vendo que o senhor entende muito de religião.

- Entendo pouco. E não sou religioso. Creio na ciência. Aliás, a ciência nem é bem uma questão de se crer.

- Então me diz: o senhor acredita que eles foram mesmo à Lua?

- Claro que eles foram à Lua!

- Como é que o senhor sabe? O senhor, pessoalmente, tem provas disso?

- Bom, muitas pessoas sabem, há documentação ampla. A razão mostra que é possível. Se um avião voa, por que uma nave mais rápida e preparada para o espaço não vai à Lua? Além disso, a Lua é logo ali.

- Logo ali?

- A Lua está só a 384 mil quilômetros.

- O senhor está me zoando. Só o meu carro já fez mais de 800 mil.

- Então o seu carro já foi à Lua e voltou.

- Nem foi, nem voltou.

- Se tivesse estrada para a Lua, a 100 quilômetros por hora, sem dormir, o senhor chegaria lá em 5 meses.

- Que nada. Um século.

- Cinco meses. Pode fazer as contas. A Lua é perto. O resto é que é longe.

- O senhor quer dizer que tem coisa mais longe que a Lua?

- Muitas coisas. O Sol.

- Não sei. Aquilo em que o homem põe a mão, eu desconfio.

- Bom, o Homem pôs a mão na Bíblia.

- Pois é. E Alá? Alá, quem viu foi o Homem. E os orixás. E a ciência, o Homem pôs a mão.

- Mas a ciência comprova, até prova em contrário. O seu carro, por exemplo. Ele só anda por causa da ciência. Os aviões. Os foguetes. Mas as criaturas divinas só existem através das palavras, ou de uma revelação. E revelação é um acontecimento muito pessoal. Fica só no relato de quem viu. Na confiança. Na fé.

- Pois eu acho que tem muita coisa. Outro dia, de madrugada, rua deserta, pego um passageiro para um morro da cidade. Subo, deixo o passageiro e, quando estou descendo, ouço a voz de uma mulher, mas não entendo o que ela diz, está escuro. Desço o morro, passo de novo na mesma avenida deserta, e outro passageiro acena, pedindo pra ir ao mesmo lugar. Deixo o segundo passageiro no morro, e dessa vez o farol ilumina uma mulher desesperada acenando pro táxi e gritando. É a mesma voz. A mulher está em sofrimento de parto, placenta estourada e tudo. Resumo: eu salvo a vida dela. O senhor acha que isso é coincidência?

- Acho.

- Então me explica essa outra: um dia eu estou trafegando pelas Paineiras e vejo dois sujeitos passando na pista contrária, correndo o risco de serem atropelados. Comento com o passageiro, mas ele jura de pés juntos que não viu nada.

- O senhor considerou a possibilidade de que o passageiro estivesse...

- De sacanagem comigo? Considerei, sim. Considerei também que eu podia estar ficando maluco. Tem que considerar tudo. Mas coincidência é que não foi!

- Coincidência. Tudo é coincidência. A própria coincidência é coincidência. Ou o passageiro se distraiu, ou estava de sacanagem. Ou o senhor teve, sei lá, uma visão.

- Uma visão...

- É. Não fui eu que tive a visão. Foi o senhor. É o senhor quem está contando. Não duvido, mas não afirmo. Quando eu tiver a minha visão, vou pensar no assunto. Se procuro um psiquiatra, um rabino, um terreiro, um vidente, ou simplesmente acredito.

- Então o senhor é ateu.

- Agnóstico. Não digo sim, nem não.

- Quer dizer, em cima do muro.

- De certa maneira, sim. Espiando. O senhor pode espiar também. Na internet, pra entender melhor a coisa da Lua.

- Não. Internet é coisa do Homem. Babel. Prefiro conversar. Procurar um livro.

Livro também é coisa do Homem.

- Mas é diferente. Não é essa correria. A gente conversa, ouve, pensa, se concentra.

- O senhor passou o meu prédio.

- Mas ainda não chegamos à Lua.

As últimas de "Casablanca" - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 17/11


RIO DE JANEIRO - Na próxima vez que "Casablanca", o filme, surgir na sua tela às duas da manhã, fique atento às peripécias de Rick Blaine (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman). Você deve se lembrar. Eles se amaram em Paris. A guerra os separou, mas o destino os reuniu, dois anos depois, em Casablanca -ele, à frente do Rick's, um boteco de luxo; ela, de braço com Victor Laszlo, militante antinazista e, na verdade, seu marido, que ela julgava morto quando namorou Rick.

