sábado, julho 14, 2012

‘Pânico’ punido - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 14/07

A desembargadora Elisabete Filizzola, da 2+ Câmara Cível do Rio, deu liminar a Walcyr Carrasco, autor da nova adaptação de “Gabriela” na TV Globo, contra o “Pânico na Band”.
O programa está proibido de mostar o personagem “Walcyr Churrasco” (Evandro Santo).

Além disso...
Se os repórteres do programa se aproximarem do novelista, pagarão multa de R$ 50 mil.
Causa ganha pelo advogado Ricardo Brajterman.

Lúcia de volta

A coleguinha Lúcia Hippolito, após quase três meses internada em Paris, voltou quinta. Está no Hospital Samaritano, no Rio, mas passa bem e está animada.
Lúcia adoeceu na Europa e foi diagnosticada com síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que afeta o sistema nervoso.

Verdade tropical

A última “New Left Review”, da Inglaterra, publica o recente ensaio do nosso crítico Roberto Schwarz sobre Caetano.
Schwarz analisa o livro de memórias do cantor, “Verdade tropical”, e mostra como um ex-esquerdista virou astro pop.

Acidente no ar

Esse Clemente de Farias, 62 anos, morto na queda de um avião em Angra, foi casado com a empresária Angela Gutierrez, com que teve uma filha.
Angela é uma das grandes mecenas da arte brasileira.

Livro aberto
A Casa da Palavra lança este mês “Frases para guardar”, do coleguinha Marcel Souto Maior.
É uma compilação de 500 frases — de Voltaire a Steve Jobs. No fim do livro, há páginas em branco para o leitor acrescentar suas próprias frases.

VINTE ANOS depois, o elenco original de "A partilha", um dos maiores sucessos da carreira de Miguel Falabella, volta a se reunir. Estreia dia 3, no Teatro Casagrande, no Leblon, a remontagem com Patrícia Travassos, Suzana Vieira, Thereza Piffere Arlete Sales. Na foto ao lado, de 1982, aparece Natália do Vale, que dividia papel com Patrícia

Operação Condor
O Uruguai, a pedido do presidente José Mujica, um ex-perseguido, reabriu as investigações sobre a Operação Condor, acordo entre ditaduras sul-americanas, nos anos 1970.
Luís Cláudio Cunha, primeiro jornalista a comprovar em 1978 a existência da operação, na “Veja”, vai depor segunda.

E que...
Alertado por um telefonema anônimo, Cunha e o fotógrafo J. B. Scalco testemunharam, em Porto Alegre, o sequestro dos urugaios Universindo Díaz e Lilian Celiberti, levados para o país vizinho.

Livro do Magro

O jornalista paulista Vicente Dianezi Filho está escrevendo a biografia do líder estudantil José Montenegro de Lima, o Magro.
Ele militava no PCB quando foi preso e desapareceu, em 1975.

Era só o que faltava

Acredite. O PM Leonardo da Conceição Gonçalves entrou no TRT do Rio com ação trabalhista contra... o Bingo Itaboraí.
Argumentou que trabalhava lá como “agente de segurança patrimonial”.

Mas...

A desembargadora Rosana Salim Villela Travesedo rejeitou a ação do PM: “Causa espécie o fato de o autor — policial militar — proteger a atividade ilícita perpetrada pela ré, ao invés de combatê-la”.
Está certa.

Madeira-Mamoré

Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia, rei-nagura segunda a biblioteca da instituição, criada há 128 anos. Parte do material já foi digitalizado.
O espaço guarda obras raras editadas desde 1882, como os estudos sobre a estrada de ferro Madeira-Mamoré.

Reforma à vista
A Casa de Cultura Laura Al-vim, no Rio, vai receber R$ 1 milhão da União e do estado para ampliar e melhorar suas dependências, em Ipanema.
Convênio entre o MinC e a Secretaria estadual de Cultura já liberou R$ 110 mil para o início das obras.

Bom para ele
Mal chegou a Minas, Ronaldinho Gaúcho já receberá da Câmara de Belo Horizonte o título de “cidadão honorário”.

As autoridades que nos constrangem - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE 14/07

Quando a gente pensa que as coisas vão bem, os fatos nos traem. Refiro-me ao episódio envolvendo uma desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT2), de São Paulo, a filha dela e os policiais responsáveis por uma blitz da lei seca na capital paulista. Nada mais prosaico, todo o dia temos alguém a se recusar fazer o teste da embriaguez. Nada mais bizarro, a surrada máxima “sabe com quem você está falando” mostra-se de uma infelicidade atual. E voltamos a lembrar como autoridades brasileiras ainda se valem de tais expedientes para reforçar o poder. E nos constranger.

Aos fatos, pois. Na noite da última quarta, a desembargadora Iara Rodrigues de Castro e a advogada Roberta Sanches de Castro — que dirigia um Chery — foram paradas pela Polícia Militar. Depois de Roberta se recusar a fazer o teste do bafômetro, a confusão se iniciou. Na versão policial, as mulheres foram agressivas. Na versão das mulheres, os policiais foram truculentos. A desembargadora teria perguntado se os responsáveis pela blitz “sabiam com quem estavam falando” e Roberta supostamente desferiu uns tapas nos soldados. A magistrada diz ter sido vítima da truculência policial e de desaforos.

Um vídeo amador, gravado com uma câmara de telefone celular, chegou a ser divulgado. Mas pouco se consegue ver o que ocorreu na prática. As cenas mostram as duas mulheres um tanto desengonçadas do alto dos saltos, esbravejando algo incompreensível. E aqui voltamos aos relatos parciais dos envolvidos no episódio. Segundo a desembargadora, ao serem paradas na blitz, os policiais pediram para revistar o carro. Mãe e filha teriam informado que seria preciso um mandado judicial para tal coisa. Depois, Roberta se recusou a fazer o teste do bafômetro, uma “arbitrariedade”, segundo ela.

Disse me disse

Os soldados envolvidos no entrevero afirmam que Roberta apresentava sinais de embriaguez, mostrou-se agressiva desde o primeiro momento e chegou a dizer que a operação era “uma palhaçada”. Iara, por sua vez, num autoelogio, disse ser “a maior desembargadora do país”. Depois, as duas mandaram os PMs calarem a boca. As mulheres garantem que quem as mandou calarem a boca foram os policiais. E que apenas se apresentaram — “sabem com quem estão falando” — depois dos gritos dos soldados e de terem sido empurradas. A partir daqui chega, de mansinho, a nossa velha infelicidade.

O disse me disse entre a desembargadora e os policiais ficaria nisso, numa guerra de versões, se não fosse a entrevista dada pela mulher logo depois da confusão. Para as câmeras de televisão, Iara revelou-se: “Chegou um policialzinho, que eu vim aqui (na corregedoria da PM) para denunciá-lo, me empurrou, me agrediu (sic). Eles desconhecem o que é um desembargador, o que é senso de hierarquia”. Bem, se a dona Iara não foi clara o suficiente com os policiais sobre o que realmente pensa da vida, na entrevista aos repórteres, ela foi direta. A nobre magistrada se acha diferenciada.

Para ela, segundo as próprias palavras, existe uma hierarquia, que deve ser seguida, não apenas nos tribunais, mas também na rua, no espaço público. Em qualquer circunstância, ela é melhor. Os outros podem ser tratados no diminutivo, para deixar exposto o papel do interlocutor. Tal análise, como se sabe, não é nova. Ainda na década de 1970, o antropólogo brasileiro Roberto DaMatta já a detalhava: os que pronunciam a frase “você sabe com quem está falando” colocam-se como titulares do direito, fortes na sociedade. Os que a ouvem são meros coadjuvantes, indivíduos que apenas habitam o cenário.

Alguns equívocos parecem eternos. E a gente pensava que as coisas iam tão bem por aqui.

Outra coisa

Sobre a coluna de sábado passado, Quem é contra a transparência, o leitor Roldão Simas Filho pondera que uma afirmação deve ser melhor explicada. Trata-se do momento em que trato da possibilidade da não divulgação dos salários dos funcionários das estatais, como a Petrobras. Ele alerta que os empregados dessas empresas são celetistas, “não são pagos com verbas oriundas dos impostos. As estatais — como as mencionadas — são sociedades abertas, de capital aberto (…), que prestam contas aos seus acionistas, inclusive o governo, sócio majoritário, com seus balanços apreciados pelas assembléias dos acionistas. Seus recursos vêm de suas atividades econômicas próprias”.

Um homem de sorte - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 14/07


O vereador paulistano Wadih Mutran (PP-SP) não é o primeiro político, nem provavelmente será o último, a ter uma dívida de gratidão com a Loteria Federal.

Há coisa de 20 anos, quando eclodiu o escândalo dos anões do Orçamento, o deputado federal João Alves, do antigo PFL da Bahia, desafiava a lei das probabilidades quando explicava o aumento do seu patrimônio pela circunstância de ter sido premiado várias vezes nos sorteios oficiais.

Como ter tanta sorte assim? É que apostava muito; seria um jogador compulsivo. Mas quem aposta muito tende a perder muito também. A menos de um especial favorecimento dos deuses, casos de enriquecimento desse tipo continuam a suscitar a desconfiança de qualquer pessoa de bom-senso.

Não importa: numa nova improbabilidade, surge agora outro político beneficiado pela sorte.

O vereador Mutran duplicou seu patrimônio durante o último mandato. Foi a recompensa, justificou, para anos de apostas compulsivas. Quem sabe os cofres públicos ainda lhe devam uma indenização pelo tanto que já despendeu na compra de bilhetes sem sucesso...

Trata-se, em definitivo, de um político que confia na própria fortuna. Um dos aliados de Mutran na Câmara Municipal afirmou desconhecer o lance de sorte de seu colega: "Tomara que tenha ganho, né?". Sem dúvida.

O comprovante do prêmio, entretanto, já sumiu. Mesmo que Mutran tenha sido sincero, e é forçoso conceder-lhe o benefício da dúvida, o prêmio não explica seu enriquecimento inteiramente.

Há de confiar, sobretudo, na credulidade do eleitor. Como em tantas outras situações, a repercussão de casos duvidosos envolvendo políticos parece efetuar-se numa esfera da opinião pública que tem poucos pontos de contato com a realidade clientelista que fundamenta as atividades do poder.

Só por preconceito se pode restringir a noção de currais eleitorais a alguma região isolada do Brasil rural. O clientelismo urbano tradicional, e essa mais recente forma de arrebanhamento de votos que nasce das concessões de rádio e TV, correm por vias impermeáveis aos indícios de fisiologismo.

