sábado, novembro 17, 2012

Dia dos solteiros na China - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 17/11


Enquanto o mundo ficava atento ao 18º Congresso do Partido Comunista, chineses iam às compras


Domingo passado foi dia dos solteiros na China: uma dessas datas inventadas para fomentar o comércio, com boas promoções na internet. Enquanto os leitores de jornais em todo o mundo confrontavam-se com reportagens que tentavam decifrar o Congresso do Partido Comunista, os chineses pareciam mergulhados nas aventuras do seu dia a dia. E nas compras, é claro.

Não é possível dizer que essa seja uma posição alienada. Na ausência do voto, o que conta é o resultado: o que a política produz. Quem vive em democracias abertas é que atribui peso ao processo de escolha dos dirigentes.

Paradoxalmente, no grande hall do provo, em Pequim, os políticos dirigiam-se aos cidadãos. No discurso de abertura do Congresso, os temas de maior ênfase foram aqueles aos quais o homem comum está mais atento: crescimento e corrupção.

No pacto político entre cidadãos e líderes, os últimos fazem a sua parte quando produzem crescimento a taxas elevadas. Além disso, os chineses sentem-se incomodados com o que ouvem sobre corrupção. Falam disso nas rodas de amigos, nos táxis. Ainda mais agora, quando o crescimento está perdendo a exuberância das últimas décadas.

Há dois dias, os nomes do Comitê Permanente, a mais alta e exclusiva instância política, tornaram-se conhecidos. Fugindo da prática passada, dos sete membros, com exceção de um, todos são advogados, economistas, um jornalista.

Como se previa, o governo estará nas mãos de quem tem falado a favor de reformas, abertura, flexibilidade. Mas a composição do Comitê Permanente indica que os reformistas assumem com menos força do que se projetava. Um reformista de peso, Wang Yang, secretário do partido em Guandong, candidato de Hu Jintao, ficou de fora.

Wang era um dos grandes oponentes de Bo Xilai, recentemente expulso do partido. Os dirigentes, diz-se, optaram pelo equilíbrio. Não poderiam rejeitar um, glorificar o outro. Wang Qishan, outro reformista respeitado, vice-ministro responsável pela economia, estará longe dos temas econômicos.

Wang é conhecido do Brasil por presidir a parte chinesa da Cosban, a comissão bilateral de alto nível.

A grande estrela do futuro é mesmo Li Keqiang, o novo primeiro-ministro. Cinquenta e sete anos, economista, advogado, versado em inglês, Li tem sido uma voz firme em favor de novos avanços.

Ele foi por seis anos dirigente do partido em Henan, província forte no setor primário, a maior produtora de grãos do país, segunda maior produtora de algodão e tabaco. Ou seja, o novo premiê deverá estar antenado a um dos temas de peso em nossa relação bilateral: agricultura.

Anunciadas as indicações, o novo presidente, Xi Jinping, dirigiu-se ao partido. Na linguagem simples do dia a dia, disse que os chineses querem "melhor educação, trabalhos estáveis, salários mais altos, melhor proteção social, melhor assistência médica, melhores condições de moradia, um ambiente mais saudável."

As redes sociais, à noite, já reproduziam suas palavras, numa espécie de resposta dos cidadãos. Com ou sem voto, fazer política é, um pouco, vender esperança. E quando a esperança está no ar, o homem comum a agarra como pode. Seja qual for o regime.

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