quinta-feira, novembro 15, 2012

Dinheiro público - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 15/11

O Itaú, bancão privado que mais lucra no país, foi autorizado pelo MinC a captar R$ 29.898.227,71 pela Lei Rouanet — dinheiro meu, seu, nosso — para promover suas atividades culturais em 2013.

Aliás...
A Editora Abril também recorreu à Lei Rouanet: a revista “Bravo!” foi autorizada a captar R$ 983.979,68 para produzir e distribuir 12 edições.

Dirceu é dez
Zé Dirceu vai encontrar segunda o advogado Cezar Britto, ex-presidente nacional da OAB e sobrinho de Carlos Ayres Britto, para traçar uma estratégia em relação à sua pena no julgamento do mensalão no STF. O ex-ministro, como se sabe, foi condenado a dez anos de cadeia.

Dilma em campo
Dilma, embora não seja uma futebolista como Lula, decidiu ir a todas as inaugurações de estádios da Copa de 14. Vai começar pelo Castelão e pelo Mineirão, mês que vem.

Partido da boquinha
O Ministério da Ciência e Tecnologia prepara um programa de investimentos e isenções fiscais de R$ 4 bi para projetos de inovação em empresas. Agora está explicado o interesse do PMDB na pasta.

Literatura da ditadura
A ditadura está em evidência no meio editorial. Em 72 horas, três livros sobre vítimas do regime militar foram lançados no Rio. Domingo, foi “As duas guerras de Vlado Herzog”, de Audálio Dantas; segunda, “Seu amigo esteve aqui”, de Cristina Chacel, sobre o desaparecido Carlos Alberto Soares Freitas; e terça, “Marighella”, de Mário Magalhães.

GRANDE HOTEL
O arquiteto oitentão Paulo Casé, autor dos projetos de luxuosos hotéis no Rio, como o novo Glória Palace, o antigo Le Méridien e o Marriott, vai desenhar mais um. Desta vez, para a rede gringa Atrium. O escritório de Casé desenvolve o projeto da Torre Maravilha, que vai ficar na Praça Mauá e terá dois prédios: um para receber o hotel e espaços corporativos; o outro, escritórios. Com pouco mais de 100m de altura, o superedifício terá 25 andares. Aliás, os quartos ficarão nos últimos nove pavimentos, o que vai garantir aos hóspedes uma vista privilegiada 

Fator Brasil
O jornal “Business Day”, da África do Sul, atribuiu a queda de Cynthia Carroll do comando da Anglo American, em parte, aos problemas na implantação do projeto Minas-Rio. A gigante da mineração pagou em 2008 uns US$ 5,5 bilhões a Eike Batista por esse projeto.

De volta ao Lincoln Center
O maestro da OSB, Roberto Minczuk, foi convidado para reger, em janeiro, a Orquestra do New York City Ballet, no Lincoln Center, em Nova York. Em 2004, Minczuk comandou a mesma orquestra, no mesmo teatro. 

Ponto extra da Net
A juíza Márcia Cunha, da 2ª Vara Empresarial do Rio, marcou para dia 21 audiência de ação proposta pelo MP contra a Net, a operadora de TV a cabo. Com a ação, o MP tenta acabar com a cobrança dos pontos extras e outros adicionais estabelecidos pela empresa.

Mago e Dilma
Paulo Coelho, o nosso acadêmico, vai encerrar, em Madri, dia 19, a conferência “Brasil en la senda del crecimiento”, que terá ainda a presença de Dilma.

Anna Bello estreia o show “Lágrimas e rimas”, no Café Pequeno, no Leblon, hoje, às 20h. Henock de Almeida faz 30 anos de arquitetura. Emanuelle Araújo comanda o “Bailão da Banda Moinho”, no Miranda.

Imagine... a festa!
A Brahma lança dia 26 agora uma edição especial de 12 latinhas, cada uma em homenagem a uma cidade-sede da Copa de 14. Veja só a foto com a latinha carioca.

Guerra das louras...
Aliás, a 17ª Câmara Cível do Rio condenou a Cervejaria Petrópolis, produtora da Itaipava, a indenizar a AmBev em R$ 200 mil. É que a Brahma lançou a lata vermelha da cerveja, e, dois meses depois, a concorrente pôs no mercado uma similar, sob o argumento de que era edição comemorativa do patrocínio da Stock Car. Mas os desembargadores consideraram “concorrência parasitária”.

Paciência e compaixão - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 15/11


Sem ter sido 'caridoso' nas condenações, Ayres passou a imagem de possuir um temperamento amoroso


PROCURO FAZER tudo em estado amoroso, disse Ayres Britto em seu discurso de despedida no STF. Relembrava uma frase de madre Teresa de Calcutá. Perguntada sobre o juízo final, ela respondeu que imaginava, nessa hora, não ser julgada pelo que fez de bom ou de mau. Mas sim pela quantidade de amor que tivesse posto em cada uma de suas ações.

Sem ter sido "caridoso" nas suas condenações, Ayres Britto sem dúvida passou a imagem, para quem acompanha o julgamento do mensalão, de possuir de fato um temperamento amoroso.

Foi sempre sua a frase amável, em meio às carrancas dos colegas. Na paciência, ao menos, a comparação com madre Teresa não é fora de propósito.


A compaixão pelos presos deste país, que só agora o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, achou oportuno expressar, certamente inspirou Dias Toffoli na tarde de ontem.

No meio das discussões sobre as penas de José Roberto Salgado, do Banco Rural, ele teve seu momento de destaque.

Toffoli fez uma defesa correta da importância das multas como instrumento penal. E afirmou com alguma estridência que "as penas restritivas de liberdade aplicadas neste processo não têm parâmetro" na história brasileira. Por que não colocar o parâmetro de multas pesadíssimas também? Seria uma punição menos medieval, ressaltou. E tem razão.

Celso de Mello, Gilmar Mendes e outros aceitaram o convite à reflexão, denunciando com eloquência o horror das prisões brasileiras.

Voltando a Toffoli. Que tipo de violência, de ameaça física, perguntou ele, é exercido por "uma banqueira, uma bailarina", como Kátia Rabello?

Querer sua prisão não representa uma resposta "contemporânea" ao crime, disse ele, citando até Michel Foucault.

Sem dúvida. Mas, fosse para seguir integralmente as teses do filósofo francês, um juiz teria de abandonar o cargo.

Criando coragem, mais adiante, Toffoli avançou contra a opinião de vários colegas. O objetivo do esquema, disse, não era atentar contra a democracia nem contra o Estado de Direito, "que são mais sólidos do que isso!". O objetivo de todo o esquema criminoso era "o vil metal" -e que se "pague com o vil metal" o crime cometido!

Calma lá. Até seria uma circunstância atenuante, que não foi levada em conta no STF, o fato de Genoino e outros não terem enriquecido com a operação.

Corromper parlamentares, entretanto, para obter apoio no Congresso foi um ato de evidente inspiração política -e atentatório, no mínimo, às regras da democracia. Se a democracia resiste a isso, não quer dizer que não foi agredida. No mínimo, pelo que isso desmoraliza a função parlamentar.


PS - O artigo da terça-feira passada, para o caderno especial sobre o mensalão, pode ter dado a entender que Rosa Weber, Luiz Fux e Marco Aurélio optaram por inverter o princípio de que a prova cabe ao acusador.

Não; mesmo Luiz Fux, que foi quem mais se estendeu sobre o assunto, observou apenas que, uma vez feita a acusação, a defesa também tem de provar suas alegações, como, por exemplo, o álibi do réu.

Seja como for, o ministro Marco Aurélio Mello solicita que se reitere, neste espaço, sua posição a respeito: o ônus da prova cabe ao Ministério Público.

Investimentos não surgem se os investidores fogem - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 15/11


O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que procura ser uma antecipação do Produto Interno Bruto (PIB), caiu 0,52% no mês de setembro com ajuste, e no acumulado do ano registra crescimento de 0,92%. O resultado desmontou as esperanças de reação da atividade econômica no terceiro trimestre, que ficou em 1,15%.

Os resultados de julho a setembro, de 8% do comércio varejista restrito e de 9,3% do ampliado, não chegaram a compensar, no PIB, a queda de 2,8% da produção industrial.

A presidente Dilma Rousseff declarou que o País precisa de uma reação do setor industrial, mas não tentou explicar o recuo que ele vem atravessando. Uma análise rápida mostra claramente a culpa do governo, que proclama a necessidade de os investimentos crescerem, mas não parece dar-se conta de que para isso são necessários investidores, que o próprio governo faz de tudo para afastar.

É fácil apontar exemplos de como as atitudes do governo contribuem para que a poupança privada deixe de comparecer em investimentos que têm caráter de urgência.

Um exemplo típico é o da Petrobrás, que, depois de ter descoberto grandes jazidas de petróleo, precisa realizar vultosos investimentos para explorá-las. Porém o governo, tentando conter a inflação com expedientes fáceis, decidiu manter o preço interno da gasolina bem abaixo do que pagamos para importá-la. A empresa estatal é que fica com o ônus de financiar a diferença e, naturalmente, perde receita, o que repercute negativamente sobre a sua capacidade de investir.

Essa política atinge também os acionistas da empresa, que, com razão, esperavam um lucro maior, cuja consequência seria a elevação do valor das ações da Petrobrás na Bolsa de Valores, que hoje não param de cair. Os acionistas, nesse caso, além de não terem vontade de manter esses papéis em suas carteiras de aplicações, terão ainda menos vontade para subscrever um eventual aumento de capital.