Outro bilhete premiado -o de sua recondução à vereança- dependerá, como sempre, do apoio, da indiferença ou da desinformação dos eleitores paulistanos.

Brigas - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém


O GLOBO - 14/07

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, resolveu dar uma de senador Aécio Neves. Está se desentendendo com todo mundo. Depois de ter comprado uma briga boba com o ministro Alexandre Padilha, Chinaglia ignorou os apelos da ministra Ideli Salvatti e viajou para os EUA na última semana de trabalhos no Congresso, com votações importantes, como a LDO e o plano Brasil Maior. Ideli resmungou: “Ah, agora eu vou ter que ser líder do governo, também.” E foi se queixar à Dilma. O líder alega que foi uma viagem para ver a filha que mora nos EUA e que já estava marcada há tempos. O motivo, convenhamos, até que é nobre. Mas a desatenção, não!

Transformação
A presidente Dilma Rousseff, agora, é outra pessoa, politicamente falando. 

Preferida
Sugiro que prestem atenção neste nome: Tereza Helena Gabrielli Barreto Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. É, no momento, a pessoa de maior prestígio junto à presidente Dilma. Ela e, depois, Mercadante.

Operação casada I
As conversas casadas de Dilma e Lula com privilegiado interlocutor sobre a possibilidade de este vir a ocupar, futuramente, o Ministério de Minas e Energia mostram que o ex-presidente já está trabalhando para fazer da presidente sucessora dela própria.

Operação casada II
Pelo menos um governador de estado já decidiu encurtar seu próprio mandato. Deixa o cargo no dia 31 de dezembro do próximo ano. Assim, seu vice, candidato à sua sucessão em 2014, não poderá disputar reeleição. 

De Cavalcanti a Paris, o sonho da matriarca
A coluna homenageia hoje a sua mais antiga leitora: Regina Cabral, que, anteontem, completou 99 anos bem vividos.
Viúva muito jovem, Regina, mesmo assim, conseguiu educar sozinha seus três filhos, um deles, hoje, um ícone do jornalismo e da cultura brasileira.

Regina é avó de sete netos, o mais velho dos quais é atualmente governador do Rio. Mas, como toda avó coruja, preferia vê-lo numa posição de maior visibilidade, como a de prefeito de Paris, única cidade do mundo que aceitaria trocar pela sua humilde casinha lá de Cavalcanti, no subúrbio do Rio, aonde chegou em 1919 e nunca mais saiu.

Desde 1970 que os filhos tentam levá-la para a Zona Sul. Mas Dona Regina resiste bravamente.

O melhor presente que ganhou foi a visita-surpresa do netinho mais velho, que veio ao Brasil especialmente para o aniversário da avó.

Na festa, que reuniu também seus 22 bisnetos e dois tataranetos, Regina, que vive pedindo para Serginho trabalhar menos, ouviu deste a intenção de que, depois do centenário da avó, poderá deixar o governo do estado para dedicar-se mais à família. Regina, do alto da sua sabedoria, não botou muita fé nisso. É ver para crer.

Depois da ponte
Falar da eleição em Niterói me traz menos aborrecimentos do que tratar da eleição do Rio. Com esse propósito, convidei para almoço candidato que lidera as pesquisas na cidade, o petista Rodrigo Neves, ex-secretário de Cabral. Aliás, por coincidência, todos os candidatos lá foram secretários de Cabral. Por isso, não me surpreendi quando Neves marcou nosso almoço para o Palácio das Laranjeiras. A surpresa foi encontrar ali a figura rara do governador, acompanhado do seu vice (até hoje, não consigo saber quem é o governador e quem é o vice de fato). Foi aí que descobri que Rodrigo Neves faz parte do ambicioso projeto de poder de Cabral: suceder a Pezão na eleição de 2014, desde que combinado com o eleitor.
O projeto é ardiloso, pois pretende isolar, ao mesmo tempo, Eduardo Paes e Lindbergh. E, pelo que percebi, tem o apoio total de Brasília.

Afago
Antes, Lula era mais generoso com o governador Eduardo Campos. Chamava-o de “Coronel”. Depois da lambança do PSB em Recife e Belo Horizonte, o ex-presidente, agora, só chama o companheiro de “Coronelzinho”. 

Jesus sem $
O homofóbico deputado Eduardo Cunha anuncia para hoje a criação de seu website comercial com o nome de Jesus.
Sem querer ser presunçoso, empresto de Tancredo Neves a antológica distinção ideológica entre ele e Miguel Arraes, no PMDB:
— O meu Jesus não é o Jesus do deputado Eduardo Cunha, assim como o Jesus do deputado Eduardo Cunha não é o meu Jesus.
O meu Jesus é o mesmo de Dom Eugenio Sales, de Dom Orani Tempesta, dos padres Jorjão e Omar.
E do Fernando Henrique Cardoso, também. Amém!

Régua e compasso - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 14/07

Diante da expectativa de mais um pibinho pela frente, a presidente Dilma Rousseff mudou da água para o vinho seu discurso econômico, passando a valorizar mais outras medidas que não a do Produto Interno Bruto, que até outro dia era festejado pelo governo como comprovação de que o país passara a ser a sexta economia do mundo, superando a Inglaterra e ameaçando a da França, que está em quinto lugar.
Com o crescimento pífio previsto para este ano – por volta de 2% ou até menos, segundo algumas previsões – e o dólar valorizando, o país corre o risco de fechar o ano caindo novamente de patamar entre as maiores economias do mundo.
Pelo terceiro ano consecutivo o país crescerá menos que os emergentes, a ponto de o economista Jim O’Neill, criador da sigla BRICS para um estudo da Goldman Sachs sobre as principais economias emergentes do mundo dizer que o Brasil corre o risco de perder sua posição no grupo.
A presidente se referiu à capacidade de um país tratar bem seu futuro, isto é, as crianças e os adolescentes, como mais importante do que o mero crescimento econômico medido pela acumulação de bens, e se pode ter razão em teoria, na prática está lidando com medidas complementares e não dissociadas.
A não ser que esteja pensando em um tipo de modelo a la Cuba onde o governo teoricamente dá mais valor ao desenvolvimento social do que ao econômico, isto é, ao IDH do que ao PIB, o que na prática se mostra um desastre.
Estamos em 84º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), e perdemos para países da região como Chile, Uruguai, Argentina. Cuba, que voltou a ter seu desenvolvimento humano medido depois de anos ausente do relatório do programa das Nações Unidas aparece em 51º lugar.
Já tratei desse assunto diversas vezes aqui na coluna, mas é sempre bom repetir. Em uma coluna de março lembrei que a Noruega, por exemplo, não está entre as maiores economias do mundo, mas é a número um em IDH, método criado pelo economista paquistanês Mahbub ul Haq e pelo Prêmio Nobel Amartya Sen para avaliar outras dimensões para medição da qualidade de vida de um povo.
Além do PIB per capita corrigido pela paridade do poder de compra de cada país, o IDH leva em conta a longevidade e a educação.
Para aferir a longevidade, o indicador usado é a expectativa de vida ao nascer. O item "educação" é avaliado pelo analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino.
O ideal é unir os dois indicadores, e por enquanto são os países desenvolvidos que conseguem fazer isso. A maior economia do mundo continua sendo a dos Estados Unidos, que é também o 4 colocado em IDH.
A China já é o segundo PIB do mundo e, tudo indica, alcançará os Estados Unidos em alguns anos, mas, quando se trata de qualidade de vida, está na rabeira da lista do IDH, em 101 lugar.
O Japão, que caiu para o terceiro lugar no ranking do PIB, está em 12 lugar no IDH. A Alemanha é a mais bem colocada entre os grandes da zona do Euro, em 9 lugar.
A França está em 20 lugar. O Reino Unido, que ultrapassamos pelo PIB, está em 28 lugar na relação do IDH, enquanto a Itália está em 24.
Os dois últimos do ranking das dez maiores economias do mundo, Rússia e Índia, estão também na rabeira da lista do IDH: Rússia em 66 (melhor que o Brasil) e Índia em 124 (pior que a China)".
A presidente Dilma Rousseff tem toda razão. Como já escrevi aqui quando saiu a notícia de que passáramos a ser a sexta economia do mundo, mais importante que isso é sabermos que estamos em 84º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); em 88º no Índice de Desenvolvimento Educacional; ainda somos um dos mais desiguais na distribuição de renda do mundo, apesar dos avanços recentes.
E entender que, para deixarmos de ser o 73º país no ranking de renda per capita, temos que encarar as reformas estruturais de que o país necessita para crescer sustentavelmente, principalmente na educação.
Temos tido sinais permanentes de que o ensino de Matemática entre nós está abaixo das necessidades do país. O professor Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras, fez uma relação de indícios de nosso atraso nesse setor: aprovação de apenas 42,8% dos alunos do 3 ano do ensino fundamental com os conhecimentos básicos de matemática; em apenas 35 cidades do país, mais da metade dos alunos do 9 ano do ensino fundamental sabem matemática, teriam nota superior a 5; apenas 11% dos jovens que alcançam a 3 série do ensino médio têm aprendizado suficiente na matéria.
No período de 2000 a 2009, o Brasil aparece entre as três nações que mais evoluíram no Pisa – exame internacional de avaliação - segundo boletim da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em 2010.
E, no entanto, ainda ocupa a 53ª posição entre 65 países. Os países que fazem parte da OCDE, os mais avançados do mundo, aplicam cerca de 7% do PIB em pesquisa e desenvolvimento.
O Brasil não passa de 1%, sendo suplantado largamente por Coreia do Sul e China, países que estavam atrás de nós nesse setor nos anos 1980. Em 1960, a Coreia já tinha escolaridade média superior à do Brasil em 1,4 ano de estudo, e essa diferença só fez aumentar de lá para cá, estando atualmente em mais de seis anos.
Depois de aparentemente desistir da possibilidade de crescer acima de 3% ainda este ano, a presidente Dilma Rousseff tenta encarnar a personalidade de seu tutor, repetindo como Lula que “nunca antes neste país” fez tanto pela distribuição de renda.
E repete até mesmo as gafes do antecessor, ao comemorar o desastre econômico europeu para fazer um contraponto ao modelo brasileiro.
Segundo ela, o Brasil usa uma fórmula mais eficiente: fomentar o desenvolvimento “distribuindo o bônus para o povo. Hoje eles (os espanhóis) estão cortando o 13° salário, 30% do salário dos vereadores e aumentando os impostos e (mesmo assim) o país vai de mal a pior” — disse a presidente.
Fez lembrar o ex-presidente Lula, que criou um embaraço diplomático ao dizer, para se vangloriar, que "é muito bom terminar o mandato e ver que os EUA continuam em crise", em contraste com o Brasil, que crescera naquele ano 7,5%.
Deu no que deu. Este ano, é possível que os Estados Unidos em crise cresçam mais que nós.

