O GLOBO - 21/09
Muita gente se surpreende com o poder aquisitivo de alguns moradores das favelas cariocas.
Mas veja só. Pesquisa do Instituto Data Popular, que será divulgada hoje pela Central Única das Favelas e pela rádio Beat98, em SP, revela que, no Rio, acredite, 13% dos favelados são das classes A/B.
No resto do país, este contigente é de apenas 1%.
Calma, gente!
Dez estados encaminharam pedidos ao TSE de envio de forças federais para garantir a segurança dos eleitores em 282 municípios no próximo dia 7.
No Rio Grande do Norte, os pedidos atingem cerca de 70% das cidades. No Rio, são oito.
O novo sub do sub
Ron Kirk, o representante dos EUA para assuntos comerciais que vazou ontem carta para o governo brasileiro criticando medidas protecionistas, foi tratado no Palácio do Planalto como o "sub do sub 2’!
Em 2002, então candidato, Lula chamou Robert Zoellick, secretário dos EUA à época, que criticou o Brasil por desprezar a Alca, de "sub do sub do sub”
Deus e política
De um conhecido religioso sobre a declaração do bispo paulista Fernando Antônio Figueiredo, elogiando Celso Russomanno, o candidato que é alvo de críticas indiretas de dom Odilo Scherer:
— Ele conseguiu algo impensável no Brasil: dividir a igreja católica.
No mais...
O engajamento das igrejas evangélicas nas eleições acabou, é pena, contaminando a Igreja Católica.
É um retrocesso aos anos 1930, quando o cardeal dom Leme criou a Liga Eleitoral Católica (LEC), que orientava o voto dos fiéis.
O MAIS SEXY DE 2012
Cauã Reymond, 30 anos, o Jorginho de “Avenida Brasil”, foi escolhido o homem mais sexy de 2012 pela “IstoÉ gente”, que festeja seu 13° aniversário e chega às bancas brasileiras amanhã. Marido da bela Grazi Massafera e pai de Sofia, Cauã faz pose de tirar o fôlego (repare só na foto) das fãs para a edição da revista, que lista os 50 homens e mulheres mais bonitos do Brasil. Mas ogalãé humilde: “Eu fico lisonjeado, claro. Mas é estranho porque estou cansado da minha cara há anos. Depois desta novela, vou descansar.” O primeiro lugar feminino foi para a nossa musa, Juliana Paes. Que sejam felizes! •
A Pequena Notável
Representante dos herdeiros de Carmen Miranda, o escritório Campello-Queiroz acaba de contratar um livro iconográfico sobre a Pequena Notável. Será produzido por Ruy Castro.
Além disso, Heloisa Seixas e Julia Romeu vão escrever um livro infantil sobre Carmen. Ambos saem em 2013, pela Casa da Palavra.
“Deputado” Caetano
Caetano Veloso vai falar hoje no comício do candidato a prefeito Marcelo Freixo, nos Arcos da Lapa, às 19h.
A última vez que o artista baiano discursou num palanque de um político foi em 1989, na campanha de Lula contra Collor.
Ausência suspeita
O Ministério Público do Rio está investigando funcionários do Hospital estadual Rocha Faria, no bairro de Campo Grande.
Um grupo de terceirizados, protegido por candidatos da Zona Oeste carioca à Câmara dos Vereadores, estaria faltando ao trabalho para fazer campanha eleitoral. Meu Deus!
Não foi o Tim
A 19? Câmara Cível do Rio negou o recurso de Rafaela Mendonça Soares Campos, que diz ser filha de Tim Maia.
Ela queria impugnar um exame de DNA, da Uerj, que excluiu a chance de o falecido cantor ser seu pai.
Menos árvoresA Alerj fez 80 mil jornais e 60 mil panfletos para a Rio+20, em junho, mas boa parte encalhou.
De lá pra cá, a sobra, acredite, já virou divisória de ambiente e até sofá na sala de comunicação da casa. A Assembleia diz que vai distribuir tudo.
Princesa Marta
Semana passada, a prefeitura de Petrópolis liberou uma festa de réveillon no Castelo de Itaipava, no Rio, construído em 1920 pela família Smith de Vasconcelos, da qual a ministra Marta Suplicy faz parte.
Hoje não tem
Sexta passada, na UPA de Copacabana, uma paciente recebeu o diagnóstico de infecção urinária e pediu um atestado. O médico Pedro Vieira explicou que isso não impede ninguém de trabalhar. E ela:
— É que eu sou garota de programa. Tenho que explicar lá no trabalho...
Ah, bom.
sexta-feira, setembro 21, 2012
Fantasias perigosas - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 21/09
Se a nota dos partidos aliados do governo petista fosse para repudiar as acusações feitas ao ex-presidente Lula atribuídas pela revista "Veja" ao lobista Marcos Valério, estaria tudo certo, agiriam dentro do limite de suas responsabilidades e direitos.
Mas quando partem para a insinuação de que o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é parte de uma manobra da oposição, que quer fazer da ação penal 470 "um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula", aí sim eles jogam contra a democracia, colocando em discussão os resultados do julgamento que está sendo realizado dentro das melhores práticas do Direito e da democracia.
Seria cômico, se não fosse a revelação de uma situação política trágica, a tentativa de comparar o quadro atual com os golpes contra os governos populares de Getúlio Vargas ou Jango. Como se o julgamento do mensalão fosse uma conspiração da "elite conservadora" contra o governo popular de Lula.
Se não fosse pelo fato de que oito dos 11 ministros do STF foram nomeados por governos petistas, já não é possível vender a fantasiosa versão de que o mensalão não existiu, até porque em muitos casos, como salientou ontem o presidente do STF, ministro Ayres Britto, os pagamentos foram realmente feitos mensalmente.
Além disso, já está provado que foi montado um esquema sofisticado de compra de apoio político, descrito com detalhes pelo relator Joaquim Barbosa.
Mesmo que seja possível provar que algumas votações coincidiram com os pagamentos, e que, num belo trabalho de reconstituição, o relator tenha recuperado o ambiente político no início do primeiro governo de Lula, demonstrando que muitos partidos alvos do assédio governamental haviam apoiado o candidato da oposição na eleição presidencial, nada disso seria necessário.
Todos os réus, com uma ou outra exceção, já confessaram em juízo terem recebido dinheiro através de Marcos Valério, por recomendação de Delúbio Soares, o que, para o entendimento majoritário do Supremo, caracteriza a corrupção passiva, não importando se de fato cumpriram o que prometeram ao venderem seu apoio político.
Como também não importa se gastaram o dinheiro em farras ou em pagamentos de gastos de campanha, e até mesmo se doaram para obras de caridade. A corrupção passiva não se apaga com o destino dado ao dinheiro.
Soou estranho, portanto, o revisor Lewandowski dizer que não havia provas de que os políticos recebedores de dinheiro sabiam da sua origem criminosa.
Ora, se pegavam dinheiro na boca do caixa sem os documentos bancários oficiais, e alguns recebiam até mesmo pelo sistema de delivery, em malas ou pacotes em casa e em hotéis, como não saber que o dinheiro tinha origem duvidosa?
Outra discussão que deve tomar conta do plenário quando chegar a hora de os ministros votarem, e que já foi antecipada ontem pelo ministro Marco Aurélio Mello, é a lavagem de dinheiro.
O ministro Joaquim Barbosa condenou todos os políticos até agora por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas Lewandowski e Marco Aurélio discordaram, alegando que uma mesma pessoa não pode ser acusada por dois crimes pelo mesmo ato, que seria a corrupção passiva.
Até o momento não há novidade na disputa, pois, quando do julgamento do deputado João Paulo Cunha, a maioria do plenário já havia se posicionado a favor da tese de Barbosa.
Ontem mesmo, o ministro Ayres Britto fez uma intervenção no sentido de apoiar o relator. Com o revisor, ficaram anteriormente os ministros Dias Toffoli, Rosa Weber, Cezar Peluso e Marco Aurélio Mello.
Com a saída de Peluso, o plenário está com o placar de 6 a 4 a favor da tese do relator, a não ser que algum ministro mude de posição durante o julgamento.
Esse será um tema que, ao que tudo indica, poderá gerar embargos infringentes mais adiante, na tentativa das defesas de mudar o entendimento do STF, aproveitando-se inclusive da nova formação, pois também o ministro Ayres Britto será substituído em novembro, fazendo com que o placar fique em 5 a 4.
Os dois novos ministros podem teoricamente reverter a situação dos réus condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, retirando da pena final de três a dez anos de cadeia.
Se a nota dos partidos aliados do governo petista fosse para repudiar as acusações feitas ao ex-presidente Lula atribuídas pela revista "Veja" ao lobista Marcos Valério, estaria tudo certo, agiriam dentro do limite de suas responsabilidades e direitos.
Mas quando partem para a insinuação de que o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é parte de uma manobra da oposição, que quer fazer da ação penal 470 "um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula", aí sim eles jogam contra a democracia, colocando em discussão os resultados do julgamento que está sendo realizado dentro das melhores práticas do Direito e da democracia.
Seria cômico, se não fosse a revelação de uma situação política trágica, a tentativa de comparar o quadro atual com os golpes contra os governos populares de Getúlio Vargas ou Jango. Como se o julgamento do mensalão fosse uma conspiração da "elite conservadora" contra o governo popular de Lula.
Se não fosse pelo fato de que oito dos 11 ministros do STF foram nomeados por governos petistas, já não é possível vender a fantasiosa versão de que o mensalão não existiu, até porque em muitos casos, como salientou ontem o presidente do STF, ministro Ayres Britto, os pagamentos foram realmente feitos mensalmente.
Além disso, já está provado que foi montado um esquema sofisticado de compra de apoio político, descrito com detalhes pelo relator Joaquim Barbosa.
Mesmo que seja possível provar que algumas votações coincidiram com os pagamentos, e que, num belo trabalho de reconstituição, o relator tenha recuperado o ambiente político no início do primeiro governo de Lula, demonstrando que muitos partidos alvos do assédio governamental haviam apoiado o candidato da oposição na eleição presidencial, nada disso seria necessário.