E, como você também deve se lembrar, é Rick que, no fim do filme, põe Ilsa e Laszlo no avião e lhes permite escapar para os EUA -quando podia ter ido com ela, deixando o marido bolha para trás, entregue aos alemães. Nem todos se conformaram com o altruísmo de Rick -há anos, aqui no Rio, o jornalista João Luiz de Albuquerque produziu um vídeo em que remontou a sequência final, "corrigindo" a história.

Bem, agora, os americanos ameaçam rodar uma continuação de "Casablanca". E, segundo esta, Ilsa não apenas transou com Rick em troca das "cartas de trânsito" para fugir de Casablanca com Laszlo, como viajou grávida dele, Rick! No elegantís-simo filme original, de 1942, a insinuação da transa está num farol fálico que pisca quando os dois se beijam, na véspera da fuga. Nesta refilmagem, Hollywood poderá mostrar os dois pelados na cama, talvez praticando acrobacias.

Sempre se especulou sobre o que teria acontecido a eles no futuro. Em seu livro "Suspeitos" (1985), David Thomson sugere que, em Nova York, Ilsa chutou Laszlo e se tornou modelo do pintor Edward Hopper.

E, para outros, Rick abriu mão de Ilsa porque, no fundo, estava a fim do capitão Louis Renault (Claude Rains). Na última cena, assim que o avião decola, os dois se afastam na bruma do aeroporto, e Rick diz: "Louis, acho que esse é o começo de uma bela amizade".

Saindo de cena mais cedo - SÉRGIO AUGUSTO


O ESTADÃO - 17/11


"Invencível." Se não descumprir a promessa de nunca mais escrever livros, confidenciada à revista francesa Les Inrockuptibles (leia a íntegra da entrevista na página 4 desta edição), essa terá sido a última palavra da última obra ficcional de Philip Roth. O invencível, no caso, é Bucky Cantor, o lançador de dardos de Nêmesis, não o autor do romance, confessamente vencido pelo desencanto e pelo cansaço. O que se esperava para Roth em outubro era o Nobel de Literatura, não essa aposentadoria precoce, que só não deve ter entristecido a feminista australiana Carmen Callil, que em maio do ano passado se demitiu do corpo de jurados do prêmio Man Booker International por discordar da escolha de Nêmesis pelos outros dois jurados.

Aparentemente Roth (79 anos, 31 livros publicados e quase todos os grandes prêmios literários da América) estaria em jejum ficcional desde 2009, enfurnado numa casa em Connecticut, alheio a distrações e compromissos sociais, ocupando-se unicamente da arrumação de seu arquivo pessoal para melhor usufruto de seu biógrafo, Blake Bailey. Seu testamenteiro já sabe o que fazer depois que ele morrer: fogo em toda a papelada íntima. O que importa já está guardado na Biblioteca do Congresso.

Quem leu Fantasma Sai de Cena, publicado em 2007, fez as ligações cabíveis com a reclusão de seu alter ego Nathan Zuckerman, que, três anos depois dos atentados de 11 de setembro, trocou Manhattan por uma casa rural nos montes Berkshire, na Nova Inglaterra, onde, desprovido de televisão, celular, DVD e computador, ausentou-se por completo do mundo e do momento presente, "sem nenhuma sensação de perda - apenas, no início, uma espécie de ressecamento interior".

Fazia algum tempo que Roth ruminava a ideia de cortar seu "fanático hábito de escrever" e, como Zuckerman, sair de cena. Não porque as letras ardessem ou dançassem diante de seus olhos, como acontecia com o velho Jakob von Gunten de Robert Walser, ou porque tivesse perdido a faculdade de pensar ou de falar coerentemente de qualquer coisa, como o Lorde Chandos imaginado (e aposentado) por Hofmannsthal, mas porque, a exemplo do ator de seu penúltimo romance, A Humilhação, sentia ter perdido a magia e a autoconfiança. E, mais do que isso, seu antigo envolvimento vital com a América. "Eu a vejo pela TV, mas não vivo mais nela."

Enquanto nela viveu, retratou-a, quase sempre, de forma magistral. Da Era Roosevelt (Complô Contra a América, Nêmesis) à Era Bush (Fantasma Sai de Cena). Chegou à Era Clinton (A Marca Humana), mas ficou nos devendo a Era Obama.

