sexta-feira, outubro 05, 2012

Teles: missão cumprida - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 05/10



A universalização da telefonia foi atingida, mas falta que o mesmo ocorra com a internet


O IBGE divulgou em setembro os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) referente ao ano de 2011. Essa é uma base de dados confiável e, sem dúvida nenhuma, uma excelente fonte de consulta para quem acompanha a evolução da sociedade brasileira.

Nos números de 2011 chamam a atenção alguns detalhes sobre o grau de universalização dos serviços públicos à disposição dos brasileiros. De acordo com os critérios estabelecidos pelo IBGE, um determinado serviço público é considerado universal quando, pelo menos, 90% das pessoas têm acesso a ele.

Pois foi o que aconteceu com o serviço de telefonia em 2011, ano em que 90,6% dos domicílios no Brasil passaram a ter pelo menos um terminal, seja ele fixo ou celular. Para se ter uma ideia da importância dessa fronteira, o abastecimento de água chega a 85,7% das residências no país, e a rede coletora de esgotos, a apenas 55,8%.

Ao ver esses dados da Pnad, lembrei-me do ex-ministro das Comunicações Sergio Motta e do seu sonho de que, em algum momento do futuro, o Brasil chegaria à universalização do sistema de telefones.

Ele me confessou isso no já longínquo ano de 1995, quando, nomeado ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique, se debruçou sobre a questão das telecomunicações no Brasil.

Vivíamos então sob o monopólio da Telebrás, e a Pnad de então mostrava que apenas 22,4% das residências tinham um telefone.

Mas esse número muito baixo escondia uma realidade social ainda pior: segundo levantamento feito pela Telebrás, a pedido do então ministro das Comunicações, mais de 80% dessas residências pertenciam a brasileiros das classes superiores de renda econômica.

A explicação para esse fato era muito simples: a Telebrás vendia os telefones por um valor equivalente a cerca de R$ 3.000 e a prazo. Somente no fim do pagamento das últimas de 24 prestações era o aparelho instalado na casa do comprador do telefone.

A Telebrás usava esses recursos para financiar seus investimentos, pois o governo federal, seu acionista controlador, não tinha disponibilidade para capitalizar a empresa.

Já naquela época, o ministro entendeu que no mundo do futuro o telefone seria um instrumento de trabalho, e não mais apenas um veículo de comunicação pessoal.

A internet ainda estava na sua infância, mas o ministro já visualizava o que iria acontecer em poucos anos. Esse argumento -necessidade de garantir a universalização do acesso ao sistema de telefones- foi o principal motivo pelo qual ele propôs ao presidente da República a privatização do sistema de telefones no Brasil.

E chegar à universalização, como aconteceu agora segundo os dados da Pnad, tornou-se o grande objetivo a ser alcançado pelo governo.

Quando comparado com o mercado de telefonia que existia à época da privatização, o que temos hoje no Brasil parece outro mundo. A evolução tecnológica nesse setor foi fantástica nesta última década e a transformação do telefone em instrumento de trabalho foi muito mais radical do que previa Sergio Motta.

Hoje, o celular tradicional praticamente foi substituído por terminais de acesso à internet, que ampliaram de forma extraordinária seu escopo como instrumento de trabalho. Agora mesmo o Brasil se prepara para entrar na era da chamada tecnologia 4G para esses aparelhos, aumentando ainda mais as possibilidades de acesso à internet.

Aliás, o Brasil vai entrar nessa nova fronteira tecnológica quase um ano antes da poderosa Inglaterra, mostrando o quanto evoluímos desde 1995 nesse campo.

Nós, brasileiros, merecemos comemorar a universalização dos telefones no Brasil, mas não por muito tempo. Outro desafio se impõe hoje à sociedade e ao governo: a universalização do acesso à internet.

Apenas 37% das residências têm acesso a ela por cabo ou ondas de rádio. Embora a utilização de tablets e de outros tipos de terminal móvel torne menos crítica a falta da rede fixa de acesso, o preço ainda elevado desses aparelhos cria uma divisão de classes de renda que precisa ser superada.

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