Todos os réus, com uma ou outra exceção, já confessaram em juízo terem recebido dinheiro através de Marcos Valério, por recomendação de Delúbio Soares, o que, para o entendimento majoritário do Supremo, caracteriza a corrupção passiva, não importando se de fato cumpriram o que prometeram ao venderem seu apoio político.
Como também não importa se gastaram o dinheiro em farras ou em pagamentos de gastos de campanha, e até mesmo se doaram para obras de caridade. A corrupção passiva não se apaga com o destino dado ao dinheiro.
Soou estranho, portanto, o revisor Lewandowski dizer que não havia provas de que os políticos recebedores de dinheiro sabiam da sua origem criminosa.
Ora, se pegavam dinheiro na boca do caixa sem os documentos bancários oficiais, e alguns recebiam até mesmo pelo sistema de delivery, em malas ou pacotes em casa e em hotéis, como não saber que o dinheiro tinha origem duvidosa?
Outra discussão que deve tomar conta do plenário quando chegar a hora de os ministros votarem, e que já foi antecipada ontem pelo ministro Marco Aurélio Mello, é a lavagem de dinheiro.
O ministro Joaquim Barbosa condenou todos os políticos até agora por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas Lewandowski e Marco Aurélio discordaram, alegando que uma mesma pessoa não pode ser acusada por dois crimes pelo mesmo ato, que seria a corrupção passiva.
Até o momento não há novidade na disputa, pois, quando do julgamento do deputado João Paulo Cunha, a maioria do plenário já havia se posicionado a favor da tese de Barbosa.
Ontem mesmo, o ministro Ayres Britto fez uma intervenção no sentido de apoiar o relator. Com o revisor, ficaram anteriormente os ministros Dias Toffoli, Rosa Weber, Cezar Peluso e Marco Aurélio Mello.
Com a saída de Peluso, o plenário está com o placar de 6 a 4 a favor da tese do relator, a não ser que algum ministro mude de posição durante o julgamento.
Esse será um tema que, ao que tudo indica, poderá gerar embargos infringentes mais adiante, na tentativa das defesas de mudar o entendimento do STF, aproveitando-se inclusive da nova formação, pois também o ministro Ayres Britto será substituído em novembro, fazendo com que o placar fique em 5 a 4.
Os dois novos ministros podem teoricamente reverter a situação dos réus condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, retirando da pena final de três a dez anos de cadeia.
Gritos presidenciais não ocultam fracassos - MARCO ANTONIO VILLA
FOLHA DE SP - 21/09
A oposição viu em Dilma uma estadista que até romperia com Lula. Era fantasia. Lá está ela, demitindo ministro para ajeitar eleição, economia pífia ao fundo
O sonho acabou. Sonho ingênuo, registre-se. Durante quase dois anos, a oposição -quase toda ela- tentou transformar Dilma Rousseff em uma estadista, como se vivêssemos em uma república. Ela seria mais "institucional" que Lula. Desejava ter autonomia e se afastar do PT. E até poderia, no limite, romper politicamente com seu criador.
Mas os fatos, sempre os fatos, atrapalharam a fantasia construída pela oposição -e não por Dilma, a bem da verdade.
Nunca na história republicana um sucessor conversou tanto com seu antecessor. E foram muito mais que conversas. A presidente não se encontrou com Lula para simplesmente ouvir sugestões. Não, foi receber ordens, que a boa educação chamou de conselhos.
Para dar um ar "republicano", a maioria das reuniões não ocorreu em Brasília. Foi em São Paulo ou em São Bernardo do Campo que a presidente recebeu as determinações do seu criador. Os últimos acontecimentos, estreitamente vinculados à campanha municipal, reforçaram essa anomalia criada pelo PT, a dupla presidência.
Dilma transformou seu governo em instrumento político-eleitoral. Cada ato está relacionado diretamente à pequena política. Nos últimos meses, a eleição municipal acabou pautado suas ações.
Demitiu ministro para ajeitar a eleição em São Paulo. Em rede nacional de rádio e televisão, aproveitou o Dia da Independência para fazer propaganda eleitoral e atacar a oposição. Um telespectador desavisado poderia achar que estava assistindo um programa eleitoral da campanha de 2010. Mas não, quem estava na TV era a presidente do Brasil.
É o velho problema: o PT não consegue separar Estado, governo e partido. Tudo, absolutamente tudo, tem de seguir a lógica partidária. As instituições não passam de mera correia de transmissão do partido.
Dilma chegou a responder em nota oficial a um simples artigo de jornal que a elogiava, tecendo amenas considerações críticas ao seu antecessor. Como uma criatura disciplinada, retrucou, defendendo e exaltando seu criador.
O governo é ruim. O crescimento é pífio, a qualidade da gestão dos ministros é sofrível. Os programas "estruturantes" estão atrasados. O modelo econômico se esgotou.
Edita pacotes e mais pacotes a cada quinzena, sinal que não tem um consistente programa. E o que faz a presidente? Cercada de auxiliares subservientes e incapazes, de Lobões, Idelis e Cardozos, grita. Como se os gritos ocultassem os fracassos.
O Brasil que ainda cresce é aquele sem relação direta com as ações governamentais. É graças a essa eficiência empresarial que não estamos em uma situação ainda pior. Mas também isso tem limite.
O crescimento brasileiro do último trimestre, comparativamente com os dos outros países dos Brics (Rússia, Índia e China) ou do Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), é decepcionante. E o governo não sabe o que fazer.
Acredita que elevar ou baixar a taxa de juros ou suspender momentaneamente alguns impostos tem algum significado duradouro. Sem originalidade, muito menos ousadia, não consegue pensar no novo. Somente manteve, com um ou outro aperfeiçoamento, o que foi organizado no final do século passado.
E a oposição? Sussurra algumas críticas, quase pedindo desculpas.
Ela tem no escândalo do mensalão um excelente instrumento eleitoral para desgastar o governo, mas pouco faz. Não quer fazer política. Optou por esperar que algo sobrenatural aconteça, que o governo se desmanche sem ser combatido. Ao renunciar à política, abdica do Brasil.
A oposição viu em Dilma uma estadista que até romperia com Lula. Era fantasia. Lá está ela, demitindo ministro para ajeitar eleição, economia pífia ao fundo
O sonho acabou. Sonho ingênuo, registre-se. Durante quase dois anos, a oposição -quase toda ela- tentou transformar Dilma Rousseff em uma estadista, como se vivêssemos em uma república. Ela seria mais "institucional" que Lula. Desejava ter autonomia e se afastar do PT. E até poderia, no limite, romper politicamente com seu criador.
Mas os fatos, sempre os fatos, atrapalharam a fantasia construída pela oposição -e não por Dilma, a bem da verdade.
Nunca na história republicana um sucessor conversou tanto com seu antecessor. E foram muito mais que conversas. A presidente não se encontrou com Lula para simplesmente ouvir sugestões. Não, foi receber ordens, que a boa educação chamou de conselhos.
Para dar um ar "republicano", a maioria das reuniões não ocorreu em Brasília. Foi em São Paulo ou em São Bernardo do Campo que a presidente recebeu as determinações do seu criador. Os últimos acontecimentos, estreitamente vinculados à campanha municipal, reforçaram essa anomalia criada pelo PT, a dupla presidência.
Dilma transformou seu governo em instrumento político-eleitoral. Cada ato está relacionado diretamente à pequena política. Nos últimos meses, a eleição municipal acabou pautado suas ações.
Demitiu ministro para ajeitar a eleição em São Paulo. Em rede nacional de rádio e televisão, aproveitou o Dia da Independência para fazer propaganda eleitoral e atacar a oposição. Um telespectador desavisado poderia achar que estava assistindo um programa eleitoral da campanha de 2010. Mas não, quem estava na TV era a presidente do Brasil.
É o velho problema: o PT não consegue separar Estado, governo e partido. Tudo, absolutamente tudo, tem de seguir a lógica partidária. As instituições não passam de mera correia de transmissão do partido.
Dilma chegou a responder em nota oficial a um simples artigo de jornal que a elogiava, tecendo amenas considerações críticas ao seu antecessor. Como uma criatura disciplinada, retrucou, defendendo e exaltando seu criador.
O governo é ruim. O crescimento é pífio, a qualidade da gestão dos ministros é sofrível. Os programas "estruturantes" estão atrasados. O modelo econômico se esgotou.
Edita pacotes e mais pacotes a cada quinzena, sinal que não tem um consistente programa. E o que faz a presidente? Cercada de auxiliares subservientes e incapazes, de Lobões, Idelis e Cardozos, grita. Como se os gritos ocultassem os fracassos.
O Brasil que ainda cresce é aquele sem relação direta com as ações governamentais. É graças a essa eficiência empresarial que não estamos em uma situação ainda pior. Mas também isso tem limite.
O crescimento brasileiro do último trimestre, comparativamente com os dos outros países dos Brics (Rússia, Índia e China) ou do Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), é decepcionante. E o governo não sabe o que fazer.
Acredita que elevar ou baixar a taxa de juros ou suspender momentaneamente alguns impostos tem algum significado duradouro. Sem originalidade, muito menos ousadia, não consegue pensar no novo. Somente manteve, com um ou outro aperfeiçoamento, o que foi organizado no final do século passado.
E a oposição? Sussurra algumas críticas, quase pedindo desculpas.
Ela tem no escândalo do mensalão um excelente instrumento eleitoral para desgastar o governo, mas pouco faz. Não quer fazer política. Optou por esperar que algo sobrenatural aconteça, que o governo se desmanche sem ser combatido. Ao renunciar à política, abdica do Brasil.
Boa memória - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 21/09
Tive boas férias, obrigado. Como mandam as boas normas, fomos para bem longe - Argentina ou Uruguai, não me lembro bem, mas com certeza não Paraguai nem Bolívia, sem demérito para esses dois paraísos do turismo continental. Na verdade, pouco importa onde, o importante é sempre passá-las a boa distância das manchetes de casa, para arejar a cabeça e tentar recuperar o otimismo sobre as coisas nossas.
Quase com surpresa, descubro que as notícias do começo da semana parecem suíte (no dialeto das redações, suíte é continuação) do último jornal lido antes da viagem. Pouco importa: pelo menos no assunto político-penal mais importante dos últimos tempos - o julgamento do mensalão no STF, claro - as notícias são animadoras.
