sexta-feira, outubro 05, 2012
Por quem os sinos dobram - JOÃO MELLÃO NETO
O ESTADÃO - 05/10
Nuremberg, Alemanha, 1945. Na mesma cidade em que surgiu o nazismo e onde Adolf Hitler fazia seus gigantescos comícios, logo após o fim da 2.ª Guerra Mundial as nações vencedoras iniciaram o julgamento daqueles que, supostamente, eram os maiores criminosos do conflito. A guerra durara menos de seis anos, mas fora tempo suficiente para que cerca de 70 milhões de vidas fossem ceifadas.
O previsível, ao seu término, era que os principais inimigos capturados fossem passados pelas armas sem a menor contemplação. Mas houve quem alertasse: se executarmos sumariamente os vencidos, seríamos moralmente superiores em quê? Em termos de progresso da civilização, qual teria sido a nossa contribuição?
Imbuídos de tal espírito, os comandantes aliados decidiram que dariam àqueles homens uma oportunidade que eles, sistematicamente, haviam negado às suas vítimas: o direito a um julgamento seguindo o due process of law - o devido processo legal. Com imensa repercussão pela imprensa, foram então levados ao tribunal 22 réus, 12 dos quais acabaram condenados à pena máxima: a morte na forca. Esses 12 foram executados, em 16 de outubro de 1946, sem grande alarido. De acordo com os relatos existentes da época, não houve nenhuma concessão ao espetáculo: não mais que meia centena de testemunhas assistiu ao fato, sendo os condenados chamados, dois a dois, para ocuparem o cadafalso.
O julgamento de Nuremberg demandou centenas de advogados, tanto de defesa como de acusação, e durou mais de 280 dias. Mas o que os líderes das nações aliadas pretendiam foi conseguido.
Ninguém reclamou das sentenças nem se compadeceu dos condenados. Ao contrário, a opinião pública mundial ficou estarrecida ao tomar ciência das atrocidades cometidas pelos nazistas e seus comparsas. E a ideia de que a paz é sempre a melhor solução perdura até os dias de hoje.
É certo que o ex-presidente Lula não é Hitler, nem Brasília não é Nuremberg, tampouco os crimes aqui cometidos, no caso do mensalão, tiveram a gravidade dos nacional-socialistas. A única semelhança - e ela se tem mostrado fundamental - é a cobertura pública dos julgamentos.
Não poderia ser de outra forma. Se, com todos os escrúpulos que têm acompanhado as sentenças, já há réus por aí reclamando, alegando terem sido injustiçados e ameaçando recorrer à Organização dos Estados Americanos (OEA) - sem nenhuma base legal, diga-se de passagem -, imagine-se o que seria se tais sanções não estivessem solidamente fundamentadas nas leis.
Ao que parece, a "teoria da conspiração" é o passatempo predileto dessa gente. Quando está por cima, conspira para tentar aumentar os seus poderes. Quando está por baixo, atribui aos adversários a origem de todos os seus pesares.
A partir dessa ótica egocêntrica e paranoica, pode-se imaginar a sua histeria diante dos fatos atuais. Num site reconhecidamente vinculado ao PT, na semana passada podia-se ler a seguinte manchete: A imprensa golpista, mancomunada com os ministros do Supremo Tribunal Federal, está tentando desmoralizar o PT.
Como perguntar não ofende, vai aqui a minha dúvida: "imprensa golpista" compreende-se, porque, para a companheirada, todos os segmentos da imprensa são golpistas. Mas colocar no mesmo cesto os juízes do Supremo Tribunal Federal não seria forçar demais a barra? A maioria esmagadora dos ministros, convém lembrar, foi indicada pelo próprio PT. E, ao que se sabe, estão procurando fundamentar ao máximo as suas sentenças. Se a donzela não é bela, de que adianta culpar o espelho?
A torto e a direito, o machado inclemente vai cortando cabeças e cumprindo as suas obrigações. De ninguém se compadece, uma vez que todos os envolvidos puderam exercer o livre-arbítrio. E eu conheço boa parte deles. Fui deputado federal por dois mandatos e pude conviver com os principais. José Dirceu tomou posse junto comigo. Genoino já estava por lá. Da bancada de meu partido, o Partido Liberal, fulgurava a estrela de Valdemar Costa Neto.
E agora, reputações arruinadas, carreiras perdidas, resta a todos eles lamentar. Delúbio Soares, o "carequinha" Marcos Valério, a banqueira malvada Kátia Rabello... um triste destino espera cada um deles. Por que fizeram o que fizeram? Sabe-se lá. Uns, por vaidade; outros, por ambição. Todos queriam aproximar-se do poder. E o chefe supremo, aquele a quem queriam agradar, nada pode fazer agora. Ele é uma fera acuada. Quem sabe, não se tornará também uma presa de sua própria esperteza?
Há um ditado que nunca perde a serventia. É o que diz que daqueles que vendem a honra nunca vale a pena comprá-la.
Passei oito anos da minha vida em Brasília. Saí de lá com o mesmo patrimônio com que entrei. Talvez um pouco menos, porque não pude dedicar-me a ele.
Os monumentos nas praças homenageiam algum momento de bravura. Já a reputação de um homem de bem, por vezes, demanda uma vida inteira.
Não imaginem os leitores que boas e escusas oportunidades não passaram à minha frente. Mas não valiam a pena. Elas nunca valem a pena. Pois são como sereias que encantam os marinheiros para, depois, afogá-los nas profundezas do mar. Pobres daqueles que se deixam seduzir.
Ernest Hemingway - na minha opinião, o maior escritor da língua inglesa depois de Shakespeare - inspirou-se nisso para citar um verso de John Donne. Ao relembrar que, nos vilarejos da Espanha, sempre que morria alguém os sinos das igrejas davam uma badalada, ele reiterou: "Não perguntes por quem os sinos dobram. Eles sempre dobram por ti".
Aquecimento - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 05/10
Com José Dirceu e o núcleo político do PT a três votos da condenação e faltando votar uma série de ministros que têm seguido a posição do relator da Ação Penal 470, Joaquim Barbosa, o Partido dos Trabalhadores acredita que essa questão já foi. A hora é de olhar para frente e promover os reparos na imagem da legenda. Nesse sentido, as declarações da presidente Dilma Rousseff no palanque de quarta-feira, em Belo Horizonte, deixaram a muitos a sensação de que ela usou o último comício deste primeiro turno da eleição municipal para mostrar que começa a se preparar rumo a 2014. E se aquece para enfrentar o ex-governador de Minas Gerais e hoje senador Aécio Neves, do PSDB.
Essa sensação ficou especialmente entre aqueles que analisaram as declarações da presidente no palanque paulistano, na última segunda-feira, e aquelas ditas dois dias depois, em Belo Horizonte. Em São Paulo, Dilma se preocupou mais em destacar as qualidades do candidato Fernando Haddad e quase não atacou José Serra. Apenas disse que iria meter o bico em São Paulo.
Na capital de Minas Gerais, Dilma fez diferente. Ao lado de Patrus Ananias, ela passou a maior parte do tempo, apresentando-se como mineira. Disse, por exemplo, que saiu da cidade para lutar contra a ditadura militar, e não para ir à praia. (Ora, qualquer pessoa que more em Belo Horizonte, assim como em Brasília, precisa sair da cidade se quiser ir à praia). Nesse embalo, aproveitou para fazer críticas a Aécio Neves, ainda que não tenha citado o senador.
Enquanto isso, no PSDB…
Os tucanos mineiros não esperavam a agressividade de Dilma. Ontem, foram à forra. Numa carta aberta à presidente da República, o presidente estadual do partido, Marcus Pestana, elencou 13 itens em que Dilma teria colocado sua terra natal em segundo plano. Citou, entre outras coisas, a demora do marco regulatório da mineração e a transferência para a Bahia do polo de acrílico da Petrobras, no passado, previsto para Minas. Paralelamente, as inserções do prefeito e candidato à reeleição, Marcio Lacerda (PSB), apoiado por Aécio, exibiram os elogios de Dilma ao senador em outras oportunidades.
Os ataques de Dilma a Aécio e a resposta do PSDB indicam que, no plano federal, os votos de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país, estão em disputa desde já. Ali, Dilma tenta escapar da derrota de seu partido no primeiro turno. E hoje não dá para dizer que conseguirá, uma vez que as pesquisas apontam a decisão no primeiro turno e a vantagem nas pesquisas é do prefeito-candidato.
Por falar em vantagem…
Esses pontos a mais de Lacerda em Belo Horizonte têm incomodado muito o PT nas projeções que os petistas fazem para o futuro. O partido de Lula percebeu que, se o prefeito vencer no primeiro turno, Aécio, enquanto pré-candidato a presidente da República, terá a chance de começar a disputa com o segundo maior colégio eleitoral do país fechado com a sua candidatura. E, nesse sentido, se o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, não estiver ao lado de Dilma para, assim, tentar garantir a neutralidade de Lacerda numa campanha aecista, ficará difícil o PT emplacar Dilma ou mesmo Lula como favorito entre os mineiros.
Enquanto isso, em São Paulo, o maior colégio eleitoral, o recado desta temporada de eleições municipais é o de que ninguém mais canta de galo por ali. Ou seja, em 2014, todos terão condições de “pescar” votos entre os paulistanos, sem que ninguém tenha uma ampla vantagem sobre o adversário. E o Nordeste hoje, embora Lula ainda reine por lá, tem outros príncipes regentes em ascensão, entre eles, Eduardo Campos. No Sul do país, a situação do PT também não é confortável, embora Dilma tenha mais chances no Rio Grande do Sul do que os demais candidatos, porque faz política por lá. Por essas e outras contas, Minas Gerais ganhou importância maior nesse pleito para o PT. É para lá que os olhos de Dilma estarão voltados no domingo.
Condenação encaminhada - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 05/10
Tudo indica também que o ex-presidente do PT José Genoino terá o mesmo caminho, apesar do ministro revisor, que já o absolveu. Em vários momentos, o ministro Lewandowski foi contestado, sem que nenhum ministro aparecesse para apoiá-lo.
No afã de absolver também o ex-ministro José Dirceu, o revisor do processo do mensalão, Ricardo Lewandowski, fez uma confusão em seus papéis e leu o texto que havia preparado para abrir seu voto, quando ainda esperava que Dirceu fosse o primeiro réu a ser julgado. Com isso, ele falou como se o Supremo não tivesse já decidido que houve, sim, compra de votos e desvio de dinheiro público.
Como, nestes dois meses, vários réus já foram condenados por maioria do plenário por crimes de corrupção passiva e ativa, com o próprio Lewandowski tendo condenado alguns nos dois casos, ficou no ar uma contradição que foi registrada pelo ministro Gilmar Mendes.
"Vossa Excelência condena alguns deputados por corrupção passiva, entendendo que houve repasses de recursos para algum ato, provavelmente de apoio político. Também em seu voto condena Delúbio Soares como corruptor ativo. Não está havendo uma contradição?".
A defesa de Dirceu feita pelo revisor do processo foi até mesmo mais enfática em alguns momentos que a feita por seu advogado de defesa, e para isso ele não evitou nem mesmo criticar seus próprios colegas de Supremo, sugerindo mais uma vez que o julgamento está sendo feito à base de ilações e induções, sem que haja provas objetivas para condenar Dirceu.
Seu voto foi contestado diversas vezes por vários ministros, como quando Marco Aurélio Mello lembrou que o lobista Marcos Valério havia avalizado um dos empréstimos ao PT, o que provaria que sua relação com o então presidente do PT José Genoino não era tão eventual quanto fizera crer o político que Lewandowski absolveu.
O revisor chegou a negar esse fato, mas o presidente do STF, Ayres Britto, foi aos autos e encontrou o aval de Valério, desmontando uma das teses de Lewandowski.
Marco Aurélio Mello também estranhou que o revisor tivesse condenado apenas Delúbio Soares, absolvendo Genoino e Dirceu. Ironicamente, perguntou: "Vossa Excelência imagina que um tesoureiro de partido político teria essa autonomia?".
Ele também foi desautorizado nos debates jurídicos que propôs, pois colocou em discussão a teoria do domínio do fato, referindo-se a uma declaração de Claus Roxin, apontado como o formulador da teoria, que estaria preocupado com seu uso indiscriminado em julgamentos "banais", como Lewandowski classificou o processo do mensalão.
Não apenas Celso de Mello corrigiu as informações do revisor, mas lembrou que a tese do domínio do fato nasceu na verdade nos anos 30 do século passado e foi sendo aperfeiçoada com o tempo.
O presidente do STF havia lembrado que a tese é útil para analisar "aparatos organizados e governamentais", que englobam ações de grupos criminosos e também crimes políticos, como no caso. E criticou um comentário do revisor de que nas artes e nos meios jurídicos, as teses chegavam, ao Brasil com 50 anos de atraso.
Celso de Mello, o decano da Corte, também se definiu quando Lewandowski questionou o fato de haver apenas réus na Câmara, como se isso fosse sinal de uma falha da acusação: "Compra-se a Câmara, mas não se compra o Senado?", perguntou Lewandowski. Ao que Celso de Mello rebateu que provavelmente não havia provas de compra de votos no Senado, deixando no ar sua desconfiança de que o esquema do mensalão seja maior do que o que foi descoberto.
O revisor Lewandowski cometeu ainda um erro: todas as testemunhas a favor de Dirceu e Genoino que ele citou eram ou do PT ou ligadas aos partidos aliados envolvidos nas acusações, dando-lhes grande importância. Mas quando surgiam depoimentos contrários, ele tratava de desqualificá-los, principalmente com relação ao corréu Roberto Jefferson.
Mas o ministro Luiz Fux tratou de esclarecer a situação: o depoimento de Jefferson deveria ser levado em conta como tendo sido dado em juízo, pois ele confirmou perante um juiz todas as acusações que fizera na CPI e em entrevistas.
Ao pé do bispo - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 05/10
Pouco ou quase nada lhes resta além de anunciar recursos a cortes internacionais. Com isso, fornecem algum discurso político a seus clientes, mas na prática a ideia equivale mais ou menos a reclamar ao bispo.
Gente que entende do assunto explica que a Corte Internacional de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) - o foro escolhido para a anunciada reação - pode condenar os países associados quando há violação dos direitos humanos, entre os quais está o julgamento tido como injusto.
Nesse princípio se inclui o direito do réu a ser julgado por ao menos duas instâncias. É nisso que os acusados agora se apoiam.
Ocorre, porém, que a jurisprudência da OEA considera como exceção os casos em que o julgamento é feito em instância única pela mais alta corte do País. Justamente o que acontece no caso em exame no Supremo.
Esse ponto foi abordado no primeiro dia de julgamento, em 2 de agosto, quando Márcio Thomaz Bastos apresentou questão de ordem sobre o desdobramento da ação para outras instâncias.
Na ocasião, o decano do STF, Celso de Mello, explicou a jurisprudência da OEA. Esclareceu e deveria, com isso, ter encerrado o assunto no qual os advogados insistem inutilmente.
Número ímpar. A resolução dos casos de empates divide tão profundamente os ministros do Supremo, que há uma tendência a esperar pela posse de Teori Zavascki.
Isso se houver outros e mais importantes impasses além do resultado de 5 a 5 no julgamento de José Borba (ex-líder do PMDB na Câmara) por lavagem de dinheiro.
Esse caso, segundo avaliação corrente no STF, pode ser resolvido com a mudança do voto de algum ministro.
Há a impressão de que Dias Toffoli talvez "caminhe" da condenação para a absolvição.
A recomposição das 11 cadeiras e a participação de Zavascki seria a solução menos traumática em nome da paz na Corte.
Saneamento. O procurador-geral Roberto Gurgel certamente será criticado por ter considerado "salutar" a perspectiva de que o julgamento do mensalão venha a influir no resultado da eleição de domingo.
Será acusado de "parcialidade", por esperar apenas o óbvio: que o eleitor junte A com B e tome suas decisões levando em conta as questões que estão sendo debatidas no Supremo.
Não necessariamente para rejeitar candidatos apenas por serem ligados aos personagens em julgamento. Mas para fazer a escolha com mais rigor em relação à conduta daqueles que serão governantes no Executivo e seus representantes no Legislativo.
Há candidatos dos partidos envolvidos no processo que nada têm a ver com os crimes julgados no Supremo, assim como há outros ligados a legendas que não estão no processo, cujos comportamentos e vidas pregressas não valem um mandato.
Se escândalos anteriores tivessem influído em pleitos seguintes, haveria menos candidatos fichas-sujas e talvez o ambiente já estivesse bem melhor.
A eleição é o momento ideal para se discutir essas coisas.
Vacina. O ministro Ricardo Lewandowski não parou de repetir: "Vou julgar nos autos". Indelicado com seus pares que por suposto votariam fora deles.
O revisor pareceu aplicar um antídoto à hipótese de terminar isolado, marcando posição em prol da legalidade.
Ademais. O PT não estaria há dez anos no poder se no partido mandasse o tesoureiro.
Teles: missão cumprida - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 05/10
A universalização da telefonia foi atingida, mas falta que o mesmo ocorra com a internet
O IBGE divulgou em setembro os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) referente ao ano de 2011. Essa é uma base de dados confiável e, sem dúvida nenhuma, uma excelente fonte de consulta para quem acompanha a evolução da sociedade brasileira.
Nos números de 2011 chamam a atenção alguns detalhes sobre o grau de universalização dos serviços públicos à disposição dos brasileiros. De acordo com os critérios estabelecidos pelo IBGE, um determinado serviço público é considerado universal quando, pelo menos, 90% das pessoas têm acesso a ele.
Pois foi o que aconteceu com o serviço de telefonia em 2011, ano em que 90,6% dos domicílios no Brasil passaram a ter pelo menos um terminal, seja ele fixo ou celular. Para se ter uma ideia da importância dessa fronteira, o abastecimento de água chega a 85,7% das residências no país, e a rede coletora de esgotos, a apenas 55,8%.
Ao ver esses dados da Pnad, lembrei-me do ex-ministro das Comunicações Sergio Motta e do seu sonho de que, em algum momento do futuro, o Brasil chegaria à universalização do sistema de telefones.
Ele me confessou isso no já longínquo ano de 1995, quando, nomeado ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique, se debruçou sobre a questão das telecomunicações no Brasil.
Vivíamos então sob o monopólio da Telebrás, e a Pnad de então mostrava que apenas 22,4% das residências tinham um telefone.
Mas esse número muito baixo escondia uma realidade social ainda pior: segundo levantamento feito pela Telebrás, a pedido do então ministro das Comunicações, mais de 80% dessas residências pertenciam a brasileiros das classes superiores de renda econômica.
A explicação para esse fato era muito simples: a Telebrás vendia os telefones por um valor equivalente a cerca de R$ 3.000 e a prazo. Somente no fim do pagamento das últimas de 24 prestações era o aparelho instalado na casa do comprador do telefone.
A Telebrás usava esses recursos para financiar seus investimentos, pois o governo federal, seu acionista controlador, não tinha disponibilidade para capitalizar a empresa.
Já naquela época, o ministro entendeu que no mundo do futuro o telefone seria um instrumento de trabalho, e não mais apenas um veículo de comunicação pessoal.
A internet ainda estava na sua infância, mas o ministro já visualizava o que iria acontecer em poucos anos. Esse argumento -necessidade de garantir a universalização do acesso ao sistema de telefones- foi o principal motivo pelo qual ele propôs ao presidente da República a privatização do sistema de telefones no Brasil.
E chegar à universalização, como aconteceu agora segundo os dados da Pnad, tornou-se o grande objetivo a ser alcançado pelo governo.
Quando comparado com o mercado de telefonia que existia à época da privatização, o que temos hoje no Brasil parece outro mundo. A evolução tecnológica nesse setor foi fantástica nesta última década e a transformação do telefone em instrumento de trabalho foi muito mais radical do que previa Sergio Motta.
Hoje, o celular tradicional praticamente foi substituído por terminais de acesso à internet, que ampliaram de forma extraordinária seu escopo como instrumento de trabalho. Agora mesmo o Brasil se prepara para entrar na era da chamada tecnologia 4G para esses aparelhos, aumentando ainda mais as possibilidades de acesso à internet.
Aliás, o Brasil vai entrar nessa nova fronteira tecnológica quase um ano antes da poderosa Inglaterra, mostrando o quanto evoluímos desde 1995 nesse campo.
Nós, brasileiros, merecemos comemorar a universalização dos telefones no Brasil, mas não por muito tempo. Outro desafio se impõe hoje à sociedade e ao governo: a universalização do acesso à internet.
Apenas 37% das residências têm acesso a ela por cabo ou ondas de rádio. Embora a utilização de tablets e de outros tipos de terminal móvel torne menos crítica a falta da rede fixa de acesso, o preço ainda elevado desses aparelhos cria uma divisão de classes de renda que precisa ser superada.
A universalização da telefonia foi atingida, mas falta que o mesmo ocorra com a internet
O IBGE divulgou em setembro os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) referente ao ano de 2011. Essa é uma base de dados confiável e, sem dúvida nenhuma, uma excelente fonte de consulta para quem acompanha a evolução da sociedade brasileira.
Nos números de 2011 chamam a atenção alguns detalhes sobre o grau de universalização dos serviços públicos à disposição dos brasileiros. De acordo com os critérios estabelecidos pelo IBGE, um determinado serviço público é considerado universal quando, pelo menos, 90% das pessoas têm acesso a ele.
Pois foi o que aconteceu com o serviço de telefonia em 2011, ano em que 90,6% dos domicílios no Brasil passaram a ter pelo menos um terminal, seja ele fixo ou celular. Para se ter uma ideia da importância dessa fronteira, o abastecimento de água chega a 85,7% das residências no país, e a rede coletora de esgotos, a apenas 55,8%.
Ao ver esses dados da Pnad, lembrei-me do ex-ministro das Comunicações Sergio Motta e do seu sonho de que, em algum momento do futuro, o Brasil chegaria à universalização do sistema de telefones.
Ele me confessou isso no já longínquo ano de 1995, quando, nomeado ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique, se debruçou sobre a questão das telecomunicações no Brasil.
Vivíamos então sob o monopólio da Telebrás, e a Pnad de então mostrava que apenas 22,4% das residências tinham um telefone.
Mas esse número muito baixo escondia uma realidade social ainda pior: segundo levantamento feito pela Telebrás, a pedido do então ministro das Comunicações, mais de 80% dessas residências pertenciam a brasileiros das classes superiores de renda econômica.
