O GLOBO - 27/07
Mais de um mês após a Delta ter sido declarada inidônea pela CGU, Fernando Caven-dish, o ex-presidente da enferma, começou a se precaver.
Foi ao 2Õ Ofício de Registro de Imóveis do Rio e fez constar o apartamento 201 da Avenida Delfim Moreira 1188, no Leblon, no Rio, com quatro vagas na garagem, como bem de família.
E que...
O registro, publicado quarta passada no jornal “Monitor Mercantil”, impede que o imóvel seja penhorado ou apreendido pela Justiça (arresto).
Gois em Londres I
Dilma disse a Jacques Rog-ge, presidente do COI, que ficou mal impressionada com o trânsito londrino.
Aliás...
Rogge agradece a Deus todos os dias pelo Rio ter ganhado a disputa para sediar os Jogos de 2016.
Afinal, o concorrente maior era Madri, e a Espanha está no corredor da morte.
Em tempo...
Ontem, tinha londrino lamentando os gastos com os Jogos, por causa do anúncio, na véspera, da queda de 0,7% do PIB inglês.
Tufão em Nova York
O ator Murilo Benício, o Tufão de “Avenida Brasil”, comprou um apartamento em Nova York.
Brejeiro
O Instituto Moreira Salles criou o site www.ernestonazare-th150anos.com.br para celebrar, em 2013, os 150 anos do grande compositor (1863-1934).
O MIS, com a ajuda do biógrafo Luiz Antonio de Almeida, também prepara homenagem.
LEANDRA LEAL, 29 anos, a talentosa atriz que dá vida, graça e, porque não dizer?, beleza a Rosário, sua personagem em "Cheias de charme", a novela da TV Globo, vai aparecer assim na revista “Marie Claire" de agosto, que chega hoje às bancas. Na entrevista, Leandra diz que se esforça muito para manter tamanha formosura: "Eu preciso malhar muito. Até o fim da vida vou ter de batalhar." Que Deusa conserve assim e a nós não desampare jamais
Perto da família
O governador Geraldo Alck-min telefonou para Roberto Jef-ferson e ofereceu o Hospital Sí-rio-Libanês, em São Paulo, para o presidente nacional do PTB ser operado do câncer no pâncreas.
Jefferson agradeceu, mas prefere se submeter à cirurgia no Rio, no Samaritano, em Botafogo.
Radioterapia pelo SUS
Oitenta hospitais no país vão oferecer radioterapia pelo SUS.
O governo investirá R$ 505 milhões para aumentar em 32% a assistência aos pacientes com câncer, passando de 149 mil para 197 mil atendimentos por ano.
Jovens de Cristo
Acredite. Mais de 30 mil jovens já se inscreveram para atuar como voluntários na Jornada Mundial da Juventude, no Rio, em julho de 2013.
A expectativa da organização é ter 60 mil até o início do evento.
Gois em Londres II
Antigamente, lembra?, havia o mito de que Cid Moreira apresentava o “Jornal Nacional” de paletó, gravata e... ber-mudão e chinelo de dedo.
Pois veja esta cena flagrada pelo coleguinha Iuri Totti no parque aquático de Londres. Mark Richardson, 41 anos, jornalista da Nova Zelândia, grava para sua TV assim: da cintura para baixo, usa bermudas e as minhas, as suas, as nossas Havaianas.
Boletim médico
Nonato Buzar, 80 anos, o cantor, compositor e produtor, parceiro de Chico Anysio no clássico “Rio Antigo”, operou a próstata, mas já está em casa, no Rio.
Passa bem.
Cartão amarelo
Os moradores do condomínio Rio Mar XI, na Barra, no Rio, entraram com ação na Vara Cível do Fórum da Barra contra Vítor Júnior, meia titular do Botafogo.
Acusam o jogador de dar “seguidas festas de arromba”.
‘Gay urso’
Veja como candidato faz de tudo na batalha por votos.
Aspásia Camargo, candidata do PV à prefeitura do Rio, será DJ na festa “Bearville”, no Galeria Café, em Ipanema, amanhã. Para quem não sabe, a tal “Bear-ville” é dedicada aos chamados “ursos”, como são conhecidos os gays fortes e... peludões.
sexta-feira, julho 27, 2012
A piada de Delúbio - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREO BRAZILIENSE - 27/07
Lula não sabia de nada, Dirceu não sabia de nada, Genoino não sabia de nada... Alto lá, companheiro. Não abuse da inteligência alheia. Quem investigou e concluiu que o esquema batizado de mensalão existiu, sim, e que o então todo-poderoso ministro José Dirceu era o chefe da quadrilha foi alguém até hoje acima de qualquer suspeita: o procurador-geral da República à época, Antônio Fernando de Souza. Só gente de má-fé ou com menos de dois neurônios acredita na versão de que o escândalo de corrupção foi uma invenção de Roberto Jefferson e da imprensa golpista.
Pilhados fazendo o que sempre condenaram, os acusados no processo se agarram a um argumento esfarrapado: Não houve pagamento de mensalão. Claro que não, caro Watson. Judicialmente, o que houve, segundo a denúncia, foi o desvio de dinheiro por um esquema de corrupção para irrigar os bolsos de parlamentares da base de apoio ao governo Lula. E isso é crime. Pouco importa o nome que se dê à maracutaia. O que faz o procurador, nos autos, é apontar a existência da engrenagem criminosa e pedir a punição dos denunciados. Alguém sairá algemado do Supremo? Seria algo inédito na política brasileira, mas é pouco provável.
Talvez por falta de experiência no metiê, ou certeza da impunidade, houve acusados ou prepostos que passaram recibo em banco ao receber dinheiro do esquema. Os mais espertos, contou certa vez Delúbio Soares (e ele disse que muitos nem foram denunciados), se recusavam a assinar qualquer papel. Queriam tudo em espécie. Daí as famosas histórias das malas repletas de cédulas e da farra de distribuição da grana em quartos de hotel. Possivelmente, as provas que sustentam as acusações são fichinha perto do que realmente aconteceu, como relatou Jefferson ao trazer à tona o escândalo que abalou o governo Lula em 2005.
Sob o risco de impeachment, Lula foi à tevê, se disse traído e afirmou que o PT devia desculpas ao país. Mas, em vez das desculpas, o que se vê deste então é a obsessão do partido em provar que todo mundo faz o que fez. Hoje aliados de Collor, Jader, Sarney, e à direita de Maluf, petistas talvez nem se deem conta do tamanho do mal que perpetraram contra a política no Brasil. Nunca antes a atividade esteve tão desmoralizada. Para piorar, só falta o mensalão virar piada de salão, como previu Delúbio e temem muitos brasileiros.
Lula não sabia de nada, Dirceu não sabia de nada, Genoino não sabia de nada... Alto lá, companheiro. Não abuse da inteligência alheia. Quem investigou e concluiu que o esquema batizado de mensalão existiu, sim, e que o então todo-poderoso ministro José Dirceu era o chefe da quadrilha foi alguém até hoje acima de qualquer suspeita: o procurador-geral da República à época, Antônio Fernando de Souza. Só gente de má-fé ou com menos de dois neurônios acredita na versão de que o escândalo de corrupção foi uma invenção de Roberto Jefferson e da imprensa golpista.
Pilhados fazendo o que sempre condenaram, os acusados no processo se agarram a um argumento esfarrapado: Não houve pagamento de mensalão. Claro que não, caro Watson. Judicialmente, o que houve, segundo a denúncia, foi o desvio de dinheiro por um esquema de corrupção para irrigar os bolsos de parlamentares da base de apoio ao governo Lula. E isso é crime. Pouco importa o nome que se dê à maracutaia. O que faz o procurador, nos autos, é apontar a existência da engrenagem criminosa e pedir a punição dos denunciados. Alguém sairá algemado do Supremo? Seria algo inédito na política brasileira, mas é pouco provável.
Talvez por falta de experiência no metiê, ou certeza da impunidade, houve acusados ou prepostos que passaram recibo em banco ao receber dinheiro do esquema. Os mais espertos, contou certa vez Delúbio Soares (e ele disse que muitos nem foram denunciados), se recusavam a assinar qualquer papel. Queriam tudo em espécie. Daí as famosas histórias das malas repletas de cédulas e da farra de distribuição da grana em quartos de hotel. Possivelmente, as provas que sustentam as acusações são fichinha perto do que realmente aconteceu, como relatou Jefferson ao trazer à tona o escândalo que abalou o governo Lula em 2005.
Sob o risco de impeachment, Lula foi à tevê, se disse traído e afirmou que o PT devia desculpas ao país. Mas, em vez das desculpas, o que se vê deste então é a obsessão do partido em provar que todo mundo faz o que fez. Hoje aliados de Collor, Jader, Sarney, e à direita de Maluf, petistas talvez nem se deem conta do tamanho do mal que perpetraram contra a política no Brasil. Nunca antes a atividade esteve tão desmoralizada. Para piorar, só falta o mensalão virar piada de salão, como previu Delúbio e temem muitos brasileiros.
A sombra da suspeita - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 27/07
Estabeleceu-se um Fla-Flu a respeito da participação do ministro Antonio Dias Toffoli no julgamento do mensalão: a partir do pressuposto de que seja voto certo pela absolvição dos réus, as torcidas se dividem entre os que consideram imprescindível seu impedimento e os que defendem como certo - legal e moralmente falando - seu direito de julgar.
Da maneira como está posta, a discussão tem ficado restrita ao terreno da exposição apaixonada de opiniões controversas.
Já a lei - a baliza para qualquer debate desse tipo - é bastante objetiva ao definir os casos em que o juiz pode ser alvo de suspeição ou impedimento.
Segundo os códigos de processo civil e penal, a diferença básica entre os dois conceitos é que a suspeição tem caráter subjetivo e o impedimento é de natureza objetiva.
São as seguintes as situações previstas para impedimento:
1. Quando cônjuge ou parente do juiz até o terceiro grau tiver atuado na causa em questão como defensor ou advogado, representante do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito.
2. Quando o próprio juiz tiver atuado em qualquer uma das funções citadas acima ou funcionado como testemunha.
3. Quando tiver sido juiz em outra instância e se pronunciado, nos autos ou fora deles, sobre a questão.
4. Quando o magistrado, cônjuge ou parente em até terceiro grau for parte interessada.
Já a suspeição pode ser declarada pelo julgador ou arguida pelas partes envolvidas, nos seguintes casos:
1. Se o juiz for amigo íntimo ou inimigo "capital" de qualquer dos interessados.
2. Se ele, o cônjuge ou parente, responder a processo por fato semelhante, "sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia".
3. Se o juiz, cônjuge ou parente, estiver envolvido em demandas judiciais a serem julgadas pelas partes.
4. Se tiver aconselhado qualquer das partes.
5. Se delas for credor, devedor, tutor ou curador.
6. Se for sócio, administrador ou acionista de sociedade interessada no processo.
Preceitos obviamente aplicáveis aos 11 ministros do Supremo, mas cuida-se de Dias Toffoli devido à polêmica sobre condição específica dele no colegiado: a proximidade com o partido cuja direção, segundo a denúncia do Ministério Público, organizou um sistema de desvio de recursos públicos para financiar legendas aliadas.
Toffoli durante 15 anos trabalhou como assessor do PT, foi advogado de Lula em campanhas eleitorais, ocupou a subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil da Presidência da República quando lá estava como titular José Dirceu e, antes de ser indicado para o Supremo, foi advogado-geral da União.
Acrescente-se à folha de serviços prestados à principal agremiação ora na berlinda, o fato de a companheira do ministro ter atuado na defesa de três réus do processo: Paulo Rocha, Professor Luizinho e José Dirceu.
É suficiente para o ministro declarar-se suspeito ou o procurador-geral da República alegar seu impedimento?
Não é questão atinente à vontade das torcidas, pois a elas sobra arrebatamento e falta a ponderação realística indispensável à interpretação subjetiva de Toffoli e à avaliação legal objetiva da Procuradoria-Geral da República a fim de que se dissipem quaisquer sombras de suspeita sobre a isenção dos julgadores.
Brado retumbante. O silêncio de Carlos Augusto Ramos na CPI e nas audiências na Justiça é a maior evidência de que teria - se quisesse e pudesse - muito a dizer.
As convocações da atual, Andressa Mendonça, e da ex-mulher de Carlos Cachoeira, Andréa Aprígio, para falar na comissão de inquérito logo após o recesso são baseadas em razões substantivas, segundo os condutores da investigação parlamentar.
Em torno de Andressa há a expectativa de que seja porta-voz de recados de Cachoeira. Para Andréa serão feitas perguntas sobre o "financeiro" da organização de armações ilimitadas, do qual é operadora oficial.
Estabeleceu-se um Fla-Flu a respeito da participação do ministro Antonio Dias Toffoli no julgamento do mensalão: a partir do pressuposto de que seja voto certo pela absolvição dos réus, as torcidas se dividem entre os que consideram imprescindível seu impedimento e os que defendem como certo - legal e moralmente falando - seu direito de julgar.
Da maneira como está posta, a discussão tem ficado restrita ao terreno da exposição apaixonada de opiniões controversas.
Já a lei - a baliza para qualquer debate desse tipo - é bastante objetiva ao definir os casos em que o juiz pode ser alvo de suspeição ou impedimento.
Segundo os códigos de processo civil e penal, a diferença básica entre os dois conceitos é que a suspeição tem caráter subjetivo e o impedimento é de natureza objetiva.
São as seguintes as situações previstas para impedimento:
1. Quando cônjuge ou parente do juiz até o terceiro grau tiver atuado na causa em questão como defensor ou advogado, representante do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito.