O mesmo fenômeno parece se repetir no setor essencial da energia elétrica. A presidente Dilma anunciou uma redução de 20% do seu custo para a indústria, com caráter compulsório e com base num cálculo duvidoso sobre a rentabilidade do capital aplicado. Isso também pode se tornar fator de fuga de capitais das aplicações em ações de empresas de energia, um setor que necessita de grandes investimentos, absolutamente indispensáveis para os propósitos que o próprio governo, e o País, alimenta.

Sequência de erros - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 15/11


SÃO PAULO - A crise na segurança pública de São Paulo já é comparável à de 2006 (quando a facção criminosa PCC promoveu três ondas de ataques no Estado), mas, mesmo assim, o governo Geraldo Alckmin continua a cometer um erro atrás de outro na condução do problema.

O primeiro foi subestimar a quadrilha, inebriado pelo sucesso obtido na redução dos casos de homicídios dos últimos anos. "O que eles têm são 30, 40 pessoas que controlam o tráfico em larga escala", disse mais de uma vez o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto. Pois esse "grupelho" promoveu uma verdadeira matança de policiais militares neste ano. Desde janeiro, 94 PMs foram assassinados, quase o dobro de 2011 (51) e um pouco menos do que em 2006 (104).

Alckmin também demorou muito para agir, temendo prejudicar a campanha eleitoral de José Serra a prefeito. Esperou o fechamento das urnas para realizar uma operação em Paraisópolis, local onde foi tramada a morte de vários policiais. O detalhe é que o governo de São Paulo já sabia do envolvimento de criminosos dessa favela nos assassinatos desde pelo menos o mês de agosto, quando a Polícia Federal prendeu um deles em Santa Catarina.

Só depois da eleição, também, o governador resolveu montar ações em conjunto com o governo federal. E, ainda assim, cometeu a imprudência de mandar um dos chefes da quadrilha para uma penitenciária em Rondônia.

No passado, medidas como essa ajudaram a organização criminosa a se estabelecer em outras regiões do país, como várias autoridades já reconheceram. Hoje, estima-se que o PCC atue em pelo menos 15 Estados, além de São Paulo.

Minimizando o problema e demorando a tomar providências, o governo paulista perdeu controle sobre uma parte da Polícia Militar, que partiu para um contra-ataque fora da lei, matando quem vê pela frente, criminoso ou não.

A violência urbana, da necessidade ao desejo - EUGÊNIO BUCCI


O Estado de S.Paulo - 15/11



Economia melhora, o crime cresce - com esse título, reportagem de Murillo Camarotto, publicada no caderno Eu & Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, de sexta-feira passada, demonstra de modo irrefutável o que os governos no Brasil detestam admitir: a miséria, a pobreza e a chamada exclusão social não são as causas principais do aumento das taxas de homicídios, de assaltos e da violência generalizada que espalha medo nas cidades brasileiras. Levantamento realizado pelo Valor mostra que, entre os dez Estados brasileiros que mais reduziram a desigualdade social de cinco anos para cá, seis pertencem simultaneamente a outro grupo, este bem menos edificante: o grupo dos dez onde a violência mais cresceu. Os dados e os estudos apresentados pela reportagem desmascaram a tese de que a necessidade extrema seria a única responsável pelo fenômeno a que os sociólogos dão o nome de "criminalidade urbana".

A notícia não é exatamente nova. O estado de necessidade, que viola todos os requisitos da dignidade humana, constitui a pior violência que se pode cometer contra alguém. Há décadas, no entanto, já sabemos que o estado de necessidade não é a causa principal da violência. Ele é inaceitável, totalmente inaceitável, mas não porque cause aborrecimentos aos de cima; é inaceitável porque não se pode conviver mais com a miséria. É inaceitável só por isso, sem precisar de nenhum outro interesse pragmático para ser mais inaceitável do que já é. Não obstante, o pensamento político brasileiro, na média, estabelece um vínculo falso entre uma coisa e outra. Aqui, os demagogos difundem a crença fácil de que a necessidade é a mãe da violência. A maldade humana seria um mito, só o que existe é a perversidade das condições materiais de vida.

Conclusão: a culpa pela falta de segurança pública seria do "sistema". Pronto. Políticas realistas de segurança pública não passariam de meros paliativos, pois todo o mal reside nas diferenças entre ricos e pobres. Nivele-se a sociedade e a violência cessará, promete a demagogia.

Mais que ilusória, essa mentalidade é deletéria. Ela se diz "de esquerda", mas é apenas obscurantista: quer condenar à fogueira quem não lhe diz amém. Em todo tiroteio vê um reles produto da exclusão social. Do mesmo modo, quando se descobrem corruptos e corruptores refestelados no partido, e se esse partido vem a ser o partido "do bem", ela assevera que a responsabilidade não é dos corruptos e corruptores, mas da malévola e elitista legislação eleitoral. Outra vez a culpa é do "sistema". Todo criminoso, desde que pobre ou do partido "do bem", é sempre uma vítima. Na dúvida, condene-se o sistema. Condene-se o tribunal.

Assim, o discurso que diz que a violência é produto da necessidade dos mais pobres embute um outro discurso, mais complicado, segundo o qual a corrupção "do bem" é uma necessidade da luta política. É por isso que os demagogos insistem em falar da necessidade e se recusam a falar de desejo. Eles não conseguem explicar por que a imensa maioria dos pobres é despretensiosamente honesta, assim como não explicam por que tantos milionários, incluindo os que enriqueceram misteriosamente na política, à direita e à esquerda, são bandoleiros. Dizem que os policiais se deixam subornar porque recebem salários ultrajantes (seriam corruptos "por necessidade"), porém não são capazes de estipular qual a faixa salarial que separa a lisura da bandalheira. Quanto teria de ganhar um sargento para ser íntegro? A demagogia não sabe dizer.

Acontece que a corrupção, assim como a violência urbana, não decorre da faixa de renda de cada um. Os demagogos sabem disso, mas fingem não saber. Sabem que há parlamentares e ministros que prevaricam durante o dia e depois se justificam à noite, em silêncio, com a cabeça no travesseiro, dizendo a si mesmos que também ganham pouco, que precisam guardar algum para a aposentadoria, para os familiares, que se estivessem na iniciativa privada teriam uma remuneração muito superior, que não é justo, que precisam garantir-se para as próximas eleições, que terão despesas com advogados, ou mesmo com uma fuga em nome da causa.

Demagogos endinheirados se perdoam em nome da necessidade, não do desejo. Eles também se consideram vítimas do sistema e, do alto dessa presunção, subornam assessores, policiais e cabos eleitorais. Alegam que combater o sistema não é barato. Acreditam ser o expediente do crime imprescindível para se fazer política, assim como acreditam que um assalto à mão armada seja uma saída contra a fome. Os demagogos não percebem que se converteram no próprio sistema que prometiam combater. Não têm como aceitar o próprio desejo, pois, neles, o desejo é o desejo de se fundir no sistema que prometiam combater, o desejo é o desejo de estar do outro lado.

Por essas e por outras, a mentalidade demagógica (autoritária) que proclama a apologia dos "crimes justos" - contra vidas humanas ou contra o dinheiro público, tanto faz - é inepta para enfrentar o desafio da segurança pública. Ela não entende que quando um adolescente mata outro, da mesma idade, para lhe arrancar um par de tênis, não mata por necessidade, por ter os pés descalços, mas por desejo de desfilar com aquela marca, assim como o corrupto é corrupto não por necessidade partidária, mas porque deseja uma gravata de grife, um iate cafona, a aprovação de seu chefe ou a bajulação dos carentes.

A violência que cresce em São Paulo, em mais uma onda cíclica, não vem de baixo, "dos pobres", nem da necessidade. Vem do alto. Em sua face mais visível, é verdade, ela brota do desejo de quem só tem um revólver na mão para se fazer notar. Mas em sua estrutura, em seu motor histórico, ela vem do desejo dos de cima que, na sua ambição, degradam a polícia, distribuem armas, concentram renda e sonegam direitos. O "sistema", nesse caso, está mudando de mãos. E tem nome e endereço.

O incêndio da paixão - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 15/11


A paixão é perecível, o amor é inesquecível.

O amor é imorredouro, a paixão é passageira.

Mas, enquanto vigorosa, a paixão é avassaladora.

Pois é a paixão que constrói o mundo.

No meu dicionário, paixão e entusiasmo são sinônimos.

Foi por paixão a Amitis, a mulher preferida de Nabucodonosor II, o rei da Babilônia, que ele mandou erguer os Jardins Suspensos, tentando recriar o ambiente da Média, de onde aquela mulher objeto da sua paixão provinha.

Ele tinha um harém e ela era sua favorita.

A paixão, portanto, foi responsável por uma das sete maravilhas do mundo.

Sendo assim, o que diferencia o amor da paixão é que o amor é para sempre, a paixão se esvai na efemeridade.

Nenhum amor, por mais profundo que seja, é mais intenso e arrebatador que uma paixão.

O amor acalma, a paixão enlouquece.

Foi por paixão a Cleópatra, que Marco Antônio perdeu a guerra e a vida.

A paixão transtorna a mente, o amor a sereniza.

O amor nasce de um estudo recíproco e de uma convivência.

A paixão irrompe de repente e incendeia o coração.

O amor torna o homem comedido, meticuloso. A paixão torna o homem delirante.

Há homens e mulheres que sentem paixão e amor ao mesmo tempo por seus parceiros.

E, com o passar da relação, muitas vezes morre a paixão e permanece o amor, por isso tantas relações perduram quase que inexplicavelmente.

E há casos excepcionais em que o amor sobrevindo em meio à paixão a extingue e sobrevive em sua substituição.

É perigoso apaixonar-se por alguém. E é arriscado ter paixão por qualquer causa. Mas em ambas as hipóteses vale a pena.

