terça-feira, abril 24, 2012

Até onde, até quando - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 24/04/12


Os episódios de corrupção no Brasil emendam-se uns nos outros, em uma inflação de imoralidade


Até os pequenos intervalos estão extintos. Os episódios de corrupção emendam-se uns nos outros, em uma inflação de imoralidade com a qual o país convive, e à qual se adapta, como peça natural dos seus costumes, tal como fez com as décadas de inflação monetária. Havia, então, o sentimento abafado de que se vivia uma situação a caminho do seu limite. E agora: até onde e até quando seguirá a degradação que se espraiou pelo país todo? A tendência histórica é alguma forma de estouro.
A dimensão de escândalo está reservada aos episódios gerados por Brasília. Em parte, por motivos políticos; em parte, por estar cada vez mais reduzida, nesta fase dos meios de comunicação, a sua função informativa. Mas, com variações de grau decorrentes, sobretudo, das circunstâncias locais, os episódios da degradação multiplicam-se pelo país todo, em escândalos proporcionais ao seu meio.
Os escândalos, porém, vão ficando menos escandalosos. O caso que envolve Carlinhos Cachoeira com o senador Demóstenes Torres e um montante ainda impreciso de congressistas, e portanto com o Congresso; mais governantes de Goiás e do próprio Distrito Federal, empresas, empresários e bilhões de dinheiro público, com tudo isso só tem provocado piadinhas. Vá lá, e algum espanto, creditável ao senador Demóstenes. Indignação, nenhuma.
O que aconteceu no primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff dispensaria qualquer outro exemplo para caracterizar a situação. Seis ministros, representantes de partidos componentes do Congresso Nacional, tiveram que ser destituídos já nos primeiros meses do governo, a bem da moralidade administrativa. Foram-se, e pronto. Tudo ficou como se não significasse coisa alguma. E não merecesse nem um tempinho de reflexão ou debate, sobre suas causas e sentidos, por uns quantos doutores, cientistas, professores, intelectuais.
"É a impunidade, eles sabem que ficarão impunes, é preciso acabar com a impunidade" -aí está a explicação geral. Automática. Definitiva. E vazia. Não, a impunidade não é causa. É parte suplementar da degradação, associada à corrupção mesma -a qual, aliás, veio antes da impunidade, que lhe deu seguimento, uma extensão com a mesma origem, a mesma função e o mesmo propósito.
Até onde irá o colar de episódios escabrosos que se estende e ramifica, em uma ocupação sem resistências? Até quando o dinheiro público será saqueado pela pirataria das obras, das compras, dos contratos de serviço? Em vez de servir às necessidades da população que o proporcionou aos cofres oficiais.
Até onde, até quando.

Efeito mariposa - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 24/04/12


São basicamente de dois tipos as expectativas existentes entre os parlamentares sobre a CPI mista que começa nesta semana a investigar as parcerias públicas e privadas das organizações Cachoeira de armações ilimitadas.

Há quem acredite que a comissão morra na praia por força de acordo entre as diversas forças políticas envolvidas e há quem aposte na possibilidade de uma investigação controlada, restrita aos fatos já apurados, e paulatinamente divulgados, pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.

Em ambos os grupos o que mais se ouve é o chamamento à "precaução" a fim de que a CPI não "espalhe lama" por todo lado e não lance luz muito forte à zona sombria onde negócios se misturam com política.

O deputado Miro Teixeira, indicado pelo PDT, vai por outra linha: não vê hipótese de acordos - "a não ser que os signatários queiram se desmoralizar perante a opinião pública" -, acha que a comissão deve trabalhar justamente sobre fatos que a PF ainda não desvendou e considera essa história de cautela um contrassenso em relação aos objetivos da CPI.

"Se precaução deve haver é contra a mentira, o banditismo e o uso da comissão como palco daquelas mariposas que estão em busca de notoriedade para fazer jogo político", diz ele.

Neste aspecto revela uma preocupação com a participação de líderes partidários que pelo regimento têm direito à palavra a qualquer tempo, mesmo sem integrar a CPI.

"São 27 partidos e se não houver algum tipo de limitação aos discursos meramente políticos feitos em busca de notoriedade, será um inferno, o pior dos mundos para as investigações."

Em décadas de mandato, Miro Teixeira só integrou duas CPIs, a dos anões do orçamento e a que resultou no processo de impeachment contra o então presidente Fernando Collor. "Não sou um cepeista."

Aceitou participar da que agora se inicia porque vê nela uma peculiaridade interessante: "Começa por onde as outras terminam, o que oferece uma oportunidade concreta de avanço".

Explica-se: uma CPI quando acaba normalmente faz um relatório a ser encaminhado para a Polícia Federal e o Ministério Público para investigações, aberturas de inquéritos e, se for o caso, de processos.

No caso atual tanto a PF quanto o MP já têm prontas as investigações. Na opinião de Miro Teixeira, a CPI deve, então, tentar ir adiante, "até aonde a polícia e os procuradores por alguma razão não conseguiram chegar".

O deputado cita exemplos que são objetos de solicitações a serem feitas por ele: "Por que ninguém ainda pediu à Justiça a indisponibilidade dos bens de Carlos Cachoeira, Demóstenes Torres e Fernando Cavendish?".

Qual a importância disso? "Primeiro porque os bens podem ser produto de crime, segundo porque a indisponibilidade restringe a área de manobra deles e dificulta possíveis subornos e, terceiro, porque possibilita a recuperação do dinheiro pelo poder público."

Outro caminho a ser explorado seria o dos negócios de Cachoeira no setor de medicamentos. "A obtenção de licenças para registro e fabricação de remédios pode ter sido feita conforme as regras, mas também pode não ter sido, é preciso averiguar."

Acha importante também requisitar os autos de outra operação da Polícia Federal, chamada Vegas, também sobre redes de jogo ilegal e que deu origem à Operação Monte Carlo.

Fundamental, na visão dele, é que a CPI tenha o auxílio de uma "força-tarefa" composta por integrantes da PF, do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União para orientar a comissão sobre pontos ainda não esclarecidos e que possam levar o trabalho a uma eficácia real.

"Dados que nos levem, por exemplo, a responder por que um empresário como Cavendish consegue contratos com tanta facilidade e ainda diz que faz isso pagando políticos?"

Tudo muito bonito e bem intencionado, mas quem garante que essa CPI não terá o destino de tantas outras fracassadas? "O êxito nunca é garantido, principalmente em 100%, mas, ou se acredita e trabalha ou não se faz nada porque para trabalhar é preciso primeiro acreditar."

Contraponto necessário - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 24/04/12


O vergonhoso bate-boca entre os ministros Cezar Pelusoe Joaquim Barbosa não pode ser caracterizado como uma crise institucional, mas que afeta a imagem do Supremo Tribunal Federal, isso afeta. Não interfere em nada nos julgamentos futuros, entre eles o do mensalão, mas se não houver uma superação desse mal-estar, qualquer decisão importante que o Supremo venha a tomar pode ficar prejudicada pela falta de credibilidade.

A decisão não perde a eficácia legal, mas se a percepção da opinião pública for de que a última instância do Poder Judiciário não merece mais respeito, o prejuízo político para a cidadania será imenso.

No momento em que o Poder Legislativo toma decisões corporativas que são escandalosas aos olhos da população e sofre com uma crise política que será aprofundada com a CPI do Cachoeira, o Supremo tem sido o contraponto institucional à força cada vez maior do Executivo.

A preocupação com uma eventual desmoralização do Supremo aumenta diante do poder, real e imaginário, da Presidência da República.

A presidente Dilma, com os índices de popularidade que vem alcançando, vai dando continuidade, pormeio de outros atributos, à
presidência imperial de Lula, que confrontava o Judiciário com críticas públicas e subjugava o Legislativo com benesses a seus membros.

Na polêmica entrevista ao Consultor Jurídico, em que criticou seu confrade Joaquim Barbosa, o ministro Peluso também fez uma análise do nosso sistema presidencialista, afirmando que “o Poder Executivo no Brasil não é republicano. É imperial. Temos um Executivo muito autoritário”.

Ele se referia ao aumento salarial do Judiciário, que a presidente Dilma não autorizou. “Mandei ofícios à presidente Dilma Rousseff citando precedentes, dizendo que o Executivo não poderia mexer na proposta orçamentária do Judiciário, que é um poder independente, quem poderia divergir era o Congresso. Ela simplesmente ignorou”.

Segundo Peluso na entrevista, o Congresso chegou a ensaiar certa independência, “mas o poder de fogo do Executivo é grande, eles acabaram não tomando atitude, curvando-se ao toma lá dá cá”.

Chama-se hiperpresidencialismo o regime em que o Executivo abarca todos os poderes do Estado, diante de outros poderes subjugados.

Mesmo tendo a maioria de seus ministros indicados por governos da mesma tendência política, o Supremo tem se mostrado de uma independência vital para a democracia brasileira, e a última coisa que poderia acontecer é sua perda de credibilidade.

Ao contrário de outros países, o governo não tem usado essas nomeações para tentar manipular as decisões do Supremo, ao mesmo tempo em que o caráter vitalício do mandato dá aos juízes a independência indispensável para a função.

Diferentemente dos Estados Unidos, aqui o ministro do Supremo tem que se aposentar compulsoriamente aos 70 anos, mas isso não desfigura a vitaliciedade, que no Direito significa que a perda do cargo só se dará mediante decisão do Judiciário, não bastando um processo administrativo.

O PT no poder há nove anos e quatro meses já nomeou 11 ministros do Supremo, e hoje existem apenas três deles que foram nomeados em outros governos: Celso de Mello, por Sarney; Marco Aurélio Mello, por Collor; e Gilmar Mendes, por Fernando Henrique.