O ministro Joaquim Barbosa continua no ar, distribuindo penas severas para os implicados no grande escândalo. Até quinta-feira, a chuva de punições cairá nas cabeças de políticos aliados do PT, filiados a quatro partidos: PP, PR (antigo PL), PTB e PMDB, além de empresários ligados à tramoia. Outra notícia animadora é a revelação acidental, porque prematura, das penas sugeridas por Barbosa: vão de sete a 12 anos de cadeia, além de multas pesadas. É castigo de bom peso e também - vale a esperança - como alerta para todo candidato a espertalhão na vida pública.
Advogados dos réus protestaram, como era esperado e devido, e com argumentos até curiosos, como o de que o julgamento é cruel, por ser fatiado - o que, disse um deles, implicaria num fatiamento da honra dos acusados. Nenhum se atreveu a falar em inocência, o que é bastante significativo. E o mais leigo dos observadores poderia lembrar que aquilo que realmente importa é que as penas sejam proporcionais aos crimes. O tamanho das fatias é detalhe.
Para os partidos políticos, mesmo aqueles sem representantes no banco dos réus, é de grande importância tirar o melhor proveito possível da chuva de condenações que vem por aí. Isso significa estabelecer, no papel e na prática, normas severas de conduta para seus quadros. Por dois bons motivos: amor à ética e instinto de sobrevivência. Não podem esquecer que o processo do mensalão está sendo acompanhado pela opinião pública - graças, é bom lembrar, à farta cobertura da mídia.
E o eleitorado, com ajuda da mídia, costuma ter boa memória.
Tive boas férias, obrigado. Como mandam as boas normas, fomos para bem longe - Argentina ou Uruguai, não me lembro bem, mas com certeza não Paraguai nem Bolívia, sem demérito para esses dois paraísos do turismo continental. Na verdade, pouco importa onde, o importante é sempre passá-las a boa distância das manchetes de casa, para arejar a cabeça e tentar recuperar o otimismo sobre as coisas nossas.
Quase com surpresa, descubro que as notícias do começo da semana parecem suíte (no dialeto das redações, suíte é continuação) do último jornal lido antes da viagem. Pouco importa: pelo menos no assunto político-penal mais importante dos últimos tempos - o julgamento do mensalão no STF, claro - as notícias são animadoras.
O ministro Joaquim Barbosa continua no ar, distribuindo penas severas para os implicados no grande escândalo. Até quinta-feira, a chuva de punições cairá nas cabeças de políticos aliados do PT, filiados a quatro partidos: PP, PR (antigo PL), PTB e PMDB, além de empresários ligados à tramoia. Outra notícia animadora é a revelação acidental, porque prematura, das penas sugeridas por Barbosa: vão de sete a 12 anos de cadeia, além de multas pesadas. É castigo de bom peso e também - vale a esperança - como alerta para todo candidato a espertalhão na vida pública.
Advogados dos réus protestaram, como era esperado e devido, e com argumentos até curiosos, como o de que o julgamento é cruel, por ser fatiado - o que, disse um deles, implicaria num fatiamento da honra dos acusados. Nenhum se atreveu a falar em inocência, o que é bastante significativo. E o mais leigo dos observadores poderia lembrar que aquilo que realmente importa é que as penas sejam proporcionais aos crimes. O tamanho das fatias é detalhe.
Para os partidos políticos, mesmo aqueles sem representantes no banco dos réus, é de grande importância tirar o melhor proveito possível da chuva de condenações que vem por aí. Isso significa estabelecer, no papel e na prática, normas severas de conduta para seus quadros. Por dois bons motivos: amor à ética e instinto de sobrevivência. Não podem esquecer que o processo do mensalão está sendo acompanhado pela opinião pública - graças, é bom lembrar, à farta cobertura da mídia.
E o eleitorado, com ajuda da mídia, costuma ter boa memória.
A mulher de Cristo - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 21/09
É certo que, como ideia, ele é real. Em seu nome edificaram não uma, mas centenas de igrejas. Por isso mesmo é interessante saber se à figura mítica corresponde um personagem histórico de carne e osso.
O que salta à vista aqui é a notável ausência de documentação contemporânea aos supostos fatos. Há quase que apenas os Evangelhos, que tinham muito mais o objetivo de propagar a nova religião do que de registrar eventos. Para piorar, o mais antigo dos Evangelhos canônicos, o de Marcos, foi escrito ao menos 40 anos após a alegada crucificação, o que significa que não pode ser considerado uma fonte primária. Os evangelistas escreveram o que ouviram dizer, não o que testemunharam.
Há ainda umas poucas e rápidas menções a Jesus em autores não cristãos, como Flávio Josefo, Plínio, Tácito e Suetônio. Mas eles estão ainda mais longe dos fatos do que os evangelistas, e historiadores acreditam que essas referências podem ter sido introduzidas por copistas.
É claro que ausência de evidências não é evidência de ausência. Um Jesus histórico poderia perfeitamente ter existido mesmo que sua odisseia não tivesse sido capturada pela, em geral eficaz, burocracia romana.
Karen Armstrong, no excelente "Em Defesa de Deus", mostra que, muito mais do que o ateísmo ou o darwinismo, o que incomodou os religiosos do fim do século 19 e início do 20 foi o advento da alta crítica, um ramo da teologia que estudava a Bíblia e a vida de Cristo não como milagres, mas como fenômenos literários e históricos. Para Armstrong, o fundamentalismo cristão surgiu exatamente como uma reação a essa dessacralização das Escrituras.
Notas & objetivos - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 21/09
A eleição de São Paulo extrapolou os limites da cidade, envolvendo todos os partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff e da oposição. Essa inundação está clara nas notas divulgadas nos últimos dias. O
PSDB deu o primeiro lance, cobrando do ex-presidente Lula explicações a respeito do noticiário sobre supostas declarações do publicitário Marcos Valério. Ontem, mais de 24 horas depois de lançada a nota das oposições, os partidos da base de Dilma saíram em defesa de Lula, se referindo à cobrança da oposição como uma tentativa de “barrar e reverter o processo de mudanças iniciado por Lula, que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com distribuição de renda”.
Primeiro, aos fatos: Marcos Valério não veio a público dizer que Lula sabia de tudo e, para completar, seus advogados estão roucos de tanto dizer que o cliente não deu essas declarações. Em segundo lugar, os oposicionistas também, em nenhum momento, reclamaram dos avanços sociais que o país obteve no governo Lula. Querem apenas que o ex-presidente fale sobre esse julgamento do mensalão, que tanto abala o PT e envolve o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que foi peça chave na primeira campanha em que Lula saiu vitorioso.
A oposição não pediu nada demais. Apenas foi no embalo, criando um barulho sobre Lula — que sempre é bom registrar, não é réu no processo do mensalão. O PT, por sua vez, também tenta tirar seu proveito da situação. O partido de Lula não tira os olhos dos índices de Fernando Haddad em São Paulo. Coincidentemente, solta uma nota em defesa de Lula justamente no dia em que as pesquisas apontaram Haddad em ligeira queda e Serra estancando a sangria que o atingiu em agosto.
Diante desse quadro, há dentro do próprio PT quem diga que a nota tem mais o sentido de tirar Haddad da “estacionada” de seus índices na terceira posição e evitar que dê certo a estratégia do PSDB de vincular o candidato petista aos réus do mensalão, como José Dirceu. Isso para os petistas de São Paulo é muito mais importante hoje do que defender Lula. Diante disso, a torcida do PT com a nota divulgada ontem é a de que os avanços sociais obtidos no governo Lula pesem mais que o julgamento do mensalão na hora em que o eleitor paulistano escolher o seu candidato a prefeito.
Em tempo: muitos, ontem, diziam que se a nota tivesse um sentido eleitoral não estaria assinada pelo presidente do PMDB, Valdir Raupp. Ora, o PMDB jamais deixaria de atender um pedido que estivesse como objetivo declarado defender Lula. Mas, em conversas reservadas, até os peemedebistas dizem que o objetivo velado é alavancar Haddad em São Paulo. Afinal, se o ex-ministro de Lula e Dilma não estiver no segundo turno em São Paulo, o PT local não cobrará de Rui Falcão e sim do ex-presidente, que tirou todos de cena para deixar Haddad brilhar na avenida do PT. Faltou combinar com o eleitor. E, é justamente isso que a nota divulgada ontem pretende fazer agora.
Por falar em Lula…
A reunião que o ex-presidente marcou para 10 de outubro em Brasília será o primeiro grande encontro em que o partido pretende discutir não só eleições como também o mensalão. Já não era sem tempo o próprio partido avaliar o que ocorreu ali.
Enquanto isso, em Brasília…
Dia desses de muito calor na cidade, o ex-subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz — você se lembra dele, caro leitor? — estava numa confeitaria da cidade. Esbelto, porém forte, de bermudas, óculos escuros, semblante tranquilo. Para quem não se lembra, Diniz era o chefe da Assuntos Parlamentares nos tempos em que José Dirceu era o articulador político do governo Lula. Perdeu o posto depois de ser flagrado numa conversa de 2002 (portanto, antes do governo Lula) pedindo propina ao contraventor Carlos Cachoeira. Como é a vida… Waldomiro hoje aparenta tranquilidade, apesar dos processos. Já seu antigo interlocutor Cachoeira… Bem… Mas essa é outra história.
Chamada coletiva - SONIA RACY
O ESTADÃO - 21/09
Pudera. O total de reclamações pulou de 308 no primeiro semestre de 2011 para 1.654 no mesmo período deste ano – aumento de mais de 400%. Multas? R$ 250 mil.
Chamada 2
As queixas contra o Groupon passaram de 99 para 702. Foram registradas 276 ocorrências envolvendo o ClickOn este ano, contra 35 no ano passado. Os números do Peixe Urbano: 62 em 2011 e 190 em 2012.
Chamada 3
Conclusão? “Esses sites se lançaram no mercado sem preparo para o atendimento pós-venda ao cliente, que procura o Procon-SP para solucionar casos que poderiam ser resolvidos pela empresa”, declarou à coluna Arthur Góes, diretor executivo do órgão de defesa do consumidor.
Ajuda
Saiu das fornalhas estratégia para levar Haddad ao chão de fábrica. Ele participa de comício na porta da Ford, em São Bernardo do Campo, quarta-feira, ao lado de candidatos às prefeituras do ABC.