Casa cheia - SONIA RACY


O ESTADÃO - 14/07


Depois de quase cinco anos, o STJ voltará a ter quadro completo, com 33 ministros, em breve. Está desfalcado desde 2007, coisa nunca vista.

De lá para cá, a corte precisou recorrer à convocação de desembargadores para não ver a pilha de processos crescer por falta de julgamento.

Casa cheia 2
Está animada a briga pela vaga do MP no tribunal. Sammy Barbosa desponta na frente, com abênção de CesarAsfor Rocha. No Planalto, o comentário é que o procurador conta com padrinhos espalhados pelos quatro cantos do País.

Tem quem não aguente mais ouvir falar no nome dele...

Casa cheia 3
A e stratégia de Asfor Rocha, dizem,é se cacifarparatentar subir ao STF. Cobiçaria uma das duas cadeiras que ficarão vagas este ano, de Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto.

Seria sua última chance, já que completa 65 anos em 2013.

Concentração
Para suportar a puxada rotina de campanha, Lula descansa pela primeira vez desde o tratamento contra o câncer.

Está no interior de São Paulo, poupando a voz. Fica lá pelo menos mais uma semana.

Concentração 2
Além de pedirvotos para Haddad, é provável que o ex-presidente também dê uma forcinha a Marcio Pochmann, em Campinas; Carlinhos Almeida,em São José dos Campos; e Iara Bernardi, em Sorocaba.

Lupa
Haddad pretende examinar as principais propostas de seu plano de governo na próxima reunião da coordenação de campanha, semana que vem.

O lançamento oficial ainda não está marcado. Candidato de número 13, há quem sugira a data de ... 13 de agosto.

McImbróglio
Às vésperas das Olimpíadas, parlamentares ingleses querem banir os patrocínios de McDonald’s e Coca-Cola.

Motivo? O índice de obesidade no país-sede do evento entre crianças já é de 30%. E 60% dos adultos estão acima do peso.

No chão
Já a British Airways faz campanha para que os londrinos não voem durante os jogos.

Não, nada a ver coma possibilidade de overbooking. A ação faz parte do esforço inglês para que a população apoie os atletas do país.

Cuidado aê!
Músicos estão se mobilizando, na internet, contra as companhias aéreas. São recorrentes os casos de instrumentos que chegam ao destino final com os cases quebrados ou extraviados.

Os artistas reclamam que asem-presas não tomam o devido cuidado com os frágeis objetos. Além disso, têm de assinar um documento, ao despachá-los, isentando a companhia de qualquer responsabilidade.

Perdas e danos
Jovem paulistanavai àJustiça cobrar da Anvisa R$ 100 mil por danos materiais e morais. Ela interrompeu intercâmbio no exterior paratrocarprótese de silicone, da marca PIP –empresa agora falida.

Seu advogado, Rogério Damasceno Leal, do V,M&L, argumenta omissão da agência por não promover a saúde da população.

Brazuca
Alej andro Zambra, escritor chileno, não queria ir embora do Brasil depois da Flip. Fez, quarta-feira, périplo pelos bares boêmios de SP. Na mesma noite, passou por Sabiá, Mercearia São Pedro e Genésio. E adorou.

Brazuca 2
Outro que entrou no clima tupi-niquim foi José Luis Peixoto. O português ganhou prometida camiseta do Vasco de um amigo, na Livraria da Travessa, do Rio.

Ficou tão contente que resolveu dar a palestravestido como manto cruzmaltino.

Na frente
Ivan Sartori entrega o Colar do Mérito Judiciário ao poeta Paulo Bonfim. Terça, no Palácio da Justiça.

Tem arraiá tucano, hoje, no diretório estadual. Promovido pela Juventude do PSDB.

O Encontro Mistral reunirá 80 produtores de vinho no Hyatt. A partir de segunda.

Christiane Torloni estreia Teu Corpo é Meu Texto, no Teatro Sérgio Cardoso. Segunda.

AlexAtala pilota almoço de apresentação do Festival Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Terça, no Dalva e Dito.

O segundo nome de Demóstenes é Lázaro, personagem bíblico ressuscitado por Jesus Cristo. Como ele se comparou ao salvador em depoimento à CPI, haverá esperança?

Barbeiragem - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 14/07

O governo considera que o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), cometeu um erro de avaliação ao insistir num acordo com a oposição, ao invés de derrotá-la, na última terça-feira. Seu gesto desmobilizou a bancada governista. Sem acordo e sem quorum, ficou para a semana que vem as votações das MPs 563 (desoneração da folha) e 564 (desoneração do IPI) e da LDO. O Executivo fez sua parte, liberou emendas e restos a pagar para as bancadas dos partidos aliados.

PTB-PSC-PR: aliados insatisfeitos
O bloco formado por PTB-PSC-PR foi decisivo para inviabilizar a votação das MPs 563 e 564. Na 563, 28 faltaram à votação, 15 fizeram obstrução, e um votou contra. Destaque para o PR, com 19 ausências e 14 em obstrução. Na 564, 32 faltaram à votação, sendo 20 do PR, que ainda teve 11 obstruções e dois votos contra. O governo acredita que os parlamentares destes partidos estão apostando na pressão sobre o Planalto e, por isso, adotam uma postura de relativa independência. Nesse processo, quem ganhou pontos com o governo Dilma foi o PSD, que apesar das 13 ausências, deu 35 votos a favor das MPs 563 e 564.

"Até agora o nosso crescimento atrapalhou o PT em quê? Onde? O nosso crescimento ajuda o PT. Soma” — Eduardo Campos, governador (PE) e presidente nacional do PSB

PLANO DE VOO. A presidente Dilma morre de medo de turbulências, a ponto de entrar na cabine do avião presidencial e pedir aos pilotos que mudem a rota quando avisados de nuvens negras pelo caminho. No começo do mês, em viagem a Mendoza, Argentina, repetiu o que já se tornou um hábito. Em Brasília, chamou ao seu gabinete o brigadeiro Joseli Parente, seu piloto, que havia sido promovido pela Aeronáutica. E fez algo pouco usual: pediu ao garçom que trouxesse champanhe e brincou: "Isso é pelo tanto que eu tenho que aguentar o senhor!"

Em campanha
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi a Fortaleza ontem inaugurar o comitê de Elmano Freitas (PT), candidato a prefeito. O PT enfrentará a aliança PSB-PMDB. Hoje a ministra descansa e pega um bronzeado numa das praias cearenses.

Engajada
A cantora Ivete Sangalo participa hoje da Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Ela vai falar sobre a proteção aos direitos básicos das crianças. Sem cachê, a palestra será para os delegados da conferência.

Histórias das eleições municipais
No município de Lavras de Mangueira, interior do Ceará, a campanha à prefeitura começou bem-humorada. Os candidatos são conhecidos pelos seus apelidos: Pé de Chumbo, Penico e Machado. Penico lançou o seguinte slogan: "Não jogue seu voto fora, jogue no penico." Pé de Chumbo reagiu ao Machado: "Preserve a natureza, não vote em Machado." A resposta veio de imediato: "Pé de Chumbo, um candidato difícil de carregar."

Olha nós aqui
O PSD voltará em peso ao Congresso segunda-feira que vem para ajudar o governo a dar quorum para votar MPs e a LDO. A estratégia é mostrar à presidente Dilma que, apesar das questões eleitorais, o PSD está alinhado ao governo.

Cada um por si
Enquanto o PSD flerta com o governo Dilma para apoiar sua reeleição, o candidato do partido em Poços de Caldas (MG), o deputado Geraldo Tadeu, para ter o apoio dos tucanos, assumiu compromisso com a candidatura de Aécio Neves.

DESABAFO do deputado Reguffe (PDT-DF), que está em seu primeiro mandato na Câmara: "É impressionante como o Parlamento se apequena. Parece que a grande função de um deputado é lutar por cargos e liberação de emendas".

O PCdoB quer eleger seu primeiro prefeito de capital. As apostas: Angela Albino, em Florianópolis (SC); e Manuela D´Ávila, em Porto Alegre (RS).

DESDE 1992, quando elegeu Sérgio Grando em Florianópolis (SC), que o PPS não tinha uma chance de voltar a governar uma capital. Agora, aposta no candidato Luciano Resende, em Vitória (ES).

Livros, para que lê-los? - SÉRGIO AUGUSTO


O ESTADÃO - 14/07


Tenho dois problemas com a Flip; incompatibilidades, se preferirem. Primeiro problema: as ruas de Paraty. Seu calçamento, como as crianças e a neve, só fica bem em fotografia. Lá, sem dúvida, há sempre uma pedra no meio do caminho. Por não ter sido criado para caminhar sobre aquelas pedras pés de moleque, a todo instante, mesmo sóbrio, me sinto ébrio, e propenso a um tombo, uma topada ou um entorse. Sem ladeiras, a charmosa e aconchegante Paraty seria a cidade ideal para se flanar se tivesse outro calçamento. Paraty é como uma Ava Gardner com doença venérea.

O outro problema é exclusivo da Flip. A feira é uma ideia formidável, como sói ser qualquer iniciativa que promova a literatura e incentive o hábito de ler, além de primorosamente executada, com padrão internacional, mas ouvir autores lendo trechos de prosa é uma das coisas mais enfadonhas que conheço.

Tenho quase certeza de que foram os americanos que inventaram essa forma performática de divulgar livros e aproximar escritores de seus leitores, e de que foi a Flip que a popularizou entre nós. Ocorre que ler, para mim, é um vício solitário. Drummond se expressou com mais elegância: "Ler é um ato individual, como nascer e morrer." O que fazer se quando nasci fazia já 1560 anos que Aurélio Ambrósio, o bispo de Milão que tanto impressionou Santo Agostinho e depois viraria Santo Ambrósio, "inventara" a leitura silenciosa, afinal adotada pelo resto da humanidade?