2. Quando o próprio juiz tiver atuado em qualquer uma das funções citadas acima ou funcionado como testemunha.
3. Quando tiver sido juiz em outra instância e se pronunciado, nos autos ou fora deles, sobre a questão.
4. Quando o magistrado, cônjuge ou parente em até terceiro grau for parte interessada.
Já a suspeição pode ser declarada pelo julgador ou arguida pelas partes envolvidas, nos seguintes casos:
1. Se o juiz for amigo íntimo ou inimigo "capital" de qualquer dos interessados.
2. Se ele, o cônjuge ou parente, responder a processo por fato semelhante, "sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia".
3. Se o juiz, cônjuge ou parente, estiver envolvido em demandas judiciais a serem julgadas pelas partes.
4. Se tiver aconselhado qualquer das partes.
5. Se delas for credor, devedor, tutor ou curador.
6. Se for sócio, administrador ou acionista de sociedade interessada no processo.
Preceitos obviamente aplicáveis aos 11 ministros do Supremo, mas cuida-se de Dias Toffoli devido à polêmica sobre condição específica dele no colegiado: a proximidade com o partido cuja direção, segundo a denúncia do Ministério Público, organizou um sistema de desvio de recursos públicos para financiar legendas aliadas.
Toffoli durante 15 anos trabalhou como assessor do PT, foi advogado de Lula em campanhas eleitorais, ocupou a subchefia de assuntos jurídicos da Casa Civil da Presidência da República quando lá estava como titular José Dirceu e, antes de ser indicado para o Supremo, foi advogado-geral da União.
Acrescente-se à folha de serviços prestados à principal agremiação ora na berlinda, o fato de a companheira do ministro ter atuado na defesa de três réus do processo: Paulo Rocha, Professor Luizinho e José Dirceu.
É suficiente para o ministro declarar-se suspeito ou o procurador-geral da República alegar seu impedimento?
Não é questão atinente à vontade das torcidas, pois a elas sobra arrebatamento e falta a ponderação realística indispensável à interpretação subjetiva de Toffoli e à avaliação legal objetiva da Procuradoria-Geral da República a fim de que se dissipem quaisquer sombras de suspeita sobre a isenção dos julgadores.
Brado retumbante. O silêncio de Carlos Augusto Ramos na CPI e nas audiências na Justiça é a maior evidência de que teria - se quisesse e pudesse - muito a dizer.
As convocações da atual, Andressa Mendonça, e da ex-mulher de Carlos Cachoeira, Andréa Aprígio, para falar na comissão de inquérito logo após o recesso são baseadas em razões substantivas, segundo os condutores da investigação parlamentar.
Em torno de Andressa há a expectativa de que seja porta-voz de recados de Cachoeira. Para Andréa serão feitas perguntas sobre o "financeiro" da organização de armações ilimitadas, do qual é operadora oficial.
E o mundo não se acabou - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 27/07
Apesar do bate-cabeças das lideranças políticas da zona do euro, acredito que uma solução será encontrada
Fui buscar no fundo de minha memória -e no YouTube- a letra de um velho samba do compositor Assis Valente, "E o mundo não se acabou". Havia muito tempo vinha associando o comportamento dos mercados financeiros nos últimos meses à situação vivida pelo personagem deste samba delicioso dos velhos tempos.
Transcrevo a seguir algumas das frases cantadas pela Carmen Miranda ou pela Adriana Calcanhoto:
"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar, Acreditei nesta conversa mole e fui tratando de me despedir, eijei a boca de quem não devia, Peguei na mão de quem não conhecia, Dancei um samba em traje de maiô, Chamei um gajo com quem não me dava e perdoei sua ingratidão,
E o tal mundo não se acabou...".
Na versão moderna do fim do mundo que os mercados esperam, as reações das pessoas são de natureza diferente.
No lugar de beijos e outros sinais de intimidade que aparecem nas palavras de Assis Valente, temos ações concretas de investimentos e de especulação por parte de empresas, de bancos e de indivíduos. Cito algumas delas que me parecem reproduzir o quadro descrito no samba de quase um século.
Os investidores estão colocando seu dinheiro em títulos do Tesouro americano, de dez anos de prazo, a uma taxa de juros de 1,4% ao ano. Para uma economia que nos últimos 20 anos tem apresentado taxa de inflação média superior a 2% ao ano, esse investimento representa perda real de mais de 5% no período. No caso dos títulos de cinco anos, que a preços de hoje rendem ao investidor 0,6% ao ano, as perdas são de cerca de 7% no período.
Mas esse ato de aparente delírio não é o único. Os investidores estão correndo para títulos do Tesouro alemão, emitidos em euros, como uma manada de elefantes em fuga.
Os juros dos títulos de dois anos de prazo já são negativos -recebe-se no final menos euros do que foram aplicados-, e os de dez anos não passam de 1,3% ao ano.
A média histórica da inflação, em euros, também é superior a 2% ao ano, o que reproduz a mesma situação de prejuízo real encontrada no caso dos papéis americanos. Mas outra contradição chama a atenção nesse caso: esses papéis estão denominados em uma moeda que, os mercados juram, vai entrar em colapso em poucos meses e pode levar a prejuízos brutais. Ou seja, nonsense total.
Tenho reportado surpresa perante a reação dos chamados agentes econômicos de mercado em face da crise europeia. Não por falta de entendimento de sua complexidade -e gravidade-, mas sim pela desconsideração pelo que representaria um eventual colapso do euro do ponto de vista político e social.
A União Europeia de hoje é o estágio final de uma longa marcha de mais de 60 anos. Não custa lembrar ao leitor da Folha que tudo aconteceu nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, com a Europa arrasada e prostrada depois de mais de cinco anos de sofrimentos.
Por outro lado, é preciso ter em conta que, no desenho atual, a integração não é viável. As realidades nacionais dos países que fazem parte do euro não permitem a rigidez institucional do atual desenho. Esse é o desafio que os líderes de hoje enfrentam: reformar os marcos institucionais, mas sem voltar atrás na integração.
Mas essa realidade é sofisticada demais para a comunidade financeira, formada na sua grande maioria por indivíduos de limitada visão política e que não conseguem enxergar o mundo fora de sua perspectiva individualista e restrita a ganhos especulativos.
Por isso a dificuldade de analistas, que têm visão mais ampla, em navegar nesses tempos irracionais. Embora sinta isso na pele, ainda acredito que uma solução será encontrada, apesar do bate-cabeças das lideranças políticas.
Aliás, essa foi a mensagem corajosa do presidente do Banco Central Europeu, ontem, ao dizer que o BCE tudo fará para defender a integração europeia e o euro como moeda única.
Apesar do bate-cabeças das lideranças políticas da zona do euro, acredito que uma solução será encontrada
Fui buscar no fundo de minha memória -e no YouTube- a letra de um velho samba do compositor Assis Valente, "E o mundo não se acabou". Havia muito tempo vinha associando o comportamento dos mercados financeiros nos últimos meses à situação vivida pelo personagem deste samba delicioso dos velhos tempos.
Transcrevo a seguir algumas das frases cantadas pela Carmen Miranda ou pela Adriana Calcanhoto:
"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar, Acreditei nesta conversa mole e fui tratando de me despedir, eijei a boca de quem não devia, Peguei na mão de quem não conhecia, Dancei um samba em traje de maiô, Chamei um gajo com quem não me dava e perdoei sua ingratidão,
E o tal mundo não se acabou...".
Na versão moderna do fim do mundo que os mercados esperam, as reações das pessoas são de natureza diferente.
No lugar de beijos e outros sinais de intimidade que aparecem nas palavras de Assis Valente, temos ações concretas de investimentos e de especulação por parte de empresas, de bancos e de indivíduos. Cito algumas delas que me parecem reproduzir o quadro descrito no samba de quase um século.
Os investidores estão colocando seu dinheiro em títulos do Tesouro americano, de dez anos de prazo, a uma taxa de juros de 1,4% ao ano. Para uma economia que nos últimos 20 anos tem apresentado taxa de inflação média superior a 2% ao ano, esse investimento representa perda real de mais de 5% no período. No caso dos títulos de cinco anos, que a preços de hoje rendem ao investidor 0,6% ao ano, as perdas são de cerca de 7% no período.
Mas esse ato de aparente delírio não é o único. Os investidores estão correndo para títulos do Tesouro alemão, emitidos em euros, como uma manada de elefantes em fuga.
Os juros dos títulos de dois anos de prazo já são negativos -recebe-se no final menos euros do que foram aplicados-, e os de dez anos não passam de 1,3% ao ano.
A média histórica da inflação, em euros, também é superior a 2% ao ano, o que reproduz a mesma situação de prejuízo real encontrada no caso dos papéis americanos. Mas outra contradição chama a atenção nesse caso: esses papéis estão denominados em uma moeda que, os mercados juram, vai entrar em colapso em poucos meses e pode levar a prejuízos brutais. Ou seja, nonsense total.
Tenho reportado surpresa perante a reação dos chamados agentes econômicos de mercado em face da crise europeia. Não por falta de entendimento de sua complexidade -e gravidade-, mas sim pela desconsideração pelo que representaria um eventual colapso do euro do ponto de vista político e social.
A União Europeia de hoje é o estágio final de uma longa marcha de mais de 60 anos. Não custa lembrar ao leitor da Folha que tudo aconteceu nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, com a Europa arrasada e prostrada depois de mais de cinco anos de sofrimentos.
Por outro lado, é preciso ter em conta que, no desenho atual, a integração não é viável. As realidades nacionais dos países que fazem parte do euro não permitem a rigidez institucional do atual desenho. Esse é o desafio que os líderes de hoje enfrentam: reformar os marcos institucionais, mas sem voltar atrás na integração.
Mas essa realidade é sofisticada demais para a comunidade financeira, formada na sua grande maioria por indivíduos de limitada visão política e que não conseguem enxergar o mundo fora de sua perspectiva individualista e restrita a ganhos especulativos.
Por isso a dificuldade de analistas, que têm visão mais ampla, em navegar nesses tempos irracionais. Embora sinta isso na pele, ainda acredito que uma solução será encontrada, apesar do bate-cabeças das lideranças políticas.
Aliás, essa foi a mensagem corajosa do presidente do Banco Central Europeu, ontem, ao dizer que o BCE tudo fará para defender a integração europeia e o euro como moeda única.
Batismo - SONIA RACY
O GLOBO - 27/07
O Itaú se comprometeu a fazer melhorias no parque.
Extreme makeover
Dilma apareceu ao lado de Putin, Berlusconi e Cristina Kirchner, na capa da Vanity Fair online, em matéria sobre… cirurgia plástica.
São três fotos da presidente, enumerando lift facial, botox, lentes de contato, corte de cabelo mais moderno e “extensivo tratamento dentário”.
Makeover 2
Celso Kamura, que participou dessa transformação, afirma: vem conseguindo cortar mais o cabelo de Dilma, “deixar mais batidinho atrás, suavizando o vermelho e dando uma aloirada”.
Full house
Ronaldo tem mais um parceiro de carteado. A 9ine anuncia hoje seu novo agenciado. É o campeão André Akkari, considerado o maior jogador de pôquer da América Latina.
Rente ao chão
A FAB comemora ação em Belém. A campanha Troque sua pipa por uma bola, nas cercanias do aeroporto internacional, tirou de circulação mais de 2 mil papagaios.
Os brinquedos, comuns entre crianças do local, são um risco a pousos e decolagens.
Fora dos autos
Carlos Ayres Britto deu um tempo no mensalão e mergulhou na literatura. Em Aracaju, trabalhou no prefácio de nova edição das obras completas de Tobias Barreto.Estará de volta ao STF hoje. “Aí é aguardar o julgamento”, disse à coluna.
Autos 2
O ministro também abriu espaço na agenda para assistir, ontem, à estreia da seleção de Mano Menezes em Londres. “Estarei com um olho nos textos e outro na TV”.
Panis et circenses
Na mesma rua Wizard onde já está o Le Pain Quotidien, Jean Thomas Bernardini, do Reserva Cultural, abre em agosto o Café Boulange.
Com produtos Pain de France e vinhos do barão Rothschild.
Votos ilustres
Em jantar com a classe artística no apartamento do diretor de teatro Jorge Takla, nos Jardins, Gabriel Chalita tentou demonstrar força entre globais, produtores e escritores – que cobraram propostas de combate à burocracia e mais investimentos em cultura. Henri Castelli, Raquel Ripani, Maria Fernanda Cândido, Fafy Siqueira e Lygia Fagundes Telles estavam entre os cerca de 40 convidados que se acomodaram em espaçosos sofás, anteontem, para ouvir o candidato do PMDB à Prefeitura, enquanto garçons serviam vinho tinto italiano e whisky 8 anos.
Walcyr Carrasco, autor do remake de Gabriela, lembrou que São Paulo não é mais polo de audiovisual. “Está tudo no Rio”. A dramaturga e atriz Mara Carvalho, ex de Antonio Fagundes, subiu o tom. “Você quer construir um teatro e a Prefeitura não dá alvará”. Já Castelli quis saber de segurança “para o cara que comete crimes não dar tapa na nossa cara e sair rindo da delegacia”. Chalita tirou soluções da manga para quase tudo: “Quero fazer uma Broadway paulistana” e “um Poupatempo da pessoa jurídica”.
Turco Loco, ex-deputado e empresário de moda, elogiou Gabriela Duarte por ter declarado voto em campanhas anteriores. Errou o alvo. “Acho que ele se confundiu, estou aqui para ouvir propostas”, consertou a atriz. Walcyr também não abriu o jogo. Já Lygia Fagundes foi só elogios.