Vou de empresa
Em tempos pré-Copa e Olimpíada, é bom lembrar: além de meio de transporte, o táxi é negócio. Mote de campanha do Sebrae. Em SP, que tem 26 mil taxistas, serão distribuídos 2,6 mil kits educativos.
Haja saúde
Livro sobre lavagem de dinheiro foi lançado ontem em um… bar de Brasília. Com presença de advogados de réus do mensalão. Um dos autores é Pierpaolo Bottini– que defende o professor Luizinho.
Fogo!
E o Ibama já combateu mais de 3 mil incêndios em florestas este ano. Boa parte criminosa. Outro problema? O clima, que está mais seco do que nos últimos anos.
À tinta
Depois de anos e anos de disputa acionária, o conde Faber Castell comprou ontem a parte dos brasileiros na unidade Brasil.
Palavras e imagens
Walter Salles vai assinar a quarta capa de Tarkovski Instantâneo, que a Cosac Naify lançará na Mostra de Cinema de SP, em outubro. “Cada imagem parece conter todo o mistério e a dor do mundo”, diz Salles sobre o livro – que conta com polaroides tiradas pelo cineasta russo.
Some rest
Rodrigo Santoro foi a sensação do Gala BrazilFoundation, anteontem, em NY. À mesa, falou sobre as gravações da sequência de 300, na Bulgária, e contou estar animado para a estreia de Heleno no mercado americano, em dezembro. Novelas? TV? “Por enquanto, não. Tenho feito mais projetos especiais.”
Próxima etapa? “Quero descansar um pouquinho.”
Sobre as cidades
A duas semanas do primeiro turno das eleições, a metrópole paulistana estará em debate no Auditório Ibirapuera. Dias 24 e 25 acontece o Arq.Futuro, encontro de arquitetos e urbanistas brasileiros e estrangeiros que discutirá os melhores caminhos para as grandes cidades. Alem de Thaddeus Pawlowski, do departamento de planejamento de NY, estarão em São Paulo Carlo Ratti, do MIT, Tod Williams e Billie Tsien (especialistas em espaços públicos), Alejandro Aravena (autor da meia-casa popular chilena), Angelo Bucci, Otávio Zarvos e Isay Weinfeld. A organizadora, Marisa Moreira Salles, da Beï, falou à coluna.
Os candidatos a prefeito de SP vão participar do evento?
Teremos uma mesa – segunda, no Insper – em que abordaremos os principais problemas de São Paulo com os três principais candidatos à Prefeitura.
São Paulo ainda tem solução?
Tem, sim. Está em uma encruzilhada, mas pode, com planejamento, investimento em mobilidade, qualidade de moradias e serviços, com convívio misto, se tornar a cidade em que gostaríamos de viver. Podemos seguir o caminho de Nova York, com administrações voltadas à reconstrução.
Uma mesa que chama a atenção é a de “habitação social”. O que significa essa expressão?
Hoje em dia, o que temos são guetos de ricos e guetos de pobres. Um apartheid, que não traz benefício a ninguém. Por isso, falamos em habitação social e propomos as zonas mistas, com a integração de moradia, trabalho e serviços para os diversos extratos sociais. Assim, a cidade se torna mais segura, pois está povoada dia e noite. Ganha-se em qualidade de vida também – as pessoas passam a andar mais, se exercitar, evitar o estresse do trânsito, trocar experiências. É muito mais saudável.
Cidades como SP se tornaram vítimas da indústria do automóvel?
Acho que o grande luxo da vida não está no pobre ter carro, mas, sim, no rico andar de transporte público. No dia em que a gente puder conquistar SP a pé ou de ônibus e metrô, com conforto e segurança… aí teremos uma cidade de verdade.
Subdesenvolvimento puro - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 21/09
A publicação de mais charges satirizando o profeta Maomé por uma revista francesa, "Charlie Hebdo", faz antever novas manifestações violentas no Oriente Médio.
Alguns já se perguntam se, de fato, vale a pena que sistemas jurídicos de países democráticos deem guarida a manifestações que poderiam ser classificadas como provocação. E a resposta só pode ser um inequívoco "sim".
Ninguém é obrigado a gostar das charges nem do filme produzido nos EUA que deflagrou a onda de protestos, mas é essencial que se preserve o direito das pessoas de exprimir o que bem entendam. E essa liberdade só faz sentido se for robusta, ou seja, se abarcar até aquilo que a maioria considera errado, ou mesmo repugnante.
Defesa tão veemente da liberdade de expressão poderia parecer um capricho, comparável ao fundamentalismo daqueles que querem blindar cultos e profetas de críticas e sátiras. Mas há uma diferença crucial: enquanto a proteção almejada por religiões serviria apenas para evitar que se questionem seus dogmas, a afirmação do direito de dizer o que se pensa está na origem das principais conquistas da civilização ocidental.
Para começar, a liberdade de expressão é indissociável da própria noção de democracia representativa. A possibilidade de crítica ampla é decisiva não apenas para controlar governantes como também para constituir um eleitorado razoavelmente bem informado, que é a base do sistema.
Mais que isso: se ideias, teorias e evidências não pudessem ser livremente discutidas, a ciência, com todos os confortos tecnológicos que acarreta, caminharia bem mais devagar -se é que se moveria.
Mesmo no campo da moral, tão cara a religiosos, a liberdade de expressão, ao assegurar que todos os temas possam ser discutidos sob todos os aspectos, ajuda a sociedade a encontrar o equilíbrio entre mudança e estabilidade.
A própria noção de modernidade implica aceitar que costumes, tradições e crenças são históricos e se alteram na esteira das transformações da sociedade e do conhecimento objetivo sobre o mundo.
A aversão do fanatismo islâmico à crítica e aos direitos do indivíduo, assim, é um dos fatores que impedem o avanço institucional e científico das sociedades em que se torna dominante -ou seja, impedem seu próprio desenvolvimento. Até que se deem conta da contradição, muito sangue será vertido.
Os traços da islamofobia - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 21/09
Eis dois problemas próprios das sociedades livres. O primeiro é como conciliar o direito à plena expressão com a proteção dos indivíduos e grupos humanos contra as manifestações que - a seu ver - os ridicularizem, ofendam ou, no limite, instiguem contra eles a intolerância. O segundo problema é como distinguir, caso a caso, a intenção deliberada de ultrajar do exercício legítimo da crítica a crenças, atitudes e costumes, ainda que venham a ferir os sentimentos dos criticados. São bons problemas, esses. É melhor tê-los do que viver sob regimes ou culturas - que ainda predominam em amplas áreas do globo - nos quais o único direito assegurado de expressão é o de ser a favor da verdade dominante. Mas deve-se reconhecer também que o sistema de liberdades, conquanto precioso, pode ser pervertido para servir à propagação do ódio.
Ironicamente - ou não - é o que está na ordem do dia nos dois primeiros países que erigiram a liberdade como supremo valor político e cívico e com isso criaram a era moderna: os Estados Unidos, desde a sua constituição, em 1776, e a França, desde a Revolução de 1789. Ambos estão às voltas com as consequências de ações cujos autores tinham o direito de praticar, mas, por tê-las praticado, merecem o repúdio das pessoas civilizadas de qualquer quadrante. No episódio mais escabroso, o egípcio-americano Nakoula Basseley Nakoula, um cristão copta residente na Califórnia e condenado por fraude bancária, escreveu, produziu e distribuiu um vídeo abjeto - A inocência dos muçulmanos - que faz do profeta Maomé um personagem pornográfico. Como se sabe, um trailer de 14 minutos da fita foi parar na internet, convulsionando na semana passada o mundo islâmico, da Tunísia à Indonésia. Na Líbia, um ataque ao consulado dos EUA em Benghazi matou, entre outros, o embaixador americano.
Hoje, dia sagrado para os muçulmanos, temem-se novas explosões de fúria. Na quarta-feira, o tabloide satírico francês Charlie Hebdo (fundado em 1969, fechado em 1981 e relançado em 1992) publicou uma série não menos infamante de caricaturas de Maomé. O editor do pasquim, Stéphane Charbonnier, alegou tratar-se de uma crítica aos protestos dos dias anteriores. É um reincidente: em novembro passado mandou às bancas uma edição, "preparada" pelo Profeta, intitulada Charia Hebdo, em alusão à sharia, a lei islâmica. Desde então está sob proteção policial. É de lembrar que, há sete anos, desenhos de Maomé com um turbante em forma de bomba, publicados por um jornal dinamarquês, provocaram tumultos que deixaram mais de 100 mortos. Perto das baixezas do vídeo americano e dos cartuns franceses, aquelas caricaturas podiam passar por uma denúncia cáustica do fanatismo terrorista - embora seja imperdoável considerar o Islã uma cultura homicida por definição.
Na realidade, são três expressões de islamofobia - a aversão aos árabes e demais muçulmanos, compartilhada pela direita religiosa americana e por setores crescentes da população laica europeia. (Em 2009, o editor anterior do Charlie, o comediante Philippe Val, que se dizia de esquerda, foi nomeado diretor da emissora estatal France Inter pelo presidente Nicolas Sarkozy, depois de engajar o semanário na defesa do projeto que bania o uso de véus nas escolas públicas do país.) Além de insuflar o sentimento antiárabe - pelo que associações islâmicas na França pretendem processar o tabloide -, tanto o vídeo como as caricaturas foram feitos com a intenção insana de infligir sofrimento aos muçulmanos, ao humilhar o fundador de sua fé. Invocar a liberdade de expressão para justificar atrocidades morais a centenas de milhões de pessoas atenta antes de tudo contra os valores da contemporânea civilização ocidental.
É verdade que a cultura de massa nos países islâmicos está impregnada de mensagens antissemitas. Porém, deste lado do mundo, pessoas decentes, de qualquer credo ou nenhum, não podem aceitar que se pratique a mesma infâmia contra os seguidores de Maomé. A censura decerto é inconcebível, mas o incitamento ao ódio, quando caracterizado, deve ser punido como o crime que é.
A COISA TÁ RUSSA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 21/09
A equipe da presidente Dilma Rousseff em Brasília já recebeu relato pessimista da eleição em SP: o petista Fernando Haddad mantém chance de ir ao segundo turno -mas tirar a eleição de Celso Russomanno (PRB-SP) seria missão quase impossível.
