O GLOBO - 05/09
Neste jogo de sexta contra a África do Sul no Morumbi, a CBF iria testar o novo sistema de segurança privada para a Copa.
Mas optou pela PM paulista, já que atrasou o projeto de formar os stewards, como são chamados esses profissionais que trabalham em segurança de grandes eventos esportivos.
Grande família
Corre na 51 Vara Cível do Rio uma nova disputa entre a família Geyer.
Agora, é o empresário Alberto Soares de Sampaio Geyer contra a irmã Joanita Soares de Sampaio Geyer. Cobra uma dívida de um empréstimo cujo valor corrigido remonta hoje a alguns milhões.
Sigilo bancário
O ministro Francisco Falcão assume amanhã o CNJ, no lugar de Eliana Calmon, e já chega comprando briga:
— Defendo que nenhuma autoridade pública tenha garantidos sigilos bancário ou fiscal.
Segue...
Falcão lembra que nos EUA, país mais democrático do mundo, nenhuma autoridade pública tem direito ao sigilo bancário ou fiscal.
É. Pode ser.
Ai se eu te pego...
O sucesso internacional “Ai se eu te pego" vai levar Michel Teló para fazer show em Moscou dia 27 de novembro.
No mais
O governo, que fez a intervenção nas empresas do Grupo Rede, atuante no setor elétrico, bem que deveria investigar o que levou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço a aplicar no grupo R$ 600 milhões, dinheiro meu, seu, nosso, em agosto de 2010, quando a empresa já estava na UTI.
PERFUME PARA CHAMAR DE SEU
A carinha sapeca da nossa Juliana Paes, 33 anos, mostra que ela está empenhada em uma nova empreitada. Agora, seu projeto é o lançamento do perfume Juliana Paes Essence - primeira fragrância de uma celebridade brasileira desenvolvida por um grupo estrangeiro, o Grupo Puig, que detém as marcas Carolina Herrera, Valentino, Prada, Paco Rabanne, Antonio Banderas e Shakira. Dia 12 agora, ela autografa o perfume no Shopping Leblon, durante o evento de moda Fashion’s Night Out, promovido pela “Vogue”. Autografa pra eu... •
Uva é pecado
Para agradar a um grupo de brasileiros, entre eles a coleguinha Denise Viola, da Rádio MEC, em visita ao Haiti, o padre Jean, francês, sem entender o sentido em português, puxou outro dia o refrão de música “Chupa que é de uva’? do Aviões do Forró.
Um trechinho: “Na sua boca eu viro fruta, chupa que é de uva/ chupa, chupa, chupa que é de uva’!
Mas...
Pai, perdoa-lhe porque ele não sabe o que faz. Amém.
Crime e castigo
Este executivo Carlos Massaru Takahashi, que assumiu a presidência da BB DTVM, teve em novembro do ano passado que pagar R$ 100 mil à CVM.
Era acusado de prestar declaração à imprensa sobre um fundo de investimento no período em que o pedido de registro encontrava-se em análise na CVM.
Morena agradou
O vídeo de Xuxa morena, da Wella, atingiu 5,6 milhões de acessos.
Bolsa da CarminhaVeja como brasileiras são VIPs nas lojas Michael Kors depois que a vilã Carminha (Adriana Esteves), em “Avenida Brasil’,’ passou a usar uma bolsa da marca.
Uma conterrânea entrou numa loja da grife em Las Vegas com sua bolsa Kors descascada. Ao perceber, a gerente ofereceu o mesmo valor, cerca de US$ 400, para que ela levasse outro produto e avisou:
— Quero continuar recebendo as brasileiras.
Aliás...
Citando Sharon Stone, em “Instinto selvagem” o estilista Michael Kors, em entrevista ontem ao G1, diz que, a exemplo da Carminha , “as melhores vilãs têm uma coisa em comum: uma fabulosa noção de estilo"
Há controvérsia.
Mãos ao alto!
Alunos de escolas do Humaitá/ Botafogo estão vivendo dias de terror nas ruas dos bairros cariocas.
Só no Colégio Andrews há cerca de 20 relatos de assaltos e agressões praticados nos últimos dois meses contra estudantes na saída das aulas da manhã.
Coisa feia e perigosa
A 27? Vara Criminal do Rio condenou a dois anos e quatro meses os donos do Mala e Cuia, em Copacabana, que foram flagrados com “gato’ na tubulação de gás do restaurante.
Os proprietários terão que prestar serviço comunitário.
Cena carioca
Quarta, por volta de 7h50m, no sinal do início da Av. Marechal Floriano, no Centro, o motorista do táxi 162 da cooperativa Central Táxi, ao parar na luz vermelha, pegou um cavaquinho e... tocou para o passageiro que, animado, batucava nos joelhos.
quarta-feira, setembro 05, 2012
Todo mundo em pânico - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 05/09
A 31 dias das eleições, sendo 29 de campanha eleitoral, bate o desespero nos candidatos a prefeito que apresentam desvantagem ou queda nas pesquisas Brasil afora. E, por incrível que pareça, esse estresse tem uma linha comum em várias cidades: São os mais conhecidos do eleitor que têm sofrido as maiores baixas. Em São Paulo, José Serra, do PSDB, não para de cair nas pesquisas de intenção de voto. Em Fortaleza, o senador Inácio Arruda (PCdoB), figurinha repetida em várias eleições para prefeito, não decola. Em Santos, Telma de Souza (PT) e Beto Mansur (PP), os mais tradicionais em cena na corrida eleitoral do município, também estão em desvantagem. No Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), herdeiro político do ex-prefeito César Maia, não empolga o eleitor. No Recife, Humberto Costa (PT) e Mendonça Filho (DEM) perdem terreno a olhos vistos, a cada pesquisa registrada.
Em alguns gabinetes da capital da República e fora dela há quem tenha a clara sensação de que uma das razões para tanto desgaste desses políticos mais conhecidos é o julgamento do mensalão. Independentemente do resultado - e dos estragos para o PT -, a classe política está sentindo-se afetada como um todo. Só a título de detalhe: Não dá para deixar de lembrar a propaganda na TV que mostra um mecânico que, aos poucos, limpa as mãos. Ele começa a sua fala mencionando a impressão de que político é tudo igual, embora explique que não é bem assim.
A propaganda do mecânico traduz bem o que fica na cabeça do eleitor que não é muito ligado em política. Alguns parlamentares e ministros já perceberam que, em relação ao julgamento do mensalão, há um senso comum do tipo, “ih, olha lá político envolvido em confusão”. E, aí, quando entra o horário eleitoral com o desfile de políticos, esse cidadão médio, desinteressado e descrente da política, dá aquela olhada de soslaio para a tela da TV e, ao se deparar com um rosto mais conhecido, reage: “Pô, de novo?! Toda eleição esse sujeito aparece!”. Por isso, caro leitor, não se engane. Pode estar aí, e não na renúncia ao cargo de prefeito em 2006, o maior problema de José Serra em São Paulo e de muitos outros pelo país afora.
Por falar em desgaste…
Em meio à confusão dos palanques e brigas de petistas e aliados nos estados, Dilma trata de se preservar e mantém o foco na economia. Por esses dias, trabalha no modelo de concessão dos portos e aeorportos e no anúncio de redução da tarifa de energia elétrica para a indústria. Ela sabe que a chave da sua campanha reeleitoral, daqui a dois anos, não está nos palanques de 2014 e, sim, no emprego, no produto interno bruto “robusto”, como ela gosta de dizer, e na inflação baixa. Em nome desses projetos, irá à TV anunciar a redução do preço da energia. Se ajudar o PT, hoje tão desgastado nas eleições municipais, ela também não achará ruim. E, de todos os aliados, o que ela mais tem segurado hoje é o PMDB, parceiro dos petistas em Belo Horizonte, uma das poucas cidades onde Dilma deve fazer campanha em breve.
Por falar em PMDB…
O partido de Michel Temer é único que não tem pré-candidato a presidente da República. A ordem no Planalto é seguir à risca o lema “é melhor um PMDB na mão do que um PMDB e um PSB voando”. Nesse sentido, e para não se desgastar com o aliado, Dilma já cogita até mesmo aceitar Renan Calheiros como presidente do Senado. Isso, é claro, se não houver meios de trocar o candidato. Por enquanto, todos os potenciais nomes cogitados não falam do assunto. O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB), é um exemplo. No Senado, ontem, ao descer as escadas rumo ao restaurante, acompanhado de candidatos a prefeito, saiu-se com esta: “Até 7 de outubro, sou um político municipal. Nas horas vagas, só vou cuidar de eleição”. Ele disse que não vai tirar férias, mas, nos fins de semana, ficará no Rio Grande do Norte.
A 31 dias das eleições, sendo 29 de campanha eleitoral, bate o desespero nos candidatos a prefeito que apresentam desvantagem ou queda nas pesquisas Brasil afora. E, por incrível que pareça, esse estresse tem uma linha comum em várias cidades: São os mais conhecidos do eleitor que têm sofrido as maiores baixas. Em São Paulo, José Serra, do PSDB, não para de cair nas pesquisas de intenção de voto. Em Fortaleza, o senador Inácio Arruda (PCdoB), figurinha repetida em várias eleições para prefeito, não decola. Em Santos, Telma de Souza (PT) e Beto Mansur (PP), os mais tradicionais em cena na corrida eleitoral do município, também estão em desvantagem. No Rio de Janeiro, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), herdeiro político do ex-prefeito César Maia, não empolga o eleitor. No Recife, Humberto Costa (PT) e Mendonça Filho (DEM) perdem terreno a olhos vistos, a cada pesquisa registrada.
Em alguns gabinetes da capital da República e fora dela há quem tenha a clara sensação de que uma das razões para tanto desgaste desses políticos mais conhecidos é o julgamento do mensalão. Independentemente do resultado - e dos estragos para o PT -, a classe política está sentindo-se afetada como um todo. Só a título de detalhe: Não dá para deixar de lembrar a propaganda na TV que mostra um mecânico que, aos poucos, limpa as mãos. Ele começa a sua fala mencionando a impressão de que político é tudo igual, embora explique que não é bem assim.
A propaganda do mecânico traduz bem o que fica na cabeça do eleitor que não é muito ligado em política. Alguns parlamentares e ministros já perceberam que, em relação ao julgamento do mensalão, há um senso comum do tipo, “ih, olha lá político envolvido em confusão”. E, aí, quando entra o horário eleitoral com o desfile de políticos, esse cidadão médio, desinteressado e descrente da política, dá aquela olhada de soslaio para a tela da TV e, ao se deparar com um rosto mais conhecido, reage: “Pô, de novo?! Toda eleição esse sujeito aparece!”. Por isso, caro leitor, não se engane. Pode estar aí, e não na renúncia ao cargo de prefeito em 2006, o maior problema de José Serra em São Paulo e de muitos outros pelo país afora.
Por falar em desgaste…
Em meio à confusão dos palanques e brigas de petistas e aliados nos estados, Dilma trata de se preservar e mantém o foco na economia. Por esses dias, trabalha no modelo de concessão dos portos e aeorportos e no anúncio de redução da tarifa de energia elétrica para a indústria. Ela sabe que a chave da sua campanha reeleitoral, daqui a dois anos, não está nos palanques de 2014 e, sim, no emprego, no produto interno bruto “robusto”, como ela gosta de dizer, e na inflação baixa. Em nome desses projetos, irá à TV anunciar a redução do preço da energia. Se ajudar o PT, hoje tão desgastado nas eleições municipais, ela também não achará ruim. E, de todos os aliados, o que ela mais tem segurado hoje é o PMDB, parceiro dos petistas em Belo Horizonte, uma das poucas cidades onde Dilma deve fazer campanha em breve.
Por falar em PMDB…
O partido de Michel Temer é único que não tem pré-candidato a presidente da República. A ordem no Planalto é seguir à risca o lema “é melhor um PMDB na mão do que um PMDB e um PSB voando”. Nesse sentido, e para não se desgastar com o aliado, Dilma já cogita até mesmo aceitar Renan Calheiros como presidente do Senado. Isso, é claro, se não houver meios de trocar o candidato. Por enquanto, todos os potenciais nomes cogitados não falam do assunto. O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho (PMDB), é um exemplo. No Senado, ontem, ao descer as escadas rumo ao restaurante, acompanhado de candidatos a prefeito, saiu-se com esta: “Até 7 de outubro, sou um político municipal. Nas horas vagas, só vou cuidar de eleição”. Ele disse que não vai tirar férias, mas, nos fins de semana, ficará no Rio Grande do Norte.
Os juros altos e a ineficiência dos bancos - CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 05/09
Os elevados spreads bancários existentes no Brasil são uma construção coletiva. Todos - Estado, bancos e tomadores de crédito - dão sua contribuição para essa anormalidade. É difícil dizer onde o problema começa porque o juro alto, com o qual o país convive há décadas, criou ineficiências nos bancos, no sistema tributário e mesmo na autoridade bancária, e estimulou a delinquência por parte dos consumidores.
Fala-se pouco das ineficiências do sistema financeiro que contribuem para os juros altos cobrados pelos bancos. Um exemplo é o não compartilhamento das redes de ATM (sigla em inglês de caixa automático). O Brasil é um dos únicos países em que essa rede não é compartilhada. Os grandes bancos possuem suas próprias redes e elas custam caro.