O ex-presidente Lula reagiu assim, em entrevista recente, sobre suas indicações para o Supremo: “A gente não pode indicar as pessoas pensando na próxima votação na Suprema Corte. A gente não pode indicar uma pessoa pensando nos processos que vão ter contra o presidente da República. Você tem que indicar a pessoa pensando o seguinte: se a pessoa é ou não competente para exercer aquele cargo. E tem gente de direita, gente de esquerda”. Uma posição perfeita, que se confirma na prática, já que Lula nomeou para o STF um ministro “de direita”, Carlos Alberto Direito (já falecido), e alguns “de esquerda”.

Muito embora não tenha sido tão imparcial assim o tempo todo, pois se sabe de pelo menos uma vez em que o presidente Lula telefonou pessoalmente para um ministro que acabara de nomear reclamando de um voto seu.

Há quem veja o hiperpresidencialismo como nada menos que uma ditadura disfarçada, cujos limites para a ditadura de fato é a liberdade de imprensa, que geralmente não existe em países que já adotam esse sistema de governo, como na Venezuela e na Rússia.

Os estudiosos dos sistemas de governo dizem que a fragmentação partidária pode levar a que o Executivo estimule uma maioria circunstancial que favoreça a aprovação de sistemas autoritários, como aconteceu na Rússia.

O mesmo fenômeno acontece na América Latina, com governos de países como a Venezuela, o Equador e a Argentina, se utilizando dos mecanismos democráticos para aprovar leis que lhes conferem superpoderes, colocando o Executivo acima dos outros poderes, fazendo com que o sistema democrático perca sua característica de contrapesos.

Não é o que ocorre no Brasil, pois nenhuma legislação foi aprovada para alterar a composição do Supremo e nem o Legislativo foi obrigado a não analisar a pertinência das medidas provisórias, por exemplo.

Mas a desmoralização dos demais poderes da República pode levar ao mesmo resultado.

A eleição francesa guarda ainda algumas indefinições do eleitorado. Os quase 20% da Frente Nacional de Marine Le Pen, por exemplo, são votos da extremadireita ou em grande parte são votos de protesto?

Não é razoável que eleitores de extrema-direita convictos votem no segundo turno em François Holande, mas se o tamanho da Frente Nacional estiver inflado pela desilusão do eleitorado, é possível que esses votos migrem para o PS, ou então esses eleitores simplesmente desistam de votar.

Desse enigma depende a sorte de Sarkozy no segundo turno.

A estupidez da inteligência - VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE SP - 24/04/12


"Uma das lições que Hitler deixou é como, às vezes, é estúpido ser inteligente." Eis uma frase de Adorno e Horkheimer que os franceses deveriam meditar. Os filósofos de Frankfurt aludiam a essas explicações articuladas e cheias de dados que provavam, de maneira absolutamente convincente, a impossibilidade dos nazistas chegarem ao poder na Alemanha.
Em 2002, após o resultado das eleições francesas que colocou a extrema direita de Jean-Marie Le Pen no segundo turno, lembro-me de ouvir explicações da mesma natureza.
Um professor universitário amigo demonstrava, por exemplo, que o problema todo fora a inépcia do governo socialista em marcar eleição em época de feriado escolar, o que teria aumentado a abstenção dos professores.
Como no caso de Adorno e Horkheimer, ninguém queria ver o óbvio, a saber, que havia uma enorme faixa de eleitores racistas, xenófobos dispostos a, agora, falar em voz alta. Faixa que devia ser combatida como prioridade política número um, em vez de "analisarmos sem preconceitos".
Exatos dez anos depois, um fenômeno semelhante acontece. Agora, a França é o país europeu que tem a extrema direita mais forte (17,9% para sua candidata, Marine Le Pen).
No entanto esse número é muito maior, já que seu presidente, Nicolas Sarkozy, é daqueles que não sente dor no coração quando mobiliza os sentimentos mais baixos da população (como a islamofobia, a caça a ciganos e os discursos sobre "o homem africano que não entrou na história").
O verdadeiro objetivo maior dessa eleição era retirar a Frente Nacional da posição de definidor da pauta do debate político. O único candidato que compreendera isso foi o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que levou uma batalha solitária contra os temas da extrema direita e em favor de uma sociedade mestiça. Ele chegou a aparecer em terceiro lugar nas pesquisas, mas perdeu fôlego na reta final.
A razão para tal esgotamento lança luz sobre a estupidez da inteligência. Um dos traços maiores dessa eleição foi a exposição da inutilidade dos intelectuais.
Em vez de insistir na importância de retirar a Frente Nacional da cena política, os mais midiáticos se deleitaram em atirar contra Mélenchon e seus traços "jacobinos" (como o fez Michel Onfray e os verdes) ou fazer pregação suicida pelo voto nulo (como o fez Alain Badiou), como se estivéssemos em 68, com suas brigas entre a esquerda libertária, os comunistas e a miríade de grupelhos.
Com isso, os intelectuais de esquerda só serviram para desmobilizar e fazer vista grossa diante de uma catástrofe anunciada. Prova de que a inteligência é sempre a última a ver o abismo. Há de perguntar quem precisa de inteligência parecida.

Timão Frangão! Granja do Tite! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/04/12


Musiquinha: "Boi, boi, boi/ Boi da cara preta/ O Corinthians era líder/ E perdeu pra Ponte Preta"

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha esta placa no Walmart de Cotia (SP): "Parcelamos seu bacalhau em 10 Xs". E o pensamento do dia: "O melhor lugar pra comer gambá é na ponte".
E o Joel Santana vai ser demitido em inglês: "You're fired!". "O quê? Eu tô pegando fogo?" Rarará! E adorei o Galvão Urubueno na F1: "O Vettel vai subir no pódio e fazer o número um". Ufa, pensei que era o número dois! Vettel faz o número dois no pódio! E o Massa, na pista! Rarará!
Oba! Hoje é dia de zoar o Timão! Timão Frangão! E a musiquinha que uma menina botou no meu Twitter: "Boi, boi, boi/ Boi da cara preta/ O Corinthians era líder/ E perdeu pra Ponte Preta".
E aí um corintiano ligou: "Alô, é do Campeonato Paulista? O Corinthians está?". "Estava, mas acabou de sair." Ops, de cair. Rarará! E este Júlio César tava com fome, viu? Engoliu três Big McChicken de oito andares! Avícola Júlio César! Timão Frangão! A Granja do Tite! Troca a Jontex pelo Frango da Sadia!
E o melhor goleiro do mundo é a cueca: segura duas bolas e um atacante. Mas não conta pro Tite, senão ele pendura a cueca no gol! Rarará! E o Adriano no "Cansástico"? Elogiando São Paulo: "Uma das cidades que melhor se come". A geladeira do Corinthians que o diga!
Eu acho que ele pegou o guia dos restaurantes do Ronalducho! E São Paulo é mesmo a capital da gastronomia: todo mundo come todo mundo. E reparou que paulista come espaguete sem fazer barulho? Paulista come espaguete em silêncio!
E o Palmeiras? A porcada virou pernil. E o primeiro torcedor que aparecer num posto com a camisa do Palmeiras ganha uma lavagem grátis. Só que tem que comer no local. Rarará! E sabe por que eles querem virar a mesa? Porque só tem perna de pau! Rarará!
Como dizia o palmeirense Gonçalves Dias: "Minha terra TINHA Palmeiras!". Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
E o Flamengo? Ops, o Barmengo! FLA quer dizer Férias Literalmente Antecipadas! E tão dizendo que a Patrícia Amorim vai fazer um episódio de "As Brasileiras", da Globo: "A Eliminada da Gávea"! Rarará!
E o site Futebol Falado lançou o curso de férias do Flamengo: "Inglês Básico com o Papai Joel!" "Fla is eliminated, but the life have continuar." Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MAIOR AMOR DO MUNDO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 24/04/12


O ator Reynaldo Gianecchini foi fotografado com a mãe, Heloisa Helena, em sua casa, para a exposição "Eternamente Mãe"; a mostra será inaugurada nesta quinta-feira, no shopping VillaLobos

RETRATO DA RUA
O número de moradores de rua em SP cresceu cerca de 6% entre 2009 e 2011. É o que aponta censo encomendado pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Eram 13.666 pessoas em 2009 e 14.478 no ano passado.

FAMÍLIA
A maior parte dos moradores (53%) está em albergues da prefeitura. E houve aumento de 9% no número dos que aceitaram abrigo. Vinte crianças continuam nas ruas da região central -todas, diz o estudo, com os pais.

FAMÍLIA 2
O levantamento foi feito em novembro, antes da operação da polícia na cracolândia. Na ocasião, 50 mulheres disseram estar grávidas.

AL MARE
O deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP) vai oficializar sua pré-candidatura a prefeito do Guarujá (SP). Diz estar conversando com PSDB, DEM, PT, PTB e PDT. E já ensaia um slogan: "Guaru já! Protógenes tem pressa!".

COMANDO
Orlando Ferreira Neto, ex-diretor da Embraer, será o presidente da AG Defesa e Segurança, parceria da Andrade Gutierrez com a francesa Thales para atuar nessa área no Brasil.

EU FICO
E a Andrade recebeu ordem de serviço da Prefeitura de SP para começar o prolongamento da avenida Roberto Marinho até a Imigrantes -coisa de R$ 400 milhões. O Estado de SP representa 35% dos negócios da construtora na esfera pública. A empresa, que passou por reestruturação recente, diz que manterá seus escritórios na capital.

EU FICO 2
Ainda a Andrade: ela permanece no Maracanã, por enquanto. Tudo depende da negociação com a Odebrecht e com o governo do Rio em relação à parcela que cada uma das duas empreiteiras herdará da construtora Delta. Envolvida no escândalo Cachoeira, a empresa já anunciou que abandonará as obras.

RÉGUA
E a Delta já estuda demitir funcionários. Ela emprega hoje 25 mil pessoas. Em entrevista à Folha, seu dono, Fernando Cavendish, disse que a empresa pode "quebrar".

OURO PURO
Um fotógrafo clicava convidados ao lado de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) no jantar da posse de Carlos Ayres Britto, na quinta. Depois, informava: "São R$ 100 por sete imagens".

É DOS CARECAS
O ator Marcello Antony está careca. Ele raspou a cabeça para ser o protagonista da peça "Macbeth", com direção de Gabriel Villela.

NÃO SOU EU
Maitê Proença denuncia o perfil falso com seu nome no Twitter que elogia Dilma Rousseff. Mas, à coluna, fala bem da presidente: "Tô muito satisfeita. Gosto da maneira como ela faz as coisas sem querer se promover".

EU, HEIN!
Maitê desmente também a afirmação do perfil de que brigou com José Serra (PSDB-SP), a quem apoiou em 2010 para presidente. "Eu, hein! Tá me indispondo com o Serra. Não tem imbróglio nenhum." A conta mentirosa tem 30 mil seguidores. "No ano passado, avisei ao Twitter e tiraram do ar a conta. Agora, voltou. Não tenho nem Twitter nem Facebook."

PLANTÃO MÉDICO
O Estado de SP vai criar 280 vagas de residência médica, com investimento de R$ 11,3 milhões.

DEDICATÓRIA
O lançamento do livro de Cesare Battisti, "Ao Pé do Muro" (ed. Martins Fontes), cancelado na semana passada na Livraria da Vila, acontecerá nesta quinta na USP, no anfiteatro da Geografia.

GARIMPO DE TELAS
Roberto e Alfredo Setubal, do Itaú, foram à abertura para convidados da exposição "Di - Alguns Inesquecíveis", organizada por Paulo Kuczynski, no Escritório de Arte. Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte, Maria Anna do Valle Pereira, colecionadora, e Paulo von Poser, artista, passaram por lá.

CURTO CIRCUITO

Ricardo Napoleão e Danilo Dal Farra darão no domingo, das 11h às 15h, na Casa das Caldeiras, workshop gratuito sobre música, teatro físico e comédia, voltado a atores.

O livro "Um Caminho de Flores" terá lançamentos amanhã, às 19h, na Saraiva do shopping Paulista, e na quinta, às 18h30, na Casa de Cultura Japonesa (USP).

Luan Santana lança o disco "Quando Chega a Noite" com show na quinta, no Villa Country. Classificação: 18 anos.

Bruno & Marrone se apresentam amanhã, às 22h30, no Villa Mix. Classificação: 18 anos.

A Domno lança hoje, na ExpoVinis, um champanhe com ouro comestível.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

O 'x' da questão - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 24/04/12


A grande questão a ser respondida hoje, na abertura dos trabalhos da CPI do Cachoeira, é quem será o relator. Num dia de intensa negociação, ontem, o preferido do ex-presidente Lula, o ex-líder do governo Candido Vaccarezza (PT-SP), era praticamente descartado como opção. As apostas se concentravam, no Planalto e no Congresso, em Paulo Teixeira (SP) ou em Odair Cunha (MG), os preferidos de Dilma Rousseff.
Caberá ao relator ditar o roteiro da CPI, que já começa a ser traçado antes mesmo da escolha, pelo governo. A ideia é circunscrever ao máximo a apuração à oposição, deixando fornecedores e aliados governistas de fora.

A céu aberto Em um diálogo interceptado pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, um irmão de Carlinhos Cachoeira, Marcos, relata a Gleyb, integrante do esquema, que uma pessoa lhe pediu R$ 5.000 para ser laranja. Gleyb diz: "Que laranja cara, rapaz!". Marco complementa: "Põe cara nisso. Nem paulista é desse jeito''.

Tô fora Por conta da amizade com Demóstenes Torres (GO), o promotor Tito Amaral, um dos membros do Conselho Nacional do Ministério Público, declarou-se impedido de qualquer julgamento envolvendo o senador.

Nota musical O inquérito da PF mostra uma conexão curiosa: Sebastião de Almeida Ramos Júnior, um dos sócios de Cachoeira em uma empresa sob investigação, também tem sociedade com o cantor Amado Batista em outra firma, não investigada, de produções e publicidade.

Caixa Além dos milhões do Dnit, a Delta recebeu R$ 7,7 milhões neste ano do Ministério da Integração Nacional para obras da transposição do São Francisco.

Veja bem Do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), sobre riscos de respingos do caso Cachoeira/Delta em Goiás: "Não preocupa, já conversamos o que precisávamos com o Marconi Perillo".

Dominó 1 A cidade capixaba de Presidente Kennedy, epicentro da Operação Lee Oswald da PF, sobre fraudes em licitações, vive uma situação inusitada: todas as autoridades na linha sucessória do prefeito Reginaldo Quinta (PTB), preso pela PF, não podem assumir o posto.

Dominó 2 O ex-vice-prefeito, Edson Nogueira, foi cassado anteriormente. O governador Renato Casagrande (PSB) deverá nomear um interventor, referendado pela Assembleia Legislativa.

Faxina O ministro Aldo Rebelo (Esporte) exonerou discretamente na semana passada o ex-secretário-executivo na gestão Orlando Silva, Waldemar de Souza, que tinha sido encostado em outra função na pasta.

Safra Auditoria da CGU (Controladoria-Geral da União) apontou irregularidades e indícios de superfaturamento num contrato da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para obras num armazém em Uberlândia (MG). O prejuízo detectado foi de R$ 12 milhões.

Pente... Procuradores do Ministério Público de Contas lançarão amanhã uma campanha nacional pela autonomia do órgão. O objetivo é chamar atenção para o que chamam de onda de corrupção nos tribunais do país.

...fino No Tribunal de Contas do Amapá, por exemplo, 5 dos 7 conselheiros respondem a processos por crimes que vão de lavagem de dinheiro a peculato e nepotismo. Em Roraima, três conselheiros, incluindo o presidente, respondem por crime contra o sistema financeiro.

com SILVIO NAVARRO e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Se Kassab tivesse dedicado seu tempo a cuidar de São Paulo, e não apenas a seus projetos políticos, a população teria tido de fato um prefeito, e não apenas 30% de um."
DO DEPUTADO FEDERAL GABRIEL CHALITA, pré-candidato a prefeito da capital pelo PMDB, sobre o fato de o prefeito Gilberto Kassab (PSD) ter cumprido apenas um terço das metas de governo fixadas por ele no começo do mandato.

Contraponto

Data venia

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, criminalista disputado por políticos em Brasília, participava de um almoço no domingo com defensores e ex-ministros do Supremo Tribunal Federal em que o assunto eram as recentes desavenças entre membros da Corte.
Um comensal quis saber se Kakay, que representa o senador Demóstenes Torres no inquérito da Operação Monte Carlo, dava razão a Cezar Peluso ou a Joaquim Barbosa.
-Como advogado no Supremo há 30 anos, não devo me meter. Só posso falar que os dois têm razão, respondeu. 

Manual de sobrevivência na CPI - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 24/04/12


Há oito anos, escrevi um artigo sobre o "Se..." de políticos sob suspeita, em vaga homenagem ao poema celebre de Rudyard Kipling de 1910. Estávamos às vésperas de uma CPI. Agora estamos diante de outra CPI, inédita, autofágica, uma espécie de banho de descarrego de todos contra todos. Creio que tem sido tanta a vergonha dos escândalos, tão forte a repulsa da opinião pública que, estranhamente, os congressistas resolveram se purgar em público, em um ritual coletivo de "purificação". Estão arrependidos, porque cederam a um impulso inconsciente e vão deparar com mil crimes insuspeitados sobre a voraz corrupção que atinge todos os empreendimentos privados com grana pública. Todos. Por isso, repito e atualizo esse texto para hoje, pois mudaram as circunstâncias, mas os delitos e as negações continuam iguais. Veremos um replay, mas creio que essa CPI é bem "contemporânea" e atende a uma demanda da vida atual: a democracia, a imprensa livre, o crescimento econômico e cultural criaram uma nova "ética de mercado", rejeitando a mixaria de antigas ladroagens feudais.