DÁ NA MESMA
O quadro em nada se altera, nos relatos enviados pelo PT a Brasília, no caso de José Serra (PSDB-SP) manter dianteira de Haddad e passar ao segundo turno. O tucano, com rejeição de 44%, poderia ser derrotado até por margem maior, como já registrado pelas pesquisas.
POEIRA
Neste contexto, a missão agora, dos dois partidos, seria a de impor ao outro um constrangedor terceiro lugar na eleição.
TROPA
E nos próximos dias ministros do governo Dilma que são de SP devem intensificar sua aparição na campanha de Haddad.
VOZ DE MULHER
Réus do mensalão receberam informação de que Renilda Santiago, a mulher de Marcos Valério, pivô do mensalão, também estaria dando a "familiares e amigos" informações sobre a convivência do publicitário com personagens ilustres do PT, como Paulo Okamoto.
LINHA CRUZADA
A preocupação de alguns deles é até maior com Renilda do que com Valério, com quem ainda seria possível manter diálogo.
PAPO FIRME
Okamoto, braço direito do ex-presidente Lula, já admitiu que conversou recentemente com Valério.
Mas para tratar apenas de política.
COMO PODE?
Do cineasta Fernando Meirelles, que vem evitando se engajar em campanhas, em mensagem postada no Twitter: "35% de intenção de voto para Russomanno, e ainda não conheci ninguém que vai votar nele".
"SP é mesmo um assombro", completou o diretor.
NAMORADINHA
A mostra "Espelho da Arte - A Atriz e seu Tempo", sobre os 50 anos de carreira de Regina Duarte, chega a SP em novembro; na foto, Regina é a Patrícia da novela "Minha Doce Namorada" (Globo, 1971)
2013 SEM-VERGONHA
Michael Fassbender, o protagonista do filme "Shame", passará o Ano-Novo em Salvador, onde mora sua irmã.
ARTE E MÚSICA
Luiza Possi, Ana Cañas, Filipe Catto e a italiana Chiara Civello vão cantar com Ana Carolina no show "Ensaio de Cores", que ela apresenta de hoje a domingo no HSBC Brasil. No saguão do espaço, 15 telas pintadas pela cantora.
NOVA RICA
A advogada Regina Manssur, que tem um escritório na frente do Jóquei de SP, diz estar negociando sua entrada em "Mulheres Ricas", da Band. "Desde que o programa não trate de futilidades", diz ela, que já teve entre seus clientes Fernando Collor e Maria Christina Caldeira, ex-mulher do réu do mensalão Valdemar Costa Neto.
EX-RICA?
Já Narciza Tamborindeguy, que voltou de viagem pela Europa anteontem, não sabe se estará no programa. "Minha agente está conversando com eles, mas faz tempo que não tenho notícia", diz. Por enquanto ela faz campanha para a irmã Alice, candidata à prefeitura de São Gonçalo (RJ) pelo PP.
SILÊNCIO, POR FAVOR
A Orquestra Sinfônica Brasileira vai apresentar a peça "4'33", do norte-americano John Cage. Na obra, os músicos ficam em silêncio por quatro minutos e 33 segundos -o maestro vira as páginas da partitura, mas mantém a batuta parada. Será no dia 19 de outubro, no Theatro Municipal do Rio, e dois dias depois na Sala São Paulo.
PIADA VELHA
O humorista Marcelo Mansfield, a atriz Dani Tesolin e Mingau, baixista do Ultraje a Rigor, comemoraram aniversário no clube Mono, na rua Augusta. O comediante Léo Lins foi à festa que teve apresentação de Melissa Comunalle, anteontem.
ARTE COM 'E'
O livro "Contemporary Art Brazil", coordenado por Maria do Carmo Pontes, foi lançado na Pinacoteca na segunda. O secretário de Energia José Aníbal e a mulher, Edna Pontes, foram à noite de lançamento, no centro.
CURTO-CIRCUITO
O chef Francesco Carli, a monja Coen, a colunista da Folha Danuza Leão e o carnavalesco Paulo Barros falam sobre viagens no Fórum Alatur, na Fecomercio.
O Icesp promove hoje, às 14h, um "dia de modelo" com 60 mulheres em tratamento de câncer de mama.
Odair José se apresenta hoje no Studio SP. 18 anos.
O "Cabaré Show" é hoje, no Espaço Offset, em Pinheiros, às 22h. 18 anos.
A Mostra de Mímica Contemporânea abre hoje, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro.
"O Barbeiro de Sevilha" inicia hoje, às 20h, temporada no Theatro São Pedro.
Avenida Brasília - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 21/09
Por graça do acaso, os dois maiores sucessos populares do ano, a novela Avenida Brasil e o julgamento do mensalão, vão terminar juntos, ou quase. Condenados e absolvidos pelo Supremo vão se misturar com personagens amados e odiados pelo público, vilões e heróis da ficção e da realidade terão seus destinos cruzados na história viva do País.
Nina e Carminha foram capazes das piores vilanias, mas também poderão ser vistas como heroínas. Não por suas obsessões doentias pela vingança e pelo poder, mas como sobreviventes dos lixões da vida, que, movidas pela paixão, são levadas a comportamentos heroicos na luta por seus objetivos conflitantes.
Roberto Jefferson e José Dirceu também foram capazes das piores vilanias, mas por suas causas partidárias e objetivos políticos. Movidos por seus instintos mais primitivos, tentam se mostrar heroicos no mensalão, um como mártir da verdade e o outro, de uma conspiração das elites. Dirceu diz que o PT pode ter todos os defeitos, menos a covardia. A "omertà" de Delúbio fez dele um herói, mas Dirceu se imolará por Lula?
Mas o grande herói da novela do mensalão é o ministro Joaquim Barbosa, que passou como um tufão sobre a impunidade de políticos, empresários e banqueiros. Sua já famosa foto de costas, com sua capa negra de Batman justiceiro, virou um ícone que se espalha como um vírus de esperança pela internet, anunciando que a coisa está preta, no bom sentido, para os malfeitores. As redes sociais gritam "Barbosa, guerreiro do povo brasileiro".
A competência, a independência e a integridade do ministro Joaquim e das ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber tem feito mais pelo orgulho e progresso de negros e mulheres do Brasil do que todos os discursos e campanhas feministas e racialistas recentes.
A grande diferença é que a novela acaba e o mensalão continua, ultrapassando a ficção. Quem diria que mais vilões seriam condenados e presos no mensalão do que na novela? Cenas dos próximos capítulos: seguindo a jurisprudência do Supremo, os elencos dos mensalões de Minas e de Brasília serão condenados pelos juízes, a opinião pública e a história. Oi oi oi.
"Debate Doriana" morreu - BARBARA GANCIA
FOLHA DE S. PAULO - 21/09
Chega de respostas ensaiadas. Finalmente alguém se dispôs a amassar a roupa dos candidatos
"O senhor sempre foi considerado um bom administrador...". Deveria ter evitado essa, na sabatina da Folha com Serra na última sexta? O candidato diante de mim, um dos seres mais vaidosos da face da terra, encheu o peito como se dissesse, "Está vendo só? Não sou eu que estou dizendo, é a Folha de S.Paulo". Imediatamente, o Twitter saiu dando bicadas nesta humilde datilógrafa: "Filha disto e daquilo!" "Vendida, você e o seu jornal!"
Sou obrigada a confessar que tenho um hábito horroroso, costumo concordar com a ombudsman em tudo o que ela diz, mesmo nas vezes em que tece críticas ferozes contra mim. Talvez o fato de ela ter sido minha editora por mais de dez anos em estado de harmonia absoluta tenha algo a ver com isso.
Pois, no último domingo, a ombudsman, ou seja, a voz do leitor dentro da Redação, afirmou que faltou isenção à Folha na hora de inquirir o candidato Celso Russomanno, na série de sabatinas que o jornal promoveu com os prefeituráveis de São Paulo. Disse ela que enquanto José Serra e Fernando Haddad foram tratados com respeito, Russomanno "sofreu um tiroteio". O próprio candidato alegou ter passado por "um massacre".
Ora, ora, ora. Como participei de todas as sabatinas, gostaria de expor meu ponto de vista. Fui abordada por um jovem de Campo Grande (se bem me lembro) na saída da última sabatina (com Serra). O rapaz me contou que assistira a todas que fizemos (Chalita, Soninha, Russomanno, Haddad e Serra) e queria saber: "Por que vocês, a senhora em especial, pegaram tão pesado com todos e só aliviaram para Serra e Haddad?" Respondi que com Haddad talvez eu tivesse falhado na minha missão.
Quem sabe a falta de repertório, o bom-mocismo e o plano de governo cheio de generalidades não tenham tornado a conversa insípida? Sua colocação nas pesquisas não evidencia esse desinteresse? Já com Serra, a troca foi vigorosa, tanto é que ele mal me cumprimentou ao sair.
Mas há, sim, candidatos de gamas diversas nesta eleição. Vão dos populistas clássicos aos bonecos de posto de gasolina, que existem só para entreter a molecada. E é impossível manter o mesmo tom entre esferas tão distintas. O esforço pela imparcialidade, aliás, foi o que gerou o problema. Foi ele que produziu debates engessados nos formatos de hoje -com perguntas previsíveis que candidatos são treinados por especialistas a responder. A Folha quebrou o padrão.
É claro que é um risco colocar a Barbara Gancia, não exatamente especialista em política, para debater com Russomanno. Mas a vida real não é uma sabatina ordenada.
E se Russomanno fica cabreiro porque não o deixei enveredar pelo caminho do Maluf, que dá respostas quilométricas para perguntas que não foram formuladas em vez de responder aquelas que foram, então me desculpe, mas ele não deveria ter saído candidato a prefeito.
Não sei por que a Folha me convidou, ninguém me informou até agora. Mas minha comentada (eufemismo para criticada) presença na sabatina (Haddad e Serra ameaçaram não vir depois do show com Russomanno) serviu para sinalizar que o ouvido do eleitor não é penico.