Porque não há nada mais delicioso que uma paixão, nem o amor.

Porque a maior razão e meta de uma pessoa tem de ser na vida a paixão.

Nem que dure apenas um dia.

A paixão é à primeira vista, o amor vai até a última vista.

Bem usado, vale a pena - ANDRÉ CORRÊA

O GLOBO - 15/11

É preciso admitir que a desigualdade está na raiz da disputa fiscal entre Estados



O anúncio pelo Governo Federal de medidas de incentivo à indústria coincide com um período de intenso debate sobre a conveniência e a viabilidade das políticas estaduais de investimentos. São Paulo, o estado mais rico e industrializado da Federação, puxa o coro das queixas, embora empresas paulistas também se beneficiem com mecanismos de outros estados.

Há quem tente fugir do debate, recorrendo a subterfúgios ou atacando a guerra fiscal, sem admitir a desigualdade que está na raiz da disputa. No Estado do Rio, somos transparentes: o governo adota política de incentivos financeiros e fiscais para atrair empresas. Temos orgulho dos resultados.

No caso de incentivos fiscais, a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é reduzida para incentivar o desenvolvimento de determinado setor ou região. Um bom exemplo é a Lei 5.636, que visa ao desenvolvimento de cidades no interior do estado e região metropolitana. Em dois anos (período em que os projetos passaram a ser avaliados por uma Comissão que envolve várias secretarias) foram aprovados cerca de R$ 1 bilhão em investimentos, com a geração de seis mil empregos diretos. Entre as cidades diretamente beneficiadas estão Japeri, Paracambi, Queimados, Valença, Areal, Três Rios e Vassouras.

É importante ressaltar que mesmo cidades que não recebam diretamente as empresas são atingidas pelos benefícios. A instalação de indústrias em cidades do interior evita a concentração excessiva do fluxo migratório. Quanto mais distribuídas as oportunidades, menor o risco de favelização ou colapso dos transportes.

Por mais relevantes que sejam, contudo, os incentivos fiscais não esgotam o arsenal do governo fluminense. O incentivo financeiro, disponível para a maior parte dos setores industriais, trata do financiamento do ICMS no período de investimento.

Durante o período em que o empreendimento está sendo construído, o investidor arca apenas com 20% do ICMS. O limite de crédito é equivalente ao total do valor investido. Terminado o crédito, o investidor passa a pagar o ICMS integral e a dívida referente ao ICMS financiado.

Esse mecanismo trouxe para o estado grandes empresas nos últimos anos. Entre elas, se destacam projetos que devem gerar 10 mil empregos até 2015. São montadoras como Nissan (R$ 2,6 bilhões), Peugeot Citroën (R$ 1,9 bilhão), MAN (caminhões, ligada à Volkswagen — R$ 1 bilhão), ou fornecedoras como a fábrica de pneus Michelin (R$ 1,1 bilhão).

Estão na lista ainda siderúrgicas como a Gerdau (R$ 2,5 bilhões para expansão), fábricas de cervejas e refrigerantes como a AmBev (R$ 200 milhões), além de indústria de bens de capital como a RHI (R$ 300 milhões). Só nesse rol, são R$ 9,6 bilhões em investimentos injetados no Estado, o que ajuda a explicar o destaque do Rio na geração de emprego e renda. Incentivos, quando bem usados, valem a pena.

VELA APAGADA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 15/11

Réus do mensalão já se preparam para passar o Natal na cadeia. Acreditam que o STF (Supremo Tribunal Federal) pode acatar pedido do Ministério Público e determinar a prisão dos condenados.

VELA 2
Advogados dos acusados já disseram a alguns deles que o STF pode fatiar a publicação dos acórdãos, com os textos finais das decisões, a exemplo do que fez com o próprio julgamento.

DIVISÃO
Nem todos os ministros do Supremo concordam com a ideia de prisão imediata dos réus. Preferem esperar a finalização do julgamento, com a determinação da pena de todos os envolvidos no escândalo.

LENÇO
José Dirceu "repreende" amigos e familiares que ligam para ele chorando por causa da perspectiva próxima de sua prisão. Diz que estabelecerá uma rotina na cela, fazendo exercícios e estudando, e que está preparado para o pior.

ALUGUEL
As obras da reforma do Morumbi podem começar em janeiro. O estádio continuaria funcionando. Eventual fechamento é previsto para abril ou maio de 2013.

ALUGUEL 2
Com o fechamento temporário da arena tricolor, o São Paulo passaria a jogar no Morumbi ou em Barueri. O impedimento causado pelas obras deve durar seis meses.

REALITY SHOW
Chitãozinho e Xororó vão fazer show para os 14 mil operários da Usina Santo Antônio, em Porto Velho (RO), na próxima segunda. A apresentação faz parte do programa Trabalho Seguro do Tribunal Superior do Trabalho, que já percorreu dez estádios em obras para a Copa do Mundo de 2014. A cada dia, sete brasileiros morrem enquanto exercem sua atividade profissional.

FUMAÇA LIVRE
Convidado pela Associação Chinesa para o Controle do Tabaco, Luiz Antonio Marrey, ex-secretário na gestão Serra-Goldman, foi à China falar sobre a Lei Antifumo. Deu palestra no domingo em Nanquim para 70 membros do governo chinês.

MEGAPRODUÇÃO
Vice-presidente da RedeTV!, Marcelo de Carvalho participa ativamente da produção do "Luciana by Night". Para garantir a presença de Val Marchiori, ex-"Mulheres Ricas", no programa apresentado por sua mulher, Luciana Gimenez, ele ligou para a convidada e para a direção da Record.

VOU DE HELICÓPTERO
Depois de gravar, Val ganhou um mimo: carona no helicóptero de Marcelo para passar o feriado em Angra.

'PLESENTE' DE NATAL
A Turma da Mônica fará o show "A Fábrica de Brinquedos do Papai Noel" no auditório Ibirapuera. Nos dias 6, 7 e 8 de dezembro.

AVE CAFEINADA
A empresa finlandesa Paulig lançou na Europa o café dos Angry Birds. Os grãos são originários do Brasil.

FESTA NO TRÍPLEX
O estilista Amir Slama, fundador da grife Rosa Chá, comemorou seu aniversário na casa da marchande Jacqueline Shor, anteontem. Foram aos Jardins dar os parabéns a arquiteta Raquel Silveira, a atriz Gabriela Duarte e Mario Bolzan.

ENTRE VISTAS
A atriz Zezé Polessa foi conferir a estreia da peça "A Entrevista" na segunda. Herson Capri e Priscila Fantin protagonizam a montagem, em cartaz no teatro Vivo.

CURTO-CIRCUITO
O SPA Lapinha completa 40 anos neste fim de semana e promove a mesa de debate "Simplicidade É a Sofisticação Máxima".

O Iate Clube de Santos realiza hoje seu primeiro passeio náutico.

A loja Artecristallo firmou parceria com a italiana Firme di Vetro.

Fio elétrico feito de bactérias - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 15/11


O fundo do mar é cheio de surpresas, mas esta é inesperada. Foram descobertos longos fios compostos por fileiras de bactérias que funcionam como cabos elétricos, transportando eletricidade no solo dos oceanos.

No fundo do mar existe pouco oxigênio. A quantidade de oxigênio no interior do solo dos mares é ainda menor e diminui rapidamente à medida que penetramos no solo. Dois milímetros abaixo da superfície, a quantidade de oxigênio já é 10% da presente na água que recobre o solo. Essa camada superior do solo é chamada oxida (com oxigênio), e o resto, abaixo dela, de anoxida (sem oxigênio).

Na oxida vive uma enorme comunidade de bactérias e outros seres que usam o oxigênio do mesmo modo que nós usamos o oxigênio do ar. Para obter energia, tanto nosso corpo como essas bactérias degradam açúcares, produzindo CO2. Esse processo gera elétrons e a energia presente neles é usada para nos manter vivos. O destino final desses elétrons é se ligar ao oxigênio, produzindo moléculas de água, num processo que os bioquímicos chamam de respiração. Por isso que pelos pulmões nosso corpo capta oxigênio e expele CO2 e água.

Mas na anoxida também vive muitos microrganismos, que também degradam açúcares e produzem CO2. Esse processo também gera elétrons, cuja energia é usada para manter esses seres vivos. Mas o destino final desses elétrons no subsolo do oceano é diferente. Como não há oxigênio suficiente para receber esses elétrons, íons sulfato (SO4--) assumem o papel do oxigênio e, ao se ligarem aos elétrons, transformam-se em moléculas de sulfito de hidrogênio (H2S). Mas isso causa um problema. O sulfito é toxico e, ao acumular no solo, mata os microrganismos. Por isso há no fundo do mar outras bactérias que retiram os elétrons do sulfito e o transformam em enxofre (S). O que esses organismos fazem com esses elétrons? Até agora, ninguém sabia.

Cientistas descobriram que, se usassem uma espécie de voltímetro e colocassem uma agulha na região oxida do solo e a outra agulha na região anoxida, era possível medir uma corrente elétrica, indicando que elétrons da anoxida estavam sendo transportados para a oxida, onde combinam com moléculas de oxigênio e formam água. Então veio a questão: de que maneira esses elétrons estavam sendo transportados do fundo do solo para a superfície?

Ao examinar o solo que liga a oxida à anoxida, encontraram grande quantidade de fios muito finos, orientados na vertical, ligando as duas regiões. Contando os fiosm concluíram que haviam 117 metros de fios por cada centímetro cúbico de solo. Essa densidade enorme de fios ligando as regiões só é possível porque cada fio tem 0,5 milésimo de milímetro de diâmetro.