Outro fator determinante para sua deserção foi a vertiginosa queda, nos últimos tempos, do hábito da leitura, a seu ver condenado a virar uma espécie de culto, "um hobby minoritário", nos próximos 20 anos. "As telas nos derrotaram", desabafou numa entrevista, sem aliviar a barra do Kindle e similares.

Também desgostoso com os rumos da cultura do seu tempo, Monsieur Teste, o alter ego de Paul Valéry, não só optou pelo silêncio, de uma hora para outra, como atirou toda sua biblioteca pela janela. Roth não chegou a tanto. Preferiu ocupar seu ócio com a releitura de Dostoievski, Joseph Conrad, Turgenev, Hemingway e outros escritores de sua predileção - outro ponto em comum com o Zuckerman de Fantasma Sai de Cena - e, em seguida, degustar criticamente todos os seus livros, na ordem inversa em que foram publicados, de Nêmesis (2010) a Goodbye, Columbus (1959). Deu-se por satisfeito. E não se arriscou a produzir mais um, "eventualmente medíocre, logo, dispensável".

Seus personagens mais crepusculares, melancolicamente impermeabilizados por fraldas geriátricas e sob constante ameaça de uma prostatectomia, vivem a praguejar contra a decadência física e mental: "Velhice é uma guerra, um inferno". Zuckerman, diga-se, não é uma exceção: removeu a próstata cancerosa, tem problemas de incontinência urinária, mas, como seu criador, continua vivo. Quando há dois anos conversou com Lúcia Guimarães sobre Nêmesis, Roth prometeu matá-lo em seu próximo romance. Agora, nem de câncer Zuckerman há de morrer.

O que aconteceu com Roth não é uma raridade na história da literatura. Rimbaud encerrou sua obra por volta dos 20 anos e foi mercadejar armas e café no continente africano, até morrer, aos 37 anos. O britânico E.M. Forster parou de escrever 46 anos antes de bater as botas, em 1970. Aluísio Azevedo trocou a ficção pela diplomacia aos 38 anos. Depois de Pedro Páramo, o mexicano Juan Rulfo nada mais fez, embora ainda lhe restassem mais três décadas de vida. Felipe Alfau, o Salinger catalão, publicou dois livros, recolheu-se durante 20 anos, publicou um terceiro, e de novo silenciou até esticar as canelas, 51 anos mais tarde. Campos de Carvalho pôs na praça o último de seus quatro romances, O Púcaro Búlgaro, 34 anos antes de partir para os campos elísios. Depois de escrever um romance, uma novela e alguns contos, Raduan Nassar deu por encerrada sua singular carreira literária e foi morar num sítio no interior de São Paulo.

Os silenciados por doenças não entram nessa lista. Se bem que, para nós, leitores, qualquer ausência, espontaneamente decidida ou causada por alguma incapacitação (o mal de Parkinson de Eugene O’Neill, a demência de Iris Murdoch e García Márquez) signifique, em última análise, a morte do autor. Daí o tom elegíaco das notícias e comentários a respeito da decisão tomada por Roth, que seus admiradores leram como se fossem obituários. Eram. R.I.P. Philip Roth.

Dia dos solteiros na China - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 17/11


Enquanto o mundo ficava atento ao 18º Congresso do Partido Comunista, chineses iam às compras


Domingo passado foi dia dos solteiros na China: uma dessas datas inventadas para fomentar o comércio, com boas promoções na internet. Enquanto os leitores de jornais em todo o mundo confrontavam-se com reportagens que tentavam decifrar o Congresso do Partido Comunista, os chineses pareciam mergulhados nas aventuras do seu dia a dia. E nas compras, é claro.

Não é possível dizer que essa seja uma posição alienada. Na ausência do voto, o que conta é o resultado: o que a política produz. Quem vive em democracias abertas é que atribui peso ao processo de escolha dos dirigentes.

Paradoxalmente, no grande hall do provo, em Pequim, os políticos dirigiam-se aos cidadãos. No discurso de abertura do Congresso, os temas de maior ênfase foram aqueles aos quais o homem comum está mais atento: crescimento e corrupção.

No pacto político entre cidadãos e líderes, os últimos fazem a sua parte quando produzem crescimento a taxas elevadas. Além disso, os chineses sentem-se incomodados com o que ouvem sobre corrupção. Falam disso nas rodas de amigos, nos táxis. Ainda mais agora, quando o crescimento está perdendo a exuberância das últimas décadas.

Há dois dias, os nomes do Comitê Permanente, a mais alta e exclusiva instância política, tornaram-se conhecidos. Fugindo da prática passada, dos sete membros, com exceção de um, todos são advogados, economistas, um jornalista.

Como se previa, o governo estará nas mãos de quem tem falado a favor de reformas, abertura, flexibilidade. Mas a composição do Comitê Permanente indica que os reformistas assumem com menos força do que se projetava. Um reformista de peso, Wang Yang, secretário do partido em Guandong, candidato de Hu Jintao, ficou de fora.

Wang era um dos grandes oponentes de Bo Xilai, recentemente expulso do partido. Os dirigentes, diz-se, optaram pelo equilíbrio. Não poderiam rejeitar um, glorificar o outro. Wang Qishan, outro reformista respeitado, vice-ministro responsável pela economia, estará longe dos temas econômicos.

Wang é conhecido do Brasil por presidir a parte chinesa da Cosban, a comissão bilateral de alto nível.

A grande estrela do futuro é mesmo Li Keqiang, o novo primeiro-ministro. Cinquenta e sete anos, economista, advogado, versado em inglês, Li tem sido uma voz firme em favor de novos avanços.

Ele foi por seis anos dirigente do partido em Henan, província forte no setor primário, a maior produtora de grãos do país, segunda maior produtora de algodão e tabaco. Ou seja, o novo premiê deverá estar antenado a um dos temas de peso em nossa relação bilateral: agricultura.

Anunciadas as indicações, o novo presidente, Xi Jinping, dirigiu-se ao partido. Na linguagem simples do dia a dia, disse que os chineses querem "melhor educação, trabalhos estáveis, salários mais altos, melhor proteção social, melhor assistência médica, melhores condições de moradia, um ambiente mais saudável."

As redes sociais, à noite, já reproduziam suas palavras, numa espécie de resposta dos cidadãos. Com ou sem voto, fazer política é, um pouco, vender esperança. E quando a esperança está no ar, o homem comum a agarra como pode. Seja qual for o regime.

Mentira - MARCELO RUBENS PAIVA


O ESTADÃO - 17/11


Dizem que um suíço nunca mente. Que os franceses também, mas não falam a verdade. Que um alemão omite. E que o único momento em que um inglês sorri é quando está mentindo.

Um japonês quando é pego mentindo chora e se humilha na frente dos companheiros. Os mais dramáticos se matam. Os tradicionais cometem haraquiri diante das câmeras.

Americano não mente, joga com as palavras. O caso mais notório foi o de Clinton, que negou peremptoriamente ter tido relação sexual com a estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, apesar da mesma ter no armário um vestido azul manchado do resultado do gozo presidencial.

Acusado de perjúrio e obstrução da Justiça, Clinton se safou do impeachment com uma calculada manipulação de palavras, o que deve ter aprendido com o clã Kennedy. Ele e Monica até fumaram charutos. Fizeram de tudo, menos "intercourse sexual". Aliás, se tivessem feito, o que aquela primeira ejaculação fazia na lateral do vestido azul, que depois foi periciado?

Clinton é ainda um dos presidentes americano mais populares da história. Menos em casa.

***

Já os brasileiros. Ah, os brasileiros... Mentem sem qualquer cautela. Alguns conseguem mentir dentro de outra mentira. Como aquele político corrupto que nega ter dinheiro depositado em paraíso fiscal até o banco de lá tornar público, apesar do sigilo, os extratos, e perguntar de onde vem tanta grana. O malandro ainda afirma que doa tudo, se for verdade. Claro que nunca cumpre a promessa.

Tem brasileiro que mente quando chega atrasado, sonega impostos, é pego na cama com outra, é flagrado em blitz, fura fila. Primeiro se faz de desentendido, depois mente. Imagino quantas vezes um policial rodoviário escutou:

"Seu guarda, a lâmpada deve ter queimado agora, quando saí da revisão para a estrada estava tudo acendendo."

"Pneu careca? Olha aqui os sulcos."

"Ih, deixei o documento em casa, no bolso do paletó de dois botões, que está na moda, e a anta da minha mulher levou para a lavanderia."

"Extintor vencido? Pois é, eu estou indo agora comprar um. O senhor sabe onde encontro um baratinho?"

