sábado, março 03, 2012

Fratura do tempo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 03/03/12


Tudo é bom no jornalismo: coluna, comentário, entrevista, furo, crônica, cobertura continuada, desenhar uma página, ver o trabalho minucioso de uma ilha de edição, correr contra o tempo no fechamento. Mas a reportagem é um momento supremo. Mergulhar numa história e ir unindo as pontas, fechando um quebra-cabeças, ouvindo as partes, é um exercício de paciência e emoção. Quando dá certo, você até sonha. Sonhei.

A ideia que Cláudio Renato e eu tivemos na Globonews há mais de dois meses era a de falar do trabalho da Comissão da Verdade e tentar mostrar como desapareciam os desaparecidos, que mundo era aquele que ainda nos assombra. O resultado do trabalho foi ao ar na quinta-feira e ontem - ainda repete às 0h30m e às 19h05m deste domingo - e foi publicado neste jornal.

O título Uma História Inacabada foi escolhido pela editora Cristina Aragão. Ele reflete com exatidão e delicadeza o drama do país e das famílias que não enterraram seus mortos, não realizaram seu luto.

Difícil reconstruir os fatos de cada um dos 183 desaparecidos políticos, mas eles sumiam assim pra nunca mais ao entrar numa guarnição militar, ou até em braços clandestinos do Estado, como foi a tenebrosa Casa da Morte de Petrópolis. Escolher Rubens Paiva é fácil. Ele foi definido por Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição como a encarnação da sociedade. Descobrir o que os militares da Polícia do Exército da Barão de Mesquita fizeram em 1971 com o seu corpo é um segredo que ainda pertence aos assassinos.

Escolhemos então seguir seus passos finais, trazer o personagem à vida fazendo seu perfil na conversa com pessoas que o conheceram, em fotos e imagens públicas e das famílias, em documentos como o valioso relato escrito pela professora do Colégio Sion Cecília Viveiros de Castro. Fizemos uma longa entrevista com o Procurador da Justiça Militar Otávio Bravo, que está reabrindo os processos de 39 pessoas que sumiram no Rio e no Espírito Santo.

Fomos a Brasília duas vezes entrevistar autoridades sobre a Comissão da Verdade, que ainda não está funcionando. Tentamos falar com os comandantes militares. O Ministério da Defesa indicou José Genoino. A linguagem corporal dos chefes das três Forças, na sanção da lei que criou a Comissão já dizia tudo: eles detestam tudo isso. Integrantes dos clubes militares, dos oficiais da reserva, deram respostas vagas aos nossos pedidos, o coronel Brilhante Ulstra, que chefiou o DOI-Codi de São Paulo, segue orientação do seu advogado para não falar. O general Rocha Paiva disse com clareza o que pensa. Ele é contra a Comissão, contra reabrir essa discussão, acha que há um risco enorme de que a procura de informações termine na execração pública e punição de seus companheiros. Afirmou que assim pensam os militares da ativa. Na saída, na porta do seu apartamento em Brasília, o general me explicou o que o move:

- Não fui da comunidade de informações, mas poderia ter sido. O acaso me levou para outra área. Não vou deixar companheiros meus em risco, agora que a situação mudou.

O Brasil pode até decidir não olhar para trás, mas não pode mais permitir que seja resultado do veto das Forças Armadas. Ele e os atuais comandantes militares estavam no início das suas carreiras quando a comunidade de informações montou aparelhos de tortura, morte e ocultação de cadáver dentro de instituições que hoje prestam valiosos serviços à pátria. O general Rocha Paiva rechaçou a minha afirmação de que é um outro Exército: "É o mesmo."

Pelo acaso desse tempo de jornalismo multimídia, eu fiz, recentemente, uma reportagem publicada neste jornal sobre empreendedorismo nas favelas. Para tornar possível o momento que começa a ser luminoso no Rio, forças policiais e os militares se uniram contra traficantes. Naquele tempo obscuro se uniram numa coalizão macabra. Por coincidência, num mesmo dia eu trabalhei de manhã na matéria dos desaparecidos, fui à tarde para a Rocinha conversar com empreendedores para a outra reportagem e terminei o dia fazendo coluna sobre crise do endividamento da Europa. Visitei dois tempos do Brasil e a lembrança de crises econômicas que já superamos.

Cláudio Renato e eu desembarcamos num sábado de manhã em São Paulo e passamos o dia no antigo Deops - Departamento Estadual de Ordem Política e Social - um lindo prédio onde tragédias ocorreram e agora famílias passeiam no fim de semana vendo exposição do memorial da resistência. Lá, entrevistamos os três filhos de Rubens Paiva.

A equipe tinha imaginado gravar numa antiga cela. Marcelo foi logo detonando a ideia, com jeito brincalhão:

- Horrível. Numa cela? Não! Vamos procurar um lugar bonito, leve.

Rimos do nosso erro. Era de fato uma péssima ideia pôr os filhos de Rubens Paiva numa cela. Onde a gente estava com a cabeça?

Na procura dos fios da meada lemos livros, material de jornal, vimos documentários. Jason Tércio no livro "Segredo de Estado" recria a história, com partes de ficção. No livro "K.", Bernardo Kucinski fala do pai que procura a filha, professora da USP, e jamais a encontra. Numa frase, ele resume o que as famílias buscam, entre elas, a do autor: "Para que a sua memória na nossa memória descanse."

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA DA TV


8h30 - Mundial de biathlon masc., Sportv

9h - CSKA Moscou x Zenit, Campeonato Russo, ESPN

9h45 - Liverpool x Arsenal, Campeonato Inglês, ESPN Brasil e ESPN HD

11h - Ceará x Sport, Superliga B masc. de vôlei, Sportv 2

11h30 - Bayer Leverkusen x B. de Munique, Campeonato Alemão, ESPN

11h30 - Hertha x Werder Bremen, Campeonato Alemão, Bandsports

12h - Manchester City x Bolton, Campeonato Inglês, ESPN Brasil

12h - West Bromwich x Chelsea, Campeonato Inglês, ESPN HD

13h40 - Mundial de skate vertical, Sportv

14h - Palermo x Milan, Campeonato Italiano, ESPN, ESPN HD e Sportv 2

14h30 - B. Dortmund x Mainz, Campeonato Alemão, Bandsports, ESPN Brasil e Esporte Interativo

16h - Olaria x Vasco, Estadual do Rio, Sportv

16h - Vila Velha x Flamengo, NBB, Sportv 2

16h30 - São Bernardo x Campinas, Superliga masc. de vôlei, Esporte Interativo

16h45 - Juventus x Chievo, Campeonato Italiano, RedeTV!, ESPN e ESPN HD

18h - Maranhão x São Caetano, Nacional fem. de basquete, Sportv 2

18h30 - Bragantino x Guarani, Campeonato Paulista, Sportv

19h - Wladimir Klitschko x Jean Marc Mormeck, boxe (pesos pesados), ESPN Brasil

21h - Cruzeiro x Vôlei Futuro, Superliga masc. de vôlei, Sportv

Ufanismo e estética - SILVIANO SANTIAGO


O Estado de S.Paulo - 03/03/12


Matéria obrigatória nos tratados sobre o modo como o Novo Mundo indígena se tornou cópia da Europa, as análises sobre a nossa ocidentalização não fazem jus às reflexões radicais sobre a operação histórica equivalente, ocorrida no Japão a partir do século 18. O fluxo da europeização japonesa ganhou volume durante a restauração Meiji (1868-1912), arrastou dois imperadores e uma Constituição inspirada no direito alemão (1889). Passou pelo colapso do Xogunato Tokugawa e a adoção do xintoísmo como religião do Estado, por guerras regionais e a militarização imperial. E desaguou no oceano belicoso que, ao final dos anos 1930, levou a nação a se aliar às tropas do Eixo.