Até dezembro do ano passado, havia 174.920 máquinas de ATM no Brasil. O Banco do Brasil (BB) tem a maior rede - 45 mil terminais. Cada caixa custa R$ 20 mil. Portanto, apenas o BB desembolsou cerca de R$ 900 milhões para montar sua rede. Há ainda os custos de manutenção e de abastecimento dos caixas com numerário, além das despesas de energia e de aluguel dos espaços em centros comerciais. Não se tenha dúvida: o custo de tudo isso é repassado para o spread bancário.
Sem reformas, queda dos spreads bancários pode ser limitada
"Como o lucro dos bancos é muito alto no Brasil, todo o mundo deixa para depois qualquer proposta de integração de rede", conta um banqueiro, que pediu para não ser identificado. De fato, com rentabilidade anual, medida pelo retorno sobre patrimônio, que está em torno de 20% entre os maiores bancos, não há incentivo para os bancos se mexerem em busca de maior eficiência. Embora bastante elevada, a rentabilidade já foi bem maior. Hoje é menor por causa da redução da taxa básica de juros (Selic) e dos spreads.
Não há compartilhamento, também, do transporte de numerário. Cada banco contrata a própria transportadora para fazer o serviço, que, por razões óbvias (falta de segurança pública nas grandes cidades, trânsito congestionado, baixa acessibilidade de muitos locais etc), é uma tarefa custosa. É mais um exemplo da falta de incentivo à eficiência. Há nesse caso, porém, particularidades que ajudam a piorar a situação.
Muitas empresas de transporte de numerário e de segurança pertencem a políticos. Por causa disso, há intenso lobby no Congresso e em prefeituras para aprovar leis que obriguem o "reforço" da segurança em agências bancárias. É verdade que os bancos estão entre os alvos prediletos de assaltantes, mas as exigências impostas por municípios, além de expor a falência do Estado no quesito segurança pública, criam demandas que vão muito além da necessidade de proteger clientes bancários.
No Recife, por exemplo, como mostrou o repórter Murillo Camarotto, do Valor (04/09/12), os requisitos de segurança impostos por lei municipal incluem, entre outros itens, a blindagem das fachadas das agências, a instalação de portas giratórias, o bloqueio do sinal de telefone celular, a construção de biombos para isolar os clientes que usam caixas eletrônicos e a contratação de um verdadeiro exército de vigilantes. O descumprimento das medidas já provocou a interdição de 11 agências e a aplicação de multas que superam os R$ 50 milhões.
"Tudo isso tem uma origem: o a excesso de dinheiro vivo em circulação, um fato que estimula a evasão de impostos, a lavagem de dinheiro e outros crimes", sustenta um banqueiro.
O Banco Central (BC) poderia ajudar a minorar o problema se, a exemplo de outros países, adotasse medidas para inibir o uso de dinheiro vivo. Isso diminuiria a necessidade de transporte de moeda corrente. Com a disseminação da tecnologia dos cartões magnéticos, não faz sentido as normas brasileiras permitirem saques em bancos superiores a R$ 10 mil - nos Estados Unidos, para sacar mais de US$ 10 mil, o cliente tem que avisar ao banco previamente.
Há outros elementos que explicam os altos spreads cobrados no Brasil, mas pouco se fala de alguns deles. As autoridades se orgulham, por exemplo, do fato de impor aos bancos uma relação mínima entre patrimônio e empréstimos de 11%, enquanto o índice de Basileia exige apenas 8%. O índice praticado no país é, na verdade, bem maior que os 11% - 16,8% (posição de junho). Sem dúvida, o sistema financeiro brasileiro é mais sólido que o da maioria dos países, mas, registre-se, segurança custa dinheiro.
O mesmo raciocínio vale para o recolhimento compulsório. Os percentuais aplicados no Brasil estão entre os mais altos do mundo - 43% nos depósitos à vista, mais adicional de 6%; 20% nos depósitos a prazo, com adicional de 12%; 20% na poupança, com acréscimo de 10%. Em julho, considerando depósitos à vista e a prazo, recolhimento adicional e poupança, havia R$ 383,4 bilhões parados no BC.
Esse volume de recursos representa, sem dúvida, um colchão de liquidez razoável para a eventualidade de o país enfrentar uma crise. Mas, novamente, isso tem um custo que é repassado aos spreads bancários e reflete, em última instância, deficiências estruturais. Se o Brasil tivesse um Estado poupador, em vez de despoupador (em 2% do PIB ao ano ou R$ 88 bilhões), e uma taxa de poupança elevada, provavelmente não seria necessário impor tamanho recolhimento compulsório.
"Com o mesmo capital fora do Brasil, nós emprestaríamos muito mais", diz outro banqueiro ouvido pela coluna.
O modelo de negócios dos bancos também alimenta os spreads. Um exemplo está no pagamento de comissões a terceiros na originação de crédito nas modalidades de empréstimo consignado e para compra de automóveis. "Um pastinha [como é chamado esse intermediário] chega a ganhar 15% de um empréstimo consignado", revela esse banqueiro.
O curioso é que a prática dos pastinhas e correspondentes bancários foi disseminada por bancos pequenos e médios, que não dispunham de rede de agências para atrair clientes. As grandes instituições, que possuem milhares de agências, foram atrás e copiaram a prática.
A queda da taxa Selic está obrigando os bancos a rever custos. Isso é positivo, mas, se esse movimento não vier acompanhado de reformas estruturais, como a redução do recolhimento compulsório e da carga tributária do setor, a queda dos spreads será limitada.
Os elevados spreads bancários existentes no Brasil são uma construção coletiva. Todos - Estado, bancos e tomadores de crédito - dão sua contribuição para essa anormalidade. É difícil dizer onde o problema começa porque o juro alto, com o qual o país convive há décadas, criou ineficiências nos bancos, no sistema tributário e mesmo na autoridade bancária, e estimulou a delinquência por parte dos consumidores.
Fala-se pouco das ineficiências do sistema financeiro que contribuem para os juros altos cobrados pelos bancos. Um exemplo é o não compartilhamento das redes de ATM (sigla em inglês de caixa automático). O Brasil é um dos únicos países em que essa rede não é compartilhada. Os grandes bancos possuem suas próprias redes e elas custam caro.
Até dezembro do ano passado, havia 174.920 máquinas de ATM no Brasil. O Banco do Brasil (BB) tem a maior rede - 45 mil terminais. Cada caixa custa R$ 20 mil. Portanto, apenas o BB desembolsou cerca de R$ 900 milhões para montar sua rede. Há ainda os custos de manutenção e de abastecimento dos caixas com numerário, além das despesas de energia e de aluguel dos espaços em centros comerciais. Não se tenha dúvida: o custo de tudo isso é repassado para o spread bancário.
Sem reformas, queda dos spreads bancários pode ser limitada
"Como o lucro dos bancos é muito alto no Brasil, todo o mundo deixa para depois qualquer proposta de integração de rede", conta um banqueiro, que pediu para não ser identificado. De fato, com rentabilidade anual, medida pelo retorno sobre patrimônio, que está em torno de 20% entre os maiores bancos, não há incentivo para os bancos se mexerem em busca de maior eficiência. Embora bastante elevada, a rentabilidade já foi bem maior. Hoje é menor por causa da redução da taxa básica de juros (Selic) e dos spreads.
Não há compartilhamento, também, do transporte de numerário. Cada banco contrata a própria transportadora para fazer o serviço, que, por razões óbvias (falta de segurança pública nas grandes cidades, trânsito congestionado, baixa acessibilidade de muitos locais etc), é uma tarefa custosa. É mais um exemplo da falta de incentivo à eficiência. Há nesse caso, porém, particularidades que ajudam a piorar a situação.
Muitas empresas de transporte de numerário e de segurança pertencem a políticos. Por causa disso, há intenso lobby no Congresso e em prefeituras para aprovar leis que obriguem o "reforço" da segurança em agências bancárias. É verdade que os bancos estão entre os alvos prediletos de assaltantes, mas as exigências impostas por municípios, além de expor a falência do Estado no quesito segurança pública, criam demandas que vão muito além da necessidade de proteger clientes bancários.
No Recife, por exemplo, como mostrou o repórter Murillo Camarotto, do Valor (04/09/12), os requisitos de segurança impostos por lei municipal incluem, entre outros itens, a blindagem das fachadas das agências, a instalação de portas giratórias, o bloqueio do sinal de telefone celular, a construção de biombos para isolar os clientes que usam caixas eletrônicos e a contratação de um verdadeiro exército de vigilantes. O descumprimento das medidas já provocou a interdição de 11 agências e a aplicação de multas que superam os R$ 50 milhões.
"Tudo isso tem uma origem: o a excesso de dinheiro vivo em circulação, um fato que estimula a evasão de impostos, a lavagem de dinheiro e outros crimes", sustenta um banqueiro.
O Banco Central (BC) poderia ajudar a minorar o problema se, a exemplo de outros países, adotasse medidas para inibir o uso de dinheiro vivo. Isso diminuiria a necessidade de transporte de moeda corrente. Com a disseminação da tecnologia dos cartões magnéticos, não faz sentido as normas brasileiras permitirem saques em bancos superiores a R$ 10 mil - nos Estados Unidos, para sacar mais de US$ 10 mil, o cliente tem que avisar ao banco previamente.
Há outros elementos que explicam os altos spreads cobrados no Brasil, mas pouco se fala de alguns deles. As autoridades se orgulham, por exemplo, do fato de impor aos bancos uma relação mínima entre patrimônio e empréstimos de 11%, enquanto o índice de Basileia exige apenas 8%. O índice praticado no país é, na verdade, bem maior que os 11% - 16,8% (posição de junho). Sem dúvida, o sistema financeiro brasileiro é mais sólido que o da maioria dos países, mas, registre-se, segurança custa dinheiro.
O mesmo raciocínio vale para o recolhimento compulsório. Os percentuais aplicados no Brasil estão entre os mais altos do mundo - 43% nos depósitos à vista, mais adicional de 6%; 20% nos depósitos a prazo, com adicional de 12%; 20% na poupança, com acréscimo de 10%. Em julho, considerando depósitos à vista e a prazo, recolhimento adicional e poupança, havia R$ 383,4 bilhões parados no BC.
Esse volume de recursos representa, sem dúvida, um colchão de liquidez razoável para a eventualidade de o país enfrentar uma crise. Mas, novamente, isso tem um custo que é repassado aos spreads bancários e reflete, em última instância, deficiências estruturais. Se o Brasil tivesse um Estado poupador, em vez de despoupador (em 2% do PIB ao ano ou R$ 88 bilhões), e uma taxa de poupança elevada, provavelmente não seria necessário impor tamanho recolhimento compulsório.
"Com o mesmo capital fora do Brasil, nós emprestaríamos muito mais", diz outro banqueiro ouvido pela coluna.
O modelo de negócios dos bancos também alimenta os spreads. Um exemplo está no pagamento de comissões a terceiros na originação de crédito nas modalidades de empréstimo consignado e para compra de automóveis. "Um pastinha [como é chamado esse intermediário] chega a ganhar 15% de um empréstimo consignado", revela esse banqueiro.
O curioso é que a prática dos pastinhas e correspondentes bancários foi disseminada por bancos pequenos e médios, que não dispunham de rede de agências para atrair clientes. As grandes instituições, que possuem milhares de agências, foram atrás e copiaram a prática.
A queda da taxa Selic está obrigando os bancos a rever custos. Isso é positivo, mas, se esse movimento não vier acompanhado de reformas estruturais, como a redução do recolhimento compulsório e da carga tributária do setor, a queda dos spreads será limitada.
Disputa partidária - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 05/09
Deve-se atribuir a nota oficial da presidente Dilma Rousseff em defesa de Lula e com críticas indiretas ao ex-presidente tucano Fernando Henrique ao abalo interno que o julgamento do mensalão está produzindo nas entranhas do PT. Está certo também quem disse que Fernando Henrique "pediu" um posicionamento da presidente, ao tentar pô-la em contraponto a Lula, sobretudo em questões de moralidade pública.
Mesmo que atos e alguns gestos seus sejam interpretáveis nesse sentido, é ingenuidade querer provocar divisão entre o criador e a criatura mais explícita do que ela pode ser dentro de um quadro político em que a presidente, por mais popular que seja, não tem o controle do PT e nem está a caminho de tê-lo, pela simples razão de que não é especialista em política partidária para querer entrar nesse embate com seu protetor.
É de conhecimento generalizado a ocorrência frequente de desentendimentos entre aquele que assumiu o poder e o que foi responsável pela sua ascensão, mas é preciso que aquele tenha planos políticos que impliquem suplantar o protetor, o que não é o caso de Dilma Rousseff, por circunstâncias várias. Se o ex-presidente Lula estiver em condições físicas de tentar voltar à Presidência em 2014, e quiser fazê-lo, será desnecessária qualquer tentativa de resistência por parte de Dilma, pois a vaga é de Lula, mesmo que não naturalmente, pelo menos por seu prestígio dentro do próprio partido.
Não é razoável pensar que a presidente Dilma, diante de uma situação dessas, pense em trocar de legenda para tentar a reeleição fora do PT. A situação partidária da presidente é curiosa: embora popular, não tem apoio dentro do PT, cuja ala majoritária demonstra saudosismo em relação ao período em que Lula era o presidente. Mas é a melhor alternativa do partido para a eleição de 2014 se Lula não quiser ou não puder se candidatar novamente.
Ela certamente terá problemas com o partido caso o ex-ministro José Dirceu saia incólume politicamente do julgamento do mensalão, o que parece improvável pelo rumo atual. Dirceu já manifestou desejo de se candidatar à presidência do PT caso absolvido, e trabalharia dentro do PT e no Congresso para ser anistiado de sua cassação. Seria sem dúvida uma sombra para o governo. Poderia atuar em relação ao governo Dilma como Ulysses Guimarães, do PMDB, no governo Sarney, sendo o porta-voz do PT com capacidade de vetos até mesmo na escolha de ministros.
Seria ingenuidade, ou precipitação, entender as gentilezas da presidente Dilma com FH como gestos calculados de uma aproximação com os tucanos em caso de necessidade futura. Foram gestos republicanos.
As diferenças entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula não são tão profundas a esse ponto, e ela não me parece uma política disposta a gestos ousados como seria o rompimento com seu criador Lula, por mais discordâncias que tenham. A nota oficial da presidente, portanto, foi mais uma demonstração exagerada de lealdade pessoal a Lula do que jogada política para o PT, embora tenha agradado aos militantes do partido, agastados com sua proximidade com FH.
O PSDB, por seu turno, continua cometendo o erro de sempre, evitando embates diretos com uma presidente popular. A nota oficial do partido, em defesa de FH, peca de novo pelo uso da ironia ao dizer que "compreendem" a posição da presidente, que não poderia admitir que demitira sete ministros no seu primeiro ano de governo por suspeita de corrupção. Ou que ela não tinha como enfrentar as críticas ao peso da "herança moral" negativa, no momento em que o mensalão está sendo escancarado ao grande público, e até mesmo a imprensa internacional classifica o julgamento como sendo também o da "era Lula".
Desse ponto de vista, e provavelmente por não precisar mais de se eleger, o ex-presidente tucano é sempre o mais perspicaz crítico do governo petista. Essa disputa entre Lula e FH é partidária, e não de governo. Os dois são os grandes líderes dos dois maiores partidos do país, e o tempo é de eleição. Ela tem muito de visões de mundo diferentes, mas também tem um toque pessoal. Fernando Henrique sabe que suas críticas atingem Lula na alma, e tira proveito político dessa fraqueza de um adversário que é mais forte do que se sente diante do intelectual feito político que um dia já apoiou.
Deve-se atribuir a nota oficial da presidente Dilma Rousseff em defesa de Lula e com críticas indiretas ao ex-presidente tucano Fernando Henrique ao abalo interno que o julgamento do mensalão está produzindo nas entranhas do PT. Está certo também quem disse que Fernando Henrique "pediu" um posicionamento da presidente, ao tentar pô-la em contraponto a Lula, sobretudo em questões de moralidade pública.
Mesmo que atos e alguns gestos seus sejam interpretáveis nesse sentido, é ingenuidade querer provocar divisão entre o criador e a criatura mais explícita do que ela pode ser dentro de um quadro político em que a presidente, por mais popular que seja, não tem o controle do PT e nem está a caminho de tê-lo, pela simples razão de que não é especialista em política partidária para querer entrar nesse embate com seu protetor.
É de conhecimento generalizado a ocorrência frequente de desentendimentos entre aquele que assumiu o poder e o que foi responsável pela sua ascensão, mas é preciso que aquele tenha planos políticos que impliquem suplantar o protetor, o que não é o caso de Dilma Rousseff, por circunstâncias várias. Se o ex-presidente Lula estiver em condições físicas de tentar voltar à Presidência em 2014, e quiser fazê-lo, será desnecessária qualquer tentativa de resistência por parte de Dilma, pois a vaga é de Lula, mesmo que não naturalmente, pelo menos por seu prestígio dentro do próprio partido.
Não é razoável pensar que a presidente Dilma, diante de uma situação dessas, pense em trocar de legenda para tentar a reeleição fora do PT. A situação partidária da presidente é curiosa: embora popular, não tem apoio dentro do PT, cuja ala majoritária demonstra saudosismo em relação ao período em que Lula era o presidente. Mas é a melhor alternativa do partido para a eleição de 2014 se Lula não quiser ou não puder se candidatar novamente.
Ela certamente terá problemas com o partido caso o ex-ministro José Dirceu saia incólume politicamente do julgamento do mensalão, o que parece improvável pelo rumo atual. Dirceu já manifestou desejo de se candidatar à presidência do PT caso absolvido, e trabalharia dentro do PT e no Congresso para ser anistiado de sua cassação. Seria sem dúvida uma sombra para o governo. Poderia atuar em relação ao governo Dilma como Ulysses Guimarães, do PMDB, no governo Sarney, sendo o porta-voz do PT com capacidade de vetos até mesmo na escolha de ministros.
Seria ingenuidade, ou precipitação, entender as gentilezas da presidente Dilma com FH como gestos calculados de uma aproximação com os tucanos em caso de necessidade futura. Foram gestos republicanos.
As diferenças entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula não são tão profundas a esse ponto, e ela não me parece uma política disposta a gestos ousados como seria o rompimento com seu criador Lula, por mais discordâncias que tenham. A nota oficial da presidente, portanto, foi mais uma demonstração exagerada de lealdade pessoal a Lula do que jogada política para o PT, embora tenha agradado aos militantes do partido, agastados com sua proximidade com FH.
O PSDB, por seu turno, continua cometendo o erro de sempre, evitando embates diretos com uma presidente popular. A nota oficial do partido, em defesa de FH, peca de novo pelo uso da ironia ao dizer que "compreendem" a posição da presidente, que não poderia admitir que demitira sete ministros no seu primeiro ano de governo por suspeita de corrupção. Ou que ela não tinha como enfrentar as críticas ao peso da "herança moral" negativa, no momento em que o mensalão está sendo escancarado ao grande público, e até mesmo a imprensa internacional classifica o julgamento como sendo também o da "era Lula".
Desse ponto de vista, e provavelmente por não precisar mais de se eleger, o ex-presidente tucano é sempre o mais perspicaz crítico do governo petista. Essa disputa entre Lula e FH é partidária, e não de governo. Os dois são os grandes líderes dos dois maiores partidos do país, e o tempo é de eleição. Ela tem muito de visões de mundo diferentes, mas também tem um toque pessoal. Fernando Henrique sabe que suas críticas atingem Lula na alma, e tira proveito político dessa fraqueza de um adversário que é mais forte do que se sente diante do intelectual feito político que um dia já apoiou.
Os piores presságios - ROBERTO JEFFERSON
Brasil Econômico - 05/09
A presidente da Argentina tem rompido ou hostilizado todo e qualquer setor que não se curve aos seus caprichos
Em todo o continente americano, apenas um país sofreu mais que o Brasil o drama de um longo ciclo inflacionário e de sucessivas - e na maioria dos casos fracassadas - tentativas de conter esse que talvez seja o mais perverso fenômeno econômico. Não é preciso ser economista para saber que me refiro à Argentina. Os surtos inflacionários argentinos não foram apenas mais fortes que os brasileiros. Foram também mais difíceis de debelar e, quando isso ocorreu, foi por meio da dolarização indireta da moeda nacional, uma solução que acabaria por gerar um novo problema e levar a Argentina à bancarrota e ao quase colapso institucional no final de 2001.
As consequências do que ocorreu há pouco mais de dez anos ainda são sentidas pelos argentinos e vão do quase nulo acesso ao crédito internacional ao aumento da pobreza e das desigualdades sociais. A atual presidente, Cristina Kirchner, não é responsável pelo que aconteceu antes que seu finado marido, Néstor Kirchner, e depois ela própria fossem eleitos. Já a manutenção da estabilidade econômica e política tão penosamente conquistada é algo que ela deveria considerar seu compromisso mais sagrado.
É com a maior preocupação que nós brasileiros devemos acompanhar o que se passa na Argentina (até porque pelas relações comerciais bilaterais vigentes, a evolução de sua situação inevitavelmente afeta o desempenho de nossa economia), onde a presidente parece tomada por uma obsessão (auto) destrutiva que só se saciará quando o país mergulhar em nova e tenebrosa crise.
A confirmar esse temor estão decisões, atos e apoios políticos que parecem deliberadamente buscar o caos com a maior eficiência. Em consequência de uma política econômica tão errada quanto irresponsável, a inflação anualizada já anda por volta dos 25%, embora o índice oficial torpemente manipulado não chegue a 10%. O governo gasta fortunas em subsídios paliativos, cada vez menos eficazes, ao mesmo tempo em que caem os investimentos públicos tão necessários à economia sob todos os aspectos.
No plano político, a presidente tem sistematicamente rompido ou hostilizado todo e qualquer setor que não se curve aos seus caprichos. Em compensação, cerca-se e confere poder crescente a "homens de ouro" e a um grupelho de jovens supostamente brilhantes e notavelmente inexperientes e temerários, conhecido como "La Cámpora". Não há a menor chance de dar certo. Como se não bastasse, trata da imprensa como aparelho de propaganda, cooptando a maioria e promovendo uma guerra aos poucos que não se renderam. A última proposta dos "ultra K" (os extremistas kirchneristas -pasmem, mas existem) é a realização de uma reforma constitucional que, entre outras coisas permita a reeleição presidencial sem limites.
Por essas e por outras, Jorge Lanata, o mais talentoso jornalista de sua geração, acaba de exibir em seu programa de televisão uma reportagem feita emCaracas, concluindo que os paralelos entre Argentina e Venezuela "são incríveis", o que confirma os piores presságios.
As consequências do que ocorreu há pouco mais de dez anos ainda são sentidas pelos argentinos e vão do quase nulo acesso ao crédito internacional ao aumento da pobreza e das desigualdades sociais. A atual presidente, Cristina Kirchner, não é responsável pelo que aconteceu antes que seu finado marido, Néstor Kirchner, e depois ela própria fossem eleitos. Já a manutenção da estabilidade econômica e política tão penosamente conquistada é algo que ela deveria considerar seu compromisso mais sagrado.
É com a maior preocupação que nós brasileiros devemos acompanhar o que se passa na Argentina (até porque pelas relações comerciais bilaterais vigentes, a evolução de sua situação inevitavelmente afeta o desempenho de nossa economia), onde a presidente parece tomada por uma obsessão (auto) destrutiva que só se saciará quando o país mergulhar em nova e tenebrosa crise.
A confirmar esse temor estão decisões, atos e apoios políticos que parecem deliberadamente buscar o caos com a maior eficiência. Em consequência de uma política econômica tão errada quanto irresponsável, a inflação anualizada já anda por volta dos 25%, embora o índice oficial torpemente manipulado não chegue a 10%. O governo gasta fortunas em subsídios paliativos, cada vez menos eficazes, ao mesmo tempo em que caem os investimentos públicos tão necessários à economia sob todos os aspectos.
No plano político, a presidente tem sistematicamente rompido ou hostilizado todo e qualquer setor que não se curve aos seus caprichos. Em compensação, cerca-se e confere poder crescente a "homens de ouro" e a um grupelho de jovens supostamente brilhantes e notavelmente inexperientes e temerários, conhecido como "La Cámpora". Não há a menor chance de dar certo. Como se não bastasse, trata da imprensa como aparelho de propaganda, cooptando a maioria e promovendo uma guerra aos poucos que não se renderam. A última proposta dos "ultra K" (os extremistas kirchneristas -pasmem, mas existem) é a realização de uma reforma constitucional que, entre outras coisas permita a reeleição presidencial sem limites.
Por essas e por outras, Jorge Lanata, o mais talentoso jornalista de sua geração, acaba de exibir em seu programa de televisão uma reportagem feita emCaracas, concluindo que os paralelos entre Argentina e Venezuela "são incríveis", o que confirma os piores presságios.
O diabo está nos detalhes - SONIA RACY
O ESTADÃO - 05/09
“Agora, a atividade do banqueiro implicará em maior responsabilidade. Não vai ser permitido desconhecer nenhuma operação que acontece em seu banco”, aponta Jairo Saddi, do Ibmec.
Diabo 2
Qual a diferença? Gestão fraudulenta é a prática de ato que envolva fraude ou falcatrua. A temerária significa prática irresponsável e imponderada – com pena bem menor.
Ao optar pela fraudulenta, Barbosa obriga atenção redobrada do comandante de banco sobre o que se passa debaixo de seu nariz.
Momento Marina
Fernando Haddad dispensou o maquiador da Rede TV! no debate, anteontem. Levou o próprio, a tiracolo. É que o petista sofre de rinite alérgica e precisa de produtos especiais.
Munição
Celso Russomanno está tirando tucano do sério. Aloysio Nunes Ferreira disparou contra o candidato do PRB, antes do confronto na TV: “Ele é uma mentira, demagogo, populista. Não tem história, não tem proposta, não tem nada”.
Estratégia
O QG da campanha de Russomanno tenta evitar sangria de votos. Segundo Campos Machado, serão criados seis comitês, a maioria nas zonas leste e sul, cobiçadas pelos adversários e que concentram o grosso do eleitorado do prefeiturável. Nome da estratégia? Ocupa SP.
Para Campos Machado, o candidato não é cavalo paraguaio… é cavalo britânico puro sangue. “Ele não cai, ele cresce.”
Gentileza
Haddad e Kassab deixaram por um instante o clima de beligerância eleitoral de lado.
Os dois se esbarraram ao cumprimentar os diretores da Rede TV!. Cordialmente, o petista estendeu a mão ao prefeito e a Alexandre Schneider.
Brasil, lá
Thiago Soares, estrela do Royal Ballet de Londres, se apresenta com quatro bailarinas brasileiras cegas formadas pela ONG de Fernanda Bianchini.
Na festa de encerramento da Paralimpíada.
Bocão
A Lenovo está comprando a CCE. E consta que a empresa não deve parar por aí: quer ser a maior do ramo.
Troca-troca
Corre pelos corredores empresariais que Clodoaldo Hugueney deixará o posto de embaixador brasileiro em Pequim.