Toda vez que um convidado da Flip começa a ler um livro para a plateia, ali pelo segundo ou terceiro parágrafo minha mente começa a divagar e entra em alfa, deixando-se às vezes dominar por fantasias absurdas e até perversas. Este ano, em meio aos meus habituais devaneios, cheguei a imaginar como seria a Corrida de São Silvestre nas ruas de Paraty e o Rio Perequê-Açu, que corta a cidade, percorrido em gôndolas.

Os audiobooks? Nunca experimentei. Curiosidade não me falta. Passei boa parte da infância colado ao rádio, empolgando-me com a ficção de novelas e séries aventurescas, experiência aural tenho de sobra. Os audiobooks são em geral gravados por locutores e intérpretes profissionais, e isso faz uma baita diferença, quase sempre para melhor. Certos leitores preferem ouvir a voz do próprio autor; desse fetiche não padeço. Muitos escritores submetem suas obras ao teste da leitura em voz alta, antes de submetê-las ao veredicto de seus editores. Acreditam, com razão, que uma boa prosa, a exemplo da boa poesia, deve ser escutada sem ferir os ouvidos. Até aí eu vou.

O chileno Alejandro Zambra, autor de Bonsai (recém-traduzido pela Cosac Naify), vai além: é um entusiasta dos audiobooks. Não tocou nesse tópico em seu dueto com o catalão Enrique Vila-Matas, na Flip deste ano, mas num dos textos de No Leer, sua coletânea de ensaios sobre literatura, editada há poucos meses em Barcelona pela Alpha Decay. Ao autorizar a reprodução em forma de audiobook de toda sua obra romanesca, só modesta em tamanho, Zambra impôs apenas uma condição: que os textos fossem lidos por um chileno ou outro latino-americano, não por um espanhol, "que tem modo de falar totalmente distinto".

Mais além vai o chileno. Há três anos defendeu, entusiasticamente, a pirataria literária. Partindo do fato de que os livros, no Chile, são escandalosamente (um de seus advérbios favoritos) caros, publicou um Elogio da Fotocópia, em que revelava ter formado seu gosto literário à base de reproduções xerocadas, a que chama de "livros de mentira". Clarice Lispector foi uma das referências fundamentais que primeiro leu em versão pirata.

Zambra tinha um amigo que, ao copiar 30 páginas de Guerra e Paz por semana, transformou Tolstoi num autor de folhetim, num Dickens russo. Para quem vive exclusivamente do que escreve e publica, a fotocópia é escândalo maior que o preço dos livros de verdade. Zambra, que polidamente não tocou nesse assunto, foi uma das gratas surpresas da Flip.

Das surpresas negativas, a maior de todas talvez tenha sido o americano Jonathan Franzen. Gosto dos dois romances que dele li (As Correções e Liberdade), de seus ensaios (aqui reunidos em Como Ficar Sozinho, editado, como os outros, pela Companhia das Letras), simpatizo com seu orgulho de "entender a vida" no contexto do dostoievskiano Raskolnikov e do faulkneriano Quentin Compson, "não no de David Letterman ou Jerry Seinfeld", compartilho algumas de suas angústias, mas sua tão aguardada apresentação na feira foi embaraçosa do começo ao fim.

Graças ao YouTube, já assistira a quatro ou cinco entrevistas de Franzen, sabia-o meio tímido e retraído, pouco confortável diante de um microfone, mas o show de pausas, titubeios e olhares blasés que ele deu no segundo dia da feira deixou a plateia metade perplexa, metade irritada. Até para responder a perguntas de ínfima complexidade, fazia silêncios teatrais - para em seguida soltar uma platitude ou um comentário jocoso constrangedoramente sem graça.

Uns o acharam apenas esquisito; outros, em número bem maior, um tremendo chato; e outros mais, um gozador. "É um mala", me alertara Lúcia Guimarães, que o conhecia de um tête-à-tête jornalístico e obas & olás sociais. Também ela desconfia que ele só aceitou vir a Paraty para observar pássaros em Ubatuba patrocinado pela Flip.

Imaginei-o numa mesa com Teju Cole - cujo romance Cidade Aberta (Companhia das Letras) começa com alusões aos pombos, pardais e carriços que sobrevoam Morningside Heights, em Manhattan -, mas é duvidoso que, mesmo na Flou, desse a necessária liga. Flou é a Feira Lítero-ornitológica de Ubatuba, que por enquanto só existe na minha imaginação e é recomendável que de lá não saia.

Aí é too much - MARCELO RUBENS PAIVA


O Estado de S.Paulo - 14/07


Depois brotará o vazio no pasto da solidão, e ela perguntará antes de dormir para seu confidente, o travesseiro: "Não é melhor ser menos exigente? Quem vai cuidar de mim quando ficar velhinha?" Até lá, vamos curtir, baby...

Ela jamais diria que a solteira é aquela que perdeu a ocasião de tornar um homem infeliz. Acreditava nas relações. Apostava no amor. Sua solteirice? Temporária, posta em xeque.

Queria apenas curar a ressaca da separação recente. Farreando, por que não? Queria por um período aliar a independência financeira com a afetiva. Queria se divertir sem parar, ir ao cinema sozinha, viajar com amigas e amigos, reclamar que todos os homens são tolos e infantis, e que os caras mais lindos, gays.

Porém, a fase festiva sofreu dois grandes baques:

1. O ex-marido se juntou com uma garota que não precisava de sutiã, luzes no cabelo, nem maquiagem, e andava enjoando em demasia; o peito tinha aumentado, e a barriga, começado a ficar redonda. Aquele ex que nunca quis ter filhos. Mudou de ideia ou foi forçado a?

2. O anúncio de que a melhor amiga, que recebia convites para as melhores festas, com quem saía todos os finais de semana e aprendeu a ser adolescente depois de madura, viajava nos feriados prolongados, desabafava sobre as loucuras do ex e as idiossincrasias das paqueras, estava... namorando! Com um garoto interessante, cheio de amigos interessantes que trabalhavam juntos num coletivo interessante e faziam projetos de interesse social, tecnológico e além de tudo sustentáveis.

Claro que ela refez os planos, baixou a guarda, deixou a teimosia no armário e flutuou pela correnteza da vida. Até enroscar numa curva e ser seduzida por Pedro, que tocava pandeiro no grupinho de pagode do coletivo, que se reunia no happy hour as sextas-feiras. E que fez tudo certo: a esnobou até o limite, xavecou no momento preciso, investiu com as armas apropriadas, falou o que precisava ser dito e, enfim, a beijou exatamente quando a brecha apareceu depois de gentilmente trazer a quinta latinha.

Pedro foi um mestre. Conquistou o grande troféu, a solteira mais cobiçada. Recebeu reconhecimento dos amigos e adversários. Mas o convívio... Sempre ele a denunciar nossas incongruências.

Pedro é daqueles que atendem celular no elevador. Viciados em UFC. OK, é um segmento forte do mercado. Que buzinam para os carros da frente assim que abre o farol. Tudo bem, ela se dizia, nem tudo é perfeito. Que param em vagas de idosos no shopping e ainda contam vantagem: "Dentro de estabelecimentos comerciais não podem multar."

Um dia ele implicou com a unha vermelha dela. "Não é coisa de empregada?", disse ao entrar no carro quando ela foi pegá-lo, desviando do caminho, num dia de congestionamento recorde, sem ao menos passar na sua casa, para não atrasarem para o sambão do coletivo, para o qual trocou o almoço pela manicure.

Calma, garota, não seja exigente. Sou suficientemente lúcida para admitir que não existe o par perfeito, ilusão, escapismo utópico inventado pelos românticos, e que exigir de alguém o mesmo comportamento social é um exercício de fraqueza narcisista de pessoas problemáticas que só conseguem se relacionar com o espelho.

Sustos apareceram no primeiro jogo de futebol pela TV que viram juntos. Ela não era fanática. Nem o ex. Gostava, assistia, e que ganhasse o melhor.

Já Pedro... O time dele disputava cabeça a cabeça a liderança do campeonato com o de maior rivalidade. Xingava o juiz e os bandeirinhas sem economia. O fato de uma bandeirinha ser mulher incrementava os impropérios: "Vaca, piranha! Vai pra cozinha, filha da mãe!" Ela achava engraçado porque quando a decisão do outro bandeirinha, homem, era colocada em dúvida, sua heterossexualidade também.

Quando o zagueiro do próprio time deu uma furada, expressões de preconceito social foram proferidas sem nenhum sentimento de culpa: "Burro! Imbecil! Se pensasse direito não seria jogador de futebol!"

Quando o time fez um gol, a gritaria foi suficiente para matar de vez todos aqueles com problemas cardíacos na vizinhança. No apito final, palavras de carinho e solidariedade foram proferidas quando ele abriu a janela e começou a gritar: "Chupa, desgraçados, filhos da pu%$! Toma, seus via#$s do car%&*$!" O tempo em que ele ficou se comunicando aos berros com outros vizinhos aliados e adversários foi suficiente para esvaziar o estádio.

Então, como se diz no jargão do esporte bretão, o que era promessa virou dúvida. Mas antes de um julgamento sem direito à defesa, ela ouviu do travesseiro: "Egocêntrica, não consegue conviver com ninguém, perdoar, aceitar as diferenças, passará o resto dos dias sozinha! O problema está em você!" Perdeu a prática, menina. Vamos. Vai dar certo.

Ficou surpresa quando numa manhã viu na rede social que ele mudara o status para "um relacionamento sério". Surpresa, lisonjeada e receosa. Pedro jogava publicamente um estatuto de responsabilidades. Já está na hora de alterarmos o status?

À tarde, o pânico tomou conta. Ele mudou a foto do perfil. Não era mais a que beijava o escudo do time, mas uma foto dos dois, isso mesmo, dele com ela, abraçados no sambão, olhando para a lente, cada um segurando uma latinha, foto de que ela nem lembrava, em que, por sinal, ela estava péssima, de retinas vermelhas e com a testa enrugada. Parecia uma tia e seu afilhado.

Antes mesmo de ela sugerir que aquela foto não era apropriada, recebeu uma mensagem com outra foto deles abraçados anexada, em que ela estava pior, com a sugestão: "Se quiser usar no seu avatar."

Foi o fim. Celular no elevador, impropérios futebolísticos, comentários desrespeitosos que exaltam a luta de classes, parar na vaga de idosos e implicar com esmalte vermelho... Mas foto de casalzinho no perfil individual de rede social? Aí é too much.

Sua resposta foi um calculado: "Pedro, precisamos conversar."