Chega de respostas prontas, abaixo o "debate Doriana", com cara de família feliz. A Folha está disposta a ver o linho da roupa dos candidatos ser amassado. Qualificar de "comentário tucano" a assertiva de que o Serra é conhecido bom administrador é de uma infantilidade sem fim.
Eu não estava ali para "ganhar" ou "perder" do Serra, mas para conhecê-lo (infelizmente) melhor. Sendo assim, parabéns à Folha por propor, para variar, um jeito novo de fazer.
No interior do Paraná, saltimbancos que somos - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 21/09
GUARAPUAVA, PR - Cinco da manhã, Marina Colasanti, pontualíssima, apesar da hora, desceu do seu apartamento no hotel, o motorista levou sua mala para o carro. Atravessamos a cidade deserta. Por que as cores dos semáforos parecem mais vivas no vazio da madrugada? Durante uma hora viajaríamos no escuro, até que as sombras se retirassem. Na noite anterior tínhamos ido dormir quase à meia-noite, após uma conversa inesquecível no Sesc local. Ao final, fomos rodeados por estudantes e professores para os inevitáveis autógrafos e fotografias que pipocam na rede social minutos depois.
Passei uma semana como um homem privilegiado. Porque enquanto a plateia se sentava distante para ouvir Marina, fiquei ao lado dela. Sua fala é precisa, exata. Não desperdiça palavras e cada momento vem cheio de poesia, informação, visão de mundo. Se o mediador conduz para o feminismo, ela traz intensa bagagem. Se fala de contos de fadas, crônica, poesia, ensaio, ela surfa equilibradíssima sobre a onda. Escreve e ilustra os próprios textos, o que significa domínio total.
Não tínhamos muito tempo para jantar em restaurante após os debates. No entanto, experientes em viagens pelo Brasil, saíamos à tarde, procurando uma padaria. Marina é assim. Está à vontade, seja num restaurante parisiense como o Chez René, onde estivemos juntos em maio (Lembram-se da crônica Os Primeiros Aspargos da Primavera?), seja na padaria Real, em Umuarama, deliciando-se com um beirute saboroso, num pão sírio delicado. Nós é que fazemos o momento. Em Maringá, escritores locais, da Academia, nos ofereceram um jantar. Mas em Umuarama, Paranavaí, Campo Mourão e Guarapuava, fomos a padarias e lanchonetes, porque preferimos comer lanches rápidos, misto-quente, pingado de café com leite, antes das palestras, para dormir leve, uma vez que a cada dia saíamos cedo de uma cidade para outra, saltimbancos que somos.
Três horas de Maringá a Umuarama. Duas e meia de Umuarama a Paranavaí. Duas e meia até Campo Mourão. Anos atrás, demorei a saber de onde tinha vindo uma empregada nossa. Ela dizia: Camorã. Até que descobrimos, era Campo Mourão. Duas horas e meia até Guarapuava, sempre rodando numa van. Incrível como o Paraná, Estado agrícola que depende do tráfego de caminhões, possua estradas que parecem vicinais, pistas únicas. Tudo se torna lento. Entre Maringá e Umuarama, a certa altura, havia um desvio por causa de um acidente. O congestionamento se estendeu. Contei 113 caminhões enfileirados formando uma muralha como a da China.
Entre os dias 10 e 14 deste mês, autores como Marina, João Gilberto Noll, Luiz Henrique Pellanda, Luiz Andrioli, Nivaldo Kruger, Angela Ruski, Norbert Heinz, e eu, levados pelo Sesc, atravessaram o interior do Paraná, cruzando-se em algumas cidades. Uns na direção inversa dos outros, conversando com o público sobre o tema Reinventar-se em Busca do Leitor. Fazia anos que não penetrava no interior do Paraná. As cidades mais novas - novas, mas com 75 anos - trazem ruas e avenidas largas e praças imensas, os pioneiros tiveram o bom senso de ampliar o espaço público. E muita vegetação, árvores e mais árvores, ainda que as araucárias sejam raras. A seca castiga e o que se vê entre Maringá e Campo Mourão são campos de cana, pastos, e silos, silos. Totens gigantescos de cor prateada. Depois, entre Campo Mourão e Guarapuava e em seguida na direção de Curitiba, a paisagem muda, torna-se mais colorida, estendendo-se em plantações de soja, ora verdes, ora douradas. Ou, tendo os grãos já sido colhidos, resta a terra revirada e seca. Colinas e serras, a rodovia enrola-se em curvas e nas manhãs há neblina e orvalho brilhando sobre as folhas.
Há escritores difíceis, há escritores complicados para se conviver, trabalhar ou viajar juntos. Há escritores que se acham. Fazem exigências de hotel, condução, comida, camarim, como se fossem primas-donas. Mas há escritores que proporcionam prazer e alegria de estar ao lado. Como Marina, cujo nome atrai plateias ansiosas, seduzidas pelo seu texto e sua simplicidade, pela sua doçura e seu envolvimento. Ao falar, ela provoca, mexe com as cabeças, embala as pessoas. Contadora de histórias, seu tom de voz se alterna entre o musical e a dureza de uma afirmação contundente, principalmente sobre a condição da mulher brasileira. Estar ao lado dela é sentir-se estimulado a trabalhar bem.
O último encontro em Guarapuava, para mim, teve dos mais belos finais entre todas as mesas de que participei em muitos anos. Com uma memória e um conto. Realidade e ficção. Para fechar, contei uma história sobre meu avô, lembrança que é tema de meu próximo livro, Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos. Gira em torno de uma caixinha vermelha, envernizada, na qual meu avô José guardou, por décadas, preciosas bolinhas coloridas de vidro, que tinham imenso significado em sua vida. Um dia, as bolinhas sumiram, porque surrupiei todas e as perdi nas calçadas, e ele ficou muito mal.
Marina narrou o conto de uma princesa que, a cada aniversário, ganhava do rei, seu pai, uma pedra preciosa que guardava numa caixinha. Aos 15 anos, ele iria montar para a princesa o mais belo colar do mundo. No entanto, a princesa tinha dado, pedra a pedra, a um pássaro faminto que chegava em sua janela, em cada aniversário. A caixinha esvaziou, assim como esvaziou a caixa de bolinhas coloridas de meu avô. Sem que um soubesse do outro, porque esses encontros são improvisação constante e neles as conversas tomam rumo próprio, colocamos no palco duas caixas que mexeram com a imaginação e a emoção da plateia, provocando lágrimas e aplausos.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 21/09
Primeiros genéricos lançados ainda mantêm setor
A indústria de genéricos se sustenta hoje por medicamentos que ela colocou no mercado no máximo até 2003.
De todas as unidades de remédios da categoria que são vendidas, 85% são aqueles que o setor chama de "drogas maduras", ou seja, medicamentos registrados entre 2000 e 2003.
No faturamento, a participação é de 79%, segundo a ProGenéricos, entidade que reúne a indústria.
Os medicamentos que tiveram patentes expiradas desde então representam menos para o segmento, mas devem ganhar relevância com maior velocidade do que ocorreu com os anteriores, quando o setor ainda era embrionário, segundo Telma Salles, presidente da associação.
"Quando lançamos algo no mercado, leva tempo para que seja conhecido. Mas o importante é que o acesso aos produtos pela população cresceu nesses anos."
A justificativa para tamanha relevância dos produtos "maduros" ainda hoje, segundo a executiva, é a lacuna, entre 2003 e 2007, em que um volume menor de patentes expirou no período.
"Houve uma forte leva até 2003. Após um período de menor volume, o mercado voltou a ter registros de genéricos depois de 2007. A maturação será mais rápida."
Entre os 20 mais comprados na categoria, apenas um, para disfunção erétil, foi lançado após 2003.
"Quando lançamos algo no mercado, leva tempo para que seja conhecido. Mas o importante é que o acesso aos produtos pela população cresceu nesses anos"
TELMA SALLES
presidente da ProGenéricos
BEBIDA PARA MAIORES
O presidente da Ambev, João Castro Neves, vai visitar bares, restaurantes e supermercados de São Paulo nesta semana em razão de uma campanha anual pelo consumo responsável.
A ideia é sensibilizar os donos de estabelecimentos a não vender bebidas alcoólicas a menores.
A ação recebeu 35% a mais de investimentos neste ano, na comparação com 2011.
Haverá a doação de 2.000 bafômetros para Paraná e Pernambuco.
Os equipamentos se somarão aos 90 mil aparelhos entregues pela empresa de bebidas ao governo de diversos Estados nos últimos anos.
Casa com cerveja Um condomínio residencial com minicervejaria artesanal será lançado amanhã em Betim (MG). A MIP Edificações e a Pingo Imóveis estão investindo R$ 20 milhões no projeto.
MADRUGADA DE ACIDENTES
Pouco mais de 20% dos acidentes com motoristas brasileiros que acontecem na madrugada resultam na perda total do veículo, de acordo com levantamento da Liberty Seguros.
Durante a manhã, a tarde e a noite, o índice é de 7,11%, 6,43% e 7,81%, respectivamente.
No período da tarde, a maioria das batidas de carros acabam com perdas parciais dos veículos (89,75%).
Do total de incidentes registrados à noite, 7,83% são roubos totais.
A empresa de seguros analisou 107,7 mil acidentes ocorridos entre agosto de 2011 e julho de 2012.
REVOLUÇÃO DA CLASSE MÉDIA
A crescente classe média dos países emergentes deverá ser a principal fonte de mudanças no setor de varejo em 2020, de acordo com levantamento da EIU (Economist Intelligence Unit) feito com 300 executivos do setor.
Dos entrevistados, 36% afirmaram que a nova classe será a responsável pelas alterações. Em seguida, apareceram as tecnologias que ainda estão em fase de desenvolvimento (34%) e o aumento da competitividade (33%).
Os executivos também disseram que a importância das lojas físicas irá diminuir. Cerca de 25% dos ouvidos pretendem reduzir o número de suas unidades.
REDE DE EXPERIÊNCIAS
A Braskem pretende criar uma rede empresarial para análise de ciclo de vida de produtos industriais.
A iniciativa tem o objetivo de trocar experiências no acompanhamento da produção, desde a extração da matéria-prima até o descarte.
A Philips e a Danone confirmaram interesse em participar e outras empresas também já foram convidadas.
A reunião inaugural deve ocorrer no próximo mês, ainda sem data marcada.