Observando esses fios no microscópio, os cientistas descobriram que eles eram compostos por fileiras de centenas de bactérias. Será que esses fios estavam transportando os elétrons da anoxida para a oxida? Foi aí que fizeram um experimento que achei genial. Cortar os fios para ver se a corrente elétrica ainda era transmitida. Exatamente o que fazemos em casa se queremos saber se um determinado fio leva a eletricidade a uma lâmpada. Mas como cortar esses milhares de fios?

Os cientistas produziram um fio muito fino de metal e passaram um pedaço dele uma vez entre a oxida e a anoxida, cortando cada fileira de bactérias em um único ponto. Bastou isso para que a corrente elétrica deixasse de ser transmitida. Com ela interrompida, a quantidade de sulfito de hidrogênio aumenta rapidamente no subsolo. Dias depois, as bactérias recompunham os fios, a corrente elétrica era reestabelecida e a quantidade de sulfito diminuía novamente.

Esse e outros experimentos, como colocar filtros com buracos menores que o tamanho dos fios entre a oxida e a anoxida, demonstram que a corrente elétrica é transmitida por esses fios.

Esses resultados demonstram que essas finas fileiras de bactérias são verdadeiros fios elétricos que levam elétrons do fundo do solo dos oceanos às camadas mais superficiais, permitindo a sobrevivência de uma enorme comunidade de seres vivos em locais muito pobres em oxigênio. Mas esses fios são muito melhores que os produzidos pelos espertos seres humanos. Por serem vivos, eles se consertam automaticamente quando cortados. É o tipo de tecnologia que seria útil nesse nosso país de frequente apagões.

Imagine que são esses milhões de fios que seu pé está rompendo cada vez que você caminha em um manguezal. Você está causando um enorme apagão, rompendo uma sofisticada rede elétrica que abastece uma comunidade de microrganismos.

Brasileiros d'além-mar - PAULA CESARINO COSTA

FOLHA DE SP - 15/11


RIO DE JANEIRO - Difícil andar nas pedras portuguesas que calçam boa parte do Rio sem ouvir língua estrangeira. Inglês, francês, espanhol, italiano. E aquele português luso, que dá, por segundos, a dúvida sobre qual idioma está a ser falado.

Entre num elevador no centro e terá ao lado engravatados discutindo em norueguês. Suba a ladeira de uma favela e ao fim encontrará um casal elogiando a vista em francês. Num restaurante ouvirá mulheres a discutir o cenário das artes plásticas brasileiras, com sotaque lusitano.

Desde os degredados enviados para cá no século 16, recebemos nossos "colonizadores". Vieram ainda comerciantes, homens em busca de ouro, nobres que acompanharam a corte -portugueses de muitos perfis. Em várias épocas, motivados pela crise.

A história se repete, hoje. Em busca de dinheiro, de esperança ou só de alegria, estão aqui, de passagem ou de mudança. A situação lá é crítica.

Nesta semana, escritores portugueses atravessaram o oceano, subiram o morro dos Prazeres, em Santa Teresa, para falar de literatura no primeiro festival literário numa favela, lançaram seus livros no centro da cidade (onde o Rio é quase Lisboa) e debateram na universidade. A literatura, parece, não entrou em crise.

João Ricardo Pedro e Nuno Camarneiro são engenheiros que se apaixonaram pela literatura. Patrícia Portela parte do teatro e da multimídia. Sandro William Junqueira se divide entre a escrita e aulas de dramatização. Patrícia Reis começou no jornalismo e não se lembra de não escrever.

Não se surpreenderam com a cidade -já viram toda nas novelas. Perderam-se nas estantes com autores brasileiros que lá não chegaram.

Patrícia Reis, que lança "Por este Mundo Acima", resumiu: "Se colocarmos o mapa do Brasil em cima da Europa alargada, o Brasil é maior. É um continente". Todos que vieram, diz, têm um mesmo sentimento de pertença: também somos brasileiros.

O meio ambiente como bem de luxo - PAULO R. HADDAD


O Estado de S.Paulo - 15/11


Constata-se, em geral, que a preocupação com as questões ambientais (poluição, mudança climática, extinção das espécies animais e vegetais, etc.) só ganha prioridade em períodos de prosperidade recorrente. Governantes, dirigentes de empresas e os próprios cidadãos de um país só incorporam essas questões nas suas agendas e em seus processos de planejamento estratégico a partir de um determinado patamar de sua renda, de sua receita operacional ou de sua riqueza acumulada. A partir desse patamar, passam a considerar com maior critério os trade-offs ou as escolhas conflitivas entre os objetivos do crescimento e da estabilidade de suas instituições, de um lado, e os da preservação e restauração do meio ambiente ou dos ecossistemas, do outro lado.

Bens de luxo são bens cuja procura pelos consumidores aumenta mais do que proporcionalmente ao aumento de sua renda. Na fase de prosperidade, sua demanda cresce; na fase de retração, sua demanda decresce. A essencialidade de um bem a merecer alocação de recursos escassos que tem usos alternativos é definida a partir da escala de preferências individuais dos cidadãos ou a partir das estruturas ideológicas ou doutrinárias de dirigentes públicos ou privados responsáveis pela formulação e pela execução de seus planos e projetos estratégicos.

Desde o início da atual crise econômica global, estima-se que as vendas de bens de luxo tenham caído de 10% a 15% no mundo, e de forma mais acelerada nos EUA, onde cerca de 1/3 de todos os bens de luxo são vendidos. Da mesma forma, é possível caracterizar o tratamento do meio ambiente como um bem de luxo nas políticas públicas, nas decisões empresariais e nos orçamentos familiares, à medida que sua prioridade é descartada em períodos de crise econômica.

As pessoas estão dispostas a apoiar e a realizar maiores gastos na qualidade do meio ambiente quando estão mais prósperas. Em níveis de renda per capita menores, a satisfação das necessidades básicas de alimentação e de habitação ganha prioridade. Quando cresce a renda per capita, essas necessidades básicas são cada vez mais satisfeitas e os cidadãos passam a gastar mais em "bens de luxo" tais como nas melhorias dos ecossistemas em que vivem. Da mesma forma, num contexto de crise, quando a economia desanda, é comum ver-se descartar os bens de luxo da sua estrutura de demanda, e tende a haver menos comprometimento com parcelas dos orçamentos públicos e privados com a qualidade do meio ambiente.

Isso ocorre porque, para o pensamento econômico tradicional, o meio ambiente é simplesmente uma externalidade, onde os efeitos não intencionais da decisão de produzir ou de consumir de um agente econômico causam perdas ou benefícios de bem-estar a terceiros, não compensados e usualmente excluídos dos cálculos econômicos dos agentes. Uma típica falha do mercado que tem de ser corrigida por intervenções exógenas das políticas públicas.

Numa visão econômica contemporânea, estamos vivendo uma experiência de capitalismo natural em que o meio ambiente não é apenas um fator de produção menos importante, mas um envoltório contendo, provisionando e sustentando a economia. Sistemas empresariais mal concebidos ou mal estruturados, crescimento demográfico acelerado e padrões de consumo perdulários são apontados como causas primárias da perda do capital natural. O elemento diferenciador do capitalismo natural é a hipótese de que se está criando uma nova revolução industrial a partir dos aumentos radicais na produtividade dos recursos naturais.

Em tempos de crise e sem compreender os novos processos do progresso econômico futuro, governos desarticularão políticas públicas ambientais em andamento; empresas tratarão os impactos ambientais de seus projetos de capital como peças de enfeite em seus relatórios de marketing social; e os cidadãos resistirão às atitudes transformadoras de uma nova pedagogia ambientalista.

A fé no progresso - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 15/11


A ideia de progresso 'natural' é falsa. Na história, nada é garantido: tudo é, sempre, conquistado


ASSISTI A "Lincoln", o novo filme de Spielberg, no dia da estreia, na sexta-feira passada, numa lotadíssima sessão da tarde, em Manhattan. No Brasil, "Lincoln" chegará só no fim de janeiro.

O filme, que é uma obra-prima imperdível, se concentra sobre o esforço político de Lincoln para que a Câmara dos Representantes ratificasse, em 1865, a 13ª emenda da constituição dos EUA -a que aboliu a escravatura no país.

A escravatura era a aposta central da guerra, que durava havia quatro anos, entre o Norte e o Sul escravocrata. Mas, mesmo no Norte, nem todos eram abolicionistas, e muitos temiam que os negros liberados se tornassem um dia cidadãos e, pasme, pudessem votar.

Ninguém, naquela sala de cinema, na sexta passada, podia evitar de pensar que, três dias antes, o país reelegera seu primeiro presidente negro. Em menos de 150 anos, foi um progresso e tanto.

Falo de progresso só porque essa mudança promove valores nos quais aposto: quando eles avançam, acho que a gente progride. Não acredito na ideia de uma evolução "natural" da civilização (nota para os amigos filósofos: concordo com Voltaire, não com Condorcet, ainda menos com Saint-Simon).

Lembro-me de discussões intermináveis, no fim dos anos 1960, com Nicola, um jovem salernitano que fazia uma pós-graduação em geologia do petróleo em Genebra e que era decididamente anticomunista. A cada almoço, eu e meu amigo Enzo tentávamos convencer Nicola de que o futuro do socialismo seria radioso. Não funcionava.

Um dia, achei um escrito (filosoficamente duvidoso, mas de uma procedência que pareceu confiável a Nicola) segundo o qual, radioso o não, o futuro socialista era inelutável, previsto pelo marxismo "científico". Nicola acreditava na ciência, era ingênuo, e o texto o abalou. Não sei se ele se converteu, mas sumiu do restaurante universitário durante um tempo, e a gente se perdeu de vista.