"Eu não estava correndo, apenas tive que me desviar de um cachorro e acelerei. Um cocker spaniel. Será que ele ainda está vivo?"

O Brasil já começou como uma mentira. O descobrimento do Novo Mundo foi repleto de espiões, agentes duplos, segredos, alarmes falsos. Ou alguém acredita que Cabral aportou por estas praias casualmente?

Quando Pero Vaz de Caminha escreveu "aqui plantando tudo dá", já tinha espanhol tomando o verdadeiro açaí do Amazonas, assando um espeto no Sul, dançando lambada no Maranhão, e francês desenhando índia nua na Baía de Guanabara e ensinando french kiss.

Aliás, Caminha esqueceu de colocar a nota de pé de página: "Aqui tudo dá com altos investimentos em irrigação rural e até desvio de rios."

Dom Pedro I não proclamou a Independência num enorme cavalo branco, veículo preferido de seu ídolo, Napoleão, mas numa mula "pau-pra-toda-obra", o utilitário da época. E estava às margens do Ipiranga debruçado com uma cavalar diarreia. Seu brado não deve ter sido retumbante, mas um sussurro. E há quem afirme que o melhor bordel da região ficava coincidentemente às margens plácidas.

Seu pai, dom João, que era incapaz de reconhecer qual daqueles guris era seu filho legítimo, disse antes de partir pra Lisboa que faria um saque rápido na única agência de banco do Brasil, criativamente chamado de Banco do Brasil. Rapou todo o ouro depositado no cofre.

O fim da escravidão, uma espécie de promessa de campanha da Família Real, só aconteceu de fato quando generais marchavam para Proclamar a República.

Getúlio assumiu para pôr um fim à política de cartas marcadas do café com leite. Transformou seu Estado Novo numa clássica e velha ditadura. Generais deram o Golpe de 64 com apoio de civis, prometendo entregar-lhes o poder o quanto antes. Este "o quanto antes" durou 21 anos.

A mentira em que só a militância fiel acredita é aquela "assinei sem ver". E a necessária para a governabilidade é "não sabia de nada".

***

Mas mentira maldosa mesmo viveu dona Odete, uma amiga da família. Apaixonou-se por um geólogo, que conheceu num carnaval em Santos. Que trabalhava em prospecção de petróleo em alto-mar. Com quem dançou, bebeu, se esbaldou e fez amor nas areias não iluminadas do Boqueirão.

Zé Álvaro fascinava, pois explicava com paixão os esforços para se extrair o líquido tão precioso onde jamais ninguém tentara. Falava da potência em que o Brasil poderia se transformar. E todo esse vocabulário, extrair, potência, camadas, perfurar, excitava mais ainda Odete, que nem viu o carnaval passar.

Foi só na Quarta-feira de Cinzas, quando teria de pegar um helicóptero para a plataforma marítima, que ele anunciou, envergonhado, porém sincero, que era casado.

Foi só na sua volta, semanas depois, que ela soube detalhes de quanto ele era malcasado, de que a esposa deprimida tentara se matar quando ele anunciou o fim do casamento, e de que continuava com ela até o único filho entrar na faculdade, pois tinha medo de que um ambiente emocionalmente complexo e desestabilizado pudesse atrapalhar os estudos e o futuro do menino.

Odete acabou novamente seduzida pelos encantos e lábia do geólogo, especialmente quando ele explicou detalhes da perfuratriz, prospecção, de como sugar e enfiar a broca, e se entregou numa pensão de José Menino.

Decidiu amar aquele homem até que a situação se definisse. Não o pressionou. Foi até fiel. Contou para poucos confidentes que se relacionava com um homem casado. Ouviu da maioria que ela deveria vazar o mais rápido possível. Não perguntou onde ele morava, nem como era a concorrente, nem se o filho ia bem na escola, tirara nota boa no Enem e estava decidido a seguir qual profissão.

Mas a pior das mentiras estava por vir. Um dos confidentes, também do ramo petrolífero, resolveu investigar mais detalhadamente a vida de Zé Álvaro, preocupado com a amiga, que se mudara para um flat no Gonzaga. Assombrado, decidiu contar pessoalmente o que descobriu:

"Ele não é nem nunca foi casado."

O mundo desabou para Odete. Por que inventar toda aquela história, por que não assumir que era solteiro, livre, por que mentir durante tantos anos?