Informática
O grupo Microcamp abriu uma nova empresa, a McTech, para dar apenas cursos de softwares da Apple. Dez unidades serão inauguradas no Rio em doze meses.
Em Pernambuco
A consultoria FBM, que tem seis escritórios no país e um em Hong Kong, abrirá sua primeira unidade no Nordeste em outubro. O escritório será em Recife.
Esquerda, partidos e instituições - LUIZ SÉRGIO HENRIQUES
O ESTADÃO - 21/09
A esquerda política, compreendida na variedade das suas manifestações, nem sempre teve uma atitude madura em relação à institucionalidade democrática e aos seus efetivos problemas de funcionamento na vida real. Muitas vezes absorvida no tema do partido e da chegada ao poder, a partir do qual se transformaria toda a sociedade no sentido da justiça e da igualdade - em si, finalidades inatacáveis -, essa parte do espectro político em geral não considerou devidamente, quando não os abandonou de todo, aspectos inerentes ao exercício do poder e às suas articulações institucionais, como, entre outras, a questão da alternância ou aquela outra, crucial, dos direitos e garantias individuais diante de todo e qualquer tipo de poder - inclusive nas sociedades "pós-revolucionárias", a exemplo das surgidas a partir de 1917 e que hoje, como sabemos, são apenas um retrato na parede.
Deixando de lado a vertente social-democrata do movimento operário e concentrando-nos na tradição comunista, era evidente, na esteira de 1917, a expectativa messiânica na instauração, em prazo mais ou menos curto, de uma "internacional" de trabalhadores, acima e além de divisões tidas como secundárias, como as demarcadas pelas fronteiras nacionais.
A "democracia burguesa" não tinha cabida num cálculo que entendia estrategicamente toda a época como a da passagem para a revolução proletária: ela, a democracia, era antes um dispositivo puro e simples de dominação em contextos mais sofisticados, uma vez que, em situações extremas, a aberta ditadura de classe revelaria a verdade oculta sob o véu diáfano da fantasia. Estabelecida a existência das duas classes fundamentais em luta frontal, o dispositivo democrático permitiria a dominação da classe burguesa sobre a proletária e o controle sobre os demais estratos intermediários, certamente majoritários na sociedade, mas não estrategicamente situados no mundo fabril, quer como proprietários, quer como assalariados.
Uma tal descrição sintética de fatos pretéritos, necessariamente empobrecedora, não pode ignorar que essa mesma vertente comunista da tradição das esquerdas conheceria com o tempo, especialmente nas nações mais avançadas do Ocidente capitalista, alterações significativas. Na luta contra o fascismo, estabeleceram-se frentes populares com democratas e liberais, apesar da pesada hipoteca stalinista. No pós-guerra, partidos comunistas de países importantes, como a Itália, a França e até o Brasil, tiveram papel proeminente no reerguimento das Repúblicas democráticas abertas ao tema social. E a ilegalização desses partidos, onde ocorreu, teria efeitos catastroficamente duradouros não só sobre a esquerda em particular, na representação que lhe é própria (mas não exclusiva) dos setores populares e subalternos, mas sobre o sistema político como um todo.
Desgraçadamente, foi o caso do velho PCB e do Brasil, e está aí para comprová-lo o livro admirável de Gildo Marçal Brandão sobre A Esquerda Positiva: as Duas Almas do Partido Comunista, 1920-1964 - a alma revolucionário-insurrecional, que fez a sua irrupção estridente no putsch de 1935 (mas não no movimento de massas da Aliança Nacional Libertadora, a ANL, que o antecedeu e bem merecia um outro desfecho, não militarista); e a alma reformista, propugnadora, precisamente, de reformas econômicas e sociais que ampliassem progressivamente o capitalismo brasileiro e democratizassem a sociedade nos quadros da Constituição de 1946.
Pode-se dizer, hoje, que aquelas duas almas não se conciliaram e do seu conflito não surgiu uma solução fecunda. A própria adesão plena e consciente de uma parte dos comunistas do velho PCB à institucionalidade democrática só se daria, efetivamente, nos caminhos da resistência ao regime de 1964: desde o primeiro momento, aquela alma reformista esteve presente ao lado de liberais e democratas na resistência legal ao regime, aproveitando os espaços eleitorais e demais formas de mobilização pacífica, recusando a luta armada e colocando como perspectiva as bandeiras da anistia e da Constituinte.
A História é pródiga em ironias: dois ícones liberais da velha frente democrática, Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, jamais recolheriam o fruto do seu inalterado empenho cívico dos tempos de chumbo. Ulysses, aliás, teria votação pífia nas primeiras eleições presidenciais sob a vigência da nova Constituição. À esquerda, com a crise global do comunismo e, no plano interno, do velho partidão, havia emergido um partido novo, com vocação hegemônica, supostamente consciente das limitações da experiência do socialismo real e dos seus partidos comunistas. Contudo um dos atos mais emblemáticos desse novo partido seria recusar a presença de Ulysses no segundo turno das eleições presidenciais de 1989, assim como, pouco antes, tergiversara canhestramente na assinatura e na homologação da mais avançada das Constituições brasileiras, bem ao contrário da atitude do PCB em 1946.
O retrato na parede, de itabirana memória, talvez não seja de todo inocente. Pode ser que esteja ali a nos lembrar o quanto os malogros e as insuficiências do passado - em primeiro lugar, a situação de ilegalidade ou de mera tolerância, entre 1958 e 1964, a que esteve submetido o PCB - pesaram, e ainda pesam, sobre a nova esquerda dos nossos dias. O desprezo pelo Parlamento, demonstrado nos fatos que originaram a Ação Penal 470, ou a perplexidade diante de um Judiciário no uso normal das suas atribuições de Poder da República, possivelmente derivam, feitas todas as mediações históricas, de velhas categorias que relegavam a um plano secundário as formas tidas como "vazias" da democracia política, quando, segundo esse raciocínio torto, os valores mais altos de um processo "substantivo" de transformação supostamente se alevantam.
Poucos produtos e mercados - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 21/09
Está tudo menor este ano na balança comercial. As exportações caem, as importações, o saldo e a corrente de
comércio, também. Além da crise na Europa, a China está comprando menos do mundo e pesam as medidas protecionistas da Argentina, nosso terceiro principal parceiro. Vendemos mais para os EUA do que para o Mercosul. A soja passou o minério de ferro.
No acumulado de janeiro até a segunda semana de setembro, a média diária de exportações está 4,4% menor. As importações caíram 0,5%, enquanto a corrente de comércio encolheu 2,6%. O que chama atenção é que a redução do saldo comercial: -32%, pela média diária. Em valores absolutos, o saldo foi de US$ 14,8 bilhões, contra US$ 21,3 bilhões de 2011. Isso mostra que a queda do preço das commodities afeta diretamente o desempenho brasileiro.
Depois de dois anos de forte crescimento, a expectativa é que 2012 seja um ano de estagnação no comércio externo.
— O pano de fundo é a queda da demanda mundial e um comércio mais fraco pela crise nos países ricos. O preço do minério de ferro caiu, mas a receita de soja ficou maior. O dólar mais fraco tem ajudado na exportação de manufaturados — explicou o economista Rodrigo Branco, da Funcex.
As greves dificultaram embarques e desembarques de produtos. Houve paralisação em vários órgão, como na Receita Federal, no Ministério da Agricultura, na Anvisa e Guarda Portuária.
A soja passou ao primeiro lugar da pauta, deslocando o minério de ferro. A exportação do complexo soja foi de US$ 21,2 bi, maior do que a de minério de ferro e concentrados, de US$ 20,4 bi. A receita com minério de ferro caiu 23,9%, enquanto a de soja em grãos subiu 22%. Minério de ferro, soja e petróleo continuam sendo os três principais itens de exportação. Representam cerca de um terço de tudo que vendemos para o exterior. O agronegócio como um todo é 39% da pauta.
As exportações para os americanos foram maiores do que para todo o Mercosul em US$ 3 bilhões. É a primeira que isso acontece desde 2008.O Brasil vendeu 13,4% a mais para os EUA e 16,2% a menos para os parceiros de bloco. Ainda assim, continuamos a ter déficit com os Estados Unidos, mas ele ficou menor: US$ 2,8 bilhões contra US$ 5,4 bi do mesmo período de 2011.
A Argentina comprou 18% a menos do Brasil. Nossa exportação caiu de US$ 14,6 bilhões para US$ 11,9 bi. Em fevereiro, o governo argentino aumentou as barreiras para entrada de produtos estrangeiros e, apesar das negociação com o governo brasileiro, o comércio não voltou ao normal.
— Isso é ruim porque atinge principalmente produtos manufaturados brasileiros, que representam 90% das exportações para a Argentina e 20% de nossas vendas de manufaturados — disse Branco.
O comércio com a Argentina tem um perfil bem diferente do que o Brasil tem com o resto do mundo. Em geral, a pauta se concentra em commodities agrícolas e metálicas, mas para lá é de manufaturados. O encolhimento das vendas, pelas barreiras comerciais, atingiu diretamente a indústria.
A China comprou 2,6% a menos do mundo até agosto. Reflexo do crescimento mais fraco do país. Ainda assim, conseguimos exportar 0,34% a mais para lá, o que garantiu com folga a permanência dos chineses como nossos principais parceiros. Eles compraram 17,43% do que vendemos. A queda no minério de ferro foi compensada por consumo maior de soja. O problema é que 80% de nossa pauta para a China são produtos básicos.
O preocupante não é a oscilação do saldo, mas a excessiva concentração em alguns produtos e em poucos mercados.
Selecinha! La mano hermana! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 21/09
E segundo turno Russomanno X Serra não é 7 de outubro, é 11 de Setembro! Vai ser um 11 de Setembro! Terror! Rarará! Vai ser um UBC: Ultimate Barraco Fighting! E o Haddad tem que chamar um guincho! Ninguém aguenta empurrar carro ladeira acima!
E a Argentina? Los hermanos sofreram dois baques: perderam do Brasil e Carlos Gardel nasceu na França! E o clássico? Brasil X AAAARGentina? Placar: Argentina 1 X Arbitragem 2! Parecia jogo do Corinthians: Mano, Paulinho, gol impedido e pênalti! Gol impedido contra a Argentina vale dois! E melhor ainda se fosse feito com a mão! Gol de mão impedido!