O que devem fazer os acusados para escapar? Sigam o manual de instruções do bom corrupto: "Se puderes manter a cabeça erguida, quando todos te acusarem, chamando-te de 'corrupto', por te terem pegado com a mão na cumbuca, se mantiveres a aparente dignidade, com sorrisos de mofa diante de provas inabaláveis do teu crime e disseres com voz serena: 'Tudo é uma infâmia de meus inimigos políticos' ou 'Não me lembro se esta loura de coxas douradas foi minha secretária ou não...', se disseres isso sem suar, sem desmanchar a gravata, com roupas impecáveis que não revelem o esterco que te vai na alma, se fores capaz de chorar diante da CPI, ostentando arrependimento profundo, usando filhos, pais, pátria, tudo para se livrar... e, sobretudo, se puderes construir uma ideologia que te justifique e absolva, de modo que os atos mais sujos ganhem uma luz de beleza política, se puderes dourar tua pílula, colorir teus crimes, musicar teus grunhidos, de modo que possas mentir com fé, trair sem remorsos e roubar com júbilo, se puderes convencer a ti mesmo de que Cristo (também injustiçado) compreende teus pecados e te perdoa, se puderes crer que tens direito de roubar o povo para vingar uma infância pobre, ou porque tua mãe foi lavadeira e prostituta para pagar teu diploma fajuto de business administration, se acreditares mesmo que tens direito de trair ou tascar granas ou inventar precatórios ou superfaturar remédios de criancinhas com câncer porque também sofreste como menino comido por garotão mais forte no porão da tua infância, dor e delícia sempre negadas por teu machismo compensatório, se acreditares que a mutreta, a maracutaia, a 'mão grande', o 'me dá o meu aí' tem algo de transgressão pós-moderna, algo de Robin Hood para si mesmo, como dizes, na piada 'há há... eu roubo dos ricos para o pobre aqui...', ou se, convocando uma ideologia conservadora, pensas que a roubalheira sempre houve na humanidade, ou seja, que metes a mão por uma poética saudade do passado, como se ama uma antiguidade, um vaso Ming ou um abajur art decô ou se, em homenagem ao populismo tradicional, plagiares antigos slogans 'ademaristas' e, pensando em teus viadutos superorçados, disseres baixo a ti mesmo: 'Roubo, mas faço...' enquanto enfias a língua na orelha da lobista gostosa ao teu lado no 'Piantella' de porre e feliz ou se justificares tua fortuna escrota por motivos mais científicos, invocando Darwin ou Spencer, declarando que o animal humano sobrevive pela agressão e competição ('survival for the fittest') e que, portanto, assim como o chimpanzé ataca o mico-leão e o jacaré come o veado, também cumpres a ordem natural das coisas: 'Roubo, sim, pois isso está inscrito no genoma dos hominídeos...' ou mesmo, se mais filosófico, lamentares melancolicamente que 'acabou o tempo das utopias...' ou 'a vida é a ilusão dos sentidos' e, portanto, 'roubo, sim, e caguei...' ou ainda, se num gesto de superioridade literária, invocando ladrões poéticos como Villon ou Jean Genet, assumires tua fisionomia de rato ou de preá, tua carinha embochechada por anos de uisquinhos, licores, pudins, babas de moça, se puderes erguer o queixo diante do espelho ou diante de amigos como fez o grande (raro gesto) Arruda e o inesquecível PC que cunhou a frase eterna '10% é pra garçom...', se te orgulhares de tua esperteza e, de cuecas diante do espelho, enquanto a amante se lava no banheiro, berrares em júbilo: 'Eta garoto bão, espertalhaço!', ou seja, se diante de si e do mundo, puderes enfunar a barrigona cheia de merda e dizer: 'Sou ladrão, sim, mas quem não é?' ou 'podem me acusar, mas quem tem este Renoir?', se puderes cultivar todos esses méritos, se puderes justificar com serenidade tua vida de estelionatos, pequenos furtos, orelhas de traficantes ou até mesmo de esquartejamentos com motosserras ('Esquartejo, sim, mas por bons motivos...'), se puderes fazer tudo isso, confiante nos teus advogados sempre alertas como escoteiros na pilhagem nacional, confiante na absoluta conivência de rituais jurídicos que sempre te livrarão da cadeia enquanto os pardos pobres apodrecem nas celas com aids e 'quentinhas' superfaturadas pelo marido da perua louca, e se, além da confiança na cega Justiça, no manto negro dos desembargadores que sempre te acolherão, se, além deste remanso, deste consolo que te encoraja, roubares mesmo, no duro, por amor, por paixão, por desejo sexual, pela bruta tesão de acumular o máximo de dólares para nada, pela fome de lanchas, jatos, putas, coberturas, Miami, Paris e se, com fé e coragem, reconheceres esse prazer com orgulho e sem remorsos, então, eu te direi, com certeza, que vais herdar a Terra toda com todos os dinheiros públicos dentro e, mais que isso, eu te direi que serás, sim, impune para sempre, um extraordinário exemplo do canalha brasileiro, meu filho!!..."

Dúvida francesa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/04/12

A França parou de crescer, o desemprego subiu, a dívida aumentou com a crise de 64% para 87% do PIB, o gasto público é alto e os impostos já são bem elevados. Governar o país nos próximos cinco anos não será fácil, mas a esquerda e a direita disputarão ferozmente nestas duas semanas até o segundo turno. O quadro que saiu das urnas é favorável ao Partido Socialista de François Hollande. A incerteza continuará até a eleição parlamentar.

A decisão a ser tomada pelo eleitorado francês no dia 6 de maio não encerra a definição de como será o governo. Como a França é um regime semipresidencialista, o Parlamento tem muito poder. Se Hollande ganhar, mas não conseguir maioria no legislativo, terá que se formar um governo que eles chamam de coabitação, em que a governabilidade é ainda mais difícil. Por outro lado, quem negocia com a Europa é o presidente. O interlocutor de Angela Merkel no comando da crise mudará se o Partido Socialista ganhar. Hollande já se posicionou contra propostas que foram firmadas entre os dois países.

A diferença de percentual de votos entre François Hollande e Nicolas Sarkozy foi muito pequena no primeiro turno, mas Hollande sai como favorito nesta corrida final. A primeira vantagem será na distribuição de votos. Os 10% de Jean-Luc Mélenchon, de extrema-esquerda, devem ir quase integralmente para Hollande, que deve ficar também com 1/3 dos votos do partido de centro de François Bayrou, e outro terço deve se abster. A espantosa votação de 18% de Marine Le Pen vai preferencialmente para Sarkozy, mas uma parte vai se abster, e outra parte tende a votar na esquerda. Nem todo voto de Le Pen é ideológico. Um percentual é de protesto.

Sarkozy fez ontem acenos aos eleitores de Le Pen. Para atrair os votos ideológicos da Frente Nacional, ele terá que ir mais para a direita, o que o fará perder votos do centro. Já Hollande poderá caminhar para o centro.

A segunda vantagem de Hollande é o desgaste de Sarkozy depois de cinco anos de governo. Tem ainda a maldição da crise, que está derrubando governos em toda a Europa. Já tiveram que entregar seus cargos para a oposição o britânico Gordon Brown, o grego Papandreau, o espanhol Zapatero. Caiu também o governo italiano de Berlusconi.

Sarkozy pode crescer no debate, porque Hollande é conhecido por sua falta de carisma. Por isso, o presidente atual propôs três confrontos. Hollande quer apenas um.

Para ajustar as contas, os dois candidatos prometeram aumentar os impostos sobre os mais ricos, só que Hollande chegou a falar em 75%, o que é muito até para um país acostumado com altas alíquotas de Imposto de Renda. A diferença entre os dois é de quem cobrar e de que forma recolher esse imposto extra que recairia sobre grandes empresas e os mais ricos. Os dois prometeram construir mais habitação para reduzir o preço dos imóveis.

Na educação, Hollande promete criar 60 mil postos de trabalho; já Sarkozy promete não renovar 50% das vagas de professores que forem se aposentando, exceto os do ensino fundamental. Para criar mais empregos, Hollande quer eliminar incentivos fiscais às horas extras e dar incentivo fiscal para a empresa que contratar jovens. Sarkozy quer implementar o que ele chama de pactos de competitividade entre empregadores e trabalhadores. Nenhum dos dois tem proposta convincente para enfrentar o desemprego, que era de 7% antes da crise e agora está em 10%, e entre jovens é 21%. Nenhum dos dois prometeu reformas estruturais que realmente enfrentem a crise.

O banco francês BNP Paribas analisou os programas dos candidatos. Sarkozy promete colocar as contas em ordem até 2016, com dois terços do ajuste via cortes de gastos e um terço por aumento de receita. Hollande quer um ano a mais de tempo e tem estratégia que depende mais do crescimento econômico porque metade do seu ajuste será por aumento de arrecadação. Mas eles não detalharam onde passarão a tesoura. O ajuste será difícil porque a economia está crescendo pouco. O BNP projeta alta de 0,5% este ano e 1% em 2013. Isso deve elevar o desemprego para 10,6%.

Ontem foi dia de queda das bolsas e a França era um dos motivos, mas não o único. O mundo está mais pessimista e o dia foi de somar preocupações. Na Holanda, o primeiro-ministro não teve consenso para as medidas de austeridade e renunciou. O PMI da Zona do Euro - índice das intenções de compra dos gerentes das empresas, que antecipa a atividade industrial - mostrou contração. Da China vieram números da produção industrial que dividiram opinião no mercado: alguns analistas acham que não foram tão ruins, outros lembram que não mostram retomada do crescimento. O PIB da Espanha fechou no negativo o primeiro trimestre do ano, levando o país à recessão. A França também divulgou números negativos na indústria, mostrando que está se confirmando o cenário de estagnação. A incerteza no país ainda permanecerá por algum tempo, e se Hollande ganhar haverá uma dose a mais de dúvida até que se saiba como afinal ele governará. Todas essas notícias ruins somadas, as bolsas caíram.

É nesse contexto que acontecem as eleições francesas, que têm roteiro de romance de suspense. Tudo começou com a prisão de Dominique Strauss-Khan, do Partido Socialista, por acusação de estupro de uma camareira em Nova York, quando ele liderava as pesquisas com 60% das intenções de voto. As duas próximas semanas serão emocionantes na França.

É só não ir - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

Para o brasileiro comum só existe um problema de verdade nas relações entre Brasil e Estados Unidos: o visto de entrada. Muito pouca gente perde o sono por causa do “tsunami” de dólares do qual tanto fala a presidente Dilma Rousseff em seus discursos internacionais — um assunto que, francamente, já começa a encher a paciência. Fora o governo, para quem Cuba é o país mais importante do mundo, quase ninguém se interessa pelas rixas entre americanos e cubanos, ou pelo apoio que o Brasil dá a nações como Irã, Síria e outros desafetos dos Estados Unidos. Que diabo isso tudo teria a ver com a sua vida? Seria bom, talvez, que a presidente Dilma falasse um pouco menos dessas coisas, para não ficar parecendo aquele tipo de pessoa que não muda de ideia e não muda de assunto. Mas, para o cidadão que existe na vida real, tanto faz. O que lhe interessa mesmo é a questão do visto, e nenhuma outra. Pode soar esquisito, mas o fato é que para um número cada vez maior de brasileiros o visto de entrada nos Estados Unidos passou a ser hoje um dos problemas da vida.

O sujeito já tem complicações suficientes no seu dia a dia — profissionais, familiares, financeiras, afetivas, de saúde, com o seu time de futebol. Por que acabou permitindo que a isso tudo viesse se somar o calvário atualmente exigido para a obtenção do visto americano?

Nada parece capaz de deter a ânsia de levar a criançada para Orlando ou a patroa para comprar roupa de cama nos outlets de Nova York. Cerca de 1,5 milhão de brasileiros viajaram para os Estados Unidos no ano passado; no último mês de março, o total de vistos foi 60% superior ao de 2011. Muitos nem percebem, mas já começam a mostrar sintomas de obsessão; têm orgulho, por exemplo, de exibir o carimbo do visto em seu passaporte, como se tivessem recebido um diploma de honra ao mérito.

Parece haver no ar, ultimamente, alguma perspectiva de melhora na situação. Pouco tempo atrás, o presidente Barack Obama, em pessoa, pediu um aumento “de 40%” na capacidade de emissão de vistos para brasileiros. Já para este mês de maio, pretende-se iniciar um programa destinado a selecionar o grande total de 150 homens de negócios brasileiros (isso mesmo; 150) e permitir que passem por uma espécie de fila rápida no desembarque em solo americano; se der tudo certo, daqui a um ano o número desses bem-aventurados pode chegar a 1500. Na recente viagem da presidente Dilma aos Estados Unidos, anunciou-se a abertura de mais dois consulados no Brasil — para 2014. Por fim, foi mencionada a possibilidade de que em algum dia, no futuro, os cidadãos brasileiros sejam dispensados do visto de entrada nos Estados Unidos, como já se faz em relação a países classe “A” da Europa. Supõe-se, para tanto, que o Brasil precise ficar mais parecido com os países classe “A” da Europa — e só Deus sabe quando isso vai acontecer.

Até lá o brasileiro que quiser viajar para os Estados Unidos continuará se submetendo à humilhação de ter seu passaporte retido por quinze dias nos consulados americanos quando pedir o visto — algo que nenhuma autoridade brasileira tem o direito de fazer sem autorização judicial. É possível que tenha de apresentar sua movimentação bancária nos últimos noventa dias; nem a Receita Federal exige uma coisa dessas. Proíbe-se a entrada de celulares nos consulados, como se faz nas penitenciárias. Há a exigência de entrevistas pessoais, pelas quais é preciso esperar durante meses.

Ao chegar aos Estados Unidos, o brasileiro é, com frequência, recebido com hostilidade. Vê-se obrigado a responder a perguntas abusivas, ou se faz insultar pelos agentes do Departamento de Imigração. São comuns episódios claros de racismo. Se no guichê de apresentação do passaporte o agente é negro, o visitante branco arrisca-se a ser tratado com mau humor, má vontade e má educação, e o mesmo acontece se o visitante é negro (ou do “tipo brasileiro”) e o agente é branco; em qualquer dos casos, o que olham é para a cor da sua pele. A mensagem disso tudo é clara: “Você não é bem-vindo aos Estados Unidos; não queremos estrangeiros por aqui”. Entre os desejos do presidente Obama e as realidades do homem de farda no aeroporto há um mundo de diferença.

Contra isso tudo só existe uma vacina 100% eficaz, e disponível para todos os brasileiros que não são obrigados, por motivos diversos, a ir para os Estados Unidos: não viajar mais para lá. Qualquer um, é claro, tem o direito de engolir humilhações. Mas não deve esperar simpatia, se insiste em passear num país onde não querem ver a sua cara.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 24/04/12


Empresa cria contrato para energia industrial ociosa

A Brix, plataforma eletrônica de negociação de energia elétrica, que tem Eike Batista como um dos sócios, vai lançar um novo tipo de contrato para o setor.

O produto aparece como alternativa a uma demanda antiga feita pelo mercado livre de energia industrial ao governo.

A legislação brasileira não permite a comercialização do excedente, ou seja, de uma parcela de energia contratada pelo consumidor que eventualmente não seja usada, por motivos como uma queda de produção não planejada, por exemplo.

"Há anos pedimos que o governo regulamente isso", diz Luciano Pacheco, da Abrace (que reúne consumidores).

Se a regulação não permite que o consumidor venda a parte da energia comprada mas não usada, o novo contrato permite que ele, inicialmente, só a "reserve".

O fechamento da compra só ocorre quando as informações sobre a quantidade de consumo estiverem mais próximas do volume efetivo, sem que a legislação seja desrespeitada.

O contrato, chamado de "flex", será destinado a negócios com energia de fonte convencional e vai oferecer 50% de flexibilidade mensal em relação ao volume originalmente contratado, segundo Marcelo Mello, da Brix.

"Ele concilia as incertezas referentes ao consumo efetivo com a impossibilidade de venda de eventuais excedentes de energia", afirma.

LUZ DISSIPADA

A Philips prevê para 2016 o início da disseminação do uso de lâmpadas LED entre os consumidores brasileiros.

A previsão da empresa é que o preço do produto comece a cair dentro de dois ou três anos.

Com durabilidade até 24 vezes maior que as incandescentes e 40 vezes mais cara, a lâmpada LED tem seu mercado hoje restrito a empresas e à administração pública.

"Em lugares públicos, o LED gera uma economia média de 40%. Mas pode chegar a 80% dependendo da tecnologia", diz o presidente da Philips na América Latina, Marcos Bicudo.

No final do ano passado, a produção de luminárias LED na fábrica da Philips em Varginha (MG) correspondia a 40% do total.

A expectativa da empresa, no entanto, era que esse número não ultrapassasse os 30%.

As vendas globais de LED da companhia cresceram 22% no primeiro trimestre do ano, ante mesmo período de 2011. Elas representam 16% das vendas totais de iluminação.

Otimismo A Alemanha é o país com melhor expectativa econômica na União Europeia e o único com indicador positivo em março (7,2 pontos), segundo estudo da GfK. Na França, o índice é de -10,4 (ante -54,2 em novembro). Os últimos são os tchecos, com -62,7.

Emprego no varejo O Grupo Pão de Açúcar informa que pretende contratar 20 mil novos empregados no país em 2012. As vagas serão distribuídas em todos os Estados onde o grupo atua, entre as marcas Pão de Açúcar, Assai, Extra, sedes administrativas e outros.

Em obras A construção civil gerou 123,3 mil novos empregos com carteira assinada no primeiro trimestre no país, segundo o SindusCon-SP (sindicato do setor). A expansão, de 3,88% ante dezembro, era prevista devido às obras já contratadas, mas é cedo para dizer que o mesmo ritmo de crescimento será mantido no ano, segundo a entidade.

NÚMEROS

123,3 mil foram os empregos gerados no 1º tri pela construção

3,3 milhões era o volume de trabalhadores empregados no país no fim de março

RETOMADA PARA ELES
Com a retomada econômica nos EUA, os homens estão recuperando postos de trabalho em um ritmo muito mais rápido que as mulheres.

Segundo estudo do Pew Research Center, a taxa de desemprego entre os homens era de 4,7% no quarto trimestre de 2007, alcançou um pico de 10,7% no mesmo período de 2009 e diminuiu para 8,6% no final de 2011.

Já entre as mulheres, a taxa evoluiu de 4,5% em 2007 para 8,3% em 2009 e 8% em 2011, considerando sempre o último trimestre de cada ano.

O estudo também mostra que o aumento da taxa de emprego entre as mulheres (0,9%) foi inferior ao próprio crescimento populacional do grupo (1,5%).

Crédito foi fraco em março - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 24/04/12

Banca estatal já respondia por dois terços do aumento do crédito desde outubro. Terá fôlego para mais?


O CRÉDITO PARA pessoas físicas não deve ter crescido quase nada em março. Sim, maio já está aí, mas apenas nesta semana sai o balanço oficial das operações de crédito daquele mês. A estimativa do março murcho foi divulgada ontem pelos economistas da Febraban, a associação nacional dos bancos.

Abril terá sido muito melhor? Ao menos na propaganda, os bancos públicos teriam começado a pisar no acelerador na segunda semana do mês. Os privados, na terceira semana, se tanto. Mas desde outubro de 2011 já eram as instituições financeiras estatais que vinham liderando a concessão de empréstimos.

Entre o fim de setembro e fevereiro, os estatais responderam por cerca de dois terços do aumento do estoque de crédito (do aumento total do dinheiro emprestado e não pago no período).

Nos 12 meses anteriores, a situação era mais ou menos "normal". Os bancos privados respondiam por pouco mais da metade do aumento do estoque de crédito.

A campanha de Dilma Rousseff contra os juros altos foi detonada quando o governo percebeu que a recuperação econômica não viria no primeiro trimestre de 2012. A presidente e seus economistas atribuíram parte do marasmo à lerdeza dos bancos privados e à alta das taxas de juros verificada desde novembro, na contramão da taxa básica, a Selic, que caía desde agosto.

Teria sido possível virar o jogo ainda em abril?

A pergunta tem mais interesse político do que econômico. Não será o comportamento mais ou menos agressivo dos bancos em um ou dois meses que vai determinar o crescimento da economia neste ano. Mas o resultado da campanha do governo contra a banca privada pode dizer alguma coisa sobre as condições da concorrência no setor bancário e alterar a "correlação de forças" do debate político-econômico.

Isto é, se houver mais crédito e juros menores depois da "bronca" da presidente e da campanha da banca estatal, o governo e os adeptos de políticas mais intervencionistas vão ficar por cima da carne seca.

Não se trata de dizer que o governo terá provado que todas as suas queixas tinham fundamento.

De fato, entre o fim de 2011 e o início de 2012 os bancos estatais e os privados estavam se comportando mais ou menos como entre 2008 e 2009, meses de crise muito feia no mundo e de medo no Brasil. Os estatais seguraram a peteca da economia; os privados se retraíram.

Mas em 2008-09 houve seca forte de crédito externo, as indústrias demitiam em massa, havia boatos sobre bancos micados no Brasil e não era então absurdo pensar que haveria depressão mundial.

No fim do ano passado o ambiente ficou tenso na finança do mundo. O medo foi grande o bastante até para intimidar o investimento de empresas aqui do Brasil. Porém é um exagero quase ridículo comparar o terror de 2008 com o susto de 2011. De resto, o crédito no fim de 2011 crescia ainda a 18% ao ano, em termos nominais.

Os bancos privados dizem que inadimplência alta e persistente, perspectiva de crescimento mais baixo e redução da demanda (da capacidade de endividamento do consumidor) foram os motivos da retranca no início de 2012 e da alta de juros. Mas tal situação ainda não havia mudado muito até abril.

A transição na Previdência - FABIO GIAMBIAGI


O GLOBO - 24/04/12


Para abordar o tema do texto de hoje, parte da minha série de artigos sobre a necessidade de reformar a Previdência Social no Brasil, vou me valer de duas citações de dois dos políticos brasileiros mais importantes da pós-redemocratização. A primeira é de Ulysses Guimarães, que dizia que "há ocasiões em que não basta fazer o que se pode; tem-se que fazer o que é preciso". A segunda, especificamente sobre o tema deste artigo, é do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que certa vez fez esta interessante análise: "Maquiavel dizia que os problemas políticos, em seu início, são difíceis de ser percebidos e fáceis de resolver, ao passo que, quando se torna fácil percebê-los, já então é difícil resolvê-los. O dito se aplica ao problema previdenciário no Brasil." A frase não poderia ser mais precisa.

O que se espera dos verdadeiros líderes políticos é que eles apontem o caminho pelo qual o país deve transitar, mesmo que às vezes isso implique mudar a opinião que a população faz acerca de algum tema. Na Inglaterra, ficou famosa a frase de Margaret Thatcher de que "consenso é a negação da liderança". E, aqui no Brasil, Fernando Henrique Cardoso liderou uma agenda de modernização do país - fim dos monopólios estatais no petróleo e nas comunicações, reforma do Estado, Proer, Lei de Responsabilidade Fiscal, ajuste fiscal etc. -enfrentando a oposição feroz do PT e, em alguns casos, de parte expressiva da opinião pública, modernização essa cujos efeitos positivos se fazem sentir até agora.

Está na hora de a liderança política do Brasil propor uma agenda previdenciária, sem o que o caminho para a prosperidade das gerações futuras será certamente mais difícil. Como ingredientes dessa possível agenda, defendi aqui em artigos anteriores, além de uma revisão da política de reajustes do salário mínimo - a partir de 2015, o que porém não impede aprovar a medida antes -, a adoção de uma regra dura de aposentadoria para os chamados "novos entrantes" no mercado de trabalho, moldada para as condições demográficas e a maior expectativa de vida previstas para a altura de meados do século atual.

No artigo de hoje, quero defender um outro ponto dessa agenda: a aprovação de uma regra de transição das condições de aposentadoria para aqueles que já estão no mercado de trabalho. Vez por outra, algum político desavisado, querendo se mostrar atento à necessidade de reformas, mas sem querer correr qualquer risco de perda de popularidade, aparece com o seguinte chavão: "Precisamos adotar uma regra para a aposentadoria, mas só para os novos trabalhadores, pois não devemos sacrificar aqueles que já se encontram no mercado de trabalho." Sob a auréola do "politicamente correto", a frase é na verdade uma tremenda tolice, pois implica tratar da mesma forma um jovem recém-saído da adolescência no seu primeiro emprego e um senhor que depois de 34 anos e 11 meses de contribuição está a ponto de se aposentar.

Para entender melhor a natureza da questão, é útil dividir a sociedade em três grupos. O primeiro é o dos idosos. A este a reforma da Previdência não se aplica, pois o respeito ao direito adquirido é algo sagrado e nada vai mudar para eles. O segundo é o outro extremo da distribuição etária: as crianças e os adolescentes. Estes ainda não assinaram o "contrato social", não estão ainda sujeitos a uma regra e portanto não há entrave algum em mudar a regra para eles. O problema político da reforma da Previdência está em como lidar com o terceiro grupo social: aqueles que já estão na ativa e ainda não se aposentaram. O segredo para este grupo é tratar desigualmente os desiguais e implementar uma transição que implique ter uma regra tão mais próxima da regra futura quanto mais jovem for a pessoa e tão mais próxima da regra atual quanto maior tiver sido o tempo de contribuição prévio do indivíduo. Assim, quem tiver ingressado há pouco tempo no mercado de trabalho teria que ter um tempo de contribuição muito similar ao que será exigido, pela nova regra, de quem ainda não ingressou no mercado; e quem estiver perto de se aposentar teria que trabalhar apenas poucos meses a mais. Trata-se de uma transição suave, perfeitamente defensável e que pode ser compreendida por todos. Vale a pena explorar a ideia.

Mais dos mais ricos - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 24/04/12


Toda crise financeira apresenta à sociedade uma enorme conta a pagar. E o primeiro impulso é sempre cobrar mais dos mais ricos. O problema é que não é fácil colocar em prática um projeto que, muitas vezes, traz mais prejuízos do que benefícios.

O argumento de que é preciso reduzir a desigualdade de renda por meio de tributação mais justa retorna sempre ao debate público, especialmente em temporadas eleitorais, quando o objetivo de uma corrente é caracterizar o adversário como "o candidato dos ricos".

Nessas duas semanas, por exemplo, planos de cobrar ainda mais dos mais ricos sofreram duas derrotas, uma em cada lado do Atlântico.

Dia 17, foi rejeitado no Senado dos Estados Unidos encaminhamento de projeto de lei defendido pelo presidente Barack Obama que impõe alíquota de 30% no Imposto de Renda cobrado dos contribuintes que obtêm o equivalente ou mais de US$ 1 milhão de renda anual. E na França, diante da forte probabilidade de vitória no segundo turno do socialista François Hollande (foto), que também quer cobrar mais impostos dos endinheirados, há notória fuga de capitais para países vizinhos - efeito que o próprio Hollande provavelmente não quisesse provocar.

A proposta do presidente Obama está sendo chamada de Regra Buffett, em alusão ao bilionário americano Warren Buffett - o primeiro a defender a cobrança de mais impostos sobre os super-ricos. Ele argumentou publicamente que sua própria secretária vem sendo mais esfolada pelo Fisco americano do que ele próprio.

Na França, François Hollande apresentou como proposta de governo a taxação em 75% das rendas anuais superiores a 1 milhão de euros. Bastou que as pesquisas o apontassem como favorito para que se verificassem as tais transferências de capitais para a Bélgica, Suíça, Londres e Luxemburgo.

Em geral, projetos desse tipo produzem mais complicações do que resultados práticos. Se a Regra Buffett fosse aprovada, o Tesouro americano não arrecadaria mais do que US$ 47 bilhões por ano. E, no entanto, o rombo orçamentário da União previsto para este ano fiscal é de US$ 1,3 trilhão para uma dívida pública de US$ 16,7 trilhões. Dentro do Partido Democrata, do presidente Obama, há dúvidas de que esses US$ 47 bilhões adicionais valham o preço do desgaste político.

Na França, os cálculos são de que a mordida na renda dos riscos não atingiria mais do que 3 mil pessoas e só aumentaria em 300 milhões de euros as receitas anuais da França - uma gota d'água no atual déficit de 100 bilhões de euros anuais do seu orçamento e de sua dívida pública, hoje de 1,6 trilhão de euros.

Um dos principais assessores de Hollande chegou a reconhecer à agência Reuters que a alíquota de 75% do Imposto de Renda sobre os mais ricos teria mais efeito simbólico do que prático.

Dada a evasão fiscal em curso somada à que provavelmente ocorrerá se o vencedor for Hollande, essa novidade geraria mais estragos do que benefícios para a economia da França.

Pelo seu baixo retorno e pelo seu potencial criador de atritos políticos também vem sendo abandonada em todo o mundo (mais ainda não no Brasil) a ideia de criar uma taxação especial sobre as grandes fortunas.

Lendas urbanas - ANTÔNIO DELFIM NETO


VALOR ECONÔMICO - 24/04/12

Para dar a dimensão adequada a algumas lendas urbanas que dominam certas análises da situação atual da economia brasileira, é preciso, de início, combinar algumas coisas:
1) que o desenvolvimento social e econômico não se faz sem um Estado constitucionalmente controlado, com instituições adequadas e capacidade para regular os mercados, particularmente, o financeiro;

2) que o desenvolvimento econômico depende da quantidade e qualidade dos fatores de produção que o país dispõe, e que, em condições normais de pressão e temperatura, a importação é, também, um fator de produção;

Os países podem construir vantagens comparativas

3) que a velocidade do crescimento depende do volume e da qualidade do investimento e, portanto, da distribuição do PIB produzido entre consumo presente e o que se destina ao investimento, ou seja, ao emprego e ao consumo futuros;

4) que no regime democrático essa distribuição não é um fato econômico determinado pelo mercado. É um fato político determinado pela urna. No regime de sufrágio universal, as duas instituições se autocontrolam e determinam a velocidade do crescimento econômico e da inclusão social civilizatória;

5) que devido à finitude dos fatores de produção internos e do limite do crédito para financiar as importações, não é permanentemente possível maximizar, ao mesmo tempo, o crescimento econômico e a inclusão social sem produzir ou um aumento da taxa de inflação, que anula e torna uma ilusão a inclusão social, ou um déficit em conta corrente não financiável, que acaba matando ao mesmo tempo o crescimento e a inclusão. O problema é físico e não ilidível por mágicas monetárias, fiscais ou cambiais; e

6) que os atuais modelos econômicos, como confessou o ex-presidente do Banco Central Europeu Jean-Claude Trichet (em conferência feita em março, na Harvard´s Kennedy School), não lhe deram o menor conforto (e não nos dão!): "o estado da arte da macroeconomia foi praticamente inútil para lidarmos com a crise que se iniciou em 2007". Isso significa que devemos ter muito cuidado e grande humildade quando declaramos que as ações da política econômica e social do governo produzem "distorções" medidas com relação a modelos abstratos, dos quais obviamente não podemos extrair recomendações normativas.

A primeira lenda urbana é a frequente afirmação que "não há nada de errado com nossa taxa de câmbio, pois ela reflete apenas o resultado natural das nossas vantagens comparativas". No exemplo do livro escolar, cada país se especializa: o Brasil, por hipótese, em produtos agrominerais, e a China em produtos industriais. É esse o futuro que queremos para o Brasil? Os países podem construir vantagens comparativas, como foi o caso do Brasil no passado e é hoje na China.

Quem tem dúvida sobre isso não deve perder o WP/12/79, do FMI, "The Global Welfare Impact of China", de Giovanni, J.-Levchenko e Zhang, J., onde se afirma que "o mundo, inclusive os países desenvolvidos, fica muito melhor quando o crescimento chinês favorece os atualmente desvantajosos setores competitivos".

A segunda lenda urbana é que nosso BC teria abandonado a política de metas inflacionárias, o que, "dado à experiência histórica vivida até 1994, pode colocar-nos numa rota hiperinflacionária". É claro que num regime de câmbio flutuante, quando a taxa de juro real interna é igual à externa, a taxa de inflação mais conveniente é a que for igual à de nossos competidores. Mas não há qualquer evidência empírica sólida que uma taxa de inflação acidentalmente acima da meta de 4,5%, que continua a ser perseguida pelo BC, seja prejudicial ao crescimento e ao emprego.

A terceira lenda urbana, que perturba o sono de alguns ingênuos adoradores da religião da plena liberdade de comércio, é a que leva a sério a OMC e jura que toda taxa de câmbio é de equilíbrio. O que mais poderia ser, se é o mercado quem a determina? E ainda se atribui ao Brasil a prática de "terrível surto protecionista que, se seguido por outros países, colocará em risco o crescimento mundial".

Essa afirmação é desmontada com os dados do "Trade Tensions Mount: The 10th GTA Report", do Global Trade Alert, de novembro de 2011, que incluem as medidas de intervenção no comércio de 19 países. As "tensões no comércio internacional crescem", mas o Brasil não é um caso especial ou notório, como revela a tabela abaixo. Na coluna A, estão registrados os números de 11 países cujas medidas contrariam o interesse do país, e na coluna B, o número de países afetados por suas medidas, exclusive medidas antidumping, antissubsídios e de salvaguarda.

Vemos que o Brasil (até o terceiro trimestre de 2011) havia sido atingido por medidas tomadas em 66 países e, por sua vez, tomado medidas que atingiram 131 países. No caso da China, os números são, respectivamente, 75 e 193. Os números mostram que não há nada que possa nos incriminar como "poderosos destruidores do equilíbrio mundial"...

Limpeza da praia - JOSÉ PAULO KUPFER


O Estado de S.Paulo - 24/04/12


Espera-se que a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para divulgação na quinta-feira, traga elementos que permitam concluir se o ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em agosto, terá se encerrado ou prosseguirá, pelo menos até a reunião do Copom, em fins de maio. Depois do comunicado emitido no encerramento da reunião de quarta-feira, de toda maneira, avolumam-se opiniões de que o Banco Central poderá levar a taxa Selic, no curto prazo, a pelo menos 8,5% ao ano.

Romper a barreira histórica dos 8,75% nominais, a menor taxa a que a Selic já chegou, segundo uma ala de analistas, provocaria desarranjos de grande monta na atual estrutura dos ativos financeiros, bem como produziria perturbações e elevação de custos na administração da dívida pública. Esse limite para o corte nos juros básicos seria dado pelo rendimento dos chamados depósitos de poupança.

Alega-se ser politicamente inviável reduzir o rendimento da poupança, principalmente em ano eleitoral, dado o caráter popular da aplicação. Assim sendo, segundo esse raciocínio, cortes da Selic abaixo de 8,75% ao ano produziriam migração de aplicações em fundos de investimentos, complicando a administração da dívida pública, cujo mercado tem demanda assegurada por esses fundos. Teria sido essa a razão de o BC ter sinalizado, na ata da reunião do Copom, em abril, que reduziria a Selic a 9% e a manteria aí por longo período.

Há, no entanto, no mínimo meia dúzia de alternativas palatáveis à rigidez do limite imposto pela poupança, sem, necessariamente, espremer o rendimento da aplicação. E vão desde esforços para pressionar cortes nas taxas de administração cobradas pelos fundos - uma ação já em curso nos bancos públicos - até a autorização para que seja permitido aplicar recursos da poupança em títulos públicos, passando por isenções tributárias nos fundos. A ver, portanto, se a poupança é mesmo um limite a mais cortes nos juros básicos.

Difícil acreditar que o governo, apesar das negativas do ministro Guido Mantega - aliás, pouco convincentes -, já não disponha de um mapa de possibilidades para superar o obstáculo da poupança. Diferentemente de outros períodos, em que o objetivo declarado de reduzir os juros básicos se restringiu a bravatas e voluntarismos, desta vez a coisa parece ser para valer.

Mais que sinais, são ações concretas que permitem concluir que derrubar juros, independentemente dos ganhos políticos que possa render - e já esteja rendendo -, tornou-se peça central da política econômica. A queda de braço com os bancos, até aqui bem-sucedida, é só uma parte mais visível da estratégia.

São visíveis, por exemplo, os movimentos do Tesouro Nacional para mudar a composição e os prazos da dívida pública mobiliária. Com a queda dos juros, tem sido mais fácil e mais barato reduzir a parcela da dívida atrelada à taxa Selic e, com a situação relativamente ajustada da economia, trocar, a custos aceitáveis, títulos de prazos mais curtos por outros mais longos. Abrem-se, desse modo, espaços para mais cortes nas taxas básicas.

É possível ouvir de formuladores da política econômica, em Brasília, a teoria segundo a qual a resposta da política fiscal a elevações (ou reduções) dos juros é o que mais afeta a trajetória da economia. Foi o que disse, recentemente, o secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, ao jornal Valor Econômico. Com palavras diferentes, mas com idêntico conteúdo, é o que se escuta em outros gabinetes de Brasília. Uma leitura das consequências disso é que, para evitar aquecimentos excessivos da demanda, não seria inevitável elevar a Selic.

Anos de superávits primários, realmente, não resultaram em abertura de espaços para os investimentos públicos e não evitaram aumentos das despesas com juros da dívida pública - o que, no fim das contas, consome volumosos recursos que insuflam a demanda quando poderiam ser destinados à poupança e ao investimento. Tal constatação pode ter estimulado a produção dos diagnósticos que levaram ao achado empírico enunciado por Nelson Barbosa.

O fato é que a redução da Selic operada nos últimos oito meses serviu como uma maré vazante que, na visão do governo, deixou a descoberto pedras, pedregulhos e siris malandros que dificultam cortar os juros. Mais ou menos como ocorreu com a valorização cambial, que trouxe à tona distorções e custos de produção encobertos por taxas de câmbio desvalorizadas. Teria, então, chegado a hora de limpar a praia.

Para que serve a Justiça? - CLAUDIO J. D. SALES

O GLOBO - 24/04/12

Quatro das maiores obras de geração de energia elétrica no Brasil estavam paralisadas na semana passada. Três delas por motivos trabalhistas: as usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio no Rio Madeira (RO), e a de Belo Monte no Rio Xingu (PA). E a quarta -hidrelétrica de Teles Pires, no rio de mesmo nome no Pará - porque o Ministério Público Federal questiona a emissão da licença prévia, a licença que atesta a viabilidade ambiental do empreendimento.

Qual o custo para o país de tamanha insegurança?

As quatro obras totalizam investimentos de mais de 56 bilhões de reais e fornecerão energia suficiente para 85% do nosso mercado residencial, ou 48 milhões de lares brasileiros.


A usina hidrelétrica de Jirau ficou parada por 24 dias e a de Santo Antônio, por 12 dias. Os trabalhadores resolveram retornar ao trabalho no último dia 2 de abril. Belo Monte permaneceu paralisada uma semana.

No caso de Jirau, o Tribunal Regional do Trabalho julgou a paralisação ilegal e abusiva e estipulou multa de 200 mil reais para cada dia que a decisão da Justiça não fosse respeitada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero).

O que chama a atenção é o fato de a greve ter sido julgada ilegal quatro dias após o seu início (no dia 11 de março) e o retorno ao trabalho se dar apenas 24 dias depois. Aparentemente o sindicato trabalha com a certeza de que a multa, de 4,8 milhões de reais, não será paga. Na prática, o sindicato despreza a decisão da Justiça e aposta na falta de rigor na execução da sentença.

É a certeza da impunidade que comanda o nosso país.

A Justiça do Trabalho, que possui a competência de julgar e executar as decisões, deve agir conforme determina a lei. E a lei prevê que o pagamento em dinheiro deve ser feito no prazo de 48 horas, sob pena de penhora dos bens do executado, neste caso o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia.

Qualquer atitude diferente desta, respeitado o direito de defesa do sindicato, desmoraliza e desacredita a Justiça no país.

As decisões da Justiça do Trabalho precisam ser executadas e a ordem mantida. As multas aplicadas não podem servir de moeda de troca na negociação para o retorno ao trabalho: precisam ser executadas para que sirvam de exemplo para todas as instituições e para que ninguém aposte na impunidade.

O país não pode ficar refém de grupos de pressão, sejam eles trabalhadores, sindicalistas ou empresários, porque há algo muito maior em jogo: a garantia do fornecimento de energia elétrica para o país, o crescimento econômico e o bem-estar da população.

Votos contra a Europa - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 24/04/12


Os institutos de pesquisa acertaram: no primeiro turno das eleições, o socialista François Hollande, com 28,63% dos votos, ultrapassou Nicolas Sarkozy, que obteve 27,2%. Mas esses mesmos institutos erraram, e muito, quanto aos demais: o candidato da extrema esquerda, o mirabolante Jean-Luc Mélenchon, do qual se esperava maravilhas, contentou-se com 11,1%.

Eis o grande erro das pesquisas: a candidata da Frente Nacional, de extrema direita, foi a surpresa. Com 17,9% dos votos ela foi no encalço de Sarkozy. A filha do agitador neofascista Jean-Marie Le Pen, hoje aposentado, arrasou. Claro que ela não vai disputar o segundo turno. Mas se instala, com armas, bagagens, bandeiras, zombaria e talento, no centro da paisagem.

Que fará Marine do seu capital de votos próximo de 20%? Se instruir seus eleitores a votar em Sarkozy, poderá salvá-lo da humilhação. Mas não é certo que os eleitores da Frente Nacional obedecerão. E, depois, Marine não está muito disposta a socorrer Sarkozy. Ela pretende usar seus 20% de votos numa tarefa mais ambiciosa: tornar-se a principal força de direita, batendo o partido de Sarkozy, a UMP, que corre o risco de se decompor.

Como explicar essa façanha de Marine? Em primeiro lugar, o talento. Como Mélenchon, e diante de rivais medíocres (Sarkozy e Hollande), Marine foi deslumbrante. Essa poderosa e bela mulher loira, quando subia ao palanque, em campanha, dava início a um grande espetáculo de teatro, em termos de eloquência e gestual. E, depois, uma fina estratégia política.

Até agora a Frente Nacional, partido criado pelo velho Le Pen, que nunca escondeu sua admiração pelos fascistas e mesmo os nazistas, era um partido de empesteados orgulhosos de ter a peste. O chefe, Jean-Marie, obcecadamente contra judeus e árabes, sempre com um insulto na boca, não se encaixava no cenário político. Ele vituperava, maldizia, com brio. E gabava-se de ser "intratável".

Quando herdou o partido do seu pai, Marine realizou uma extraordinária reformulação. Mais bela, mais inteligente e mais carinhosa do que o pai, ela procurou reabilitar a imagem da Frente Nacional. Conservar os elementos fundamentais, mas os envolver até os enterrar, em outros termos: a pobreza, a injustiça, os malefícios dos bancos, o egoísmo dos ricos, etc. E declarou-se "republicana", o que foi uma surpresa!

Claro que de vez em quando ela acrescentava uma pequena dose de xenofobia, anti-islamismo, de maneira que suas tropas respirassem, mesmo assim, uma baforada "dos bons e velhos tempos". Mas, no geral, ela atingiu seu objetivo. A Frente Nacional, em vez de se agitar no limbo, está no momento no centro do jogo. Prova disso é que, com 20% dos votos, ela conseguiu superar a melhor marca obtida pelo pai.

Recrutamento. A Frente Nacional, em vez de arregimentar apenas os antigos adeptos da doutrina de Charles Maurras - os nostálgicos do marechal Pétain e de Hitler, europeus exasperados com a imigração e colonialistas furiosos -, ampliou sua clientela. A luta contra a pobreza, a bulimia dos ricos, das elites, dos funcionários de Bruxelas, tudo isso fez convergir para a Frente Nacional gente que outrora teria votado nos comunistas. Entre os novos temas explorados por Marine estão, claro, a União Europeia e o euro, esses "monstros frios" que dirigem, de Bruxelas, com um bando de funcionários apátridas e sonâmbulos, os destinos do gentil "povo da França". Se pensarmos que Marine, porta-voz dos antieuropeus, conseguiu quase 20% dos votos, podemos compreender que líderes nas capitais e em Bruxelas suem frio. Sobretudo se adicionarmos os 11% conseguidos por Mélenchon, campeão da extrema esquerda, violentamente antieuropeu.

A rejeição das instituições europeias não se limita a Marine e Mélenchon. O socialista Hollande, se eleito (e tem chances), exigirá uma reformulação dos últimos tratados europeus (inspirados pela alemã Angela Merkel) que só tratam de rigor fiscal, sem buscar métodos de retomada do crescimento. Mesmo Sarkozy, que durante um longo tempo ficou grudado em Merkel como uma goma de mascar, percebe que os ventos estão mudando de direção e passou a criticar a União Europeia e o euro.

Assim, essas eleições no "crepúsculo programado" de Sarkozy serão importantes por duas razões, pelo menos: a ascensão gloriosa da filha de Jean-Marie Le Pen e a ofensiva generalizada contra a "supranacionalidade", cuja capital é Bruxelas. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

CLAUDIO HUMBERTO

“Deveriam proibir, prender, acabar com essa porcaria”
Deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), desistindo de defender a legalização da jogatina

ANGOLANO MEDIOU DOAÇÃO DE CACHOEIRA A LULA

Ex-assessor e amigo do peito de Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda do governo passado, Rogério Buratti, que pode ser convocado à CPI do Cachoeira, apontou o angolano Roberto Kurzweil como intermediário da suposta doação de R$ 1 milhão à campanha presidencial em 2002, sob o compromisso de o presidente legalizar os bingos. O doador, disse Buratti, foi o bicheiro Carlinhos Cachoeira. 

CAIXA DOIS

A doação de Cachoeira, que revelou Rogério Buratti à CPI dos Bingos, seria para o caixa dois (“recursos não contabilizados”) da campanha.

JOGO DA MEMÓRIA

Na operação Xeque-Mate da PF, até Vavá, irmão de Lula, se enrolou nos bingos de Dario Morelli Filho, compadre preso do ex-presidente. 

CALA-TE BOCA

Lula vai acabar emudecendo de tanto falar com visitas políticas entre as sessões fonoaudiologia. Ele “travou” num comício, no início do mês.

NÚMERO EMBLEMÁTICO

Falha grotesca da Caixa no sorteio de sábado da loteria federal: os bilhetes comemoravam os “51 anos de Brasília”. Eram 52. 

SOBROU PARA O ITAÚ O CONFISCO DA YPF ARGENTINA 

Poderia ser pior. Anos atrás, a família Eskenazi contraiu dívida de US$ 280 milhões com o Itaú da Argentina para ficar dona de 25% da YPF. Depois da reestatização da petroleira, os Eskenazi decidiram pedir que o governo de Cristina Kirchner também leve junto esta dívida. O Itaú está pensando em jogar a dívida para a coluna de prejuízos. Cobrar, nem pensar. Pensando bem, é muito melhor baixar o juro no Brasil. 

PARAÍSO DA CHUVA

Arrasadas por inundação, as paradisíacas Ilhas Fiji, no Pacífico Sul, receberam doação de R$ 50 mil do governo brasileiro para sair da lama. 

TAMBÉM QUERO

Estado que conhece a pobreza, o Piauí pressiona para a votação do projeto que redistribui royalties do petróleo entre Estados e municípios.

VOZ DA EXPERIÊNCIA

O DEM escolheu Onyx Lorenzoni (RS) para integrar a CPI mista do Cachoeira. Ele teve destacada participação na CPI dos Correios.

CRIADORES DE DIFICULDADES

Ao autorizar, em 2008, o shopping Iguatemi JK, a prefeitura paulistana de Gilberto Kassab exigiu “contrapartidas viárias”, mas só as definiu quando a obra estava quase pronta. E vem criando dificuldades para autorizar 

a abertura do shopping, com 200 lojas e 3.800 contratados.

VAI QUE É TUA

Como queria o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, o senador Rodrigo Rolemberg (DF) ficou fora da CPI do Cachoeira. Representará o partido a senadora Lídice da Mata (BA).

INDICIAMENTO NO ECAD

Relator da CPI do Ecad, órgão responsável pela arrecadação e distribuição de direitos autorais, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) pedirá o indiciamento de José Antônio Perdomo, superintendente da União Brasileira dos Compositores, e de mais 20 membros e dirigentes.

VIA SEDEX

Presidente do Conselho de Ética, o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) não tem expectativas de que Demóstenes Torres (GO) se defenda pessoalmente: “Ele pode mandar até por correio”.

RODA DA FORTUNA

Após ganhar licitação idêntica na Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, empresa vendeu para o Tocantins simulador de estande de tiros por R$ 840 mil. O aparelho completo custa US$ 40 mil nos EUA. 

DESCULPA ESFARRAPADA

Em Brasília, o advogado Celso Lemos chamou de “verdadeira desculpa esfarrapada” a versão oficial de que advogados vazam grampos da PF. E duvida da afirmação do ex-ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto de que já viu advogados agindo assim. “Viu nada!”, desafia Lemos.

CAINDO AOS PEDAÇOS

Na despedida da peça Sem Pensar, domingo, na Sala Martins Pena, casa cheia, a atriz Denise Fraga elogiou o público de Brasília, mas lamentou a péssima conservação do teatro. Foi aplaudidíssima.

PENA DE MORTE

Nove em dez comentários de internautas sobre a notícia de que um ladrão foi morto a tiros pelo dono de uma casa, em Brasília, repisaram a frase do ex-delegado Mariel Mariscot, que nos anos 70 ficou famoso por organizar o Esquadrão da Morte: “Bandido bom é bandido morto”.

PERGUNTA NO HOSPITAL

Agora que o tratamento contra o câncer acabou, afinal, o ex-presidente Lula dá ou recebe consulta no Sírio Libanês? 


PODER SEM PUDOR

LONGE É MELHOR

Jânio Quadros só perdeu no Maranhão, na disputa presidencial de 1960 com Henrique Teixeira Lott, graças ao apoio que o pesadíssimo marechal recebeu do cacique Vitorino Freire.

Um pouco antes da eleição, um repórter perguntou a Vitorino:

– Há perigo de o Jânio ganhar no Maranhão?

Ele não precisou pensar muito para responder, convicto:

– Perigo existe. Basta que o Lott volte duas vezes ao Maranhão.

Não voltou e venceu.