Cotado para substituí-lo, o subsecretário-geral de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Valdemar Carneiro Leão Neto.
Na cabeceira
Mesmo tendo de preparar o balanço do CNJ que apresenta hoje, Eliana Calmon tem tido tempo para ler A Mulher Que Era o General da Casa, de Paulo Moreira Leite. Deu até um a Guiomar Mendes, mulher de Gilmar. “É outra que também é general”, brincou.
Ego file
Os homens modernos estão cada vez mais preocupados com… a beleza – 65% deles escolhem o que usar no cabelo. E 43% queriam madeixas com mais brilho e maciez.
A pesquisa será divulgada hoje em São Paulo pela Unilever. Que lança novos produtos para eles.
Todos por Varejão
Cariocas em peso desembarcaram no MAM, anteontem, para prestigiar Adriana Varejão. Entre os convidados que pegaram a ponte aérea só para conferir a mostra da artista estavam Walter Salles, Amora Mautner e Pedro Buarque de Hollanda.
Não é para menos. Pela primeira vez, trabalhos inéditos da artista e obras da Fundación La Caixa (Madri), Tate Modern (Londres) e do Guggenheim (NY) compõem panorama de sua trajetória.
Adriana chegou a chorar no almoço para patrocinadores, antes da abertura, ao discursar sobre a exposição: “Não haveria melhor lugar do que São Paulo e o MAM para abrigar essas obras”. Tamanha emoção acabou contagiando Milú Villela, que também deixou escapar uma tímida lágrima.
Além das obras que vieram de fora, estão expostas importantes peças de colecionadores como José Olympio e Ricard Akagawa, entre outras que a artista não via “há mais de 20 anos”.
Recebendo amigos e convidados e elogiada pela elegância, foi indagada sobre o look, respondendo de bate-pronto: “É Gilda Midani”. Minutos depois, a estilista chegou para abraçá-la.
Amora Mautner, diretora da novela Avenida Brasil, fez pequena pausa na bateria de gravações só para ver a mostra e deixou escapar: “Carminha estava meio deprimida, mas agora vai voltar com tudo!”
E entre os gringos que foram conferir a mostra, Julia Peyton-Jones, diretora da Serpentine Gallery, uma das mais prestigiadas de Londres na atualidade.
Profetas do passado - ZUENIR VENTURA
O Globo - 05/09
É difícil fazer previsões num país imprevisível como o Brasil; ainda mais que nós, jornalistas, somos uma espécie de profetas do passado. Adivinhamos o que aconteceu, raramente o que vai acontecer. Vejam o caso do mensalão. Embora ainda falte muito para encerrar seus trabalhos, e surpresas podem vir a acontecer, o julgamento já contrariou expectativas, balançou certezas, como a da impunidade, e quebrou tabus, a começar pela crença de que as decisões do STF não só não coincidiam com a vontade da opinião pública como pareciam ter a intenção de contrariá-la sempre. Ou seja, para os supremos juízes, indiferentes aos rumores da rua, a voz do povo não era a voz de Deus. Eis que agora o ponto de vista popular e o culto estão de mãos dadas e em concordância, apesar de não se saber até quando. Uma pesquisa recente do Datafolha revelou, por exemplo, que no importante quesito caixa dois, quatro em cinco entrevistados rejeitavam os argumentos da defesa e apoiavam a tese defendida pelo Ministério Público e consagrada pelos ministros de que o que houve mesmo foi uso do dinheiro público para comprar apoio político, isto é, corrupção. Outra expectativa frustrada era a de que uma Corte cuja maioria absoluta dos onze membros tinha sido nomeada por Lula e por Dilma (seis por ele e dois por ela) não condenaria petistas envolvidos no escândalo. Pois, com exceção de Dias Toffoli (ex-advogado de José Dirceu), todos os outros condenaram o deputado petista João Paulo Cunha, votando com uma independência que, segundo amigos, teria decepcionado e irritado Lula (Dilma não se sabe).
Como se disse, ainda falta muito, e pelo menos dois tabus serão muito difíceis de serem derrubados para atender à vontade popular. Um deles foi apontado pelo mesmo levantamento do Datafolha: 73% dos ouvidos achavam que os acusados deviam ir para a cadeia, mas só 11% acreditavam que isso iria acontecer. Para 37%, os réus serão condenados, mas não presos; em lugar das grades como punição, eles receberão penas leves, como prestação de serviços. O outro é aquele, talvez mais difícil do que este de cair por terra, que reza: corrupto de colarinho branco no Brasil não devolve a grana roubada. Mas como acaba de ocorrer uma exceção - Luiz Estevão vai ter que restituir à União R$ 468 milhões desviados - quem sabe não será um exemplo? Vamos aguardar os próximos capítulos dessa novela que se desenrola não numa avenida, mas num laboratório chamado Brasil.
A agenda abandonada - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 05/09
Certos fatos indicam que o problema pode estar ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento
NÃO PODEMOS dizer que o resultado do PIB do segundo trimestre (aumento de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre deste ano e 0,5% contra o segundo trimestre de 2011) tenha sido surpreendente. Ainda assim, decepcionou.
Mesmo que se materialize a reação mais vigorosa esperada para o segundo semestre, dificilmente a expansão do produto superará 1,5% neste ano, o pior resultado desde 2009, ano comprometido pela crise financeira.
É tentador imaginar que também agora o fraco desempenho do país possa ser atribuído à crise externa, cujos efeitos sobre mercados financeiros, assim como sobre o comércio internacional, têm sido mais que claros.
Tentador, porém equivocado.
Ao contrário do ocorrido àquela época, não há sinais de uma queda sincronizada da atividade. Na América Latina, região cujo comportamento tende a ser afetado por fatores comuns (por exemplo, os preços de commodities), não há como deixar de notar as diferenças.
Enquanto o PIB brasileiro cresceu 0,5% sobre o mesmo período do ano passado, o Chile mostrou expansão de 5,5%; o México, 4,7%; o Peru, 6,1% e a Colômbia, 4,7% (no primeiro trimestre).
Essa evidência não é, diga-se, a palavra final sobre o assunto, mas sugere que se busquem as raízes do anêmico desempenho pátrio em razões locais, nem tanto na crise internacional. Mas quais?
A reação imediata, por conta de uma longa experiência de crises, é atribuir a culpa à fraca demanda, mas, se a demanda interna não tem um desempenho sensacional, também não parece ser a fonte última da desaceleração.
Certos fatos, acredito, indicam que o problema pode estar ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento sustentado.
Caso seja verdade, trata-se de situação, se não inédita, ao menos rara na história econômica brasileira recente. Não consigo me lembrar, do alto dos meus quase 50 anos, de nada semelhante, à exceção do racionamento de 2001, quando as limitações na oferta de energia forçaram a redução do ritmo de crescimento.
Quem, todavia, olha com mais cuidado para os desenvolvimentos do lado do mercado de trabalho começa a notar fatos reveladores.
Apesar da baixa expansão do PIB no primeiro semestre de 2012 (0,6%), o emprego nas seis regiões metropolitanas cresceu 2%, ampliando o paradoxo de 2011, quando, a despeito do crescimento ter ficado na casa de 2,7%, o emprego continuou a crescer a um ritmo superior ao da população, levando a uma queda expressiva da taxa de desemprego (de 6,7% para 6%).
Dado o baixo crescimento da produtividade, mesmo taxas modestas de crescimento levam à redução persistente do desemprego, sugerindo que a oferta de mão de obra, seja em quantidade, seja em qualificação, se configura como o principal obstáculo ao crescimento, secundada pelo fraquíssimo desempenho do investimento, em particular em infraestrutura.
O sintoma mais claro disso é o aumento dos salários (ao redor de 11% relativamente ao ano passado), muito superior a qualquer estimativa honesta do crescimento da produtividade.
Posto de outra forma, não há como manter o ritmo dos últimos anos simplesmente porque não temos a mesma disponibilidade de mão de obra e também porque, à medida que empregamos trabalhadores com menor capacitação e experiência, é de se esperar que a produtividade se desacelere.
Caso essa hipótese seja verdadeira, duas são as conclusões. Em primeiro lugar, que políticas de expansão da demanda não conseguirão acelerar o crescimento sem agravar desequilíbrios macroeconômicos, em particular a inflação, que já vem se acelerando e assim continuará.
E, finalmente, que, se quisermos acelerar o crescimento do PIB, são necessárias políticas que favoreçam o aumento da produtividade.
A nota triste é que deveriam ter sido adotadas anos atrás para que seus efeitos se manifestassem agora, mas essa agenda, antes perdida, foi então abandonada e, de novo, corremos hoje atrás do prejuízo.
Certos fatos indicam que o problema pode estar ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento
NÃO PODEMOS dizer que o resultado do PIB do segundo trimestre (aumento de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre deste ano e 0,5% contra o segundo trimestre de 2011) tenha sido surpreendente. Ainda assim, decepcionou.
Mesmo que se materialize a reação mais vigorosa esperada para o segundo semestre, dificilmente a expansão do produto superará 1,5% neste ano, o pior resultado desde 2009, ano comprometido pela crise financeira.
É tentador imaginar que também agora o fraco desempenho do país possa ser atribuído à crise externa, cujos efeitos sobre mercados financeiros, assim como sobre o comércio internacional, têm sido mais que claros.
Tentador, porém equivocado.
Ao contrário do ocorrido àquela época, não há sinais de uma queda sincronizada da atividade. Na América Latina, região cujo comportamento tende a ser afetado por fatores comuns (por exemplo, os preços de commodities), não há como deixar de notar as diferenças.
Enquanto o PIB brasileiro cresceu 0,5% sobre o mesmo período do ano passado, o Chile mostrou expansão de 5,5%; o México, 4,7%; o Peru, 6,1% e a Colômbia, 4,7% (no primeiro trimestre).
Essa evidência não é, diga-se, a palavra final sobre o assunto, mas sugere que se busquem as raízes do anêmico desempenho pátrio em razões locais, nem tanto na crise internacional. Mas quais?
A reação imediata, por conta de uma longa experiência de crises, é atribuir a culpa à fraca demanda, mas, se a demanda interna não tem um desempenho sensacional, também não parece ser a fonte última da desaceleração.
Certos fatos, acredito, indicam que o problema pode estar ligado à oferta, isto é, à nossa capacidade de crescimento sustentado.
Caso seja verdade, trata-se de situação, se não inédita, ao menos rara na história econômica brasileira recente. Não consigo me lembrar, do alto dos meus quase 50 anos, de nada semelhante, à exceção do racionamento de 2001, quando as limitações na oferta de energia forçaram a redução do ritmo de crescimento.
Quem, todavia, olha com mais cuidado para os desenvolvimentos do lado do mercado de trabalho começa a notar fatos reveladores.
Apesar da baixa expansão do PIB no primeiro semestre de 2012 (0,6%), o emprego nas seis regiões metropolitanas cresceu 2%, ampliando o paradoxo de 2011, quando, a despeito do crescimento ter ficado na casa de 2,7%, o emprego continuou a crescer a um ritmo superior ao da população, levando a uma queda expressiva da taxa de desemprego (de 6,7% para 6%).
Dado o baixo crescimento da produtividade, mesmo taxas modestas de crescimento levam à redução persistente do desemprego, sugerindo que a oferta de mão de obra, seja em quantidade, seja em qualificação, se configura como o principal obstáculo ao crescimento, secundada pelo fraquíssimo desempenho do investimento, em particular em infraestrutura.
O sintoma mais claro disso é o aumento dos salários (ao redor de 11% relativamente ao ano passado), muito superior a qualquer estimativa honesta do crescimento da produtividade.
Posto de outra forma, não há como manter o ritmo dos últimos anos simplesmente porque não temos a mesma disponibilidade de mão de obra e também porque, à medida que empregamos trabalhadores com menor capacitação e experiência, é de se esperar que a produtividade se desacelere.
Caso essa hipótese seja verdadeira, duas são as conclusões. Em primeiro lugar, que políticas de expansão da demanda não conseguirão acelerar o crescimento sem agravar desequilíbrios macroeconômicos, em particular a inflação, que já vem se acelerando e assim continuará.
E, finalmente, que, se quisermos acelerar o crescimento do PIB, são necessárias políticas que favoreçam o aumento da produtividade.
A nota triste é que deveriam ter sido adotadas anos atrás para que seus efeitos se manifestassem agora, mas essa agenda, antes perdida, foi então abandonada e, de novo, corremos hoje atrás do prejuízo.
Deslocamento do poder no partido - ROSÂNGELA BITTAR
Valor Econômico - 05/09
Com o abatimento e o abate de grão-petistas pelo mensalão, mais do que nunca já se trabalha, em Brasília, com o contorcionismo do eixo de poder no PT à medida em que vai avançando o julgamento no Supremo Tribunal Federal: perde musculatura o PT de Lula, aqui considerado o grupo paulista, da majoritária facção articulação, e ganha o PT da Dilma, que tem aliados em todas as facções, inclusive naquele. Uma característica importante do PT que sobe a rampa é não arrastar consigo a direção partidária, ainda tentando equilibrar-se nessa transição mas pendendo, em ações, palavras, obras, defesa e geografia, para os que vão sendo defenestrados da cena política principal.
Essa é uma maneira bastante simplificada de descrever o que vai se redesenhando no partido, pois, óbvio, nem o PT que desce a rampa é todo de Lula, nem o que sobe é de Dilma, que parece dispensar esse tipo de liderança. Nos ensaios do momento, são citados alguns integrantes do grupo do PT que precisa reinventar-se: José Dirceu (mensalão) João Paulo Cunha (mensalão), José Genoíno (mensalão), Ricardo Berzoini (aloprados), Cândido Vacarezza (CPI), Delúbio Soares (mensalão), Antonio Palocci (enriquecimento).