As irrupções de rebeldia e de revolta nacionalista ocorridas nas Américas não têm a intensidade, a ousadia e a reivindicação de universalidade propostas pela dolorida e sofisticada reação dos japoneses à sobreposição das conquistas técnicas ocidentais à sua vida cotidiana, entendendo-se por esta uma visão popular e estética de mundo. A cultura do povo reage pelo jingoísmo e o nacionalismo ilustrado, pela estética. Os dois pares se casam de maneira notável e constrangedora no ensaio Em Louvor da Sombra (Companhia das Letras, 2007), obra-prima do romancista Junichiro Tanizaki.

Publicado em 1933, Em Louvor da Sombra rechaça as conquistas científicas impostas ao Oriente, a fim de retrabalhar a tradição japonesa, então em desvio fatal e (ainda que não se pudesse prever na data) à beira de catástrofe mundial. A reação ufanista se ampara na frágil e agressiva "imaginação do artista", visto que a realidade já era presa da modernização ocidental. O absurdo encanto do ensaio de Junichiro - e talvez sua atualidade num planeta convulso e de novo atravessado por nacionalismos - resulta de "devaneios" de fundo abstrato, cujo forte é a restauração do passado nipônico pelo elogio de pormenores obsessivos e sedutores. A conjunção "se" dá o chute inicial e formula hipóteses inconformadas e vadias sobre o Japão gorado. Os inventos técnicos de uso prático - se tivessem trilhado um rumo original no Japão - teriam exercido ampla influência sobre o cotidiano e sobre a estrutura política, religiosa, artística e industrial. Por exemplo: "imaginar quão diferente seria o aspecto atual da sociedade japonesa se uma cultura científica única, diversa da ocidental, houvesse prosperado no Oriente".

Recolho uma divagação pitoresca: "Se a caneta-tinteiro tivesse sido inventada na Antiguidade por japoneses ou chineses, não traria uma pena metálica adaptada à sua ponta, mas um tufo semelhante ao de pincel, feito de pelos". A tinta não teria a cor azulada. Seria um tipo de sumi (tinta mais barata que o nanquim), a escorrer aos poucos do corpo da caneta para o pincel. O papel teria de ser semelhante ao japonês (washi) e "as discussões sobre a romanização da escrita japonesa não teriam campo para se expandir e, por outro lado, teriam fortalecido a preferência popular pela escrita de nomes ocidentais com ideogramas". Ezra Pound e os irmãos Campos aplaudiriam.

Se poético o devaneio, é imperial o caminho industrial franqueado: "Em lento e cuidadoso progresso, um dia talvez viéssemos a descobrir substitutos para os trens, os aviões e os rádios atuais, inventos não mais tomados de empréstimo de outras civilizações, e sim conveniências modernas adequadas realmente ao nosso modo de vida". Inventados por japoneses, filmes e reveladores químicos apreenderiam melhor o ambiente de sombras em que vive o japonês, sua cor de pele e aparência física. O rádio e o fonógrafo ressaltariam o timbre de voz do oriental e a sonoridade dos seus instrumentos musicais. Reproduzidas em bolachas, elipses e pausas perdem a graça.

No Ocidente, prata, ferro ou cobre são usados na fabricação de aparelhos de jantar e talheres, que são polidos até brilhar. Devaneia o artista: "Nós, os japoneses, sentimos desassossego diante de objetos cintilantes (...). As coisas que apreciamos como belas e requintadas têm em sua composição parcelas de sujeira e de desasseio". A verdadeira beleza dos objetos de uso doméstico não está no branco imaculado da porcelana, está na laca, que só se revela plenamente na penumbra. "A sombra", Junichiro arremata, "é elemento indispensável à beleza dos utensílios laqueados".

Reaparecem o cá e o lá de Gonçalves Dias. A beleza das igrejas góticas reside em suas torres altaneiras. No Japão, sobressaem o telhado de telha ou de colmo e o extenso beiral. Ao construir uma residência, o japonês abre primeiro um guarda-sol - o telhado - para projetar um pedaço de sombra na terra. Na ausência de tijolo, vidraça ou concreto, o beiral alongado protege o morador das arremetidas de chuva. Nesse espaço sombrio, levantam-se a casa popular, o palácio ou o templo. Lá dentro, na penumbra, é que os antepassados descobriram "a beleza na sombra e, com o tempo, aprenderam a usar a sombra para favorecer o belo" e "dela tirar efeitos estéticos". Dentro de casa, os arranjos florais - continua o ensaísta - visam antes a acrescentar profundidade à sombra do que a exercer função decorativa.

O elogio da sombra no processo de restauração dos valores orientais se confunde com o projeto literário de Junichiro Tanizaki, que pretende "invalidar" as desvantagens técnicas e culturais decorrentes do processo de ocidentalização do Japão. Confessa ele no parágrafo final do ensaio: "Quanto a mim, gostaria de fazer reviver, pelo menos no campo literário, esse universo de sombra que estamos prestes a dissipar". Continua: "Gostaria de projetar um beiral amplo para o santuário da Literatura. Pintar as paredes de cores sombrias, enfurnar nas trevas tudo o que se destaca em demasia e eliminar os enfeites desnecessários". E convoca: "E agora: vamos apagar as luzes elétricas para ver como fica".

Militares de pijama - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 03/03/12

SÃO PAULO - Para mim, a Comissão da Verdade é absolutamente necessária, e a indicação de Eleonora Menicucci para a pasta das Mulheres foi o ponto alto da reforma ministerial da presidente Dilma Rousseff. Não concordo, portanto, com nenhuma linha dos manifestos com críticas ao governo que oficiais da reserva vêm publicando.
Numa República presidencialista, o comandante em chefe das Forças Armadas é o presidente. Todos os militares da ativa lhe devem obediência, independentemente de partilharem ou não de suas ideias e políticas. Indo um pouco mais longe, acho que daria até para argumentar que os oficiais da reserva remunerada, que podem eventualmente ser chamados para o serviço ativo, também estejam submetidos ao regime disciplinar e hierárquico dos militares.
Parece-me um exagero, porém, que as leis e regulamentos castrenses permitam enquadrar e punir por desrespeito à hierarquia os oficiais reformados, que são, para todos os efeitos, cidadãos aposentados.
Se essas regras são constitucionais, temos uma situação em que as obrigações diferenciadas exigidas dos militares se tornam perpétuas, o que se assemelha mais a disposições da ordem escravocrata do que aos contratos típicos do mundo livre.
É bem verdade que, em 1986, sob o governo Sarney, foi aprovada a lei nº 7.524, que faculta aos militares inativos "opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público". Mas essa salvaguarda fica ainda aquém daquelas que constituem o núcleo das liberdades fundamentais asseguradas pela Carta de 1988 e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não há nenhuma razão para privar pelo menos o oficial reformado dessas proteções.
Não deixa de ser irônico que agora se invoque para os militares as garantias individuais que as Forças Armadas tão amiúde ignoraram.