Castelli, enquanto dava baforadas em seu cachimbo, afirmou que vai votar em Chalita. Fulvio Stefanini também. E a bela Maria Fernanda Cândido saiu à francesa. Balanço da noite? “Gostei muito”, disse o candidato. “Quem veio tende a votar em mim, né?” /PAULA BONELLI
Na frente
Caco Souza acertou, em Belém, os últimos detalhes para a filmagem de seu longa sobre a banda Calypso. O diretor aproveitou a semana de descanso de Joelma e Chimbinha e levantou histórias para o roteirista, René Belmonte.
Dora Longo Bahia abre mostra individual. Dia 31, na Galeria Vermelho.
Sandra Brecheret lança livro sobre a obra do pai, o escultor Victor Brecheret. Dia 4, na Casa da Fazenda do Morumbi.
Acontece, terça, o lançamento da coleção de Lorenzo Merlino para a Riachuelo. Na Cartel 011.
Roberto Paz, presidente da Gucci América Latina, recebe convidados na loja do JK Iguatemi. Dia 2.
Interinos: Daniel Japiassu, Marilia Neustein, Mirella D’Elia e Paula Bonelli.
Mal-estar
Manuela D’Ávila e Adalberto Frasson, do PC do B, enviaram resposta a Claudio Lottenberg, que repudiou artigo de José Reinaldo Carvalhono site O Vermelho. O comunista criticou a Confederação Israelita do Brasil – presidida por Lottenberg – e sua campanha contra a vinda de Ahmadinejadà Rio+20.
Para tentar acalmar os ânimos, a candidata à prefeitura de Porto Alegre e o presidente do PC do B na capital gaúcha alegam que muitos partidários “expressam opiniões próprias, que nem sempre correspondem à visão majoritária da organização”.
Mal-estar 2
Lottenberg enviou carta ao partido lembrando de judeus que já fizeram e fazem parte do PC do B e atacando o texto de Carvalho – que chegou a comparar sionistas a racistas.
Segurança nacional - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 27/07
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) reagiu à entrevista em que Geraldo Alckmin compartilha com o governo federal a responsabilidade pelo avanço da criminalidade em São Paulo. "Não vou transformar a violência em questão política ou eleitoral. O enfrentamento do problema exige soma de esforços", disse Cardozo. O governador referiu-se às brechas para entrada de armas no país. Para o ministro, contudo, o plano de fiscalização de fronteiras "é um sucesso indiscutível''.
Tenores Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias, os dois decanos da banca estrelada de advogados dos réus do mensalão, falarão em dias seguidos, defendendo diretores do Banco Rural. A assessoria do banco se animou com a divisão, pois assim espera ter "dois dias de Jornal Nacional" para os executivos.
Retranca Às voltas com os volumes do processo, ministros do STF estranham o silêncio do procurador-geral da União, Roberto Gurgel, que não está fazendo o mesmo périplo dos advogados para convencer os magistrados da tese da acusação.
Outro lado Luiz Moreira, na fila para ser reconduzido ao Conselho Nacional do Ministério Público, diz que as denúncias atribuídas a ele, como o uso de carro oficial para transportar José Genoino, integram campanha para difamá-lo. Moreira quer apresentar provas de sua inocência em sabatina no Senado.
Reparação A AGU ingressará com seis ações na Justiça para que sejam localizados e indenizados herdeiros das vítimas da Guerrilha do Araguaia. Determinados pela Corte Interamericana, os pagamentos somam US$ 1,3 milhão para 20 ações. A cifra sairá dos cofres da Secretaria de Direitos Humanos.
HQ Em meio às novas buscas de Carlinhos Cachoeira entregues à CPI, foi retida agenda com ilustrações do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, com a expressão "game over''.
Tela... Terminou sem acordo reunião, ontem, da TV Globo com emissários dos candidatos em São Paulo. A emissora propôs que os 50 segundos de cobertura eleitoral no telejornal local exibissem os dois primeiros colocados nas pesquisas e houvesse rodízio entre os demais.
... quente Com exceção dos representantes de José Serra e Celso Russomanno, as campanhas reclamaram do critério e novo encontro foi marcado para terça. "Nanicos" também reagiram à ideia de que o debate de 4 de outubro reúna só os cinco nomes com maior intenção de voto.
Anos rebeldes 1 Reunião de dirigentes da União Nacional dos Estudantes com Serra, que presidiu a entidade na década de 60, inflamou militantes petistas nas redes sociais. A divulgação da foto do encontro, ocorrido anteontem, fez com que aliados de Fernando Haddad disseminassem vídeo em que a UNE dava apoio a Dilma em 2010.
Anos rebeldes 2 Filiado ao PC do B, Daniel Iliescu, atual presidente, convidou Serra para o início das obras da nova sede, dia 11, no Rio. "Temos representantes de 27 correntes na direção, inclusive do PSD e PSDB", defendeu-se o dirigente, que hoje à tarde estará com Lula.
Rota do sol Secretário estadual de Meio Ambiente e um dos tucanos que desistiram das prévias paulistanas em favor de Serra, Bruno Covas chefiará o conselho político da campanha de Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) à Prefeitura de Santos.
Visita à Folha Celso Giglio, deputado estadual e candidato do PSDB à Prefeitura de Osasco, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Rubens Figueiredo, cientista político.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Antes de Kassab turbinar a candidatura de Russomanno, precisaria fazer decolar sua gestão em São Paulo, a pior das capitais."
DO PRESIDENTE DO PT PAULISTANO, ANTONIO DONATO, coordenador do QG de Fernando Haddad, sobre as tratativas do prefeito com o candidato do PRB.
contraponto
Memória camarada
No evento de lançamento da campanha para difundir o Brasil como destino turístico, anteontem, em Londres, o presidente da Embratur, Flávio Dino (PC do B-MA), citou intelectuais brasileiros, como Machado de Assis e Graciliano Ramos, e britânicos, como Charles Dickens e William Shakespeare. No meio do discurso, lembrou que foi em solo londrino que Karl Marx escrevera "O Capital". O ministro Aloizio Mercadante (Educação) comentou:
-Esse é um comunista disciplinado. Deu um jeito de citar Marx, que é alemão, e não mencionou Adam Smith!
Escocês, Smith foi precursor do liberalismo econômico.
O Mercedes-Benz - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 27/07
Mensalão: defesa bate cabeça
Juristas, com experiência na área criminal, consideram que os advogados dos réus do mensalão cometem "erro primário" ao não adotarem a mesma tese na defesa de seus clientes. Avaliam que a falta de coordenação será "fatal" para todos. Tratam como "burrice" a tentativa de envolver o ex-presidente Lula, pois isso já foi rejeitado pelo STF. Dizem ser "mortais" as divergências entre os clientes e seus advogados. Citam os casos de Delúbio Soares e Arnaldo Malheiros (cumprir ordens da direção do PT) e de Roberto Jefferson e Luiz Francisco Barbosa (Lula ordenou o mensalão).
"A CPI não tem braços nem terá tempo para analisar todos os contratos da Delta. Vamos enviar as informações para o Ministério Público nos estados, para que eles façam a investigação” — Odair Cunha, deputado (PT-MG) e relator da CPI do Caso Cachoeira
LERO. No dia 4, o PSD pediu ao TSE que fosse depositado o fundo partidário de julho, à luz da decisão do Tribunal de 29 de junho que garantiu ao partido receber parcela dos 95% divididos entre as siglas com bancada na Câmara dos Deputados. A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, indeferiu o pedido alegando: "O pedido não comporta pronto deferimento pela atuação monocrática desta presidência, pois veicula tese de retroatividade que não foi decidida..." Ou seja, rejeitou o pedido usando como argumento o que não foi pedido: "a retroatividade".
"Tô" na boa
O DEM foi quem se deu bem com a postura do TSE de não aplicar, este mês, sua decisão sobre a divisão do fundo partidário. O partido recebeu R$ 1,7 milhão. Um de seus dirigentes disse que o partido vai entrar com outra ação no TSE contra o direito do PSD.
Na contramão
Muita irritação no STF com a decisão do TCU sobre o caso Visanet. Os ministros, que vão julgar o mensalão, dizem que isso não vai livrar o ex-vice-presidente de Marketing do BB Henrique Pizzolato. Ele ainda terá de explicar a comissão de R$ 326 mil.
A fazenda da Andressa
O contraventor Carlos Cachoeira adquiriu este ano uma propriedade rural, no entorno de Brasília, para a mulher, Andressa Mendonça. Trata-se da fazenda Santa Maria, próxima à cidade-satélite do Gama, de 32 hectares. Cachoeira adquiriu metade da área com a promessa de pagamento de R$ 20 milhões. Ele deu como sinal do negócio carros e imóveis. Ele fez o negócio com o proprietário, e a transação ainda não foi efetivada, pois envolve um processo de usucapião. Essa informação foi enviada à CPI do caso Cachoeira pela PF.
Corporativismo
Os integrantes da CPI do Caso Cachoeira estão começando a ficar preocupados com a futura decisão da Câmara no caso do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). Eles têm recebido informes de que há um forte movimento suprapartidário para evitar a cassação de seu mandato.
Para lá e para cá
Num dia, o PSDB entra na Justiça questionando a veiculação de publicidade de bancos públicos em blogs e sites críticos aos tucanos. Noutro, o partido protesta contra a intenção do PT de impedir que seus adversários veiculem na campanha eleitoral cenas do julgamento do mensalão.
INTEGRANTES da CPI vão propor mudanças na legislação da delação premiada. Em debates com integrantes do Ministério Público, eles chegaram à conclusão de que a atual legislação não é tão vantajosa para quem quiser colaborar com a polícia e a Justiça.
OS QUATRO computadores apreendidos na casa do araponga Idalberto de Araújo, o Dadá, que trabalhava para o contraventor Carlos Cachoeira, ainda não foram analisados pela Polícia Federal.
BANCOS que não enviaram informações à CPI argumentam que é praxe não responder aos pedidos de dados feitos pelo Banco Central quando os nomes listados não têm relação com a instituição.
A mãe do consumidor - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 27
Está todo mundo se juntando à campanha dos direitos de quem consome. Pra frente, presidente Dilma!
MUITO BOM dia. Estou aqui hoje para sujeitar algumas coisas a regulamento, a começar pela forma como você lê. Percebo que a senhora veste trajes íntimos. Isso lhe parece certo, minha senhora? Quanto ao senhor, que história é essa de manusear as joias da coroa enquanto se informa? Compostura é bom e todos gostam.
Venho enviada pela excelentíssima senhora Dilma Rousseff, presidente da República, e (porque o publicitário João Santana assim determinou) agora também agente honorária e militante do Procon.
Meu nome é doutora Barbara e minha missão é dar sentido ao que está desordenado.
Tome o uso indiscriminado de imagens do mensalão no horário eleitoral. Estou aqui para acabar com essa fuzarca. Quer publicar foto do Silvinho Pereira chorando? Vai ter que se ver comigo. Usar imagens do Zé Dirceu dizendo "nada a declarar"? Sou eu que libero. Pois é, sou mais um dinossauro de colar de pérolas vindo do Planalto para morder calcanhares.
Ora, não é verdade que na Olimpíada de Londres o espectador não pode nem mesmo entrar no estádio vestindo camiseta com logotipo do concorrente do patrocinador do evento? Então. Quem detém os direitos de imagem sobre o Delúbio e o Dirceu sou eu. (Bem, na verdade, eu só estou aqui cobrindo pela Erenice que sofreu um probleminha de superexposição e logo volta).
Também fui incumbida pela nossa presidente divina a zelar por outras áreas muito importantes. Dilma Procon, a mãe do consumidor, se insurge, ao seu lado, contra a TIM a TAM e o TUM.
Espere. Creio ter cometido aí um pequeno engano. Deveria ter dito: "A TIM, a TAM e o pum". É isso. A presidente acha de péssimo tom esse negócio de pum. Não que ela pretenda multar, não, nada disso. Não há nenhuma sanção prevista no caso do pum. Mas, na ocorrência de alguma infelicidade, caso você esteja no mesmo recinto que ela, prepare-se para ter o dedo apontado na sua fuça e ser intimidado até as lágrimas. Já no caso da TIM e da TAM, a questão é bem mais grave.
Em se tratando da TIM, irregularidades a parte, fica desde já estabelecido que as regras foram mudadas no meio do caminho. E ponto.
Fazer o quê? Chamar o Bud Spencer e o Terence Hill para discutir com Dilmão? No caso da TAM, se do céu caírem canivetes e bigornas em forma de chuva torrencial, a companhia aérea estará terminantemente proibida de se queixar com São Pedro e será obrigada a acomodar sem hesitação todos os passageiros dos voos cancelados em hotéis cinco estrelas. Assim fica determinado por mim e por euzinha.
Vamos poupar a presidente de acordar e ver aquelas fotos de saguão de aeroporto superlotado na primeira página do jornal, ouviu bem, dona TAM? E quem não couber nos hotéis deve ser alojado na arca de Noé. Depois eu volto para lidar com as senhoras Gol, Claro etc. -não pensem que a conversa parou por aqui. Por ora, a única dispensada é a Vivo porque eu acho aquele bonequinho do logotipo uma graça.
Outro dia me deu um clique e eu liguei pro Gilberto e disse assim: "Oi, Kassab-Caçamba, xóia? Não sei achar a saída para a rua quando vou ao cinema no shopping Frei Caneca. É como se estivesse no labirinto da Alice no País das Maravilhas. E nunca consigo estacionar nas vagas tamanho PP dos shoppings de São Paulo. Que tal ajudar a mim e a Dilma na campanha moralizadora para o consumidor se sentir melhor?" Não é que, na mesma hora, o prefeito se dispôs a ajudar? É uma corrente pra frente que estamos formando, uma coisa mágica.
Está todo mundo se juntando à campanha dos direitos de quem consome. Pra frente, presidente Dilma!
MUITO BOM dia. Estou aqui hoje para sujeitar algumas coisas a regulamento, a começar pela forma como você lê. Percebo que a senhora veste trajes íntimos. Isso lhe parece certo, minha senhora? Quanto ao senhor, que história é essa de manusear as joias da coroa enquanto se informa? Compostura é bom e todos gostam.
Venho enviada pela excelentíssima senhora Dilma Rousseff, presidente da República, e (porque o publicitário João Santana assim determinou) agora também agente honorária e militante do Procon.
Meu nome é doutora Barbara e minha missão é dar sentido ao que está desordenado.
Tome o uso indiscriminado de imagens do mensalão no horário eleitoral. Estou aqui para acabar com essa fuzarca. Quer publicar foto do Silvinho Pereira chorando? Vai ter que se ver comigo. Usar imagens do Zé Dirceu dizendo "nada a declarar"? Sou eu que libero. Pois é, sou mais um dinossauro de colar de pérolas vindo do Planalto para morder calcanhares.
Ora, não é verdade que na Olimpíada de Londres o espectador não pode nem mesmo entrar no estádio vestindo camiseta com logotipo do concorrente do patrocinador do evento? Então. Quem detém os direitos de imagem sobre o Delúbio e o Dirceu sou eu. (Bem, na verdade, eu só estou aqui cobrindo pela Erenice que sofreu um probleminha de superexposição e logo volta).
Também fui incumbida pela nossa presidente divina a zelar por outras áreas muito importantes. Dilma Procon, a mãe do consumidor, se insurge, ao seu lado, contra a TIM a TAM e o TUM.
Espere. Creio ter cometido aí um pequeno engano. Deveria ter dito: "A TIM, a TAM e o pum". É isso. A presidente acha de péssimo tom esse negócio de pum. Não que ela pretenda multar, não, nada disso. Não há nenhuma sanção prevista no caso do pum. Mas, na ocorrência de alguma infelicidade, caso você esteja no mesmo recinto que ela, prepare-se para ter o dedo apontado na sua fuça e ser intimidado até as lágrimas. Já no caso da TIM e da TAM, a questão é bem mais grave.
Em se tratando da TIM, irregularidades a parte, fica desde já estabelecido que as regras foram mudadas no meio do caminho. E ponto.
Fazer o quê? Chamar o Bud Spencer e o Terence Hill para discutir com Dilmão? No caso da TAM, se do céu caírem canivetes e bigornas em forma de chuva torrencial, a companhia aérea estará terminantemente proibida de se queixar com São Pedro e será obrigada a acomodar sem hesitação todos os passageiros dos voos cancelados em hotéis cinco estrelas. Assim fica determinado por mim e por euzinha.
Vamos poupar a presidente de acordar e ver aquelas fotos de saguão de aeroporto superlotado na primeira página do jornal, ouviu bem, dona TAM? E quem não couber nos hotéis deve ser alojado na arca de Noé. Depois eu volto para lidar com as senhoras Gol, Claro etc. -não pensem que a conversa parou por aqui. Por ora, a única dispensada é a Vivo porque eu acho aquele bonequinho do logotipo uma graça.
Outro dia me deu um clique e eu liguei pro Gilberto e disse assim: "Oi, Kassab-Caçamba, xóia? Não sei achar a saída para a rua quando vou ao cinema no shopping Frei Caneca. É como se estivesse no labirinto da Alice no País das Maravilhas. E nunca consigo estacionar nas vagas tamanho PP dos shoppings de São Paulo. Que tal ajudar a mim e a Dilma na campanha moralizadora para o consumidor se sentir melhor?" Não é que, na mesma hora, o prefeito se dispôs a ajudar? É uma corrente pra frente que estamos formando, uma coisa mágica.
Idoso profissional - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 27/07
Quando completei 60 anos e passei a desfrutar dos privilégios reservados aos idosos em filas de aeroportos e bancos, me consolei pensando que a velhice poderia ter algumas vantagens. Mas não é bem assim. Uma fila com três idosos num balcão de aeroporto pode levar mais tempo do que uma de 12 não idosos ao lado, porque os velhinhos demoram muito, adoram conversar com as atendentes. No banco, é pior ainda, com senhas esquecidas e extratos extraviados.
Nesse caso, os idosos mais profissionais escolhem a fila comum, e os mais bobos e vaidosos também, para não confessar publicamente a idade. É claro que envelhecer não é agradável, mas já foi muito pior, nem faz tanto tempo assim, quando a expectativa de vida era de 50 anos e não havia antibióticos. O chato é que, quanto maior a experiência, o aprendizado com os erros, as vivências e informações acumuladas, menor o tempo para usá-las.
Uma das melhores - e piores - consequências do progresso científico e da prosperidade econômica foi o aumento espantoso da expectativa de vida no Brasil. Viver mais é uma ótima notícia, mas, se for para viver mal, sem saúde, segurança e conforto, é péssima. Como pagar aposentadorias dignas a milhões de trabalhadores, sem quebrar a Previdência? Como abrigar e cuidar dessas multidões de novos velhos pobres? Os indiferentes de hoje são os idosos de amanhã, se chegarem lá.
No Brasil tem bolsa para todo mundo, até as famílias dos presos recebem a bolsa-bandido, de R$ 860 mensais, certamente mais do que grande parte dos idosos brasileiros, que trabalharam a vida inteira, sobreviveram a planos econômicos desastrosos, roubalheiras incomensuráveis e incompetência dos seus governantes. Muitos presidiários vivem bem melhor do que idosos pobres, presos em casa e em asilos.
Civilizações mais antigas, e por isso mais sábias e experientes, como a China e o Japão, valorizam, respeitam e preservam seus velhos justamente por sua experiência e sabedoria. Eles são valiosos, o Estado investiu muito dinheiro neles, em sua educação, saúde e formação profissional, e o pior dos desperdícios é esquecer que eles existem.
Você é o Raduan? Você é o Loyola? - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 27/07
Tinha acabado de ler a entrevista com Cleyde Yáconis aqui, no Caderno 2, e fiquei pensando nas coisas da vida. Quando Nelson Rodrigues escreveu Toda Nudez Será Castigada, não encontrou atriz que quisesse fazer o papel principal. Gracinda Freire achou a personagem "repugnante". Teresa Rachel disse que era "uma peça ruim". Nelson implorou, Cleyde Yáconis aceitou e Toda Nudez se transformou num dos maiores sucessos do teatro. Cleyde foi catapultada. O texto é um dos melhores momentos de Nelson. Para mim, Toda Nudez é o melhor filme do Arnaldo Jabor, com uma Darlene Gloria imortalizada. As atitudes de Gracinda Freire e Teresa Rachel representam aqueles momentos da vida em que tomamos a decisão errada (Gracinda e Teresa) ou certa (Cleyde).
Como funciona esse processo? Não tem como saber. Intuição, sorte, destino, audácia? Comentava isso e falava com minha filha também sobre os acasos, enquanto nos dirigíamos à Fnac, Pinheiros. Precisava de um novo laptop (ou notebook, como queiram), porque o meu havia "morrido" (nem sabia que morriam) e Rita aconselhou: "Vamos para a Fnac, lá tem o que você quer". Respondi que seria melhor deixar para o dia seguinte, estava engrenado num trabalho. Ela insistiu: "Amanhã não posso nem depois de amanhã. Com minha agenda, vai ficar complicado, tenho gravações". Como precisava dela, porque nós, nesta idade, precisamos da assessoria dos jovens para os informáticos, disse: "Então, é pra já!"
Entramos na loja, compramos e subimos para a seção de retirada do produto. Fui direto ao balcão, entreguei minha nota, nem notei um senhor sentado, cabeça abaixada, à espera. Então, ouvi:
- Não é o Loyola?
Virei-me. Seria um leitor? Em geral é. Não era um leitor, era um autor. Abri os braços, entusiasmado, surpreso.
- Raduan!
Ele se levantou e nos abraçamos forte e fraternalmente. Sorriu, com a mão em meu ombro.
- Quanto tempo!
Não era clichê, era a verdade. Não via Raduan Nassar havia 20 anos. Mais velho, mas também estou. Ele ainda com fartos cabelos, enquanto os meus estão partindo. Seriam os ares do campo? A distância de São Paulo? O rosto de sempre, sóbrio, severo. Perguntei:
- O que faz aqui?
- O mesmo que você, resolvendo um problema de informática. (Ele riu, com um jeito irônico. O mesmo Raduan de sempre). E trouxe um amigo, jovem, assim como você trouxe uma jovem também.
- É minha filha.
Ele estendeu a mão, brincou:
- Como um pai feio faz uma filha tão linda?
Respondemos juntos:
- Porque a mãe é linda.
Nós dois, Raduan e eu, somos fechados, não inclinados a externar emoções, mas ambos percebemos que estávamos comovidos. Nos anos 70, estivemos muito próximos, pertencemos ao mesmo grupo, que girava em torno da revista Escrita, criada pelo Wladyr Nader. Nela publicávamos contos, ensaios, poesias; para ela dávamos entrevistas, éramos "jovens" autores. Jovens e já tínhamos passado dos 30. Nós, quem? Roniwalter Jatobá, Márcia Denser, Joyce Cavalcanti, Silvio Fiorani, João Antonio, Moacyr Amâncio, entre outros. Quando vejo aqueles escritores que frequentam hoje a Mercearia São Pedro e formam, de algum modo, uma "geração", lembro-me daquela nossa. Vez ou outra, Raduan dava um jantar na casa dele, em Pinheiros. Sua família era dona do Bazar 13, Pinheiros era nossa região. Comia-se e bebia-se bem.
Ele nunca foi fácil, mas sempre sincero. Duro às vezes, doce outras. Depois, saiu de cena. Disse: "Me incluam fora dessa". E partiu. Desapareceu. Nada foi mais discutido do que a reclusão do Raduan. Uns achavam que era golpe de cena, recurso de mídia. Mas ele sumiu mesmo, foi viver no interior, da terra, para a terra. Há autores que "desaparecem", mas continuam na mídia. Raduan eclipsou-se. Poucos foram tão celebrados quanto ele. Prêmios, resenhas fantásticas, ensaios, filmes, documentários. Lembro-me que o crítico Leo Gilson Ribeiro me dizia, sempre: "Você escreve demais, publica muito, desacelere, veja o Raduan, um gênio com dois livros".
O homem que escreveu Lavoura Arcaica refugiou-se no interior, na fazenda, permanecendo na dele. Íntegro. Passadas duas décadas, numa tarde, numa loja em meio a computadores, damos de frente. Eu que para vestir sou desmazelado, como se diz em Araraquara, olhei para Raduan e me senti à vontade. Minha mãe ficava irritada: "Não vai sair assim feito um Judas!" Um dia, entendi a citação. Os Judas que malhávamos no Sábado de Aleluia eram vestidos com restos de roupas encontradas nas casas. Como eu, Raduan não liga, porque nunca ligou. Sempre foi assim. Temos roupas boas, mas nada combina com nada. Alguém que nos visse ali iria achar estranho e perguntaria: "São escritores? Meu Deus! Literatura é coisa ingrata".
Sentamos à espera de nossas máquinas. E ele:
- Passei perto, quase fui. Fiquei! Foi sério!
Fez um gesto, indicando o coração. Eu acentuei:
- Mas está aqui. Também passei perto, fiquei.
Fiz um gesto, mostrei a cicatriz na cabeça.
- O aneurisma. Somos sobreviventes.
Rimos. O riso de Raduan é contido, mas terno. Parecia que nem um dia tinha se passado, o afeto foi o mesmo. Dois dias antes havia lido extensa matéria sobre ele na revista Piauí, comentei. Ele se moveu inquieto:
- Não devia ter consentido. Tentei bloquear. A revista estava na rua. Fiquei mal. Constrangido.
Estava mesmo. Qualquer um de nós teria adorado uma matéria daquela, páginas e páginas. Ele se mostrava realmente incomodado, intimidado. Nossas máquinas chegaram, assinamos papéis. Foi um brevíssimo encontro, lacônico. Nenhuma discussão literária, nenhum pergunta o que você está fazendo, lendo, escrevendo, coisas do gênero. Um alô, um abraço, um até logo. Ao nos despedirmos, acompanhei Raduan com o olhar até ele entrar no elevador. Um homem simples, puro, desligado das coisas, despido de vaidades. Uma ele tem, e com razão. É um grande escritor, um homem de estilo. Que um dia olhou para esta vida literária que agita pulsante e se perguntou: o que tenho com isso? É o que também me pergunto, às vezes. Ah, sim, o acaso onde está? Eu ter lido a Piauí dois dias antes. E minha filha ter insistido: vamos hoje à Fnac. Não amanhã nem depois. Nada é acaso, gente.
Eu e o bóson - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 27/07
RIO DE JANEIRO - No romance "Um Estudo em Vermelho", Conan Doyle conta como Sherlock Holmes e o dr. Watson se conheceram, foram morar juntos e, em pouco tempo, Watson constatou a ignorância do parceiro em certas disciplinas -literatura, política, astronomia. Pior: Sherlock nunca ouvira falar de Copérnico e não sabia que a Terra girava em torno do Sol.
"Que um homem civilizado desconheça este fato em pleno século 19 me parece extraordinário", exclamou Watson. "Pois, agora que fiquei sabendo, vou fazer o possível para esquecer", respondeu Holmes. E, ante a perplexidade de Watson: "Você diz que giramos em torno do Sol. Se girássemos em torno da Lua, não faria diferença para mim e para meu trabalho". E explicou a Watson sua teoria de que o cérebro é como um sótão que, se atulhado de objetos -ou informações-, impede que se encontre o de que precisamos.
