O GLOBO - 22/06
Do “eco-nomista” Sérgio Bes-serman, boa-praça, sobre o resultado da Rio+20:
— Além das autoridades, só quem comemorou o documento foram os astronautas da estação espacial, que já estão meio no mundo da lua mesmo...
Calma, Izabella
O governo, como se sabe, é um pote até aqui de mágoas com as ONGs que criticaram o documento da Rio+20.
Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, chegou a perder um pouco o controle ao bater boca, ontem, no Riocentro, com uns jovens que criticavam o governo pelo Código Florestal.
Melhor assim...
Já Dilma ficou irritada com as críticas da primeira-ministra dinamarquesa, Helle Schmidt, ao documento final da Rio+20. Ao tomar a palavra, atirou:
— É melhor ter um documento do que não ter nenhum, como em 2010, na... Dinamarca.
Democracia é melhor
Foi Cristina Kirchner quem avisou a Dilma da tentativa de golpe da oposição paraguaia para derrubar Fernando Lugo.
No mais
Há quem justifique a aliança Lula-Maluf como mais um sintoma de que acabou essa coisa de esquerda e direita.
Mas o problema de Maluf não é sua admiração pelas ideias de Adam Smith. O problema é a In-terpol. Com todo o respeito.
McEwan em Minas
Estrela da próxima Flip, em julho, o britânico Ian McEwan, acompanhado da mulher, a escritora Annalena McAffe, vai esticar sua estada no Brasil.
Vão a Ouro Preto, MG, ver a casa onde viveu a poetisa americana Elizabeth Bishop (1911-1979).
O INSTITUTO MOREIRA Salles, na Gávea, está reconstituindo este belo painel de azulejos de Roberto Burle Marx (1909-1994), de 1949. O trabalho é supervisionado pela Subsecretaria de Patrimônio da cidade do Rio, por se tratar de bem tombado. O jardim também será totalmente refeito, respeitando o paisagismo original, e o lago que compõe o local voltará a ter carpas e tartarugas
O ABC do Guido
De Guido Mantega, ontem, na Rio+20, anunciando um acordo entre Brasil e China:
— Os dois países vão lançar um satélite... CB... CBS... não... CBR. É isso, CBR 3 e 4.
Como ninguém entendeu, Aloizio Mercadante pediu a palavra e, delicadamente, repetiu:
— Brasil e China vão lançar os satélites Cbers 3 e Cbers 4.
Ah, bom!
Índio quer dinheiro
Atrações à parte na Rio+20, tem índio na Cúpula dos Povos cobrando R$ 5 para tirar foto.
‘Tchê tchêrere’
Parceiro da coluna pegou um táxi esta semana, em Santiago, no Chile. Ao comentar que é brasileiro, o do volante se animou. Sacou um CD de... Gusttavo Lima e pôs pra tocar o hit “Balada”.
É aquela que diz: “Tchê tchê-rere, tchê tchê...”.
Tadinho do Ted
Com os hotéis do Rio lotados, Ted Turner, 73 anos, o magnata da mídia americana, acabou num flat no Recreio.
Quando souberam de quem se tratava, tentaram mudar o ex-marido de Jane Fonda para um hotel melhor. Não conseguiram.
Itaipava+20
Na falta de hotéis no Rio, o pequeno Albergo de Leone, em Itaipava, lotou seus 28 quartos com a delegacão de Taiwan.
Isto deve ocorrer na Copa de 14 e nos Jogos de 16.
Não deu em nada
O capitão Dennys Bizarro, flagrado por câmeras quando passava num carro da polícia pelo local onde Evandro João da Silva, coordenador do AfroReg-gae, acabara de ser morto num assalto, está fazendo Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da PM e vai entrar para lista de promoção a major, em agosto.
O IPM que apurava o caso não deu em nada.
Dinheiro verde
As agências do BB no Riocen-tro fizeram câmbio para estrangeiros de 160 nacionalidades.
Nem ovo
O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, pôs seu chef pessoal, Shankar Prajapa-ti, na cozinha do Hotel Wind-sor Atlântica, onde está hospedado para a Rio+20.
É que o político é vegetariano, daqueles bem radicais. Sequer come ovo.
sexta-feira, junho 22, 2012
Eleição versus preservação - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 22/06
Se o desenvolvimento sustentável não entrar na pauta eleitoral dos Estados Unidos e do mundo, não terá Rio+30, Rio+40 nem Rio+50 que resolva
Quem, alguma vez na vida, não se deparou com a sensação de ter encontrado a pessoa certa no momento errado? Pois é exatamente essa impressão de muitos diplomatas que, dias a fio, dedicaram-se à construção dos acordos da Rio+20. A Conferência de Desenvolvimento Sustentável é a certa. Mas o momento, à véspera de eleições nos Estados Unidos, associado à conjuntura europeia, tornou difícil maiores avanços. Mas nem tudo está acabado, perdido, ou fracassado, porque o documento foi genérico. Esses dias deixaram ao mundo noções claras do que fazer e o que não repetir.
A primeira lição que ficou é que um novo encontro desse porte, com a necessidade de tomada de posição por parte dos países desenvolvidos, não pode ocorrer no ano de eleição presidencial estadunidense. O presidente Barack Obama simplesmente não apareceu por aqui porque o meio ambiente não é a principal preocupação dos eleitores de seu país. Se fosse, ele talvez teria sido o primeiro a confirmar presença na Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU. E também o líder na hora de incluir financiamento e cifras no documento final.
Todos sabem que político em ano de eleição, em qualquer parte do mundo, faz o que deseja a população de seu país, ou, pelo menos, se esmera no sentido de agradar eleitores.
Se, no ano passado, Obama foi criticado pela imprensa americana pela visita ao Corcovado, no Rio de Janeiro, enquanto os problemas aumentavam na Líbia e na economia, imagine agora, em plena corrida eleitoral, ele “largar” os Estados Unidos para passar três dias falando de “economia verde” no Brasil, um país onde, no imaginário de muitos americanos de classe média baixa, persiste a ideia de cobras passeando no meio da rua? Nenhum diplomata americano assumirá isso de público, mas é assim que a coisa funciona.
Se o problema fosse só a eleição nos Estados Unidos, estava de bom tamanho. Mas outro problema que ninguém poderia prever era o agravamento da crise na Zona do Euro, outro fator que levou muitos países a fecharem as portas ao um documento mais contundente. Não por acaso, da cúpula do G-7 (Alemanha, Inglaterra, Itália, EUA, Canadá, Japão e França), apenas o francês François Hollande apareceu. E, se os grandes não querem se comprometer, a sociedade precisa buscar brechas para não deixar que a pequena arvorezinha da Rio+20 morra de inanição.
Por falar em sociedade…
A quantidade de protestos e eventos paralelos à Rio+20 e a enormidade de ações em curso na sociedade civil, nas empresas privadas e nas prefeituras nos levam a crer que os governos federais estão perdendo a importância na hora de definir como preservar o planeta. As dificuldades que os governantes colocam são tantas que a sociedade está se virando sozinha. Resta saber, entretanto, que força ela terá para implementar as medidas necessárias aos avanços rumo ao desenvolvimento sustentável.
O encontro dos prefeitos foi uma luz. Mostrou que nas cidades está a chave para abrir as portas e as mentes da população e, por tabela, de seus governantes. Afinal, são eles que estão na ponta para implantar ciclovias, reduzir a emissão de poluentes e adotar soluções criativas para mudar a cabeça do planeta. O prefeito de Joinville (SC), Carlito Merss, com uma medida simples e menos de R$ 100 mil, evitou que dezenas de litros de óleo deixassem de ser jogados na tubulação da cidade. Fez isso distribuindo funis às donas de casa para o recolhimento de óleo usado. Elas recolhem em garrafas pet e levam aos postos credenciados para que o material seja reutilizado na fabricação de sabão. Assim, reduziu bastante a formação de graxa nas tubulações.
Por falar em cidades…
O fato de termos eleições municipais este ano no Brasil pode ter inclusive um efeito positivo sobre essas ações. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, no quesito preservação ambiental, os brasileiros parecem bem mais engajados do que os estadunidenses. É hora de forçar que o ingresso de medidas de desenvolvimento sustentável entrem na pauta eleitoral como um todo, não só agora, como também de 2014 em diante. E às ONGs dos Estados Unidos, tão ferrenhas na cobrança sobre a preservação das florestas brasileiras, talvez seja a hora de colocar esse apelo ambiental na pauta da sua própria gente. Quem sabe consigam acabar com o mito de que santo de casa não faz milagre. Se ninguém cobrar, aí que esse milagre ambiental não sai mesmo.
Se o desenvolvimento sustentável não entrar na pauta eleitoral dos Estados Unidos e do mundo, não terá Rio+30, Rio+40 nem Rio+50 que resolva
Quem, alguma vez na vida, não se deparou com a sensação de ter encontrado a pessoa certa no momento errado? Pois é exatamente essa impressão de muitos diplomatas que, dias a fio, dedicaram-se à construção dos acordos da Rio+20. A Conferência de Desenvolvimento Sustentável é a certa. Mas o momento, à véspera de eleições nos Estados Unidos, associado à conjuntura europeia, tornou difícil maiores avanços. Mas nem tudo está acabado, perdido, ou fracassado, porque o documento foi genérico. Esses dias deixaram ao mundo noções claras do que fazer e o que não repetir.
A primeira lição que ficou é que um novo encontro desse porte, com a necessidade de tomada de posição por parte dos países desenvolvidos, não pode ocorrer no ano de eleição presidencial estadunidense. O presidente Barack Obama simplesmente não apareceu por aqui porque o meio ambiente não é a principal preocupação dos eleitores de seu país. Se fosse, ele talvez teria sido o primeiro a confirmar presença na Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável da ONU. E também o líder na hora de incluir financiamento e cifras no documento final.
Todos sabem que político em ano de eleição, em qualquer parte do mundo, faz o que deseja a população de seu país, ou, pelo menos, se esmera no sentido de agradar eleitores.
Se, no ano passado, Obama foi criticado pela imprensa americana pela visita ao Corcovado, no Rio de Janeiro, enquanto os problemas aumentavam na Líbia e na economia, imagine agora, em plena corrida eleitoral, ele “largar” os Estados Unidos para passar três dias falando de “economia verde” no Brasil, um país onde, no imaginário de muitos americanos de classe média baixa, persiste a ideia de cobras passeando no meio da rua? Nenhum diplomata americano assumirá isso de público, mas é assim que a coisa funciona.
Se o problema fosse só a eleição nos Estados Unidos, estava de bom tamanho. Mas outro problema que ninguém poderia prever era o agravamento da crise na Zona do Euro, outro fator que levou muitos países a fecharem as portas ao um documento mais contundente. Não por acaso, da cúpula do G-7 (Alemanha, Inglaterra, Itália, EUA, Canadá, Japão e França), apenas o francês François Hollande apareceu. E, se os grandes não querem se comprometer, a sociedade precisa buscar brechas para não deixar que a pequena arvorezinha da Rio+20 morra de inanição.
Por falar em sociedade…
A quantidade de protestos e eventos paralelos à Rio+20 e a enormidade de ações em curso na sociedade civil, nas empresas privadas e nas prefeituras nos levam a crer que os governos federais estão perdendo a importância na hora de definir como preservar o planeta. As dificuldades que os governantes colocam são tantas que a sociedade está se virando sozinha. Resta saber, entretanto, que força ela terá para implementar as medidas necessárias aos avanços rumo ao desenvolvimento sustentável.
O encontro dos prefeitos foi uma luz. Mostrou que nas cidades está a chave para abrir as portas e as mentes da população e, por tabela, de seus governantes. Afinal, são eles que estão na ponta para implantar ciclovias, reduzir a emissão de poluentes e adotar soluções criativas para mudar a cabeça do planeta. O prefeito de Joinville (SC), Carlito Merss, com uma medida simples e menos de R$ 100 mil, evitou que dezenas de litros de óleo deixassem de ser jogados na tubulação da cidade. Fez isso distribuindo funis às donas de casa para o recolhimento de óleo usado. Elas recolhem em garrafas pet e levam aos postos credenciados para que o material seja reutilizado na fabricação de sabão. Assim, reduziu bastante a formação de graxa nas tubulações.
Por falar em cidades…
O fato de termos eleições municipais este ano no Brasil pode ter inclusive um efeito positivo sobre essas ações. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, no quesito preservação ambiental, os brasileiros parecem bem mais engajados do que os estadunidenses. É hora de forçar que o ingresso de medidas de desenvolvimento sustentável entrem na pauta eleitoral como um todo, não só agora, como também de 2014 em diante. E às ONGs dos Estados Unidos, tão ferrenhas na cobrança sobre a preservação das florestas brasileiras, talvez seja a hora de colocar esse apelo ambiental na pauta da sua própria gente. Quem sabe consigam acabar com o mito de que santo de casa não faz milagre. Se ninguém cobrar, aí que esse milagre ambiental não sai mesmo.
Bancos, crise e lebres mortas - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 22/06
COMO EXPLICAR quadros a uma lebre morta? Foi o nome de uma "performance" famosa realizada em 1965 pelo artista alemão Joseph Beuys (1921-86). Com folhas de ouro coladas na cara lambuzada de mel, entre outras esquisitices, Beuys passeava por uma exposição com uma lebre no colo e balbuciava "explicações" no ouvido do bicho.
Como dizer a um cidadão ocupado e prestante que a economia mundial tropeça numa ribanceira porque as autoridades europeias discutem quais garantias vão exigir para emprestar a bancos espanhóis?
Como lembrar que a crise está feia quando aqui no Brasil a taxa de desemprego cai e a economia cresce cada vez menos? Essa situação bizarra não tem como durar muito tempo, decerto. Mas, por ora, seja qual for a temperatura do termômetro econômico, a sensação térmica para a maioria dos brasileiros é confortável.
Lá fora, porém, o tempo continua fechando. Uma agência de classificação de risco baixou a nota de 15 grandes bancos do mundo. Quase ninguém leva as agências a sério. Mas as notas de crédito que essas empresas dão a governos, bancos e empresas têm importância ainda.
Uma nota menor, por exemplo, reduz o valor que papéis de governos, bancos e empresas podem ter quando utilizados como garantia (créditos a receber podem ser usados como garantia para tomar empréstimos). Logo, uma nota de crédito menor reduz a capacidade de uma firma tomar dinheiro, além de encarecer o empréstimo.
Portanto, a redução da nota de crédito emperra ainda mais o sistema financeiro. A crise piora quando o crédito fica mais travado.
Por falar em garantias de crédito, esse é o assunto da hora nas discussões sobre a salvação do sistema bancário da Espanha. O governo espanhol não tem dinheiro para salvar bancos podres do país (se os bancos quebram, há um pandemônio). Quer dinheiro europeu.
A contragosto, a União Europeia e o Banco Central Europeu estão dando um jeito de colocar dinheiro na banca espanhola sem assumir muito risco e sem avacalhar de vez a praça (isto é, dar dinheiro a torto e a direito a qualquer um que esteja quase falido).
Circulavam ontem rumores de que o BCE pode começar a aceitar garantias mais mixurucas. Isto é, pode aceitar como "colateral" empréstimos que bancos espanhóis fizeram a empresas não lá muito seguras. Podem também emprestar mais dinheiro tendo como garantia títulos de governos que já não têm muito crédito.
Ou seja, estão facilitando o negócio. A partir da crise de 2008, o BC americano, o Fed, não teve pudores. Emprestou dinheiro barato, aceitou até papel de embrulho como garantia, comprou títulos podres na praça, tudo para salvar o sistema financeiro. Em grande parte, funcionou, o que evitou um desastre depressivo nos país.
A Europa e o BCE foram enrolando. Tomaram medidas extremas só quando a tensão chegou a um nível crítico, como agora, outra vez.
O destino da economia mundial nos próximos meses e anos está sendo decidido nessas negociações sobre as partes mais obscuras e intestinas do sistema financeiro, coisas que fazem tão pouco sentido como quadros para uma lebre morta ou, francamente, para pessoas normais.
Como dizer a um cidadão ocupado e prestante que a economia mundial tropeça numa ribanceira porque as autoridades europeias discutem quais garantias vão exigir para emprestar a bancos espanhóis?
Como lembrar que a crise está feia quando aqui no Brasil a taxa de desemprego cai e a economia cresce cada vez menos? Essa situação bizarra não tem como durar muito tempo, decerto. Mas, por ora, seja qual for a temperatura do termômetro econômico, a sensação térmica para a maioria dos brasileiros é confortável.
Lá fora, porém, o tempo continua fechando. Uma agência de classificação de risco baixou a nota de 15 grandes bancos do mundo. Quase ninguém leva as agências a sério. Mas as notas de crédito que essas empresas dão a governos, bancos e empresas têm importância ainda.
Uma nota menor, por exemplo, reduz o valor que papéis de governos, bancos e empresas podem ter quando utilizados como garantia (créditos a receber podem ser usados como garantia para tomar empréstimos). Logo, uma nota de crédito menor reduz a capacidade de uma firma tomar dinheiro, além de encarecer o empréstimo.
Portanto, a redução da nota de crédito emperra ainda mais o sistema financeiro. A crise piora quando o crédito fica mais travado.
Por falar em garantias de crédito, esse é o assunto da hora nas discussões sobre a salvação do sistema bancário da Espanha. O governo espanhol não tem dinheiro para salvar bancos podres do país (se os bancos quebram, há um pandemônio). Quer dinheiro europeu.
A contragosto, a União Europeia e o Banco Central Europeu estão dando um jeito de colocar dinheiro na banca espanhola sem assumir muito risco e sem avacalhar de vez a praça (isto é, dar dinheiro a torto e a direito a qualquer um que esteja quase falido).
Circulavam ontem rumores de que o BCE pode começar a aceitar garantias mais mixurucas. Isto é, pode aceitar como "colateral" empréstimos que bancos espanhóis fizeram a empresas não lá muito seguras. Podem também emprestar mais dinheiro tendo como garantia títulos de governos que já não têm muito crédito.
Ou seja, estão facilitando o negócio. A partir da crise de 2008, o BC americano, o Fed, não teve pudores. Emprestou dinheiro barato, aceitou até papel de embrulho como garantia, comprou títulos podres na praça, tudo para salvar o sistema financeiro. Em grande parte, funcionou, o que evitou um desastre depressivo nos país.
A Europa e o BCE foram enrolando. Tomaram medidas extremas só quando a tensão chegou a um nível crítico, como agora, outra vez.
O destino da economia mundial nos próximos meses e anos está sendo decidido nessas negociações sobre as partes mais obscuras e intestinas do sistema financeiro, coisas que fazem tão pouco sentido como quadros para uma lebre morta ou, francamente, para pessoas normais.
Rio+falta de ambição! - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 22/06
Não existe vida inteligente na Terra! Só se fala disso em Marte, onde a Rio+20 virou piada no programa de humor de maior audiência na TV Planeta Vermelho, uma espécie de Rede Globo de lá! "Os terráqueos deram agora para chamar de 'falta de ambição' a burrice de nada fazer para frear o fim do mundo em curso" - morrem de rir da gente!
Pior é que eles têm razão! Só se fala em 'falta de ambição' nas críticas generalizadas aos resultados da Conferência Sobre Desenvolvimento Sustentável que se encerra hoje no Rio.
A expressão genérica tem servido para tudo aquilo que já foi chamado de falta de vontade política, de juízo, de bom senso, de consciência, de noção, de boas ideias, de ética, de interesse, de ideologia, de respeito, de decoro, de objetivo, de responsabilidade, de motivação, de vergonha na cara, de inteligência...
Falta, enfim, liderança que defina melhor os anseios do planeta às vésperas do fim do mundo. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi o primeiro a criticar na quarta-feira a falta de ambição da Rio+20, mas mudou de opinião ontem para classificar o documento final da conferência como "ambicioso, amplo e prático".
É muita falta de personalidade, né não?
Ela merece!
Ambientalista não liga pra isso, mas, entre os resultados positivos da Rio+20, louve-se a ambição da Playboy de abrir suas páginas para Brígida de Souza, a 'Riquezinha' dos protestos das moças de tambor e seios de fora.
Se torcer, não dirija!
À medida que o Corinthians se aproxima do título inédito da Libertadores, crescem os flagrantes da lei seca em São Paulo.
Rumo a Punta
Pode ser um problema a menos para o trânsito caótico no Rio e em São Paulo: as marchas da maconha no Brasil devem tomar o caminho do Uruguai depois que o presidente José "Pepe" Mujica anunciou programa de legalização da venda de 40 baseados por mês para cada maconheiro cadastrado pelo Estado.
Mal comparando
A foto de um bispo católico de Buenos Aires abraçadinho a uma mulher numa praia do México chocou tanto a Argentina quanto aqui no Brasil o flagrante de Lula e Maluf nos jardins da mansão do ex-prefeito deixou uns e outros boquiabertos.
Mal comparando 2
E esse relacionamento do Julian WikiLeaks Assange com o presidente do Equador, Rafael Correa, hein?! Por muito menos Luiza Erundina abriu mão de sua candidatura na chapa de Fernando Haddad.
Arrasa quarteirão
O problema dos caixas eletrônicos à prova de dinamite que vêm por aí é o tipo de explosivo que a bandidagem passará a usar para arrombar o compartimento onde o dinheiro fica guardado nos bancos 24 horas.
Vitamina C e cama
Com a chegada do inverno, tem vírus novo circulando por aí: a "gripe Erundina" dura quatro dias e vai embora!
Troca de milhões por bilhões - SONIA RACY
O ESTADÃO - 22/06
O governo de Condé deu como garantia a empréstimo de US$ 25 milhões nada menos que… 30% dos ativos de minério do país. A operação foi feita com a Palladino Capital, empresa registrada nas Ilhas Virgens Britânicas.
Com impacto direto na mina de Simandou, naqual a Vale tem participação significativa. Só ela (que entra no “bolo” em caso de inadimplência) está avaliada em mais de… US$ 10 bilhões.
Consultada, a Vale preferiu não se pronunciar.
Bilhões 2
O arranjo articulado por Condé deixa em situação embaraçosa figuras como Tony Blair e George Soros – conselheiros do governo de Guiné para reformular o setor de mineração no país.
Na paz
Quem espera briga, hoje, entre Jean-Charles Naouri, do Casino, e Abilio Diniz (na passagem de comando do Grupo Pão de Açúcar) vai dar com os burros n’água.
Quase
A campanha de Haddad tem trabalho pela frente.
Na última pesquisa do Ibope em Sampa, quando a resposta era espontânea, alguns eleitores se lembraram de um tal Fernando… Andrade.
Novo round
Anderson Silva renovou seu patrocínio com o Burger King. Pela 9ine.
Mais um
O Bahrein abrirá embaixada no Brasil em 2013.
Era o último integrante do Golfo Pérsico que faltava se instalar por aqui.
Vento a favor
Mesmo sem anúncio oficial do vencedor nas eleições no Egito, “as relações dos dois candidatos com o País serão as melhores possíveis”, aposta Cesário Melantonio, representante brasileiro para assuntos do Oriente Médio.
Ashmed Shafiq, ex-premiê de Mubarak, segundo o embaixador, comprou 12 aviões da Embraer quando era ministro da Aviação Civil.
E Mohammed Mursi dialoga com o Brasil desde 2008.
Noves fora
São Paulo vai perder uma casa de shows. O Via Funchal está sendo vendido para a incorporadora Toledo Ferrari (mesma que fez o prédio de Roberto Carlos) por mais de R$ 100 milhões.
O prédio será demolido e, em seu lugar, surgirá um empreendimento gigantesco.
Área nobre
Ivo Herzog, do Instituto Vladimir Herzog, está articulando o Museu da Imprensa, a ser criado por lei federal.
Pretende falar com Kassab para implantá-lo na região da cracolândia.
Às moscas
Ricardo Lewandowski, do STF, desistiu de sessão de julgamentos terça-feira, em Brasília.
Dois ministros avisaram que não iriam. E outros dois simplesmente não apareceram.
Areia no deserto
Raghad Saddam Hussein, filha mais velha do ditador, busca editora para publicar as memórias de seu pai. Baseadas em manuscrito de Saddam.
Não será o primeiro livro do iraquiano, que chegou a editar poemas e quatro romances.
Palco paulista
Quarta-feira de garoa em Sampa. Faltam 15 minutos para o clássico começar no Pacaembu lotado. Depois de longo e afetuoso abraço, Mario Gobbi dispara: “Sou seu fã, Luis Alvaro. Queria até te levar lá para o Corinthians”. O presidente santista nem se abala: “Tá feito. É só vocês mandarem o Paulinho (meio-campista do Timão) pra Santos!”
Gargalhada geral. Mas, e o Neymar? Ainda está cansado? “Não, foi dormir todo dia às 10h. E pedi para darem um Toddynho a ele antes do jogo”, diverte-se. Gobbi também está animado: “É uma grande festa isto aqui. A gente torce, mas a verdade é que ganhar a Libertadores não fará o Corinthians maior do que já é”.
No camarote da Prefeitura, além do staff santista, João Doria e José Maria Marin. O empresário aparece à porta. Está com o braço esquerdo na tipoia. O que aconteceu? “Foi aqui no Pacaembu, sexta-feira passada”. Doria havia participado de um jogo com CEOs de empresas. “Levei uma pancada forte. Coisa de corintiano, com certeza!”, brinca.
Marin aproveita que o hino nacional ainda não soou e vem falar com a coluna: “Sexta-feira, vou com o Andrés Sanchez até Cotia, CT do São Paulo. E, independentemente do resultado de hoje, visitarei a Vila Belmiro no sábado, para dar um abraço no Rafael, no Ganso, no Neymar. Aliás, tem de ter paciência com o Neymar na seleção. Paciência com todos”. Mas até com o Mano Menezes? “A gente só quer na seleção quem tem compromisso. Jogador que acha que está fazendo favor em vestir a camisa amarela pode ficar em casa!”, dispara.
O jogo começa, tenso. Na área VIP da Iveco, patrocinadora do Corinthians na semifinal, destaque para a panicat Lorena Bueri. De microvestido branco, e no meio da torcida do Timão, a Musa do Paulistão 2012 vibra muito… com o Santos. O Pacaembu é mesmo de todos.
Quem socorre Cristina Kirchner - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 22/06
Com a popularidade em franco declínio, cada vez mais distante do sindicalismo às vezes selvagem que sustentou o governo anterior - chefiado por seu marido Nestor - e a ajudou a vencer duas eleições presidenciais, sem recursos para assegurar o apoio irrestrito dos governadores provinciais e às voltas com problemas econômicos crescentes, a presidente argentina, Cristina Kirchner, deve ter regressado a Buenos Aires um pouco mais reconfortada depois do encontro do G-20 em Los Cabos, no México.
Não porque ela tivesse sido poupada por governantes de países prejudicados por recentes medidas intervencionistas e protecionistas que colocou em prática. Como previsto, essas medidas foram criticadas pelo primeiro-ministro britânico, James Cameron, e pela delegação espanhola chefiada pelo primeiro-ministro Mariano Rajoy, entre outros. Seu alívio se deve ao fato de que, mais uma vez, obteve a generosa solidariedade da presidente Dilma Rousseff e o apoio explícito do governo brasileiro na defesa de algumas de suas políticas criticadas pelos demais países.
Depois de acompanhar a reunião de Cristina e Dilma em Los Cabos, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, declarou à imprensa de seu país "que houve coincidência entre as presidentes de manter uma posição conjunta no G-20 em favor das políticas de crescimento e desenvolvimento". É uma forma enviesada de dizer que as duas presidentes sul-americanas defenderam, diante dos líderes do G-20, as políticas de forte conteúdo protecionista que seus governos vêm adotando para combater os efeitos da crise mundial e estimular as economias de seus países.
No fim de maio, as investidas protecionistas da Argentina contra produtos importados foram denunciadas à OMC pela União Europeia - segundo maior mercado para produtos argentinos -, sob a alegação de que essas medidas já causaram "dano real" à economia da Europa.
Danos maiores podem estar sofrendo países com os quais a Argentina tem comércio mais intenso, como os demais integrantes do Mercosul - maior comprador de produtos argentinos -, em particular, o Brasil. No entanto, embora a economia brasileira esteja sendo tão ou mais prejudicada que a da Europa, tem sido de tolerância o comportamento do governo brasileiro em relação às medidas que o governo Kirchner vem adotando para conter as importações.
Sob críticas cada vez mais intensas dos setores empresariais prejudicados, o governo Dilma tem aceitado as agressivas medidas comerciais do governo Kirchner contra produtos brasileiros. Agora, parece disposto a, mais do que aceitar, apoiar e aplicar novas medidas protecionistas a serem definidas em conjunto com a Argentina e os demais parceiros do Brasil no Mercosul.
Na reunião de chefes de governo do Mercosul que se realizará na cidade argentina de Mendoza no dia 28, deverão ser aprovadas medidas protecionistas contra países fora do bloco. Discutida há um ano na reunião de cúpula do Mercosul realizada no Paraguai, a ideia de aumentar o número de produtos que podem ter a tarifa de importação elevada a 35%, a alíquota máxima autorizada pela OMC, voltou a ser debatida na reunião de cúpula de Montevidéu, em dezembro. No entanto, nada foi decidido até agora. A elevação de alíquota deverá ser aprovada na reunião de Mendoza.
Ainda se discute o número de itens que terão a alíquota de importação elevada até o limite permitido pela OMC. A lista poderá variar de 100 a 400 produtos. Também está em discussão o critério de aplicação da nova alíquota, se será uma lista única para todos os países do bloco ou se cada um terá uma lista exclusiva com 100 produtos. O que está decidido é que a alíquota para a importação desses produtos passará da média de 12% a 13% para 35%.
Quanto mais medidas como essas tomarem os países do Mercosul, maiores serão as reações dentro da OMC e os estímulos para que os demais países reajam de maneira semelhante.
Vamos ver - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 22/06
Uma comissão de juristas está quase terminando em Brasília uma proposta de modernização do Código Penal. Não é sem tempo.
Como sabe qualquer cidadão que lê jornal, ouve rádio ou vê televisão, não falta imaginação no outro lado - aquele habitado por malandros safados e bandidos malvados. Acontece aqui, como na maioria dos países, se não for em todos eles, da Suíça ao Curdistão Bravio.
Portanto, vamos confiar que os juristas de Brasília tenham incluído no projeto do novo código respostas adequadamente severas para os crimes do nosso tempo.
Algumas amostras indicam que os juristas trabalharam como deviam. Incluíram nas suas propostas questões como aborto, eutanásia e a definição da homofobia como crime. E, na sua última reunião, acrescentaram dois temas sem dúvida atuais: a oficialização da delação premiada para criminosos e a condenação de crimes de responsabilidade cometidos por prefeitos. No primeiro caso, houve o cuidado de só permitir o prêmio se a delação tiver consequências concretas.
Sem dúvida alguma, a comissão lê jornal, ouve rádio e vê televisão.
Uma outra prova de que o pessoal estava antenado foi a aprovação (infelizmente, não unânime) da definição do enriquecimento ilícito de políticos, juízes e outros servidores públicos como crime. Ele será punido com a apreensão da riqueza desonesta e mais uma pena que pode chegar a oito anos e meio de cadeia.
É algo muito mais severo do que o castigo existente hoje.
Se o Congresso aprovar a novidade, vamos precisar de um boom na construção de cadeias pelo Brasil todo. No caso da riqueza ilícita, houve o cuidado de dispensar a apresentação de provas do crime que permitiu o enriquecimento: bastará a constatação de que o cidadão enricou por milagre.
O trabalho dos juristas será agora enviado ao Senado. Terá de ser aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente - ou a presidente, claro.
Na visão inocente de um leigo, é um projeto e tanto. Seja como for, será muito interessante ver o que os políticos farão com ele.
Uma comissão de juristas está quase terminando em Brasília uma proposta de modernização do Código Penal. Não é sem tempo.
Como sabe qualquer cidadão que lê jornal, ouve rádio ou vê televisão, não falta imaginação no outro lado - aquele habitado por malandros safados e bandidos malvados. Acontece aqui, como na maioria dos países, se não for em todos eles, da Suíça ao Curdistão Bravio.
Portanto, vamos confiar que os juristas de Brasília tenham incluído no projeto do novo código respostas adequadamente severas para os crimes do nosso tempo.
Algumas amostras indicam que os juristas trabalharam como deviam. Incluíram nas suas propostas questões como aborto, eutanásia e a definição da homofobia como crime. E, na sua última reunião, acrescentaram dois temas sem dúvida atuais: a oficialização da delação premiada para criminosos e a condenação de crimes de responsabilidade cometidos por prefeitos. No primeiro caso, houve o cuidado de só permitir o prêmio se a delação tiver consequências concretas.
Sem dúvida alguma, a comissão lê jornal, ouve rádio e vê televisão.
Uma outra prova de que o pessoal estava antenado foi a aprovação (infelizmente, não unânime) da definição do enriquecimento ilícito de políticos, juízes e outros servidores públicos como crime. Ele será punido com a apreensão da riqueza desonesta e mais uma pena que pode chegar a oito anos e meio de cadeia.
É algo muito mais severo do que o castigo existente hoje.
Se o Congresso aprovar a novidade, vamos precisar de um boom na construção de cadeias pelo Brasil todo. No caso da riqueza ilícita, houve o cuidado de dispensar a apresentação de provas do crime que permitiu o enriquecimento: bastará a constatação de que o cidadão enricou por milagre.
O trabalho dos juristas será agora enviado ao Senado. Terá de ser aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente - ou a presidente, claro.
Na visão inocente de um leigo, é um projeto e tanto. Seja como for, será muito interessante ver o que os políticos farão com ele.
Juízes sem rosto - LUIZ FUX
O GLOBO - 22/06
Francesco Forgione, em recentíssima obra cognominada "Máfia Export", descrevendo com minúcias a atuação das organizações criminosas, revela quão influente é o poder de intimidação dessas entidades clandestinas que dominam 15% da economia marginal do planeta.
Coincidentemente, no momento histórico em que se rememoram as figuras de Giovanni Falcone e Paolo Borsalino, assassinados pela Cosa Nostra há mais de 20 anos, um magistrado brasileiro, responsável pela apuração do resultado de uma operação policial conducente a esclarecer vínculos da criminalidade no âmbito político, solicita o seu afastamento do processo no afã de não experimentar o amargo destino por que passaram seus heroicos paradigmas.
Covardia? Medo? Absolutamente não. O medo do medo é patologia denominada de "fobia". O temor do que pode realmente acontecer é a exata percepção da realidade; ou alguém já se esqueceu que a juíza Patrícia Accioli padeceu de morte violenta anunciada?
Os juízes são seres humanos que sofrem interiormente as inseguranças de sua família, são ameaçados e por vezes desmoralizados pela eficiência das organizações criminosas em confronto com a inoperância estatal.
O enfrentamento desse grave quadro social exige a implementação imediata de duas políticas públicas recentemente divulgadas pelo Executivo e pelo Judiciário.
O Executivo divulgou o denominado Plano de Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, o qual, na sua essência, extermina a cultura da culpa e da exclusão da responsabilidade entre os órgãos públicos, um atribuindo ao outro as falhas que tanto agradam aos criminosos, para substituí-la pelo compartilhamento das ações enérgicas no combate à criminalidade.
O Judiciário, através do Supremo Tribunal Federal, decidiu no mês de maio do presente ano que é "constitucional" a criação pelos estados de varas criminais com titularidade coletiva, composta por vários juízes, para o combate dos crimes cometidos pelas organizações criminosas.
A estratégia responde a anseios nacionais e transnacionais. É que a Convenção de Palermo firmada pelo Brasil, o II Pacto Republicano e a Resolução n 3 do CNJ de há muito preconizam a instalação das varas de juízes sem rosto, à semelhança do que previsto no Código Antimáfia da Itália, no Tratado de Maastricht da União Europeia, no modelo Espanhol previsto na Ley de Enjuiciamiento Criminal (artigo 282) e nas experiências exitosas da França e da Colômbia.
Esses colegiados judiciais criados próximo à sede das organizações criminosas atendem o que Larry Kramer, professor da Universidade de Stanford, na sua obra "The Constitution in 2020", denominou de expectativa do povo quanto ao sentimento de segurança.
Os juízes, por seu turno, despersonificando os atos judiciais, uma vez que os mesmos são assinados em conjunto, desfocam os algozes da individualização da persecução.
A efetivação dessas medidas em todo o território nacional é capaz de retirar o nosso país da posição em que se encontra, no mundo, no âmbito da criminalidade e da ineficiência da apuração, fatores que geram sensação de impunidade e aumento da criminalidade.
A título de exemplo que nos ultraja a autoestima, o Brasil ostenta um recorde de homicídios superior à Índia, que tem cinco vezes mais o número de nossa população, sem considerar que a Inglaterra elucida 90% dos seus crimes; os Estados Unidos, 65%; a França, 80%; e o Brasil, 6%.
Gabriele Fornasari, versando o tema "Le strategie di contrasto ala criminalità organizzata", é categórico no sentido de que o mundo atual não se adapta mais à figura de um juiz único em confronto com as organizações criminosas, por isso é preciso tornar realidade essas políticas públicas que, preservando a alma do magistrado, o colocam, "sem rosto", diante da criminalidade, tal qual um agente desconhecido e infiltrado capaz de vencer esse flagelo por que passa a sociedade brasileira.
Afinal, o Brasil, que já permitiu tantas marchas e movimentos, deve iniciar uma "campanha pela vida digna da sociedade" e, sobretudo, por aqueles que almejam erradicar a marginalização para o bem de todos, ainda que para alcançarem esse desígnio sejam "homens sem rosto".
1min36s para demolir o Minhocão - MARIA CRISTINA FERNANDES
Valor Econômico - 22/06
O Minhocão é um viaduto que corta São Paulo de leste a oeste. Obra de Paulo Maluf em seu primeiro mandato como prefeito (1969), foi por ele batizado de Elevado Costa e Silva, em homenagem ao presidente que o indicara para o cargo.
Por lá não transitam ônibus. Foi construído para dar vazão ao crescente fluxo de veículos de uma São Paulo que não parava de crescer nos anos mais duros da ditadura. Por passar a cinco metros de prédios residenciais e encobrir quilômetros de vida urbana acabou deteriorando as regiões que cruza.
Sua construção foi o símbolo de uma era em que o poder público, fechado ao escrutínio popular, acabou loteado por interesses de empreiteiras e de uma classe média crescentemente motorizada em detrimento do investimento em transporte público.
PT e PSDB foram incapazes de colocar malufismo em xeque
Nesses mais de 40 anos, prefeitos de várias colorações já fizeram planos para implodi-lo.
O fracasso de sua demolição é a tradução mais concreta da falência de sucessivos prefeitos em tornar a cidade mais inclusiva.
O retorno à democracia não foi capaz de desbaratar os interesses que loteiam a máquina pública municipal. Talvez não seja coincidência que a única a impor alguma restrição ao funcionamento do Minhocão, tenha sido Luiza Erundina, a primeira eleita depois da ditadura.
Os polêmicos embates com as empresas de ônibus, que acabariam municipalizadas em sua gestão, lhe custariam uma condenação 20 anos depois. Erundina mandou imprimir cartazes informando à população que o serviço seria paralisado porque seus funcionários adeririam à greve nacional da CUT. Foi condenada a ressarcir os custos desses cartazes. Numa campanha nacional recolheu fundos para ressarcir o erário. E doou as sobras para uma instituição de caridade.
Seus enfrentamentos foram diretamente proporcionais à sua incapacidade de lidar com uma maioria parlamentar na Câmara dos Vereadores. De lá pra cá nenhum prefeito deixou de ter maioria. Os enfrentamentos é que escassearam.
O tempo de TV no horário eleitoral gratuito, hoje tido como instrumento mais poderoso para a conquista do poder, é a explicação para foto que reuniu Lula e Haddad a Maluf. Mas sua simbologia vai além.
Cada vez que eleitores se reúnem para escolher um prefeito depositam sua confiança de que o exercício do poder público seja mais pautado pela vontade popular do que pelos interesses incrustados na máquina pública.
PT, PSDB e suas ramificações kassabistas sucederam-se na Prefeitura de São Paulo com inovações pontuais que não foram capazes de colocar em xeque as opções de gestão urbana feitas pelo autoritarismo. Talvez porque, no mesmo período, também tenham se revezado no poder federal em gestões cujo modelo de desenvolvimento foi limitado ao foco, mais ou menos acentuado, na expansão da renda.
Maluf não é mais a sombra daquele que, em 1998, também posou para outra foto histórica. Naquele ano, empoderado pela eleição do seu sucessor na Prefeitura de São Paulo dois anos antes, disputou o governo do Estado contra a reeleição do tucano Mário Covas. Não ganhou a parada, mas teve direito a outdoors de sua foto ao lado de Fernando Henrique Cardoso, que, pelo apoio do então PPB malufista, disputou a reeleição presidencial com dois palanques em São Paulo.
O Maluf que se aliou aos tucanos e aquele que hoje se reúne aos petistas, desidratou em votos à medida que se tornou um procurado da Interpol.
Foi pela acusação de desvio para paraísos fiscais de recursos uma outra obra viária em São Paulo, desta vez numa época em que o Ministério Público já podia atuar, que Maluf acabaria condenado.
Não pode mais deixar o país. Com ordem de captura expedida pela Justiça de Nova York, está na lista de procurados da Interpol em 181 países.
Condenado ao Brasil e agraciado pela leniência judicial tupiniquim, trata de obter a cumplicidade dos partidos que se revezam no poder para passar um verniz na sua redoma de impunidade. Desta vez, o PT foi apenas um cúmplice mais rápido que o PSDB.
Numa eleição em que tantos problemas cotidianos reais estarão em pauta, as campanhas tendem a apostar que essas questões de princípios se diluam.
A questão é saber se o pós-Lula não produziu uma outra ambiência para as disputas eleitorais. A presidente Dilma Rousseff encarnou o personagem de quem não compactua com o malfeito e esta é uma das razões por que superou - e, aparentemente, desnorteou - o antecessor com seus índices de popularidade.
A confirmação de um aliado de Maluf para uma secretaria no Ministério das Cidades como moeda de troca para a aliança é a demonstração de que a popularidade de Dilma é fruto também de uma imagem cuidadosamente trabalhada por profissionais. Mas se a cobrança por decência entrou nas considerações do marketing da presidente é porque há mudanças em curso na opinião que se forma sobre o exercício do poder.
Este vetor, que já havia sido sinalizado pela votação surpreendente de Marina Silva, parece ter sido ignorado pela comunicação da campanha de Haddad, apesar de estar sendo dirigida pela mesma experimentada equipe que trabalhou para Dilma em 2010.
Haddad luta contra o desconhecimento de mais da metade do eleitorado. Por isso precisa de TV. Tem uma rejeição baixíssima, de 12%, que, pelo resistente antipetismo da cidade, tende a aumentar à medida em que for associado ao seu partido. Que a foto vai ser usada por seus adversários não parece haver dúvidas. O que não se sabe é se será capaz de aumentar substancialmente essa rejeição. E ninguém melhor que seu principal adversário, José Serra, para lhe mostrar como é mais fácil aumentar conhecimento que diminuir a rejeição.
Com o PSB e o quase garantido PCdoB, é consenso de que Haddad já teria tempo suficiente para se tornar conhecido. Resta agora saber se pelo menos pretende usar esse 1min36s para dizer se será capaz de demolir o Minhocão.
O empresário, o guru e o hippie velho - LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 22/06
FUI VISITAR as outras Rio+20, no Forte de Copacabana e no aterro do Flamengo. A do forte é bastante organizada e com pessoal bem treinado para lidar com multidões. A do aterro tem cara de feira de hippie velho.
No forte há dois ambientes. Um anfiteatro para mesas redondas com grandes empresas e gurus verdes. Vi um interessante debate no qual o representante da Ambev Milton Seligman falou muito bem sobre como a sustentabilidade só funcionará quando entendermos que ela tem de operar num mercado de bens e recursos naturais e tecnológicos sustentáveis e competitivos.
O outro ambiente é a exposição sobre a humanidade. Não escapa do marketing emocional barato. Numa sala específica, frases de intelectuais afirmam absurdos sobre um mundo baseado em solidariedade e amor pela humanidade e de como gastamos dinheiro em armas, conforto e jogos eletrônicos (!!) desnecessários.
Cifras eletrônicas apontam quantas crianças nascem e morrem enquanto olhamos os números, assim como também quantas árvores são derrubadas (Desertificação).
O ridículo de tal abordagem está no fato de que ao questionar o gasto em armas não se percebe que diante da multidão que ali se encontra, apenas o forte esquema de segurança e de ordem imposto pela equipe é que impede que a multidão de seres pretensamente solidários furem a fila e atropelem uns aos outros.
Basta observar o dia a dia institucional desses intelectuais que pregam a solidariedade para ver que são a prova irrefutável de que Thomas Hobbes, filósofo inglês do século 17, tinha razão quando dizia que o homem é o lobo do homem. Um dos ambientes de trabalho mais violento e desonesto é aquele ocupado por esses intelectuais "do bem".
No aterro do Flamengo há uma espécie de "cúpula dos povos" que dá vontade de cortar os pulsos. Trata-se de uma mistura de feira de periferia, cheia de cacarecos a venda, com cheiro de assembleia de estudantes que não gostam de assistir aula.
Ela reúne hare krishnas chatos, gente do MST querendo invadir a terra alheia, bandeiras do PT e PC do B e índios desbotados. Claro, não faltava aqueles caras pintados de branco dizendo "save the planet" com sotaque ridículo.
Aliás, a coisa toda é ridícula porque todo mundo sabe que esse "amor entre os povos" acaba no primeiro momento que alguém tiver que pagar a TV a cabo. Essa moçada de "um outro mundo é possível" só fica por perto enquanto mamam o dinheiro de alguém, quando eles têm que meter a mão no bolso, normalmente todos voltam para seus buracos de origem.
Andressa na cova dos leões - NELSON MOTTA
O Estado de S.Paulo - 22/06
A convocação da bela Andressa Cachoeira para depor na CPMI provoca frisson e reaviva a memória da distante e vergonhosa tarde do depoimento de Renilda Santiago, mulher de Marcos Valério, na CPI dos Correios.
Enfrentar os questionamentos agressivos e mal-educados não foi nada perto do que ela teve que suportar dos galantes parlamentares que acudiram em sua defesa elogiando sua beleza e seu caráter. Renilda era apenas uma discreta senhora mineira, bem-vestida e educada, de feições delicadas, que podia ser vista, no máximo, como bonitinha. Mas bastou para a macharia suprapartidária se assanhar. Foi de embrulhar o estômago ouvir tanto sentimentalismo barato ao vivo diante de todo o País, com deputados e senadores louvando a depoente por seu amor ao marido bandido e à família, por suas lágrimas, omissões e mentiras. Faltou muito pouco para alguém dizer que ela era a mulher que qualquer homem gostaria de ter e oferecer um ombro amigo.
Mesmo sabendo que Renilda mentia cínica e deslavadamente, eles se derretiam em elogios, como senhores magnânimos que não conseguiam esconder o galanteador cafajeste de calçada, tipicamente brasileiro, que os habita. Pareciam personagens caricatos de Chico Anísio, e pior, de Nelson Rodrigues, canalhas vocacionais que seduzem até a cunhada, que não respeitam nem CPI. Alguns eram gordos, outros carecas, quase todos mais velhos, a maioria nordestinos e gaúchos, todos antiquados e verbosos no estilão que Bernardo Cabral usou para seduzir Zélia Cardoso de Mello.
Esses machões galantes e sentimentais jamais se comportariam assim diante de quem dissesse o que Renilda disse, mas fosse homem. Seriam implacáveis, durões, não elogiariam o amor do depoente pela esposa e a família, nunca aceitariam suas mentiras. Os membros femininos da CPI deviam ter protestado contra tal falta de decoro, mas nenhuma teve tal macheza.
Se com a frágil e discreta Renilda eles deram um vergonhoso show de machismo travestido de cavalheirismo, imaginem a excitação parlamentar quando a bela, sexy e exuberante Andressa se sentar à mesa da CPMI. É melhor tirar as crianças da sala.
Choque de metáforas - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 22/06
O povo, ao menos aquele que escreve cartas à imprensa e participa de redes sociais, ficou revoltado com a aliança lulo-haddado-malufista. Até petistas contumazes, daqueles que não creem em mensalão, ficaram incomodados. A pergunta é: por quê? Constatar que o PP participa da coalizão que apoia o governo federal não é novidade.
Uma resposta plausível é que, enquanto os acordos se traduzem numa sopa de letras como PT-PMDB-PC do B-PDT-PSB-PSC-PTN-PP, não é difícil manter distanciamento, mas, quando o apoio se materializa numa concretíssima foto em que os três políticos confraternizam, reações emocionais se tornam quase inevitáveis.
Um bom modelo para explicar esse efeito é o da metáfora conceitual, proposto pelo linguista George Lakoff, que, não por acaso, tem feito incursões pela teoria política.
Para o autor, metáforas são muito mais que um recurso linguístico para explicar ideias. Elas são a própria matéria-prima do pensamento e têm existência física no cérebro. Pares de ideias frequentemente disparadas juntas se consolidam numa rede neuronal que se fortalece à medida que vai sendo mais utilizada.
O público mais à esquerda passou tanto tempo associando Maluf ao que há de pior na política que essa imagem se solidificou numa metáfora. Os mais velhos se lembrarão que "malufar" fez uma aparição na língua como sinônimo de "roubar".
O que Lula pede à militância, quando se congraça com Maluf, é não só que iniba a velha metáfora como também que a reformule, incorporando-a à imagem positiva que os simpatizantes têm do PT. Só que esse movimento não acontece sem uma boa dose de sofrimento psíquico, que dispara reações viscerais.
Para Lakoff, essas emoções orgânicas, mais que o cálculo racional, determinam o comportamento do eleitor. Se o voto aqui não fosse obrigatório, uma manobra como essa poderia afastar a militância das urnas.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 22/06
Indústria aguarda genérico para animais
Ainda inexistente no país, o mercado de remédios genéricos veterinários pode começar a ser criado em breve e a indústria já se movimenta.
Assim como os genéricos para humanos, os remédios para animais de produção ou domésticos passarão, após regulamentação, a ser colocados no mercado com prazo e custo menor depois da expiração de patentes de produtos de referência.
Atualmente, sem a existência do genérico definida por lei, depois que a patente de uma companhia expira, as farmacêuticas concorrentes devem submeter a molécula a um longo processo de registros de testes clínicos para comprovar eficácia e segurança, segundo Henrique Tada, da Alanac, que reúne laboratórios nacionais.
Após a aprovação do genérico, todo o processo poderá ser substituído pelo teste de bioequivalência, uma vez que a molécula inicial já passou por estudos anteriores.
"A expectativa é que ocorra o nascimento da categoria. Mas a lei tem de ser atrativa. Só vingará se empresas acharem interessante", diz Tada.
A legislação que vai liberar o assunto para ser regulamentado no Ministério da Agricultura está para ser votada nas próximas semanas no Congresso.
"Muitos criadores deixam de tratar devido aos custos", diz o autor, o senador Benedito de Lira (PP-AL).
"Há ainda um período de gargalo para que tudo seja acertado", segundo Tada.
A exigência do teste de resíduo, que verifica se foram eliminados todos os restos da substância nos animais que seguirão para o abate, é uma questão em suspense, esperada pela indústria.
"Precisamos garantir que não ficará resíduo. Isso só vai ser definido no momento da regulamentação. Pode ser necessário, além da bioequivalência", afirma Luciana Gomes, fiscal do ministério.
CONGESTIONAMENTO DE HOTÉIS
O alto número de projetos de hotéis apresentados em Belo Horizonte desde 2010, quando a prefeitura flexibilizou as regras de construção no setor, deve levar à desistência de alguns investidores.
Como os empreendimentos devem estar prontos antes da Copa de 2014 para se beneficiarem das novas regras, parte das propostas que ainda não foram aprovadas têm grandes chances de não sair do papel, segundo Marcello Faulhaber, secretário do desenvolvimento da cidade.
"Já licenciamos 45 dos 65 projetos apresentados, o que significará 15 mil novos leitos. Parte dos demais desistirá por falta de tempo ou por reavaliação do mercado, que mudou com o aumento da oferta", diz Faulhaber.
Com a nova legislação, os hotéis construídos na capital mineira até 2014 poderão ser mais altos e ocupar uma parte maior dos terrenos onde estarão localizados.
Após a Copa do Mundo, a Prefeitura de Belo Horizonte espera que o "turismo de eventos" mantenha a taxa de ocupação dos hotéis elevada.
"A cidade já apresenta essa tendência e passará a receber ainda mais congressos e seminários."
COBRE DEFICITÁRIO
A indústria do cobre voltou a registrar deficit na balança comercial durante os quatros primeiros meses de 2012, segundo o Sindicel (Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não Ferrosos do Estado de São Paulo).
As importações superaram as exportações em US$ 137,4 milhões (cerca de R$ 282 milhões) entre janeiro a abril deste ano.
O saldo negativo, porém, é 22,2% inferior ao registrado no mesmo período de 2011.
As exportações apresentaram alta e chegaram a US$ 231,7 milhões. As importações, por sua vez, se mantiveram em ritmo semelhante aos quatro primeiros meses de 2011, com US$ 369,1 milhões.
RETOMADA INTERNACIONAL
Dois anos após ter um de seus piores resultados na história, a empresa de recrutamento Hays começa a se recuperar e deve fechar 2012 com lucro operacional de 125 milhões de libras (cerca de
R$ 400 milhões).
"O lucro ainda será metade do obtido em 2008. Mas esse foi um ano de pico. Não temos como objetivo um resultado semelhante", diz o CEO do grupo, Alistair Cox.
Para Cox, a atual situação é até mais saudável, pois os riscos diminuíram com a queda do volume de crédito oferecido internacionalmente.
A entrada em novos mercados tem ajudado a recuperação da empresa.
Nos últimos quatro anos, a Hays passou a atuar em seis novos países -incluindo Índia e Rússia.
No Brasil, dois novos escritórios foram inaugurados. O país passou a ser o sexto mais importante do grupo e sua receita líquida cresceu 60% no ano passado.
"O Brasil serviu como uma experiência para entrarmos em outros países da América Latina", diz Cox.
A Ásia e a Oceania, porém, são hoje as grande fontes de lucro -68% do total de 2011.
A Inglaterra, país de origem do grupo, e a Irlanda geraram apenas 3,6%.
Chá gelado O Rei do Mate abrirá ao menos 20 unidades até dezembro e já fechou outros oito contratos para o próximo ano. A rede, que possui 320 unidades em 18 Estados no país, focará a expansão em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
Para as férias Os empresários Eddie e Jules Trump, que investiram US$ 400 milhões em um novo empreendimento residencial de luxo na Flórida (Estados Unidos), esperam vender entre 20% e 25% das unidades no mercado brasileiro.
Do século 19 Após investir cerca de R$ 4 milhões na reforma do Grand Hotel Minas, que funciona desde 1886, a família responsável pelo empreendimento pretende iniciar no segundo semestre de 2013 a construção de uma nova área para 80 quartos.
Passagem rápida O lançamento de um sistema de franquias de hotéis da rede BHG, previsto para o início de 2013, será de categoria supereconômica, segundo o presidente da companhia, Pieter Vader. "Será só para dormir e tomar banho."
Gestão A Fundação Nacional da Qualidade firmou parceria com o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) para melhorar a competitividade das cooperativas vinculadas à instituição. Um programa de excelência da gestão será implantado nas empresas.
Transporte A Log-In Logística Intermodal movimentou 19 mil TEUs (unidade de medida equivalente a um contêiner de 20 pés) em cabotagem no primeiro trimestre deste ano -alta de 20% ante mesmo período de 2011.
Verticalização é bom ou ruim para a cidade? - CLAUDIO BERNARDES
O ESTADÃO - 22/06
Essa pergunta é normalmente formulada por aqueles que se interessam pelo desenvolvimento saudável e estruturado da cidade de São Paulo e pela qualidade de vida de seus habitantes. Mas, ao ampliarmos a análise dessa questão, a pergunta mais adequada teria outra formulação: será a verticalização parte da solução para o equacionamento dos problemas da cidade?
Para responder a isso, todos nós, como sociedade, devemos considerar alguns aspectos fundamentais: teremos uma demanda de cerca de 30.000 novas moradias por ano na cidade; a não produção dessas unidades, na quantidade necessária, causará desequilíbrio entre oferta e demanda, o que resultará em inevitável aumento de preços, além daqueles efetivamente ligados aos custos de produção; e a localização dessas habitações na malha urbana poderá ser extremamente significativa para a questão da mobilidade.
Tais considerações nos remetem, pois, a outra indagação: como e onde produziremos 30.000 unidades habitacionais por ano na cidade de São Paulo?
Todos sabem que o crescimento da cidade, sem os devidos cuidados e planejamento, pode trazer sérias consequências para a qualidade de vida urbana. A solução mais simplista, porém destituída de embasamento técnico, seria meramente impedir a produção de novas unidades na cidade. O efeito colateral imediato dessa decisão seria transferir essa produção para municípios vizinhos. Todavia, sem a implantação de um complexo modelo de descentralização econômica ou uma total reestruturação do sistema de transportes intermunicipal, tal solução agravaria de maneira inaceitável o problema da mobilidade na cidade, impactando de modo severamente negativo a vida dos paulistanos.
Bem, se impedir a produção de novas habitações no Município não é a melhor solução, como então ofertar as unidades demandadas da forma mais adequada ao crescimento da cidade e com qualidade de vida? Primeiramente, é necessário entender o que seja "produzir da forma mais adequada ao crescimento da cidade". Em termos de mobilidade, o mais apropriado seria orientar a produção no sentido de diminuir ao máximo a necessidade de deslocamentos.
Infelizmente, não temos condições de promover em curto ou médio prazos os mais de 300 km de linhas de metrô necessários para suportar um aumento homogêneo nos diversos bairros do Município. Portanto, a alternativa é alterar o modelo de ocupação para eixos e polos que possam acomodar de forma racionalmente equilibrada as relações entre trabalho, lazer, estudo, moradia e sistemas de transporte.
Teríamos, assim, uma saída de fácil implantação. Entretanto, a cidade não dispõe de tais eixos e polos em número suficiente para que possamos acomodar a solução dessa equação.
Diante disso, é preciso aperfeiçoar os espaços que hoje temos disponíveis e, assim, promover o desejado desenvolvimento. Para tanto, não nos resta alternativa senão o adensamento, ou seja, ocupar o mesmo espaço territorial, por mais pessoas, ao mesmo tempo.
Quantas pessoas e quanto espaço? Já conhecemos a resposta a essa pergunta. Sabemos quanto vamos crescer e quanto espaço temos. Portanto, já sabemos o quanto teremos que adensar, agora e nos próximos anos. Adensar, seguramente significa verticalizar, mas não significa obrigatoriamente construir edifícios cada vez mais altos nem piorar a qualidade de vida na cidade. Existem formas de promover o mesmo adensamento em edifícios de menor altura do que aqueles que hoje produzimos. Inclusive, se adequadamente posicionados, esses novos edifícios poderão, na verdade, ajudar a cidade em termos de mobilidade.
Com o devido planejamento e visão de futuro, o adensamento pode responder a inúmeros problemas urbanos. Temos aí vários exemplos no mundo. A questão é considerá-los, adaptá-los e ajudar a melhorar a vida urbana. Afinal, todo problema enseja uma solução. Cabe ter boa vontade para encontrá-la. A verticalização não é ruim nem boa para a cidade, ela é parte da solução.
Essa pergunta é normalmente formulada por aqueles que se interessam pelo desenvolvimento saudável e estruturado da cidade de São Paulo e pela qualidade de vida de seus habitantes. Mas, ao ampliarmos a análise dessa questão, a pergunta mais adequada teria outra formulação: será a verticalização parte da solução para o equacionamento dos problemas da cidade?
Para responder a isso, todos nós, como sociedade, devemos considerar alguns aspectos fundamentais: teremos uma demanda de cerca de 30.000 novas moradias por ano na cidade; a não produção dessas unidades, na quantidade necessária, causará desequilíbrio entre oferta e demanda, o que resultará em inevitável aumento de preços, além daqueles efetivamente ligados aos custos de produção; e a localização dessas habitações na malha urbana poderá ser extremamente significativa para a questão da mobilidade.
Tais considerações nos remetem, pois, a outra indagação: como e onde produziremos 30.000 unidades habitacionais por ano na cidade de São Paulo?
Todos sabem que o crescimento da cidade, sem os devidos cuidados e planejamento, pode trazer sérias consequências para a qualidade de vida urbana. A solução mais simplista, porém destituída de embasamento técnico, seria meramente impedir a produção de novas unidades na cidade. O efeito colateral imediato dessa decisão seria transferir essa produção para municípios vizinhos. Todavia, sem a implantação de um complexo modelo de descentralização econômica ou uma total reestruturação do sistema de transportes intermunicipal, tal solução agravaria de maneira inaceitável o problema da mobilidade na cidade, impactando de modo severamente negativo a vida dos paulistanos.
Bem, se impedir a produção de novas habitações no Município não é a melhor solução, como então ofertar as unidades demandadas da forma mais adequada ao crescimento da cidade e com qualidade de vida? Primeiramente, é necessário entender o que seja "produzir da forma mais adequada ao crescimento da cidade". Em termos de mobilidade, o mais apropriado seria orientar a produção no sentido de diminuir ao máximo a necessidade de deslocamentos.
Infelizmente, não temos condições de promover em curto ou médio prazos os mais de 300 km de linhas de metrô necessários para suportar um aumento homogêneo nos diversos bairros do Município. Portanto, a alternativa é alterar o modelo de ocupação para eixos e polos que possam acomodar de forma racionalmente equilibrada as relações entre trabalho, lazer, estudo, moradia e sistemas de transporte.
Teríamos, assim, uma saída de fácil implantação. Entretanto, a cidade não dispõe de tais eixos e polos em número suficiente para que possamos acomodar a solução dessa equação.
Diante disso, é preciso aperfeiçoar os espaços que hoje temos disponíveis e, assim, promover o desejado desenvolvimento. Para tanto, não nos resta alternativa senão o adensamento, ou seja, ocupar o mesmo espaço territorial, por mais pessoas, ao mesmo tempo.
Quantas pessoas e quanto espaço? Já conhecemos a resposta a essa pergunta. Sabemos quanto vamos crescer e quanto espaço temos. Portanto, já sabemos o quanto teremos que adensar, agora e nos próximos anos. Adensar, seguramente significa verticalizar, mas não significa obrigatoriamente construir edifícios cada vez mais altos nem piorar a qualidade de vida na cidade. Existem formas de promover o mesmo adensamento em edifícios de menor altura do que aqueles que hoje produzimos. Inclusive, se adequadamente posicionados, esses novos edifícios poderão, na verdade, ajudar a cidade em termos de mobilidade.
Com o devido planejamento e visão de futuro, o adensamento pode responder a inúmeros problemas urbanos. Temos aí vários exemplos no mundo. A questão é considerá-los, adaptá-los e ajudar a melhorar a vida urbana. Afinal, todo problema enseja uma solução. Cabe ter boa vontade para encontrá-la. A verticalização não é ruim nem boa para a cidade, ela é parte da solução.
Os perigos da "boa" inflação - MÁRCIO GARCIA
Valor Econômico - 22/06
Que temos longa história de tolerar a inflação, é fato notório. No início dos anos 1960, a inflação anual, que podia beirar 20%, era tida como elemento gerador de receita (senhoriagem) fundamental para o setor público financiar o desenvolvimento. A inflação acabou aproximando-se dos três dígitos. Na ditadura militar, inicialmente, a inflação caiu, mas implantou-se a indexação, então tida em alta conta entre economistas. Na segunda metade dos anos 60, Milton Friedman elogiava a indexação como a melhor alternativa à estabilidade de preços. Mais tarde, com aumentos de preços do petróleo e megadesvalorizações cambiais, não devidamente contrarrestados pela política monetária e fiscal, a indexação nos colocou no trilho da hiperinflação, da qual só viríamos a sair mais de uma década depois, com o Plano Real.
Os alemães, que viveram sua hiperinflação há nove décadas, são ainda muito avessos à inflação, presumivelmente por conta do longínquo episódio. Aqui, entretanto, tal ojeriza à inflação parece não ocorrer, malgrado a proximidade de nossa experiência hiperinflacionária. E tal fato torna-se ainda mais preocupante quando justificativas para conviver com "um pouquinho mais de inflação" começam a tomar corpo no governo.
Em sua próxima reunião, seria oportuno o CMN reduzir a meta para inflação de 4,5% para 4%
A justificativa começa desdobrando a inflação entre inflação de serviços e demais itens. Como mostra o gráfico, a inflação de serviços tem sido sistematicamente mais elevada do que a inflação total, desde que a taxa de câmbio voltou a apreciar, após a grande crise internacional do final de 2008, que chegou a levar o dólar a R$ 2,50.
Prossegue a justificativa, alegando-se que a maior inflação de serviços adviria dos aumentos salariais para os mais pobres, que trabalham majoritariamente no setor de serviços. Assim, a maior inflação de serviços seria um efeito colateral necessário à promoção da "inclusão social".
Finalmente, a justificativa termina afirmando-se que, quando maior igualdade de renda for atingida, a inflação de serviços tenderá a cair, deixando de ser um problema.
Essa é uma narrativa muito preocupante, por várias razões. Mesmo que a associação entre melhora da distribuição de renda e inflação de serviços seja verdadeira, algo ainda a ser demonstrado, há que se cotejar esse eventual benefício com os riscos, estes, sim, muito palpáveis, da elevação da inflação, a médio prazo.
Como mostra o gráfico, a inflação brasileira apresenta sinais de "esquizofrenia": a alta inflação de serviços tem sido parcialmente contrabalançada pela deflação dos bens duráveis. Os preços dos bens duráveis têm caído porque a queda no nível de atividade global tem mantido em xeque os preços dos itens comercializáveis internacionalmente ("trabables"). Já os serviços, que não podem ser importados, têm podido aumentar seus preços frente à continuada expansão de demanda, via consumo público e privado.
A continuação do atual status quo não está, de nenhuma maneira, garantida. A recente depreciação cambial é uma das ameaças. Mesmo com preços internacionais deprimidos, os itens "tradables" tenderão a aumentar de preços em reais, se a taxa de câmbio permanecer no atual patamar ou se depreciar ainda mais. A retomada da economia mundial, ainda que improvável a curto prazo, quando vier a ocorrer, deve trazer preços mais altos dos "tradables". Com a inflação de serviços por volta de 8% ao ano, será difícil seguir cumprindo a meta de inflação, sob demanda interna aquecida.
Tais ameaças não são imediatas. Mas, por isso mesmo, é oportuno que nos preocupemos com elas agora. A hora de consertar o telhado é quando não está chovendo. Narrativas que justifiquem complacência com a inflação, não importa quão bem intencionadas, devem ser repudiadas para que não se corra o risco de repetir custosos erros passados. Também para reafirmar o compromisso com o sistema de metas para inflação, seria oportuno o CMN aprovar a redução da meta para 2014, dos atuais 4,5% para 4%, nível mais próximo das metas para inflação praticadas internacionalmente.
O vaivém das sacolas - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 22/06
O acordo firmado entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e o governo do Estado de São Paulo para limitar a distribuição de sacolas plásticas naqueles estabelecimentos inscreve-se na tendência internacional de reduzir impactos ambientais negativos gerados pelo consumo.
Fabricada a partir de derivados de petróleo, a sacolinha descartável resiste por décadas no ambiente. Em cidades como São Paulo, contribui para entupir redes de escoamento de águas, favorecendo a ocorrência de enchentes.
Segundo a Apas, a restrição adotada por seus associados -as principais redes, num total de 2.700 lojas- responde, desde abril, por uma redução de 1,1 bilhão de unidades no Estado, contra um consumo anual que seria da ordem de 6 bilhões.
Ocorre que a implementação do programa foi tumultuada, apesar do período longo de preparação -o primeiro projeto piloto foi lançado em 2010, em Jundiaí.
Com os percalços, as insatisfações da indústria do plástico, principal opositora da medida, encontraram eco entre os cidadãos que se sentiram lesados.
Um inquérito civil instaurado a partir de representação iniciada por um consumidor levou o Ministério Público e o Procon a entrarem em cena. Negociou-se, então, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pelo qual, durante 60 dias (até o início do mês de abril), supermercados da Apas se comprometiam a esclarecer os clientes sobre os novos procedimentos e a fornecer alternativas gratuitas para o porte das mercadorias.
Agora, o Conselho Superior do Ministério Público recusou, por unanimidade, homologar o acordo. Embora tenha reiterado os efeitos benéficos da restrição, o órgão entendeu -sem dúvida, com razão- que há um desequilíbrio entre os compromissos dos lojistas e os que seus consumidores se viram obrigados a assumir.
Compelido a pagar pela sacolinha ou a portar similar retornável, o cidadão arca sozinho com o ônus da proteção ao ambiente. Já o comércio, além de não ter demonstrado reduções de preços equivalentes aos custos eliminados, beneficia-se do marketing ecológico.
É de esperar, portanto, que a Apas apresente medidas para repartir com seus clientes a economia obtida, sem afetar os ganhos ambientais do acordo.
Ueba! Peixe agora só no Ceasa! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 22/06
Humor de torcida é rótulo: corintiano é marginal, são-paulino é bambi, e santista é aposentado
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Socuerro! Tô surdo até agora. Não adiantou nada o meu protetor auricular antifogos, gritos e sirenes! Meu vizinho corintiano passou a noite inteira imitando o Tarzan: "Ouuuuuuuuuuuuu!".
Eu já disse que os corintianos gastaram todo o dinheiro da mistura em fogos. Um amigo que mora na zona leste disse que lá estava parecendo Sarajevo! Rarará!
E a final da Libertadores? Acho que vai ser Boca x Meia Boca! Rarará! E aquelas promessas? Tipo: "Te pago no dia em que o Corinthians ganhar a Libertadores!".
Um amigo prometeu transar com a mulher no dia em que o Corinthians ganhar a Libertadores. "Tá bom, eu transo com você no dia em que o Corinthians ganhar a Libertadores." E agora tá DESESPERADO! Rarará!
E o Peixe? Peixe agora só no Ceasa. E o Santos jogou de Smurfs! Com aquele uniforme azul geladeira velha que a gente leva pra casa da praia! Os SMURFS!
E o que estava escrito na bunda dos santistas? Os palpites dos tuiteiros: "Tava escrito "Me chuta, Timão"". "Eu quero tchu, eu quero tchá!". "Me borrei todo com essa bola na trave!".
E diz que o jogo teve muita falta. Falta em corintiano é legitima defesa! E um amigo perguntou no meu Twitter: "Por que os corintianos ficam batendo com a caneca no arame do alambrado?". Rarará!
Não adianta. Humor de torcida é rótulo: corintiano é marginal, são-paulino é bambi, e santista é aposentado! E sofrimento é uma palavra exclusiva de corintiano. Quem usar a palavra sofrimento tem que pagar copirraite pros corintianos!
E O Neymar de Pica-pau de Chapinha? Tava preocupado com a chuva. Pra não estragar a chapinha! Rarará! Suou aquela chapinha, mas não adiantou nada!
E o meu São Paulo que deu aquela bambiada? Luto na Disney: O Bambi morreu. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E um amigo meu foi no tabelionato Cordeiro. E a atendente se chamava Rosangela da Silva BÉ! E o gandula que era corintiano e levou porrada do santista se chama Sardinha! Peixe dá voadora em Sardinha! Rarará!
E por causa da Rio+20 já tem um novo termo no futebol: chupabilidade! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Ação contra Lugo é legal, mas reflete manobra partidária - RODRIGO CAVALHEIRO
O Estado de S.Paulo - 22/06
Fernando Lugo pode ser destituído hoje menos de 24 horas depois de a Câmara iniciar o processo de impeachment. E isso ocorreria de forma legal, já que o artigo 225 da Constituição paraguaia prevê que qualquer servidor em um alto cargo que tenha desempenhado mal suas funções pode sofrer julgamento semelhante.
"Lugo vai ter direito de defesa. É verdade que os prazos são curtos, mas a ordem constitucional foi respeitada", avalia o advogado constitucionalista paraguaio Alberto Poletti, da Universidad Columbia. Segundo o especialista, em um julgamento como este o Parlamento vira um tribunal em que as preferências partidárias deveriam ficar de lado. "Eles devem levar em consideração a defesa do presidente e fundamentar sua decisão. Mas sabemos que, entre os 45 senadores, Lugo tem 2 que o apoiam. Isso nos faz deduzir que ele vai ter uma votação contrária, mas é preciso esperar a decisão", completa.
A rapidez com que o processo foi conduzido mobilizou organizações não governamentais paraguaias que consideram o processo uma manobra política. Elas alegam que os parlamentares não costumam ser tão céleres em outros temas. "O procedimento é legal, mas não é legítimo. Os parlamentares estão usando uma possibilidade legal para concretizar uma manobra política. Estão usando discricionariamente suas funções e buscando uma desculpa para um julgamento político", avalia a advogada Yenny Villalba, coordenadora da associação Pojoaju, que unifica a posição de ONGs de todo o país.
Na avaliação da organização, o julgamento político deveria se aplicar a casos de extrema gravidade. Não seria o caso do conflito entre agricultores e policiais que terminou na morte de 17 pessoas na sexta-feira. "Não tem sentido julgar o chefe do Executivo em um caso em que têm responsabilidade o Legislativo e, principalmente, o Judiciário", acrescenta Jenny. Na avaliação da advogada, a Constituição deu poder excessivo ao Legislativo, em uma tentativa de evitar um novo período de exceção. A Constituição, elaborada após o regime militar, completou 20 anos na quarta-feira.
Caso Lugo, que terminaria seu mandato em agosto de 2013, seja destituído, imediatamente assume o poder o vice-presidente. Não há direito a recurso. Neste caso, ele também perderia o direito a ser senador vitalício, cargo que o Paraguai prevê para ex-presidentes. Seria a primeira vez na história paraguaia que um julgamento político terminaria com a saída do presidente.
PTxPT - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 22/06
O PT da Bahia e o do Ceará estão brigando para fazer o próximo presidente do Banco do Nordeste. O presidente que se demitiu, Jurandir Santiago, tinha sido indicado pelo PT cearense, que quer manter o cargo. Mas para isso terá que inviabilizar a permanência do presidente interino, Paulo Ferraro, também diretor de Negócios, indicado pelo PT da Bahia. O governador Jaques Wagner faz intensas articulações no governo para efetivá-lo.
A defesa do meio ambiente e o comércio
O governo Dilma está batendo duro, nas negociações de bastidores, nas críticas dos governos europeus sobre a falta de ousadia da Rio+20. Os europeus, sobretudo os alemães, defendem que desde já seja implementada uma economia verde, com indústrias movidas à energia eólica, solar ou de lixo reciclado. A Declaração fala em 2015.
Fabrice Coffrini/AFP
Ocorre que esse objetivo, argumentam assessores brasileiros, está associado ao pioneirismo deles em novas tecnologias. Assim, na prática, os europeus querem é vender tecnologia para os emergentes. Ironizam que, mesmo para preservar o meio ambiente, eles não querem nem ouvir falar de transferência voluntária de tecnologia.
A CPI pode ser um vexame. Meu temor é de um relatório orientado politicamente" —Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado (PR) e integrante da CPI do Cachoeira
AVENIDA ABERTA. O racha entre o PT e o PSB, em Fortaleza e Recife, anima o DEM. O presidente do partido, senador José Agripino (RN), na foto, avalia que essa divisão torna competitivas as candidaturas do ex-deputado Moroni Torgan (CE) e do deputado Mendonça Filho (PE). Em Fortaleza, acredita no apoio, em caso de segundo turno contra o PT, do ex-ministro Ciro Gomes (PSB). Em Recife, a tarefa é atrair o PMDB e o PSDB.
Reforço
Diante dos problemas entre os senadores e os deputados petistas na CPI, o PT decidiu reforçar a bancada, mandando para o front o deputado Ricardo Berzoini (SP). Entra no lugar de Sibá Machado (PT-AC), que mal comparecia à comissão.
OportunoO senador Mozarildo Cavalcanti (PTB- RR) discursou em defesa da legalização dos jogos de azar. Disse que dos países da América do Sul e Central só Brasil e Cuba não permitem. Pediu e não obteve o apoio de Eduardo Suplicy (PT-SP).
O ziriguidum na Rio+20
Uma bateria formada por ritmistas de escolas do Rio fechou o show de abertura da Rio+20, na noite de anteontem. Alcione chamou ao palco a presidente Dilma, que ensaiou passos. Na pla-teia, autoridades nacionais e estrangeiras arriscaram pas-sinhos. Os gringos exultavam: “Excellent!!”. O ministro Antonio Patriota enlaçou a ministra Eleonora Meni-cucci e dançou com ela. As ministras Izabella Teixeira, Miriam Belchior, Teresa Campello, Ideli Salvatti e Helena Chagas gingaram numa rodinha. Só Gleisi Hoffmann ficou impassível.
Diretas jáA Associação dos Magistrados Brasileiros deflagrou campanha pelas eleições diretas para escolher os presidentes dos tribunais estaduais e regionais federais. Os eleitores: os ju-ízes do primeira instância e os desembargadores.
Sem padrinho
Os procuradores dos estados pressionam o Congresso para aprovar PEC que dá autonomia administrativa ao órgão. Não querem mais que o procurador-geral seja uma escolha dos governadores, mas proveniente de lista tríplice.
O MINISTRO Aloizio Mercadante (Educação) está sendo chamado por seus colegas de Esplanada de “primeiro-ministro”. Os motivos: o número de viagens que faz com a presidente Dilma e o quanto ele opina sobre a pasta dos demais ministros.
A DELEGAÇÃO da China é a maior da Rio+20. São 500 pessoas. No domingo, promoveram recepção num hotel, em que dezenas de modelos brasileiras foram contratadas para desfilar com roupas made in China.
O GOVERNO brasileiro dá de ombros com o ceticismo diante dos resultados da Rio+20. Alega que esta foi a leitura predominante da mídia na Rio 92.
O PT da Bahia e o do Ceará estão brigando para fazer o próximo presidente do Banco do Nordeste. O presidente que se demitiu, Jurandir Santiago, tinha sido indicado pelo PT cearense, que quer manter o cargo. Mas para isso terá que inviabilizar a permanência do presidente interino, Paulo Ferraro, também diretor de Negócios, indicado pelo PT da Bahia. O governador Jaques Wagner faz intensas articulações no governo para efetivá-lo.
A defesa do meio ambiente e o comércio
O governo Dilma está batendo duro, nas negociações de bastidores, nas críticas dos governos europeus sobre a falta de ousadia da Rio+20. Os europeus, sobretudo os alemães, defendem que desde já seja implementada uma economia verde, com indústrias movidas à energia eólica, solar ou de lixo reciclado. A Declaração fala em 2015.
Fabrice Coffrini/AFP
Ocorre que esse objetivo, argumentam assessores brasileiros, está associado ao pioneirismo deles em novas tecnologias. Assim, na prática, os europeus querem é vender tecnologia para os emergentes. Ironizam que, mesmo para preservar o meio ambiente, eles não querem nem ouvir falar de transferência voluntária de tecnologia.
A CPI pode ser um vexame. Meu temor é de um relatório orientado politicamente" —Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado (PR) e integrante da CPI do Cachoeira
AVENIDA ABERTA. O racha entre o PT e o PSB, em Fortaleza e Recife, anima o DEM. O presidente do partido, senador José Agripino (RN), na foto, avalia que essa divisão torna competitivas as candidaturas do ex-deputado Moroni Torgan (CE) e do deputado Mendonça Filho (PE). Em Fortaleza, acredita no apoio, em caso de segundo turno contra o PT, do ex-ministro Ciro Gomes (PSB). Em Recife, a tarefa é atrair o PMDB e o PSDB.
Reforço
Diante dos problemas entre os senadores e os deputados petistas na CPI, o PT decidiu reforçar a bancada, mandando para o front o deputado Ricardo Berzoini (SP). Entra no lugar de Sibá Machado (PT-AC), que mal comparecia à comissão.
OportunoO senador Mozarildo Cavalcanti (PTB- RR) discursou em defesa da legalização dos jogos de azar. Disse que dos países da América do Sul e Central só Brasil e Cuba não permitem. Pediu e não obteve o apoio de Eduardo Suplicy (PT-SP).
O ziriguidum na Rio+20
Uma bateria formada por ritmistas de escolas do Rio fechou o show de abertura da Rio+20, na noite de anteontem. Alcione chamou ao palco a presidente Dilma, que ensaiou passos. Na pla-teia, autoridades nacionais e estrangeiras arriscaram pas-sinhos. Os gringos exultavam: “Excellent!!”. O ministro Antonio Patriota enlaçou a ministra Eleonora Meni-cucci e dançou com ela. As ministras Izabella Teixeira, Miriam Belchior, Teresa Campello, Ideli Salvatti e Helena Chagas gingaram numa rodinha. Só Gleisi Hoffmann ficou impassível.
Diretas jáA Associação dos Magistrados Brasileiros deflagrou campanha pelas eleições diretas para escolher os presidentes dos tribunais estaduais e regionais federais. Os eleitores: os ju-ízes do primeira instância e os desembargadores.
Sem padrinho
Os procuradores dos estados pressionam o Congresso para aprovar PEC que dá autonomia administrativa ao órgão. Não querem mais que o procurador-geral seja uma escolha dos governadores, mas proveniente de lista tríplice.
O MINISTRO Aloizio Mercadante (Educação) está sendo chamado por seus colegas de Esplanada de “primeiro-ministro”. Os motivos: o número de viagens que faz com a presidente Dilma e o quanto ele opina sobre a pasta dos demais ministros.
A DELEGAÇÃO da China é a maior da Rio+20. São 500 pessoas. No domingo, promoveram recepção num hotel, em que dezenas de modelos brasileiras foram contratadas para desfilar com roupas made in China.
O GOVERNO brasileiro dá de ombros com o ceticismo diante dos resultados da Rio+20. Alega que esta foi a leitura predominante da mídia na Rio 92.
Como quem rouba - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 22/06
Rápido como quem rouba, é expressão usada para definir a celeridade de atos em geral finórios.
Com todo respeito que o ato não merece, nessa categoria se enquadra a decisão de comissão especial da Câmara dos Deputados que transfere da Presidência da República ao Congresso o poder de fixar o teto salarial do funcionalismo público, e vincula os proventos dos parlamentares aos vencimentos dos ministros doSupremo Tribunal Federal.
Isso no espaço de meia hora, na semana de suspensão de atividades no Parlamento - entre as quais a CPI do Cachoeira - em função da conferência Rio+20, no momento em que o País olhava a foto de Lula reverenciando Maluf nos jardins na Rua Costa Rica enquanto o anfitrião afaga paternalmente os recém-repaginados cabelos de Fernando Haddad.
Reportagem precisa e detalhada de Denise Madueño publicada ontem no Estado mostra que, na prática, tal decisão anula as duas reformas administrativas feitas pelos governos Fernando Henrique e Lula nas esferas federal, estadual e municipal.
O Poder Executivo perde a prerrogativa de cortar valores acima do teto (hoje em R$ 26.723,13) e o Legislativo passa a dar a regra sem o desconforto de sanção ou veto por parte de quem administra o Orçamento.
Ficam livres o Congresso Nacional, as assembleias legislativas e as câmaras municipais para autorizar o acúmulo de vantagens (salários adicionais e aposentadorias, por exemplo) como bem lhes aprouver.
À exceção de quem paga a conta, saem ganhando todos os que labutam pela volta do império dos marajás. Ao Congresso, por exemplo, bastará fixar um teto "delta x" aos salários do Supremo para que tenha automaticamente assegurado o próprio reajuste sem a necessidade da desgastante discussão a respeito.
Agora mesmo tramita na Câmara projeto de aumento dos salários dos magistrados para R$ 32.147,90 com efeito retroativo a janeiro de 2012. Ou seja, aprovando a vinculação de vencimentos, suas excelências pegam o mesmo bonde.
Um escândalo que só não é mais escandaloso porque dificilmente uma coisa dessa passa por duas votações em plenário da Câmara e outras duas no Senado, em função da reação que provocará.
Sobrará apenas mais um desgaste imenso que poderia ser evitado se o Poder Legislativo, ou parte dele, não vivesse completamente apartado da sociedade, voltado para suas mesquinhas, minúsculas, degradantes e inúteis espertezas.
Só empurrando. Apesar de toda a repercussão negativa da recusa da CPI em convocar Fernando Cavendish, o PMDB continua decidido a votar contra.
Principalmente se o PT resolver o mesmo. Mas, se os petistas mudarem e convocarem, os pemedebistas não carregarão sozinhos esse andor.
Falatório. Diante da foto mais famosa do Brasil vem à mente frase de Lula sobre os vídeos do então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, assessores e parlamentares recebendo maços de dinheiro de investigados pela polícia por corrupção.
"As imagens não falam por si", disse ele em dezembro de 2009.
O problema é que falam e falam alto.
Como falaram as imagens da dinheirama apreendida na empresa de Roseana Sarney em 2002, de Waldomiro Diniz e Carlos Cachoeira em 2004, dos dólares na cueca de dirigente petista em 2005, do funcionário dos Correios recebendo propina no mesmo ano, do pacote de R$ 1,9 milhão pego na posse dos "aloprados" em 2006.
Ah, bom. Ainda a propósito da aliança, passou batida uma declaração do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho: "Houve uma troca (de cargos), como tem havido em qualquer negociação. Não houve dinheiro".
Não lhe tendo sido perguntado se houve e como se fosse admissível pensar que tivesse havido, Carvalho aventou hipótese com jeito de ato falho.
Talk-show tucano - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 22/06
Empenhado em mostrar que o "novo" não será monopólio da campanha do PT, José Serra prepara convenção com formato distinto das tradicionais para domingo. Sem palco, o tucano ficará num tablado baixo, com visão de 360º da plateia -modelo similar ao norte-americano. Telão de LED exibirá vinhetas e tuítes. Balões, papel picado e bastões infláveis comporão o cenário. Na arquibancada do ginásio Mauro Pinheiro um bandeirão será aberto tão logo Serra discurse.
Stamina Durante a solenidade, para a qual são esperadas 3.000 pessoas, deve ser apresentada uma das logomarcas oficiais da campanha. Arredondada e com a letra "S" no centro, assemelha-se ao símbolo de um super-herói. "É o Super Serra", brinca um tucano.
Memória Como forma de reverenciar FHC, os tucanos homenagearão Ruth Cardoso, cuja morte completa quatro anos exatamente no domingo. No mesmo ato será lembrado o legado de Paulo Renato Souza, ex-ministro que morreu há um ano.
Dois tempos Enquanto Michel Temer defende que Gabriel Chalita (PMDB) escolha seu vice hoje para anunciá-lo na convenção de domingo, o entorno do pré-candidato prefere esperar até o dia 30 e manter a vaga aberta para eventual composição com o PC do B, hoje mais próximo de Fernando Haddad.
DNA O namoro PT-PTB, estimulado sobretudo pelo pré-candidato Luiz Flávio D'Urso, causa apreensão no governo paulista. Ao contrário dos neoaliados PSB e PP, os petebistas têm laço histórico com Geraldo Alckmin, que teme ser responsabilizado pela nova defecção.
Gibi De um petista animado com a ultrapassagem de Haddad sobre Serra no tempo de TV na campanha: "Com menos tempo e um prefeito impopular será que vão exibir o Kassabinho desta vez?".
Jogada... A campanha agora aberta do Planalto pela candidatura do ministro Edison Lobão (Minas e Energia) à presidência do Senado dividiu o PMDB. Parlamentares veem com bons olhos a volta de Lobão, apoiado por José Sarney, mas não como imposição de Dilma Rousseff.
...arriscada Peemedebistas dizem que Lobão deve antecipar a sua volta ao Senado para cuidar da campanha e pode substituir Eduardo Braga (AM) na liderança do governo. "Ele não vai deixar o ministério para ser apenas senador'', diz um colega.
Comportas 1 Diante da decisão do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), de que medidas provisórias só trancarão a pauta da Casa depois de aprovadas por comissão especial, deputados anunciam a partir de segunda-feira a "semana sem lei''.
Comportas 2 Líderes querem incluir na pauta projetos polêmicos, como o fim do fator previdenciário, para pressionar o governo às vésperas do prazo final para liberação de emendas pela lei eleitoral. "É a tensão pré-emenda'', ironiza um aliado.
Cara na porta Advogados que têm feito romaria aos gabinetes de ministros do STF para entregar memoriais de defesa dos réus do mensalão não conseguem ser atendidos pelo relator Joaquim Barbosa, que nunca recebe defensores para despachos.
Extradição O governo vai endurecer a reação contra a greve de funcionários do Itamaraty, iniciada segunda-feira. Embaixadas foram orientadas a cortar ponto.
Veja bem O MEC nega que o assessor especial Carlos Ramiro esteja envolvido na negociação da greve nas universidades federais.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
DO DEPUTADO FELIPE MAIA (DEM-RN), membro da Comissão de Orçamento, sobre a liberação maciça de emendas para partidos da base em junho.
contraponto
O céu é o limite
Um assessor que passava pelo local comentou:
-Este, sim, é literalmente um protesto de "sem-teto". Sem teto salarial...
Assalto ao trem pagador - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 22/06
Quanto vale um político? Roga-se ao leitor que leve a pergunta a sério, embora ele tenha montanhas de motivos para pensar numa resposta que seria impublicável. Na esfera privada, o mercado avalia mais ou menos a paga a que um profissional pode aspirar. Ela espelha, também com variados graus de fidelidade, a importância de sua atividade para o sistema econômico e social. Exprime ainda a relação entre a abundância ou a escassez dos produtores de bens e prestadores de serviços e o tamanho da demanda por eles. E reflete, evidentemente, as diferentes aptidões individuais, a experiência e outros atributos valorizados pelas empresas ou pessoas que os requisitam. Como, porém, mensurar o que seria o "salário justo" de um político?
A resposta será sempre imprecisa, à falta de um valor de mercado que resulte daquelas e de outras variáveis, no âmbito da sociedade civil (por oposição à sociedade política, integrada pelos detentores de cargos em todos os nichos dos Três Poderes). Ainda assim, três aspectos devem ser lembrados. Um é que a democracia é um brinquedo caro e que vale o quanto pesa no bolso do contribuinte, ao menos enquanto as instituições democráticas e os seus ocupantes não se tornem disfuncionais para além de qualquer reparo - o que não se verifica no Brasil. O segundo aspecto é o ganho médio da população assalariada ou autoempregada em atividades que requeiram um mínimo de formação e especialização. E o terceiro é a proporção do gasto com os representantes eleitos nos orçamentos do setor público, municipais, estaduais e federais.
Por esses critérios de avaliação, os políticos brasileiros não são nem mais nem menos bem pagos que seus pares dos países comparáveis ao Brasil. Deve-se enfatizar esse ponto para denunciar, com base na argumentação objetiva que o precedeu - e não apenas a partir da indignação cívica -, o assalto ao trem pagador que se planeja no Congresso Nacional. Trata-se da emenda constitucional aprovada em questão de meia hora numa comissão especial da Câmara, que acaba em todos os níveis da Federação com o teto salarial dos servidores. Hoje este não pode superar os R$ 26.723,13 dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente da República perde para o Legislativo o poder exclusivo de fixar o maior salário na área pública. A paga básica dos parlamentares acompanhará a dos magistrados.
O golpe é transparente - para perverter o termo usado no contexto do aperfeiçoamento democrático. A vingar o assalto, os políticos se livrarão do desgaste de aprovar aumentos salariais em benefício próprio: bastará majorar os vencimentos dos titulares do Supremo e o cofre do Congresso se abrirá automaticamente na mesma medida. Por via das dúvidas, os parlamentares pretendem desde logo elevar para R$ 32.147,90 a paga dos ministros. Os aumentos no STF, como se sabe, produzem efeito cascata de alto a baixo no Judiciário. Para que não se acuse de egoísmo os seus autores e apoiadores, a manobra favorecerá também a cúpula do Executivo. O impacto da lambança nas contas públicas ainda não foi estimado. O certo é que diminuirá o controle do presidente, governadores e prefeitos sobre seus orçamentos.
É bom não esquecer de que o bolo que os políticos rateiam entre si já leva a cobertura indecorosa das "verbas indenizatórias", que incluem as despesas com a manutenção de escritórios em seus Estados, cujos funcionários são, sem tirar nem pôr, cabos eleitorais pagos pelo público - já não bastassem as pencas de servidores e apaniguados nos seus gabinetes parlamentares.
No Senado, os gastos dos políticos com a sua saúde e a da família imediata - quaisquer que tenham sido e onde quer que tenham ocorrido - são reembolsados. Com seis meses de exercício do mandato, o senador adquire a prerrogativa que não só é vitalícia, mas também hereditária: estende-se ao cônjuge até a sua morte. Em um único mês de 2007, um senador apresentou uma conta de R$ 740 mil.
A desfaçatez campeia. No Amapá, as verbas indenizatórias dos seus 24 deputados - R$ 50 mil mensais - são as mais altas do País. No ano passado, só com diárias de viagem, cada um gastou, em média, R$ 125 mil.
Sem entalar - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 22/06
RIO DE JANEIRO - O ex-presidente Lula está saindo de um difícil tratamento contra um tumor na laringe, em que se submeteu a muitas sessões de rádio e quimioterapia.
Por sorte, não precisou passar por uma cirurgia, mas o rigor dos procedimentos é evidente. Sua histórica barba, por exemplo, está sumida, e não por sua opção -ela deixa de crescer na área atingida pela radiação. Mas o pior é a dor que, segundo o noticiário, ele continua a sentir para engolir sólidos e mesmo água ou saliva.
A rádio provoca também a destruição de glândulas salivares, o que leva à boca seca. Esta dificulta a fala (obriga a ter sempre um copo d"água à mão, para umedecer os lábios e a língua) e, de novo, a deglutição. Uma consequência desse tratamento é o permanente risco de o paciente entalar com alimento que tenha engolido sem mastigar direito -quase sempre, carne.
Daí a surpresa diante da atitude de Lula ao se aliar ao deputado Paulo Maluf (PP-SP) em prol de seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Não pela aliança em si -afinal, Lula já acomodou figuras como Fernando Collor e José Sarney em seu cardápio-, mas pela aparente facilidade com que, ao contrário de água ou saliva, ele conseguiu fazer o ex-arqui-inimigo lhe descer pela glote.
Vê-se que, em nome de seu projeto político, Lula consegue engolir até um bife de Tiranossaurus rex. Se isso é um crédito à sua capacidade de recuperação, talvez seja mais difícil de ser assimilado pelas pessoas que sempre acharam Maluf intragável e não têm o estômago de Lula.
O tratamento do ex-presidente, ao contrário do que dizem, ainda não terminou. É importante chegar intacto ao fim do primeiro ano, no qual o risco de recidiva, inclusive nos órgãos próximos, é sempre maior. Mas, pelo menos em termos políticos, Lula sente-se imune a contaminações.
RIO DE JANEIRO - O ex-presidente Lula está saindo de um difícil tratamento contra um tumor na laringe, em que se submeteu a muitas sessões de rádio e quimioterapia.
Por sorte, não precisou passar por uma cirurgia, mas o rigor dos procedimentos é evidente. Sua histórica barba, por exemplo, está sumida, e não por sua opção -ela deixa de crescer na área atingida pela radiação. Mas o pior é a dor que, segundo o noticiário, ele continua a sentir para engolir sólidos e mesmo água ou saliva.
A rádio provoca também a destruição de glândulas salivares, o que leva à boca seca. Esta dificulta a fala (obriga a ter sempre um copo d"água à mão, para umedecer os lábios e a língua) e, de novo, a deglutição. Uma consequência desse tratamento é o permanente risco de o paciente entalar com alimento que tenha engolido sem mastigar direito -quase sempre, carne.
Daí a surpresa diante da atitude de Lula ao se aliar ao deputado Paulo Maluf (PP-SP) em prol de seu candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Não pela aliança em si -afinal, Lula já acomodou figuras como Fernando Collor e José Sarney em seu cardápio-, mas pela aparente facilidade com que, ao contrário de água ou saliva, ele conseguiu fazer o ex-arqui-inimigo lhe descer pela glote.
Vê-se que, em nome de seu projeto político, Lula consegue engolir até um bife de Tiranossaurus rex. Se isso é um crédito à sua capacidade de recuperação, talvez seja mais difícil de ser assimilado pelas pessoas que sempre acharam Maluf intragável e não têm o estômago de Lula.
O tratamento do ex-presidente, ao contrário do que dizem, ainda não terminou. É importante chegar intacto ao fim do primeiro ano, no qual o risco de recidiva, inclusive nos órgãos próximos, é sempre maior. Mas, pelo menos em termos políticos, Lula sente-se imune a contaminações.