Minhocas e amebas - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 03/02/12

BRASÍLIA - Ontem, na posse do novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella, estava na plateia a ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. Entrou muda e saiu calada.
Nessas ocasiões, em meio à discurseira, há aplausos e palavras de apoio. Quando Crivella fez citações religiosas, foi possível ouvir alguém dizer "glória a Deus".
Essas duas nomeações recentes, a de Crivella e a de Menicucci, mostram como há ainda uma assimetria no trato de determinados temas dentro do Estado brasileiro. A ministra das Mulheres, como se sabe, é uma histórica defensora dos direitos iguais entre os sexos e da descriminalização do aborto.
No governo, Menicucci rendeu-se ao discurso anódino do Planalto. Aborto? Fica para o Congresso decidir. E não se fala mais nisso.
Já Crivella, criacionista e descrente da teoria da evolução, pode derrubar quantas vezes quiser o muro que deveria separar igreja e Estado. Como senador, em 2009 compartilhou uma dúvida com seus colegas -"O surgimento da vida a partir de uma ameba traz o primeiro questionamento: e a ameba, surgiu de onde?". O discurso sobre o ser unicelular está em bit.ly/crivella.
Ontem, repetiu não saber "colocar a minhoca no anzol", apesar de ter virado ministro da Pesca. Olhou para Dilma Rousseff. Compungido, amparou-se na força divina: "Muitas vezes, Deus não chama os mais qualificados, não escolhe os mais qualificados. Mas sempre Deus qualifica os escolhidos". Ou seja, tornar-se um bom ou mau ministro é também uma questão de fé.
Crivella é do PRB e bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Igreja e partido entram no governo com a missão de vocalizar os anseios de políticos evangélicos. Em meio a metáforas e a discursos sobre minhocas e amebas, Dilma Rousseff oficializa, assim, mais um oximoro da administração petista, o excêntrico Estado laico-cristão.

As intenções ocultas dos norte-coreanos - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 03/03/12


Há dois meses, em 17 de dezembro de 2011, morreu Kim Jong-il, dirigente do país mais misterioso e opaco do planeta. Logo em seguida foi nomeado seu sucessor o jovem Kim Jong-un, seu filho de 28 anos sobre o qual pouco se sabia, apenas que estudara na Suíça, na Escola Internacional de Negócios de Berna, que praticava esqui e era um fã do jogador de basquete americano Michael Jordan e do ator Jean-Claude Van Damme.

Como Kim Jong-un administraria essa sucessão, num país arruinado, consumido pela fome, isolado do mundo, possuidor da bomba atômica e herdeiro combalido do fanatismo comunista? Muita gente não acreditava no futuro desse país que surgiu no fim da Guerra da Coreia, que fez 2 milhões de vítimas e deu nascimento em 1953 a duas Coreias inimigas: a do Sul, ocidental e opulenta, e a do Norte, fechada, extenuada, miserável e confinada em sua solidão, sua desconfiança, seu segredo.

A expectativa era de dificuldades e caos. Ora, contra todos os prognósticos, a vida retomou seu curso normal em Pyongyang. As pessoas que conseguem entrar no país trazem imagens aprazíveis - nada de frenesis, tampouco penúria.

E outra prova dessa sucessão pacífica foi o pacto firmado entre Estados Unidos e a Coreia do Norte, que prevê a suspensão por Pyongyang do enriquecimento de urânio e testes com mísseis. Em contrapartida, o país deve receber 240 mil toneladas de alimentos, a título de ajuda, do governo do presidente Barack Obama. O regime norte-coreano, que fez dois testes nucleares nos últimos 15 anos, também aceitou o retorno dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para controlar a moratória do complexo nuclear de Yong-byon, ao norte de Pyongyang.

Só podemos nos espantar com a diferença de tom, nessa questão nuclear, entre o Irã, que continua a desafiar o universo (Israel e Estados Unidos em primeiro lugar), enriquecendo urânio para fabricar uma bomba atômica, e a Coreia do Norte, que, já de posse da bomba, aceita nada menos que suspender seu programa.

Será o caso de concluir que o filho de Kim Jong-il deu as costas à diretriz seguida antes dele e prepara uma abertura da Coreia do Norte a novos ventos, está pronto para retirar o colete de ferro que há 70 anos tira o fôlego desse país desafortunado? Devemos imaginar, como alguns sugerem, que 30 anos após a reunificação das duas Alemanhas poderemos ver o mesmo cenário com uma reaproximação ou mesmo uma reunião das duas Coreias?

É muito otimismo. Não é inimaginável, mas não é o caso no momento. O acordo que Estados Unidos acabam de firmar com Kim Jong-un estava em preparação bem antes da morte de Kim Jong-il. O filho apenas seguiu os passos do pai. Na verdade, o acordo já estava pronto em dezembro e foi a morte de Kim Jong-il que atrasou a assinatura.

Ao menos, o pacto agora firmado vai na boa direção. Foi acolhido com satisfação no Ocidente, ainda que, no passado, a palavra da Coreia do Norte tenha sido tantas vezes quimérica, variável e esquecida que evitamos muito júbilo. Pelo menos o pior não sucedeu. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Quatro farsantes da política fiscal - PAUL KRUGMAN


FOLHA DE SP - 03/03/12


Os republicanos que estão gritando sobre o deficit não o reduziriam; fariam o contrário, de fato


Mitt Romney está muito preocupado com nosso deficit orçamentário. Ou pelo menos é o que diz; gosta de alertar que os deficit do presidente Obama estão nos conduzindo a um "colapso em estilo grego".

Se isso é fato, por que Romney oferece uma proposta de Orçamento que geraria dívida e deficit muito maiores do que os causados pela proposta do governo Obama?

É claro que Romney não está sozinho em sua hipocrisia. Os republicanos que continuam na disputa pela indicação presidencial são farsantes fiscais. Fazem advertências apocalípticas sobre os perigos da dívida do governo e, em nome da redução do deficit, exigem cortes selvagens nos programas que protegem a classe média e os pobres. Mas propõem desperdiçar todo o dinheiro economizado concedendo novos cortes de impostos aos ricos.

O Comitê por um Orçamento Federal Responsável, apartidário, publicou análises das propostas orçamentárias dos republicanos e da mais recente proposta de Obama. As propostas de Newt Gingrich, Rick Santorum e Romney resultariam todas em dívida nacional maior, em uma década, se comparadas à proposta de Obama para 2013.

Romney afirma que seus cortes não causariam explosão do deficit porque promoveriam crescimento mais rápido, e isso resultaria em alta na arrecadação. Você pode considerar o argumento plausível, mas para isso teria de ter passado as duas últimas décadas dormindo; se não o fez, é provável que recorde que as mesmas pessoas garantiram que o aumento de impostos de Bill Clinton em 1993 resultaria em desastre econômico, e que os cortes de George W. Bush em 2001 gerariam imensa prosperidade. Nenhuma dessas previsões se confirmou.

Assim, os republicanos que estão gritando sobre o deficit não o reduziriam -fariam o contrário, de fato.

Outra organização apartidária, o Centro de Política Tributária, analisou a proposta de Romney. Constatou que, comparada à política vigente, ela elevaria os impostos dos 20% mais pobres, com cortes drásticos em programas como o Medicaid. O 1% mais rico receberia imensos cortes de impostos -e o 0,1% mais rico se sairia ainda melhor.

Os planos republicanos também cortariam os gastos em curto prazo, imitando as catastróficas medidas europeias, e imporiam cortes de impostos capazes de destruir qualquer Orçamento, em prazo mais longo.