Lembrei-me de Holmes quando a imprensa noticiou a recente descoberta do bóson de Higgs com um entusiasmo que só costuma dedicar às grandes catástrofes, como tsunamis, desabamentos, chacinas. Era como se fosse um evento esperado há séculos e que finalmente tivesse acontecido. Num primeiro momento, como todo mundo, regozijei-me e vibrei -até concluir que, apesar das explicações e dos gráficos, não entendia tostão do que estavam falando.
É verdade que minha própria ignorância sobre as novidades da tecnologia está chegando a níveis preocupantes. A primeira vez que ouvi falar de "aplicativo", por exemplo, achei que se tratava de um novo tipo de esparadrapo.
Apesar disso, estou cultivando um certo carinho pelo bóson. Aliás, já fui grande fã de seus primos mais velhos, os prótons, elétrons e nêutrons -e também nunca soube do que se tratava. Claro que, com tantos e súbitos admiradores, o bóson pode muito bem passar sem mim. E eu sem ele.
RIO DE JANEIRO - No romance "Um Estudo em Vermelho", Conan Doyle conta como Sherlock Holmes e o dr. Watson se conheceram, foram morar juntos e, em pouco tempo, Watson constatou a ignorância do parceiro em certas disciplinas -literatura, política, astronomia. Pior: Sherlock nunca ouvira falar de Copérnico e não sabia que a Terra girava em torno do Sol.
"Que um homem civilizado desconheça este fato em pleno século 19 me parece extraordinário", exclamou Watson. "Pois, agora que fiquei sabendo, vou fazer o possível para esquecer", respondeu Holmes. E, ante a perplexidade de Watson: "Você diz que giramos em torno do Sol. Se girássemos em torno da Lua, não faria diferença para mim e para meu trabalho". E explicou a Watson sua teoria de que o cérebro é como um sótão que, se atulhado de objetos -ou informações-, impede que se encontre o de que precisamos.
Lembrei-me de Holmes quando a imprensa noticiou a recente descoberta do bóson de Higgs com um entusiasmo que só costuma dedicar às grandes catástrofes, como tsunamis, desabamentos, chacinas. Era como se fosse um evento esperado há séculos e que finalmente tivesse acontecido. Num primeiro momento, como todo mundo, regozijei-me e vibrei -até concluir que, apesar das explicações e dos gráficos, não entendia tostão do que estavam falando.
É verdade que minha própria ignorância sobre as novidades da tecnologia está chegando a níveis preocupantes. A primeira vez que ouvi falar de "aplicativo", por exemplo, achei que se tratava de um novo tipo de esparadrapo.
Apesar disso, estou cultivando um certo carinho pelo bóson. Aliás, já fui grande fã de seus primos mais velhos, os prótons, elétrons e nêutrons -e também nunca soube do que se tratava. Claro que, com tantos e súbitos admiradores, o bóson pode muito bem passar sem mim. E eu sem ele.
Não basta apenas anunciar concessões - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 27/07
Confirmado o pacote de concessões ao setor privado na área de infraestrutura, a ser anunciado em agosto, o governo Dilma terá tomado uma decisão sensata e ajudado a enterrar - sempre com risco de recaídas - o conhecido preconceito ideológico existente em frações do PT contra tudo que lembra "privatização". Algo de fundo dogmático e religioso, por certo.
Mas qualquer governo precisa se curvar à vida real. E é impossível contornar o fato de que, para dar consistência à retomada do crescimento esperada para o segundo semestre, tornou-se imperioso ativar os parcos investimentos públicos - para os quais são necessários a experiência gerencial da iniciativa privada e também recursos.
Ferrovias seriam uma das prioridades do pacote. Comprovam o acerto da escolha os escabrosos desmandos éticos e técnicos - costumam andar juntos - cometidos pela estatal Valec no projeto eterno da Ferrovia Norte-Sul. Capturada pelo fisiologismo político-partidário, a empresa ampliou mais ainda a crônica de atrasos de um empreendimento iniciado há duas décadas.
Mas como não faltam gargalos de infraestrutura, a lista pode ser extensa. Anunciá-la, porém, não será difícil. O problema está na execução, como em todos os planos trombeteados pelo governo. Pois, além da proverbial lentidão administrativa, no caso de concessões e licitações há uma visível má vontade de fundo ideológico.
O preço é pago por todo o país. A licitação de aeroportos é exemplar. Há muito tempo todos sabiam que seria inexorável. As eleições de 2010 fizeram o PT adiar o assunto, mesmo diante do pesado calendário de eventos internacionais. O resultado é que já se passou um ano e meio de governo Dilma e só no mês passado foram assinados os contratos com os concessionários de Guarulhos, Viracopos e o aeroporto de Brasília (JK) - a dois anos da Copa do Mundo.
Debelar a prevenção contra a iniciativa privada deveria ser questão estratégica para qualquer administrador público interessado em prestar bons serviços aos eleitores. O Brasil está repleto de histórias de danos causados ao Erário - portanto, à sociedade - porque o poderoso de turno decidiu "dirigir" os mercados.
O mais estrondoso desses casos ocorreu no governo Geisel, com o programa de substituição de importações de máquinas, equipamentos e insumos básicos tocado por empresários privados escolhidos para serem "campeões" em seus segmentos. As empresas faliram e/ou foram passadas adiante, e o prejuízo, absorvido pelo Tesouro. O perigo é que esta mesma visão dirigista ressuscitou no BNDES.
É ilustrativo que Lula, na Presidência, tenha pressionado a Vale a investir em siderúrgicas, algumas para satisfazer aliados políticos no Norte do país. O mundo já estava inundado de aço, portanto o investimento não fazia sentido. Hoje, usinas atolam em prejuízos. A sorte do contribuinte brasileiro é que deixou de existir a Siderbrás.
E concessões são uma maneira de conter as tentações que ainda persistem de se criar uma estatal para tratar de cada problema do Brasil.
A crise da gerência da crise - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 27/07
A incompetência do governo federal como planejador e gestor de obras foi mais uma vez comprovada com o novo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A execução continua lenta, apesar do aumento dos desembolsos, e o Ministério do Planejamento insiste em inflar os resultados com os financiamentos à habitação. A máquina pública e as empresas estavam despreparadas para investir em infraestrutura, disse a ministra Miriam Belchior, ao apresentar os últimos números nesta quinta-feira. Pelo menos quanto à máquina pública ela está certa. Dizendo talvez mais do que pretendia, a ministra lembrou os projetos suspensos para reelaboração pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Eram, segundo acrescentou, "projetos sem a mínima qualidade". Mas quando foram preparados e desde quando têm sido recusados?
O comentário da ministra do Planejamento é mais um reconhecimento, talvez involuntário, do desastroso padrão gerencial implantado no governo da União pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Exatamente no Ministério dos Transportes começou, há cerca de um ano, a faxina parcial executada, com evidente relutância, pela presidente Dilma Rousseff.
A vassourada foi além do gabinete ministerial e atingiu o Dnit, forçando a substituição de seu comando. Uma das consequências, ainda sensível neste ano, tem sido a lentidão maior na execução de projetos.
As palavras da ministra combinam muito bem com as declarações da nova presidente da Petrobrás, Graça Foster, no dia de sua posse. Ela recuou, dias depois, e tentou desfazer qualquer mal-estar criado por suas declarações. Não poderia, no entanto, simplesmente apagar as afirmações muito claras registradas por toda a imprensa. Sua mensagem foi inequívoca: a administração anterior havia descumprido boa parte das metas e assumido compromissos irrealistas, determinados por interesses políticos. Foi o caso da Refinaria Abreu e Lima, planejada para ser construída em parceria com a estatal venezuelana de petróleo. Nenhum centavo foi pingado, até agora, por essa empresa.
A marca do governo Lula é inegável nos dois casos - na subordinação da Petrobrás às fantasias ideológicas do PT e na devastação da máquina administrativa por meio do loteamento e do aparelhamento do governo. De fato, essas práticas foram mantidas.
Forçada a afastar vários ministros e a mexer em postos importantes de vários Ministérios, a presidente Dilma Rousseff preservou, no entanto, a partilha da administração entre os partidos da base governista. Conservou, portanto, o critério de apropriação do setor público e de seus recursos por um grupo interpartidário investido das prerrogativas de um bando conquistador. Não há surpresa. Pode haver mudança em alguns números, mas o conjunto é essencialmente o mesmo da gestão de seu antecessor e mentor político.
O espetáculo da ineficiência continua. Desde o início do PAC 2, no ano passado, até junho deste ano foram concluídas obras no valor de R$ 211 bilhões, segundo o balanço oficial. Os financiamentos de moradias, R$ 129,3 bilhões, corresponderam a 61,3% daquele total. O dinheiro destinado a habitações foi mais que o dobro do aplicado - R$ 55,1 bilhões - nas obras concluídas do setor energético. Além disso, equivaleu a mais de cinco vezes o valor destinado aos projetos terminados no setor de transportes, R$ 24,4 bilhões. O peso do programa habitacional é enorme até quando se considera o total das aplicações do PAC 2, R$ 324,3 bilhões em obras - as concluídas e aquelas em execução.
Quando se examina só o PAC orçamentário, custeado diretamente pelo Tesouro, o cenário é familiar. No primeiro semestre deste ano foram desembolsados R$ 19,7 bilhões, 32% mais que nos primeiros seis meses do ano passado. Mas esses pagamentos, equivalentes a 40,4% da verba orçamentária atualizada, foram na maior parte constituídos de restos a pagar, no valor de R$ 15,2 bilhões. A Europa, disse a presidente em Londres, enfrenta uma crise de gerência da crise. Não precisaria cruzar o Atlântico, no entanto, para encontrar exemplos de má administração. Seu governo é um exemplo digno de manual.
Energia na mira - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 27/07
Governo Dilma decide atacar ônus da tarifa elétrica sobre a competitividade industrial; há várias opções, mas todas se mostram complicadas
No afã de aliviar os efeitos da crise mundial sobre a indústria brasileira, o governo federal disparou uma saraivada de medidas de emergência, como a redução pontual de impostos e encargos.
Isso contribuiu para reavivar o debate sobre providências estruturais voltadas a aumentar a competitividade nacional e para incluí-lo na agenda da Presidência.
Essa oportuna ampliação do horizonte governamental, para além das minúcias da conjuntura, parece chegar agora a um dos fatores que mais prejudicam a indústria: o custo exorbitante da eletricidade. Uma tomada de consciência tão positiva quanto tardia, registre-se, uma vez que a presidente Dilma Rousseff fez carreira precisamente no setor elétrico.
Um estudo muito citado da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, de 2011, delineou um quadro inquietante. A tarifa da eletricidade de consumo industrial no Brasil não só excede a média de 27 países acompanhados pela Agência Internacional de Energia como ainda é 134% maior que a de Rússia, Índia e China, seus concorrentes no grupo Bric.
Noticia-se que o Planalto almeja cortar em ao menos 30% as tarifas da energia elétrica para a indústria. Plano oportuno, mas nada fácil de executar. Os componentes do preço oferecem várias oportunidades para redução, mas todas têm obstáculos respeitáveis.
Os custos de geração, transmissão e distribuição já são elevados no Brasil. Com a crescente exploração do potencial hidrelétrico, contudo, novos aproveitamentos, em áreas remotas, tendem a exigir mais investimento ou a ceder lugar a fontes mais caras, como usinas termelétricas a óleo ou gás.
Outro alvo para cortes seriam os 14 encargos setoriais que, segundo a Firjan, oneram a tarifa final em 17%. São subsídios para cobrir despesas como o combustível consumido em termelétricas da região Norte e a universalização da rede elétrica. A conta deveria ser paga pelo Tesouro, não por usuários de energia, mas isso traria um ônus orçamentário incômodo.
Por fim, há a tributação federal (PIS/Cofins) e a estadual (ICMS). Juntas, elas oneram a energia em 32%, na média. O ICMS é o nó mais difícil de desatar, pois implica perda de arrecadação para os Estados. O Planalto cogita oferecer em troca uma renegociação dos pagamentos das dívidas estaduais, mas as tratativas ainda são incipientes.
Resta a alternativa de extrair redução tarifária da ordem de 10% de empresas como Eletrobras e Cesp, que têm concessões por vencer em 2015. O governo parece decidido a renová-las, em vez de relicitá-las, desde que os preços caiam. Teme-se, porém, que a redução deixe as companhias em situação financeira frágil, em especial a Eletrobras.
Governo Dilma decide atacar ônus da tarifa elétrica sobre a competitividade industrial; há várias opções, mas todas se mostram complicadas
No afã de aliviar os efeitos da crise mundial sobre a indústria brasileira, o governo federal disparou uma saraivada de medidas de emergência, como a redução pontual de impostos e encargos.
Isso contribuiu para reavivar o debate sobre providências estruturais voltadas a aumentar a competitividade nacional e para incluí-lo na agenda da Presidência.
Essa oportuna ampliação do horizonte governamental, para além das minúcias da conjuntura, parece chegar agora a um dos fatores que mais prejudicam a indústria: o custo exorbitante da eletricidade. Uma tomada de consciência tão positiva quanto tardia, registre-se, uma vez que a presidente Dilma Rousseff fez carreira precisamente no setor elétrico.
Um estudo muito citado da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, de 2011, delineou um quadro inquietante. A tarifa da eletricidade de consumo industrial no Brasil não só excede a média de 27 países acompanhados pela Agência Internacional de Energia como ainda é 134% maior que a de Rússia, Índia e China, seus concorrentes no grupo Bric.
Noticia-se que o Planalto almeja cortar em ao menos 30% as tarifas da energia elétrica para a indústria. Plano oportuno, mas nada fácil de executar. Os componentes do preço oferecem várias oportunidades para redução, mas todas têm obstáculos respeitáveis.
Os custos de geração, transmissão e distribuição já são elevados no Brasil. Com a crescente exploração do potencial hidrelétrico, contudo, novos aproveitamentos, em áreas remotas, tendem a exigir mais investimento ou a ceder lugar a fontes mais caras, como usinas termelétricas a óleo ou gás.