Bom, Nicola, é um pouco tarde, mas talvez você esteja trabalhando numa plataforma do pré-sal e leia este jornal (o mundo é pequeno, mesmo). Nesse caso, aceite minhas desculpas: o marxismo "científico" é uma ideia calhorda, e o comunismo nunca foi inelutável. Já naquela época, aliás, eu sabia que nada acontece na história sem o engajamento subjetivo dos atores (por isso preferia, por exemplo, Henri Lefebvre a Louis Althusser -e por isso continuo gostando de Alain Badiou, porque ele nunca deixou de pensar que, sem engajamento dos sujeitos, não acontece nada, não há progresso algum).

Tudo isso parece óbvio? Vamos devagar: o sonho comunista pode estar morto, mas nossa (cômoda) crença num progresso "natural" e garantido continua bem viva.

Por exemplo, na semana passada, na eleição americana, junto com a vitória de Obama, aconteceu a derrota de dois candidatos a senador cuja oposição à legalização do aborto (mesmo em caso de estupro) era de um machismo e de uma estupidez ultrajantes. Na mesma eleição, houve também Estados que aprovaram o casamento de pessoas do mesmo sexo.

Nasci e cresci numa Itália em que a desigualdade de fato e de direito era sinistra, e o amparo era pouco. Nesse mundo, as mulheres estavam longe de ter direitos comparáveis aos dos homens, não existia divórcio, qualquer aborto era criminoso, o consumidor de droga era igualado ao traficante, e a homossexualidade era uma vergonha que era melhor esconder.

Para que essas realidades mudassem, lutei -ou seja, junto com muitos outros, votei, escrevi, desfilei, militei. Mesmo assim, tenho a estranha impressão de que fomos carregados por uma espécie de movimento "natural", ao qual era possível resistir, mas que sempre ganharia no fim -um progresso na direção do grande ideal cristão: a maior liberdade possível dos indivíduos sem renunciar à solidariedade.

Essa impressão de progresso "natural" é falsa e perigosa. Na história, nada é garantido: tudo é, sempre, conquistado.

O que nos separa de outros mundos possíveis (e horríveis) não é a inelutabilidade do progresso, mas a obstinação de pequenos grandes gestos. Entre nós e as trevas, há o corpo ferido de Malala Yousafzai, 14, baleada na cabeça pelo Talibã paquistanês porque promovia o "secularismo' (ou seja, queria ir para a escola e pensar com a sua cabeça).

Ou, a coragem da catarinense Isadora Faber, 13, que continua seu "Diário de Classe" on-line, embora hostilizada por professores, por administradores e talvez por um pintor negligente (Folha, 11 de novembro).

O buraco na cerca - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 15/11


Conhecedora da habilidade do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em angariar potenciais aliados e dos movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em direção a 2014, a presidente Dilma Rousseff se dedica a cercar o seu terreno. Na semana passada, foram o PMDB e o PSB. Nos últimos dias, recebeu o PSD de Gilberto Kassab e o PP capitaneado pelo senador Francisco Dornelles, primo de Aécio. Quando a presidente voltar da viagem à Europa, será a vez do bloco PTB, PR, PSC e PPL, que reúne 14 senadores.

Esses encontros têm sido marcados por conversas recheadas de análises econômicas, políticas e acenos para o futuro. No fundo, os parlamentares não têm mais dúvidas de que o objetivo é um só: evitar que Aécio comece a “pescar” desde já alguns partidos entre aqueles que fazem parte do portfólio governista. E, de quebra, tirar de Eduardo Campos qualquer razão para buscar um voo solo em 2014.

Quem participa dos eventos, diz encontrar uma Dilma muito mais solta, leve no trato político. Em comparação com a rodada de encontros do ano passado, os parlamentares e comandantes partidários consideram que ela está bem melhor agora. Mais segura nessa seara. Portanto, em termos de partidos, por enquanto, ela segurou muitos aliados. Se segurar os eleitores via aprovação do seu governo, muitos consideram que a largada para a campanha reeleitoral estará pavimentada.

Enquanto isso, na porta do Planalto…
O problema, entretanto, não é esse. Esta semana, ao mesmo tempo em que concluiu as conversas com os maiores partidos da base e “incluiu” o PSD de Kassab, Dilma deixou um buraco na cerca. Os prefeitos que vieram a Brasília em busca de verba para quitar as contas deste ano saíram de mãos abanando e com promessas que, como me disse um deles, “não tapam nem o buraco do dente”. Não houve acenos para compensar a perda de receita com a redução do IPI. Apenas o anúncio da liberação de R$ 1,5 bilhão até o final do ano para obras em andamento. O resultado foi a porta do Palácio do Planalto apinhada de prefeitos, muito sentados no chão. A grande maioria não conseguiu sequer entrar no Planalto e teve que se contar com as fotos na portaria.

Atualmente, esses prefeitos, muitos deles reeleitos, não poderão fazer muita coisa. O mais urgente é fechar o ano sem deixar as contas no vermelho. Mas, na próxima campanha, a conversa será outra. Com os prefeitos insatisfeitos, a presidente dificilmente terá muita gente trabalhando em prol da sua campanha “na ponta”, ou seja, no corpo a corpo com o eleitor. É aí que o bicho vai pegar. Os prefeitos, Dilma não conquistou.

E na sede do PT…
A nota que a Executiva do partido lançou ontem sobre o julgamento da Ação Penal 470 foi mais veemente do que imaginavam seus próprios integrantes. Até então, o partido não havia se pronunciado de forma tão contundente a respeito do caso. Soa como uma declaração de guerra ao Supremo Tribunal Federal (STF). Até então, o PT dizia que o mensalão tinha CPF e que o partido não tinha relação com o caso. Agora, com a dosimetria das penas conhecida, o partido dá uma guinada e diz, oficialmente, o que era ouvido apenas aqui e ali. Lula agiu para que essa nota fosse feita. Afinal, se 2014 começou, os petistas não querem deixar o julgamento como mais um “buraco na cerca”, capaz de fazer escoar os votos. Nesse quesito, já bastam os prefeitos e os percalços nas obras de infraestrutura.

Por falar em infraestrutura…
O governo está com dificuldades de conseguir quórum para votar a Lei Orçamentária de 2013 na Comissão Mista de Orçamento. Se continuar assim, mais uma vez, essa lei importantíssima será votada a toque de caixa pelos congressistas, naquela briga sem fim por recursos para as emendas dos políticos. Como sempre, não teremos uma análise profunda dos projetos inscritos na lei, tampouco seu cumprimento à risca pelo Poder Executivo. No fundo, o que se vê, é o Congresso fazendo de conta que aprecia todo o Orçamento e o governo fazendo de conta que cumpre o que sai do Parlamento. É pena.

O Poder dos Poderes - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 15/11


Nenhum dos Poderes goza de mais conforto e maior luxo, nos níveis superiores, do que o Judiciário


EM SEU primeiro ato de despedida, o ministro Ayres Britto transmitiu sobre o Judiciário a opinião de um Poder que se distingue, nos três Poderes, pelos sacrifícios com que se dedica à sua missão sem, por isso, receber o reconhecimento e, muito pior, a compensação pecuniária:

"O Poder Judiciário é o mais cobrado, o mais exigido e o menos perdoado", resumiu o presidente do Supremo Tribunal Federal. Logo iria pedir a inclusão de aumento do Judiciário no Orçamento de 2013.

A visão desde as alturas é muito especial, sobretudo quando se trata da pirâmide humana -seja composta por motivo de posses, de cultura, profissionais e outros. De fora do cume, não se percebe outro Poder mais "cobrado" do que o Executivo, tanto em seu nível federal, como no estadual e no municipal.

Ao Executivo segue-se o Legislativo, cujo conceito rasteiro sobre os políticos e os partidos diz o suficiente a respeito do seu Poder e das benesses de que desfrutam. Já o Judiciário é aquele Poder do qual é comum os cidadãos esperarem uma definição por 10, 20, até 30 anos. Há pouco houve menções a uma causa com meio século de hospedagem nos recantos do Judiciário. Uma ação trabalhista pode durar cinco e mais anos. Sobre o Supremo mesmo, há dias foi noticiado que se aproximam das três mil as ações que esperam, em suspenso, os acórdãos devidos pelo STF. Os vencedores não sabem quando sairão.

O volume de trabalho nos juizados é grande, sim, e não é incomum que julgadores correspondam à dedicação necessária. Mas, como ministra-corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon teve a eficiência e a coragem de expor realidades clamorosas (há quanto tempo esse ruim adjetivo estava sumido, desgastado por tantas aplicações cabíveis) de todos os tipos e no Judiciário pelo país afora.

Essas realidades só existem em razão de um fator: o Judiciário não é "exigido" em nada e por ninguém. Nem pode sê-lo. O povo e os outros dois Poderes não têm como exigir-lhe coisa alguma -assim o regime o exige. Nem sequer pode influir em sua composição: para a primeira e a segunda instâncias há concurso e, também para a segunda e as últimas, há a escolha e o lobby.

O "menos perdoado"? Se nada é "cobrado", nada é ou pode ser "exigido" -a despeito do que todos sentem e o próprio Conselho Nacional de Justiça reconhece-, o perdão é, na prática, absoluto. E até premiado. Nenhum dos Poderes goza de mais conforto e maior luxo, nos seus níveis superiores, do que o Judiciário.

Os três Poderes estão em dívida enorme com o país. Todos muito aquém, nos seus respectivos níveis, do que lhes caberia em reciprocidade mínima pelo que recebem graças ao sistema tributário injusto. Mantido por ação conjunta dos três.