A questão é determinar se alguém que ofereça essa tóxica combinação de irresponsabilidade, guerra de classes e hipocrisia será mesmo capaz de se eleger presidente.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

A insensatez continua - SÉRGIO PAULO MUNIZ COSTA


O GLOBO - 03/03/12
No início dos anos 80 o Brasil não prestou atenção quando fontes militares de Buenos Aires disseram a um jornalista brasileiro que retomariam as Malvinas. Por conta de mais um episódio da nossa bonomia, em pouco tempo o Brasil se veria constrangido a precária neutralidade, assistindo um poder naval expressivo operar defronte ao seu extenso mar territorial e tendo de fazer apressadas interceptações de aeronaves estrangeiras. Felizmente, tudo ficou nisso.
O que mudou desde então? Nada. Trinta anos depois, os caças brasileiros são versões distintamente modernizadas dos Mirage e F-5 que interceptaram o Ilyushin cubano e o Vulcan inglês. Exceto nas contingências que viram improviso, por aqui se privilegiam as adaptações que geram acomodação. O setor de defesa não foge à regra brasílica de mudanças por gravidade, que no caso da aquisição do caça de última geração da FAB está em um inacreditável lugar nenhum.
Prevalece a crença na inexistência de ameaças externas e mesmo a aspiração ao Conselho de Segurança da ONU acontece sem consciência das correspondentes responsabilidades militares. Nem a riqueza do pré-sal sacode a inércia. E como a força de ação rápida do Exército acorrerá aos pontos do território nacional ameaçados por um inimigo convencional? A já limitada condição de o país projetar força no seu próprio espaço é impensável sem poder aéreo. Queremos vender um dos melhores aviões do mundo para resolver problemas urgentes de outros, mas abdicamos de ter o melhor avião possível para resolver os problemas prioritários da defesa do Brasil.
O Brasil está também diante de um dilema. Há tempos suas Forças Armadas são baseadas em capacidades, pois os ambientes fluídos da atualidade geram ameaças impossíveis de serem enfrentadas por estratégias de preparo e emprego apoiadas em inimigos ou hipóteses. Em contrapartida, faltam as condições para as Forças instrumentalizarem as respectivas capacidades. O país está num limiar além do qual suas pretensões de integração regional e relevância internacional serão frustradas pelo descompasso.
Como aconteceu nas Malvinas, vontades políticas autônomas podem, a qualquer momento, provocar conflitos prejudiciais ao interesse nacional e regional, e isso só pode ser evitado se o Brasil assumir as responsabilidades que dele se esperam .
Existem no mundo cerca de dez modelos de caças de superioridade aérea. O Brasil precisa escolher um, e já, pois a não disponibilidade de aeronaves de alto desempenho — uma condicionante do poder militar — pode ser interpretada como falta de compromisso da elite política com o projeto de protagonismo que ela anuncia para o país.
O tempo passou, mas a insensatez é mesma.

Terapia de casal - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 03/03/12
Mais do que expressar queixas recorrentes do PMDB no Congresso -como o espaço da sigla na Esplanada e o estrangulamento de suas candidaturas a prefeito pelo Planalto- o manifesto contra o PT indica que o partido não abdicará de seus pleitos em nome da eleição de Henrique Alves (RN) à presidência da Câmara em 2013.

À diferença de motins outrora liderados por expoentes do partido, desta vez Michel Temer não deteve os rebeldes, precipitando a rediscussão da relação com o governo petista para a sucessão em 2014. "Será que vale pagar o preço de ter o vice-presidente sem dividir o poder?'', questiona um dirigente peemedebista.

Aquele abraço Do ex-ministro Geddel Vieira Lima sobre a ameaça do PR de boicotar a candidatura de Henrique Alves: "É legítimo o pleito pela presidência, mas não dá para o PMDB ficar parado por isso. Se quiser desembarcar, que desembarque".

Carinho Na conversa com Lula, anteontem, Dilma foi aconselhada a ouvir mais os peemedebistas. O ex-presidente ponderou que o PMDB manteve a lealdade ao Planalto, com 70 votos a favor do Funpresp, e, no dia seguinte, foi surpreendido com a entrada do PRB no ministério.

Volto já Dilma avisou Temer, ontem, que falará com o vice sobre as reivindicações de seu partido no retorno da viagem à Alemanha.

Querosene Parlamentares petistas com influência na máquina do Banco do Brasil e da Previ, como Paulo Teixeira e Cândido Vaccarezza, alertaram a Fazenda que poderiam atuar como bombeiros na crise entre Aldemir Bendine e Ricardo Flores. A presidente não quer saber de intermediação do PT no caso.

Corpo fechado Em guerra com setores da magistratura, a corregedora do CNJ, Eliana Calmon, chamou a atenção durante palestra em São Paulo ao aparecer com um vistoso colar cheio de amuletos para dar sorte.

Lanterna Pesquisa do Ministério da Saúde que mostra o Rio em último lugar no ranking de serviços do SUS azedou a relação entre Eduardo Paes (PMDB) e o governo. O prefeito expressou indignação ao Planalto por não ter sido previamente avisado por Alexandre Padilha.

Estresse Geraldo Alckmin terá de solucionar impasse na minirreforma do secretariado. O tucano instalará o pedetista Carlos Ortiz no Trabalho, deslocando Davi Zaia para a Gestão Pública, mas sem Prodesp e Detran.

Assim não Presidente do PPS-SP, Zaia resiste à desidratação proposta pelo Bandeirantes e reivindica a companhia de processamento de dados -leia-se Poupatempo.

Piquete Antes de assumir o Ministério da Pesca, Marcelo Crivella (PRB-RJ) procurou dirigentes da CUT. Admitiu reformular o texto de seu projeto que proíbe greve em empresas conveniadas com a Fifa durante a Copa.

Aqui Agora Sob ataque especulativo, o PRB leva ao ar a partir de hoje uma série de inserções na TV, todas elas destinadas a inflar a pré-candidatura de Celso Russomanno a prefeito de São Paulo.

Par ou ímpar PSDB e DEM chegaram a um acordo na Bahia: farão pesquisa com os nomes de Antonio Imbassahy e ACM Neto. Quem estiver na frente será o candidato, com o outro como vice.

Vitrine Favorito de Lula para a Prefeitura de Campinas, o presidente do Ipea, Márcio Pochman, comandará evento em que o PT discutirá hoje "os desafios da cidade".

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"A sigla que reúne o maior número de políticos hoje no Brasil é o STF. Os ministros podem discutir o que quiserem, mas precisam cumprir o dever de julgar os processos."

DO DEPUTADO MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), sobre a defesa do fim do foro privilegiado feita pelo ministro Celso de Mello, do Supremo, para explicar os processos parados revelados pela "Folha Transparência".

contraponto

Professor abestado

No dia que o PR sugeriu o nome do deputado Tiririca (SP) como opção para a eleição paulistana, o líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), encontrou o colega petista Paulo Teixeira (SP). Entusiasmado, convidou Fernando Haddad para ser vice na chapa. Teixeira, em tom de brincadeira, disse que a proposta mexeria com o PT.

Outro congressista que acompanhava Portela ironizou a possível dobrada com o ex-ministro da Educação:

-Já pensaram no Haddad alfabetizando o Tiririca durante a campanha eleitoral?

A indignação de Dilma - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 03/03/12


Tem pouco efeito prático externo a indignação que a presidente Dilma Rousseff manifestou quinta-feira por causa das políticas monetárias frouxas dos países ricos que canibalizam, segundo ela, as economias dos emergentes.

Apenas para relembrar, Dilma se queixou de que as impressionantes emissões de moeda pelos bancos centrais dos Estados Unidos e da área do euro provocam "tsunami monetário", ou seja, despejam vagalhões de moeda no resto do mundo e tiram competitividade do setor produtivo dos emergentes - especialmente do Brasil, à medida que acarretam desvalorização das moedas fortes e valorização das mais fracas, como o real.

Ao denunciar a guerra cambial provocada pela política monetária das grandes potências, o ministro Guido Mantega já denunciava esse efeito e continua acreditando em que possa contar com séria discussão no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), sobre o impacto no comércio global provocado pela manipulação do câmbio.

Mas não dá para afirmar que, por terem despejado nos mercados mais de US$ 7 trilhões, os grandes bancos centrais estejam adotando políticas condenáveis e, portanto, sujeitas a represálias pelo resto do mundo. E não deixa de ser paradoxal que essa questão seja levantada no momento em que Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos), e Mario Draghi, do Banco Central Europeu, estejam sendo festejados como salvadores globais por dominarem com essas políticas - ao menos temporariamente - os incêndios que varriam as economias dos Estados Unidos e dos países-membros do bloco do euro.