No PT da Dilma, assim caracterizado para efeito de estabelecer um elo entre os integrantes do grupo com poder fortalecido, alistam-se Marcelo Déda (governador), Jaques Wagner (governador), Tião Viana (governador), Gleisi Hoffman (ministra), Ideli Salvati (ministra), Paulo Bernardo (ministro), Fernando Pimentel (ministro), Aluizio Mercadante (ministro), Alexandre Padilha (ministro), José Eduardo Cardozo (ministro).
Há petistas com poder interno mantido, por enquanto, como o presidente do partido, Rui Falcão, que pertencem ao primeiro grupo, como há outros que, como Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência, que atuam no segundo grupo mas com uma função clara determinada pelo primeiro, a de representante pessoal do ex-presidente Lula no Palácio do Planalto. Está para ser reescrita e redesenhada a nova configuração do PT, mas as tentativas prosseguem.
O primeiro grupo tinha a articulação de um projeto a uní-los, o que não se repete no segundo. Palocci guardava um projeto de país na cabeça, o PT de José Dirceu existiu com metas e liderança. O outro PT, que vai sobrando do mensalão, não está amalgamado, é um somatório de projetos individuais, mas como boa parte dele está no governo, convencionou-se chamá-lo de PT da Dilma. Ela será a candidata do partido à reeleição, por isso não há como fugir do pertencimento ao partido. Nesse também há PT de São Paulo, como Aloizio Mercadante e Marta Suplicy, as estrelas ainda brilhando. Gleisi Hoffmann quer ser governadora do Paraná mas nem o PT local está apoiando seu projeto, boa parte dele está com o adversário Ratinho Jr. O mesmo acontece no PT de Pernambuco, onde não há acusados, envolvidos, denunciados ou feridos, mas as correntes não têm meta comum. Esse PT nada tem a ver com o do Paraná, e assim segue a "desorganicidade" do grupo.
Os ministros têm relação próxima entre si e com a presidente, mas nenhuma formulação no conjunto partidário. Como grupo, começa a crescer e caminhar com autonomia agora, e nas próximas eleições internas já terá que buscar uma direção. O atual presidente perfila-se na faixa onde o poder foi corroído, mas não existe o substituto que vai conduzir a recuperação do partido. As lideranças do Parlamento estão exauridas, sem força ou resquício de poder
A presidente Dilma Rousseff não vai liderar a parte do partido que sobreviverá ao julgamento. Ela é a presidente, vai governar, insiste-se. Deu ao antecessor a função de ministro de eleições, ou seja, ministro do PT. É por aí que o partido vai procurar uma unidade de projeto.
Avaliações feitas em torno dessa nova realidade incluem, como elemento transformador, o resultado das eleições municipais que, mais do que sempre, estão balizando as disputas nacionais daqui a dois anos. Se o partido estiver caminhando para um desastre no Recife, em Salvador, em Belo Horizonte, em Curitiba, em Porto Alegre, como prenunciam as últimas avaliações internas, e apesar de tudo conquistar São Paulo, o lulismo voltará fortíssimo com o grupo paulista preservado da Lei da Ficha Limpa e as forças dos outros Estados, mesmo perdedores. Se conseguir dar a volta por cima em todas essas capitais, sobretudo do Nordeste, onde o chão vem cedendo, e perder em São Paulo, o cenário é de depressão: eleição perdida onde seria obrigatório vencer, mensalão mais desastroso do que parecia inicialmente ao partido, sem os comandos da Câmara e do Senado (os dois com o PMDB) a partir de fevereiro, o PT sabe que marchará fragilizado para o início da campanha sucessória da reeleição.
O governo encerrou sua participação, e não insistirá mais com o PMDB, no projeto de manter a governabilidade no Senado com a eleição de um presidente, em fevereiro do ano que vem, que não seja o senador Renan Calheiros (AL), candidato a voltar ao cargo que o perdeu para evitar cassação de mandato por transgressão à ética. Assim, o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, o mais cotado na torcida do governo para disputar a sucessão de José Sarney, não deixará mais o Ministério após as eleições municipais como estava previsto, é o que se informa hoje no círculo próximo aos atores pemedebistas.
Lobão já não queria sair, não demonstrava ímpeto de disputar, alegava empecilhos até pessoais, de resistência do filho, seu suplente, para não retomar a vaga, mas sua argumentação ficou superada pela informação que o partido fez chegar ao Planalto que Renan conseguiu romper resistências ao seu nome, tem votos para se eleger e acredita que as denúncias não voltarão a assombrá-lo.
São maiores de idade, dizem dos senadores, e há um limite para o governo intervir. Mas não desistiu de trocar, em fevereiro, seus líderes no Senado, na Câmara e no Congresso, respectivamente Eduardo Braga, Arlindo Chinaglia, José Pimentel. Todos avisados que a representação duraria apenas um ano.
Bom para alguns, ruim para todos - FERNANDO ULRICH
O Estado de S.Paulo - 05/09
A política de redução do spread bancário e de aumento de crédito concedido pelos bancos oficiais beneficia a alguns, sem dúvida. Em especial àqueles devedores marginais, antes considerados não aptos a um financiamento e que, agora, veem seus sonhos de consumo serem realizados. Beneficiadas também são as empresas que fornecem os produtos aos novos consumidores. Sob a batuta do ministro da Fazenda, a orquestra de bancos públicos toca a música, e o povo dança. Que insensível indivíduo se oporia a uma causa nobre: possibilitar o acesso dos cidadãos de menor renda a bens tão importantes? Não é uma política boa para todos? Infelizmente, receio que não.
Divulgados os balanços dos bancos brasileiros no 1.º semestre, a verdade é que os números não são nada confortantes, com especial destaque para a Caixa Econômica Federal. Na contramão dos bancos privados, a Caixa segue expandido sua carteira de crédito a um ritmo inquietante: 45% nos últimos 12 meses. E não foram só os empréstimos da Caixa que se expandiram, sua alavancagem alcançou 28 vezes, a maior dos últimos dez anos e quase o triplo da média dos três maiores bancos privados.
Dos quase R$ 600 bilhões em ativos da Caixa, 30% correspondem à carteira de financiamentos imobiliários. Enquanto seus ativos cresceram 4,6 vezes em dez anos, os créditos imobiliários - ativos de longa maturação - aumentaram 12 vezes, ampliando assim seu descasamento de prazos. Do total dos empréstimos imobiliários no Sistema Financeiro da Habitação (SFH), a Caixa responde por mais de 75%, ou R$ 177 bilhões. Além disso, sua carteira de crédito tem proporcionalmente mais devedores enquadrados nas faixas de maior risco do que os bancos privados.
Apesar de todos esses dados alarmantes, o governo insiste em afirmar que a Caixa tem solidez financeira, baixíssima inadimplência, ótima gestão e uma análise de crédito do mais alto nível, o que lhe permite conceder financiamentos a cidadãos que outros bancos simplesmente se recusam a atender. É fato que seu índice de Basileia, hoje em 13%, está acima do nível mínimo de enquadramento, de 11%. Mas é o menor índice entre os principais bancos do País e vem caindo consistentemente nos últimos anos. Em 2008 estava acima de 20%.
Apesar de servir como um indicador de segurança das instituições financeiras, as regras de Basileia não são nenhuma garantia de solvência e liquidez. Basta lembrar do banco americano Lehman Brothers, em 2008, e do banco franco-belga Dexia, em 2011. Seguindo as regras de Basileia, ambos estavam plenamente capitalizados dias antes de colapsarem. Diante desses fatos, teria a Caixa, então, encontrado uma fórmula mágica para - ao expandir o crédito, sua alavancagem e seu descasamento de prazos - aumentar somente sua rentabilidade sem aumentar seu risco?
Definitivamente não. Num banco público, expandir o crédito e reduzir os juros abaixo dos níveis de mercado são decisões políticas, e não econômicas. De 35%, em 2001, os bancos oficiais agora respondem por mais de 45% do total de crédito no País. Enquanto os bancos privados pisam no freio, o governo acelera, e Guido Mantega ameaça: "Os bancos privados vão perder mercado".
A verdade é que, com a garantia política de solvência, praticamente não há incentivos à boa gestão. Se algo der errado, se houver algum prejuízo, o governo paga a conta. Mas quem paga a conta do governo? Os pagadores de impostos. Os cidadãos brasileiros.
Não surpreende, portanto, quando o governo especula mais capitalizações à Caixa, seja pela injeção direta de recursos, seja pela transferência de créditos de qualidade duvidosa à Empresa Gestora de Ativos (Emgea) - uma óbvia admissão de que algo não vai bem nessa farra de crédito.
A política do governo de redução artificial dos juros e de "democratização" do crédito traz consigo benefícios e custos. No curto prazo, bom para alguns; mas no longo prazo, certamente, ruim para todos. É difícil prever quando pagaremos essa conta. Quanto antes pisarmos no freio, menos salgada ela será.
Um (a) por todos - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 05/09
Ao molde do tempo em que sindicatos eram sindicatos, no PT funciona assim: mexeu com um, mexeu com a categoria. E se esse "um" é tido como o garantidor da sobrevivência, por mais razão mobilize-se a elite da tropa.
Em palavras breves, sem pretensão analítica profunda, podemos resumir assim a reação da presidente Dilma Rousseff em defesa do ex-presidente Lula contra as críticas feitas em artigo pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso.
O contra-ataque poderia ser visto como uma tentativa de interditar a liberdade de opinião. Só por aqui e numa perspectiva autoritária é que se vê a exposição de um raciocínio como ofensa pessoal.
Embora perfeitamente adequada à ocasião, essa seria uma interpretação incompleta em face do real objetivo da nota da presidente para rebater o artigo "herança pesada" em que FH diz o óbvio sobre o legado de retrocesso moral e ético deixado por Lula.
Tão óbvio que há dele provas cabais. A demissão de sete ministros no primeiro ano do governo de Dilma dá testemunho substancioso a respeito.
Fosse pouco, o Supremo Tribunal Federal há um mês conta essa história três vezes por semana em todos os detalhes com transmissão direta pela televisão, fundamentação jurídica e posicionamentos contundentes.
A essa autonomia recebida pela sociedade como um legítimo resgate da legalidade, o presidente do PT dá o nome de "golpe".
Voltemos, porém, a Dilma e sua manifestação nesse momento de profunda consternação que se abate sobre o PT e da mais aguda desmoralização ao desmonte da farsa anunciado por Lula.
O que fez a presidente? Nada demais. Divulgou uma nota em termos absolutamente razoáveis sob a concepção dela dos fatos, para defender a "herança bendita" que recebeu de Lula.
Claro que não cita o ponto principal abordado por FH, "o estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais para o futuro da nação".
Fala sobre o crescimento da economia - sem desta vez associá-lo à reconstrução da credibilidade do País consolidada pelo autor que contraditava -, sobre justiça social e sobre o reconhecimento de seu criador no cenário internacional.
Não é a verdade toda, mas ainda assim, verdades.
A presidente não incorreu em impropriedade, não desrespeitou leis, nada fez de excepcional além de resguardar o patrimônio político do grupo hoje por ela representado.
Fez, como petista, o que os correligionários de Fernando Henrique não fizeram quando o PT vendeu - e a sociedade comprou - a tese de que recebia uma "herança maldita".
Dilma demarcou terreno e deu uma lição aos tucanos, FH aí incluído, que viveram a ilusão de enxergar nos gestos de boa educação da presidente algo além de um movimento que agregaria novos valores - e por consequência novos eleitores - ao projeto de poder do PT.
Reciclar. Foi-se o tempo em que motoristas falavam e, se fosse o caso, incriminavam em comissões parlamentares de inquérito. Um ex-motorista da Delta ficou calado ontem na CPI do Cachoeira, assim como a ex-mulher do bicheiro. Agora só falta uma secretária calar para negar a velha escrita sobre fontes de comprovação de denúncias em CPIs.
Isso posto, é evidente que esse silêncio é uma espécie de defeito da qualidade das investigações parlamentares: a partir do momento que aquele tipo de depoimento começou a gerar consequências - muitas vezes nefastas para o denunciado largado à própria sorte (ou azar) depois do relevante serviço prestado -, mesmo as testemunhas ficam reticentes.
De onde estaria na hora de se revisar os métodos e os conceitos para adaptar as comissões de inquérito aos novos tempos. Enquanto os investigados aperfeiçoaram seus procedimentos, as CPIs continuam obedecendo a uma dinâmica ultrapassada.
Quando a forma antiga se alia ao propósito da maioria de postergar para não investigar, seus integrantes fazem papel de bobos da corte.
Ao molde do tempo em que sindicatos eram sindicatos, no PT funciona assim: mexeu com um, mexeu com a categoria. E se esse "um" é tido como o garantidor da sobrevivência, por mais razão mobilize-se a elite da tropa.
Em palavras breves, sem pretensão analítica profunda, podemos resumir assim a reação da presidente Dilma Rousseff em defesa do ex-presidente Lula contra as críticas feitas em artigo pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso.
O contra-ataque poderia ser visto como uma tentativa de interditar a liberdade de opinião. Só por aqui e numa perspectiva autoritária é que se vê a exposição de um raciocínio como ofensa pessoal.
Embora perfeitamente adequada à ocasião, essa seria uma interpretação incompleta em face do real objetivo da nota da presidente para rebater o artigo "herança pesada" em que FH diz o óbvio sobre o legado de retrocesso moral e ético deixado por Lula.