Outro alvo para cortes seriam os 14 encargos setoriais que, segundo a Firjan, oneram a tarifa final em 17%. São subsídios para cobrir despesas como o combustível consumido em termelétricas da região Norte e a universalização da rede elétrica. A conta deveria ser paga pelo Tesouro, não por usuários de energia, mas isso traria um ônus orçamentário incômodo.
Por fim, há a tributação federal (PIS/Cofins) e a estadual (ICMS). Juntas, elas oneram a energia em 32%, na média. O ICMS é o nó mais difícil de desatar, pois implica perda de arrecadação para os Estados. O Planalto cogita oferecer em troca uma renegociação dos pagamentos das dívidas estaduais, mas as tratativas ainda são incipientes.
Resta a alternativa de extrair redução tarifária da ordem de 10% de empresas como Eletrobras e Cesp, que têm concessões por vencer em 2015. O governo parece decidido a renová-las, em vez de relicitá-las, desde que os preços caiam. Teme-se, porém, que a redução deixe as companhias em situação financeira frágil, em especial a Eletrobras.
Brasil arma ditaduras - RASHEED ABOU-ALSAMH
O Globo - 27/07
Esta semana, mais uma vez, uma fotografia de um cartucho de gás lacrimogêneo brasileiro apareceu na imprensa e reafirmou que a preocupação com os direitos humanos não rege as relações internacionais do Brasil.
A foto, publicada na capa da "Folha de S.Paulo", segunda-feira, mostrava uma criança síria segurando um cartucho de gás lacrimogêneo usado contra refugiados sírios num acampamento na Turquia. Nela se viam mais uma vez a bandeirinha do Brasil e as palavras em inglês "Made in Brazil". Eu digo "de novo" porque o mesmo tipo de cilindro foi encontrado e fotografado em dezembro do ano passado no Bahrein depois de ser usado contra manifestantes pró-democracia. Na época, a empresa brasileira que manufaturou o gás, a Condor Tecnologias Não Letais, negou que tenha exportado qualquer gás para o Bahrein, e sugeriu que poderia ter sido usado pelas forças de segurança das tropas do Conselho de Cooperação do Golfo, que entraram no país para ajudar a família real dos Al-Khalifa a pôr fim às manifestações dos xiitas.
Mas, desta vez, a Condor não tem como negar as suas vendas de armas não letais para a Turquia, porque as estatísticas do próprio governo brasileiro apontam isso. Segundo a "Folha", dados do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior mostram que a Condor exportou armas e munição "não letais" para a Turquia com valor entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões em 2011, e com valores abaixo de US$ 1 milhão em 2008 e 2010.
Eu mandei perguntas para a Condor, e eles confirmaram que o gás usado na Turquia é de fabricação deles. Defenderam o uso do gás, justificando que "a polícia turca conteve um distúrbio que estava ocorrendo em um campo de refugiados utilizando equipamentos não letais, cujos efeitos cessam em pouco minutos. Se não houvesse a opção não letal, mas apenas armas de fogo, decerto o desfecho seria outro". Esta, certamente, não seria a opinião dos pais do bebê de cinco dias que morreu no Bahrein em dezembro, depois de inalar quantidade excessiva de gás lacrimogêneo, segundo uma ativista de lá que eu entrevistei.
Coincidentemente esta semana, na Organização das Nações Unidas, em Nova York, o Brasil está participando das negociações para a formulação de um Tratado de Comércio de Armas, algo inédito. Até hoje não há nenhum tratado internacional que regule a venda de armas no mundo, exceto por vários embargos impostos em países em conflito pelo Conselho de Segurança da ONU. E, mesmo assim, alguns países insistem em fornecer armas para países embargados, como a Rússia faz atualmente com a Síria.
Daniel Mack, coordenador de políticas e controle de armas da ONG Instituto Sou da Paz, em São Paulo, escreveu um documento muito interessante sobre a posição do Brasil perante um tratado de armas e argumenta que o Brasil poderia botar sua suposta preocupação com os direitos humanos na sua política de venda de armas para o exterior, sem prejudicar seus interesses estratégicos ou comercias.
Mack, que está em Nova York esta semana para acompanhar as negociações de perto, não está muito otimista que isso vá acontecer. Escreve: "Outro motivo de preocupação é que, até o momento, o Brasil não apoiou publicamente a inclusão das "armas e equipamentos de segurança interna (letais e menos letais)", protagonistas recentes de abusos e atrocidades contra civis. Tal omissão seria especialmente problemática, pois o Brasil tem significativas exportações deste tipo de equipamento, especialmente da empresa Condor (de Nova Iguaçu, RJ) para supostamente mais de 35 países."
Eu perguntei para ele se o uso de gás lacrimogêneo brasileiro na Turquia era sintomático de um lapso moral no sistema brasileiro de exportação de armas. Ele respondeu que sim.
"Acredito que o sistema para autorizar exportações de armas do Brasil é extremamente complacente com potenciais abusos de direitos humanos", disse Mack. "Eu já escrevi que o Brasil tem obrigação constitucional de "reger-se pelos direitos humanos nas suas relações internacionais", mas não que o Brasil realmente cumpra esta obrigação. Ao contrario, e nas discussões esta semana o Brasil não tem dado nenhuma ênfase ao tema direitos humanos."
Infelizmente, Mack acha que as armas "não letais" vão ser completamente excluídas de um possível tratado de comércio de armas. "As armas não letais certamente serão excluídas. O esboço do texto do tratado que saiu na terça-feira não tem nenhuma menção, e nenhum país esta demandando. O Brasil é contra a inclusão deste tipo de armamento", ele explicou.
Perguntei à Condor se eles tinham pedido ao governo brasileiro para deixar armas não letais fora do tratado. Eles negaram: "Este é um assunto de Estado. Não nos cabe interferir."
Ainda mais assustadoras foram as revelações recentes que o Brasil tem exportado bombas cluster para a Malásia e a Zimbábue, e que o país se recusou a assinar um tratado internacional que proíbe a venda desse tipo de bomba.
Está mais do que claro que o Brasil coloca os seus interesses econômicos e militares acima de qualquer suposta preocupação com direitos humanos. A administração de Dilma Rousseff gosta de se projetar como uma que se preocupa demais com isso, mas as exportações brasileiras de armas letais e "não letais", que estão em constante crescimento, e o desleixo no monitoramento sobre como elas são usadas, contam a história real.
Agora, os brasileiros têm que decidir se querem ser notórios por vender armas para qualquer ditadura brutal ou se querem ser admirados pela sua preocupação pelos direitos humanos. A escolha é simples.
Farinha podre - LUIZ GARCIA
O Globo - 27/07
OTribunal de Contas do Rio de Janeiro não aprovou as contas de 499 cidadãos que ocuparam cargos públicos em seus municípios - quase todos ex-prefeitos e ex-presidentes de Câmaras de Vereadores - no estado. E o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Luiz Zveiter, anunciou o óbvio: nenhum deles poderá ser candidato nas eleições de outubro. Todos estarão inelegíveis por oito anos.
A existência desse prazo é curiosa: parece indicar a confiança de que, nos oito anos, políticos desonestos ou incompetentes em alto grau aprenderão a governar ou abandonarão o feio costume de meter a mão nas verbas públicas. Com uma pitada de cinismo, é bom não esquecer que a inelegibilidade sempre castiga - mas raramente conserta.
Nas eleições deste ano, 21 mil cidadãos do Estado do Rio são candidatos a mandatos diversos. Esse número sugere uma de duas conclusões: ou existe por aqui extraordinário índice de devoção aos interesses da coletividade, ou os cargos a serem preenchidos pelo voto popular são, por assim dizer, apetitosos.
O eleitor saberá qual das duas explicações é verdadeira. No caso da primeira, estamos todos de parabéns; na outra hipótese restará aos cidadãos a possibilidade - melhor dizendo, o dever - de tomar nota dos nomes daqueles que se dedicam a usar o poder em benefício próprio. É certo que existem políticos dos dois tipos. Aqui, como em qualquer outro país.
É difícil saber se os 499 que caíram na malha fina do Tribunal de Contas representam uma boa notícia ou uma situação de crise moral na vida pública: falta-nos a comparação com anos anteriores. Não parece improvável que a resposta correta às nossas preocupações seja a de que tudo continua com sempre foi: nem aumento de safadeza, nem o resultado animador de uma operação de enérgica limpeza nos quadros partidários.
Afinal, a turma parece ser a de sempre, numa mistura de cidadãos honestos e dedicados ao bem comum com aqueles que enxergam na carreira pública aquilo que uma gíria antiga batizou de "boca rica". Durante a campanha eleitoral, é difícil saber. Depois da posse dos eleitos, logo se saberá.
O número dos castigados pelo Tribunal de Contas não é animador. Como também não é excesso de pessimismo imaginarmos que os oito anos de inelegibilidade transformarão em varões de Plutarco, como se dizia antigamente, os 499 agora - mas não submetidos a qualquer pena de cadeia ou multa, o que não deixa de ser curioso. Afinal de contas, ser apanhado numa malha fina deveria ser apenas a prova de mau comportamento, primeiro passo no caminho para uma punição exemplar.
A lógica dos seios grandes - MOISÉS NAÍM
FOLHA DE S.PAULO - 27/07
Bonitos, altos e com bons dentes costumam ganhar mais, contrariando a tese de que beleza não importa
Em um bom número de países, os ganhos resultantes de um investimento na melhora do aspecto físico superam os que se obtêm com um investimento em um diploma universitário. Para uma jovem russa, chinesa ou argentina, por exemplo, é mais rentável ser bela que ser universitária formada. Sem que isso implique que elas se prostituam.
De modo geral, as pessoas bonitas ganham mais que as feias. Esta afirmação contraria a premissa de que as aparências não importam, que a beleza é relativa e que os padrões de beleza e feiura dependem da cultura. A realidade é que nada disso é verdade.
Daniel Hamermesh, da Universidade do Texas, entrevistou uma amostra aleatória de pessoas de 7 a 50 anos de idade em vários países, pedindo a cada entrevistado que classificasse as pessoas cujas fotos lhe mostrava segundo seu grau de atratividade física.
A primeira surpresa foi que em todas as partes do mundo, e independentemente de idade, sexo, educação, religião ou nível de renda, os entrevistados coincidiram em suas opiniões quanto a quem eram as pessoas mais atraentes nas fotos.
A segunda surpresa é que Hamermesh tinha a informação sobre os salários de cada um dos fotografados e descobriu que as pessoas classificadas como mais atraentes ganhavam acima da média, enquanto as "feias" ganhavam menos.
Assim, nos Estados Unidos os homens vistos como feios ganham 9% menos que aqueles que são medianamente atraentes; no Reino Unido, 18% menos; e na China (em Xangai), 25%. As mulheres menos agraciadas que a média ganham 6% menos nos Estados Unidos, 11% menos no Reino Unidos e espantosos 31% menos em Xangai, onde as mulheres mais atraentes recebem 10% acima da média, formando uma diferença de 41% entre a renda das mulheres mais bonitas e mais feias.
Outros estudos demonstram que, em toda parte, a estatura maior acompanha o aumento de renda.
Nos Estados Unidos, os 25% mais altos da população ganham 10% mais do que os 25% mais baixos. Muitas explicações já foram aventadas para esta tendência -psicológicas, sociais, nutricionais etc. Mas a mais recente é a mais explosiva: os mais altos ganham mais porque são mais inteligentes.
É o que concluem Anne Case e Christina Paxson, que, estudando amostras de crianças de três anos, constataram que as mais altas tinham resultados substancialmente superiores em provas cognitivas que as mais baixas. Resta ver se essa conclusão controversa sobrevive ao escrutínio de outros pesquisadores.
Vale a pena mencionar que os seios bonitos, por exemplo, não são o único bilhete de entrada no paraíso econômico. Os dentes também o são. Isso mesmo: quem tem dentes melhores ganha mais.
O valor econômico dos dentes é o título do trabalho em que Sherry Glied e Matthew Neidell demonstram que as mulheres que têm a dentição melhor ganham 4% mais que as que têm a pior. É uma boa notícia: escovar os dentes com frequência é mais fácil (e barato) que submeter-se a cirurgias plásticas.
Bonitos, altos e com bons dentes costumam ganhar mais, contrariando a tese de que beleza não importa
Em um bom número de países, os ganhos resultantes de um investimento na melhora do aspecto físico superam os que se obtêm com um investimento em um diploma universitário. Para uma jovem russa, chinesa ou argentina, por exemplo, é mais rentável ser bela que ser universitária formada. Sem que isso implique que elas se prostituam.
De modo geral, as pessoas bonitas ganham mais que as feias. Esta afirmação contraria a premissa de que as aparências não importam, que a beleza é relativa e que os padrões de beleza e feiura dependem da cultura. A realidade é que nada disso é verdade.
Daniel Hamermesh, da Universidade do Texas, entrevistou uma amostra aleatória de pessoas de 7 a 50 anos de idade em vários países, pedindo a cada entrevistado que classificasse as pessoas cujas fotos lhe mostrava segundo seu grau de atratividade física.
A primeira surpresa foi que em todas as partes do mundo, e independentemente de idade, sexo, educação, religião ou nível de renda, os entrevistados coincidiram em suas opiniões quanto a quem eram as pessoas mais atraentes nas fotos.
A segunda surpresa é que Hamermesh tinha a informação sobre os salários de cada um dos fotografados e descobriu que as pessoas classificadas como mais atraentes ganhavam acima da média, enquanto as "feias" ganhavam menos.