Mas, afinal, o que é melhor para o Brasil: enfrentar o efeito colateral dessas políticas (o tal tsunami de moeda estrangeira no câmbio interno), mas trabalhar sem as turbulências que paralisaram a economia mundial e a ameaçaram com uma tempestade perfeita; ou o contrário? Por acaso, o governo do PT prefere a paisagem desoladora de uma grande depressão global, de poder destrutivo equivalente ao dos anos 30? Ou, então, poderia sugerir aos grandes bancos centrais opções, politicamente viáveis, melhores do que a adotada?

O governo brasileiro também se contradiz quando condena o sacrifício imposto às populações dos países ricos - em recessão, desemprego, perda de salário e tal - e, ao mesmo tempo, acusa seus governos de praticar políticas fiscais flácidas, que têm de ser compensadas em seguida com despejo de trilhões de dólares.

Tivesse o Brasil poupança equivalente a 50% do PIB, como a da China, seria possível neutralizar os efeitos deste e de outros tsunamis. Mas não é o que acontece. O Brasil tem uma poupança insignificante, de apenas 17% do PIB, que tende a ficar ainda mais baixa em consequência da política econômica dos últimos anos, que privilegia o consumo em nome da criação de um forte mercado interno.

Pode-se lamentar a falta de políticas preventivas contra enchentes. Mas há um momento, como este, em que tudo o que é possível fazer é passar os móveis para o andar de cima e depositar sacos com areia para tentar deter os efeitos da enxurrada sobre a casa. No entanto, há razões para acreditar que a indignação de Dilma tenha mais objetivo interno do que externo

Um projeto de poder - ADRIANO PIRES


O GLOBO - 03/03/12
O setor de petróleo tem pela frente três grandes questões na sua agenda em 2012. A primeira é a insistência numa política pouco racional, e nada pragmática, sobre a questão do conteúdo nacional dos equipamentos. O risco é o da submissão do ritmo de extração do petróleo do pré-sal ao desenvolvimento da nossa indústria fornecedora de bens e serviços. Isto vai implicar em atraso na produção e encarecimento do custo de exploração e produção. Já pode ser percebido, se observarmos a estagnação da produção da Petrobras nos últimos três anos e o resultado das licitações das sondas, que teve de ser renegociada devido aos altos preços.
Com isso, estará sendo prejudicada toda a sociedade brasileira, que tem pressa em monetizar o petróleo do pré-sal, em beneficio de um setor da economia brasileira. Isso em nome de uma política industrial que na realidade está incentivando a construção de um parque industrial ineficiente e talvez vá produzir os bens e serviços do setor de petróleo mais caros do mundo. A principal vitima é e será a Petrobras. Um exemplo de uma política industrial equivocada ocorreu após a obrigatoriedade de a navegação de cabotagem no Brasil ser realizada com navios de bandeira brasileira (Decreto-Lei 666/69). Concedeu-se um incentivo à indústria naval, mas acabou-se por sucatear os navios utilizados no transporte, devido à ausência de concorrência. Outro exemplo foi a política de reserva de mercado na informática. Quem paga a conta são sempre as gerações futuras.
Outra questão é a escolha entre os desejos da Petrobras e a oportunidade de se realizar ainda este ano leilões de campos no pós-sal e no pré-sal. A Petrobras hoje encontra-se com um número grande de projetos, principalmente as reservas que foram concedidas no processo de sua capitalização, e, portanto, não teria interesse na realização de novos leilões. Qualquer nova área trará dificuldades tanto financeiras como de mão de obra e mesmo gerencial.
O terceiro aspecto é a política de preços da gasolina e do diesel. Historicamente, o preço dos combustíveis no Brasil sempre foi usado como instrumento de política econômica, tanto com o objetivo de incentivar o desenvolvimento quanto para controlar a inflação. No entanto, em nenhum momento a Petrobras foi tão penalizada como nos últimos oito anos. Neste período, as perdas da estatal podem chegar a R$ 12 bilhões, resultado da diferença entre o preço que a empresa cobra pelos derivados de petróleo no mercado interno e o preço internacional desses produtos. Isso tem se agravado. A solução dessas três questões nada tem de trivial. Envolve um projeto político de poder.

O desmonte do Estado de Direito - MARIO CESAR FLORES


O Estado de S.Paulo - 03/03/12


O artigo 42 da Constituição brasileira diz que "os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados (...)". Esse preceito é complementado pelo parágrafo 1.º do mesmo artigo, que estende aos militares dos Estados as disposições do parágrafo 3.º do artigo 142, relativas aos militares das Forças Armadas, cujo inciso IV afirma que "ao militar são proibidas a sindicalização e a greve". As paralisações de policiais militares, conduzidas por associações que driblam a proibição constitucional da sindicalização, não podem, portanto, ser entendidas juridicamente como greves. São motins travestidos de greve, inconcebíveis num Estado de Direito - o que, salvo uma ou outra exceção, não tem obstado ser o término das greves-motins negociado (!) entre sublevados e autoridades, comumente com a rendição, ao menos parcial, à pressão ilegal. Curiosamente, a mídia insiste em chamar de greve a paralisação de policiais e bombeiros militares, dando ao que é explicitamente inconstitucional a ilusão semântica de constitucionalidade.

Em junho de 2011 o Rio de Janeiro viveu um drama dessa natureza: o motim de seus bombeiros militares, por aumento salarial. Aumento, em princípio, de fato conveniente, embora discutível quanto ao equilíbrio entre o nível pretendido e o possível; errado foi procurá-lo via ilegalidade agressiva à ordem e à margem do canal hierárquico. A receptividade, aparentemente simpática, do governador do Estado do Rio de Janeiro das decisões da Assembleia Legislativa fluminense e do Congresso Nacional, que inibiram, respectivamente, as punições administrativas e penais de amotinados, não foi exatamente uma sinalização de alerta contra esse tipo de descalabro...

Episódio mais grave: a greve-motim da Polícia Militar da Bahia em fevereiro deste ano vem conferindo à questão uma tonalidade dramática, com a disseminação de violência e criminalidade - saques, assaltos, furtos, roubos e assassinatos -, de que o povo e a vida societária são vítimas. No caso baiano, transpareceu o desconforto da autoridade executiva, marcada por passado sindical com apoio a greves, de se contrapor ao descalabro usando o peso do rigor legal. A afirmação do governador de que não haveria punição para quem não tivesse praticado vandalismo aparenta sugerir que ato ilegal - no caso, a greve-motim - não está sujeito a punição corretiva, por mais que tenha prejudicado o povo, quando não acompanhado por violência explícita. Pode não ter sido essa a intenção, mas deixou a impressão.

Além do aspecto legal: não é lógico aceitar serem socialmente legítimas as greves-motins de policiais e bombeiros militares. É, no mínimo, discutível que, sob a retórica tolerante pretendida como democracia, se permita que minorias organizadas, vivendo em razoável (ao menos no cenário brasileiro) segurança social, protegidas por vantagens não estendidas ao trabalhador não público, sujeitem o povo a sacrifícios transformados em instrumento de pressão sobre o Estado na barganha por reivindicações, em geral, indiferentes à responsabilidade fiscal. Detalhe insólito: nas greves-motins, naturalmente propensas a atos contrários à ordem, a culpa pelas consequências de eventuais enfrentamentos é atribuída por seus atores às forças da ordem - invadir, ocupar e bloquear seriam ações lícitas, recompor a ordem seria violência. Um líder dos ocupantes da Assembleia Legislativa da Bahia deixou claro na TV que se as forças federais tentassem a restauração da ordem as consequências seriam da responsabilidade de quem a tivesse determinado. Os atores da desordem seriam inocentes...

Circunstâncias como as manifestas na Bahia podem chegar à conveniência de se considerar - prudentemente, mas com coragem cívica à altura do problema - a hipótese do estado de defesa, previsto no artigo136 da Constituição "para preservar ou prontamente restabelecer (...) a ordem pública ou a paz social (...)". Ou do estado de sítio (dependente de autorização do Congresso), previsto no artigo 137 para o caso de "comoção grave de repercussão nacional (...)" onde o governo estadual constitucionalmente responsável não consegue manter a ordem, por insuficiência de meios ou por inapetência de viés sindical ou eleitoreiro. Em ultima análise, e de conformidade com o inciso III do artigo 34 da Constituição, podem sugerir até mesmo a intervenção federal para "pôr termo a grave comprometimento da ordem pública".

Esse quadro confuso nos leva a aventar a contragosto algo contrário à nossa tradição e à nossa cultura: a revisão da condição militar dos policiais e bombeiros, por eles vilipendiada. Os alicerces dessa condição, a hierarquia e a disciplina, têm de ser respeitados para preservar a sua virtude, indispensável à segurança das instituições e do povo diante do poder armado. Se o "ânimo" dos policiais e a pusilanimidade nacional acharem dispensável esse respeito, então a dúvida começa a ter algum infeliz cabimento.

Imaginemos o caos nacional caso a tolerância com o desapreço pela condição militar se estendesse às Forças Armadas, se a tropa do Exército em serviço policial na Bahia declarasse que só cumpriria o seu dever se a sua remuneração fosse revista - e as Forças Armadas fossem incluídas na PEC 300, cuja referência, a remuneração da Polícia Militar do Distrito Federal, é encargo da União...! O despautério seria justa e compreensivelmente inaceitável. Mas para a Polícia Militar é tolerável?

A continuar a prática inconstitucional, e se o paroxismo policial militar vier a se entender pelo Brasil afora, em conluio hostil ao povo e ao Estado - como já se estendeu, sensacionalista, traumático e perigoso, ao Rio de Janeiro -, estaremos caminhando para o desmonte do Estado democrático de Direito, posto à mercê do corporativismo de categorias fortes do setor público - com o provável consequente crescimento da sedução do salvacionismo, no povo refém e vítima...

ARTE POP - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 03/03/12


O pintor e cineasta americano Julian Schnabel negocia uma grande exposição no Masp, para 2014. Ele está em SP, hospedado na casa do diretor Hector Babenco e da atriz Bárbara Paz. A mostra de Schnabel, que fez o filme "O Escafandro e a Borboleta" e em 2011 participou da Bienal de Veneza, pode contar também com uma releitura, feita por ele, de alguma das obras do acervo do Masp.

MEU CARO AMIGO
Schnabel está visitando museus da capital paulista e do Rio de Janeiro. Babenco planeja filmar nos EUA um longa baseado no livro "Tigre, Tigre", de Margaux Fragoso, sobre pedofilia, e convidou o americano para fazer a direção de arte. Bárbara e ele hospedaram o artista porque o hotel Fasano estava lotado.

OLHOS NOS OLHOS
Anteontem, Schnabel foi à estreia da turnê de Chico Buarque na capital paulista. Após o show, conversou com o cantor no camarim e disse que ficou "emocionado" e que não conseguia tirar os olhos dele.

CRIOLO DOIDO
Quem também esteve no camarim foi Criolo, autor de uma versão de "Cálice" apresentada no show. Chico se desculpou com o rapper por ter cantado no contratempo da música: "Fiquei nervoso com você na plateia".

AUTÓGRAFO
O banqueiro Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco, assistiu ao show de Chico na mesma mesa em que estava Roberto Civita, da editora Abril. Os dois ganharam CDs autografados.

BIS
E no bis de Chico, muita gente gritou: "Canta Lucio Dalla". O italiano, autor de "Caruso" e de "Gesú Bambino", que Chico adaptou como "Minha História", morreu anteontem.

VOZ DE DEUS
Depois da mobilização da bancada evangélica, o governo brasileiro enviará ao Irã um pedido para que a pena de morte não seja aplicada ao pastor Youssef Ndarkhani, condenado por renunciar ao islamismo e aderir ao cristianismo. Segundo o Itamaraty, a solicitação será por "questões humanitárias" e não deve se referir "a um caso isolado", mas a um posicionamento do país contra as execuções em geral.

ESTADO DE ALERTA
O Conselho Nacional do Ministério Público aponta a falta de diálogo da Polícia Civil com as promotorias como um dos principais entraves às investigações de homicídios no país. Segundo diagnóstico do órgão, só em 14 Estados os inquéritos são encaminhados diretamente para um promotor. E só em 12 ocorrem reuniões periódicas entre a polícia e o MP.

OITO PEIXES
Deve ser de R$ 800 o valor que os presidentes das Câmaras dos 39 municípios da Grande SP pedirão para o salário mínimo metropolitano, piso que tentarão criar para a região. A proposta será discutida amanhã.

OLHA AÍ, É O MEU GURI
A turnê "Chico", do cantor Chico Buarque, estreou anteontem sua temporada paulistana na casa de shows HSBC Brasil. Na plateia para assistir à apresentação, estavam o artista e diretor americano Julian Schnabel, o banqueiro Pedro Moreira Salles, do Itaú Unibanco, o cineasta argentino Hector Babenco, as atrizes Bárbara Paz, Regina Braga e Xuxa Lopes, o músico Kassin e a editora de livros Irene Paris Buarque de Hollanda, sobrinha de Chico.

ENSAIO DE FÔLEGO

A top Nathalie Edenburg, 19, radicada em Nova York, aproveitou sua experiência com ioga para fazer posições da prática durante sessão de fotos para a marca Yogini, que tem uma linha voltada à filosofia. E meditou para se manter concentrada enquanto posava com roupas de lã no verão, em um hotel, em São Paulo.

CURTO-CIRCUITO

Os amigos de Alberto Dines farão um encontro na segunda para comemorar os 80 anos de idade e os 60 de carreira do jornalista. Às 20h30, na Cervejaria Nacional, em São Paulo. No dia 10, às 13h, a data será comemorada no restaurante La Fiorentina, no Rio, por ex-funcionários do "Jornal do Brasil".

O Estúdio Anacã terá hoje, a partir do meio-dia, programação com caminhada e aulas de dança e movimento, no Jardim Paulistano.

A exposição "Culatra", de Deyson Gilbert, será aberta hoje, a partir das 14h, na galeria Mendes Wood, na rua da Consolação.

A marca LG promoverá na quinta e na sexta, no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, o lançamento de 350 produtos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

O debate da Defesa - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 03/03/12


Está para ser aprovada pelo Congresso Nacional a Medida Provisória 544, que cria a figura da Empresa Estratégica de Defesa. O Ministério da Defesa está definindo o Plano de Articulação e Equipamentos de Defesa (Paed), que deve indicar os produtos que deverão ser adquiridos da indústria nos próximos 20 anos.

Há quem tema, como o professor Eduardo Brick, do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest) da Universidade Federal Fluminense (UFF), que esse plano não seja feito de forma a integrar as necessidades das Forças Armadas àquelas destinadas a fortalecer e preparar a indústria e promover a inovação relacionada a esses produtos.

No Brasil, os problemas afetos à indústria de defesa estão distribuídos por três ministérios (Defesa; Desenvolvimento e Indústria e Comércio; e Ciência e Tecnologia), e o planejamento exige uma estreita interação entre esses três entes públicos, além da própria indústria, que teria muito a colaborar nesse planejamento.

Ao mesmo tempo está para ser votado o Projeto de Lei de Conversão, que será muito importante porque cria a figura da empresa brasileira "nativa" na Base Logística de Defesa (BLD), designação que Brick usa para diferençar de empresa brasileira.

