segunda-feira, abril 16, 2012

Eles querem apagar o mensalão - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA



Com o julgamento do mensalão pelo Supremo a caminho, os petistas lançam uma desesperada ofensiva para tentar desviar a atenção dos crimes cometidos por eles no que foi o maior escândalo de corrupção da história brasileira

Daniel Pereira e Hugo Marques


Josef Stalin, o ditador soviético ídolo de muitos petistas, considerava as ideias mais perigosas do que as armas e, por isso, suprimiu-as, matando quem teimava em manifestá-las. O PT até que tenta se arejar, exercitar certo pluralismo, mostrar respeito às leis e conduzir as instituições do país que ele governa não como propriedade particular do partido, mas reconhecendo-as como conquistas da sociedade brasileira. Mas basta uma contrariedade maior para que o espírito de papai Stalin baixe e rasgue a fantasia democrática dos petistas parcialmente convertidos ao convívio civilizado. A contrariedade de agora é a proximidade do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da maior lambança promovida pelos petistas com dinheiro sujo, que produziu o escândalo entronizado no topo do panteão da corrupção oficial brasileira com o nome de mensalão. Sussurre esse nome aos ouvidos de um petista nos dias que correm e ele vai reagir como se uma buzina de ar comprimido tivesse sido acionada a centímetros de seus tímpanos. A palavra de ordem emanada do comitê central sairá automaticamente: "Isso é invenção da oposição e da imprensa!".

Como formigas guiadas por feromônios, os militantes de todos os escalões, de ministros de estado aos mais deploráveis capangas pagos com dinheiro público na internet, vão repetir disciplinadamente o mantra de que o mensalão "foi uma farsa". Ele vai ser martelado sobre os cinco sentidos dos brasileiros na tentativa de apagar os crimes cometidos pelos petistas e, seguindo a cartilha stalinista, fazer valer as versões sobre os fatos, transmutar culpados em inocentes e, claro, apontar bodes expiatórios como responsáveis pelas próprias misérias morais que eles infligiram ao país, a si próprios e à sua reputação, firmada quando na oposição, de paladinos da ética. Esse processo perverso de reescrever a história está em curso em Brasília, em pleno século XXI. Sua mais recente iniciativa é a iminente instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Congresso Nacional, a primeira do governo Dilma Rousseff. O objetivo declarado - e desejável - da CPI é elucidar os limites da atuação no mundo oficial do contraventor Carlos Cachoeira, que explorava o bingo ilegal em Goiás e se encontra trancafiado em presídio de alta segurança. Acusado de receber dinheiro para defender os interesses do contraventor no governo e no Legislativo, o senador Demóstenes Torres, do DEM, está a caminho de perder o mandato. Razões para uma investigação republicana, portanto, não faltam. O problema está nos objetivos subalternos da CPI, que os petistas e seus aliados mal conseguem esconder nas conversas: criar um fato novo e, assim, desviar o foco da atenção da opinião pública do julgamento do mensalão. Eles esperam que as investigações produzam imagens que ajudem a demonstrar a tese central do presidente Lula sobre o mensalão, a de que o PT fez apenas o que todo partido político sempre fez. Esperam também criminalizar jornalistas para quem Carlos Cachoeira serviu de fonte sobre o que ia nos subterrâneos da corrupção no mundo oficial em Brasília, terreno que ele frequentava com especial desenvoltura.

Em resumo, o PT espera desmoralizar na CPI todos que considera pessoal ou institucionalmente responsáveis pela apuração e divulgação dos crimes cometidos pelos correlegionários no mensalão - em especial a imprensa. Por quê? Principalmente porque o esquema de compra, de apoio parlamentar pelo governo do PT começou a ser desbaratado em 2005, após uma reportagem de VEJA mostrar um funcionário dos Correios cobrando e recebendo propina em nome do PTB. Depois disso, o presidente do partido, o ex-depurado Roberto Jefferson, revelou ao país que parlamentares recebiam dinheiro na boca do caixa para votar com o Planalto. O chefe do esquema era o então ministro da Casa Civil José Dirceu, que vivia repetindo o bordão segundo o qual não fazia nada sem o conhecimento do presidente Lula. Tanto a CPI dos Correios quanto a Procuradoria-Geral da República deixaram claro que parte do dinheiro que financiou o mensalão saiu dos cofres públicos. Durante as investigações, o então marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, admitiu ter recebido dólares por fora, no exterior, por serviços prestados na campanha do presidente. Foi tão grave e acintosa a agressão dos petistas às leis brasileiras no mensalão que, tecnicamente, o presidente Lula poderia ter sofrido um processo de impeachment. Seu mandato foi preservado por falta de apetite da oposição e pelo cálculo, que se mostraria redondamente equivocado, de que Lula definharia no poder, sangrando pouco a pouco em consequência do mensalão. Nada disso ocorreu. Lula deu uma magnífica volta por cima, reelegeu-se, fez a sucessora e saiu do Palácio do Planalto da mesma forma que entrou - nos braços do povo.

Agora o fantasma do mensalão volta a ameaçar a hagiografia do líder petista - e a ordem de cima é atropelar quaisquer escrúpulos para preservar Lula. "A bancada do PT defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão. É preciso que a sociedade organizada, movimentos populares, partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção, como é o PT, mobilizem-se para impedir a operação abafa e para desvendar todo o esquema montado por esses criminosos, falsos moralistas que se diziam defensores da moral e dos bons costumes", declarou Rui Falcão, deputado paulista, presidente nacional do PT. A forma cristalina pela qual Falcão explica os objetivos do partido na CPI parece a transcrição perfeita de uma cartilha de propaganda soviética. Dado que os companheiros cometeram crimes no mensalão e que esse fato é devastador para o partido que no passado empunhou a bandeira da ética para vencer a antipatia e a desconfiança da classe média brasileira, vamos tentar mudar a percepção da realidade e acionar os companheiros para ver se cola a ideia de que o mensalão foi uma armação cujos responsáveis, vejam só que coincidência, estão todos orbitando em torno de um contraventor cujas atividades vão ser investigadas por uma CPI. .

A lógica política de Falcão é irretocável - até certo ponto. Esse truque funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil? Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante, um Congresso eleito pelo voto popular e um Judiciário que, apesar de fortemente criticado recentemente, tem demonstrado independência e vigor doutrinário. Isso significa que para o delírio de Falcão se materializar é preciso neutralizar as instâncias democráticas, calando-as ou garantindo que a estridência radical petista supere as vozes da razão e do bom-senso.

Uma CPI dominada pelo PT e seus mais retrógrados e despudorados aliados é o melhor instrumento de que a falconaria petista poderia dispor - pelo menos na impossibilidade, certamente temporária para os falcões, de suprimir logo a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento, fósseis de um sistema burguês de dominação que está passando da hora de ser superado pelo lulopetismo, essa fomidável invenção tropical diante da qual empalidecem todos os demais arranjos político-sociais do mundo atual. Mas, enquanto o triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da marcha arrasadora da história, que vai lançar ao lixo todos os que atacaram o PT e, principalmente. seu maior lide, o ex-presidente Lula.

Não por acaso, a estratégia que a falconaria petista está executando disciplinadamente em Brasília saiu da cabeça de Lula. Em novembro de 2010, a menos de dois meses do término de seu segundo mandato, o então presidente recebeu o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu para um café da manhã no Palácio da Alvorada. À mesa, Lula prometeu a Dirceu, o mais influente quadro da engrenagem petista, que lançaria uma ofensiva para desmontar "a farsa do mensalão" tão logo deixasse o cargo. Não era bravata. Conforme prometido, essa cruzada para abafar o maior escândalo de corrupção da história recente do pais começou a se materializar em pequenos movimentos. Foi ela que levou à eleição do petista João Paulo Cunha, um dos 36 réus no processo do mensalão, para a presidência da Comissão de Constituição e Jusrtça da Câmara em 2011, o que garantiu a ele uma posição privilegiada para dialogar com a cúpula do Poder Judiciário. Foi ela também que resultou na nomeação do petista José Genoíno, outro réu no processo, para o cargo de assessor especial do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), justamente a corte que julgará o caso.

Esses dois movimentos da reação capitaneada por Lula foram costurados nos bastidores. Fizeram parte de uma estratégia silenciosa destinada a reabilitar publicamente as estrelas petistas envolvidas até o pescoço com os desvios de dinheiro público para abastecer o caixa partidário. Uma tática deixada de lado na semana passada, quando o PT partiu para uma espécie de vale-tudo a fim de varrer para debaixo do tapete o esquema de compra de apoio parlamentar que funcionou durante o governo passado. A estratégia evoluiu para o uso da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que deu origem à CPI. A ação da PF desbaratou um esquema de exploração de jogos ilegais comandado por Carlinhos Cachoeira e revelou uma rede suprapartidária de políticos envolvidos com ele. Além do senador Demóstenes, as investigações atingiram o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, desafeto de Lula desde que declarou, em 2005, que alertara o então presidente da existência do mensalão.

Lula viu na CPI a oportunidade política de mostrar que rodos os partidos pecam. Que todos são farinha do mesmo saco e, por isso mesmo, o mensalão não seria um esquema de corrupção inaudito, muito menos merecedor de um rigor maior por parte do Judiciário e da sociedade. Para os petistas, apagar a história neste momemo é uma questão de sobrevivência. Seus caciques sustentam que, com a aproximação da data prevista para o julgamento do mensalão e diante da hipótese de uma condenação, não há o que perder na arriscada aposta em tentar menosprezar a inteligência das pessoas, zombar das autoridades que investigaram o caso durante anos, impor constrangimentos aos ministros do Supremo que se preparam para julgar o processo. É tamanha a ânsia de Lula e dos mensaleiros para enterrar o escândalo que, se preciso, o PT rifará o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que também aparece no arco de influência dos trambiques da máfia do jogo.

Lula e os falcões petistas viram também abrir-se para eles a retomada de um antigo, acalentado e nunca abandonado projeto de emascular a imprensa independente no Brasil. Os projetos de censura da imprensa que tramitaram no PT foram derrotados não por falta de vontade, mas porque o obscurantismo cobriria a imagem do Brasil de vergonha no cenário mundial. Surge agora uma oportunidade tão eficiente quanto a censura, com a vantagem de se obter a servidão acrítica da imprensa sem recorrer a nenhum mecanismo legal que possa vir a ser identificado com a supressão da liberdade de expressão. Não por coincidência, na semana passada, a Executiva Nacional do PT divulgou uma resolução pedindo a regulamentação dos meios de comunicação diante "da associação de parte da imprensa com a organização criminosa da dupla Cachoeira-Demóstenes". Dando sequência à diretriz do comitê central do partido, o Comissário Marco Maia, presidente da Câmara, complementou: "Todas as informações dão com a de que há uma participação significativa de alguns veículos de comunicação nesse esquema montado pelo Cachoeira. A boa imprensa, que está comprometida com a informação e a verdade, vai auxiliar para que a gente possa fazer uma purificação, separar o joio do trigo".

A oportunidade liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor associações destinadas a fraudar o Erário. A nota da Executiva Nacional do PT e a fala do comissário Maia traem o vezo totalitário daquela parte do PT que não tem a mínima noção do papel de uma imprensa livre em uma sociedade aberta, democrática e que tenha como base material a economia de mercado. Papai Stalin ficaria orgulhoso dos pupilos. Caberá a eles agora, aos "tropicastalinistas" do PT auxiliados pelos impolutos José Sarney e Fernando Collor, "purificar" a imprensa, decidir qual é a boa e a ruim, o que é joio e o que é trigo nas páginas dos órgãos de informação e apontar que repórteres estão comprometidos com a informação e a verdade. Alguém com mais juízo deveria, a bem do comissário Maia, informá-lo de que quando governos se arvoram a purificar seja o que for - a população, a imprensa ou a literatura - estão abrindo caminho para o totalitarismo. Quem diria, comissário, que atrás de óculos modernos se esconde uma mente tão arcaica.

Os petistas acham que atacar o mensageiro vai diminuir o impacto da mensagem. Pelo que disse Marco Maia, eles vão tentar mostrar que obter informações relevantes, verdadeiras e de interesse nacional lança suspeita sobre um jornalista. Maia não poderia estar mais equivocado. Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico. Disso sabem os promotores que, valendo-se do mecanismo da delação premiada, obtêm informações valiosas de um criminoso, oferecendo-lhe em troca recompensas como o abrandamento da pena. Esses são conceitos de difícil digestão para os petistas acostumados a receber do comitê central as instruções completas sobre o que devem achar certo ou errado, bom ou ruim, baixo ou alto. Fora da bolha ideológica, porém, a vida exige que bons jornalistas falem com maus cidadãos em busca de informações verdadeiras. Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão.

Mensalão do PT

A radiografia do maior de todos os escândalos

A origem

Em maio de 2005, VEJA divulgou um vídeo no qual Maurício Marinho, diretor dos Correios, recebia 3000 reais de propina de um empresário interessado em participar de uma licitação da estatal. Marinho, na gravação, revelou que precisava arrecadar dinheiro de empresas com negócios nos Correios e entregar à direção do PTB, partido responsável por sua nomeação

O batismo

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, em uma entrevista à Folha de S. Paulo, em 6 de junho de 2005, afirmou que o governo federal, comandado por Luiz Inácio Lula da Silva, repassava uma mesada aos parlamentares dos partidos aliados, num esquema que ficou conhecido por "mensalão" e que, segundo Jefferson, era chefiado pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, o principal dirigente do PT.

A queda de Dirceu

Em discurso no plenário da Câmara, Jefferson voltou a acusar Dirceu, dizendo que o ministro não tinha condições morais de permanecer no cargo. "Rápido, sai daí rápido, Zé!" Dois dias depois, em 16 de junho, Dirceu entregou seu pedido de demissão a Lula.

A investigação

Uma CPI foi instalada para apurar as denúncias. Ao longo de dez meses de investigação. Seus integrantes assistiram, entre outros episódios, à confissão do marqueteiro Duda Mendonça de que recebeu do PT dinheiro de caixa dois no exterior. O relatório final da CPI pediu o indiciamento de mais de 100 pessoas e a cassação de dezoito parlamentares.

As cassações

A Câmara cassou o mandato dos deputados José Dirceu, Roberto Jefferson e Pedro Corrêa. Eles perderam os direitos políticos por oito anos. Outros quatro parlamentares renunciaram para escapar da cassação. Os onze deputados restantes foram absolvidos pelos colegas.

A denúncia

O então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, apresentou denúncia ao Supremo Tribunal Federal contra quarenta pessoas que, segundo ele, participaram da "organização criminosa" do mensalão. As práticas incluíam lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e corrupção. Na denúncia, o procurador qualificou José Dirceu como o "chefe da quadrilha".

O julgamento

O ministro Joaquim Barbosa, em agosto de 2007, aceitou a denúncia contra os quarenta mensaleiros, que se tornaram réus no Supremo. O processo, depois de quase cinco anos, está sob análise do ministro revisor, Ricardo Lewandowski, e deve ser julgado no segundo semestre. Os réus atuam para retardar o julgamento até os crimes prescreverem.

A era da inocência - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


Brasília chega aos 52 anos, no próximo sábado, 21, malfalada e cansada de guerra. Nem parece, mas já teve uma era da inocência. A poeta americana Elizabeth Bishop a visitou em 1958, dois anos antes da inauguração. Bishop morava no Rio de Janeiro com sua amada Lota Macedo Soares, e viajou para Brasília numa pequena comitiva organizada pelo Itamaraty, cujo integrante mais ilustre era o escritor inglês Aldous Huxley. O pouco conhecido (e, ao que consta a este colunista, não traduzido) relato de viagem que a poeta escreveu em seguida lembra certos filmes que tentam reconstruir o mundo antes da criação, com os mares reclamando seus espaços, continentes em formação e dinossauros. Bishop flagra Brasília na véspera de si mesma. O equivalente aos dinossauros eram à "confusa e barulhenta cena" dos caminhões e tratores que noite e dia, se empenhavam em fazer brotar do solo as futuras Praça dos Três Poderes e Esplanada dos Ministérios.

A Brasília de Bishop é calor, suor e poeira - uma poeira vermelha que se levanta em nuvens à passagem dos veículos e impregna as roupas e os tapetes do Brasília Palace Hotel, onde ela ficou hospedada. A poeta se surpreende com a secura e a desolação do local. Comparado com qualquer outro espaço habitável deste país "fantasticamente bonito", escreve, o lugar parece "notavelmente pouco atrativo e pouco promissor". Não há "nem montanhas, nem colinas, nem rios, nem árvores", tampouco "o sentimento de grandeza, de segurança, de fertilidade, do pinturesco" ou qualquer outra das qualidades "que se imagina capazes de dar beleza e caráter a uma cidade". Mundo em criação que era, Brasília não tinha ainda o seu lago. As únicas dádivas que a "Mãe Natureza" proporcionou ao lugar, conclui a poeta, são "o céu e o espaço".

Havia apenas dois prédios prontos - o Brasília Palace Hotel e o Palácio da Alvorada. As colunas do Palácio da Alvorada deslumbraram os visitantes. Huxley deslocou-se para examiná-las de vários ângulos. Outros membros da comitiva as tocaram e fotografaram à exaustão. Bishop as descreve com imagens de poeta: "Se alguém imagina uma fileira de enormes pipas brancas, postas de cabeça para baixo, e então agarradas por mãos gigantes e apertadas em rodos os seus quatro lados, até que sejam elegantemente atenuados, pode ter uma ideia delas razoavelmente acurada". Já o interior do palácio não lhes agradou. Bishop critica a decoração e a falta de conforto. Alguém lhes conta que o secretário de Estado Foster Dulles, em recente visita, quase caíra da escada sem corrimão que conduz ao andar superior. Huxley já experimentara os perigos da notória ojeriza de Oscar Niemeyer pelos corrimões. Horas antes, escorregara na escada do hotel, e comentará que "é uma vergonha abandonar tão útil invenção" quanto o corrimão, conhecida há milhares de anos.

A comitiva foi conhecer a "Cidade Livre", a improvisada cidade de madeira onde verdadeiramente transcorria a ação - ali moravam as pessoas que trabalhavam na construção da cidade, e ali se estabeleceram, para servi-las, os mercados, os bares, as farmácias, as lojas. Os homens andavam de jeans, botas altas e chapéus de aba larga. O Brasil, onde, segundo observa Bishop, raras são as construções de madeira, surpreendia-se com o cenário de faroeste, mostrado nas fotos das revistas. Para a poeta, tratava-se da "velha e familiar cidade de fronteira da Merto-Goldwyn-Mayer". A comitiva foi informada de que, ao ser criada, no ano anterior, a Cidade Livre tinha 400 habitantes; agora tinha 45000. Possuía até cinema, e personagens improváveis. A comitiva conheceu uma delas - uma condessa polonesa, ninguém menos do que isso, jovem e bonita, refugiada de seu país e dona de um inglês impecável.