Assim, nos Estados Unidos os homens vistos como feios ganham 9% menos que aqueles que são medianamente atraentes; no Reino Unido, 18% menos; e na China (em Xangai), 25%. As mulheres menos agraciadas que a média ganham 6% menos nos Estados Unidos, 11% menos no Reino Unidos e espantosos 31% menos em Xangai, onde as mulheres mais atraentes recebem 10% acima da média, formando uma diferença de 41% entre a renda das mulheres mais bonitas e mais feias.
Outros estudos demonstram que, em toda parte, a estatura maior acompanha o aumento de renda.
Nos Estados Unidos, os 25% mais altos da população ganham 10% mais do que os 25% mais baixos. Muitas explicações já foram aventadas para esta tendência -psicológicas, sociais, nutricionais etc. Mas a mais recente é a mais explosiva: os mais altos ganham mais porque são mais inteligentes.
É o que concluem Anne Case e Christina Paxson, que, estudando amostras de crianças de três anos, constataram que as mais altas tinham resultados substancialmente superiores em provas cognitivas que as mais baixas. Resta ver se essa conclusão controversa sobrevive ao escrutínio de outros pesquisadores.
Vale a pena mencionar que os seios bonitos, por exemplo, não são o único bilhete de entrada no paraíso econômico. Os dentes também o são. Isso mesmo: quem tem dentes melhores ganha mais.
O valor econômico dos dentes é o título do trabalho em que Sherry Glied e Matthew Neidell demonstram que as mulheres que têm a dentição melhor ganham 4% mais que as que têm a pior. É uma boa notícia: escovar os dentes com frequência é mais fácil (e barato) que submeter-se a cirurgias plásticas.
Ueba! Dilmão em Londres! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 27/07
E nos jogos da Argentina vão botar bandeira das Malvinas. E nos jogos de Cuba, bandeira americana.
E tem duas expressões que detesto: "imagina na Copa" e "imagina no Brasil". Antes, tudo que dava errado, os chatos gritavam: "Imagina na Copa!". Agora, tudo que dá errado em Londres, os chatos gritam: "Imagina no Brasil!".
E a Dilma tá em Londres, IMAGINA NO BRASIL! Rarará! Diz que a Dilma chegou gritando: "Conserta esse bagulho do Big Ben que tá atrasado!". E pro Cameron: "Esse Parlamento tá uma bagunça, tudo sujo!". E avisa pra ela não dar tapão nas costas da rainha porque ela tá muito véinha e fofinha! Dilma vai ganhar Ouro em Berro, Prata em Grito e Bronze em Voadora! Rarará!
E adorei o futiba das minas! Brasil x Camarões! As mana comeram camarão. Assassinaram o camarão. Gol! Gol! Gol! Gol! Gol! Bobó de camarão! Acho que as meninas do futebol jogam melhor que os meninos. Porque eles é que usam salto alto! Salto alto, brinco, chapinha, Twitter e Facebook! Rarará!
E o comentarista Romário: "O Braxil é muito xuperior". A Record tá com a Equipe da Língua Plesa: Romário e Marcos Mion! Vai ser um Xuxexo!
E "Avenida Brasil"? Carminha e Nina! O Fla-Flu do Terror! A Mansão Maldita! E a humilhação final: Carminha virou corintiana. Nina obriga Carminha a vestir a camiseta do Timão! Rarará! E como disse uma menina no meu Twitter: "Se a Nina tá fazendo tudo isso com a Carminha, imagina na Copa!" Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Ereções 2012! A Galera Medonha! Piada Pronta! Tem um candidato em Goiânia chamado Cachoeira! E com o slogan "Amizade e Segurança". O Demóstenes que o diga! Rarará! E no Brasil tudo acaba em pizza. Inclusive em Conceição do Almeida, Bahia. Com a candidata: Maria da Pizzaria. Essa vai ser aclamada na Praça dos Três Poderes. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Em greve e invisíveis - MARCIO TAVARES D"AMARAL
O Globo - 27/07
Sou professor universitário há 40 anos. E sou contra greves de professores públicos. Greves, invenção dos operários no século XIX, têm uma estrutura simples: trabalhadores param, perdem os salários; empregadores perdem os lucros. É preciso negociar. E a greve é em si mesma um fato político. A sociedade entende, a mídia cobre. Conosco, não. Mantemos os salários. O governo não tem prejuízo, salvo o da imagem. Como a mídia não cobre, a sociedade não sabe desse desgaste. E nossas greves se arrastam, a população não sabe exatamente por que. Maiores salários, claro. Plano de carreira? Muito abstrato. Nossa greve não é um fato político autoexplicativo. Precisa ser interpretada. Mas nós não chegamos ao povo. O governo se faz de morto. Ninguém produz imagem. Numa sociedade para a qual só a imagem dá realidade, ficamos invisíveis. Nossas universidades, vazias. E os alunos, que têm esperanças e olham para nós, são os que perdem.
Podia ser diferente. Em tantas universidades haverá uma centena de professores de projeção nacional. Cem docentes na rampa do Planalto! Ou são recebidos - e dá mídia. Ou não são - e dá mídia. Porque isso é fato político. Cem professores no plenário, nas comissões. Publicando na grande imprensa. Com essa visibilidade, publicam. E os artigos vão para as redes. Alcançam longe. E todas as universidades, na mesma semana, suspendem as aulas e discutem o seu caminho. Com a visibilidade adquirida, fala para o público, do qual somos servidores. As aulas não param, os estudantes não são punidos por nós.
Se fizéssemos isto, a sociedade ficaria sabendo como são tratados os professores universitários. Ganham menos do que os técnicos de Ciência e Tecnologia e do Ipea. Como eles, criamos conhecimento. Diferentemente deles, produzimos gente. Futuro. E ganhamos menos. Explicação? Nenhuma. E a sociedade saberia. Criando fatos que geram imagens furaríamos o silêncio.
E quando o governo apresentasse suas propostas ficaria mais fácil mostrar que os aumentos estão apontando para o topo da carreira, onde há muito poucos, e para a base, onde não há ninguém. Para 80% dos docente os índices propostos são menores. E, dependendo da inflação até 2015, perde-se poder aquisitivo. Os titulares, como eu, ganham. Os auxiliares, como quase ninguém, ganham. Os demais perdem. Não dá para fazer seguro contra a inflação. O governo trabalha com números menores.
É um caminho mais justo. Perde quem tem de perder. Os professores entram no jogo de corpo inteiro. Mas aí a luta sindical fica um tanto enfraquecida... De modo que a sociedade fica ignorante, os alunos ficam em suspenso. Nós paramos de produzir.
O governo, os poderes, agradecem.
Ciência, tecnologia e ainda a vaca - PAULO CESAR SOARES
FOLHA DE SP - 27/07
A tecnologia não é, como dito, um "efeito colateral" da ciência básica. Sem investimento direto em inovação, a patente surgirá em outro país, em outra época
Li com muita atenção o artigo do colega físico Ivan Oliveira, "Ciência, tecnologia, inovação, vaca e leite", publicando aqui em 19 de julho.
Ele defende que a inovação é "efeito colateral" da ciência básica e que, por isso, é necessário investir na descoberta científica. Novos produtos e processos virão como consequência.
É preciso observar, porém, que, ao longo da civilização industrial, o desenvolvimento foi se aproximando da descoberta.
Assim, há 150 anos uma descoberta científica geraria um produto novo cerca de cem anos depois. Já há 50 anos, este gap era de cerca de dez anos. No final do século, a tecnologia chega apenas alguns anos atrás da descoberta científica.
O fato interessante, então, é que no passado distante a pesquisa científica, visando a descoberta, e a pesquisa em tecnologia, visando a invenção, não mantinham relação de importância.
Nas duas últimas décadas, porém, a invenção se aproximou tanto da descoberta que nos grandes centros as duas fases do conhecimento praticamente se uniram. Isto significou que a pesquisa científica se associou à tecnológica -é preciso que seja assim.
Os exemplos listados por Oliveira ilustram de uma certa forma a antítese da proposição do autor.
Ele nos conta que cristais líquidos foram descobertos em 1888 pelo botânico Friedrich Reinitzer na Universidade de Praga. Mas tanto Reinitzer quanto a sua instituição certamente não tiveram um papel relevante no desenvolvimento de monitores de TV, computadores ou tablets. E, claro, não receberam patentes por isso.
Outro exemplo que ele cita: Einstein publicou em 1916 a relatividade geral. Hoje, o GPS usa a sua teoria para funcionar corretamente. Mas o físico não teve nada a ver com isso.
Ou seja, não foram os autores ou as instituições onde ocorreram as descobertas científicas que foram os responsáveis pelos inventos. Não foram eles os beneficiários dos seus resultados. Foram terceiros, em épocas e locais diferentes.
Isso significa que a pesquisa científica sozinha não gera o produto que se traduz em benefício e progresso da humanidade. Ela pode surgir em outra época, em outro país, para outros beneficiários.
Ou seja: pode ser que a sociedade que financiou a pesquisa científica básica, assim como o próprio cientista responsável por ela, tenham inclusive de pagar royalties para usar um produto tecnológico que foi criado em função dos seus estudos.
Essa tem sido a grande diferença entre as políticas para a ciência e a tecnologia nos países desenvolvidos e nos dependentes.
No Brasil, por exemplo, como a indústria pouco investe em pesquisa, essa responsabilidade fica para a universidade. Os parcos recursos financeiros governamentais têm sido aplicados preferencialmente em descobertas científicas (pesquisa básica), cerca de 70%. Apenas 30% são direcionados para invenções e inovação (pesquisa aplicada).
Ao contrário, em países como os EUA os recursos são utilizados preferencialmente em pesquisas aplicadas, ainda que provindos em grande maioria de fundos do governo, mas preferencialmente aplicados pela indústria.
Assim, só 2010 as empresas americanas IBM e Samsung Electronics registram sozinhas respectivamente 5896 e 4551 patentes. O Brasil inteiro, no ano de 2011, fez 572 pedidos por meio do Tratado de Cooperação em Patentes.
Então, conclui-se que as pesquisas básicas e aplicadas devem andar de mãos dadas para que o conhecimento científico seja revertido em benefício da sociedade. Devemos refrear a ideia de que basta ocorrer a descoberta científica para que a aplicação em invenção e inovação venham de brinde.
Seria, complementando o brilhante físico Guido Beck citado, necessário dizer que não basta cuidar da vaca para se ter o leite.
A tecnologia não é, como dito, um "efeito colateral" da ciência básica. Sem investimento direto em inovação, a patente surgirá em outro país, em outra época
Li com muita atenção o artigo do colega físico Ivan Oliveira, "Ciência, tecnologia, inovação, vaca e leite", publicando aqui em 19 de julho.
Ele defende que a inovação é "efeito colateral" da ciência básica e que, por isso, é necessário investir na descoberta científica. Novos produtos e processos virão como consequência.
É preciso observar, porém, que, ao longo da civilização industrial, o desenvolvimento foi se aproximando da descoberta.
Assim, há 150 anos uma descoberta científica geraria um produto novo cerca de cem anos depois. Já há 50 anos, este gap era de cerca de dez anos. No final do século, a tecnologia chega apenas alguns anos atrás da descoberta científica.
O fato interessante, então, é que no passado distante a pesquisa científica, visando a descoberta, e a pesquisa em tecnologia, visando a invenção, não mantinham relação de importância.
Nas duas últimas décadas, porém, a invenção se aproximou tanto da descoberta que nos grandes centros as duas fases do conhecimento praticamente se uniram. Isto significou que a pesquisa científica se associou à tecnológica -é preciso que seja assim.
Os exemplos listados por Oliveira ilustram de uma certa forma a antítese da proposição do autor.
Ele nos conta que cristais líquidos foram descobertos em 1888 pelo botânico Friedrich Reinitzer na Universidade de Praga. Mas tanto Reinitzer quanto a sua instituição certamente não tiveram um papel relevante no desenvolvimento de monitores de TV, computadores ou tablets. E, claro, não receberam patentes por isso.
Outro exemplo que ele cita: Einstein publicou em 1916 a relatividade geral. Hoje, o GPS usa a sua teoria para funcionar corretamente. Mas o físico não teve nada a ver com isso.
Ou seja, não foram os autores ou as instituições onde ocorreram as descobertas científicas que foram os responsáveis pelos inventos. Não foram eles os beneficiários dos seus resultados. Foram terceiros, em épocas e locais diferentes.
Isso significa que a pesquisa científica sozinha não gera o produto que se traduz em benefício e progresso da humanidade. Ela pode surgir em outra época, em outro país, para outros beneficiários.
Ou seja: pode ser que a sociedade que financiou a pesquisa científica básica, assim como o próprio cientista responsável por ela, tenham inclusive de pagar royalties para usar um produto tecnológico que foi criado em função dos seus estudos.
Essa tem sido a grande diferença entre as políticas para a ciência e a tecnologia nos países desenvolvidos e nos dependentes.
No Brasil, por exemplo, como a indústria pouco investe em pesquisa, essa responsabilidade fica para a universidade. Os parcos recursos financeiros governamentais têm sido aplicados preferencialmente em descobertas científicas (pesquisa básica), cerca de 70%. Apenas 30% são direcionados para invenções e inovação (pesquisa aplicada).
Ao contrário, em países como os EUA os recursos são utilizados preferencialmente em pesquisas aplicadas, ainda que provindos em grande maioria de fundos do governo, mas preferencialmente aplicados pela indústria.
Assim, só 2010 as empresas americanas IBM e Samsung Electronics registram sozinhas respectivamente 5896 e 4551 patentes. O Brasil inteiro, no ano de 2011, fez 572 pedidos por meio do Tratado de Cooperação em Patentes.