O bandeirinha era primo do Mano? Mano do Mano! Devem ser da mesma quebrada! E depois: pênalti! Os argentinos e este maldito tique nervoso de colocar a mão na bola! Rarará! La manode Dios! A mão amiga. La mano hermana! Rarará!
E o juiz era paraguaio! Queria puxar o saco do Brasil pra voltar pro Mercosul! Rarará! E próximo jogo, a desforra: Argentina. Numa cidade chamada Resistência! Rarará! E a aposta continua. Se a gente ganha, a gente fica com as Malvinas. Que é o melhor lugar pra se morrer de tédio! Se eles ganham, eles ficam com o Mano!
E o cúmulo da implicância com argentino é este e-mail que recebi de um amigo: "Simão, meu filme predileto é 'Tropas Estelares'. Porque logo na primeira cena aparece um cara falando: Buenos Aires foi totalmente destruída". Rarará!
E esta "Avenida Brasil" virou a 25 de Março! E Tufão se escreve com O de Otário? Não, Tufão se escreve com T de Tapado! Com T de Tonto. Com T de Chifrudo. Rarará! E O de Otário tá sendo o espectador!
E já tem uma campanha na internet: um pen drive para Nina! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Acho que vou transferir meu titulo pra Magé (RJ)! E votar num candidato holandês: "AMSTERDAM". Votei em Amsterdam e me lembro vagamente. Rarará! Ou então vou pra Caraguatatuba (SP) e voto no primo do Mano: "Belo Burrão". Rarará! A situação está psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Manter a jurisprudência sem os holofotes - MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 21/09
O impeachment de Collor nasceu da entrevista do irmão. O mensalão, daquela entrevista de Roberto Jefferson. A acusação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o chefe da quadrilha do mensalão não tem autoria.
O publicitário Marcos Valério, identificado como autor da acusação, não a assumiu. E seu advogado nega que tenha falado.
O áudio da entrevista pode existir, mas o fato de a revista de maior circulação do país ter publicado capa com uma acusação dessa gravidade sem autoria mostra que o julgamento ora em curso no Supremo tem consequências que extrapolam a dosimetria das penas.
Punição resistirá às pressões contra o mercado engessado?
Se os juízes, pelas indicações do relator no capítulo político do julgamento condenarem por indícios, por que um jornalista precisaria de fonte para publicar uma acusação?
Não é de hoje que se abusa do off, recurso legítimo do jornalismo que protege fontes com informações valiosas em nome do interesse público.
Mas na acusação em curso, paira no ar a dúvida sobre a que público serve a acusação anônima na reta final de uma campanha eleitoral definidora dos exércitos de 2014.
Essa relação nebulosa entre noticiário e interesse público não passa despercebida de quem está na arquibancada.
Repousa esquecida em cruzamentos de uma pesquisa Datafolha (10/08) a avaliação sobre a cobertura do mensalão: 46% dizem que a imprensa tem sido parcial - e 39% a julgam imparcial.
Não dá para atribuir o dado às massas ignaras do lulismo. Quanto maior a escolaridade, maior a percepção. Dos entrevistados que passaram pela universidade, 53% julgam a imprensa parcial. Entre aqueles que têm apenas o ensino fundamental, 41% compartilham a impressão.
Não parece haver dúvidas de que o julgamento tem inovado na interpretação da lei. Mas para aquilatar seu real impacto sobre o combate à corrupção resta saber se a jurisprudência será seguida à risca quando os holofotes se apagarem.
Para reverter a má-fama angariada, a imprensa terá que se dedicar com igual afinco ao julgamento da montanha de casos de corrupção que se acumulam nos tribunais.
Foi graças aos jornalistas que se conheceram os grandes escândalos de corrupção no governo Fernando Henrique Cardoso - Sivam, grampos do BNDES na privatização da Telebras, caso Marka/FonteCindam e, o maior deles, a aprovação da emenda da reeleição.
Ministros foram defenestrados e contratos foram cancelados, mas o entendimento era outro sobre a persecução penal dos envolvidos. Do desdobramento desses casos não se colhe o mais leve indício de que a tese do domínio do fato pudesse um dia vir a evoluir para a interpretação que ganha terreno no Supremo e facilita a condenação de quem está no topo de hierarquias de poder.
A imprensa também será desafiada a manter o arrojo com que se empenha na atual cobertura quando a aplicação dessa jurisprudência se voltar para o setor privado, muito menos aberto à investigação jornalística que o público.
O segundo capítulo do julgamento, que condenou os banqueiros, impôs um padrão de austeridade inédito, por exemplo, na gestão do risco bancário. Para punir um dirigente de empresa não será preciso provar delito maior que a omissão no cumprimento do dever.
Uma coisa é enquadrar o banco Rural, que já havia se tornado um pária no mercado desde o envolvimento em intermediações financeiras com o governo a partir da era Collor.
Outra coisa é aplicar a nova jurisprudência a grandes empresas e bancos. A sanha punitiva - e jornalística - resistirá ao argumento, para além da coerção verbal, de que o mercado, engessado, é um freio ao desenvolvimento econômico?
O que dizer, também, da ameaça de reversão das reformas aprovadas com os votos que o ministro relator assevera terem sido comprados? Bárbara Pombo conta hoje no Valor (pág. E1) que advogados já se movimentam nesse sentido.
Se a oposição conseguir voltar ao poder, o presidente que eleger pode se ver na contingência de defender a constitucionalidade das reformas tributária e previdenciária que seu partido acusou, com o possível beneplácito do Judiciário, de terem sido compradas.
Na hipótese ainda improvável de a mudança na jurisprudência trazer ameaça real ao estabelecido, a reforma do Código Penal sempre pode ser uma saída para fechar a porteira aberta por este julgamento.
O anteprojeto de reforma do código, gestado no gabinete do presidente do Senado, José Sarney, precede o julgamento do mensalão e não se remete aos seus resultados. Mas nada impede que, uma vez iniciada sua tramitação, o texto possa ser abrigo das pressões que devolveriam o país ao seu curso natural de leniência com a corrupção dos donos do poder. E sem exceções.
Ainda não se sabe se o mensalão é a causa para a queda do candidato do PT, Fernando Haddad, nas pesquisas, mas, a julgar pelo Datafolha, a exploração do caso ainda não parece ter surtido os efeitos esperados sobre o PT em São Paulo. Questionados como veriam um próximo prefeito do PRB, do PSDB ou do PT, os entrevistados disseram o seguinte: 15% achariam "ótimo ou bom" se o eleito fosse do PRB; 25% disseram o mesmo de um tucano no poder; e 33% de um petista.
Sabor jabuticaba - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 21/09
O voto em urna eletrônica e a transmissão ao vivo de julgamentos do Supremo Tribunal Federal são daquelas questões polêmicas na teoria, mas de resultado comprovadamente positivo.
Inovações brasileiras, ambas suscitam debate. Hoje muito menos do que quando surgiram. Sobre o voto eletrônico aplicado pela primeira vez em 1996, persiste aqui e ali o seguinte senão: sem possibilidade de registro por escrito, o sistema daria margem a fraudes por impossibilitar a conferência.
O sistema reconhecido nacional e internacionalmente como bem-sucedido, na prática desmente os temores. Há muito não se ouve falar em fraude eleitoral e a eficácia da apuração é incontestável.
Já as transmissões diretas das sessões de julgamentos do STF são menos pacíficas. Há restrições até entre os ministros da Corte, embora a maioria seja a favor por se coadunar perfeitamente à transparência exigida da administração pública pela Constituição.
Ainda assim, restam as críticas: as transmissões teriam influência sobre o comportamento dos ministros que, acompanhados "online", tenderiam a votar conforme os desejos da opinião pública, deixando-se conduzir por fatores extrajudiciais, cedendo à tentação de se transformar em figuras de grande aceitação popular.
Seria verdade?
Os dez anos de existência da TV Justiça não dizem isso. Além das diversas ocasiões em que o tribunal foi criticado por tomar decisões na contramão do senso comum, se vigilância precisasse haver sobre a conduta dos ministros as câmeras e os microfones mais ajudam que atrapalham. Aliás, não atrapalham em nada.
Há a opinião do público leigo, mas há também o acompanhamento da chamada comunidade jurídica. Nesse tempo todo, se tivesse havido distorção do papel do Supremo por causa das transmissões ao vivo isso teria sido detectado e denunciado.
O que se tem, na realidade, é justamente o oposto: cada ministro se vê obrigado a fundamentar muito bem seus argumentos nas doutrinas e na legislação em decorrência da exposição total e permanente.
A reação mais recente contra a sistemática das transmissões teve como porta-voz o secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas, que apontou "risco à democracia" nas sessões ao vivo.
Incongruente, a posição. Pois se o PT vive denunciando que a "mídia" distorce no noticiário, caso não houvesse transmissão o público saberia do julgamento só por intermédio dos resumos feitos pelos veículos de comunicação ditos "golpistas".
De onde a transparência se comprova como a maior garantia de fidelidade aos fatos.
Mais em cima. A última pesquisa Datafolha não é ruim para Fernando Haddad, que não tem nada a perder. Era praticamente um anônimo político quando virou candidato e hoje tem a intenção do voto de 15% do eleitorado de São Paulo.
A pesquisa é ruim para Lula, Dilma Rousseff e Marta Suplicy. O primeiro empenhou o mito, a segunda pôs no jogo a solenidade do cargo e a terceira hipotecou a força na periferia.
Se a esperada deslanchada não acontecer, será um caso de resultado que não faz jus ao patrimônio empregado.
O mesmo raciocínio poderá ser aplicado ao restante do País se o desempenho do PT nas urnas confirmar as pesquisas nas capitais.
Socialização. O PT sempre disse que saiu inadimplente das eleições de 2002 e por isso procurou socorro no Rural e no BMG.
Ocorre que o partido foi o avalista dos empréstimos sem dispor de lastro para tanto. Portanto, o fiador de fato era o aparelho de Estado.
Em miúdos: o PT ficou com o benefício e dividiu com a sociedade o prejuízo.
Na lua. Chama-se Odilo Scherer e não Aloísio, como publicado ontem, o cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo.