segunda-feira, abril 16, 2012

Acomodados - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 16/04/12


A inadimplência justificaria quase um terço do elevado spread bancário no Brasil, o que pode ser traduzido como ineficiência ou acomodação do próprio sistema, que é a hipótese mais provável. Os bancos têm à disposição programas de computador que acendem o sinal amarelo quando o cliente perde capacidade de pagar empréstimos e outros compromissos. Outros programas formulam soluções.

Então não faz sentido que a inadimplência seja tão alta, como alegam os bancos, pois a possibilidade de renegociação e entendimento é imensa, sem que se precise chegar a exaustivas e desgastantes disputas judiciais. No entanto, na maioria das vezes essa renegociação implica redução de encargos financeiros - ou melhor, do spread bancário, uma das principais fontes de lucratividade do sistema financeiro. Parece existir assim um círculo vicioso: como os juros são extremamente elevados, a inadimplência tende a ser grande, o que, por sua vez, explicaria o spread alarmante.

A recente discussão em torno do tema foi importante para mostrar que os custos administrativos são uma parte irrisória do spread, o que pressupõe um considerável grau de eficiência do sistema bancário. Se o spread diminuir a inadimplência deverá encolher. E os bancos até manterão sua lucratividade.

Deixar como está para ver como é que fica não é a melhor política, porque o país já está saturado dessa lenga lenga de juros excessivamente altos.

Esta semana, no estaleiro STX, em Niterói, será batizado um dos maiores navios de apoio a plataformas de petróleo construídos no Brasil. O Skandi Iguaçu, da norueguesa Norskan (grupo Dof Asa) deverá ser muito usado futuramente na Bacia de Santos, pois é uma das poucas embarcações aptas a lançar no fundo do mar pilastras "torpedos", que servem para ancoragem de grandes plataformas de produção de petróleo. O sistema é conhecido como torpedo porque se assemelha mesmo ao lançamento do projétil. A Petrobras desenvolveu essa forma de ancoragem com grande precisão, a ponto de o "projétil" penetrar no solo, depois de lançado, na profundidade previamente planejada.

A Norskan foi criada em 2001 e hoje emprega aqui 1.300 pessoas. Como construiu 11 embarcações no país - e tem outras quatro na linha de montagem - uma parte considerável de sua frota tem bandeira brasileira, o que aumenta a sua competitividade no mercado nacional, pois contribui para as companhias petrolíferas atingirem o percentual de conteúdo local do qual se comprometeram nos contratos de concessão assinados com a Agência Nacional do Petróleo.

Houve mais uma descoberta de reservatórios de gás natural em Minas Gerais, desta vez pela Petra. O consórcio liderado pela Orteng já havia achado gás em um bloco vizinho, na região próxima à hidrelétrica de Três Marias. O uso comercial desse gás não está ainda equacionado, mas o mais provável é que seu consumo fique restrito ao próprio estado de Minas Gerais, pelas características da bacia sedimentar (talvez fique muito caro transportá-lo por longas distâncias).

Marcelo Milech, da SH, empresa instalada no distrito industrial de Campo Grande, no Rio, esclarece que recentes normas editadas pela ABNT estabelecem que as formas para paredes de concreto - agora muito usadas na construção de habitações mais populares - determinam que sejam feitas previsões para aparelhos de ar condicionado. Segundo ele, as paredes de concreto esquentam mais rapidamente que as de alvenaria, porém perdem o calor com brevidade. Na defesa desse método construtivo, que de fato acelera a obra e exige menos mão de obra, Milech lembra que as paredes de concreto dificultam mudanças internas que possam comprometer a estabilidade do imóvel.

A SH é especializada em formas de construção, e nos últimos quatro anos passou a se dedicar mais às paredes de concreto. Atualmente produz o equivalente a quatro mil metros quadrados por mês.

O economista Mauro Osório andou compilando dados sobre empregos gerados diretamente pela indústria de transformação no Rio (capital) e ele mesmo se surpreendeu com os resultados. Em 2010, a massa salarial da indústria de transformação superava a de todo o comércio no Rio. Enquanto nos demais municípios da região metropolitana o número de empregos formais na indústria de transformação chegava a 90 mil, no Rio somavam mais de 188 mil. Em alguns subúrbios da cidade (Penha, Vigário Geral, Pavuna e Inhaúma), a indústria de transformação responde por um quinto ou um quarto do total de empregos formais. Em Santa Cruz, essa percentagem era de 34,1%.

O interior do Estado vem ganhando dinamismo, mas mesmo assim a cidade do Rio participou com 45,7% dos empregos formais gerados no ano passado pela indústria de transformação. O natural é que a participação do interior e dos demais municípios da região metropolitana aumente gradativamente, mas não se pode desprezar a importância da indústria carioca na economia do município.

Ninguém tem dúvida que o Comitê de Política Monetária reduzirá as taxas básicas de juros esta semana, provavelmente para 9%, um corte de 0,75 ponto percentual. O burburinho do mercado vem girando em torno do comunicado que será divulgado ao fim da reunião do Copom, na noite de quarta-feira, dando pistas, ou não, se haverá mais um corte, em maio. A conjuntura mudou.

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