A explicação para esse fato era muito simples: a Telebrás vendia os telefones por um valor equivalente a cerca de R$ 3.000 e a prazo. Somente no fim do pagamento das últimas de 24 prestações era o aparelho instalado na casa do comprador do telefone.
A Telebrás usava esses recursos para financiar seus investimentos, pois o governo federal, seu acionista controlador, não tinha disponibilidade para capitalizar a empresa.
Já naquela época, o ministro entendeu que no mundo do futuro o telefone seria um instrumento de trabalho, e não mais apenas um veículo de comunicação pessoal.
A internet ainda estava na sua infância, mas o ministro já visualizava o que iria acontecer em poucos anos. Esse argumento -necessidade de garantir a universalização do acesso ao sistema de telefones- foi o principal motivo pelo qual ele propôs ao presidente da República a privatização do sistema de telefones no Brasil.
E chegar à universalização, como aconteceu agora segundo os dados da Pnad, tornou-se o grande objetivo a ser alcançado pelo governo.
Quando comparado com o mercado de telefonia que existia à época da privatização, o que temos hoje no Brasil parece outro mundo. A evolução tecnológica nesse setor foi fantástica nesta última década e a transformação do telefone em instrumento de trabalho foi muito mais radical do que previa Sergio Motta.
Hoje, o celular tradicional praticamente foi substituído por terminais de acesso à internet, que ampliaram de forma extraordinária seu escopo como instrumento de trabalho. Agora mesmo o Brasil se prepara para entrar na era da chamada tecnologia 4G para esses aparelhos, aumentando ainda mais as possibilidades de acesso à internet.
Aliás, o Brasil vai entrar nessa nova fronteira tecnológica quase um ano antes da poderosa Inglaterra, mostrando o quanto evoluímos desde 1995 nesse campo.
Nós, brasileiros, merecemos comemorar a universalização dos telefones no Brasil, mas não por muito tempo. Outro desafio se impõe hoje à sociedade e ao governo: a universalização do acesso à internet.
Apenas 37% das residências têm acesso a ela por cabo ou ondas de rádio. Embora a utilização de tablets e de outros tipos de terminal móvel torne menos crítica a falta da rede fixa de acesso, o preço ainda elevado desses aparelhos cria uma divisão de classes de renda que precisa ser superada.
Dia de não esquecer - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/10
A lógica era cortante, mas a voz traía a emoção. A palavra "infelizmente" foi repetida. A ministra Rosa Weber votou de forma implacável, mas admitiu: "A maior tristeza da minha alma." Sua face pública estava exposta na dureza do voto; sua emoção, implícita nos gestos e voz. E assim ela condenou José Dirceu e José Genoíno por corrupção. "É como voto, senhor presidente."
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski defendeu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de forma mais eficiente que o próprio advogado do réu. O que atrapalhou o voto foram suas próprias palavras quando condenou outros réus ou quando escolheu argumentos que se chocavam com o que dissera minutos antes.
Rosa Weber e Luiz Fux acompanharam o voto do relator Joaquim Barbosa, que condenou oito dos réus neste capítulo. O ministro Fux disse que juntou no voto 14 "elementos probatórios" contra José Dirceu. Lewandowski rebateu um deles. O da reunião no hotel Ouro Minas entre o então ministro Dirceu e a presidente do Banco Rural Kátia Rabello.
Fux disse que Kátia admitiu em juízo que eles conversaram sobre o Banco Mercantil de Pernambuco. Lewandowski discordou. Disse que Kátia disse em juízo que a mulher de Marcos Valério, Renilda, não dissera a verdade quando contou na CPI que na reunião se falou dos empréstimos ao PT.
Na verdade, o empréstimo era uma coisa; o Banco Mercantil era outra. Pior. Os empréstimos foram estranhos, mas o outro caso era ainda mais indevido. Por 17 vezes o publicitário Marcos Valério foi ao Banco Central pressionar por uma solução que daria aos donos do banco muito mais lucro do que o valor do crédito.
Enquanto Kátia Rabello se reunia com José Dirceu, os donos do Banco Mercantil de Pernambuco processavam o Banco Central. O Rural tinha 22% do banco em liquidação desde o Proer. O que queriam era mudar o fator de correção da dívida. Isso faria um banco quebrado virar um bom ativo.
Lewandowski condenou Marcos Valério e Delúbio Soares e vários outros. Disse que comungava com o voto do relator ao definir "o modus operandi do núcleo publicitário", lembrou que "para a caracterização do crime basta estar na esfera de atribuição do funcionário público". Admitiu até que "a prova da entrega da vantagem indevida ficou evidenciada".
Para ele, o tesoureiro do partido e o publicitário cometeram crimes e distribuíram vantagem indevida. Mas José Genoíno nada soube porque era apenas o articulador político, e José Dirceu já havia "abandonado as lides partidárias". Lewandowski acha que as acusações feitas por Roberto Jefferson devem ser desprezadas porque ele é "inimigo figadal" de José Dirceu. Mas todos os depoimentos dos amigos foram aceitos ao pé da letra.
O ministro argumentou que "nós juízes temos que julgar de acordo com o que está aqui nos autos". E depois usou como argumentos entrevistas concedidas aos jornais. Lewandowski disse que a defesa demonstrou de forma torrencial que "Delúbio jamais agiu sob as ordens de José Dirceu". Segundo ele, o chefe da Casa Civil sequer negociou a aprovação das reformas políticas, mesmo sendo o ministro político. Tudo do que se acusa Dirceu seria, na opinião do revisor, "meras ilações".
Coube a Rosa Weber afirmar que aquela interpretação dos fatos era "implausível, com todo o respeito". Segundo ela, as provas mostram acima de qualquer dúvida razoável que "houve conluio para a compra de votos" e que foi "decidida pelo núcleo político e executada pelo núcleo operacional". Lamentou de novo o voto que daria, mas explicou que precisava "pôr a cabeça no travesseiro".
O desabafo do revisor - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 05/10
Aparteado por quatro colegas enquanto votava pela absolvição de José Dirceu e José Genoino, o revisor do mensalão, Ricardo Lewandowski, disse ontem à coluna, após a sessão, que não se sente constrangido com os questionamentos. "Votei de acordo com minha consciência e com meu compromisso com a Constituição, não tenho por que estar constrangido." Ele também não teme ser vencido: "Enunciei meu voto com base em preceitos legais, doutrinários e jurisprudenciais."
Data venia Ministros se mostravam irritados com a falta de "consistência argumentativa'' do voto de Lewandowski. Um deles disse que estava disposto a acatar provas da inocência de Genoino, mas que o caminho seguido pelo revisor, de validar os empréstimos para o PT, inviabilizou a absolvição do petista.
8 x 2 O ministro José Dias Toffoli deverá considerar perícias que atestariam a legalidade dos empréstimos do Banco Rural ao PT para absolver Genoino. Na análise do capítulo bancário do julgamento, o ministro não reconheceu os empréstimos ao partido como fictícios.
Bola cantada O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) vai questionar no STF a constitucionalidade da reforma da Previdência, com base na decisão do STF que reconheceu que houve compra de votos da base para sua aprovação.
Sintonia No intervalo da sessão, Rosa Weber e Luiz Fux passaram quase o tempo todo conversando. Integrantes da corte relatam que o mensalão aproximou a dupla, e que Fux segue sempre na íntegra o voto da colega, citando-a em várias ocasiões.
Luz de velas Reunido com o comitê de monitoramento do setor elétrico para buscar explicações sobre o apagão, o ministro Edison Lobão foi informado de que a sede do Ministério das Minas e Energia ficou sem energia no início da tarde de ontem.
Inimigo... Adversários históricos, PT e PSDB protocolaram representação conjunta no TRE de Pernambuco pedindo a presença da Força Nacional no dia da eleição em Recife. Alegam risco de corrupção e abuso de poder político e econômico.
... comum O alvo da inusitada aliança é o governador Eduardo Campos, padrinho do líder na disputa, Geraldo Júlio (PSB), que pode vencer no primeiro turno ou enfrentar o tucano Daniel Coelho.
Carinho A ordem no QG de Fernando Haddad é tratar com "extremo cuidado" Gabriel Chalita, com quem o petista tem pacto para o segundo turno. Foi para não melindrar o PMDB que Dilma Rousseff fez discurso contido em São Paulo, bem diferente do tom de Belo Horizonte.
Divã Dirigentes do PT reconhecem que retardaram demais os ataques a Celso Russomanno. "Se tivéssemos reagido antes à perda de espaço na área vermelha estaríamos em situação mais confortável", diz um haddadista.
É guerra Russomanno distribuirá até domingo dois milhões de panfletos com o slogan "Serra Nunca Mais". O material é uma resposta ao jornal tucano que compara o candidato do PRB a Fernando Collor e Celso Pitta.
Na cola Além do horário de almoço hoje, Geraldo Alckmin reservou o sábado para caminhadas nos períodos da manhã e da tarde ao lado de José Serra. O governador também acompanhará o candidato na seção de votação.
Blitz A pedido da coligação de Serra, a Justiça determinou a apreensão de exemplares de jornal do Sindicato dos Bancários a favor de Haddad. A lei veda o uso de entidade sindical em campanha.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Espero que agora, finalmente, a presidente tenha compreendido a diferença entre apagão e racionamento de energia."
DO LÍDER DO PSDB NA CÂMARA, BRUNO ARAÚJO (PE), sobre os blecautes que afetaram as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste nos últimos dois dias.
contraponto
Padrão SUS
Internado para implantação de ponte de safena no Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) descia pelo elevador para a sala de radiografias. A ascensorista o reconheceu e disse:
-Estou muito feliz de ver o senhor aqui!
Surpreso, o parlamentar comentou:
- Alguém que goste de mim ficaria feliz em me ver nestas condições?
Percebendo o mal-estar, a funcionária completou:
-É que político só procura hospital particular ou corre pra São Paulo. Nós aqui também damos conta do recado!
Polarização mantida - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 05/10
Recurso à OEA e descrédito
O ex-presidente Lula chegou a se animar com a ideia do advogado e ex-ministro Márcio Thomaz Bastos de insuflar o PT a recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos para tentar reverter as eventuais condenações de José Dirceu e José Genoino. Mas essa iniciativa perdeu força diante da péssima repercussão do anúncio feito pelo deputado Valdemar Costa Neto (PR) de que seguiria essa estratégia. O episódio lembra a CPI dos Anões do Orçamento (1993). O ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro pretendia alegar que o dinheiro na sua conta era sobra de campanha, mas desistiu depois que o ex-líder do PMDB Genebaldo Correa usou o mesmo em sua defesa.
“É inimaginável entender que esses acordos (da direção petista com os dirigentes dos partidos aliados) eram só políticos”
Luiz Fux Ministro do STF
Redescobrindo o passado
A coordenadora do grupo da Comissão da Verdade que investiga a Operação Condor, Rosa Cardoso, obteve novas informações do presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (RS), Jair Krichke, maior especialista no assunto.
Missão espinhosa
O vice Michel Temer entrou em campo em Salvador. Quer evitar que o vice da CEF, Geddel Vieira Lima, dê apoio a ACM Neto (DEM) no segundo turno. Temer prefere que ele apoie Nelson Pelegrino (PT) ou fique fora da disputa. A cúpula do PMDB avalia que Geddel já errou duas vezes: quando desafiou o PT no governo da Bahia e agora em Salvador.
Marcação de cima
A presidente Dilma ficou muito irada com o apagão parcial de energia. O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) está na marca do pênalti. Ontem pela manhã, e na noite anterior, ele recebeu várias ligações da presidente Dilma.
Memória seletiva
Integrante da base do governo Dilma, o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, candidato a prefeito de Goiânia, adotou a tática da oposição. Na propaganda na TV referiu-se à "turma do mensalão". E dê-lhe falação sobre os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Mas nenhuma palavra sobre outro condenado, o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson.
Um estranho no ninho
A presença do senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), que era suplente de Marta Suplicy, na campanha tucana em São Paulo é muito elogiada pela equipe de José Serra. Ele é muito popular na periferia e virou presença obrigatória na comitiva.
Quem tem culpa tem medo
Condenado pelo STF, o réu confesso deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) registra que apresentou emenda na reforma da Previdência, a pedido da Associação dos Magistrados do Brasil. Ele quer evitar se indispor com ministros do STF.
O PSOL pode eleger seu primeiro prefeito de capital. Apoiado pelo senador Randolfe Rodrigues, Clécio Luis está atropelando na reta final em Macapá.
O aliado - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/10
BRASÍLIA - Se o relator Joaquim Barbosa se investiu da condição de adversário, o revisor Ricardo Lewandowski assumiu destemidamente a de aliado do PT e de Lula, amigo da sua família e autor de sua nomeação para o Supremo. Sua postura, seu "timing" e seu tom compõem a alma dos seus votos.
A primeira questão que seus pares levantam é de coerência. Se Lewandowski condenou Delúbio Soares e Marcos Valério por corrupção ativa e tantos outros por corrupção passiva, como nega que tenha havido o mensalão, a compra de votos, que a maioria do tribunal admitiu? Então, o que Delúbio e Valério compraram? E o que os demais venderam?
Outra questão é o que os ministros vêm chamando de "jogo de compensação". Lewandowski condena o tarefeiro Delúbio e absolve José Dirceu, o "mandante", segundo a Procuradoria-Geral e o relator. Assim como condenou o mequetrefe exótico Henrique Pizzolato, do Banco do Brasil, para absolver, ops!, e absolveu João Paulo Cunha, deputado federal e ex-presidente da Câmara. Talvez fosse mais coerente e mais corajoso absolver todos eles, já que se diz convencido de que o mensalão não existiu...
Na sessão de ontem, Lewandowski parecia uma ilha, sob questionamento de Gilmar Mendes, de Marco Aurélio Mello, do decano Celso de Mello e até do sempre suave presidente Ayres Britto. E o primeiro voto, de Rosa Weber, corroborou o do relator, discordando do revisor.
Chama a atenção ainda a decisão do revisor de começar o voto do núcleo político já na quarta-feira, como que para amenizar o impacto da condenação de Delúbio, Genoino e Dirceu por Joaquim. E deixou a absolvição de Dirceu para ontem. Uma manchete para a condenação, outra para a absolvição no dia seguinte?
Como detalhe: o forçado (marqueteiro?) elogio ao assessor negro que distribuiu seu voto aos ministros, um a um. Contraponto ao carismático relator e à sua fúria condenatória?
BRASÍLIA - Se o relator Joaquim Barbosa se investiu da condição de adversário, o revisor Ricardo Lewandowski assumiu destemidamente a de aliado do PT e de Lula, amigo da sua família e autor de sua nomeação para o Supremo. Sua postura, seu "timing" e seu tom compõem a alma dos seus votos.
A primeira questão que seus pares levantam é de coerência. Se Lewandowski condenou Delúbio Soares e Marcos Valério por corrupção ativa e tantos outros por corrupção passiva, como nega que tenha havido o mensalão, a compra de votos, que a maioria do tribunal admitiu? Então, o que Delúbio e Valério compraram? E o que os demais venderam?
Outra questão é o que os ministros vêm chamando de "jogo de compensação". Lewandowski condena o tarefeiro Delúbio e absolve José Dirceu, o "mandante", segundo a Procuradoria-Geral e o relator. Assim como condenou o mequetrefe exótico Henrique Pizzolato, do Banco do Brasil, para absolver, ops!, e absolveu João Paulo Cunha, deputado federal e ex-presidente da Câmara. Talvez fosse mais coerente e mais corajoso absolver todos eles, já que se diz convencido de que o mensalão não existiu...
Na sessão de ontem, Lewandowski parecia uma ilha, sob questionamento de Gilmar Mendes, de Marco Aurélio Mello, do decano Celso de Mello e até do sempre suave presidente Ayres Britto. E o primeiro voto, de Rosa Weber, corroborou o do relator, discordando do revisor.
Chama a atenção ainda a decisão do revisor de começar o voto do núcleo político já na quarta-feira, como que para amenizar o impacto da condenação de Delúbio, Genoino e Dirceu por Joaquim. E deixou a absolvição de Dirceu para ontem. Uma manchete para a condenação, outra para a absolvição no dia seguinte?
Como detalhe: o forçado (marqueteiro?) elogio ao assessor negro que distribuiu seu voto aos ministros, um a um. Contraponto ao carismático relator e à sua fúria condenatória?
Apagón! Foi chapinha do Neymar! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/10
E como disse um amigo meu: "Se fosse jogo do Corinthians eles puxavam um gato do vizinho!"
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Brasil x AAAARGHentina! Cancelado! Piada Pronta: apagão na cidade de Resistencia! Queimou a Resistência! Apagón na Terra do Gardelón!
Foi o Neymar! Foi o Neymar que esqueceu o secador e a chapinha ligados no vestiário! Ou então alguém esqueceu o vibrador ligado no quarto do hotel! E foi o melhor jogo da selecinha até agora! Consolidando a era Mano Menezes! Rarará!
Já tão dizendo que a luz do estádio caiu antes do Neymar. E a manchete do site Comentando: "Joaquim Barbosa culpa Dirceu pelo apagão na Argentina". E é verdade!
Supermico das Américas. E como disse um amigo meu: "Se fosse jogo do Corinthians eles puxavam um gato do vizinho!". Isso!
E por que não iluminaram o estádio com a gravata amarela do Cléber Machado? Pior: botaram um argentino cantando o hino nacional brasileiro. Em represália, no próximo jogo a gente bota a Vanusa cantando o hino argentino.
E ouvir um argentino cantando "pátria amada Brasil" não tem preço! E o hino argentino é tão bonito quanto o Tevez! Rarará!
E aí o Ronaldo Fenômeno entrou no Twitter e escreveu: "Enquanto o jogo não começa, esse argentino podia dar mais uma canja". E o povo: CANJA? Só pensa em comida! Tá no "Medida Certa" e fala em sopa!
E aí a Globo trocou a pelada na Argentina pelas peladas de "Gabriela"! E o Cléber Machado e o Casagrande ficaram jogando baralho no escuro! E foi uma sucessão de micos. Olha este: "Seleção enfrenta turbulência no voo pra Argentina". Melhor comentário: era o Neymar treinando cai-cai no corredor do avião! Rarará!
Supermico das Américas: turbulência, apagão e hino nacional em portunhol! E eu vou entrar em coma induzido até o fim das eleições!
Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Ereções 2012! A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Tô indeciso! Não sei se voto no Linguiça do Circo ou na Sonia Perereca! Não sei se vou de linguiça ou de perereca!
Tô indeciso! Não sei se voto no Wilson do Saco Torto! Ninguém é perfeito! E pela foto, não é só o saco que é torto! Já sei, vou votar na Maria Espingarda. E sair atirando pra tudo que é lado! A situação tá ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E como disse um amigo meu: "Se fosse jogo do Corinthians eles puxavam um gato do vizinho!"
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Brasil x AAAARGHentina! Cancelado! Piada Pronta: apagão na cidade de Resistencia! Queimou a Resistência! Apagón na Terra do Gardelón!
Foi o Neymar! Foi o Neymar que esqueceu o secador e a chapinha ligados no vestiário! Ou então alguém esqueceu o vibrador ligado no quarto do hotel! E foi o melhor jogo da selecinha até agora! Consolidando a era Mano Menezes! Rarará!
Já tão dizendo que a luz do estádio caiu antes do Neymar. E a manchete do site Comentando: "Joaquim Barbosa culpa Dirceu pelo apagão na Argentina". E é verdade!
Supermico das Américas. E como disse um amigo meu: "Se fosse jogo do Corinthians eles puxavam um gato do vizinho!". Isso!
E por que não iluminaram o estádio com a gravata amarela do Cléber Machado? Pior: botaram um argentino cantando o hino nacional brasileiro. Em represália, no próximo jogo a gente bota a Vanusa cantando o hino argentino.
E ouvir um argentino cantando "pátria amada Brasil" não tem preço! E o hino argentino é tão bonito quanto o Tevez! Rarará!
E aí o Ronaldo Fenômeno entrou no Twitter e escreveu: "Enquanto o jogo não começa, esse argentino podia dar mais uma canja". E o povo: CANJA? Só pensa em comida! Tá no "Medida Certa" e fala em sopa!
E aí a Globo trocou a pelada na Argentina pelas peladas de "Gabriela"! E o Cléber Machado e o Casagrande ficaram jogando baralho no escuro! E foi uma sucessão de micos. Olha este: "Seleção enfrenta turbulência no voo pra Argentina". Melhor comentário: era o Neymar treinando cai-cai no corredor do avião! Rarará!
Supermico das Américas: turbulência, apagão e hino nacional em portunhol! E eu vou entrar em coma induzido até o fim das eleições!
Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Ereções 2012! A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Tô indeciso! Não sei se voto no Linguiça do Circo ou na Sonia Perereca! Não sei se vou de linguiça ou de perereca!
Tô indeciso! Não sei se voto no Wilson do Saco Torto! Ninguém é perfeito! E pela foto, não é só o saco que é torto! Já sei, vou votar na Maria Espingarda. E sair atirando pra tudo que é lado! A situação tá ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O plano perfeito - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 05/10
E se Roberto Jefferson não tivesse denunciado o mensalão, como estaria o Brasil hoje?
Pelo que o julgamento do Supremo Tribunal Federal está provando, o PT teria a maior e mais fiel base de apoio do Ocidente, maior até do que a velha Arena da ditadura, presidida por Sarney. Além dos cargos e boquinhas de sempre, os partidos aliados teriam suas despesas de campanha bancadas pelo PT. Assim, tanto nas votações no Congresso como nas eleições, não seria uma coalizão, mas um rolo compressor. A democracia perfeita de Lula e Dirceu.
Seria preciso apenas encontrar novas fontes de financiamento da operação, além dos empréstimos de araque de Marcos Valério no Banco Rural e no BMG e do desvio de dinheiro do Visanet, que não seriam suficientes para pagar as dívidas e as campanhas do PT, e as despesas crescentes com a voracidade da base aliada, que quanto mais come mais fome tem.
De onde sairia o dinheiro? Militantes do partido em postos-chave na administração pública facilitariam concorrências e superfaturariam campanhas publicitárias e eventos produzidos pelas agencias de Marcos Valério, que ficaria com uma parte do butim. Depois era só lavar o dinheiro na Bonus Banval e distribuí-lo aos aliados para garantir a governabilidade sem fazer concessões politicas e a aprovação de seus projetos que - eles tinham certeza - eram os melhores para o povo brasileiro.
Como Lula e Dirceu sabiam melhor que ninguém, pelo menos 300 picaretas estavam à venda no Congresso. Então, por que não comprá-los para servir ao governo do primeiro operário a chegar à Presidência, para atualizar e fazer as "reformas de base" que derrubaram Jango e Brizola em 1964? Era uma causa nobre, um velho sonho, um plano perfeito. Ou quase.
Mais do que um inútil exercício de retrofuturologia, imaginar as consequências funestas da continuidade do mensalão - que não ia parar ali, cresceria e envenenaria o Congresso, as campanhas eleitorais, a democracia e o Estado - serve para dar um suspiro de alívio e agradecer ao procurador-geral e aos ministros do Supremo Tribunal Federal. E ao gesto tresloucado de Roberto Jefferson.
Modernizar as carroças - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/10
De tempos em tempos, o governo federal - não importa quem esteja no comando - adota um pacote de estímulos à inovação e ao conteúdo local da indústria automobilística.
O programa Inovar Auto, anunciado ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, pretende ser o novo marco do regime automotivo nacional. Simplificadamente, o governo impôs aumento de 30% no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para todos os veículos novos vendidos no País (inclusive os importados). Terão direito a descontos desse tributo sempre que atingirem metas de redução de consumo e de inovação.
Tomara que, desta vez, atinja seus objetivos e seja bem mais do que um esquema disfarçado de proteção ao setor - como tantos outros.
O programa reconhece implicitamente a existência do atraso. Não fosse isso, não precisaria incentivar a inovação e os avanços tecnológicos em eficiência e em segurança. Ou seja, a conversa começa com o entendimento de que a indústria automobilística brasileira segue sendo a mesma produtora de carroças denunciada em 1990 pelo então presidente Collor.
O setor não é só atrasado. É também fabricante de um produto caro demais, incapaz de competir no exterior. Apenas não é deslocado pelo produto importado no mercado interno graças à enorme proteção de que aqui desfruta e que, agora, deverá ser aumentada.
Seria ótimo se um programa de inovação desse porte pudesse ser inteiramente levado a sério. No DNA das montadoras instaladas no País, não há cromossomos responsáveis pelo desenvolvimento de tecnologia. A contrário do que acontece na China, na Coreia e na Índia, não existe carro projetado e desenvolvido aqui. O último foi o Gurgel, que, ainda assim, levava mecânica Volkswagen. Deixou de ser produzido em 1995, na unidade de Rio Claro.
Peça por peça, automóvel montado por aqui já vem pronto de fora. A indústria de autopeças e as próprias montadoras se limitam a adotar tecnologias, em geral, ultrapassadas. Os carros importados são mais modernos e mais baratos. Seria um portento ver o Uno Mille e a Kombi ganharem airbags, freios ABS e dispositivos antiderrapantes que atendam às novas exigências de segurança.
O novo regime automotivo é, ainda, repositório de boas intenções quanto ao conteúdo local. Essas novas exigências parecem desconsiderar que a indústria de veículos opera internacionalmente. Os carros são globais e, para garantir mercado, têm cada vez mais de contar com fornecimentos de peças e conjuntos de onde os custos forem mais baixos. Se quiserem ser exportadoras, as montadoras nacionais terão de adotar essa filosofia, não se aferrar a conteúdos locais.
E, caso seja para levar esse princípio às últimas consequências, não ficou claro quanto do valor de um veículo entrará na conta do que vai ser considerado produção nacional. Até agora, as montadoras vinham entendendo que despesas com propaganda e marketing e gratificação da diretoria podiam ser caracterizadas como de conteúdo local. Esse critério permanecerá válido? E será preciso ver quem é que, depois, desmontará um veículo, examinará uma peça e seus componentes e certificará que se trata de um produto made in Brazil ou do Mercosul.
Nada neste programa garante redução de custos ou barateamento dos veículos. É necessário ver o que funcionará na prática. Mais uma vez, tomara que dê certo.
Os fatos, as provas e os líderes - OSCAR VILHENA VIEIRA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/10
Pode haver uma organização criminosa acéfala? Esta é a questão sobre a qual o STF se debruçou nesta semana. Ao iniciar o julgamento do denominado núcleo político, Joaquim Barbosa fez uma longa descrição de fatos e situações, com o objetivo de demonstrar que seria implausível que José Dirceu e José Genoino não liderassem o esquema de corrupção operado por Marcus Valério e Delúbio Soares.
O ministro Lewandowski, embora admitindo a existência do complexo esquema criminoso e condenando seus principais operadores, buscou demonstrar que os fatos e circunstâncias expostos pelo relator não constituiriam mais do que indícios. Portanto, seriam insuficientes para caracterizar conduta criminosa por parte de Genoino e Dirceu. Neste sentido, pretendeu convencer que o esquema era liderado por Delúbio.
Para Rosa Weber esta tese se demonstrou inverossímil. No que se refere às provas, afirmou que presunções, sinais, indícios, quando concorrem com fatos e circunstâncias, podem servir para fundamentar a convicção do magistrado. Por outro lado, deixou claro que um esquema com alto grau de complexidade, que envolveu desvio de dinheiro público, emprego de recursos clandestinos e ampla coordenação de lideranças partidárias para a construção da base de apoio do governo, não poderia ter ocorrido sem a concorrência e a liderança de Genoino e Dirceu.
Com a confirmação desta perspectiva, a prática de crimes complexos, onde o véu corporativo ou as longas cadeias hierárquicas dificultam a apuração das responsabilidades dos verdadeiros mandantes, passará a enfrentar dias mais difíceis no Brasil. Ao prevalecer a decisão que hoje começa a se avolumar, o STF passa a caminhar numa linha muito tênue entre aplicar a lei e garantir direitos.
A perspectiva de condenação de tantas personagens poderosas da política tem causado enorme perplexidade. No país da cordialidade, a severidade dos julgamentos e a falta de compadrio têm sido motivo de surpresa. A decisão do STF, qualquer que seja seu desfecho, tem o potencial de servir como mecanismo desestabilizador de práticas incompatíveis com os princípios republicanos que necessariamente devem reger uma sociedade democrática.
Pode haver uma organização criminosa acéfala? Esta é a questão sobre a qual o STF se debruçou nesta semana. Ao iniciar o julgamento do denominado núcleo político, Joaquim Barbosa fez uma longa descrição de fatos e situações, com o objetivo de demonstrar que seria implausível que José Dirceu e José Genoino não liderassem o esquema de corrupção operado por Marcus Valério e Delúbio Soares.
O ministro Lewandowski, embora admitindo a existência do complexo esquema criminoso e condenando seus principais operadores, buscou demonstrar que os fatos e circunstâncias expostos pelo relator não constituiriam mais do que indícios. Portanto, seriam insuficientes para caracterizar conduta criminosa por parte de Genoino e Dirceu. Neste sentido, pretendeu convencer que o esquema era liderado por Delúbio.
Para Rosa Weber esta tese se demonstrou inverossímil. No que se refere às provas, afirmou que presunções, sinais, indícios, quando concorrem com fatos e circunstâncias, podem servir para fundamentar a convicção do magistrado. Por outro lado, deixou claro que um esquema com alto grau de complexidade, que envolveu desvio de dinheiro público, emprego de recursos clandestinos e ampla coordenação de lideranças partidárias para a construção da base de apoio do governo, não poderia ter ocorrido sem a concorrência e a liderança de Genoino e Dirceu.
Com a confirmação desta perspectiva, a prática de crimes complexos, onde o véu corporativo ou as longas cadeias hierárquicas dificultam a apuração das responsabilidades dos verdadeiros mandantes, passará a enfrentar dias mais difíceis no Brasil. Ao prevalecer a decisão que hoje começa a se avolumar, o STF passa a caminhar numa linha muito tênue entre aplicar a lei e garantir direitos.
A perspectiva de condenação de tantas personagens poderosas da política tem causado enorme perplexidade. No país da cordialidade, a severidade dos julgamentos e a falta de compadrio têm sido motivo de surpresa. A decisão do STF, qualquer que seja seu desfecho, tem o potencial de servir como mecanismo desestabilizador de práticas incompatíveis com os princípios republicanos que necessariamente devem reger uma sociedade democrática.
São Paulo não é uma ilha - MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 05/10
Principal colégio eleitoral, maior orçamento municipal, capital financeira e berço dos dois principais polos da política nacional, é natural que São Paulo seja o centro das atenções nesta campanha.
O foco restrito à cidade, no entanto, não explica o que está em jogo na disputa pelas outras 5.567 prefeituras. Desavisados do que se passa no entorno, os paulistanos nunca entenderão o resultado de suas próprias urnas.
O azarão da disputa, Celso Russomanno, tem sido associado ao obscurantismo. Como o eleitor nada sabe, se deixa manipular por um enganador.
Voto indicará projeto coletivo ou individual de mudança?
Mas não é a fé pentecostal que explica a ignorância, mas a falta de informação. Bastou alguém explicar ao eleitor que Russomanno propõe-se a cobrar tarifa de ônibus mais cara de quem mora mais longe que o candidato começou a desidratar.
Para entender se a perda de votos será suficiente para tirá-lo do primeiro turno, uma olhada no entorno mostra que não se trata de fenômeno paulistano.
No pano de fundo da campanha, o discurso que criminaliza a política vai de Edir Macedo à alta magistratura. Ao esquema petista escancarado no banco dos réus, soma-se o mensalão do PCC, restrito às páginas da 'Folha de S.Paulo' e ao cotidiano da periferia da capital.
Os exemplos mais eloquentes de que a São Paulo de Russomanno não é uma ilha são os favoritos em Curitiba e Campo Grande. Ratinho Jr. quebrou uma polarização de duas décadas da política paranaense, entre Jaime Lerner e Roberto Requião.
Fez carreira numa família de comunicadores e, assim como seu congênere paulistano, também exerceu vários mandatos parlamentares antes de se aventurar na disputa majoritária na capital.
Nada de braçada entre os evangélicos, promete câmeras de vigilância nas ruas e creches à noite para que os pais que trabalham de dia possam estudar. Não quer que sua mulher exerça função na prefeitura para cuidar dos três filhos. Vende-se como novidade.
Em Campo Grande, o candidato que chegou para quebrar a polarização entre PT e PMDB, veio do mesmo PP por onde passou Russomanno e disse ao repórter Guilherme Soares Dias (Valor, 28/09/2012) que ambos compartilham visão de mundo: "Somos dois radialistas que entramos na política por uma questão de justiça".
Não poderia haver candidato mais antenado com a eleição do mensalão. Enquanto o Judiciário faz política, os políticos prometem fazer justiça. O justiceiro de Campo Grande virou notícia mundial por ter provocado a detenção do diretor do Google que não retirou do ar vídeos que considerou ofensivos a sua honra.
Os comunicadores da hora tiveram em Micarla de Souza, prefeita de Natal, uma precursora. Apresentadora de TV e herdeira de um grupo de comunicação, Micarla ganhou a eleição em 2008 pelo PV contra as máquinas federal, estadual e municipal. Prometeu renovar a política no Estado que tem a política mais oligarquizada do país, mas loteou o governo de gente de televisão sem conhecimento da máquina pública e chegou ao final do mandato com a maior rejeição entre os prefeitos de capital.
Mas esta campanha não é feita apenas de comunicadores desvinculados de máquinas partidárias. Rio, BH e Porto Alegre dão folgadas dianteiras a prefeitos candidatos à reeleição bem avaliados, ainda que a oposição dê sinais de vida, alguns eloquentes, em suas capitais.
É a avaliação que se faz das atuais administrações que continua a ser o principal balizador do voto. Em alguns lugares, como em São Paulo, a rejeição ao prefeito é tamanha que o discurso do novo alimentou um candidato como Russomanno. Mas em outras cidades foram as máquinas partidárias bem azeitadas que capitalizaram essa rejeição.
No Recife, o favorito é candidato do popularíssimo governador, mas até Eduardo Campos chega à reta final da campanha acossado pelo discurso do novo. Na capital que deu mais de 30% dos votos a Marina em 2010 e onde o PT cavou sua própria cova numa escolha atabalhoada de candidato a sucessão, é um tucano que usa chinelo de dedo e militou no PV a única ameaça a uma vitória no primeiro turno de Geraldo Julio (PSB).
O discurso do novo caiu no colo da direita. Basta ver de onde vêm Russomanno (PRB), Bernal (PP) e Ratinho (PSC). Onde a esquerda, em sua versão mais radical, tem chances de ganhar não é um candidato novo que se apresenta mas um ex-prefeito. É o caso de Belém, onde o PSOL deve fazer de um ex-petista o primeiro prefeito de sua história.
Edmilson Rodrigues confronta a noção de que é a promessa de satisfação imediata que dá as cartas em todo o território nacional. Minoritário em sua aliança, o candidato do PSOL promete radicalizar o orçamento participativo levando a população da periferia a lotar a Câmara Municipal em votações importantes.
Esta disputa ruma para uma taxa de reeleição mais baixa do que a de 2008. Naquele ano, a crise mundial ainda estava fora das milhas territoriais do país. Os atuais prefeitos conviveram com taxas mais baixas de crescimento da economia que afetaram seus investimentos.
Esta é a primeira eleição municipal depois de década de mudanças na metade inferior da pirâmide social. Nas famílias chefiadas por analfabetos a renda cresceu 88% e naquelas encabeçadas por quem tem mais de 12 anos de estudo caiu 11%. A renda de pretos e pardos aumentou 66% e 85%, respectivamente, enquanto a dos brancos, cresceu 47%. A do Nordeste cresceu 72% enquanto a do Sudeste, cresceu 45%.
Houve ganho de renda, mas este já foi corroído pela prestação da TV de plasma e do carro e pela conta do celular. Quando sai de casa este cidadão não consegue se locomover nem encontra creche para seu filho.
A diminuição das desigualdades, que ainda não afetou quem tem ganhos de capital, aumentou a massa de cidadãos que pode pagar um bilhete de ônibus e que deixa de morrer na indigência para procurar o atendimento público de saúde. O que parece incomodar essa nova classe média de que tanto se fala é que se os serviços públicos municipais já eram ruins, com o aumento de usuários ficaram ainda piores.
É natural que o eleitor queira mudar. As urnas de domingo vão mostrar se essa mudança indica algum projeto coletivo ou vai regar a horta do individualismo.
Principal colégio eleitoral, maior orçamento municipal, capital financeira e berço dos dois principais polos da política nacional, é natural que São Paulo seja o centro das atenções nesta campanha.
O foco restrito à cidade, no entanto, não explica o que está em jogo na disputa pelas outras 5.567 prefeituras. Desavisados do que se passa no entorno, os paulistanos nunca entenderão o resultado de suas próprias urnas.
O azarão da disputa, Celso Russomanno, tem sido associado ao obscurantismo. Como o eleitor nada sabe, se deixa manipular por um enganador.
Voto indicará projeto coletivo ou individual de mudança?
Mas não é a fé pentecostal que explica a ignorância, mas a falta de informação. Bastou alguém explicar ao eleitor que Russomanno propõe-se a cobrar tarifa de ônibus mais cara de quem mora mais longe que o candidato começou a desidratar.
Para entender se a perda de votos será suficiente para tirá-lo do primeiro turno, uma olhada no entorno mostra que não se trata de fenômeno paulistano.
No pano de fundo da campanha, o discurso que criminaliza a política vai de Edir Macedo à alta magistratura. Ao esquema petista escancarado no banco dos réus, soma-se o mensalão do PCC, restrito às páginas da 'Folha de S.Paulo' e ao cotidiano da periferia da capital.
Os exemplos mais eloquentes de que a São Paulo de Russomanno não é uma ilha são os favoritos em Curitiba e Campo Grande. Ratinho Jr. quebrou uma polarização de duas décadas da política paranaense, entre Jaime Lerner e Roberto Requião.
Fez carreira numa família de comunicadores e, assim como seu congênere paulistano, também exerceu vários mandatos parlamentares antes de se aventurar na disputa majoritária na capital.
Nada de braçada entre os evangélicos, promete câmeras de vigilância nas ruas e creches à noite para que os pais que trabalham de dia possam estudar. Não quer que sua mulher exerça função na prefeitura para cuidar dos três filhos. Vende-se como novidade.
Em Campo Grande, o candidato que chegou para quebrar a polarização entre PT e PMDB, veio do mesmo PP por onde passou Russomanno e disse ao repórter Guilherme Soares Dias (Valor, 28/09/2012) que ambos compartilham visão de mundo: "Somos dois radialistas que entramos na política por uma questão de justiça".
Não poderia haver candidato mais antenado com a eleição do mensalão. Enquanto o Judiciário faz política, os políticos prometem fazer justiça. O justiceiro de Campo Grande virou notícia mundial por ter provocado a detenção do diretor do Google que não retirou do ar vídeos que considerou ofensivos a sua honra.
Os comunicadores da hora tiveram em Micarla de Souza, prefeita de Natal, uma precursora. Apresentadora de TV e herdeira de um grupo de comunicação, Micarla ganhou a eleição em 2008 pelo PV contra as máquinas federal, estadual e municipal. Prometeu renovar a política no Estado que tem a política mais oligarquizada do país, mas loteou o governo de gente de televisão sem conhecimento da máquina pública e chegou ao final do mandato com a maior rejeição entre os prefeitos de capital.
Mas esta campanha não é feita apenas de comunicadores desvinculados de máquinas partidárias. Rio, BH e Porto Alegre dão folgadas dianteiras a prefeitos candidatos à reeleição bem avaliados, ainda que a oposição dê sinais de vida, alguns eloquentes, em suas capitais.
É a avaliação que se faz das atuais administrações que continua a ser o principal balizador do voto. Em alguns lugares, como em São Paulo, a rejeição ao prefeito é tamanha que o discurso do novo alimentou um candidato como Russomanno. Mas em outras cidades foram as máquinas partidárias bem azeitadas que capitalizaram essa rejeição.
No Recife, o favorito é candidato do popularíssimo governador, mas até Eduardo Campos chega à reta final da campanha acossado pelo discurso do novo. Na capital que deu mais de 30% dos votos a Marina em 2010 e onde o PT cavou sua própria cova numa escolha atabalhoada de candidato a sucessão, é um tucano que usa chinelo de dedo e militou no PV a única ameaça a uma vitória no primeiro turno de Geraldo Julio (PSB).
O discurso do novo caiu no colo da direita. Basta ver de onde vêm Russomanno (PRB), Bernal (PP) e Ratinho (PSC). Onde a esquerda, em sua versão mais radical, tem chances de ganhar não é um candidato novo que se apresenta mas um ex-prefeito. É o caso de Belém, onde o PSOL deve fazer de um ex-petista o primeiro prefeito de sua história.
Edmilson Rodrigues confronta a noção de que é a promessa de satisfação imediata que dá as cartas em todo o território nacional. Minoritário em sua aliança, o candidato do PSOL promete radicalizar o orçamento participativo levando a população da periferia a lotar a Câmara Municipal em votações importantes.
Esta disputa ruma para uma taxa de reeleição mais baixa do que a de 2008. Naquele ano, a crise mundial ainda estava fora das milhas territoriais do país. Os atuais prefeitos conviveram com taxas mais baixas de crescimento da economia que afetaram seus investimentos.
Esta é a primeira eleição municipal depois de década de mudanças na metade inferior da pirâmide social. Nas famílias chefiadas por analfabetos a renda cresceu 88% e naquelas encabeçadas por quem tem mais de 12 anos de estudo caiu 11%. A renda de pretos e pardos aumentou 66% e 85%, respectivamente, enquanto a dos brancos, cresceu 47%. A do Nordeste cresceu 72% enquanto a do Sudeste, cresceu 45%.
Houve ganho de renda, mas este já foi corroído pela prestação da TV de plasma e do carro e pela conta do celular. Quando sai de casa este cidadão não consegue se locomover nem encontra creche para seu filho.
A diminuição das desigualdades, que ainda não afetou quem tem ganhos de capital, aumentou a massa de cidadãos que pode pagar um bilhete de ônibus e que deixa de morrer na indigência para procurar o atendimento público de saúde. O que parece incomodar essa nova classe média de que tanto se fala é que se os serviços públicos municipais já eram ruins, com o aumento de usuários ficaram ainda piores.
É natural que o eleitor queira mudar. As urnas de domingo vão mostrar se essa mudança indica algum projeto coletivo ou vai regar a horta do individualismo.
Os apagões de Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADÃO - 05/10
Da promessa várias vezes repetida pela então responsável pelo setor de energia do governo Lula e depois candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, de que, com ela no governo, não haveria mais apagões, só ficou a lembrança. Interrupções do fornecimento de energia elétrica continuam a ocorrer com frequência, afetando diferentes regiões do País e causando transtornos a milhões de brasileiros, comprovando a fragilidade do sistema elétrico administrado pelo governo Dilma.
O apagão mais recente ocorreu entre a noite de quarta-feira (3/10) e a madrugada seguinte, quando parte das Regiões Sul, Sudeste e CentroOeste e os Estados do Acre e de Rondônia ficaram sem energia. Ao tentar minimizar o episódio, considerando-o apenas um "apaguinho" e tentando justificá-lo com a afirmação de que "defeitos acontecem", o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, desfez parte das esperanças do consumidor brasileiro de que, a partir de investigações precisas, afinal, o governo reduza o risco de repetição de fatos como esse - e a presidente comece a cumprir o que prometeu.
Enquanto o ONS ainda se preparava para iniciar as investigações do apagão de quarta-feira, na tarde de quinta-feira (4/10), a região central de Brasília ficou sem energia elétrica.
O apagão - pois foi disto que se tratou - de quarta-feira teve como causa uma pane num dos transformadores de uma subestação administrada pela estatal Furnas em Foz do Iguaçu, que provocou a retirada do sistema interligado, administrado pelo ONS, de uma carga de 3,5 mil megawatts originária da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Imediatamente, as companhias distribuidoras foram orientadas a suspender a distribuição de energia elétrica.
Embora a suspensão tenha sido seletiva, como esclareceu o ONS, uma extensa área do País ficou temporariamente sem energia. No Estado de São Paulo, 24 municípios, entre os quais a capital (parcialmente) e 7 outras cidades da Grande São Paulo, ficaram às escuras por um período que variou de 2 a 5 minutos. Só na região metropolitana, foram afetados 695 mil consumidores. Em outros Estados, a interrupção foi mais longa.
"Embora (a estatal Furnas) faça manutenção, esses defeitos acontecem", disse Chipp. Ele duvida que seja imposta alguma multa ou punição à empresa responsável pelo corte de fornecimento, pois não acredita que tenha havido negligência nesse caso.
"As empresas estão fazendo a manutenção dos equipamentos regularmente. A probabilidade de o problema ocorrer novamente é muito remota." Pode, de fato, ser pouco provável a repetição desse problema, na mesma subestação, com os mesmos efeitos observados há dias. Mas, por outros motivos, outros problemas têm surgido, interrompendo o fornecimento de energia em diversos pontos do País, em períodos diferentes ou simultaneamente.
Nenhum sistema elétrico é imune a falhas. É praticamente impossível eliminar o risco de acidentes que provoquem a interrupção do fornecimento de energia. A redução do risco para níveis próximos de zero, por sua vez, exigiria investimentos pesados que, na avaliação dos técnicos, não compensariam. Mas o sistema brasileiro - bem ao contrário do prometido por Dilma - está longe da segurança possível, pois, nos últimos anos, acidentes continuaram a ocorrer com frequência bem maior do que a tolerável.
Em 2009, por exemplo, 60 milhões de brasileiros em 18 Estados ficaram sem energia elétrica por até seis horas, por causa da interrupção de três linhas de alta-tensão que vinham da Usina de Itaipu, provocada por problemas na subestação de Itaberá, no Estado de São Paulo.
Para especialistas do setor, 2011 foi o ano em que se registrou o recorde de interrupções de fornecimento de energia. Em fevereiro de 2011, um blecaute provocado por falha no sistema de proteção de uma subesta- ção em Pernambuco deixou oito Estados do Nordeste sem luz.
Há poucas semanas, novo apagão, provocado por falhas do sistema de proteção de outra subestação, em Imperatriz, no Maranhão, afetou 11 Estados do Norte e do Nordeste.
O apagão mais recente ocorreu entre a noite de quarta-feira (3/10) e a madrugada seguinte, quando parte das Regiões Sul, Sudeste e CentroOeste e os Estados do Acre e de Rondônia ficaram sem energia. Ao tentar minimizar o episódio, considerando-o apenas um "apaguinho" e tentando justificá-lo com a afirmação de que "defeitos acontecem", o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, desfez parte das esperanças do consumidor brasileiro de que, a partir de investigações precisas, afinal, o governo reduza o risco de repetição de fatos como esse - e a presidente comece a cumprir o que prometeu.
Enquanto o ONS ainda se preparava para iniciar as investigações do apagão de quarta-feira, na tarde de quinta-feira (4/10), a região central de Brasília ficou sem energia elétrica.
O apagão - pois foi disto que se tratou - de quarta-feira teve como causa uma pane num dos transformadores de uma subestação administrada pela estatal Furnas em Foz do Iguaçu, que provocou a retirada do sistema interligado, administrado pelo ONS, de uma carga de 3,5 mil megawatts originária da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Imediatamente, as companhias distribuidoras foram orientadas a suspender a distribuição de energia elétrica.
Embora a suspensão tenha sido seletiva, como esclareceu o ONS, uma extensa área do País ficou temporariamente sem energia. No Estado de São Paulo, 24 municípios, entre os quais a capital (parcialmente) e 7 outras cidades da Grande São Paulo, ficaram às escuras por um período que variou de 2 a 5 minutos. Só na região metropolitana, foram afetados 695 mil consumidores. Em outros Estados, a interrupção foi mais longa.
"Embora (a estatal Furnas) faça manutenção, esses defeitos acontecem", disse Chipp. Ele duvida que seja imposta alguma multa ou punição à empresa responsável pelo corte de fornecimento, pois não acredita que tenha havido negligência nesse caso.
"As empresas estão fazendo a manutenção dos equipamentos regularmente. A probabilidade de o problema ocorrer novamente é muito remota." Pode, de fato, ser pouco provável a repetição desse problema, na mesma subestação, com os mesmos efeitos observados há dias. Mas, por outros motivos, outros problemas têm surgido, interrompendo o fornecimento de energia em diversos pontos do País, em períodos diferentes ou simultaneamente.
Nenhum sistema elétrico é imune a falhas. É praticamente impossível eliminar o risco de acidentes que provoquem a interrupção do fornecimento de energia. A redução do risco para níveis próximos de zero, por sua vez, exigiria investimentos pesados que, na avaliação dos técnicos, não compensariam. Mas o sistema brasileiro - bem ao contrário do prometido por Dilma - está longe da segurança possível, pois, nos últimos anos, acidentes continuaram a ocorrer com frequência bem maior do que a tolerável.
Em 2009, por exemplo, 60 milhões de brasileiros em 18 Estados ficaram sem energia elétrica por até seis horas, por causa da interrupção de três linhas de alta-tensão que vinham da Usina de Itaipu, provocada por problemas na subestação de Itaberá, no Estado de São Paulo.
Para especialistas do setor, 2011 foi o ano em que se registrou o recorde de interrupções de fornecimento de energia. Em fevereiro de 2011, um blecaute provocado por falha no sistema de proteção de uma subesta- ção em Pernambuco deixou oito Estados do Nordeste sem luz.
Há poucas semanas, novo apagão, provocado por falhas do sistema de proteção de outra subestação, em Imperatriz, no Maranhão, afetou 11 Estados do Norte e do Nordeste.
Tarde demais - MARCELO COELHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/10
Fica nítida a impressão de que o revisor condena figuras menores para dar satisfação à opinião pública
O MINISTRO Ricardo Lewandowski atrapalhou-se muito, e a meu ver inutilmente, ao absolver José Dirceu de envolvimento no mensalão, ontem no STF.
Foi tão longe, que seus votos condenando por corrupção vários parlamentares do PP, do PL e do PTB terminaram ficando incoerentes. Deveria ter absolvido todo mundo.
Foi o que sugeriu Marco Aurélio Mello, em aparte. Lewandowski argumentou que não havia contradição. Condena os parlamentares, porque receberam dinheiro, mas não acha que havia relação entre receber e votar a favor do governo.
Era uma "coincidência de sabor lotérico", disse Lewandowski, citando estudo estatístico, encomendado pelo deputado Odair Cunha.
Cunha é do PT, e suas declarações, citadas por Lewandowski, são sempre na linha do "suposto mensalão", negando qualquer esquema de corrupção de parlamentares.
Não foi o único petista a ser invocado pelo revisor. Líderes do partido, como Carlos Abicalil e Maurício Rands, ao lado de Ideli Salvatti e Luiz Eduardo Greenhalg, negam peremptoriamente a existência do esquema, como bem se sabe.
Não seria o caso de levantar todos esses depoimentos num momento anterior do julgamento? Depois de ter condenado tanta gente, Lewandowski convence bem pouco ao lembrar tudo isso agora.
Elogiando deputados "respeitáveis", como Campos Machado, do PTB paulista, Lewandowski põe em dúvida, para efeitos jurídicos, todas as declarações de Roberto Jefferson, o denunciador do mensalão.
Já a propósito de José Genoino, a quem também absolveu, Lewandowski desqualificou os depoimentos em juízo de Jefferson. É um co-réu, e teria desmentido, perante o juiz, as acusações que fizera contra os líderes do PT.
Desmentiu? O presidente do STF, Ayres Britto, não concordou com essa tese. Na sessão de quarta-feira, com efeito, Lewandowski repetiu as declarações de Jefferson em juízo.
O presidente do PTB dizia confirmar suas declarações à Polícia Federal. Continuava, entretanto, dizendo que agora, na fase judicial, não iria mais se referir a outros réus, até mesmo porque era um dos acusados.
Não confirmou suas acusações, portanto. Mas, como parece claro para quem ouvia Lewandowski, tampouco desmentiu suas acusações.
Para Lewandowski, essa escapada de Jefferson é suficiente para que não se levem em conta suas acusações. Especialmente contra José Dirceu, de quem era inimigo.
Só se pode observar que isso é pouco para absolver José Dirceu. Afinal, as acusações de Jefferson, no início, foram negadas em sua integridade. Ninguém tinha recebido dinheiro de ninguém. Ninguém sabia da existência de Marcos Valério, nem das propinas recebidas por Pedro Corrêa ou seja lá quem for.
Conforme vieram as investigações, o que dizia Jefferson se comprovou. Não é razoável, a esta altura, achar que ele é o mentiroso e que dezenas e dezenas de petistas, que negavam tudo até aparecer a tese do caixa dois, diziam a verdade.
É isso o que fez Lewandowski, tarde demais. Tarde até para a sua própria participação no julgamento.
Por mais que ele argumente, fica nítida a impressão de que condena figuras menores, como Delúbio Soares, apenas para dar uma satisfação à opinião pública, sem acreditar nem mesmo na existência do mensalão.
Fica nítida a impressão de que o revisor condena figuras menores para dar satisfação à opinião pública
O MINISTRO Ricardo Lewandowski atrapalhou-se muito, e a meu ver inutilmente, ao absolver José Dirceu de envolvimento no mensalão, ontem no STF.
Foi tão longe, que seus votos condenando por corrupção vários parlamentares do PP, do PL e do PTB terminaram ficando incoerentes. Deveria ter absolvido todo mundo.
Foi o que sugeriu Marco Aurélio Mello, em aparte. Lewandowski argumentou que não havia contradição. Condena os parlamentares, porque receberam dinheiro, mas não acha que havia relação entre receber e votar a favor do governo.
Era uma "coincidência de sabor lotérico", disse Lewandowski, citando estudo estatístico, encomendado pelo deputado Odair Cunha.
Cunha é do PT, e suas declarações, citadas por Lewandowski, são sempre na linha do "suposto mensalão", negando qualquer esquema de corrupção de parlamentares.
Não foi o único petista a ser invocado pelo revisor. Líderes do partido, como Carlos Abicalil e Maurício Rands, ao lado de Ideli Salvatti e Luiz Eduardo Greenhalg, negam peremptoriamente a existência do esquema, como bem se sabe.
Não seria o caso de levantar todos esses depoimentos num momento anterior do julgamento? Depois de ter condenado tanta gente, Lewandowski convence bem pouco ao lembrar tudo isso agora.
Elogiando deputados "respeitáveis", como Campos Machado, do PTB paulista, Lewandowski põe em dúvida, para efeitos jurídicos, todas as declarações de Roberto Jefferson, o denunciador do mensalão.
Já a propósito de José Genoino, a quem também absolveu, Lewandowski desqualificou os depoimentos em juízo de Jefferson. É um co-réu, e teria desmentido, perante o juiz, as acusações que fizera contra os líderes do PT.
Desmentiu? O presidente do STF, Ayres Britto, não concordou com essa tese. Na sessão de quarta-feira, com efeito, Lewandowski repetiu as declarações de Jefferson em juízo.
O presidente do PTB dizia confirmar suas declarações à Polícia Federal. Continuava, entretanto, dizendo que agora, na fase judicial, não iria mais se referir a outros réus, até mesmo porque era um dos acusados.
Não confirmou suas acusações, portanto. Mas, como parece claro para quem ouvia Lewandowski, tampouco desmentiu suas acusações.
Para Lewandowski, essa escapada de Jefferson é suficiente para que não se levem em conta suas acusações. Especialmente contra José Dirceu, de quem era inimigo.
Só se pode observar que isso é pouco para absolver José Dirceu. Afinal, as acusações de Jefferson, no início, foram negadas em sua integridade. Ninguém tinha recebido dinheiro de ninguém. Ninguém sabia da existência de Marcos Valério, nem das propinas recebidas por Pedro Corrêa ou seja lá quem for.
Conforme vieram as investigações, o que dizia Jefferson se comprovou. Não é razoável, a esta altura, achar que ele é o mentiroso e que dezenas e dezenas de petistas, que negavam tudo até aparecer a tese do caixa dois, diziam a verdade.
É isso o que fez Lewandowski, tarde demais. Tarde até para a sua própria participação no julgamento.
Por mais que ele argumente, fica nítida a impressão de que condena figuras menores, como Delúbio Soares, apenas para dar uma satisfação à opinião pública, sem acreditar nem mesmo na existência do mensalão.
CLAUDIO HUMBERTO
“Houve conluio para a compra de votos ou apoio no Congresso”
Ministra Rosa Weber (STF) condenando José Dirceu, Genoino e Delúbio por corrupção
DIRCEU SE VÊ CONDENADO, MAS COM PRISÃO CURTA
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu está convencido de que não escapará de condenação, no Supremo Tribunal Federal, pelos crimes a ele atribuídos na denúncia do Ministério Público Federal, que o acusou de “chefiar a quadrilha”. Apesar do pessimismo, o ex-ministro de Lula tem dito a pessoas próximas, amigos e familiares, talvez para consolá-las, que cumprirá pena de prisão, mas acha que será por pouco tempo.
NOVO CABELUDO
Após o início do julgamento, José Dirceu foi aos poucos mergulhando em estado de prostração. Deixou até de cortar os cabelos.
DE COR E SALTEADO
Apesar do abatimento, Dirceu estuda o processo do mensalão como nem mesmo seu advogado, ops, o ministro Ricardo Lewandowski o fez.
INTERRUPTOR
A teoria da conspiração correu na internet: o apagão atrasaria o voto dos demais ministros do STF contra Dirceu e ajudaria o PT na eleição.
ECONOMIA
A piada em Brasília, parcialmente às escuras, foi que faltou luz no Congresso porque o único parlamentar presente apagou a luz ao sair.
SENADOR LINDBERGH é CONDENADO POR IMPROBIDADE
A 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio deu provimento à apelação do Ministério Público e condenou por unanimidade o atual senador Lindbergh Farias (PT-RJ) por improbidade administrativa quando era prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Ele alegou “emergência” para manter, sem licitação, os serviços de empresa de manutenção elétrica. Além da suspensão de direitos políticos por cinco anos, o senador terá que pagar R$ 200 mil de multa.
SONHO AMEAÇADO
Lindbergh Farias ainda poderá recorrer, mas se mantida a decisão pelo STF, ele estará impedido de concorrer ao governo do Rio, em 2014.
XÔ
A condenação de Lindbergh Farias se junta à coleção de reveses do PT às vésperas da eleição, como o avião com dinheiro vivo no Pará.
O CHEFE
A crer na lógica do ministro Lewandovski, quanto menor o cargo, mais poder de decisão: o ex-tesoureiro Delúbio mandava mais que Lula.
NOBLESSE OBLIGE
O ritual obrigatório de respeito no Supremo mal disfarçava ontem que o voto do revisor Lewandowski despertou em alguns colegas “os instintos mais primitivos”, como disse Roberto Jefferson sobre José Dirceu.
MILITANTE FALANDO ALTO
Mais enfático que advogado de mensaleiro, o ministro Ricardo Lewandowski citou declarações de petistas, negando a compra de votos de políticos, como “provas” de que o mensalão não existiu.
FALTOU A COLA?
Pela primeira vez, desde o início do julgamento, o relator Joaquim Barbosa não distribuiu previamente cópia aos ministros. Teria sido por isso que Lewandowski ficou meio perdido, na sessão de quarta (3).
TÁ FEIA A COISA
Após a sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal, o ministro Ricardo Lewandowski terá mais dificuldades de voltar a dar aulas na Faculdade de Direito da USP, onde um grupo de alunos, dizendo-se envergonhados, exige sua saída.
DINHEIRO INTERNADO
O Banco Central confirmou que o Banco Cruzeiro do Sul adquiriu US$ 182 milhões no mercado de câmbio, para pagar bônus de curto prazo no exterior, mas, liquidado no dia seguinte, não pôde fazer o resgate. O BC garante que o dinheiro está de volta, e no caixa da massa falida.
PM 14%
Na capital do sequestro-relâmpago, a Policia Militar do DF paga (bem) a mais de 15.000 homens, mas sua escala de folgas só permite que 2.126 trabalhem em cada turno. É uma PM com 14% da capacidade.
LIGAÇÕES UMBILICAIS
A foto de Parauapebas (PA), igual à da dinheirama dos aloprados de Aloizio Mercadante, suscita a dúvida: é o PT que persegue montes de dinheiro ou a grana é que não deixa a “cumpanheirada” em paz?
ELE É O OUTRO
O Ministério Público Eleitoral brecou a “genial” ideia do candidato a vereador Léo Rodrigues (PR-RR): um show em Boa Vista com o cantor sertanejo Léo Rodriguez, que cantaria paródia do jingle da campanha.
PENSANDO BEM...
...condenados por corrupção ativa, Delúbio Soares e Marcos Valério já sacaram que vão ficar com o “passivo” do mensalão.
PODER SEM PUDOR
ESTRANHO CONTATO
Era a primeira vez que Leonel Brizola visitava o Congresso após o exílio, quando alguém se aproximou com os braços abertos:
- Que honra encontrá-lo, governador!
- Sinceramente - respondeu Brizola - não sei se o senhor é quem eu estou pensando, por isso não quero dizer um nome que o ofenda...
O homem fingiu não ouvir aquilo e disse que São Paulo estava às ordens de Brizola. Era Paulo Maluf, que foi embora cabisbaixo, por não ter sido reconhecido. Brizola se virou para Pedro Simon e Paulo Brossard:
- Barbaridade, quem é esse cara de pau, tchê?
Ministra Rosa Weber (STF) condenando José Dirceu, Genoino e Delúbio por corrupção
DIRCEU SE VÊ CONDENADO, MAS COM PRISÃO CURTA
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu está convencido de que não escapará de condenação, no Supremo Tribunal Federal, pelos crimes a ele atribuídos na denúncia do Ministério Público Federal, que o acusou de “chefiar a quadrilha”. Apesar do pessimismo, o ex-ministro de Lula tem dito a pessoas próximas, amigos e familiares, talvez para consolá-las, que cumprirá pena de prisão, mas acha que será por pouco tempo.
NOVO CABELUDO
Após o início do julgamento, José Dirceu foi aos poucos mergulhando em estado de prostração. Deixou até de cortar os cabelos.
DE COR E SALTEADO
Apesar do abatimento, Dirceu estuda o processo do mensalão como nem mesmo seu advogado, ops, o ministro Ricardo Lewandowski o fez.
INTERRUPTOR
A teoria da conspiração correu na internet: o apagão atrasaria o voto dos demais ministros do STF contra Dirceu e ajudaria o PT na eleição.
ECONOMIA
A piada em Brasília, parcialmente às escuras, foi que faltou luz no Congresso porque o único parlamentar presente apagou a luz ao sair.
SENADOR LINDBERGH é CONDENADO POR IMPROBIDADE
A 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio deu provimento à apelação do Ministério Público e condenou por unanimidade o atual senador Lindbergh Farias (PT-RJ) por improbidade administrativa quando era prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Ele alegou “emergência” para manter, sem licitação, os serviços de empresa de manutenção elétrica. Além da suspensão de direitos políticos por cinco anos, o senador terá que pagar R$ 200 mil de multa.
SONHO AMEAÇADO
Lindbergh Farias ainda poderá recorrer, mas se mantida a decisão pelo STF, ele estará impedido de concorrer ao governo do Rio, em 2014.
XÔ
A condenação de Lindbergh Farias se junta à coleção de reveses do PT às vésperas da eleição, como o avião com dinheiro vivo no Pará.
O CHEFE
A crer na lógica do ministro Lewandovski, quanto menor o cargo, mais poder de decisão: o ex-tesoureiro Delúbio mandava mais que Lula.
NOBLESSE OBLIGE
O ritual obrigatório de respeito no Supremo mal disfarçava ontem que o voto do revisor Lewandowski despertou em alguns colegas “os instintos mais primitivos”, como disse Roberto Jefferson sobre José Dirceu.
MILITANTE FALANDO ALTO
Mais enfático que advogado de mensaleiro, o ministro Ricardo Lewandowski citou declarações de petistas, negando a compra de votos de políticos, como “provas” de que o mensalão não existiu.
FALTOU A COLA?
Pela primeira vez, desde o início do julgamento, o relator Joaquim Barbosa não distribuiu previamente cópia aos ministros. Teria sido por isso que Lewandowski ficou meio perdido, na sessão de quarta (3).
TÁ FEIA A COISA
Após a sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal, o ministro Ricardo Lewandowski terá mais dificuldades de voltar a dar aulas na Faculdade de Direito da USP, onde um grupo de alunos, dizendo-se envergonhados, exige sua saída.
DINHEIRO INTERNADO
O Banco Central confirmou que o Banco Cruzeiro do Sul adquiriu US$ 182 milhões no mercado de câmbio, para pagar bônus de curto prazo no exterior, mas, liquidado no dia seguinte, não pôde fazer o resgate. O BC garante que o dinheiro está de volta, e no caixa da massa falida.
PM 14%
Na capital do sequestro-relâmpago, a Policia Militar do DF paga (bem) a mais de 15.000 homens, mas sua escala de folgas só permite que 2.126 trabalhem em cada turno. É uma PM com 14% da capacidade.
LIGAÇÕES UMBILICAIS
A foto de Parauapebas (PA), igual à da dinheirama dos aloprados de Aloizio Mercadante, suscita a dúvida: é o PT que persegue montes de dinheiro ou a grana é que não deixa a “cumpanheirada” em paz?
ELE É O OUTRO
O Ministério Público Eleitoral brecou a “genial” ideia do candidato a vereador Léo Rodrigues (PR-RR): um show em Boa Vista com o cantor sertanejo Léo Rodriguez, que cantaria paródia do jingle da campanha.
PENSANDO BEM...
...condenados por corrupção ativa, Delúbio Soares e Marcos Valério já sacaram que vão ficar com o “passivo” do mensalão.
PODER SEM PUDOR
ESTRANHO CONTATO
Era a primeira vez que Leonel Brizola visitava o Congresso após o exílio, quando alguém se aproximou com os braços abertos:
- Que honra encontrá-lo, governador!
- Sinceramente - respondeu Brizola - não sei se o senhor é quem eu estou pensando, por isso não quero dizer um nome que o ofenda...
O homem fingiu não ouvir aquilo e disse que São Paulo estava às ordens de Brizola. Era Paulo Maluf, que foi embora cabisbaixo, por não ter sido reconhecido. Brizola se virou para Pedro Simon e Paulo Brossard:
- Barbaridade, quem é esse cara de pau, tchê?
SEXTA NOS JORNAIS
- Globo: A hora do mensalão – Revisor absolve, mas 3 já condenam Dirceu
- Folha: Revisor absolve Dirceu, mas três já o condenam
- Estadão: Três ministros condenam Dirceu; Lewandowski absolve
- Correio: A República do apagão
- Valor: Novo regime automotivo agrada a empresas do setor
- Zero Hora: Debate encerra campanha do primeiro turno na Capital
- Estado de Minas: Lei das Cotas embola o vestibular