Tão óbvio que há dele provas cabais. A demissão de sete ministros no primeiro ano do governo de Dilma dá testemunho substancioso a respeito.
Fosse pouco, o Supremo Tribunal Federal há um mês conta essa história três vezes por semana em todos os detalhes com transmissão direta pela televisão, fundamentação jurídica e posicionamentos contundentes.
A essa autonomia recebida pela sociedade como um legítimo resgate da legalidade, o presidente do PT dá o nome de "golpe".
Voltemos, porém, a Dilma e sua manifestação nesse momento de profunda consternação que se abate sobre o PT e da mais aguda desmoralização ao desmonte da farsa anunciado por Lula.
O que fez a presidente? Nada demais. Divulgou uma nota em termos absolutamente razoáveis sob a concepção dela dos fatos, para defender a "herança bendita" que recebeu de Lula.
Claro que não cita o ponto principal abordado por FH, "o estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais para o futuro da nação".
Fala sobre o crescimento da economia - sem desta vez associá-lo à reconstrução da credibilidade do País consolidada pelo autor que contraditava -, sobre justiça social e sobre o reconhecimento de seu criador no cenário internacional.
Não é a verdade toda, mas ainda assim, verdades.
A presidente não incorreu em impropriedade, não desrespeitou leis, nada fez de excepcional além de resguardar o patrimônio político do grupo hoje por ela representado.
Fez, como petista, o que os correligionários de Fernando Henrique não fizeram quando o PT vendeu - e a sociedade comprou - a tese de que recebia uma "herança maldita".
Dilma demarcou terreno e deu uma lição aos tucanos, FH aí incluído, que viveram a ilusão de enxergar nos gestos de boa educação da presidente algo além de um movimento que agregaria novos valores - e por consequência novos eleitores - ao projeto de poder do PT.
Reciclar. Foi-se o tempo em que motoristas falavam e, se fosse o caso, incriminavam em comissões parlamentares de inquérito. Um ex-motorista da Delta ficou calado ontem na CPI do Cachoeira, assim como a ex-mulher do bicheiro. Agora só falta uma secretária calar para negar a velha escrita sobre fontes de comprovação de denúncias em CPIs.
Isso posto, é evidente que esse silêncio é uma espécie de defeito da qualidade das investigações parlamentares: a partir do momento que aquele tipo de depoimento começou a gerar consequências - muitas vezes nefastas para o denunciado largado à própria sorte (ou azar) depois do relevante serviço prestado -, mesmo as testemunhas ficam reticentes.
De onde estaria na hora de se revisar os métodos e os conceitos para adaptar as comissões de inquérito aos novos tempos. Enquanto os investigados aperfeiçoaram seus procedimentos, as CPIs continuam obedecendo a uma dinâmica ultrapassada.
Quando a forma antiga se alia ao propósito da maioria de postergar para não investigar, seus integrantes fazem papel de bobos da corte.
A "D.R." do Serra - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 05/09
Já prometeu, se merecer outra chance, ser fiel à cidade de São Paulo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de seu mandato, mas, depois que Bill Clinton disse "eu nunca fiz sexo com aquela mulher", todo mundo desconfia da fidelidade de político sério.
O candidato tucano busca na própria experiência sustentabilidade para sua determinação de nunca mais abandonar o lar seduzido pelas urnas da vizinhança: "Não vou de novo porque já fui duas vezes!" Huuummm!!!
Se o passado condena, Serra pelo menos nunca saiu por aí apalpando umas e outras no carnaval da Gazeta!
É, enfim, o tipo de "D.R." política que vai se arrastar pela campanha até o dia da eleição, quando o paulistano decidirá, enfim, se aceita ou não o ex-prefeito de volta.
Uma suposta tatuagem com a inscrição "São Paulo, amor eterno" gravada no antebraço do candidato pode ser um trunfo guardado na manga comprida para os últimos dias de propaganda política na TV!
Será?
Triângulo amoroso
FHC vai esperar a poeira baixar para mandar flores para Dilma Rousseff. Meio para fazer as pazes com a presidente, meio para irritar o Lula!
Avant-première
Quem acompanhou ao vivo a gravação em estúdio das inserções de Marta Suplicy na propaganda de Fernando Haddad na TV ficou impressionado com o talento da senadora. Lembrava, por vezes, a Nina fingindo-se de amiga da Carminha!
Tratamento de choque
Em respeito ao item do regimento interno do STF que posiciona cada um dos ministros no tribunal, coube logo a Joaquim Barbosa a antiga cadeira do Peluso. Tomara que não lhe agrave o incômodo na lombar!
Aparelhamento - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 05/09
O dramático crescimento do Estado e a tendência ao "aparelhamento partidário" são facilitados pela estabilidade, pela maior remuneração e pela melhor perspectiva de benefícios futuros do funcionalismo. Esse é um fator preocupante para a organização de um setor público eficiente, transparente e, de fato, republicano.
É um grave equívoco pensar que o "grande aparelhador" foi o Partido dos Trabalhadores, para "fincar" sua "ideologia" no Estado. A história revela que ele é exatamente igual a todos os outros que chegaram ao poder. O supostamente virtuoso PSDB fez rigorosamente o mesmo. Na prática, a "ideologia" é só codinome elegante da "fisiologia"!
Os partidos sem ideologias aparentes não têm como esconder-se. São alvos fáceis dos que se pretendem "ideológicos" e diretamente marginalizados como "fisiológicos".
Nada disso é novidade. A disputa entre o janismo e o adhemarismo, em São Paulo, mostrou isso com toda crueza e deselegância: quem ganhava a eleição demitia, no primeiro decreto, todos os funcionários não estáveis admitidos pelo antecessor.
O processo foi se aperfeiçoando. Quem -quando no poder- pode fazer um concurso manipulado para dar estabilidade aos seus correligionários não perde a oportunidade de fazê-lo. A Prefeitura de São Paulo mostrou isso há menos de 20 anos.
Quando os concursos são controlados por grupos já instalados e que se pensam portadores da ideologia "verdadeira", a tendência é dirigi-los para cooptar os "seus", como mostraram o PSDB e o PT recentemente. O caso do Ipea é paradigmático: com o PSDB, ele perfilhava um pretensioso cientificismo acadêmico, que vive no mundo do pensamento; sob o comando do perseverante e competente Marcio Pochmann, abandonou o alfabeto grego e mergulhou na mais lamacenta, profunda, íntima e bruta realidade brasileira!
Talvez o pêndulo tenha caminhado rápido demais. Sendo membro do conselho do Ipea, creio que a presidenta fez uma boa arbitragem. Nomeou o ilustre economista e renomado pesquisador Marcelo Neri, com respeitável formação neoclássica, mas que construiu seu nome metendo a mão em problemas cruciantes que afligem o cidadão brasileiro.
A propósito, os atuais estudos do Ipea podem dar melhor suporte às políticas públicas. Por exemplo, seus trabalhos recentes sobre o diferencial dos salários entre os setores público e privado. Eles mostram a validade dos argumentos do governo na disputa que terminou na greve insensata do funcionalismo federal.
"Lulas" e "Dilmas" - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 05/09
RIO DE JANEIRO - Levantamento da Folha revelou que, dos 455.796 candidatos a prefeito ou a vereador no próximo dia 7 de outubro, 117 apresentam-se aos eleitores como "Lula" e 148 como "Dilma". Nada demais nisso se a maioria desses "Lulas" for de Luízes na carteira de identidade. Lula é uma corruptela frequente para Luiz, principalmente no Nordeste, e Dilma, percebe-se agora, é um nome mais comum do que se pensava -muito mais comum.
O problema é se o "Lula" acoplado ao nome do candidato tiver sido um acréscimo recente, e nem sua família souber que ele é chamado assim nas rodas de cerveja ou de sinuca. Nesse caso, a marca Lula junto ao nome verdadeiro do candidato será de um sórdido oportunismo por parte deste, assim como uma prova de sua confiança na ignorância do eleitor. O que se pode esperar de um candidato, mesmo a vereador, que manifesta tal desprezo pela inteligência de quem vota nele?
Quanto à súbita multidão de Dilmas, não deve ser só coincidência. É possível que muitas tenham sido estimuladas a se candidatar apenas pelo fato de se chamar Dilma -como se isto pudesse induzir o eleitorado de Cafundó do Mato Dentro a acreditar que a mulher que eles veem diariamente na televisão, esbravejando com os ministros em Brasília, seja a mesma que promete resolver os seus problemas de esgoto ou do buraco na rua.
A Folha contabilizou os "Lulas" por partido, e não é surpresa constatar que a maioria é do PT -embora o partido que tem o Lula original, primeiro e único, devesse ser o maior interessado em impedir que cabeças de bagre usassem "Seu" santo nome em vão. Mas, enfim, ninguém pode ser proibido de se chamar Lula. Interessante é constatar que, no Brasil atual, há mais mulheres querendo ser Dilma -148- do que homens tentando se passar por Lula -117.
RIO DE JANEIRO - Levantamento da Folha revelou que, dos 455.796 candidatos a prefeito ou a vereador no próximo dia 7 de outubro, 117 apresentam-se aos eleitores como "Lula" e 148 como "Dilma". Nada demais nisso se a maioria desses "Lulas" for de Luízes na carteira de identidade. Lula é uma corruptela frequente para Luiz, principalmente no Nordeste, e Dilma, percebe-se agora, é um nome mais comum do que se pensava -muito mais comum.
O problema é se o "Lula" acoplado ao nome do candidato tiver sido um acréscimo recente, e nem sua família souber que ele é chamado assim nas rodas de cerveja ou de sinuca. Nesse caso, a marca Lula junto ao nome verdadeiro do candidato será de um sórdido oportunismo por parte deste, assim como uma prova de sua confiança na ignorância do eleitor. O que se pode esperar de um candidato, mesmo a vereador, que manifesta tal desprezo pela inteligência de quem vota nele?
Quanto à súbita multidão de Dilmas, não deve ser só coincidência. É possível que muitas tenham sido estimuladas a se candidatar apenas pelo fato de se chamar Dilma -como se isto pudesse induzir o eleitorado de Cafundó do Mato Dentro a acreditar que a mulher que eles veem diariamente na televisão, esbravejando com os ministros em Brasília, seja a mesma que promete resolver os seus problemas de esgoto ou do buraco na rua.
A Folha contabilizou os "Lulas" por partido, e não é surpresa constatar que a maioria é do PT -embora o partido que tem o Lula original, primeiro e único, devesse ser o maior interessado em impedir que cabeças de bagre usassem "Seu" santo nome em vão. Mas, enfim, ninguém pode ser proibido de se chamar Lula. Interessante é constatar que, no Brasil atual, há mais mulheres querendo ser Dilma -148- do que homens tentando se passar por Lula -117.
A meritocracia vacilante - CLAUDIO DE MOURA CASTRO
O ESTADÃO - 05/09
Um regime de governo não pode ser descrito por uma ou duas palavras. Na verdade, é bicho complexo, com lados bons e lados maus. Sua condenação ou absolvição resulta da aritmética de seus vícios e virtudes. Os piores não deixam de ter virtudes e os melhores cometem seus pecados. Absolvemos a nossa democracia presente, apesar dos seus pecados. O período militar teve suas mazelas amplamente descritas, mas também teve suas virtudes. O importante é aprender as lições da História. No presente ensaio discuto os vaivéns da meritocracia, que avançou no período dos militares, mas tropeça depois.
Em 1979, dias após minha posse como diretor-geral da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), um alto dignitário do Ministério da Educação sentenciou: "Infelizmente, a Capes não é mais a mesma. Imagine que um juiz, uma pessoa que merece todo o nosso respeito, pediu à Capes uma bolsa para o filho. Foi negada!". De fato, uma das nossas vaidades era operar puramente com regras técnicas ou meritocráticas.
Como diretor, recebia inúmeras visitas de políticos pedindo para seus afilhados a concessão de bolsas de estudos para o exterior. Polidamente, anotávamos o pedido. Mas o papel ia para a pilha dos outros, para serem julgados apenas no mérito. Se ganhasse o protegido do deputado, era porque seu "peixinho" merecia. Somente transigíamos para pedidos de reconsiderar prazos perdidos. Mas iam para a mesma pilha.
Chegavam também pedidos mais poderosos, do gabinete do ministro da Educação ou da Casa Civil. Quando se acumulava um bom número, íamos ao ministro ou ao general Golbery e, respeitosamente, perguntávamos se havia razões imperiosas para conceder bolsas a algum deles. Tanto um quanto o outro passavam os olhos nos nomes e sempre diziam: "Não conheço nenhum desses". Na verdade, eram pedidos dos amiguinhos dos funcionários dos gabinetes. Julgávamos apenas no mérito.
Poucos anos depois dirigi o Centro Nacional de Recurso Humanos (da Secretaria de Planejamento, a Seplan), também em pleno regime militar. Chegando ao escritório, meus colaboradores, esbaforidos, me comunicaram a criação do Finsocial, injetando o equivalente a US$ 2,6 bilhões em programas sociais. Hoje esse montante valeria mais que o dobro. A razão do rebuliço é que cabia a nós propor a alocação desses espantosos recursos.
Filosoficamente, revelei o meu ceticismo quanto à disposição da Seplan de seguir as nossas orientações. Mas tínhamos de fazer um trabalho sério e que refletisse as nossas percepções acerca da melhor forma de distribuir os recursos. Em uma semana levamos a nossa planilha ao ministro.