A condessa Tarnowska lhes serviu de cicerone e anfitriã na Cidade Livre. Ela era, justamente, a dona do cinema local. Disse que "amava" viver ali. E contou-lhes uma história que ocorrera em seu cinema pouco tempo antes, quando estava em cartaz o filme E Deus Criou a Mulher, com Brigitte Bardot. A projeção caminhava normalmente, até que, na mais esperada cena, no momento mesmo em que a Bardot desfazia o primeiro botão da roupa, parava. As luzes então se acendiam e o projetista avisava: "Queiram às senhoras e senhoritas, por favor, deixar a sala". As mulheres saíam e aglomeravam-se lá fora, na rua de terra, sem calçada. A projeção continuava só para os homens. Terminada a cena de nudez, parava de novo, e as senhoras e senhoritas eram avisadas de que estavam liberadas para voltar. Pudor era o que não faltava, na Brasília daquele tempo.

O mensalão legalizou o caso Cachoeira - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Carlinhos Cachoeira foi vítima de um mal-entendido. O “empresário da contravenção” (como foi apresentado na Voz do Brasil) foi às compras em Brasília e, ao que se saiba, pagou tudo o que consumiu. Ninguém se sentiu lesado por ele, não se ouviu uma só voz reclamando de calote. É legítimo concluir, portanto, que as belas cifras entoadas nas escutas telefônicas tenham chegado direitinho aos destinatários. Por que, então, perseguir esse homem?

Antigamente, comprar deputados e senadores era ilegal. Mas os tempos mudaram, e só o advogado de Cachoeira não viu. Márcio Thomaz Bastos, o ex-ministro da Justiça, insiste em pedir habeas corpus para o cliente, preso no Rio Grande do Norte, alegando que ele não tem antecedentes criminais. Perda de tempo. Assim como o ex-ministro pode ser muito bem pago com o dinheiro sujo do bicheiro, Demóstenes Torres e companhia podem privatizar seus mandatos à vontade para servir ao “empresário da contravenção”.

Esse caminho foi aberto justamente pelo governo ao qual Thomaz Bastos serviu. Comparado ao esquema das mesadas para deputados, que ficou conhecido como mensalão, a engrenagem de Cachoeira é brinquedo de criança. A boa notícia para o mercado de compra e venda de parlamentares é que, sete anos depois do mensalão, ninguém foi punido.

Por que o ex-ético Demóstenes e seu patrocinador caça-níqueis vão se constranger, com tantos mensaleiros à solta, vagando por Brasília e lhes dando bom dia de cara limpa? Acusado de chefiar a quadrilha, José Dirceu manda e desmanda no governo da companheira de armas Dilma Rousseff – que o prestigia publicamente, em eventos apoteóticos do partido. Diante disso, que mal haverá em acolher no gabinete um bicheiro de estimação?

Num erro imperdoável para grandes advogados, os defensores de Cachoeira e Demóstenes não atentaram para a jurisprudência: comprar parlamentares, desde que por uma causa popular e progressista, é legítimo. E não vale a ressalva de que o mensalão será um dia, quem sabe, julgado. O processo do mais grave escândalo da história da República foi travado politicamente na Justiça brasileira, atravessando três eleições (indo agora para a quarta), o que garantiu a sobrevivência de seus protagonistas e do projeto de poder do PT. Na prática, a absolvição já se deu. O crime compensou.
Só faltam um projeto de lei criando o Bolsa-Bingo e outro criando cotas para mulheres nas fábricas de caça-níqueis

O que o senador e o bicheiro farão para provar que sua causa também é popular e progressista é problema deles. Mas não será difícil. A conexão Dirceu-Delúbio-Valério, com o apoio dos bancos BMG e Rural, criou um duto das empresas estatais para os cofres partidários. Se isso não tirou o status progressista do governo popular, até a jogatina pode ser de esquerda. Aí só será preciso um mínimo de criatividade por parte do contraventor e de seu representante no Congresso: um projeto de lei criando o Bolsa-Bingo, outro instituindo cotas para mulheres nas fábricas de caça-níqueis e, mais importante de tudo, uma choradinha em público, que no Brasil não tem erro.

Os éticos, ou pelo menos os ex-éticos, não haverão de admitir a condenação do senador e do bicheiro por um crime que o mensalão revogou. Desde 2005, a posição da corte suprema foi clara sobre esse caso: dos discursos inflamados de Nelson Jobim, então ministro do Supremo Tribunal Federal, em defesa de José Dirceu, ao pronunciamento em dezembro último do revisor do processo, Ricardo Lewandowski, sobre a possibilidade de parte dos réus nem sequer vir a ser julgada: “Não há dúvida nenhuma de que poderá ocorrer a prescrição (dos crimes)”.

Após sete anos de trabalho cuidadoso da Justiça, às vésperas de mais uma eleição e da extinção dos processos, o revisor do caso informa sobre a perspectiva de julgamento do mensalão: “Não tenho uma previsão clara”. Tradução: a anistia aos parlamentares comprados (ou alugados) e seus contratantes vai muito bem, obrigado. A diferença para o caso Cachoeira é que o contratante é “empresário da contravenção”, enquanto no mensalão os contratantes eram, por assim dizer, “servidores públicos da contravenção”. Os contratados não ligariam para essa diferença.

O Brasil tem duas opções: ou se manca e sai às ruas contra o arquivamento do mensalão ou aceita de uma vez por todas ser governado pelos companheiros da contravenção.

O mau líder - RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA


A acusação é de assédio moral – um fenômeno tão antigo quanto o trabalho, mas hoje levado mais a sério pela sociedade. O juiz Adeildo Lemos de Sá Cruz, do Recife, foi punido com aposentadoria compulsória por ofender e humilhar, durante anos, seus subordinados. A decisão de punir Sua Excelência foi da Corte Especial do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Uma decisão inédita.

Para os 60 servidores que pediram transferência ao longo de cinco anos por não suportar a pressão do juiz Adeildo, a punição tem um efeito positivo. Resgata a autoestima. Segundo o processo, Adeildo às vezes chamava as servidoras de “p...”, intimidava os subordinados com uma arma sobre a mesa, estabelecia horário para ir ao banheiro. O digníssimo também é acusado de colocar uma funcionária de cara para a parede, de castigo, por estar insatisfeito com o serviço.

Para nós, que não conhecemos o juiz pernambucano, o desfecho tem dois lados. Há um lado surreal. Adeildo, despido da toga, continuará a receber, de pijama, R$ 15 mil por mês até dar seu último suspiro. Ele ganhará aposentadoria proporcional ao tempo de serviço. Essa grana sai do bolso dos brasileiros.

Quinze mil reais para se divertir, depois de ser julgado e condenado? O país precisa redefinir o que significa punição para as castas dos Três Poderes. Especialmente para os iluminados que julgam desvios de conduta.

O outro lado desse caso toca a realidade de cada um de nós. Só afortunados jamais tiveram de engolir, no dia a dia da profissão, um chefe arrogante e cruel, sincero ou dissimulado. O assédio moral não se configura apenas pelas atitudes extremas de Adeildo. O juiz costumava dizer: “O deus aqui sou eu”.

Quantos chefes não se consideram deuses, donos da verdade suprema, superiores a todos que os cercam – e deixam isso claro para seus subordinados, com agressões verbais, manipulações psicológicas ou ironias demolidoras? Ser vítima de assédio moral no trabalho é sentir-se regularmente ofendido, menosprezado, rebaixado, sufocado, constrangido e cerceado.

Quantos profissionais incapazes de exercer uma liderança saudável e positiva são promovidos nas empresas? Passam a vida adulando superiores e infernizando a vida de quem está abaixo na hierarquia.

Uma nova pesquisa, da consultoria Robert Half, publicada na semana passada pelo jornal O Globo, reforça o que já sabemos. As três principais qualidades de um líder são: inspirar outras pessoas, ter ética e ser capaz de tomar decisões.

Gostar de pessoas e ter prazer pelo que faz são requisitos essenciais de um bom líder. Esse é o senso comum. Diz William Monteath, da Robert Half no Rio de Janeiro: “O verdadeiro líder é admirado pelos colegas, ele mostra o caminho”.
Só afortunados jamais tiveram de engolir, no dia a dia da profissão, um chefe arrogante e cruel

E quais seriam os maiores defeitos de um líder? “Desequilíbrio emocional, arrogância e centralização” foram apontados pela pesquisa. Uma pergunta se impõe. Por que razão, se todo mundo já sabe de tudo isso, chefetes desequilibrados, arrogantes e centralizadores continuam na folha de grandes empresas, com a missão de liderar equipes?

Por mais que tenham qualidades indiscutíveis na profissão que escolheram, os maus líderes sofrem de uma limitação: não conseguem inspirar ninguém nem extrair de um comandado o que ele tem de melhor. São, portanto, incompetentes para exercer essa função. Quando admiramos e respeitamos nossos chefes, trabalhamos mais e melhor, por vontade própria.

A Justiça no Recife levou anos para desmascarar o juiz. E as empresas privadas, como conseguem distinguir os bons e os maus líderes? Existe uma inércia natural – influenciada pelo medo, pela burocracia, pelas amizades e pelo rolo compressor da produtividade diária. Existe ainda, na cúpula, uma dificuldade compreensível de assumir erros eventuais. “Não adianta achar”, afirma Julián Lichtmann, sócio diretor da Ingouville, Nelson & Associados, “que promover alguém a cargo de gestão fará dele líder.”

Um dos principais problemas, segundo Monteath, da Robert Half, é “a promoção precoce de profissionais a cargos de gestão sem o devido preparo”. Chefes imaturos e inseguros têm maior dificuldade de admitir seu despreparo nas avaliações internas anuais.

Nem todos os líderes “nascem prontos”, diz o consultor Lichtmann. Liderança também se aprende, e as melhores empresas investem em treinamento. Mas há os que não aprendem nunca: “Um líder é reconhecido pela forma como age, não pelo que fala”. Para um subordinado inteligente, é mole sacar o líder “artificial ou ambíguo”.

Não basta amar o que faz. É preciso gostar de pessoas para ser líder. O juiz Adeildo não gostava nem um pouco de sua equipe. A recíproca costuma ser verdadeira.

A promessa impossível de Dilma - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


Em entrevista concedida a VEJA, a presidente Dilma Rousseff foi peremptória. "Temos de baixar a carga de impostos. E vamos baixa-la." Era uma resposta às reclamações de empresários com quem ela se reunira. Para eles, os impostos inviabilizam as melhores iniciativas e impedem que possam competir em igualdade de condições. Dilma demonstrou vontade política para enfrentar o principal entrave à expansão da economia e sensibilidade para entender o correto diagnóstico dos empresários. Sua promessa não tem, infelizmente, como ser cumprida.

A carga tributária subiu de 23% do PIB em 1988 para estimados 36% do PIB em 2012. Foi consequência do aumento das despesas. Há desperdícios decorrentes de inépcia, fisiologismo e corrupção, mas essa não é a causa básica da calamidade. Duas outras origens são mais fortes. Primeira, o crescimento natural da despesa (Lei de Wagner, abaixo explicada). Segunda e mais relevante, a opção, desde 1988, por um modelo de gastos crescentes. Por exemplo, de FHC a Dilma, o salário mínimo, que reajusta 40% dos gastos do INSS, aumentou 162% acima da inflação.

A Lei de Wagner, do economista alemão Adolph Wagner (1835-1917), diz que o tamanho do governo aumenta à medida que o país se desenvolve. Isso porque a ação estatal se torna mais necessária e complexa em campos típicos como regulação, fiscalização, educação, saúde, ciência, pesquisa e bem-estar social. As despesas se expandem a um ritmo superior ao do PIB. Por isso, a carga tributária britânica saltou de 9% do PIB em 1900 para os atuais 37% do PIB. Observa-se esse padrão em outros países ricos. A contra partida é mais desenvolvimento e melhor qualidade dos serviços ofertados pelo governo.

No Brasil, uma parte da expansão dos gastos seguiu a Lei de Wagner. A outra, maior, derivou de pressões corporativas e de ações políticas inconsequentes, que fizeram da Constituição de 1988 um pacto em prol do gasto público. Em média, de lá até 2011, o PIB cresceu 3% ao ano, mas as despesas federais aumentaram 5% ao ano, o mesmo ritmo das de pessoal. Os gastos do INSS cresceram anualmente 13% e as transferências constitucionais a estados e municípios, 10%. Computadas as aposentadorias dos servidores públicos em todo o país, os gastos previdenciários nacionais atingiram 12% do PIB em 2011. Eram 4% do PIB em 1988. A expansão das despesas é uma das explicações para os juros altos, cuja conta cresceu 4% ao ano desde 1988. Por tudo isso, em 24 anos os tributos federais passaram de 16% para 25% do PIB.

A declaração de Dilma gerou esperanças, mas o espaço para reduzir a carga tributária federal encolheu ao longo do tempo devido ao crescimento das despesas federais incomprimíveis: pessoal, INSS, educação, saúde transferências constitucionais e juros. Em 2011, elas corresponderam a 74% da receita. Somadas outras despesas obrigatórias contratadas como subvenções, o Legislativo e o Judiciário, esse porcentual vai a 96%. Se o governo federal investir ao menos 1 % do PIB (no passado, mais de 3% do PIB), chega-se a mais de 100% da receita. A dificuldade de reduzir a carga tributária é maior quando se considera que os estados e municípios respondem por 30% do total. Dilma por certo não pensou neles quando fez a promessa.

Eis a tragédia fiscal. Não dá para reduzir em prazo razoável as despesas obrigatórias, que decorrem da Constituição, das leis e dos contratos. O governo está condenado a gastar mais do que arrecada. Se a carga tributária cair muito, a situação vai piorar. A diferença teria de ser suprida por mais dívida ou emissão de dinheiro, o que geraria queda de confiança e inflação.

É preciso continuar a demanda por corte de gastos correntes, pois assim se aumentaria o espaço para mais investimentos. Outra ideia seria criar condições para limitar o crescimento real das despesas, permitindo que ao longo do tempo elas caíssem como proporção do PIB. O trabalho inglório de clamar pela redução da carga tributária seria mais bem aplicado em reivindicar sua simplificação.

As desonerações em curso em favor da indústria, muitas feitas de afogadilho, podem contribuir para piorar a complexidade da carga tributária, e não para reduzi-la.

Febraban, Fiesp e as broncas de Dilma - SERGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 16/04/12


Estaria resolvida a crise com aliados no Congresso, se o governo decidisse usar, para atender a emendas parlamentares, R$ 1 bilhãozinho que fosse de seu saldo recorde de fevereiro nas contas primárias (receitas menos despesas, excluindo-se as contas financeiras, de juros).

Mas o dinheiro foi garantir superávit e reduzir as contas com a dívida pública, abrindo caminho para a redução dos juros, que, agora, esbarra na teimosia dos bancos. Esse raciocínio poderia ser ouvido, na semana passada, por algum curioso que, com certa dose de coincidência, colasse o ouvido em algumas das divisórias de madeira do reformado Palácio do Planalto.

O esforço de criar condições fiscais para baixar os juros tem batido de cara na sólida resistência dos bancos privados em reduzir o custo financeiro para a sociedade, argumenta a equipe econômica de Dilma. Por isso, o nome do presidente da Federação Brasileira dos Bancos, o educadíssimo Murilo Portugal, tem sido acompanhado de adjetivos impublicáveis, nos últimos dias, quando mencionado por vozes do governo. Portugal levou ao Planalto as demandas dos bancos para baixar os juros na ponta, e fez declarações públicas que pioraram o já folclórico mau humor da presidente.

Portugal, eficiente e disciplinado em sua passagem pelo governo como Secretário do Tesouro, nada mais fez agora do que traduzir em bom português a disposição do setor financeiro, que levou 12 reivindicações ao governo, entre elas a diminuição dos impostos e da retenção compulsória de depósitos.

Para o setor, seria contra a "lógica do mercado" mexer no lucro bancário, que Portugal admitiu representar 30% do spread, taxa que remunera os bancos - e que, segundo o Banco Central, soma 34%, mais de um terço do spread - nos bancos privados.

Mercado generoso esse, que embute no preço de uma mercadoria (no caso, os juros sobre empréstimos), lucro de mais de um terço. Ao se insurgir contra essa lógica, o governo alega que está exercendo o poder que tem sobre parte desse mercado para forçar uma redução em favor do restante da economia.

Tem apoio de especialistas insuspeitos, como mostrou recente entrevista, ao "Estado de S. Paulo", de Luis Carlos Schymura, da Fundação Getulio Vargas. E da história: na eclosão da crise financeira, quando os bancos retraíram-se, o governo adotou estratégia semelhante, foi brindado com profecias de fracasso e, no entanto, Banco do Brasil e Caixa sistematicamente registraram índices de inadimplência baixos, em alguns momentos até menores que a média do mercado. Com o aumento atual da inadimplência, os bancos públicos continuam com boa performance, desautorizando pessimismo.

Como disse honestamente Portugal, "a bola está com o governo", na opinião dos bancos, que esperam resposta a suas demandas. O governo vê o jogo de ângulo diferente, e, veladamente, ameaça medidas mais drásticas contra os juros altos, caso a banca privada não se mexa para baixar o custo dos empréstimos, refletindo a queda dos juros básicos e da inflação.

A plateia será brindada, nos próximos dias, com muito jogo de cena: previsões alarmistas de inadimplência pelos bancos (algumas já pipocam nos jornais), que reforçam assim argumentos pelos juros escorchantes de mais de 60% ao ano; e declarações agressivas do governo, arriscando nervosismo nos mercados.

O governo tem limites para interferir nas decisões dos bancos públicos. Nada indica que já os tenha extrapolado.

Ocupada no cabo de guerra com o setor financeiro, a presidente Dilma busca estreitar laços com a indústria, apavorada pela perda crescente de competitividade e de receitas. Nesse outro jogo, tem sido notada cada vez mais frequentemente a ausência de uma das principais estrelas do time industrial, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Na sexta-feira, na cerimônia da CNI em que criticou mais uma vez os spreads bancários, Dilma anunciou parcerias com a indústria em uma de suas meninas dos olhos, o Pronatec, programa de qualificação de mão de obra em que o BNDES investirá R$ 1,9 bilhão. Não escapou à presidente o espaço em branco sobre São Paulo, no mapa em que mostrava iniciativas das federações de indústrias em apoio ao programa acalentado no Palácio do Planalto.

Assim como Portugal, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf já havia ajudado a azedar o humor acre da presidente, durante outro evento, o anúncio, no Planalto, das medidas adicionais ao plano Brasil Maior, no início de abril. Enquanto executivos se refugiavam em elogios, Skaf foi o único a dizer o que pensava boa parte dos líderes empresariais, criticando como insuficientes as medidas de apoio à indústria.

"Apenas baixaram uma febre de 40° para 38,9° ", desdenhou. A metáfora e outros sinais, como o desinteresse pelo Pronatec, inflamam os ânimos dos que, no governo, identificam com irritação um obstinado comportamento oposicionista no presidente da Fiesp, executivo com pretensões políticas, filiado ao PMDB do vice-presidente Michel Temer. Nos vestiários da indústria, porém, não consta que Skaf venha recebendo críticas de seus pares por isso.

Acomodados - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 16/04/12


A inadimplência justificaria quase um terço do elevado spread bancário no Brasil, o que pode ser traduzido como ineficiência ou acomodação do próprio sistema, que é a hipótese mais provável. Os bancos têm à disposição programas de computador que acendem o sinal amarelo quando o cliente perde capacidade de pagar empréstimos e outros compromissos. Outros programas formulam soluções.

Então não faz sentido que a inadimplência seja tão alta, como alegam os bancos, pois a possibilidade de renegociação e entendimento é imensa, sem que se precise chegar a exaustivas e desgastantes disputas judiciais. No entanto, na maioria das vezes essa renegociação implica redução de encargos financeiros - ou melhor, do spread bancário, uma das principais fontes de lucratividade do sistema financeiro. Parece existir assim um círculo vicioso: como os juros são extremamente elevados, a inadimplência tende a ser grande, o que, por sua vez, explicaria o spread alarmante.

A recente discussão em torno do tema foi importante para mostrar que os custos administrativos são uma parte irrisória do spread, o que pressupõe um considerável grau de eficiência do sistema bancário. Se o spread diminuir a inadimplência deverá encolher. E os bancos até manterão sua lucratividade.

Deixar como está para ver como é que fica não é a melhor política, porque o país já está saturado dessa lenga lenga de juros excessivamente altos.

Esta semana, no estaleiro STX, em Niterói, será batizado um dos maiores navios de apoio a plataformas de petróleo construídos no Brasil. O Skandi Iguaçu, da norueguesa Norskan (grupo Dof Asa) deverá ser muito usado futuramente na Bacia de Santos, pois é uma das poucas embarcações aptas a lançar no fundo do mar pilastras "torpedos", que servem para ancoragem de grandes plataformas de produção de petróleo. O sistema é conhecido como torpedo porque se assemelha mesmo ao lançamento do projétil. A Petrobras desenvolveu essa forma de ancoragem com grande precisão, a ponto de o "projétil" penetrar no solo, depois de lançado, na profundidade previamente planejada.

A Norskan foi criada em 2001 e hoje emprega aqui 1.300 pessoas. Como construiu 11 embarcações no país - e tem outras quatro na linha de montagem - uma parte considerável de sua frota tem bandeira brasileira, o que aumenta a sua competitividade no mercado nacional, pois contribui para as companhias petrolíferas atingirem o percentual de conteúdo local do qual se comprometeram nos contratos de concessão assinados com a Agência Nacional do Petróleo.

Houve mais uma descoberta de reservatórios de gás natural em Minas Gerais, desta vez pela Petra. O consórcio liderado pela Orteng já havia achado gás em um bloco vizinho, na região próxima à hidrelétrica de Três Marias. O uso comercial desse gás não está ainda equacionado, mas o mais provável é que seu consumo fique restrito ao próprio estado de Minas Gerais, pelas características da bacia sedimentar (talvez fique muito caro transportá-lo por longas distâncias).

Marcelo Milech, da SH, empresa instalada no distrito industrial de Campo Grande, no Rio, esclarece que recentes normas editadas pela ABNT estabelecem que as formas para paredes de concreto - agora muito usadas na construção de habitações mais populares - determinam que sejam feitas previsões para aparelhos de ar condicionado. Segundo ele, as paredes de concreto esquentam mais rapidamente que as de alvenaria, porém perdem o calor com brevidade. Na defesa desse método construtivo, que de fato acelera a obra e exige menos mão de obra, Milech lembra que as paredes de concreto dificultam mudanças internas que possam comprometer a estabilidade do imóvel.

A SH é especializada em formas de construção, e nos últimos quatro anos passou a se dedicar mais às paredes de concreto. Atualmente produz o equivalente a quatro mil metros quadrados por mês.

O economista Mauro Osório andou compilando dados sobre empregos gerados diretamente pela indústria de transformação no Rio (capital) e ele mesmo se surpreendeu com os resultados. Em 2010, a massa salarial da indústria de transformação superava a de todo o comércio no Rio. Enquanto nos demais municípios da região metropolitana o número de empregos formais na indústria de transformação chegava a 90 mil, no Rio somavam mais de 188 mil. Em alguns subúrbios da cidade (Penha, Vigário Geral, Pavuna e Inhaúma), a indústria de transformação responde por um quinto ou um quarto do total de empregos formais. Em Santa Cruz, essa percentagem era de 34,1%.

O interior do Estado vem ganhando dinamismo, mas mesmo assim a cidade do Rio participou com 45,7% dos empregos formais gerados no ano passado pela indústria de transformação. O natural é que a participação do interior e dos demais municípios da região metropolitana aumente gradativamente, mas não se pode desprezar a importância da indústria carioca na economia do município.

Ninguém tem dúvida que o Comitê de Política Monetária reduzirá as taxas básicas de juros esta semana, provavelmente para 9%, um corte de 0,75 ponto percentual. O burburinho do mercado vem girando em torno do comunicado que será divulgado ao fim da reunião do Copom, na noite de quarta-feira, dando pistas, ou não, se haverá mais um corte, em maio. A conjuntura mudou.

A vez dos incentivos cambiais - FRANCISCO DORNELLES

O Globo - 16/04/12


Por iniciativa do Brasil a Organização Mundial do Comércio (OMC) realizou recentemente em Genebra seminário para discutir a possibilidade de que, com base no Acordo do GATT e no Acordo sobre Subsídios e Direitos Compensatórios, a desvalorização da moeda, em situações específicas, possa ser caracterizada como uma prática desleal no comércio internacional.

Nessa discussão, foi eliminada a possibilidade de ser considerada prática desleal a desvalorização cambial ocorrida em um país que adote o regime de câmbio flutuante, bem como aquela decorrente de desequilíbrios macroeconômicos, tendo sido examinado, prioritariamente, o caso de países com enormes saldos comerciais e elevado volume de reservas e que mantenham, de forma permanente, sua moeda desvalorizada.

É princípio aceito na área do comércio internacional que uma combinação de ajuste geral das tarifas externas associada com subsídios à exportação possa ter efeito equivalente a uma desvalorização cambial. No sentido inverso, uma desvalorização cambial pode ter efeito equivalente a um ajuste total de tarifas associado a uma rede de subsídios à exportação. A desvalorização da moeda aumenta a competitividade dos produtos exportados e torna mais onerosas as importações

A desvalorização cambial como prática desleal de comércio, discutida na OMC, é polêmica.

Existe a posição de que, em qualquer situação, a desvalorização da moeda só poderia ser considerada prática desleal de comércio através de modificações que viessem a ser introduzidas no Acordo Geral dos Subsídios e Direitos Compensatórios.

Em trabalho apresentado no seminário, o professor da American University Aluisio de Lima Campos defendeu, entretanto, com grande respaldo técnico, a tese de que o referido Código já permite que a moeda desvalorizada, em situações por ele analisadas, possa ser considerada prática desleal de comércio, sujeita portanto a direitos compensatórios.

O cálculo desses direitos para neutralizar a desvalorização da moeda é extremamente complexo, como, aliás, é complexo o cálculo de qualquer direito compensatório para neutralizar os efeitos dos subsídios fiscais, creditícios e monetários. A professora Vera Thorstensen, da Fundação Getulio Vargas, apresentou, no mesmo seminário, trabalho sobre o assunto com alternativas para o cálculo desses direitos.

A introdução do tema câmbio nas discussões sobre comércio internacional e a caracterização de situações em que pode a sua desvalorização ser considerada prática desleal de comércio, como dito anteriormente, são polêmicas no mundo acadêmico, analisadas com viés corporativista por certos organismos internacionais, e até mesmo com viés ideológico, em alguns países.

No entanto, o tema não pode deixar de ser amplamente discutido porque, a cada dia, os subsídios de natureza fiscal, creditício e monetário estão sendo substituídos por medidas de natureza cambial.

O Brasil deve dar prosseguimento ao trabalho iniciado na OMC pela repercussão que a matéria desvalorização cambial está tendo e terá, cada vez mais, na área do comércio internacional.

Às redes! - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 16/04/12


A CPI do Cachoeira será a primeira sob a égide de redes sociais onde eleitores têm contato direto com os políticos e podem exigir uma apuração do tipo doa a quem doer. O efeito, se brincar, será o mesmo que o da Ficha Limpa



O senador Pedro Simon (PMDB-RS) lançou da tribuna do Senado o que parece ser a esperança de todos os brasileiros que desejam ver esclarecidas a teia de Carlinhos Cachoeira, da turma do mensalão e de quem mais chegar: a necessidade de a população começar a se mexer em prol das apurações como se mobilizou para fazer valer a Lei da Ficha Limpa que, aos trancos e barrancos, vai tomando corpo.

O senador gaúcho costuma enxergar longe. Tem o dom de se renovar e, não raro, está muito mais atualizado do que seus colegas mais novos. Conhecido como o "demolidor" de ministros, Simon já passou por muitas no Congresso. Houve um tempo em que bastava uma autoridade aparecer enroscada ou sugada por alguma encrenca para que um discurso do senador terminasse de vez com a defesa de quem estivesse nessa situação. Que o diga o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, do governo Fernando Henrique Cardoso.

Para quem não se recorda, Mendonça de Barros ocupava o cargo quando surgiram gravações telefônicas (sempre elas!) que indicavam uma ação para direcionar os leilões para venda das empresas de telefonia. O então ministro foi ao Congresso se defender. Fez uma exposição no plenário do Senado aparteado por vários senadores. Quando chegou a vez de Simon falar, Mendonça de Barros ficou tão constrangido que saiu dali direto para redigir a carta de demissão.

Por falar em sair...

De alguns anos para cá, as autoridades parecem meio anestesiadas com discursos de Simon. Mas, na última sexta-feira, na tribuna da Casa, ele apostou que esta CPI para investigar Carlinhos Cachoeira virá com força total porque será a primeira grande Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, daí a sigla CPMI, sob a égide das redes sociais. Twitter, Facebook, e outros instrumentos vão permitir ao cidadão conectado acompanhar de perto e participar diretamente dos debates.

Com base na audiência da TV Senado, que bateu recordes em outras CPIs, Simon é capaz de apostar que você que está aí, lendo este artigo, pode ajudar nos interrogatórios, enviando perguntas para os senadores, denunciando, pressionando. Até aqui, o povo só assistia as CPIs. No máximo, algumas pessoas que conseguiam transitar por ali mandavam um bilhetinho aos senadores via assessores. Agora, não. O cidadão estará conectado à CPMI.

Por falar em conectado...

Simon lembrou ainda que os políticos não queriam a lei da Ficha Limpa. Da mesma forma que hoje estão seguindo para a CPI com um certo receio dos estragos que ela pode causar aos partidos políticos, ao DEM ao PT, como foi amplamente explorado no noticiário dos últimos dias. Mas, se houver uma pressão nas redes sociais e na sociedade civil, essa capacidade de controle será menor. Afinal, reza a lenda que, quando a população de mobiliza, o resultado se aproxima mais do que o povo deseja. Portanto, às redes!

Por falar em mobilização...

Aqui e ali surgem notícias de que personagens do chamado mensalão têm reclamado que o Supremo Tribunal Federal se mostra sujeito à pressão popular. Há quem diga que, ao garantir a validade da Lei da Ficha Limpa, o STF teria meio que se rendido ao clamor das ruas, uma vez que, na visão de muitos advogados, a lei é inconstitucional e só prosperou porque a população se mobilizou.

Bem, ainda que seja assim, ela está aí e os ministros que votaram a favor não podem ser acusados de rendição. Até porque quem votou a favor dirá ter a convicção de que a lei está correta e esse conjunto foi o que prevaleceu. Vale aqui, a outra face desta moeda: O fato de alguns petistas considerarem que o STF está sujeito ao clamor das ruas pode ser visto também como uma espécie de vacina contra um eventual resultado desfavorável no Supremo tribunal Federal. Assim, se a Suprema Corte considerar que os personagens envolvidos são culpados, eles sempre poderão dizer que foram injustiçados e que o STF se rendeu ao clamor da parte da população que é contrária ao PT. Essa será mais uma batalha que poderá ser travada nas redes sociais no futuro.

Políticas de Estado - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 16/04/12



Ainda é muito cedo, do ponto de vista da História, para uma análise sólida deste período de 17 anos em que blocos políticos liderados pelo PSDB e PT têm conduzido o país. A luta político-partidária dificulta a visão serena necessária para o entendimento do processo de transformação em curso. Mas há algumas constatações que, mesmo sem serem consensuais, não deverão ser revistas. Uma, óbvia, é que tucanos e petistas, com origem na esquerda - na social-democracia europeia e no obreirismo comunista-cristão -, para chegarem ao poder precisaram construir amplas alianças, com a atração de legendas conservadoras de todos os naipes.

Outra constatação é sobre a política econômica. Coube aos dois grupos políticos manejar com a herança de problemas deixados pela ditadura militar e não resolvidos no primeiro governo da redemocratização, de José Sarney. Caberia aos dois governos de Fernando Henrique Cardoso debelar a superinflação - um fato histórico - e lançar as bases para a estabilização econômica. O engenhoso Plano Real conseguiu quebrar a espinha da inércia inflacionária - o aumento de preços do passado garantia as remarcações no futuro -, mas ficou, em certa medida, prisioneiro de um regime de câmbio quase fixo, um perigo, como ficaria demonstrado na explosão da Argentina em 2001. E, no momento, pela crise grega, espanhola, italiana etc. A ruptura abrupta com este regime no início de 1999, quando o país aportou mais uma vez nas enfermarias do FMI, permitiu a adoção do sistema de câmbio flutuante e a fixação de metas de superávit primário, para impedir o descontrole das contas públicas. Vêm daí, também, as metas de inflação. Como fecho, foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), para conter a gastança histórica dos entes federativos.

O crescimento da candidatura de Lula, na campanha de 2002, agitou os mercados, pois o PT sempre fora contra "tudo isso que está aí". O dólar disparou e gerou grandes pressões inflacionárias. Para sorte do país e do governo petista, Lula assumiu tendo assinado a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometia a não fazer alterações radicais, romper contratos. A LRF, mesmo tão criticada, foi mantida, felizmente. Foi possível, então, debelar as pressões inflacionárias, devido ao uso de instrumento clássico de política econômica, tão demonizado por petistas: controle de gastos. O reconhecimento implícito do governo petista de que não havia - e não há - alternativa melhor ao modelo de gerenciamento da economia via câmbio flutuante, metas de inflação e a obtenção de superávits primários marcou um grande amadurecimento na política brasileira. Surgiram políticas de Estado e não só de governos.

Com a crise mundial deflagrada em 2008, os pendores estatistas dos quadros do PT no governo ganharam espaço. Foi ressuscitada a política de transferência de dinheiro público subsidiado para grandes grupos nacionais via BNDES, adotada no governo Geisel, na ditadura, com maus resultados. Mas há sérios constrangimentos, nas próprias contas públicas, a um modelo alternativo, de figurino intervencionista. Mesmo o projeto de gastos assistenciais, grande marca da Era Lula, pode naufragar se a estabilização da economia for abalada por qualquer voluntarismo fiscal. Agora, por meio do governo Dilma Rousseff, a aliança política sob liderança petista precisa dar sequência às mudanças por meio de reformas inevitáveis. A da previdência do funcionalismo, recém finalizada, é apenas uma delas.

Mito ou ameaça? - PAULO GUEDES


O Globo - 16/04/12


Seria a desindustrialização brasileira um mito? Ou haveria pelo menos uma ameaça de desindustrialização? É verdade que há em todo o mundo um crescimento exponencial do setor de serviços, ampliando sua participação na estrutura das modernas economias de mercado. E também é verdade que a queda dos preços de produtos industriais, disparada pela competição global, associada ao aumento dos preços de matérias-primas e das commodities agrícolas, reduziu a participação da indústria na composição do produto interno bruto.

Mas a ameaça da desindustrialização brasileira não se refere a essa inegável perda de importância relativa da indústria, que ocorre de forma natural nas economias avançadas. O que se discute aqui é uma ameaça concreta aos níveis absolutos de produção e de emprego na indústria brasileira. Os juros são muito altos. O câmbio é muito baixo. Os impostos e os encargos trabalhistas são excessivos. A logística e a infraestrutura são deficientes. A energia é muito cara.

Levantamento exclusivo do IBGE para O GLOBO deste domingo mostra o encolhimento de 0,7% no mercado de trabalho industrial no período 2009-2011. Houve no triênio forte retração no emprego em setores de produtos manufaturados tradicionais, como couro e calçados (-8,1%), fumo (-12,2%), vestuário (-12,6%) e madeira (-28,9%).

É fato que a emergência da China como maior produtor mundial de manufaturados atingiu cadeias produtivas em todo o mundo. Mas a maior competitividade da indústria chinesa é também o resultado da melhor qualidade de suas políticas públicas. A moderação fiscal assegura juros baixos e câmbio favorável a suas exportações. O grosso dos gastos públicos são investimentos em energia, infraestrutura e logística, em vez de despesas correntes como no Brasil. E, como os mercados globais são suas alavancas de prosperidade e inclusão social, resistem à incidência de encargos sociais e trabalhistas.

O Brasil tem de um lado, à base das cadeias produtivas, uma fabulosa disponibilidade de recursos naturais. E temos, na outra extremidade, um mercado potencial de quase 200 milhões de consumidores para os produtos finais de nossa indústria. Mas uma perversa configuração de políticas públicas estimula uma invasão chinesa que ameaça de desintegração estágios importantes das cadeias produtivas industriais. O Império do Centro ameaça rachar ao meio a indústria brasileira.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 16/04/12



Empresários de eólicas questionam retorno no setor

Se os índices de eficiência de empreendimentos de energia eólica dos últimos leilões repetirem os do Proinfa (programa de fontes alternativas do governo, criado em 2003), empresários do setor estimam que haverá prejuízo.

Por ora, a expectativa média de fator de capacidade (relação entre geração e capacidade instalada) de participantes de leilões é de 44%. A média prevista em parques eólicos contratados à época do Proinfa era de 37%, segundo dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

Acabou ficando em 30%, patamar semelhante ao de outros países, entre 28% e 34%. Nos últimos leilões, o preço foi a R$ 105 o MWh, bem inferior ao do Proinfa.

"Se houver queda de 44% para 30%, como ocorreu no Proinfa, a perda de receita vai ser de 32%. E ainda tem de entregar a diferença da energia que não for gerada", diz um empresário do segmento.

No Proinfa, que teve tarifa incentivada equivalente a cerca de R$ 300 de hoje, a energia não entregue em um ano podia ter o valor econômico abatido da receita do ano seguinte. Nos leilões, não, e ainda se tem de compensar a energia não gerada em até quatro anos.

"O risco é exponencial e muitos não fizeram conta direito", diz outro empresário.

Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas, estatal de planejamento, afirma que "eólica é fonte sazonal. Há ano com mais ou menos vento". No início do projeto, há a curva de aprendizado, lembra ele. "Hoje há novas tecnologias, adaptadas ao vento brasileiro", diz. "Se num ano teve pouco vento, vai pagar menos, mas no ano seguinte pode ventar mais."

A argentina IMPSA projetara média de 36% na eólica Praia do Morgado (CE), mas atingiu apenas 29%.

"Essa queda está na margem de erro", diz o vice-presidente José Luis Menghini. O índice de eficiência pode variar 10%, segundo a presidente da Abeeólica (associação do setor) Elbia Melo.

Para Melo, o preço no último leilão foi possível graças ao ganho de produtividade com novas tecnologias.

O valor está em patamar semelhante ao do último leilão do Uruguai, de acordo com o executivo da IMPSA.

Fábrica recapeada

A Tipler, indústria de borracha do RS com foco em recapagem, está investindo

R$ 40 milhões para ampliar sua capacidade de produção.

O processamento de borracha passará de 3.400 toneladas por mês para 6.000.

O aporte será destinado para aquisição de esquipamentos e mudança da disposição da maquinaria para melhorar o fluxo de produção.

O projeto de expansão estava planejado há cinco anos, mas foi adiado devido à crise internacional.

"Esse é um negócio voltado para o mercado interno, por isso decidimos retomá-lo", diz o presidente da empresa, Sergio Bica Jr.

Carros revisados

O índice de roubo e furto de carros voltou a crescer no Brasil, segundo levantamento da empresa Tracker.

No primeiro trimestre deste ano, houve um aumento de 47,7% na categoria utilitários em relação ao trimestre anterior. Entre os automóveis, o aumento foi de 16,2%.

Apenas os índices referentes a caminhões e motos tiveram queda, de 2,1% e 36,1%, respectivamente.

Dos veículos mais roubados no primeiro trimestre deste ano, 55% são avaliados acima de R$ 50 mil. Os que possuem valor médio de R$ 50 mil correspondem a 20%.

Semelhança hospitalar

O hospital Albert Einstein assina nesta semana um contrato de consultoria e gestão com o MD Anderson, instituição americana de referência no mundo em tratamento oncológico.

As duas instituições já compartilhavam estudos e trocavam informações. Mas a ideia agora é aprofundar a troca no processo de atendimento, segundo Claudio Lottenberg, presidente do hospital.

"Eles vão rever os processos oncológicos do Einstein, nossos biomédicos serão treinados com os deles", diz. Para que o hospital adote o padrão institucional do MD Anderson, haverá encontros constantes do corpo clínico.

Fundo em caixa

A Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil estão administrando volumes semelhantes de regimes próprios de previdência social (que reúnem previdências de servidores da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios).

Cada banco está com cerca de R$ 19,5 bilhões.

Nos últimos três meses, o Banco do Brasil teve incremento de 11,4% no valor dos fundos. A expectativa da empresa é crescer 40% em 2012.

A Caixa administra hoje 37 fundos no segmento de regimes próprios.

O mercado total brasileiro do setor soma mais de

R$ 60 bilhões.

Número

11% foi o aumento no número de títulos protestados no primeiro trimestre, ante igual período de 2011

RETORNO O número de títulos protestados voltou a subir, após três anos em queda, na comparação entre os primeiros trimestres, segundo a Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito. O volume cresceu 11% nos primeiros três meses de 2012, ante igual período de 2011. "Ainda não é alarmante. A expectativa para este ano é de recuo no ritmo desse crescimento", diz Flávio Calife, economista.

MÃOS DADAS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 16/04/12

O governo quer se reunir com os principais patrocinadores da Copa 2014 para conversar sobre uma estratégia que possa amenizar críticas negativas que vem recebendo pela realização do evento. A equipe do ministro Aldo Rebelo, do Esporte, está agendando encontro ainda nesta semana com diretores das empresas.

SÓ COISA BOA

A iniciativa não é inédita. O ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, também procurou os empresários. A ideia é que tentassem, com propagandas, ajudar o governo a se contrapor às notícias negativas como o atraso na construção de estádios e na ampliação de aeroportos.

REGIME FORÇADO

O empresário Carlinhos Cachoeira emagreceu quase 15 quilos na prisão de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Deprimido, não consegue se alimentar direito e chegou a passar mal há alguns dias, precisando de ajuda médica. Sua mulher, Andressa, que o visita uma vez por semana, tem feito relatos que preocupam amigos e familiares.

VIDRO

No presídio, o cabelo de Cachoeira foi raspado. Ele fica trancafiado sozinho numa cela por 22 horas seguidas. Tem direito a duas horas de sol. Só lê publicações disponíveis na biblioteca do lugar e não vê quase ninguém.

Pelas regras da penitenciária de Mossoró, Andressa, quando o visita, deve falar com ele pelo interfone. Os dois precisam ficar separados por uma parede de vidro.

CARTA

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso, que deu o voto mais contundente contra o aborto por anencefalia na semana passada, teve apoio importante de setores da igreja quando foi nomeado ministro. Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de SP, chegou a enviar carta a Lula apoiando a indicação.

DESPEDIDA

E o vice-presidente Michel Temer oferece jantar para Peluso amanhã, dois dias antes de ele deixar a presidência do STF.

BELAS E FERAS

As modelos Gianne Albertoni e Ellen Jabour foram à abertura da exposição de fotos da Ampara Animal, no shopping Iguatemi. Marcele Becker, vice-presidente da ONG de proteção aos bichos, também estava lá.

SUPER-HERÓIS

A apresentadora Renata Simões levou o sobrinho Pedro à estreia do espetáculo "Batman Live", no ginásio do Ibirapuera. A promoter Priscila Borgonovi, entre outros convidados, foi com o filho João.

PARA O SANTO
A chef Bel Coelho criou um menu degustação inspirado nas oferendas aos orixás no Clandestino, projeto autoral que mantém às quintas em seu restaurante Dui, nos Jardins. "Me encantei com a complexidade, peculiaridades e riqueza da comida de santo", diz. O 'pintxo' (tipo de tapa) de cupim com farinha de dendê, geleia de mel e cachaça e aroma de fumo tem como tema Exu.

LONGA ESTRADA

O maestro João Carlos Martins se submete hoje a uma cirurgia no cérebro, no Rio de Janeiro. Com ela, tentará reverter o problema que, paulatinamente, tira o movimento de suas mãos.

TELMO MUDA

O jornalista Telmo Martino, que nas décadas de 70 e 80 assinou uma coluna no "Jornal da Tarde", em SP, leva amanhã a leilão boa parte de seus móveis, quadros e louças. Hoje morando no Flamengo, no Rio, ele está se mudando para um apartamento menor e não tem como carregar tudo.

TELMO MUDA 2

Os lances do leilão de Telmo Martino podem ser dados na internet no site www.levyleiloeiro.com.br. "Naqueles anos, quem não saísse na coluna, mesmo com ele falando mal, não existia em SP", diz o escritor e colunista da Folha Ruy Castro.

PRIMEIRA FILA

O pianista Chick Corea, que se apresenta com o trio Corea, Clarke and White no BMW Jazz Festival, em SP e Rio, em junho, pediu que os cadeirantes sejam posicionados em frente ao palco durante suas apresentações. O americano já ganhou mais de 15 Grammys.

CURTO-CIRCUITO

O Mackzenzie comemora 60 anos com um culto solene, hoje, às 17h30, no Auditório Ruy Barbosa da universidade.

Marco Antonio de Biaggi lança hoje, às 19h, o livro "Cabelo de Estrela", no restaurante A Bela Sintra.

O ator Edson Montenegro canta hoje, às 21h, no Teatro da Vila. Classificação etária: livre.

Verany Bicudo recebe na quarta a medalha Anchieta na Câmara Municipal.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Guerra aos banqueiros - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Estado de S.Paulo - 16/04/12


O recado da presidente Dilma aos banqueiros, via ministro Guido Mantega, é simples e direto: vocês têm de cortar lucros e transferir ganhos aos clientes na forma de juros menores. (E também, acrescentam os sindicatos de bancários, pegando carona na onda de pressão sobre os seus patrões, com aumento de salários.)

Mas fiquemos com os juros. Segundo o ministro, os bancos privados podem baixar as taxas imediatamente, como fizeram o Banco do Brasil (BB) e a Caixa, sem que o governo tome nenhuma medida.

O que seriam outras medidas? Para fugir das irritações e broncas, convém dar uma olhada nos números. Estão, por exemplo, no site do Banco Central (BC), seção Economia e Finanças, Juros e Spread Bancário. Ali se vê que, conforme dados consolidados até 2010, o spread bancário (a diferença entre aquilo que o banco paga na captação do dinheiro e o que cobra no empréstimo a pessoas e empresas) é formado por:

Custo administrativo (o funcionamento da máquina, incluindo pessoal): 12,56%;

Inadimplência (calotes e atrasos, que levam a perdas e obrigam bancos a fazer provisões para operações mais arriscadas): 28,74%;

Compulsório (o dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no BC e que, claro, reduz a capacidade de oferta): 4,08%;

Impostos: 21,89%;

Margem líquida, o lucro propriamente dito dos bancos: 32,73%. (Estimativas para 2011 mostram pequenas alterações nessa divisão.)

Isso quer dizer que, numa taxa de juros de 50%, os banqueiros embolsam 16,35%. Numa hipótese-limite, com lucro zero, esse juro poderia cair de imediato para 33,65% ao ano. Por outro lado, se o governo zerasse impostos e compulsórios, aquela taxa cairia para 37%. Se, além disso, o governo tomasse medidas para reduzir o risco de inadimplência, como regulamentar o Cadastro Positivo, os juros ao consumidor poderiam chegar ao mesmo nível que chegariam com o lucro zero dos banqueiros.