Então, conclui-se que as pesquisas básicas e aplicadas devem andar de mãos dadas para que o conhecimento científico seja revertido em benefício da sociedade. Devemos refrear a ideia de que basta ocorrer a descoberta científica para que a aplicação em invenção e inovação venham de brinde.
Seria, complementando o brilhante físico Guido Beck citado, necessário dizer que não basta cuidar da vaca para se ter o leite.
Meia-Volta - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 27/07
A equipe técnica escalada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e pelo governo para estudar aumento para os juízes do país tenta encontrar solução que contemple reajuste sem alterar o salário dos ministros da corte (R$ 26,7 mil), teto para o funcionalismo de todo o país. Uma das ideias, do STF, é patrocinar a volta do pagamento de adicional por tempo de serviço aos magistrados.
CASCATA
Pelos cálculos iniciais, a volta do adicional permitiria que os reajustes chegassem a cerca de 30%, com aumento de só 5% no teto salarial.
CAIXA PRETA
As apostas em torno da posição da ministra Cármen Lúcia, do STF, no mensalão dividem advogados dos réus. Alguns dão seu voto como certo. Outros lembram casos em que tudo indicava que ela votaria com o PT -e a ministra surpreendeu, partindo para a condenação.
SURPRESA
O processo mais lembrado é aquele em que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci era acusado de quebrar o sigilo do caseiro Francenildo dos Santos. O STF o inocentou por margem apertada. Cármen Lúcia, tida como favorável, votou contra o ex-ministro.
MÃOS DADAS
José Dirceu diz que ele e Delúbio Soares continuam às mil maravilhas. "Nos encontramos sempre, mantemos o mesmo círculo de amizade." Ele desmente rumores de divergências substanciais entre a sua defesa no mensalão e a do ex-tesoureiro do PT.
URNA
Um dos pilares da defesa de Dirceu será a declaração de Delúbio, nos autos, de que nunca tratou do esquema com integrantes do governo Lula. "Nossas defesas são convergentes", diz Dirceu. Delúbio sustenta a tese de que o dinheiro servia para pagar dívidas eleitorais e não para comprar apoio para a administração lulista.
BROADWAY CARIOCA
O diretor Ruy Guerra fará o musical "Copacabana, Uma História De Amor" no próximo ano. O espetáculo terá canções de Carlos Colla e direção musical do maestro Eduardo Lages.
NO CANTO DA LAJE
Juliana Paes está na capa da edição de agosto da revista "Estilo", que chega às bancas no dia 2. A atriz, protagonista da microssérie "Gabriela" na TV Globo, conta que mantém o bronzeado da personagem com sessões semanais de "jet bronze". Mas quando consegue uma brecha na agenda, diz, gosta de tomar sol. "Para não ficar com marca de biquíni, eu me bronzeio sem roupa em um canto escondido na laje da minha casa", afirma.
SÓ NO BASTIDOR
A equipe do programa eleitoral de Gabriel Chalita (PMDB-SP), candidato a prefeito, suou para convencer artistas a gravarem declaração de apoio a ele num jantar anteontem, em SP (ver fotos abaixo). Ninguém topou. "Meu voto é dele. Mas minha mulher é prima do Fernando Henrique Cardoso, deixa a coisa amadurecer mais", dizia Fúlvio Stefanini.
SÉRIO?
Em outra roda, Stefanini chegou a dizer que FHC ligou para a sua casa e disse que pode até "votar no Chalita".
ME DEIXA FORA DISSO
Já Gabriela Duarte dizia que "nunca" revela o voto. Ao contrário da mãe, Regina Duarte, eleitora do PSDB.
SEGURANÇA
O ator Henri Castelli disse que no Morumbi, onde mora, sente-se ameaçado pelo garoto de 17 anos com "um ano para matar" antes de chegar à maioridade e ser processado. "O que fazer para eles terem medo?" Mais tarde, desabafou enquanto o garçom enchia sua taça de vinho: "Não dá para passar a mão na cabeça de bandido".
GIL À ITALIANA
O show "Concerto de Cordas & Máquinas de Ritmo", de Gilberto Gil, será lançado em DVD e CD em novembro. Antes, o cantor fará apresentações pela América Latina e EUA. No domingo, Gil cantou em Roma. Na plateia, o embaixador José Viegas, seu colega de ministério no governo Lula. O cantor se hospedou na Embaixada do Brasil.
CURTO-CIRCUITO
Jan Milan celebra hoje os sete anos de seu restaurante Sallvattore, no Itaim.
O fotógrafo Armando Prado dá aula amanhã na galeria DOC, na Vila Madalena. Vagas limitadas.
A Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer) será beneficiada com as vendas de Big Mac no McDia Feliz em SP, no dia 25 de agosto.
A Comissão da Verdade participa na segunda de audiência pública com comitês da sociedade civil, em Brasília, das 9h às 17h.
JOGA NA RODA
O candidato do PMDB à Prefeitura de SP, Gabriel Chalita, foi apresentado à classe artística em jantar no apartamento do diretor teatral Jorge Takla, anteontem, nos Jardins. Evocando dona Ivone Lara, a escritora Lygia Fagundes Telles cantou para o político: "Sonho meu, sonho meu...". Entre os convidados, os atores Henri Castelli, Fúlvio Stefanini e Maria Fernanda Cândido, Gabriela Duarte e Luciano Andrey, em cartaz com o musical "Priscilla - A Rainha do Deserto". Também estiveram lá o novelista Walcyr Carrasco e o cirurgião Raul Cutait.
"Biruta de aeroporto" - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 27/07
BRASÍLIA - O prefeito Gilberto Kassab está se preparando para apanhar feio do PT em São Paulo e para alisar o PT em Belo Horizonte. Para o presidente do PSDB-MG, deputado Marcus Pestana, ele está parecendo "biruta de aeroporto".
Na capital paulista, Kassab é estrela da campanha do tucano José Serra, contra o petista Fernando Haddad. Na mineira, impôs ao PSD a aliança com o petista Patrus Ananias, contra Aécio Neves (PSDB) e a reeleição de Márcio Lacerda (PSB).
Se fosse só mais uma salada partidária brasileira, tudo bem, mas não é. Há muito mais vinagre e pimenta aí, já que Kassab, ao criar um partido, gerou uma grande incógnita: o que, ou quem, está por trás do PSD? Ele continua devendo essa resposta.
Na superfície, o PSD nasceu para acomodar uma multidão de políticos aflitos com os sacolejos da oposição e loucos para pular no barco do governo. Se é só isso, a aliança de Kassab em São Paulo não é com o PSDB, mas com a pessoa de José Serra. E fugaz. Se é serrista lá, é dilmista convicto cá, em Brasília.
Dilma convocou Michel Temer e Kassab, com igual sem-cerimônia, para a mesma missão: driblar as sessões mineiras do PMDB e do PSD, respectivamente, e garantir o apoio ao PT em BH. Faz sentido com Temer, que é vice e foi bem recompensado, até com a presidência da Câmara para Henrique Alves. Mas Kassab é o quê? E saiu de mãos abanando?
Kassab é elogiado por aliados e adversários por produzir o principal fato político do ano passado -o PSD-, mas é um apoio polêmico. Em São Paulo, tem a máquina da prefeitura, mas uma rejeição de bom tamanho. No resto, é incerto, já que tanto pode estar com Lula/Haddad ou com Serra/Alckmin e faz qualquer coisa pelas graças de Dilma.
É razoável supor que se trata de algo estratégico, para além de seus interesses individuais. Mas o quê? A alternativa seria muito mesquinha: por um ministério a partir de 2013?
BRASÍLIA - O prefeito Gilberto Kassab está se preparando para apanhar feio do PT em São Paulo e para alisar o PT em Belo Horizonte. Para o presidente do PSDB-MG, deputado Marcus Pestana, ele está parecendo "biruta de aeroporto".
Na capital paulista, Kassab é estrela da campanha do tucano José Serra, contra o petista Fernando Haddad. Na mineira, impôs ao PSD a aliança com o petista Patrus Ananias, contra Aécio Neves (PSDB) e a reeleição de Márcio Lacerda (PSB).
Se fosse só mais uma salada partidária brasileira, tudo bem, mas não é. Há muito mais vinagre e pimenta aí, já que Kassab, ao criar um partido, gerou uma grande incógnita: o que, ou quem, está por trás do PSD? Ele continua devendo essa resposta.
Na superfície, o PSD nasceu para acomodar uma multidão de políticos aflitos com os sacolejos da oposição e loucos para pular no barco do governo. Se é só isso, a aliança de Kassab em São Paulo não é com o PSDB, mas com a pessoa de José Serra. E fugaz. Se é serrista lá, é dilmista convicto cá, em Brasília.
Dilma convocou Michel Temer e Kassab, com igual sem-cerimônia, para a mesma missão: driblar as sessões mineiras do PMDB e do PSD, respectivamente, e garantir o apoio ao PT em BH. Faz sentido com Temer, que é vice e foi bem recompensado, até com a presidência da Câmara para Henrique Alves. Mas Kassab é o quê? E saiu de mãos abanando?
Kassab é elogiado por aliados e adversários por produzir o principal fato político do ano passado -o PSD-, mas é um apoio polêmico. Em São Paulo, tem a máquina da prefeitura, mas uma rejeição de bom tamanho. No resto, é incerto, já que tanto pode estar com Lula/Haddad ou com Serra/Alckmin e faz qualquer coisa pelas graças de Dilma.
É razoável supor que se trata de algo estratégico, para além de seus interesses individuais. Mas o quê? A alternativa seria muito mesquinha: por um ministério a partir de 2013?
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO LIVRE
FOLHA DE SP - 27/07
Operadoras de turismo esperam crescer menos
O setor de operadoras de turismo no Brasil fechou 2011 com crescimento de 29,5% ante o ano anterior, segundo dados da entidade especializada Braztoa.
Para este ano, porém, a previsão é crescer só 10%.
"Maio, junho e julho foram meses de queda do consumo de viagens. Mas a partir de setembro o setor deve se recuperar", diz Marco Ferraz, presidente da Braztoa.
"O brasileiro está mais endividado. E com o incentivo do IPI preferiu, no primeiro semestre, gastar com a troca de carro e eletrodomésticos. Contribuiu para a queda no segundo trimestre do ano."
Em 2011, as 98 empresas representadas pela Braztoa faturaram R$ 9,8 bilhões, com 6 milhões de turistas brasileiros transportados.
O maior acesso ao crédito e o câmbio favorável são fatores que alavancaram.
"Esperávamos crescimento de 15% e fomos surpreendidos", diz Ferraz, que também atribui parte da expansão conseguida em 2011 ao fato de 12 operadoras terem se integrado à associação.
"Há uma massa de trabalhadores que passou a ter o direito a 30 dias de férias, pela CLT, que passou a viajar."
Na lista de mais vendidos ainda está a Bahia, com 42% dos destinos do Nordeste. Mas a classe C também faz as malas para Buenos Aires, destino predileto dos que fazem a primeira viagem para o exterior.
O faturamento doméstico cresceu 37,4%, enquanto o internacional registrou expansão de 23%.
Freio
O ritmo de contratações no setor da construção pesada está diminuindo, segundo dados do Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo).
Enquanto em maio abriram 1.631 vagas, em junho foram 939 -queda de 42%. Em abril e março, foram 2.259 e 3.149, respectivamente.
O número total de pessoas empregadas no setor cresceu apenas 0,83% em junho e soma agora 113.898.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, porém, quando o setor empregava 101.674 trabalhadores, houve alta de 12%.
MERCADO NA BULA
Para tentar compreender o comportamento de vendas dos medicamentos, a ProGenéricos começou a desenvolver um estudo amplo que se inicia com a Losartana, usada para controle de hipertensão.
O consumo da substancia subiu de 17,6 milhões de unidades em 2010, no acumulado desde maio do ano anterior, para 41,4 milhões de unidades em 2012.
"O aumento reflete o acesso", diz Telma Salles, presidente da entidade.
Os próximos mercados a serem estudados são os de produtos como metformina, clonazepam, azitromicina, entre outros.
17,6 milhões foi o número de unidades vendidas de maio de 2009 a maio de 2010
41,4 milhões foi o volume de unidades de maio de 2011 a maio de 2012
70% foi a participação de mercado da substância em maio de 2012
DESTINO BRASIL
O Brasil é o destino preferido dos executivos que gostariam de trabalhar em países emergentes, de acordo com estudo da Catenon, multinacional especializada na procura por profissionais.
Entre os entrevistados, 72% escolheriam morar no Brasil. Em seguida aparece a China, com 21%.
O fato de os emergentes serem um destino interessante profissionalmente é o motivo mais alegado pelos executivos para mudar de país.
Emergentes A Fiesp organiza para o dia 31 de julho a terceira mesa redonda "O Brasil, os Brics e a Agenda Internacional". Representantes do FMI e dos ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores participarão do encontro.
Gestão A consultoria francesa Global Approach Consulting, especializada em obtenção de recursos para inovação, abre uma operação em Curitiba. A empresa deve ampliar em 50% sua carteira de clientes na região até o fim do ano.
SOBE E DESCE PARA A COPA
A Villarta acaba de fechar dois contratos para o fornecimento de elevadores e escadas rolantes em obras que deverão ficar prontas antes da Copa do Mundo de 2014.
O valor total dos dois projetos, no aeroporto do Galeão (RJ) e na Arena Palestra (SP), chegará a R$ 30 milhões.
O aeroporto internacional receberá 58 novas escadas rolantes, importadas da China. No novo estádio do Palmeiras, por sua vez, serão instaladas 26 escadas rolantes e 15 elevadores.
A companhia também negocia com estádios e aeroportos de outras regiões do país. "Temos que ter cuidado ao entrar em um projeto atrasado, pois, dependendo do prazo, não é viável participar", afirma o presidente da empresa, Jomar Cardoso.