DE JUSTIÇA

O ministro Gilmar Mendes cometeu uma injustiça com José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. Acusou-o, na sessão de ontem do STF, de afinal referir-se ao estado medieval das cadeias brasileiras. Há muitos e antigos registros de críticas combativas, e muito mais fortes do que a recente, feitas por Cardozo aos sistemas prisional e policial.

De Gilmar Mendes só constam críticas ao sistema prisional a partir de sua chegada ao Conselho Nacional de Justiça, quando providenciou uma varredura que encontrou mais de 20 mil presos com sentenças extintas.

Medo Severino - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 15/11

O que mais preocupa a presidente Dilma na sucessão da presidência da Câmara é a possibilidade de eleger um novo Severino. Nas conversas, com ministros e líderes aliados, pede a todos que fiquem atentos para evitar que isso ocorra. Dilma reforça que cumprir o acordo para eleger o líder do PMDB, Henrique Alves, é um prêmio ao vice Michel Temer, que é "muito correto e leal".

Por que Kassab disse "não"
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, tem dito que não quer ministério no governo Dilma antes das eleições de 2014, pois considera que não há neste momento uma pasta que seja compatível com a importância e o peso que o partido passou a ter no cenário nacional. Dizem que o Ministério das Micro e Pequenas Empresas não está à altura do PSD. Além disso, a avaliação é que, até ele existir e se estruturar, já terá passado a eleição. Ou seja, não terá um acervo de realizações que possa ajudar na eleição dos candidatos do partido à Câmara e ao Senado. O partido só integraria o governo Dilma desde já se lhe oferecessem uma pasta de porte como Cidades ou Transportes.

“Nós somos um partido da primeira divisão e não há um ministério da primeira divisão disponível”
Saulo Queiroz Secretário-geral do PSD

Piada de Salão Verde
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), passou os últimos dias ouvindo gracinhas sobre a Lei dos Royalties. Como ele assume de hoje até sábado a Presidência da República, deputados criaram a campanha "Sanciona, Marco".

Nos bastidores
A criação do Banco do Sul, banco de fomento dos países da Unasul, só depende da aprovação da Câmara brasileira. A previsão é que isso ocorra em dezembro. Pelo seu peso regional, o Brasil deve indicar o primeiro presidente da instituição. No Itamaraty, circula o nome da ex-presidente da CEF Maria Fernanda Ramos Coelho.

A luta por espaço
É feroz a disputa entre os senadores Wellington Dias (PI) e Jorge Viana (AC) pela liderança do PT no Senado. E muito tenso o embate na Câmara pela vice-presidência da Mesa entre os deputados André Vargas (PT-PR) e Paulo Teixeira (PT-SP).

Batendo cabeça
Faltou entendimento entre os prefeitos recebidos pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para tratar das reivindicações dos municípios. Quando a ministra disse que o governo estava disposto a renegociar as dívidas com o INSS, o grupo das associações de prefeitos aceitou prontamente; enquanto o liderado pela Confederação Nacional dos Municípios recusou.

Manter a tropa unida
Os aliados do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), só vão tratar de sua sucessão depois da eleição do presidente do Senado. Não querem correr o risco de divisão. Há dois candidatos: Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE).

Carlos Araújo, sim
A Juventude Socialista do PDT de Porto Alegre defende o retorno do ex-marido da presidente Dilma ao partido. Sobre a Juventude do Rio, diz que ela se omitiu quando o prefeito Amazonino Mendes entrou no partido para fins eleitoreiros.


O EX-LÍDER
 Cândido Vaccarezza (PT-SP) integra o núcleo de operações da campanha de Henrique Alves (PMDB-RN) à presidência da Câmara.

Vil metal e vil prisão - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 15/11


BRASÍLIA - Enquanto eram os PPP (pobres, pretos e prostitutas) jogados desde sempre nas cadeias, estava tudo muito bem. Bastou o Supremo decretar dez anos e dez meses de prisão para José Dirceu para todo mundo acordar e discutir a realidade penitenciária brasileira.

Se o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classifica as prisões do país como "medievais" e prefere a morte a ficar preso no Brasil, o que a sociedade e principalmente os próprios condenados podem dizer?

Com a autoridade de quem atuou efetivamente para melhorar esse estado de coisas, retirando das prisões milhares de presos ilegais à época em que presidiu o STF e o CNJ, Gilmar Mendes concordou com a crítica de Cardozo, mas ironizou: "Lamento que ele fale só agora".

Depois da pena de Dirceu à prisão, também entrou em pauta no Supremo o debate sobre penas pecuniárias versus privação de liberdade. Ou seja, multas em vez de prisão.

Estridente, Dias Toffoli disse que o intuito dos crimes (do mensalão) era financeiro, e não atentar contra a democracia ou partir para a violência, e resumiu: "Era o vil metal. Que se pague então com o vil metal".

E houve uma inversão. Antes, o revisor Ricardo Lewandowski abria o debate e Toffoli o acompanhava. Ontem, Toffoli puxou a questão e Lewandowski foi o primeiro a aderir à tese, com uma ressalva: desde que de acordo com as posses do réu.

Soou como uma tentativa de negociação típica de advogados, não de juízes: já que estão condenados, que paguem em dinheiro, não em dias na cadeia. Tudo, menos levar réus tão ilustres para a prisão?

A dinâmica do julgamento, porém, segue a lei e a tradição: uma coisa não elimina a outra. Condenados devem pagar com o bolso e, dependendo do caso, com a liberdade.

Que a condenação de poderosos não seja em vão nem só vingança. Além de resgatar a Justiça, que possa também tornar mais justas as prisões medievais dos brasileiros comuns.

Viagem ao desespero da Espanha - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 15/11


A crise econômica leva muita gente a pensar que o país corre o risco de se tornar Terceiro Mundo


CÁDIZ - A Espanha que a presidente Dilma Rousseff visitará a partir de amanhã é um país desesperado.

Pegue-se qualquer estatística, e o desespero se explica. Tome-se, por exemplo, o desemprego, situação que é a que mais leva ao desespero: está em 25,8%, recorde na União Europeia, superior até aos 25,4% da falida Grécia.

Pior: aumentará para 26,6% em 2013, ano em que a Comissão Europeia prevê outra retração da economia, de 1,4%, idêntica à deste ano. Mas não são as estatísticas as que mais adequadamente captam o estado de espírito da Espanha.

A desilusão aparece com contundência, por exemplo, em livro que foi lançado anteontem. Chama-se "Espanha, Destino Terceiro Mundo", escrito pelo jornalista Ramón Muñoz, que, nas páginas de "El País", cansou-se de mostrar a gravidade da crise. O título é um colossal exagero. Os latino-americanos, que de Terceiro Mundo entendemos bem mais que os espanhóis, sabemos que a Espanha está a anos-luz de tão triste destino.

O livro é acima de tudo um grito de frustração ante "o brusco fim de um destino que acreditávamos eterno", como diz "El País", ao apresentar o volume.

O destino que parecia eterno foram os 16 anos ininterruptos de crescimento, de 1993 até 2009, quando se instalou a recessão global que, na Espanha, foi mais contundente pela explosão da bolha imobiliária.

E, atenção, a crise espanhola nada tem a ver com os abusos com dinheiro público que ajudaram os países do Terceiro Mundo a cavarem um buraco ainda mais fundo do que aquele em que já estavam, nos anos 1980, pedaço dos 1990.

O governo da Espanha, com conservadores ou com socialistas, dava lucro (arrecadava mais do que gastava) até a véspera da crise da construção civil -ou do "ladrillo" (tijolo), como eles preferem.

Posto de outra forma: é uma crise de Primeiro Mundo, como a norte-americana, em que a banca, irresponsavelmente, financia imóveis para quem pode e para quem não pode pagar, como se a bicicleta do crescimento nunca fosse parar de rodar. Parou, em 2008, e todo o mundo caiu do selim.

De lá para cá, 172 mil famílias perderam suas casas por não poderem pagar a hipoteca e outras 178 mil estão pendentes de "desahucio" (despejo), a palavra que Dilma mais ouvirá na Espanha, se puder ler jornais, ouvir rádio ou ver TV (pronuncia-se "deçáusio", presidente).

O que tornou exponencial o desespero foi o suicídio de Amaya Egaña, ex-vereadora de Barrakaldo, no País Basco, 53 anos, que atirou-se do quarto andar do prédio em que morava enquanto subiam para despejá-la os oficiais de Justiça e a Guarda Civil.

É uma situação dolorosa, mais ainda para um país que só fez aproximar-se de seus pares mais ricos da Europa desde que se livrou da ditadura de Francisco Franco, morto em 1975 e sepultado como regime em 1977, esta sim terceiro-mundista.

Mas, se Ramón Muñoz me perdoa, despejo não é coisa de Terceiro Mundo pela simples e boa razão de que, neste, poucos têm recursos para comprar imóvel, mesmo financiado.

PIB em banho-maria - MÍRIAM LEITÃO


O GLOBO - 15/11

COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO

Com a divulgação do IBC-Br de setembro, ontem, todos os indicadores que servem para calcular o PIB do terceiro trimestre ficaram disponíveis para os economistas. O dado oficial ainda será divulgado pelo IBGE, mas as contas mostram que o período foi o mais forte em mais de um ano. Ainda assim, 2012 será fraco, porque o primeiro semestre foi muito ruim.

Depois de cinco altas seguidas, o índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br, caiu 0,5% em setembro. Mas no terceiro trimestre, subiu 1,2%. Desde o começo de 2011 um aumento tão forte assim não acontecia. A economia brasileira, aos poucos, parece estar deixando o pior momento para trás.