Para nossa imensa surpresa, os lobbies, os interesses e os grupos de pressão foram ignorados. Prevaleceu rigorosamente a sugestão apresentada por nós, certa ou errada. Era o lado bom do regime militar.
Nessas duas agências que tive o privilégio de dirigir, as interferências políticas indevidas eram mínimas e, quase sempre, contornáveis. Os exemplos citados ilustram o que vi em outros ministérios: avanços da meritocracia, incipiente em períodos anteriores. Nem sempre se acertava, mas a intenção era o bem comum.
Hoje temos uma democracia de verdade, apesar de um pouco sofrida. Nem pensar em trocá-la pelo regime anterior! Vivemos num Estado de Direito. Temos garantias constitucionais, temos a liberdade individual das democracias mais maduras. Prevalece a liberdade de imprensa. Nosso jornalismo investigativo é obstinado e perspicaz (em que pesem exageros e reputações injustamente maculadas). Executivo, Legislativo e Judiciário costumam trocar caneladas e podem tropeçar, mas os processos decisórios seguem os trâmites legais.
Contudo, nos últimos anos, houve retrocessos na prática da meritocracia, sobretudo pela presença indevida de influências políticas, cegueira ideológica ou interesses corporativos dentro das máquinas burocráticas. Ou seja, muitas decisões são mesquinhas ou apenas beneficiam pequenos grupos, em vez de serem tomadas visando o bem comum.
Faz parte das regras do jogo que os dirigentes escolhidos estejam alinhados com aqueles que ganharam nas urnas. Todavia está errado quando a conveniência política sacrifica a competência técnica requerida. Ou seja, dentre os aliados há demasiadas escolhas de incompetentes (e até gente de reputação discutível). Cargos de confiança viram moeda de troca no mercado persa da politicagem e da partidarização dentro da máquina.
Em razão da malha de interesses de índole corporativista, para exercer suas funções os chefes hoje mandam menos do que deveriam. As irregularidades e ofensas à moralidade pública são tratadas com leniência, passando a mão na cabeça do menino e perdoando as travessuras.
Porém os pecados hoje observados não são inerentes ao sistema democrático, como se esse fosse o preço a pagar para escapar do regime militar. Talvez até tenham sido inevitáveis no vácuo de uma ascensão de partidos de origem popular. Mas não nos podemos contentar com uma degeneração do processo decisório dentro do Estado. Isso não é inerente à democracia. Não passa de um entulho adquirido no processo de transição.
Numa democracia o processo decisório é penoso, lento e tende a produzir leis imperfeitas, quando não gera indecisões e impasses. Não obstante, dentro do campo de ação dos administradores públicos, nas melhores democracias, os critérios técnicos têm mais peso e o compadrio, menos.
No regime militar desaprendemos muito sobre o funcionamento de uma democracia. Mas nem tudo era pior. As escolhas de pessoas privilegiavam mais os méritos individuais e as decisões refletiam mais fortemente uma vontade de fazer a coisa certa para a sociedade. Precisamos reaprender essas lições, pois também fazem parte de uma real democracia.
O véu da discórdia - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 05/09
Fatma Nabil, âncora da TV estatal egípcia, apareceu vestindo um véu no noticiário do meio-dia do último domingo. Durante 30 anos, sob o regime laico de Hosni Mubarak, o hijab era peça proibida para apresentadoras.
Para os religiosos, ao levantar a proscrição, o presidente Mohamed Mursi promove a liberdade, dando a cada mulher o direito de decidir se vai vestir-se com modéstia, como determina o Alcorão. Já para os secularistas, a novidade é só um primeiro passo no plano de assalto ao poder acalentado por Mursi e seus companheiros da Irmandade Muçulmana.
Não sou uma pessoa particularmente religiosa. Na verdade, vejo com desconfiança todos os que proclamam agir sob inspiração de um suposto criador, mas não entendo a marcação cerrada do Ocidente, em especial de alguns movimentos feministas, contra os véus.
Não me entendam mal, defendo com ardor a retirada de símbolos religiosos que o Estado coloque em espaços públicos, como é o caso dos crucifixos em nossos tribunais e até dos "hujub" na TV estatal. Mas eu paro no poder público. Não creio que seja legítimo forçar um cidadão a abrir mão de utilizar adereços religiosos. Trata-se, afinal, da mais elementar das liberdades civis, que é a de possuir uma individualidade e exprimi-la pacificamente.
Pode-se argumentar que, em certos casos, a mulher se enfia num manto por imposições machistas de pais, irmãos e da sociedade. Mas, a menos que eliminemos até as versões mais fracas do livre-arbítrio, precisamos acreditar que mulheres de nível universitário que não apanham em casa e dizem querer usar o véu estão exprimindo sua vontade.
No fundo, o que está em jogo aqui é se agendas coletivas, personificadas no Estado, têm prevalência sobre o indivíduo ou vice-versa. De minha parte, penso que o Estado contemporâneo deve servir ao indivíduo, e não o contrário, como sempre foi a regra.
Na porta do Céu - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 05/09
Da hoje talvez esquecida obra do psicólogo existencial Rollo May (1909- 1994), ficou em mim a marca de dois dos seus livros. O do famoso Amor e Vontade (de 1969); e deCoragem para Criar (de 1975) que li na Universidade de Cambridge, Inglaterra, quando visitava brevemente o seu Centro para Estudos Latino-Americanos, em 1978, e lá terminava o meu livro Carnavais, Malandros e Heróis, no qual tentei revelar o Brasil pelo seu avesso conflitivo, dilemático e hierárquico por meio de instituições tidas como inocentes como o carnaval, o você sabe com quem está falando e os seus heróis - alguns vistos como santos, outros como bandidos, quase todos como malandros. Era preciso alguma coragem para escrever sobre o Brasil sem falar em classes sociais, usar o estruturalismo de Dumont e Lévi-Strauss (tido como a miséria da razão) e citar o reacionário Alexis de Tocqueville e não o revolucionário Karl Marx.
Num desses livros, Rollo May conta o drama do jovem pesquisador que morreu e, chegando à porta do Paraíso, é julgado por São Pedro. No solene rito territorial que vai decidir sua futura vida eterna no Céu ou no Inferno (lembro que Rollo nasceu em Ada, Ohio, e que para os calvinistas não há o razoável e passageiro Purgatório com suas indulgências), o jovem decide que o melhor caminho é confessar e vai logo dizendo que tinha falsificado os dados de sua tese de doutorado em Psicologia Experimental. O calejado porteiro celestial olha para aquela alma, transparente na sua patética autoconfissão, e profere: "Não, meu jovem. O que pesa na sua vida não foi essa banal falsificação. Falsificar e enganar são dimensões constitutivas dos mortais. Esse é um pecado que não levamos muito a sério aqui em cima. O seu grande pecado, aquele que pode efetivamente condená-lo, é que você foi enviado para um teatro de horrores e para um vale de lágrimas e, no seu trabalho, você o reduziu a um mero circo de cavalinhos. Sua tarefa era compreender as tremendas contradições que são parte da vida emocional emoldurada pela razão e você reduziu tudo a um problema de estímulo e resposta!". Hoje, São Pedro certamente mencionaria a neurociência, esse novo reducionismo ocidental.
Tenho sido perseguido por essa passagem e talvez seja por isso que hoje, velho e um tanto cansado dos teóricos que pululam nas universidades, eu prefira ler literatura onde ninguém precisa falsificar coisa alguma, porque tudo já está falsificado, satisfazendo de sobra aquilo que buscamos. A falsificação convincente, com início, meio e fim, que tanto leva a admirar a temeridade do ladrão, a ousadia e a natural mendacidade dos políticos, quanto a bravura sisuda de um deslindador profissional de mentiras, como é o caso dos juízes os quais, com a intrepidez de Teseu, entram no labirinto do monstruoso Minotauro e, confiantes no tênue (mas mágico) fio de Ariadne não se perdem no dédalo das mentiras, as quais destroem, estabelecendo no ritual do julgamento (esse ato público de regeneração moral) o fim das falsidades.
Essa parábola do julgamento do jovem cientista tem sido o meu emblema neste histórico e crucial ajuizamento do mensalão. Tenho assistido com assiduidade e interesse à atuação dos magistrados e dos defensores e me orgulhado de seus desempenhos. O drama da Justiça ao vivo, num caso tão importante quanto complicado e delicado para a vida democrática do nosso país, é muito semelhante à entrada no Céu ou o risco de deslindar confusões e decidir o caminho nas encruzilhadas.
Espantou-me como a maioria dos magistrados buscou com zelo e lucidez os fios mágicos - dentro daquilo que os juristas chamam de "contraditório" - para realizar um percurso em busca de uma verdade com duas caras: a da promotoria e a da defesa. Sem, diga-se de passagem, esquecer o direito dos réus. Tudo na ausência da autoridade de um poder final ou divino, exceto aquelas manifestações de onipotência humana que fazem parte de todo confronto público em que o foco é a divergência e por isso mesmo prevalece a regra da lei.
Esse espetáculo de civilidade deve ser não apenas louvado, mas visto por todos, sobretudo pelos lulo-petistas que estão no governo e nele ocupam cargos da mais alta responsabilidade.
Outro dia, um velho e querido amigo petista reclamou comigo da "politização" do caso. Mas como poderia ser de outro modo se tudo o que era do PT (e da chamada "esquerda" em geral) - do café da manhã aos desfiles carnavalescos e os jogos de futebol, sem esquecer o amor e o sexo - era (ou deveria ser) politizado? E como não ter desdobramentos políticos se o caso começa precisamente motivado por uma perspectiva da política e do poder? O que não se pode fazer é psicologizar o mensalão. Porque nesse caso seria bem pior e o julgamento entraria no terreno das compulsões e esquizofrenias nas quais a mão esquerda ignora a mão direita e deseja decepá-la, como é corrente no caso dos que escolhem o extremo como rotina e método. Ademais, se o caso fosse lido por psicólogos, alguns acabariam num hospício.
Por outro lado, essa politização está contida pelas etiquetas legais e pelos procedimentos jurídicos. Ninguém deseja destruir ninguém e muito menos um partido com a importância do PT. Agora, julgar aquilo que surgiu como engodo coletivo e como um plano para evitar o jogo liberal e igualitário de ganhar para depois perder e, em seguida, ganhar novamente, como sendo um evento trivial seria não somente leviandade, mas uma fuga dos desafios que a democracia demanda da sociedade brasileira.
Por isso, não há como fugir dessas duras viagens pelos labirintos das verdades e das mentiras. Por mais que isso aflija os que estão no mais alto poder e os que lá estiveram e se sentiram como deuses; ou fantasiaram o mundo como um circo de cavalinhos e pensaram que todos eram otários.
Papel higiênico rosa - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 05/09
Outrora onipresente em desprivilegiadas privadas públicas, ele deixou a vida para entrar na história
Semana passada, quando o explosivo conluio entre uma moqueca baiana e uma ressaca homérica me levou, às pressas, a buscar asilo no banheiro de um boteco, dei-me conta de uma discreta, porém fundamental, mudança na cenografia do cotidiano: o papel higiênico rosa não existe mais. Sem alarde, sem choro nem vela nem fita amarela, os purpúreos rolos, outrora onipresentes em pés sujos, postos de gasolina e outras desprivilegiadas privadas públicas deste Brasil, deixaram a vida para entrar na história.
Diante de tal constatação, não pude evitar que um sorriso despontasse em meu rosto. Senti que o papel higiênico rosa era uma daquelas aberrações do século 20 felizmente extintas, como a palmatória, o CFC, os polichinelos nas aulas de educação física. Que pereça na vala comum do passado, pensei, e que de lá só saia em pesadelos, quando o inconsciente, com suas razões que a própria razão desconhece, vier esfregá-lo novamente em nossas fuças -ou em recantos menos nobres da epiderme.
Minha alegria, contudo, não durou muito tempo. Esvaiu-se assim que olhei para o lado e lembrei a que fomos condenados após o declínio daquele desprezado produto da celulose: aos rolões ou aos guardanapinhos. É como se tivéssemos derrubado um caudilho de república das bananas para cair na Guerra Fria, com duas potências dividindo o mundo e impondo a nós suas autocráticas vontades.
Comecemos pelos rolões. A sensação de abundância trazida pela visão da bojuda caixa de plástico desaparece no momento em que o cidadão tenta extrair dela o quinhão que lhe convém daqueles quilômetros de papel higiênico. Pois algum infeliz decidiu, depois de mais de um século de bem-sucedida extração frontal, que o papel agora sai paralelamente ao -digamos assim- usuário, que precisa contorcer-se para puxá-lo. Não satisfeito, o mesmo gênio, pai da "extração paralela", cometeu um grosseiro erro de cálculo. Há uma equação inviável entre a espessura do papel e o peso do rolo: mal você puxa aquela diáfana lingueta, ela se rompe. Por minutos a fio você fica ali, tentando devagarinho, tentando pequenos trancos, tenta até enfiar a mão dentro da caixa de plástico para ajudar no movimento, mas é em vão: o papel rasga em vários pedacinhos e só resta a você fazer um bolinho com aqueles trapos, um amontoado mais troncho que dinheiro de bêbado.
O mesmo problema, é verdade, não ocorre com os tais "guardanapinhos", pois eles sequer te dão a esperança de conseguir um comprimento decente: já saem da caixa vertical previamente cortados, com as dimensões perfeitas para a higiene -de gnomos, de duendes, de hobbits; não de seres humanos. É revoltante.