Essa última, pela Constituição, é qualquer uma que tenha sede no Brasil, independentemente da origem do capital controlador.

Embora em alguns setores (mídia e aviação civil) já houvesse restrições ao controle por capital estrangeiro, essa restrição não existia nas indústrias de defesa. O problema é corrigido com essa lei.

Ela também incentiva a inovação e a integração das infraestruturas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e industrial para defesa, e, na opinião de Eduardo Brick, minimiza também o que considera "um dos maiores absurdos" que a legislação anterior criava: o governo brasileiro podia comprar no exterior produtos que sejam de interesse estratégico para a defesa nacional sem pagar qualquer imposto, enquanto as compras internas, na indústria brasileira, eram agravadas com os enormes impostos que vigoram aqui, como se fosse um produto qualquer destinado ao consumo.

Já o cientista político Clovis Brigagão, do Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes, e professor-visitante do programa de mestrado em Relações Internacionais da Uerj, tem uma visão crítica sobre a Política de Defesa no Brasil.

Para ele, o Ministério da Defesa mais parece um órgão militar do que propriamente um ministério de política pública de defesa integrada em orçamento, compra e gastos.

Continuam prevalecendo para Brigagão os interesses separados da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Um avanço foi a criação do Alto Comando de Defesa.

O professor Clóvis Brigagão lembra que já tivemos uma indústria bélica brasileira nos anos 60 a 80 do século passado, que "sumiu, virou pó", com muito subsídio do BNDES, que pagou a conta dessa "aventura" que, segundo ele, teve "muito marketing e pouco resultado efetivo.

Brigagão diz que a transferência da tecnologia militar para a indústria de bens e serviços foi nula nesse processo.

Para ele, o projeto que cria o regime tributário especial para a indústria de defesa nacional e normas específicas para licitação de produtos e sistemas de defesa, com preferência para a produção nacional, que isenta as chamadas empresas estratégicas credenciadas pelo Ministério da Defesa da cobrança de IPI, PIS, Pasep e Confins, é um privilégio inaceitável:

"O Estado é uma mãe para a indústria de defesa, que igual a outra qualquer de importância para o país deveria agir de acordo com as regras do mercado e não viver às custas do contribuinte que paga a conta e não sabe o que é feito nem na defesa, nem na indústria da defesa."

Domício Proença Júnior, professor do Programa de Engenharia de Produção do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) e do Programa de Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), escreveu na "Revista Brasileira de Política Internacional" um artigo sobre a indústria bélica que começa sintomaticamente com uma citação do filósofo alemão Ernst Jünger: "Máquinas não vencem batalhas, mesmo que se ganhem batalhas com máquinas - uma enorme diferença".

Para ele, "mais ou melhor tecnologia não garante mais ou melhores arranjos de defesa". A ênfase tecnológica expressa, por exemplo, na meta dos EUA de Transformação ou na Estratégia Nacional de Defesa do Brasil "presume uma passagem fluente desde a busca por resultados tecnológicos até sua materialização em termos de arranjos de defesa".

O professor Domício Proença Júnior considera que "o aprendizado que permite identificar, desdobrar e usar vantagens combatentes só pode ser adquirido e mantido vivo nas organizações e pessoas pela prática, pelo exercício e pela crítica que nasce da articulação entre estudo, experimento e experiência".

O processo que leva de possibilidades tecnológicas a vantagens combatentes é, por sua própria natureza, uma obra inacabada, alerta em seu texto Domício Proença Júnior, para quem "a tutela civil tem que ser capaz de impor dinâmicas que conduzam e apoiem o cerne de capacidade combatente das forças, impedindo que este se paralise em dinâmicas burocráticas, autocomplacentes e satisfeitas". ( Continua amanhã)

Dilma entra na campanha eleitoral - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 03/03/12


Para que serve o Ministério da Pesca e Aquicultura? Serve para garantir a bênção dos evangélicos da Igreja Universal à candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Simples assim, a presidente Dilma Rousseff entregou ao bispo Marcelo Crivella (PRB-RJ) a pasta até agora ocupada por um petista. Mas o sacrifício deve valer a pena: além de o PT se livrar da incômoda gritaria dos evangélicos da Universal em torno de delicados temas religiosos, o candidato imposto por Lula ganha a possibilidade de vir a contar com o apoio do PRB - que, por enquanto, permanece no páreo, com o deputado Celso Russomanno num surpreendente primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Mas isso é mero detalhe. O que importa é que se escancara o ingresso, de sola, do Palácio do Planalto na campanha eleitoral paulistana. E trata-se apenas do começo.

A cada dia que passa - e estamos a sete meses do pleito - as impressões digitais de Lula se tornam mais nítidas na estratégia eleitoral que tem como objetivo consagrar a hegemonia do lulopetismo em todo o País. Para isso é imprescindível derrotar seus adversários nos redutos mais importantes que ainda lhes fazem alguma resistência: a cidade e o Estado de São Paulo. Este fica para daqui a dois anos.

Essa estratégia não vai custar barato para o PT - a senadora Marta Suplicy e o defenestrado ministro Luiz Sergio que o digam -, mas Lula já deixou claro que está disposto a pagar o preço que for necessário. Cacife não lhe falta e Dilma Rousseff acaba de comprová-lo, com a presteza com que se dispôs a entrar no jogo e procurar o chefão em São Bernardo para, num encontro de quase três horas, pedir conselhos e receber novas instruções. Mas teve que ouvir calada o novo membro do Gabinete dizer, com inegável senso de humor, que, embora ministro da Pesca, não sabe nem "colocar minhoca no anzol". O que não tem a menor importância, já que essa pescaria nada tem a ver com peixes.

Toda a encenação que fez o pano de fundo da triunfante entrada do bispo Crivella em cena criou em Brasília uma situação política tão desfrutável que propiciou manifestações que foram do deboche ao puro cinismo. Deste se encarregou a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti: "É a incorporação efetiva (ao primeiro escalão do governo) de um aliado. Mas não traremos disputas locais para o âmbito federal". Já o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-petista e ex-ministro de Lula, optou pela zombaria: "O governo resolveu pôr na Pesca um pescador de almas, que ainda vai andar sobre as águas". Como levar a sério o que se passa em tal ambiente político?

O eleitor paulistano pode se preparar, portanto, para uma das campanhas eleitorais mais disputadas e extravagantes da história da cidade, na qual, pelo andar da carruagem, a ética e os bons modos certamente acabarão sendo deixados de lado. As evidências disso se acumulam.

Em manobra rasteira claramente destinada a cacifar poder de barganha com o governo, o mensaleiro Waldemar da Costa Neto, dono do PR, explora a ingenuidade do folclórico e muito bem votado deputado Tiririca, lançando-o candidato a prefeito de São Paulo. O homem já se sente "prefeito do povão".

E o jovem e ambicioso deputado Gabriel Chalita não faz feio nessa galharda companhia: depois de transitar por três partidos em menos de dois anos, finalmente encontrou um que se dispôs a lançá-lo a um cargo executivo e anuncia orgulhoso: "Eu tenho uma cara só".

O saldo desse circo de horrores é que a cidade de São Paulo, com todos os graves problemas sociais e urbanos que aqui se agravam, corre o risco de se tornar a vítima de uma longa campanha eleitoral que tende a passar ao largo do debate das questões que realmente interessam aos seus mais de 10 milhões de habitantes.

A federalização do pleito de outubro é inevitável, e em certa medida até desejável, porque aqui estará sendo decidido o futuro político do País a curto e médio prazos. Mas é preciso que os candidatos não se esqueçam de que, apurados os votos, o vencedor terá de enfrentar a enorme responsabilidade de governar a cidade.