São vários os indicadores que mostram que o nível de atividade esquentou do segundo para o terceiro trimestre (vejam no gráfico). A produção industrial subiu 1%. O varejo vendeu 2,3% a mais, na mesma comparação. O fluxo de caminhões nas estradas ficou 3% maior, enquanto a expedição de papelão ondulado - a embalagem das embalagens - cresceu 2,6%. Dos indicadores que servem para antecipar o resultado do PIB, só caiu o do consumo de energia, mas pouco.

O economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, acha que o terceiro trimestre será o melhor do ano, mas vê essa recuperação com cautela. Houve muita antecipação de compra de veículos no período, porque o IPI reduzido tinha prazo para acabar; além disso, um problema crônico não foi resolvido: a falta de investimentos.

- O investimento deve fechar o ano com queda de 3%. O consumo também desacelerou. O segundo semestre está sendo melhor, mas porque o primeiro foi muito ruim - afirmou.

Sérgio Vale, da MB Associados, também aponta o investimento baixo como uma das causas para o PIB fraco em 2012, de apenas 1,3%, pela sua projeção. As exportações não estão ajudando, por causa da retração da demanda mundial. A boa notícia é que os dois economistas estimam mais crescimento no ano que vem, entre 3% e 3,5%.

Novos capítulos do drama europeu

As atenções, hoje, estão voltadas para o resultado do PIB da zona do euro do terceiro trimestre, especialmente para o da Alemanha que, segundo as previsões, deve desacelerar pela segunda vez seguida, ficando em 0,1%. A principal economia da Europa está sentindo os efeitos da crise dos vizinhos. Foi ela, aliás, que puxou para baixo o dado da produção industrial da região, que caiu 2,5% em setembro. Os empresários não investem, porque não veem, na prática, o que as autoridades europeias dizem nas reuniões: que farão tudo o que for possível para resolver a crise. A coleção de más notícias só aumenta: a recessão na Grécia e em Portugal se aprofundou entre julho e setembro; e várias cidades europeias pararam ontem numa onda de protestos e greves contra os cortes de gastos e o alto desemprego.

DE VOLTA AO VERMELHO. Com a queda de 2,1%, ontem, o índice Ibovespa retornou ao negativo no ano.

Mais um recuo - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 15/11


A prévia do PIB medida pelo Banco Central por meio do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) acusou forte retração em setembro: 0,52% em relação a agosto (veja o gráfico).

Não faz sentido a alegação de que essa derrapada surpreendente foi gerada pela falta de quatro dias úteis em setembro. O calendário deste ano já estava previsto desde a sua instituição, pelo papa Gregório XIII, em 1582.

Tem mais a ver com a irregularidade da produção industrial, que oscila de acordo com os estímulos temperamentais do governo. Em agosto, por exemplo, deveriam terminar as isenções de IPI para veículos e aparelhos domésticos, depois renovadas até dezembro. O consumidor antecipou as compras em agosto e as reduziu em seguida. Mas isso não explica muito.

A baixa reação da indústria é fato sobejamente comentado, não precisa ser repisado. Dá para dizer que os números bastante negativos de setembro não devem se repetir tão cedo. Mas ainda não dá para garantir a robustez do sistema produtivo com que conta o governo nos meses seguintes e, principalmente, em 2013.

Este ano acaba com nível de incerteza maior do que em 2011. O Banco Central recita o mantra de que a convergência para a meta de inflação, de 4,5%, será obtida em qualquer momento de 2013, "ainda que de forma não linear". Mas há dúvidas de que essa aposta se cumpra.

O mercado de trabalho vai na contramão da redução de custos de produção. Mesmo que o próximo reajuste do salário mínimo não seja de 14,1%, como em 2012, a falta de mão de obra deve elevar a remuneração do trabalho. Se, neste ano, o PIB cresce menos de 1,5% e há pleno emprego, é inevitável que, com avanço do PIB acima da reposição demográfica do mercado de trabalho, esse fator se acentue.

Também jogam contra o controle da inflação a necessidade de reajustes dos preços dos combustíveis e a tendência à alta da cotação do dólar (desvalorização do real) - veja o Confira. O Banco Central reconhece, ainda, que a política fiscal do governo é expansionista. Ou seja, despesas públicas sobem acima do PIB - um dos fatores que contribuíram para a atual esticada dos preços. O governo promete que, em 2013, cumprirá sem os truques conhecidos a meta do superávit primário de 3,1% do PIB. É o mesmo que foi dito tantas vezes ao longo do ano.

Enfim, o próprio Banco Central deixou de ancorar as expectativas. Nenhuma instituição de peso projeta a convergência da inflação para a meta em 2013. A pesquisa Focus, que ausculta semanalmente cerca de 100 instituições, aponta projeção média de 5,4% no ano que vem.

Além de terem desarrumado a casa, as mexidas no tripé da economia (câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário de 3,1% do PIB) agravaram a incerteza. O Banco Central e o ministro Guido Mantega descarregam a maior parte da responsabilidade pelo baixo avanço e pela inflação acima da planejada na piora da crise externa e nas políticas perdulárias dos grandes bancos centrais. É desculpa sem pé nem cabeça. Rússia, México, Chile, Indonésia, Coreia do Sul e África do Sul são emergentes que terão avanço do PIB superior ao do País e inflação menor. E, no entanto, a crise atinge a todos. Alguns com mais virulência do que o Brasil.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 15/11

Cai taxa de ocupação dos hotéis do país e preços das diárias sobem

Enquanto a taxa de ocupação nos hotéis do país caiu 3,4% no primeiro semestre do ano, ante o mesmo período de 2011, o preço das diárias subiu, segundo levantamento do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).

A elevação foi de 17,6%, e a média da diária no semestre ficou em R$ 232,70.

A baixa na ocupação não é consequência da alta dos preços, de acordo com o presidente da entidade, Roberto Rotter. Ela é decorrente do maior número de apartamentos disponíveis e da crise internacional, diz.

A maior queda foi registrada na região Norte, onde a taxa diminuiu 9% e fechou o semestre em 56,92%.

"Houve uma redução em regiões que quase não tinham meios de hospedagens, principalmente em algumas cidades secundárias e no Norte do país", afirma.

Na mesma região, as diárias aumentaram 9,7%. No Sudeste, a variação no preço foi de 20,3%, enquanto a queda na taxa de ocupação foi de apenas 3,4%.

"Se fizermos uma análise histórica, os preços estão recuperando as perdas ocorridas nos últimos dez anos."

A receita por apartamento disponível no país também aumentou no período (13,6%). O Sudeste foi, novamente, a região com maior crescimento (16,1%). No Norte, houve retração de 0,2%.

Foram analisadas informações de 386 hotéis.

CLUBE DE PRAIA
O Taikô, empreendimento que reúne restaurante, bar e boate no balneário de luxo Jurerê Internacional, em Florianópolis, negocia a abertura de duas unidades fora do país -uma em Miami (Estados Unidos) e outra na região do Algarve (Portugal).

"A ideia é aproveitar que o Brasil está na moda e fazer de uma marca criada no país uma referência internacional", diz Leandro Adegas, sócio da casa. A previsão é que as unidades sejam inauguradas em 2013.

Adegas fechou neste ano parceria para a instalação de três unidades fora de Santa Catarina -duas no Espírito Santo e uma em Brasília.

No Distrito Federal, o restaurante ficará à beira do lago Paranoá, mantendo o modelo de clube de praia da marca.

Cada nova unidade receberá R$ 3 milhões em investimentos. A de Florianópolis está em reforma, que demandará aporte de R$ 1,5 milhão.

3 novas unidades estão em instalação no país -em Guarapari (ES), Vitória e Brasília

2 empreendimentos estão em negociação no exterior -em Miami (EUA) e na região do Algarve (Portugal)

R$ 3 milhões é o aporte em cada nova casa

R$ 1,5 milhão será investido na reforma da unidade de Florianópolis

35% das pessoas que costumam passar o Réveillon na casa de Florianópolis são do Estado de São Paulo

FINANCIAMENTO REGIONAL
Os municípios do interior do Estado de São Paulo captaram 69% dos recursos da agência de fomento Desenvolve SP até outubro deste ano, segundo a entidade.

No mesmo período de 2011, cerca de 55% dos recursos haviam sido destinados a cidades de fora da região metropolitana de São Paulo.

A maior parcela dos investimentos está concentrada na indústria, com 52% do total. No ano passado, o segmento teve um repasse de 63%.

Em seguida vem o setor de serviços, que passou de 14% para 22%, conforme o estudo.

Até o final do último mês, R$ 350 milhões tinham sido financiados para projetos de expansão e modernização de pequenas e médias empresas de todo o Estado.

Brinde A vinícola gaúcha Salton espera comercializar 8,8 milhões de garrafas de espumantes e frisantes para as festas de final de ano.

Na massa O presidente da associação do setor de massas no país, Claudio Zanão, assumirá a presidência da entidade internacional do segmento.

COM QUE MALA
Do clássico ao despojado, há muitos estilos de executivos. O que os une é o movimento: nos negócios, para pegar o voo ou correr para a academia. As malas são sempre necessárias. A seguir, algumas opções, boa parte já da estação outono/inverno 2012/2013 do hemisfério Norte.

Bolsa da Goyard, modelo "unissex", em cinza, R$ 8.600
Mala (R$7.790) e bolsa (R$4.260) em couro Saffiano, da Prada
Modelo da Coach, R$ 1.398
Bolsa de lona da Lacoste, R$ 429
Mala que vira mochila da Jansport, R$ 299
Mala de couro de crocodilo da Cartier; a grife não divulga o preço
Em couro com alças removíveis da carioca Mr. Cat, R$ 1.199,80

O desprezo ao sigilo fiscal - FRANCISCO DORNELLES

O GLOBO - 15/11


Brasil deveria não ratificar o acordo com os Estados Unidos em curso no Senado e negociar outro mecanismo de troca de informações sobre tributos



A Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal analisa acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para o intercâmbio de informações relativas a tributos. A troca de informações em matéria fiscal entre o Brasil e outros países é prática consolidada. O Acordo com os Estados Unidos, entretanto, desconsidera garantias e princípios da Constituição Federal e do Código Tributário Nacional.

