sexta-feira, julho 27, 2012

A lógica dos seios grandes - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE S.PAULO - 27/07


Bonitos, altos e com bons dentes costumam ganhar mais, contrariando a tese de que beleza não importa

Em um bom número de países, os ganhos resultantes de um investimento na melhora do aspecto físico superam os que se obtêm com um investimento em um diploma universitário. Para uma jovem russa, chinesa ou argentina, por exemplo, é mais rentável ser bela que ser universitária formada. Sem que isso implique que elas se prostituam.
De modo geral, as pessoas bonitas ganham mais que as feias. Esta afirmação contraria a premissa de que as aparências não importam, que a beleza é relativa e que os padrões de beleza e feiura dependem da cultura. A realidade é que nada disso é verdade.
Daniel Hamermesh, da Universidade do Texas, entrevistou uma amostra aleatória de pessoas de 7 a 50 anos de idade em vários países, pedindo a cada entrevistado que classificasse as pessoas cujas fotos lhe mostrava segundo seu grau de atratividade física.
A primeira surpresa foi que em todas as partes do mundo, e independentemente de idade, sexo, educação, religião ou nível de renda, os entrevistados coincidiram em suas opiniões quanto a quem eram as pessoas mais atraentes nas fotos.
A segunda surpresa é que Hamermesh tinha a informação sobre os salários de cada um dos fotografados e descobriu que as pessoas classificadas como mais atraentes ganhavam acima da média, enquanto as "feias" ganhavam menos.
Assim, nos Estados Unidos os homens vistos como feios ganham 9% menos que aqueles que são medianamente atraentes; no Reino Unido, 18% menos; e na China (em Xangai), 25%. As mulheres menos agraciadas que a média ganham 6% menos nos Estados Unidos, 11% menos no Reino Unidos e espantosos 31% menos em Xangai, onde as mulheres mais atraentes recebem 10% acima da média, formando uma diferença de 41% entre a renda das mulheres mais bonitas e mais feias.
Outros estudos demonstram que, em toda parte, a estatura maior acompanha o aumento de renda.
Nos Estados Unidos, os 25% mais altos da população ganham 10% mais do que os 25% mais baixos. Muitas explicações já foram aventadas para esta tendência -psicológicas, sociais, nutricionais etc. Mas a mais recente é a mais explosiva: os mais altos ganham mais porque são mais inteligentes.
É o que concluem Anne Case e Christina Paxson, que, estudando amostras de crianças de três anos, constataram que as mais altas tinham resultados substancialmente superiores em provas cognitivas que as mais baixas. Resta ver se essa conclusão controversa sobrevive ao escrutínio de outros pesquisadores.
Vale a pena mencionar que os seios bonitos, por exemplo, não são o único bilhete de entrada no paraíso econômico. Os dentes também o são. Isso mesmo: quem tem dentes melhores ganha mais.
O valor econômico dos dentes é o título do trabalho em que Sherry Glied e Matthew Neidell demonstram que as mulheres que têm a dentição melhor ganham 4% mais que as que têm a pior. É uma boa notícia: escovar os dentes com frequência é mais fácil (e barato) que submeter-se a cirurgias plásticas.

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