"Antes fosse casado", repetia uma Odete abismada com a traição e decidida a nunca mais aparecer na Baixada Santista.

As mulheres e as guerras - DRAUZIO VARELLA

FOLHA DE SP - 17/11


Sociedades em que as minorias são discriminadas têm maior probabilidade de envolver-se em guerras


A condição social das mulheres guarda relação direta com as guerras. Esse é o tema de uma revisão científica publicada pela revista "Science".

Desde os primórdios da humanidade, os homens se matam nas batalhas. Esqueletos desenterrados de cavernas pré-históricas exibem mais fraturas na cabeça quando pertencem ao sexo masculino. No entanto, identificar e separar fatores biológicos daqueles culturais envolvidos na gênese da violência, é tarefa intelectual de alta complexidade.

Até a década de 1990, os estudos ressaltavam que o subdesenvolvimento, a falta de democracia, a existência de um grande número de jovens desempregados e o nacionalismo estavam por trás dos conflitos armados.

Em 2000, Mary Caprioli, da Universidade de Minnesota (EUA), surpreendeu os especialistas ao publicar um trabalho no qual relacionava a posição subalterna da mulher na sociedade com as revoluções e as guerras entre os países.

A afirmação enfrentou reações acaloradas porque contrariava o conceito clássico de que o sexo feminino estaria associado à maternidade e à vida em paz por razões evolutivas e por imposições biológicas, como a baixa produção de testosterona.

Um dos principais críticos, Erik Melander, da Universidade de Uppsala, decidiu testar essa hipótese a partir de uma avaliação do status feminino em diversas sociedades, que levava em conta o sexo da maior liderança do país, a proporção de mulheres no Legislativo e o número delas com acesso ao ensino superior.

Para sua surpresa, os resultados não foram diferentes. Estados em que as mulheres viviam oprimidas apresentavam índices mais altos de prisioneiros políticos, assassinatos, desaparecimentos e maior risco de envolvimento em guerras civis e internacionais.

O problema metodológico com esses estudos é que não comprovam a relação de causa e efeito. A desigualdade entre os sexos poderia ser simples consequência de outros fatores ligados ao comportamento violento: pobreza, baixo nível educacional, fanatismo religioso e atraso cultural.

No livro "War and Gender" (guerra e gênero), o professor americano Joshua Goldstein abordou o seguinte aspecto: embora existam diferenças biológicas que mantêm a mulher afastada dos campos de batalha -como os cuidados com a prole-, elas sempre interagem com os valores culturais.

Segundo ele, os níveis de testosterona que aumentam quando um homem ganha dinheiro, é promovido no trabalho ou ganha um jogo, não explicam as diferenças bélicas entre suecos e paquistaneses, nem entre os suecos de hoje e seus antepassados vikings. Em seus estudos, a visão que mulheres e homens têm da guerra são muito mais semelhantes do que se imagina.

Diante da pergunta: "O conflito árabe-israelense deve ser resolvido pela via militar ou diplomática?", as escolhas de mulheres e homens israelenses, egípcios, palestinos e kuwaitianos foram praticamente iguais.

Quando os mesmos participantes responderam se era mais importante mandar para a escola um menino ou uma menina, as preferências machistas estavam tão associadas à beligerância, que o autor concluiu: "É possível prever quando uma pessoa optará pela guerra ou pela paz entre árabes e judeus, com base apenas no que pensa sobre igualdade sexual".

Conclusões similares foram tiradas nas pesquisas sobre preconceitos étnicos: sociedades em que as minorias são discriminadas têm maior probabilidade de envolver-se em guerras externas e internas.

Mesmo quando elas eclodem, países mais igualitários tendem a fazer as pazes com mais facilidade.

Avaliando a expectativa de vida das mulheres em relação à dos homens e a proporção de matrículas na escola secundária entre os dois sexos, existentes em 124 países em guerra civil, no período de 1945 a 2000, Ismene Gizelis, da Universidade Essex, no Reino Unido, demonstrou que as iniciativas de pacificação das Nações Unidas obtiveram mais sucesso nos Estados em que existia maior igualdade entre os sexos, antes do começo da guerra.

Baseado nesses estudos, ao falar sobre a necessidade de medidas para promover ascensão social das mulheres, o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, declarou em 2005: "Eu diria que nenhuma política é mais importante na prevenção das guerras ou para impor a paz quando um conflito chega ao fim".