Dispositivo específico desse acordo estabelece que as informações eventualmente requeridas por autoridade fiscal dos Estados Unidos sejam prestadas pela Receita Federal do Brasil mesmo que este órgão não as use para efeitos tributários ou que não estejam vinculadas a condutas ilegais pelas leis brasileiras. Assim, informações sobre o contribuinte brasileiro que não são exigidas pelo Fisco do Brasil poderiam ser fornecidas ao Fisco estadunidense.

O desprezo à instituição do sigilo, tanto fiscal como bancário, é patente no texto do acordo. As autoridades estadunidenses podem até solicitar às brasileiras informações personalíssimas de contribuintes que estejam em posse de instituições privadas brasileiras, ignorando o fato de que mesmo o Ministério Público depende de autorização judicial para ter franqueado seu acesso a esse tipo de informação.

Entretanto, um acordo de intercâmbio de informações fiscais com os Estados Unidos torna-se, no momento, necessário. Com a aprovação de legislação naquele país, que tem por objetivo combater a evasão fiscal, instituições financeiras domiciliadas no exterior, inclusive no Brasil, são obrigadas a prestar diretamente ao Fisco estadunidense informações que, em alguns casos, não podem ser atendidas em decorrência da nossa legislação interna. O não atendimento, entretanto, sujeita essas instituições a níveis altíssimos de tributação naquele país.

Há, contudo, alternativa para solucionar o impasse. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos são signatários de convenção de natureza tributária no âmbito da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE). Trata-se de instrumento ao abrigo do qual seria possível estabelecer procedimentos de troca de informações fiscais sem, entretanto, agredir princípios constitucionais do nosso país.

O Brasil deveria, pois, não ratificar o acordo em curso no Senado e negociar acordo de troca de informações fiscais com os Estados Unidos ao abrigo da convenção da OCDE, o que aliás tem sido o caminho seguido pelos governos das maiores economias da Europa.

Gaza na mira - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 15/11



Mais uma vez, Israel acertou o alvo com sua violência, eficácia e precisão habituais: um ataque aéreo na Faixa de Gaza matou o líder militar do Hamas, Ahmed Jabari. Foi um golpe certeiro. Para avaliarmos sua dimensão, vejamos a situação da Palestina em relação a Israel. Ou "das Palestinas", porque não há apenas uma, mas duas - a da Cisjordânia, moderada, e a da Faixa de Gaza, nas mãos radicais do Hamas desde 2007.

Foi ali que Israel realizou uma incursão que matou Jabari. Esse homem de 52 anos era o líder do braço militar do Hamas, as Brigadas Ezzedine al-Qassam. É claro que, oficialmente, Jabari era apenas o número 2 da facção armada em Gaza. Ele tinha um superior: Mohamed Deif, que, aleijado em razão de uma série de enfermidades provocadas pelas feridas que lhe foram infligidas pelo Exército israelense, não pode exercer suas funções. Jabari era, portanto, o verdadeiro líder militar.

Ele era um personagem respeitado. Foi o arquiteto do golpe com o qual o Hamas tomou o controle da Faixa de Gaza, há cinco anos. Nunca era visto em público, pois sabia que era visado pelos soldados de Israel. Fez uma única aparição em pleno dia, em 2011, quando dirigiu a troca do soldado israelense Gilad Shalit, prisioneiro do Hamas, por mil militantes palestinos detidos em Israel.

A execução de um líder tão prestigioso enfureceu o Hamas. Nos termos apocalípticos que o caracterizam, o Hamas declarou que Israel "reabriu as portas do inferno". Os israelenses replicaram concisamente, avisando os militantes que, "se continuarem a promover o terrorismo, também morrerão".

A execução de Jabari foi precedida por uma escalada dos riscos. Há oito dias, a violência de ambos os lados se multiplicou na fronteira entre os dois territórios. No sábado, quatro soldados israelenses foram feridos ao longo da linha de demarcação por foguetes disparados de Gaza. O ritmo dos incidentes aumentou: 6 palestinos foram mortos e outros 35 ficaram feridos. A execução do líder militar inscreve-se nessa sequência de violência.

Será preciso invocar elementos políticos? Há duas observações a fazer: por um lado, dentro de 15 dias, a ONU examinará um pedido apresentado pela Autoridade Palestina para que lhe seja destinada uma cadeira na Assembleia-Geral como Estado observador. É preciso lembrar também que, há alguns dias, a Faixa de Gaza recebeu, pela primeira vez, a visita oficial de um importante líder árabe: o xeque Hamad bin Khalifa al-Thani, emir do Catar, país riquíssimo, que compra em todos os países do mundo palácios e clubes de futebol e enviou a Gaza um cheque de US$ 400 milhões.

Seu gesto surpreendeu. O Catar, país complicado, ambíguo, que mantém boas relações com o Ocidente, mas bota lenha na fogueira do islamismo, alardeava, portanto, em plena luz do dia, sua escolha entre as duas Palestinas. Desdenhando a Autoridade Palestina do moderado Mahmoud Abbas, na Cisjordânia, o Catar tomou o partido da Palestina radical do Hamas, em Gaza.

Águas de janeiro - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 15/11

Alertado sobre a alta probabilidade de enchentes logo no período que sucederá sua posse, Fernando Haddad enviou extenso ofício à prefeitura cobrando dados detalhados dos serviços de microdrenagem e limpeza de bocas de lobo e piscinões. O prefeito eleito também quer conhecer os planos preventivos para áreas de risco. A equipe de transição fará varredura dos contratos em vigor para providenciar eventuais prorrogações que evitem a interrupção de serviços do setor em janeiro.

Meteorologia Na conversa de ontem com Haddad, Dilma Rousseff advertiu: "Aproveite agora, antes da posse: todo mundo te cumprimenta e ninguém te cobra. Quando assumir você nunca mais vai dormir quando ouvir barulho de chuva".

Linha direta As tratativas sobre ações emergenciais contra enchentes serão feitas entre a equipe de transição e o atual secretário das subprefeituras, Ronaldo Camargo.

Cláusula pétrea O petista pediu aos deputados escalados para seu secretariado que abdiquem da reeleição em 2014. A regra incomodou Vicente Cândido, convidado a assumir o braço esportivo da nova gestão. Ele deseja presidir a CCJ da Câmara.

Mais uma Haddad bateu o martelo com sua equipe para a criação da 32ª subprefeitura, a de Sapopemba, na zona sudeste de São Paulo. O projeto de lei seguirá para a Câmara em janeiro.

Estica e puxa O prefeito eleito diz a interlocutores que manterá 27 secretarias no organograma municipal. As pastas que serão criadas (Mulher e Igualdade Racial) substituirão outras duas do atual desenho do governo.

Bancada Com a escolha de Sidney Beraldo para o TCE-SP, a composição do colegiado, um dos redutos do PMDB quercista, passa a ser majoritariamente ligada aos tucanos. Quatro dos sete conselheiros do órgão foram indicados pelas gestões de Mario Covas e Geraldo Alckmin.

In loco O governador cogita desistir da viagem a Paris, prevista para a semana que vem, em razão da crise na segurança. Secretários de seu núcleo político também foram orientados a cancelar agendas internacionais.

Antiácido Na conversa que teve com Lula ontem, em São Paulo, Dilma relatou os encontros com representantes de PMDB, PSB, PP e PSD. Concordaram que o saldo foi ótimo, mas que os próximos passos de Eduardo Campos (PSB) são uma incógnita.

No muro No jantar com o PP, a presidente obteve compromisso de apoio no Congresso, mas não ouviu juras sobre 2014. A sigla é comandada por Francisco Dornelles, que é tio de Aécio Neves, possível oponente da petista.

Dosimetria Em seu discurso de despedida, Carlos Ayres Britto destacou o apoio do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos a seu ingresso no STF. Um advogado do mensalão, na plateia, brincou com os colegas: "Agora sim, temos um culpado. Falta definir a pena".

Penetras Apesar da convivência quase diária há três meses, os advogados do caso não receberam convite para a posse de Joaquim Barbosa na presidência do Supremo, que será na semana que vem.

Data venia A possibilidade de que a renovação de concessões do setor elétrico vá parar na Justiça ganha força. Representantes de um escritório de advocacia que atua para a Cemig acompanharam in loco audiência pública ontem sobre a MP 579.

Visita à Folha José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, visitou ontem a Folha.

com FÁBIO ZAMBELI e BRENO COSTA

tiroteio
"Só quando seus amigos do PT estão prestes a ser presos o ministro percebeu que o sistema carcerário é ruim? E o que fará quanto a isso?"

DE ANDREA MATARAZZO (PSDB), vereador eleito, sobre José Eduardo Cardozo (Justiça) ter dito que preferia morrer a cumprir pena num presídio brasileiro.

contraponto


Controle de tráfego aéreo


Em almoço com José Anibal, secretário de Energia de São Paulo, e Marcus Pestana (PSDB-MG), Arnaldo Jardim (PPS-SP), demonstrou empolgação com a eventual candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB-PE).

Em seguida, durante sessão da comissão especial da MP do setor elétrico, Jardim se sentou ao lado do também presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG).

-Aécio, o Arnaldo está querendo viajar de São Paulo a Pernambuco sem passar por Minas -, disse Pestana.

- O problema é que esse voo pode ser desviado para Brasília e acabar no colo da Dilma -, respondeu Aécio.