O rolão é uma ditadura stalinista, um estado imenso cuja máquina existe mais para a autopreservação do que para o bem do cidadão. Os guardanapinhos são o capitalismo selvagem, em que foi tirado do indivíduo e dado ao mercado uma das escolhas mais básicas da vida: o tamanho do papel higiênico que lhe convém na mais íntima das solidões.
O papel higiênico rosa podia ser feio, meus amigos, podia ser rude e agressivo, mas funcionava. Éramos felizes e não sabíamos. Éramos livres e não sabíamos. Saudades do papel higiênico rosa.
Outrora onipresente em desprivilegiadas privadas públicas, ele deixou a vida para entrar na história
Semana passada, quando o explosivo conluio entre uma moqueca baiana e uma ressaca homérica me levou, às pressas, a buscar asilo no banheiro de um boteco, dei-me conta de uma discreta, porém fundamental, mudança na cenografia do cotidiano: o papel higiênico rosa não existe mais. Sem alarde, sem choro nem vela nem fita amarela, os purpúreos rolos, outrora onipresentes em pés sujos, postos de gasolina e outras desprivilegiadas privadas públicas deste Brasil, deixaram a vida para entrar na história.
Diante de tal constatação, não pude evitar que um sorriso despontasse em meu rosto. Senti que o papel higiênico rosa era uma daquelas aberrações do século 20 felizmente extintas, como a palmatória, o CFC, os polichinelos nas aulas de educação física. Que pereça na vala comum do passado, pensei, e que de lá só saia em pesadelos, quando o inconsciente, com suas razões que a própria razão desconhece, vier esfregá-lo novamente em nossas fuças -ou em recantos menos nobres da epiderme.
Minha alegria, contudo, não durou muito tempo. Esvaiu-se assim que olhei para o lado e lembrei a que fomos condenados após o declínio daquele desprezado produto da celulose: aos rolões ou aos guardanapinhos. É como se tivéssemos derrubado um caudilho de república das bananas para cair na Guerra Fria, com duas potências dividindo o mundo e impondo a nós suas autocráticas vontades.
Comecemos pelos rolões. A sensação de abundância trazida pela visão da bojuda caixa de plástico desaparece no momento em que o cidadão tenta extrair dela o quinhão que lhe convém daqueles quilômetros de papel higiênico. Pois algum infeliz decidiu, depois de mais de um século de bem-sucedida extração frontal, que o papel agora sai paralelamente ao -digamos assim- usuário, que precisa contorcer-se para puxá-lo. Não satisfeito, o mesmo gênio, pai da "extração paralela", cometeu um grosseiro erro de cálculo. Há uma equação inviável entre a espessura do papel e o peso do rolo: mal você puxa aquela diáfana lingueta, ela se rompe. Por minutos a fio você fica ali, tentando devagarinho, tentando pequenos trancos, tenta até enfiar a mão dentro da caixa de plástico para ajudar no movimento, mas é em vão: o papel rasga em vários pedacinhos e só resta a você fazer um bolinho com aqueles trapos, um amontoado mais troncho que dinheiro de bêbado.
O mesmo problema, é verdade, não ocorre com os tais "guardanapinhos", pois eles sequer te dão a esperança de conseguir um comprimento decente: já saem da caixa vertical previamente cortados, com as dimensões perfeitas para a higiene -de gnomos, de duendes, de hobbits; não de seres humanos. É revoltante.
O rolão é uma ditadura stalinista, um estado imenso cuja máquina existe mais para a autopreservação do que para o bem do cidadão. Os guardanapinhos são o capitalismo selvagem, em que foi tirado do indivíduo e dado ao mercado uma das escolhas mais básicas da vida: o tamanho do papel higiênico que lhe convém na mais íntima das solidões.
O papel higiênico rosa podia ser feio, meus amigos, podia ser rude e agressivo, mas funcionava. Éramos felizes e não sabíamos. Éramos livres e não sabíamos. Saudades do papel higiênico rosa.
CAUSA JUSTA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 05/09
CAMPO FÉRTIL
Está aberta disputa milionária para saber quem venderá no Brasil vacinas contra o vírus HPV, que provoca câncer no colo do útero. Duas gigantes internacionais, a inglesa GSK e a alemã Merck, se uniram a laboratórios nacionais para propor ao governo que a vacina seja adotada no calendário oficial. Se isso ocorrer, serão vendidas no mínimo 4,5 milhões de doses/ano no país.
CAMPO 2
A GSK está com a Fiocruz, do Rio. Sua vacina cobre dois tipos de vírus. A Merck está com o Instituto Butantan, de SP, e cobre quatro tipos de vírus. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, diz que espera propostas até dezembro para bater o martelo.
CAMPO 3
Padilha diz que o governo levará em conta "cobertura da vacina, preço e transferência de tecnologia". Cada dose da vacina custava
US$ 80. Na negociação, o preço já caiu para US$ 20, já que a vencedora terá mercado de pelo menos 1,5 milhão de adolescentes em quem serão aplicadas três doses/ano.
FALA, DILMA
O depoimento que Dilma Rousseff gravou para a campanha de Fernando Haddad a prefeito de SP está guardado a sete chaves no "cofre" de João Santana, marqueteiro do PT. Até ontem não se sabia se ele detonaria dois tiros de uma só vez -Marta Suplicy e Dilma- ou se guardaria a fala da presidente para as últimas semanas do primeiro turno eleitoral.
VOZ BAIXA
O depoimento foi gravado em segredo, há alguns dias, em Brasília, pelo próprio Santana.
VOZ ALTA
O uso de Dilma poderia ser adiado caso Haddad conseguisse, só com Marta e Lula, "roubar" votos de simpatizantes do PT hoje com Celso Russomanno (PRB-SP). Caso contrário, a "bomba presidencial" seria antecipada.
MEU QUERIDO
No comando da campanha do PT se avalia que parte do eleitorado de Russomanno tem uma ligação "afetiva" com ele, difícil de quebrar.
A UVINHA
A ex-modelo Cristina Mortágua diz que é "falso moralismo" condenar Russomanno pelos vídeos em que ele apalpa mulheres no Carnaval, nos anos 90, quando era repórter da TV Gazeta. Cristina aparece em um deles, de biquíni adornado com cachos de uva de plástico. "Ele pegou a uvinha que estava pendurada na minha calcinha. Fiquei meio sem saber como me defender", afirma. "Mas tava fazendo o trabalho dele. Ah, por favor, né? Tem tanto político que faz coisa bem, bem pior!"
O PIOR ALUNO
O primeiro livro de Danilo Gentili vai virar longa. O comediante negociou os direitos de "Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola" com a produtora Clube Filmes.
A direção é de Fabrício Bittar, que já dirigiu o "MTV Sports" e atuou na novela "Mulheres de Areia" (1993).
BOATE DE CLASSE... C
André Almada, dono da boate The Week, que cobra até R$ 100 de entrada, quer abrir uma balada para a classe C. "Há potencial, DJs ociosos e espaço para isso no centro de São Paulo."
SER OU NÃO SERTANEJO
A boate country Wood's, na Vila Olímpia, está barrando a entrada de clientes que usam chapéu caipira, de palha. A Wood's, onde um camarote para dez pessoas custa R$ 2.500, diz que,"se o chapéu foge do estilo country ou sertanejo", a casa pede para que a pessoa deixe o adereço no carro.
A ARTE DE COMPRAR
A Christie's Education, escola da casa de leilões londrina, criou curso para brasileiros que visitarão a feira de arte Frieze London, em outubro. O programa cobre os movimentos artísticos a partir de 1945 e inclui visita à Tate Modern. Foi criado a pedido da agência STB.
ARTE LÁ...
Às vésperas da Bienal de SP, a artista Adriana Varejão abriu a exposição "Histórias às Margens", no MAM. Estiveram lá o fotógrafo Mario Testino e Malu Montoro, do colégio Santa Cruz.
...ARTE CÁ
Nara Roesler recebeu a curadora do Moma de NY, Estrellita Brodsky, para almoço na galeria que leva seu nome. Foram também as artistas Lucia Koch e Marta Bogéa e o colecionador Gilberto Chateaubriand.
CURTO-CIRCUITO
A Chanel lança hoje coleção na Estação São Paulo.
A Zipper Galeria abre hoje a exposição "Perimetrias", de Ana Holck.
A Schutz abre loja na Madison Avenue, em NY, hoje.
Francisco Rezek fala no lançamento do livro "Direito Constitucional Internacional dos Direitos Humanos", de Dimitri Dimoulis e Alexandre Pagliarini. Na Direito GV, hoje, às 18h.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, CHICO FELITTI e LÍGIA MESQUITA
Olho mecânico - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 05/09
BRASÍLIA - A escolha dos finalistas na eleição para prefeito de São Paulo tende a ser no olho MECânico. Mais de 60% dos paulistanos já dizem ter definido o voto, mas três dos 12 candidatos ainda aparecem com chance de ir ao segundo turno.
Realizada nos dias 3 e 4 deste mês, a pesquisa divulgada hoje pelo Datafolha indica que Celso Russomanno (PRB) está com 35% (tinha 31% na semana passada). Em seguida, em empate técnico, estão José Serra (PSDB), com 21%, e Fernando Haddad (PT), com 16%.
Enquanto Russomanno segue sempre crescendo, Serra cai ou oscila negativamente na margem de erro desde junho. Já Haddad iniciou lenta, porém sólida, trajetória ascendente.
O quadro atual dos três primeiros colocados guarda semelhanças com o cenário paulistano de quatro anos atrás. Em 4 de setembro de 2008, o Datafolha apurou que Marta Suplicy (PT) tinha 40%.
Em seguida apareciam Geraldo Alckmin (PSDB), com 22%, e Gilberto Kassab (então no DEM), com 18%.
Como se sabe, Marta e Kassab foram para o segundo turno, em 2008. Kassab acabou vencendo.
É impossível prever como será o desfecho da disputa deste ano. Mas chama a atenção o avanço de Russomanno e a consolidação de seu voto. Ele tem 25% na pesquisa espontânea, quando o eleitor fala o nome de seu preferido sem olhar para uma cartela com a lista completa de candidatos. Nessa categoria, Serra tem 13%. Haddad, só 11%.
Nas últimas semanas, as curvas de intenção de voto de cada um dos três primeiros colocados desenham duas "bocas de jacaré". Uma delas está fechando: entre Serra e Haddad. Outra está abrindo -a distância de Russomanno para os demais.
A campanha tende a entrar agora numa espécie de marasmo. A propaganda política na TV já teve seu impacto. Só quando faltarem por volta de dez dias é que haverá novas mudanças. Até lá, tudo ficará indefinido.
Inconsistências - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/09
As fortes críticas à política energética dos dois governos do PT feitas no domingo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado no Estadão, foram as primeiras manifestações consistentes da oposição sobre essa matéria.
A questão mais séria é a desorganização da produção de etanol (álcool), em consequência do tabelamento dos preços da gasolina, política que, de resto, "não é compatível com os esforços de capitalização da Petrobrás".
Nos primeiros anos de seu governo, o presidente Lula era um entusiasta dos biocombustíveis. Quando da visita do presidente Bush ao Brasil, em 2007, Lula fez questão de levá-lo a um posto de gasolina para sentir o que era abastecer o carro com o etanol mais competitivo do mundo.
Mas veio a descoberta do pré-sal e, sabe-se lá por que, o governo Lula se desinteressou tanto pelo etanol quanto pelo biodiesel. Hoje, o setor sucroalcooleiro é asfixiado pelos preços achatados da gasolina. A produção de etanol (veja gráfico) está sendo insuficiente para substituir a gasolina nos motores flex e para compor a mistura com a gasolina à proporção de 25%.
Mais do que isso, o setor perdeu competitividade até em relação ao etanol de milho americano, de onde o Brasil vai importando perto de 2 bilhões de litros por ano (cerca de 18% do consumo interno).
A primeira impressão de quem olha a política de preços da Petrobrás, hoje cerca de 20% abaixo da paridade internacional, é de que há aí uma prática de dumping, cujo resultado seria alijar a concorrência do etanol do mercado.
E, no entanto, as coisas não são assim tão simples. A Petrobrás precisa dramaticamente de mais oferta de álcool no mercado interno porque não tem como produzir toda a gasolina que vem sendo queimada nos motores de ciclo Otto. Hoje, a Petrobrás vem importando cerca de 80 mil barris diários de gasolina a preços mais altos do que os autorizados a serem cobrados no mercado interno. Nos próximos dez anos, não poderá contar com aumento interno de produção de gasolina. Nenhum projeto de refinaria prevê esse perfil de craqueamento. Caso o etanol não seja reestimulado, a partir dos atuais níveis de consumo, a Petrobrás terá de aumentar em mais de 300% suas importações de gasolina nos próximos oito anos.
A política de preços dos combustíveis imposta pelo governo Lula e continuada pelo governo Dilma é tão irracional que não consegue viabilizar nenhum projeto de renovação dos canaviais. O BNDES colocou à disposição dos usineiros uma linha de crédito de nada menos que R$ 4 bilhões e, no entanto, à atual relação de preços, não é capaz de encontrar interessado por ela.
Fernando Henrique ainda criticou a disparada dos custos da Refinaria Abreu e Lima, de Pernambuco, que, orçada em US$ 2,3 bilhões em 2005, já ultrapassa hoje os US$ 20 bilhões. Mas nada disse sobre se convém ou não para o Brasil a parceria nesse projeto com a Venezuela, que aparentemente vem fazendo corpo mole no desembolso dos investimentos. Ele tampouco se manifestou sobre a capacidade da Petrobrás de dar conta de 30% de todos os novos investimentos que vierem a ser feitos no pré-sal. E é preciso que alguém reexamine essas decisões.