Argentina vai vigiar até conta de luz - ARIEL PALACIOS


O ESTADÃO - 14/07


Sob controle Argentina O governo Cristina Kirchner determinou que o fisco seja informado quando o consumidor gastar mais de US$ 220 com telefone, energia, gás e água. 


O governo da presidente Cristina Kirchner intensificou o controle sobre a vida econômica dos cidadãos argentinos ao publicar a resolução 3.349 da Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip), a receita federal local, que obriga as empresas de serviços públicos a informarmensalmente os agentes do Fisco sobre os clientes que gastam mais de 1 mil pesos (US$220) em telefoniafixa, celulares, energia elétrica,gás eágua.

O governo Kirchner alega que a medida é para "otimizar a função fiscalizadora" da receita federal.

Mas os críticos do governo sustentam que a medida deixa, cada vez, mais o governo Kirchne rparecido com uma versão argentina do Big Brother, do escritor inglês George Orwell (uma tirania que observava cada movimento de seus cidadãos).

Desde maio, o governo observa de perto os argentinos que compram dólares para viajar ao exterior. Para realizar a compra de dólares, os argentinos devem fazer um pedido à A fip, no qual, além das datas de ida e volta da viagem, precisam explicar detalhadamente os motivos da ida ao exterior, os lugares onde farão escala e onde ficarão.

O governo também proibiu os argentinos de comprar dólares par a aplicar nos Estados Unidos, tradição de mais de quatro décadas.

Também acabou com as operações imobiliárias na moeda americana (100% das compras eram realizadas em dólares).

Os empresários que ousam criticar o governo correm o risco de serem acusados de "golpistas" em rede nacional de rádio e TV pela presidente Cristina. Na quinta-feira, ela voltou a protagonizar o papel policial ao vivo em discurso de inauguração de uma fábrica de máquinas agrícolas.

Bruscamente, deixou de lado sua fala sobre tratores para relatar que havia lido no jornal Clarín que o empresário imobiliário Jorge Toselli havia declarado em entrevista que as restrições sobre as compras de dólares haviam provocado uma grande queda nos negócios. Cristina aproveitou para acusar Toselli de estar em situação irregular com o Fisco. Horas depois, o "Cuit" (equivalente ao CNPJ) do empresário foi suspenso.

Ontem, o presidente da Câmara Imobiliária Argentina, Néstor Walenten, afirmou que seus colegas expressaram "solidariedade" a Toselli. "Acho que toda a sociedade está com medo. Com esses métodos, até eu tenho." Desde2009, o governo de Cristina Kirchner também obriga as empresas de cartão de crédito a informar sobre os clientes que gastam mais de 3 mil pesos (US$ 655). Por esse motivo, muitos argentinos optam por fazer seus pagamentos em dinheiro.

Inflação. Os deputados dos partidos da oposição anunciaram que a inflação em junho, foi de 1,63%. De acordo com os parlamentares que elaboram uma média dos índices estimados pelas principais consultorias econômicas, a inflação acumulada nos primeiros seis meses do ano foi de 11,6%.

Dessa forma, a Argentina ocupa o primeiro lugar no ranking de inflação na América do Sul, ultrapassando a Venezuela, onde a inflação foi de 7,5%. Nos últimos 12 meses, a inflação na Argentina alcançou 23,96%. Já o governo da presidente Cristina Kirchner anunciou ontem que a inflação oficial de junho foi de apenas 0,7%, menos da metade do índice calculado pelas consultorias econômicas.

A Rosa e a cana - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 14/07


Rosa da Silva, de 36 anos, é cortadora de cana. Ela mora em Barra Bonita, interior de São Paulo. Sua rotina é assim: acorda às 4h, faz o almoço para deixar para o marido e a filha e separa as refeições que fará no serviço. Às 5h30m, está no ônibus para ir ao trabalho, onde chega às 7h30m. No dia em que conversou com a coluna, tinha cortado 70 metros, o que é pouco. No dia anterior, cortara 352, o que considerou "mais do que bom".

Rosa é a ponta de uma cadeia produtiva que chega ao posto de combustível. Um setor em crise. O governo prepara um pacote setorial. Periga ser mais um remendo.

Rosa não aceitaria ser chamada de "boia-fria". Seria ofensivo. Ao percorrer sua rotina, nota-se que a diferença não é só do nome. Ela não é contratada por um "gato", é funcionária da Raízen, empresa resultante da fusão da Shell com a Cosan. É transportada por uma empresa contratada pelo empregador. Ao chegar ao canavial, antes de começar o trabalho, faz exercícios que aprendeu com um fisioterapeuta. Trabalha cerca de uma hora, dá um tempo para fazer a primeira refeição e depois continua no batente. Encerra o expediente às 15h30m.

O setor cria hoje menos emprego do que antes; mas de mais qualidade. Poderia ser melhor. Ainda recebe pelo volume de cana que consegue cortar. Ao fim do dia, o medidor registra. Recebeu no mês passado R$ 820.

O salário melhorou, o tratamento também. Mas continua sendo temporário: é dispensada ao fim da safra. Mora numa casa pequena, mas própria, de um conjunto habitacional. Tem em casa geladeira, tanquinho e, em breve, micro-ondas. Na refeição que leva para o campo há uma mistura balanceada: arroz, feijão, carne e salada.

O que todo mundo vê como avanço, para ela é um problema: hoje, há menos queima da cana. Isso reduz o material particulado no ar que os campos de cana emitem e que faz mal à saúde de todos os que o aspiram. Sem a queima, no entanto, seu trabalho é mais difícil, o que explica a diferença de produtividade.

- A palha, sem tacar fogo, machuca muito a mão. Ontem (9 de julho, feriado da Revolução Constitucionalista), a cana estava queimada. Gosto do trabalho, mas é muito judiado. O salário tinha que ser melhor. Eles podem pagar de R$ 0,14 a R$ 0,18 o metro da cana cortada. Imagina quanto tenho que fazer para ganhar o dia. Hoje, tô detonada, a mão está formigando, inchada, porque a cana era muito pesada. Tem que ser duro na queda para aguentar esse serviço. Eu já acostumei, adoro a roça, gosto de cortar cana, dos amigos que tenho, mas é desgastante. Acho o salário baixo pelo sacrifício que fazemos.

Rosa não acredita que esse tipo de trabalho vai desaparecer, até porque as colheitadeiras arrancam a cana pela raiz, e os trabalhadores têm que replantar.

- Há mais máquinas no canavial tomando o serviço, mas temos que melhorar o que elas fazem.

O marido de Rosa trabalha na prefeitura como ajudante de motorista; o filho mais velho, que já tem 22 anos e um filho, parou de estudar na antiga sétima série e é pintor. A filha de 12 anos continua estudando. As rendas dela e do marido, somadas, chegam a R$ 2,3 mil.

- Com os dois salários, graças a Deus, não temos dívida. Só fazemos uma quando acabamos de pagar outra, mas já passamos muito aperto - conta.

Ela consegue poupar um pouco todo mês. Acaba de receber R$ 400 extra, de participação nos resultados. Guardou. Seu sonho: comprar um carro. Vermelho. Já está tomando aulas de direção.

Quando Rosa, a cortadora de cana, comprar um carro enfrentará o mesmo dilema de todos os motoristas: que combustível colocar no tanque? O que manterá sua indústria de pé ou a gasolina? O governo favorece a gasolina.

Se Rosa já tivesse carro, seria melhor abastecê-lo com álcool, porque em São Paulo está valendo a pena. Mas em vários estados, o álcool continua custando mais do que 70% do preço da gasolina e, por isso, não vale a pena.

Edison José Ustulin não conhece Rosa, mas é outra parte da mesma indústria. Ele fornece cana para a Raízen, além de ser presidente da Associação dos Fornecedores de cana de Barra Bonita. Tem uma longa lista de reclamações em que estão: custo alto da mão de obra, falta de trabalhador para algumas funções qualificadas, como motorista, custo "escorchante" de capital, condições climáticas mais adversas, alta tributação, baixa remuneração para seu produto, que está retardando a reforma dos canaviais.

Acha que se o governo quer, de fato, o álcool hidratado como parte da matriz energética brasileira, precisa manter políticas definidas por um prazo de 15 a 20 anos, porque o investimento na área agrícola precisa de dez anos para amortizar, na área industrial, até 20 anos.

- Não podemos ter uma visão imediatista. Não adianta propagar aos quatro cantos do mundo a bandeira do etanol e suas vantagens, se aqui é tratado como um combustível de segunda classe. Faltam políticas de longo prazo, financiamentos de longo prazo, redução da tributação em toda a cadeia produtiva. Há seis anos, o preço da gasolina não sobe, asfixiando o preço do etanol. O álcool naufragou, ou seja, não se consagrou por falta de políticas públicas fundamentadas nas suas próprias características.

Da conversa com Rosa e Edison já se conclui que o caso do etanol não será resolvido com mais um pacotinho.

A resiliência de Russomanno - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 14/07


SÃO PAULO - Há um fator até agora imponderável na disputa para prefeito na capital paulista. O candidato Celso Russomanno (PRB), que enfrenta uma pendência com a Justiça Eleitoral, tem sido dado como carta fora do baralho há meses, mas sua pontuação nas pesquisas de opinião não evanesce. Ao contrário.

No final do mês passado, Russomanno chegou a 24%. É o segundo colocado isolado. Tem três vezes mais do que qualquer um dos terceiros colocados, entre eles Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB). E está a sete pontos de distância do líder da disputa no momento, José Serra (PSDB), cuja marca é de 31%.

O senso comum é dizer que Russomanno é um candidato sem sustentação partidária sólida. Pertence ao PRB, uma legenda ligada a religiosos. Seu desempenho seria só por causa de sua presença em programa televisivos. Nada mais.

Tudo considerado, Russomanno estaria condenado a desidratar por completo em breve.

Ocorre que há dois anos o mesmo Russomanno não caiu ao chão quando foi candidato a governador de São Paulo. Em julho de 2010, ele chegou a 11% num levantamento do Datafolha. Depois, de fato caiu. Mas cravou nas urnas respeitáveis 5,4%. Na capital, teve 6,7% dos votos válidos.

A queda de Russomanno em 2010 foi grande. De julho até o dia da eleição, ele perdeu perto da metade dos seus pontos acumulados em pesquisas de opinião -ficou, porém, longe do zero. A se repetir esse cenário agora, ele cairá para algo próximo a 12% ou 13%. É um desempenho robusto e que pode impedir o progresso de alguns candidatos.

O maior prejudicado pode ser Fernando Haddad. Há uma profecia petista segundo a qual o candidato do partido sempre tem 25% dos votos em disputas paulistanas, no mínimo. Com tantos candidatos médios e com Russomanno teimando em não evaporar, sobra menos espaço de onde o PT possa arrancar apoios.

Mercosul - mais turbulência a bordo - JOSEF BARAT


O Estado de S.Paulo - 14/07


O objetivo político de unir países e reduzir o potencial de conflitos na América Latina remonta ao tratado que criou a Associação Latino-Americana de Livre Comércio, nos anos 60 e, posteriormente, a Associação Latino-Americana de Integração, nos anos 80. Brasil e Argentina caminharam para o livre comércio pela Declaração de Iguaçu, de 1985. Com a adesão do Paraguai e do Uruguai, os quatro países signatários do Tratado de Assunção, de 1991, criaram o Mercosul, aliança comercial que visava a dinamizar a economia regional pela livre movimentação de mercadorias, pessoas e capitais. A evolução se daria pelo estabelecimento inicial de uma Zona de Livre Comércio (na qual os países signatários não tributariam ou restringiriam entre si as importações), convertendo-se em União Aduaneira a partir de 1995.

A associação dos quatro países como União Aduaneira almejou promover a livre circulação das mercadorias oriundas dos membros associados e adotar uma tarifa externa comum. O compromisso seria o de aplicar a mesma taxação em relação à importação de bens de países fora do bloco, eliminando a concorrência entre os associados e fornecedores. Como bloco econômico, amparado em acordos intergovernamentais - e reduzidas ou eliminadas as barreiras ao comércio -, o Mercosul poderia buscar alguma forma de governança que evoluísse, no longo prazo e por meio da uniformização de variáveis macroeconômicas, para um mercado comum e até mesmo para uma união econômica e monetária. Para dar partida à formação do bloco, a dinâmica da globalização fez a lógica econômica caminhar mais rápido que as complexas negociações políticas. A globalização - associada à acelerada evolução tecnológica da informação - alterou radicalmente as características da produção de bens e serviços. A fragmentação das cadeias produtivas (em escala regional e mundial) dispersou a produção de componentes, partes e montagens finais. A integração horizontal induziu a terceirização da produção e dos serviços, alterou os conceitos de localização e territorialidade, ampliou e tornou mais complexos os fluxos de matérias-primas, componentes e produtos. Assim, as novas cadeias produtivas impuseram pressões para eliminar barreiras fiscais e burocráticas à livre circulação de mercadorias.

Neste contexto, já se configuravam entre os quatro países cadeias produtivas fragmentadas que impunham maior fluidez na circulação de mercadorias e pessoas, ou seja, foi a dinâmica do mercado e as necessidades das empresas que buscaram a integração mais plena no comércio regional, a redução de assimetrias e a adição de valor às cadeias produtivas. Foram empresas brasileiras de porte e transnacionais (especialmente montadoras de veículos) que buscaram maior espaço para reorganizar e adicionar valor às suas cadeias de produção. O espalhamento de partes dessas cadeias acabou por forçar barganhas e negociações entre os países-membros para que pudessem alcançar bases de maior reciprocidade. Os eventuais conflitos políticos e ideológicos cederam espaço para o pragmatismo das trocas comerciais e ampliações de mercado. Houve crescimento do comércio regional na esteira do dinamismo das novas formas de produção e complementaridade econômica. Mas a prática do Mercosul acabou indo na contramão da proposta original de instituir o livre comércio, em razão de medidas protecionistas, barreiras tarifárias, dificuldades burocráticas e bloqueios de passagem das mercadorias. A consolidação de um bloco econômico exige estabilidade no ambiente político, preservação das diretrizes estipuladas em acordos e tratados e regras previsíveis. As turbulências recorrentes com a Argentina há muito tempo ameaçavam a desconstrução do Mercosul. Agora, temos a entrada de um parceiro irrequieto (tipo bem turbulento, mesmo) que, ainda por cima, ganhou o jogo no "tapetão", agravando essa ameaça. Ações políticas irrefletidas estão destruindo um esforço de décadas na direção da maior integração econômica.

Savana é bacana - ROBERTO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 14/07

As relações entre o Brasil e o Japão no campo agrícola são históricas, bastante conhecidas e foram sempre muito bem aproveitadas por ambos os países.
A primeira delas se deu logo após as levas iniciais de imigrantes japoneses chegarem ao Brasil, pouco mais de um século atrás, e que vieram trabalhar basicamente na agricultura. Trouxeram em sua bagagem duas grandes contribuições para o agro brasileiro.

Uma foi a tecnologia para o setor hortifrutigranjeiro: novas variedades de produtos hortícolas foram acrescentadas ao nosso cardápio e nossas saladas ficaram mais ricas e variadas.

Seu trabalho resultou na montagem dos importantes cinturões verdes no entorno das grandes cidades brasileiras, dando também condições para a criação de nossas centrais de abastecimento.

E a outra foi o espírito associativo: os colonos japoneses tinham o sentimento do trabalho em conjunto. Com isso surgiram as grandes cooperativas que por muitas décadas organizaram a produção hortícola e comandaram o cooperativismo brasileiro, como a Cooperativa Agrícola de Cotia e a Sulbrasil, mais tarde desaparecidas por diversas e lamentáveis razões.

A segunda grande articulação agrícola entre o Brasil e o Japão ocorreu nos anos 70, com a "descoberta" do cerrado brasileiro, através do Programa Prodecer. Necessitando ampliar sua garantia de segurança alimentar, o Japão se associou ao Brasil para conquistar o cerrado, até então desprezado pelos agricultores nacionais. Pior que isso: havia até um dito popular --"cerrado, nem dado e nem herdado"-- que explicitava o pouco caso para com aquele bioma.

Fazia sentido: havia terra boa ainda por explorar e ninguém queria se habilitar em um território de terras pobres, onde sem corretivos e sem fertilizantes nada se produzia. Pois foi o Prodecer que abriu definitivamente as portas da vasta região. Claro que isso só foi possível com o desenvolvimento de novas tecnologias, e a EMBRAPA tem muito a ver com isso, bem como o sistema cooperativista.

Foi através das cooperativas agropecuárias existentes, inclusive a Cotia e a Sulbrasil, que o Prodecer foi implementado. Sem elas, jamais o projeto teria vingado.

E o Japão e o Brasil se beneficiaram, e muito, dessa nova fronteira agrícola.

Mas, desde então, ambos os países vêm tentando trabalhar em conjunto visando o desenvolvimento de terceiros países, sem resultados concretos. O sonho de se associarem para desenvolver regiões tropicais com nossa tecnologia e o dinheiro deles foi ficando para trás.

Até que, recentemente, a ação conjunta da Agência Brasileira de Cooperação (do Itamaraty) e da Jica japonesa decidiu desenvolver a savana de Moçambique, região muito semelhante ao nosso cerrado.

A Fundação Getulio Vargas, através da GV Projetos e do GVAgro, foi selecionada para montar o programa. A ideia é ocupar 14 milhões de hectares da região chamada Corredor de Nacala, cidade portuária de excelente calado.

O projeto é ambicioso: levar para aquela região a nossa tecnologia agrícola de alimentos, fibras e energia, bem como investir em infraestrutura e logística --de ferrovias a porto, passando pela armazenagem e a agroindústria--, promovendo uma agricultura sustentável à imagem da que criamos no cerrado.

Vamos capacitar produtores moçambicanos, especialmente os pequenos, estimular a montagem de cooperativas agropecuárias, levar investidores do Brasil e do Japão para agroindústrias. E a GV planejou a criação de um fundo financeiro capaz de alavancar recursos do Brasil e do Japão para implantar o empreendimento.

Esse fundo, recentemente lançado em Brasília, captará recursos públicos e privados nos dois países e será o trampolim para o sucesso da Savana de Nacala.

Assim como a velha ideia de que "cerrado, nem dado e nem herdado" já desapareceu há décadas do nosso cenário, seguramente em breve ouviremos outro refrão:

"Savana também é bacana, especialmente a moçambicana".

Picolé ou suflê? - VERA MAGALHÃES


FOLHA DE SP - 14/07

SÃO PAULO - Qual é a marca da gestão Geraldo Alckmin em São Paulo? Um ano e meio depois do início da terceira passagem do tucano pelo Palácio dos Bandeirantes, não é possível responder de bate-pronto.

A falta de um projeto que norteie o governo e dê musculatura política para que Alckmin dispute uma reeleição com inédito grau de acirramento preocupa aliados do tucano.

Além do PT, que elegeu como objetivo número um apear o PSDB do poder no Estado mais rico da Federação após 20 anos, Alckmin terá em seus calcanhares um adversário novo, de ambição ilimitada e grande influência em seu campo político: Gilberto Kassab e o camaleônico PSD.

Esses dois atores podem ou não estar juntos em 2014 para derrotar o tucano, mas já agem hoje para miná-lo. O discurso comum é o de que, após cinco mandatos, o PSDB não tem mais o que oferecer a São Paulo.

Para se contrapor a ele, Alckmin exibe, hoje, uma administração frouxa nos objetivos e tímida nos resultados, seja em razão da crise econômica, seja pela falta de uma linha ditada por ele. O ritmo do governo é lento, sua imagem é opaca e começam a brotar problemas em áreas como transportes e segurança pública.

Auxiliares se ressentem da tendência à centralização de decisões por parte do governador, a ponto de mínimas costuras serem feitas por ele, pessoalmente. Também é generalizada a queixa de que o tucano ouve as ideias, mas custa a executá-las.

O projeto no qual o governo aposta, a integração metropolitana, precisa ser testado nas urnas. E garantir a vitória na capital é fundamental, embora o peso de Alckmin na campanha de José Serra tenha sido diminuído pelo onipresente Kassab.

O grande ativo do governador ainda é a imagem pessoal de gestor honesto e boa-praça. Resta saber se é possível transformar o "Picolé de Chuchu" numa iguaria mais substanciosa, como um suflê -e se, após tantos anos, a receita ainda funciona frente a rivais com apetite renovado.

Símbolo de corrupção e incompetência - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 14/07


A desmontagem do esquema de corrupção construído no Ministério dos Transportes a partir de 2003, quando o então presidente Lula doou a Pasta a futuros fundadores do PR, ajudou a criar a ideia da "faxina ética" em torno da presidente Dilma.

No arrastão de demissões, no ano passado, tiveram destaque o próprio ministro, Alfredo Nascimento, senador pelo Amazonas, presidente do partido, e o poderoso diretor-geral do Dnit, Luiz Pagot, responsável pela assinatura de contratos de obras e - tão ou mais importante - acertos em torno dos famigerados aditivos contratuais. Mas só depois de carimbados no balcão de negociatas montado no ministério pelo partido e entregues, segundo as denúncias, à gerência do indefectível Valdemar Costa Neto (PR-SP), mensaleiro, obrigado a renunciar ao mandato para escapar à cassação e voltar à Câmara na eleição seguinte.

Na época, ficou em segundo plano o presidente demitido da Valec, estatal de construção de ferrovias, vinculada ao ministério, José Francisco das Neves, o Juquinha, no cargo desde o primeiro ano da gestão Lula. Mas hoje não só Juquinha frequenta também o noticiário policial gerado pela corrupção, como a Valec virou símbolo de como a incompetência e a corrupção podem prosperar numa empresa estatal. Na Valec, sob a batuta de Juquinha, essas duas características observadas na área pública se somaram à perfeição.

Juquinha, também parceiro de Costa Neto neste ramo do Executivo federal, foi preso no início mês, acusado de praticar fraudes, e de se beneficiar delas, em licitações de obras em trechos da Ferrovia Norte-Sul, um projeto que se arrasta há duas décadas, outro monumento à incúria estatal. A Operação Trem Pagador - nome bem escolhido -, executada pela Polícia Federal em Goiás, atingiu também Marivone Ferreira das Neves e Jader Ferreira das Neves, mulher e filho de Juquinha, beneficiados pelo estonteante aumento de patrimônio do ex-presidente da Valec.

Algo digno de um desses gênios empreendedores do mundo digital: o valor dos bens de João Francisco, apenas os já identificados até agora, chega a R$ 60 milhões, bem mais que o R$ 1,5 milhão declarado por Juquinha em 2003, ao assumir a Valec. A contrapartida da gestão predatória é, como sempre, enorme prejuízo para a sociedade.

José Eduardo Castello foi nomeado para a Valec no fim do ano passado e instalou auditorias na obra da Norte-Sul, para levantar a dimensão do estrago. Foi inspecionada, segundo o jornal "Valor", a maior parte dos 855 quilômetros do trecho Sul, entre Palmas (TO) e Anápolis (GO). Apenas em estruturas e trilhos mal instalados será feita uma despesa adicional de R$ 400 milhões, ou quase meio bilhão de reais.

Em pelo menos 210 quilômetros serão necessárias obras corretivas, portanto em 25% do trecho. Erros graves se distribuem por cinco lotes, representando metade dos 855 quilômetros da ferrovia.

É um grande escândalo dentro de um outro, o próprio aparelhamento feito no Ministério dos Transportes para fins pecuniários e também de nepotismo (um filho do ex-ministro Alfredo Nascimento virou empresário de sucesso). A Valec mereceria uma investigação ampla e profunda, por ser emblemática do que pode acontecer quando o fisiologismo toma de assalto o Estado.

Rio+20 - e os resultados? - DOM ODILO P. SCHERER


O Estado de S.Paulo - 14/07


A Conferência Rio+20, da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre o desenvolvimento sustentável, encerrada no último dia 22 de junho, certamente não alcançou os resultados que muitos esperaram. No entanto, dizer simplesmente que foi um fracasso também não me parece realista. Para começar, não houve recuos em relação à Rio-92 e houve bons avanços em vários sentidos, além de expressiva participação de delegações oficiais e uma saudável mobilização da sociedade civil. E isso não é indiferente.

Chegar a acordos entre atores tão numerosos e com interesses tão diversificados não é tarefa simples, como no caso da Rio+20. As organizações não governamentais (ONGs) e outras organizações da sociedade civil apontaram para o mundo que queremos e precisamos; e os responsáveis pelo governo dos povos teceram consensos para construir juntos, por enquanto, o mundo possível. Os dois ainda estão bem distantes...

Fruto positivo da conferência realizada na cidade do Rio de Janeiro foi o próprio fato de se ter chegado, com a liderança do Brasil na fase final de um longo processo de negociações, a um documento de consenso - havia o risco de não se chegar a nenhuma declaração comum. Um avanço importante foi a afirmação clara de que a pessoa humana está no centro do desenvolvimento sustentável, que deve contemplar a superação da pobreza e a qualidade de vida das populações. Também merece destaque o fato de se ter clareado melhor o conceito de "desenvolvimento sustentável", que deverá sempre apoiar-se em três pilares: econômico, social e ambiental. Esses três critérios, e não mais apenas o produto interno bruto (PIB), deverão ser levados em conta, daqui por diante, na avaliação sobre o estado do desenvolvimento de um povo.

A meu ver, porém, o resultado mais significativo consiste na renovada consciência sobre as dimensões do problema ambiental. Isso ficou claro nas falas de numerosos chefes de Estado, ou de seus representantes, bem como nas manifestações das organizações da sociedade civil, na Cúpula dos Povos. É absolutamente vital para o futuro que a atividade econômica e a sustentabilidade ambiental andem juntas. E isso requer uma revisão drástica dos atuais sistemas de produção e dos hábitos de consumo. Os estilos de vida precisam ser menos materialistas e consumistas, mais sóbrios e solidários, tendo em vista também as gerações futuras. Nossos hábitos e nossa cultura precisam mudar, para uma relação mais sustentável com a natureza e o ambiente da vida.

Falou-se muito em "economia verde", respeitosa do ambiente, e era desejável que se chegasse a definições mais concretas para torná-la possível. Todavia as economias mais desenvolvidas e os maiores poluidores não se animaram a abandonar as fontes de energia nuclear ou fóssil, como o petróleo e o carvão mineral. Essa foi uma das maiores reclamações daqueles que advertem a respeito dos riscos do aquecimento global. Mesmo vital para o futuro, contudo, isso não é simples, porque pressupõe a reorganização de toda a economia.

Além de verde, a economia deveria também ser "azul", com atenção especial às águas. A escassez de água doce será um problema grave para o futuro próximo. Também muitos países pequenos temem pela sua sobrevivência, tirada, sobretudo, dos oceanos. A crescente contaminação das águas, a pesca predatória e a diminuição sensível das espécies de vida nas águas são ulteriores preocupações.

Muito oportuna foi a distinção feita por uma jovem na abertura da conferência: não se trata simplesmente de construir o mundo que "queremos", mas aquele que "devemos" edificar e cuidar juntos.

De fato, o voluntarismo dos projetos humanos, imposto à natureza e ao ambiente, nem sempre é o critério melhor: o mundo precisa de respeito às suas próprias leis, não devendo ser visto apenas como objeto do desejo e da vontade humanas, que o podem levar ao caos e à destruição.

Infelizmente, faltou definir um organismo na ONU para acompanhar globalmente, e com competências próprias, as questões ambientais; nem se assegurou um fundo para ajudar os países mais pobres a superarem a pobreza, ou para financiar as mudanças no modelo econômico, necessárias para o desenvolvimento sustentável. Tampouco se estabeleceram regras para facilitar o acesso às tecnologias necessárias para uma economia mais verde. No fundo, as decisões e os custos para o desenvolvimento sustentável ficaram por conta de cada país e isso, certamente, será pouco eficaz. As grandes economias, em geral, e os maiores poluidores não se comprometeram, de modo efetivo, na busca de soluções para a crise ambiental.

Entre as lacunas do documento final da Conferência Rio +20, observo também a falta de reconhecimento da contribuição das religiões e igrejas para o desenvolvimento sustentável. É inegável que estas contribuem para a educação, o cultivo de valores, para formar e mudar a cultura e para socorrer os membros mais frágeis da comunidade humana. Faltou, igualmente, uma palavra de apreço à família, sujeito social e econômico básico, indispensável no cuidado das pessoas e de sua formação para uma nova cultura e para o desenvolvimento sustentável.

As organizações da sociedade civil mostraram o seu papel determinante para promover mudanças nas políticas públicas e nas decisões dos governos. A solução para as graves questões postas na conferência depende da interação de dois sujeitos: autoridades constituídas e sociedade civil organizada. Penso que a Rio+20 manifestou esse esforço conjugado, indispensável para a eficácia de qualquer declaração ou lei. E isso faz esperar que ela não tenha sido um ponto de chegada, mas uma etapa na busca de soluções melhores.

Ereções 2012! Vote na Bixa Muda! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 14/07

Sabe por que o Maluf apoia o Haddad? Porque o Haddad não é bom de provas. E o Maluf detesta provas

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Ereções 2012! A Volta da Galera Medonha. Eu adoro os candidatos a vereador. Direto de Juazeiro do Norte: Bixa Muda! Com o slogan: "Juazeiro muda. É só votar na Bixa Muda". Rarará! Sensacional. A bixa é muda, mas dubla até a Whitney Houston. É verdade! Tem vídeo no YouTube!
E esta aqui do Ceará: Tina Taner, Perereca do Alumínio. Ainda bem que é perereca "do" alumínio. Se fosse perereca "de" alumínio ia precisar de um abridor de lata.
E tem Homem Caju, Gato a Jato e Jesus do Hip-Hop! E em Curitiba tem o candidato Linguiça de Circo. Eu vou votar no Linguiça de Circo! A linguiça deve fazer cada coisa! Rarará!
É o que eu sempre digo: candidato no Brasil não é político, é personagem. E sabe por que o Maluf tá apoiando o Haddad? Porque o Haddad não é bom de provas. E o Maluf detesta provas. Rarará! O Haddad é um candidato que assombra. À sombra do Lula! Rarará!
E o Serra Vampiro Anêmico? O Serra devia ser prefeito de cidade espírita. Prefeito de Umbral, aquela cidade do filme "Nosso Lar".
E o Serra é o único candidato cujo o vice é mais importante do que ele. Porque o Serra larga tudo no meio!
E vou lançar minha candidatura a prefeito de São Paulo pelo meu partido PGN (Partido da Genitália Nacional)! Com o slogan: "Chega de demagogia! Sexo de noite e sexo de dia!". Prometo lançar o Vale-Motel pros pobres pararem de transar no muro daqui de casa. Rarará!
E prometo liberar o topless no Ibirapuera. Sem restrição de idade! E sabe como se chama "topless" em Portugal? Tetas ao léu! Rarará!
E adorei a charge do Amarildo com duas senhorinhas vendo TV! "Demóstenes cassado será substituído pelo ex-marido da mulher do Cachoeira!" "Tá parecendo novela." "Max é amante de Carminha, que é casada com Tufão, que atropelou o ex-marido dela." "Tá parecendo o Senado!" "Avenida Senado." Rarará!
Ah, e querem impugnar a candidatura da Bixa Muda! Preconceito. É bixa, surda, muda, mas não é ladra nem analfabeta!
E a Gretchen sai de "A Fazenda", se separa do 16º marido e ele, pecuarista, volta pra sua fazenda! Cada um na sua fazenda! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

BOLÃO DO CACHOEIRA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 14/07

O empresário Carlinhos Cachoeira errou por pouco o placar da votação da cassação de Demóstenes Torres. Apostava em 50 votos a favor, contra os 56 que definiram a perda do mandato do senador de Goiás. Assistiu pela TV da sua cela no presídio da Papuda, em Brasília, a sessão na qual o amigo declarou em seu discurso de defesa que, "se Cachoeira cometeu crime, cana nele".

É A VICE
Quando sinaliza que vai enfrentar o governo e disputar a presidência da Câmara, o PSB está de olho sobretudo em 2014. Um dirigente do partido analisa que, com o PMDB no comando da Casa e também do Senado, "não haverá força no mundo" capaz de tirar dos peemedebistas a vaga de vice na sucessão de Dilma Rousseff.

TABULEIRO
Mas a sigla não entraria na briga sem aval do Planalto nos bastidores. Aposta no interesse do governo de impedir que o governador Eduardo Campos (PE), melindrado sem a vice, saia candidato à Presidência em 2014. E cause um estrago no Nordeste, onde Dilma é boa de voto.

ÍNDICE POLUIÇÃO
A Confederação Nacional da Indústria fechou acordo com a Fundação Getúlio Vargas para capacitar 150 profissionais a realizar inventários de emissões de carbono. O curso vai de setembro a dezembro. O objetivo é definir padrões para medir a emissão de gases do efeito estufa no processo industrial. A falta de indicadores de sustentabilidade foi um dos principais debates da Rio+20.

EU VOLTAREI
Marisa Monte retorna a São Paulo para mais seis shows de sua turnê "Verdade uma Ilusão". A cantora se apresentará de 28 de setembro a 7 de outubro no HSBC Brasil. Os ingressos começam a ser vendidos no dia 18.

BRASILEIRINHOS
Alessandra Ambrósio, que participará da cerimônia de encerramento da Olimpíada de Londres, levará o filho Noah Phoenix, de dois meses, e a filha Anja Louise, 3, para a capital inglesa. A top foi convidada pelo Comitê Organizador Rio 2016 a representar o país no evento.

PRAIA DE PAULISTA
A tatuadora Kat Von D, a empresária Flávia Sampaio e a atriz Bruna Thedy foram à inauguração da Sephora, no JK Iguatemi. Também no shopping, a Miu Miu abriu sua primeira loja no país. A estilista Fernanda Rolim e a blogueira Vanessa Derani conferiram. E os empresários Rodrigo e Daniel Rosset fizeram coquetel na Scarf Me.

PIANÍSSIMO
O pianista Nelson Freire se apresentou junto com a Osesp (Orquestra Sinfônica de São Paulo), sob regência de Marin Alsop, no parque Ibirapuera, anteontem. O clarinetista Giuliano Rosas também tocou no concerto, que adiantou parte do repertório a ser executado no BBC Proms, em Londres, no dia 15 de agosto.

25 de março à francesa
O shopping JK Iguatemi ganhou ares de 25 de Março na noite de anteontem, na inauguração da primeira loja de maquiagem Sephora no país. "As pessoas esperam há anos a chegada no Brasil. Parece a 25 de Março no Natal", comparou a fotógrafa Adriana Sansone, uma das convidadas VIPs, que faziam fila já às 20h30 para entrar na loja.

Na muvuca, estavam as atrizes Carolina Ferraz, Nathalia Dill e Larissa Maciel, entre outras famosas.

Seguranças controlavam as clientes mais afoitas do lado de fora do "cercadinho". Duas hostess com maquiagem extravagante e um tablet em mãos conferiam os nomes na lista. Funcionários e entendidos ensinavam a pronuncia correta do nome da loja em francês: "Seforrá", com ênfase na última sílaba.

O presidente global da marca, Christopher de Lapuente, antecipou e encurtou a fala inaugural. "Eu queria fazer um discurso de dez, 15 minutos sobre a Sephora, mas tinha tanta gente, tanta gente, que eu resumi", comentou. "É, você ia ser linchado", brincou a assessora ao lado dele.

A tatuadora Kat Von D, protagonista do reality show "LA Ink" e uma das atrações mais aguardadas da noite, lançou uma linha de maquiagens com seu nome. Chegou atrasada e visivelmente incomodada com a multidão e os flashes. Ficou dez minutos e não disfarçou a irritação ao ser abordada por adolescentes que pediam autógrafos.

Flávia Sampaio, namorada de Eike Batista, prometia voltar outro dia para fazer compras. "Tá muito cheio. Volto num dia mais vazio e com o maquiador, senão a gente compra tudo errado!"

A atual companheira do sétimo homem mais rico do mundo achou válida a comparação com a rua de comércio popular do centro paulistano. "Isso é sinal de sucesso." No Rio, ela conta que já foi ao Saara, o similar carioca à rua tradicional de compras de SP. "Quero muito conhecer a 25 de Março. Vou fazer uns 'power looks' lá", disse. "Dá pra ser bonita e fashion comprando na 25."

CURTO-CIRCUITO
Patricia Durães, coordenadora educacional do Itaú-Cinemas, foi convidada a apresentar na Itália os projetos Clube do Professor e Escola no Cinema.

O projeto Dança no MIS será lançado hoje, às 18h.

O restaurante Le Bou tem menu especial para comemorar a queda da Bastilha até o dia 21.

A governadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) jantou no Antiquarius dos Jardins com o deputado Campos Machado, secretário-geral do PTB, na semana passada. Discutiram 2014.

com LÍGIA MESQUITA (interina), ELIANE TRINDADE (colaboração), ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e OLÍVIA FLORÊNCIA

Pena de Morte - DRAUZIO VARELLA

FOLHA DE SP - 14/07


Os rigores da lei cairiam exclusivamente sobre os mais pobres. Não é assim até hoje?


Não me sai da cabeça a imagem dos iranianos enforcados em guindastes, que a Folha publicou na "Primeira Página" duas semanas atrás.

Tenho certeza de que se houvesse um plebiscito, a pena de morte seria implantada também no Brasil. Para a maioria dos eleitores, bandido que tira a vida de um ser humano merece o mesmo destino da vítima, sem qualquer comiseração. Os mais radicais incluem nessa categoria os traficantes e os que assaltam à mão armada.

A lei do olho por olho é a saída mágica que a população encontra para acabar com a violência que nos assusta nas ruas e nos aprisiona dentro de casa. É justo manter a sociedade refém de uma minoria? Para que os cidadãos ordeiros possam viver em paz, não seria mais fácil eliminar fisicamente esses poucos que nos infernizam? A morte deles não serviria de exemplo para os que estão em início de carreira?

De fato, há situações em que a pena de morte tem grande poder intimidatório. É o caso da execução de desertores em tempo de guerra, do linchamento em pequenas comunidades ou dos assassinatos brutais que acontecem nas cadeias, condições extrajudiciais em que o direito de defesa sequer entra em cogitação.

Nos três casos citados há um denominador comum: o curto intervalo de tempo existente entre a prática do ato ilícito e a execução da sentença. O desertor enfrenta o pelotão de fuzilamento assim que é localizado, o estuprador que mata a criança na cidadezinha é linchado na hora e o presidiário acusado de delatar um plano de fuga morre no mesmo dia.

Para que a pena de morte tenha caráter educativo, há que ser aplicada de imediato. Quanto mais tempo decorrer entre o crime cometido e a punição do criminoso, menos didática e exemplar ela será.

A urgência para levar a cabo a execução sumária, por sua vez, tem um efeito colateral: é obrigatório fechar os olhos para injustiças eventuais, o que nesses casos significa matar homens e mulheres inocentes.

Como nas sociedades civilizadas a ideia de enforcar alguém é cada vez menos popular e a possibilidade de o Estado tirar a vida da pessoa errada é inaceitável, a pena de morte perdeu adeptos na maioria dos países. Os que ainda a defendem argumentam que bastaria garantir ao acusado amplo de direito de defesa.

É esse direito amplo o ponto crucial da questão, porque são raros os réus confessos, ainda que todas as evidências estejam contra eles. Para assegurar-lhes que não serão sentenciados injustamente, é necessário dispor de tempo, testemunhas, acareações, advogados de defesa, promotores e juízes, para não falar nos custos financeiros.

Veja o caso dos norte-americanos, em que o condenado aguarda anos e anos nos famigerados corredores da morte, até que um dia venham buscá-lo para a cerimônia fúnebre, realizada de forma secreta e envergonhada, como bem lembrou Hélio Schwartsman em sua coluna.

Um castigo administrado dez, 15 anos depois de um crime do qual ninguém mais se recorda, tem impacto zero na redução da criminalidade, como demonstram inúmeros estudos. Nos Estados americanos que aboliram a pena capital, os índices de criminalidade não aumentaram; naqueles que ainda a mantém, eles não são mais baixos.

Agora, analisemos o caso do Brasil. Com um Judiciário desigual e moroso como o nosso, quanto tempo levaria para que todos os prazos e recursos processuais fossem esgotados? Num país com enorme dificuldade para prender os que assaltam os cofres públicos, seria fácil condenar à morte uma pessoa influente, por mais hediondo que fosse o crime?

O assaltante da periferia que praticasse um latrocínio teria acesso a advogados com o mesmo preparo técnico do que o assassino impiedoso bem-nascido?

Não é preciso ser catedrático de direito penal para imaginar que o desenlace fatal levaria muitos anos para ocorrer. Escapariam dele os que tivessem dinheiro para contratar bons criminalistas, capazes de engendrar manobras jurídicas que tornariam os processos intermináveis.

Os rigores da lei cairiam exclusivamente sobre os mais pobres. Não era dessa forma no passado, e não é assim até hoje? Quem tem dinheiro, por acaso chega a cumprir em regime fechado o número de anos a que foi condenado? Em 23 anos frequentando cadeias, nunca vi.