E, claro, se aplicadas todas essas hipóteses, o spread seria formado só por custos administrativos e o risco, já bem menor. Considerando que o BC deve baixar a taxa básica de juros para 9%, sendo esse o custo que os bancos pagam pelo dinheiro, o empréstimo ao cliente na agência poderia sair por uns 18% ao ano (ou um pouco mais, 20%, digamos, se o pacote de bondades incluísse um reajuste salarial para os funcionários, que elevaria o custo administrativo).

Comparando com as taxas de hoje, seria um extraordinário ganho para pessoas e empresas. O crédito certamente teria um aumento dramático e, consequentemente, o consumo - o que, aliás, poderia vir a ser um problema para o BC. De todo modo, comparando com outros países, ainda seriam juros muito elevados. Isso mostra como a taxa básica do BC, os 9%, continua muito alta. Nas economias estáveis, esse número vai de zero a 5%. E o nosso BC já indicou que não dá para reduzir abaixo dos 9%, entre outras coisas por causa do piso definido pelo rendimento da poupança.

Tudo considerado, o governo tem, sim, responsabilidade nos juros altos. Uma delas, por exemplo, é justamente recusar-se a mexer na poupança num ano eleitoral.

Mas Mantega afirma que o governo já fez muito, de maneira que seria a vez de os banqueiros meterem a mão no bolso. De fato, o BC recentemente baixou sua taxa de 12,5% para 9,75% e vai derrubar um pouco mais. Também, nos últimos anos, caíram os compulsórios. Em 2004 esse item tinha peso de 9,4% no spread total. Hoje, em torno de 4%. Por outro lado, os impostos subiram fortemente. Em 2004, conforme o mesmo estudo do BC, pesavam o equivalente a 15,6% no spread. Hoje, 21,9%.

E daí? - diz-se em Brasília. O governo precisa do dinheiro para seus programas. Logo - é a conclusão -, os banqueiros é que já estão muito ricos e podem abrir mão de parte de seus ganhos. (Há uma ressalva aqui: os grandes bancos privados têm ações em bolsa, de modo que a redução dos dividendos avança no bolso não só dos donos, mas de milhões de acionistas. Mas deixe isso para lá, por ora.)

A presidente Dilma está certa quando diz que derrubar juros é o seu Plano Real. De fato, depois do processo bem-sucedido de estabilização econômica, ficaram alguns problemas graves. Um deles está nos juros. Mas atirar no lucro dos bancos não resolverá a natureza do problema. Reparem no caso do BB e da Caixa: Dilma determinou que baixassem suas taxas, o que fizeram. Como os demais fatores que incidem nos juros não serão mudados, como afirmou Mantega, os bancos públicos só conseguirão isso baixando seus lucros. Como mesmo os estatais não podem ir ao lucro zero, há limites.

Reduzidos, os juros mais baixos, para clientes muito bons, em crédito automotivo (com garantia firme, pois), sairão por uns 15% ao ano mais taxas. É só um pouco menos do que se cobra hoje.

Já no cheque especial e no cartão de crédito, os bancos públicos fizeram reduções expressivas, o que é muito importante para forçar para baixo a concorrência. De fato, os bancos se fartam de ganhar dinheiro nessas duas modalidades, cujos juros são escandalosos. Mas essa é uma só parte do sistema - e não a mais importante.

É provável que os bancos privados, que não gostam de brigar com o governo, cedam às pressões e façam reduções moderadas nas suas taxas. Entregarão uma parte do lucro para evitar problemas políticos.

Dilma poderá, então, cantar vitória. Mas os juros continuarão muito altos, um obstáculo ao crescimento, se ela, presidente, não liderar uma política que ataque as causas estruturais. Entre essas, os pesados gastos públicos, que exigem impostos elevados e uma dívida alta, cujo financiamento só se faz com juros altos.

Mudanças na legislação também são necessárias, para dar mais garantia ao crédito. Entre estas, o Cadastro Positivo, relação dos bons pagadores, aprovado no Congresso em junho de 2011, depois de 12 anos tramitando, e até agora aguardando regulamentação do governo federal.

Mensalão na praia - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 16/04/12


Luiz Fux, ministro carioca do STF, fazia sua caminhada em Ipanema, ontem de manhã, quando topou com a turma do Movimento 31 de Julho, que divulgava a manifestação de sábado 21, pelo julgamento do mensalão já. Fux recebeu o panfleto, soltou um riso e seguiu adiante.

De lá pra cá
O livro “Antiqualhas e memórias do Rio de Janeiro”, de José Vieira Faz0enda, reeditado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e pela Documenta Histórica, traz uma preciosidade.
No período colonial, quando gastavam mais do que o permitido, os vereadores tinham de preencher o rombo com seu próprio dinheiro.

O amigo da renda
Paulo Okamoto, sócio de Lula na LILS Palestras, Eventos e Publicações Ltda, cuida do imposto de renda do ex-presidente.
No exercício fiscal passado, Lula faturou com palestras até outubro, quando ficou doente.

Frustrou a academia
A desistência do ex-ministro das Finanças da Colômbia José Antonio Ocampo de tentar a presidência do Ban-
co Mundial frustrou seus amigos brasileiros.
O ex-ministro Bresser Pereira vinha recolhendo assinaturas de apoio ao colombiano.

No mais
Gilberto Velho, morto sábado, foi um dos primeiros a estudar nos anos 1970 a descriminalização das drogas. O trabalho recebeu apoio entusiasmado de sua amiga Ruth Cardoso.
Hoje, a bandeira foi abraçada por FH, viúvo de Ruth.

As novas Flips
O Minc autorizou a Fundação Casa de Jorge Amado a captar R$ 2.636.600 para organizar a Feira Literária Internacional do Pelourinho. Em sua primeira edição, a Flipelô vai celebrar o centenário de Jorge Amado (1912- 2012).

A MPB resiste
A queixa de Alceu Valença no Facebook, sobre a nova invasão de músicas estrangeiras nas rádios e lojas, fez sucesso na caixa postal da coluna.
É gente que flagrou na Harrods, grande loja dos milionários em Londres, a voz da nossa linda cantora Céu como música ambiente. Ou no El Corte Inglês, em Madri, o sucesso “Ai, se eu te pego”, de Michel Teló.

‘Avenida Brasil’
Tia Léa, a doméstica que ficou conhecida por abrir sua laje para servir feijoadas na favela do Vidigal, postou em seu Facebook que está tiririca da vida com João Emanuel Carneiro, autor de “Avenida Brasil”, sucesso das 21h da TV Globo.
É que Carminha, a personagem de Adriana Esteves, tem humilhado muito sua empregada, Nina (Débora Falabella):
— Eu nem durmo quando vejo. Isso influencia as patroas.

Só que...
Depende do fim da trama. Se Carminha for castigada pelos malfeitos, jogo jogado.

Xô, urubu
Além de 1,8 mil catadores, o fim do Aterro de Gramacho, dia 23, deixa sem sustento uns 400 urubus. A concessionária Novo Gramacho e a Comlurb, dona do terreno, estudam o assunto.
Mas segundo o presidente da Federação Ornitológica do Brasil, Luiz Beraldi, os urubus vão buscar novo território de onde tirar o sustento. “Não vão morrer; são aves migratórias.”

Rock e samba
“Eu vou de Mocidade com samba e Rock in Rio, por um mundo melhor” é o nome do enredo da escola para 2013. A verde e branco, como se sabe, falará do festival de rock.

Favela rolante
Cabral e Pezão vão hoje a Medellín, Colômbia, ver as escadas rolantes de favelas locais. Assim que assumiram, os dois foram conhecer o teleférico da cidade, e fizeram o do Alemão.

Grande hotel
Romário, que esteve em março em Dubai, conversou com empresários locais interessados em construir hotéis no Rio.
Aliás, o Baixinho corrigiu nota da coluna de que ele, dia desses, procurava o restaurante mais barato do Casashopping, na Barra. Romário diz que a funcionária entendeu errado. Ele queria um restaurante “diet”. Ah, bom!

GG
A sensação entre os gays, no Rio, é o filme “Shame”, de Steve McQueen, sobre um viciado em sexo. Alguns compram ingressos para duas sessões seguidas.
É que, no início, o galã Michael Fassbender aparece com o... longa-metragem de fora.

ZONA FRANCA
O boa praça João Moreira Saltes avisa que não dá aula na PUC desde 2010,.e sempre recebeu. Falha nossa.
Tarcisio Padilha lança amanhã, na ABL, três livros sobre Louis Lavelle.
Patricia Mellodi lança amanhã o clipe da música "Não", sucesso em "Aquele beijo", às 21h, na Charleston Bubble Lounge.
Black Linhares expõe no late Clube a partir de terça, com curadoria de Caio Almeida e Vera Vaz.
O IAB faz debate hoje sobre titulação de terras remanescentes de quilombos, com os professores Denis Lerrer Rosenfield e Maria Cecilia Ladeira.

FERNANDA Paes Leme e Flávia Alessandra brincam de pique-chamego com Rodrigo Lombardi em laboratório, num quartel da Vila Militar, para a novela "Salve Jorge", que Glória Perez escreve para a TV Globo

ZELA Pagodinho, nosso querido sambista, posa na Barra como convidado de honra do aniversário de um ano de João Eduardo, filho de Priscila e Dudu Nobre, seu afilhado

ALCIONE, a grande cantora de coração verde e rosa, recebe as devidas homenagens de David Brazil, em jantar no Rio