O Judiciário e seus prazos - WALTER CENEVIVA



FOLHA DE SP - 03/03/12
Sem a iniciativa do STF, o Estatuto da Magistratura, de 1979, não será excluído do universo jurídico brasileiro

ESTÁ EM discussão a tarefa do Poder Judiciário, resultante da incumbência de julgar processos, até que sua última decisão componha os termos da justiça oficial, dada às partes (art. 472 do Código de Processo Civil). A discussão mencionada envolve, principalmente, causas que retardam o cumprimento do dever funcional do juiz, no decidir questões e controvérsias do processo nos prazos legais. O não cumprimento foi muito destacado nos últimos tempos, embora existente há anos.

As causas da lentidão se perdem em vários caminhos. Vão desde o baixo nível do ensino do direito até a certeza do aprovado no concurso da magistratura de que nada lhe prejudicará o caminho das promoções até a aposentadoria. Nada, em nível quase absoluto, tão raras as exceções em que a inércia é apenada.

A impunidade, o exacerbado espírito corporativo nas justiças oficiais, previstas pela Constituição (art. 92, seus sete incisos e desdobramentos), também dão causa à ineficácia e ao descrédito, sem falar nas protelações do Poder Público quando réu. Com mais atualidade, oriundas de um número restrito de juízes marcados pelo pouco amor ao trabalho, repercutem a dano do Judiciário como um todo. O juiz efetivamente trabalhador não deve solidarizar-se com aquele que não quer trabalhar. Este prejudica a todos, tanto quanto o desonesto.

Ainda no campo da ineficiência funcional, há modo pelo qual o defeito pode ser amenizado. Antes, porém, recordo que mais de uma vez escrevi nesta coluna que o Brasil podia orgulhar-se da qualidade da sua Corte Suprema. Essa convicção tem, contudo, suas restrições, uma delas relativa à estrutura básica da operação judicial existente.

A função de julgar, no Brasil, é definida pelo Estatuto da Magistratura, conforme o leitor poderá saber lendo o art. 92 da Constituição. Talvez pergunte, espantado, se "temos mesmo um Estatuto da Magistratura". Temos sim. Veio com a Lei Complementar nº 35, de 1979, sob o governo do general Ernesto Geisel, sendo ministro da Justiça Armando Falcão, anos antes da restauração da democracia. Dita lei sofreu alterações extensas, ainda sob o governo ditatorial, e poucas outras no retorno democrático. Seu conjunto continua o mesmo da origem, regulamentado pelo decreto 2.019/83.

Paradoxo histórico: o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou não recebida a Lei de Imprensa, por ser produto da ditadura, mas não adotou a mesma linha quanto ao Estatuto da Magistratura. A única autoridade com iniciativa exclusiva para que tenhamos novo Estatuto da Magistratura vem definida na Carta Magna. Diz o art. 93: "Lei complementar de iniciativa do STF disporá sobre o Estatuto da Magistratura". Ou seja: sem a iniciativa do STF, a lei ditatorial de 1979 não será excluída do universo jurídico brasileiro. Sem a apresentação de projeto ao Legislativo e sem firme cooperação entre os dois poderes, não haverá legítimo estatuto democrático para o magistrado.

Neste momento em que o Poder Judiciário, na linguagem popular, é "a bola da vez", abre-se uma oportunidade -até por termos ultrapassados os trinta anos do Estatuto ditatorial- para criar um texto novo. É a exigência da história, no aprimoramento essencial da nobre função de julgar.

Os enredados - MIGUEL REALE JÚNIOR


O Estado de S.Paulo - 03/03/12


No círculo midiático de hoje, a reflexão e a assunção sopesada de convicções individuais, bem como o silêncio e a solidão, cederam passo a uma saraivada contínua de comunicações. Reage-se a esta prevalência do virtual de forma passiva ou com manifestações apressadas de cunho emocional. Neste mundo de inter-relações imediatas, vive-se com a mídia e pela mídia, segundo Manuel Castells, para quem, com as redes sociais se instala uma virtualidade real.

"Todos são iguais perante o Facebook", eis o novo direito fundamental. Diversos enredados na rede social expõem a si próprios e cada qual passa a ter acesso ao mundo do outro. Se a televisão, o principal meio de comunicação em nosso país, está presente em todos os instantes, a criar, de um lado, o monólogo e, de outro, a audiência preguiçosa, com as crescentes redes sociais se torna viável que o enredado possa manifestar-se sem a preocupação de ser razoável.

Esse fenômeno carrega contraposições.

A primeira, relativa à minimização do valor da intimidade e da vida privada, um dos direitos da personalidade consagrados nas modernas Constituições democráticas, mas violado pelo descaso com que muitos dos enredados tratam sua própria área de exclusividade, em compulsão pelo compartilhamento de cada instante de sua vida.

No inciso X do artigo 5.º da Constituição federal, no capítulo Dos Direitos e Garantias Fundamentais, consagra-se que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra, a imagem das pessoas (...)". O direito à privacidade constitui atributo da personalidade, requisito essencial à realização da pessoa humana, instaurando a expectativa de respeito à própria singularidade. A Constituição distingue entre intimidade e vida privada, estabelecendo dois campos: um de grande reserva e interioridade, ligada às próprias convicções e expressões de pensamento, bem como relativamente ao que se passa entre quatro paredes; outro, menos restrito, relativo à vida doméstica, aos hábitos cotidianos, acessível a pessoas próximas nas quais se confia.

Para Hannah Arendt, há uma zona de exclusividade onde sem cuidados se desenvolve a própria existência, definida por Judith Martins Costa como a especial esfera da vida em relação à qual é garantida a imunidade ao próprio modo de ser da pessoa, defesa a interferência alheia, pois é o locus, material e espiritual, em que cada qual fixa sua singularidade, seus gostos particulares a serem usufruídos reservadamente. Há uma diferença no grau de intensidade de exclusividade: a intimidade diz respeito ao modo de ser singular que cada qual tem no campo nuclear de sua existência, aos dados de foro o mais restrito, enquanto a vida privada diz respeito a formas de pensar e agir a serem sabidas apenas por poucos.

Vê-se agora, todavia, que a inserção numa rede social faz muitos dos fisgados desprezarem os limites quer da vida privada, de acesso limitado aos mais chegados, quer também do próprio núcleo mais fechado da vida íntima, como se viver só tivesse sentido ao se compartilhar e socializar com muitos outros, pela rede, todas as sensações e vivências, devendo-se divulgar aos demais todos os acontecimentos da existência. De um lado, franqueia-se a intimidade, de outro, instala-se um "voyeurismo" compulsivo: deixar-se ver e ver os outros.

A segunda contraposição decorre de ser o internauta alvo de comunicações em série, mas ao mesmo tempo ter a possibilidade de se manifestar livremente, sobre tudo e sobre todos, jorrando, sem compromisso, opiniões que vão do elogio apaixonado à agressividade desmedida, em aplauso ou crítica ao comportamento de alguém ou de algum grupo de pessoas.

A liberdade de manifestação de pensamento constitui gênero de primeira necessidade na vida democrática, condição essencial de desenvolvimento dos cidadãos, pois areja, alimenta a multiplicidade de opiniões, garante a difusão de pensamentos e a participação pelo conhecimento e pela crítica dos fatos. A amplitude da liberdade de manifestação, estatuída no artigo 220 da Constituição, exige, todavia, a observância da composição com outros valores, em especial a dignidade sexual, a honra e a vida privada, a não discriminação. Veem-se, contudo, em comentários de internautas, novatos no exercício da liberdade de pensamento, excessos, com violação da honra alheia, de sua intimidade ou incitando o ódio e a discriminação das mais variadas espécies. Só o tempo consertará tais exageros.

Por fim, a última contraposição surge da ilusão de que a plena possibilidade de manifestação de pensamento iguale o valor das diversas perspectivas. Não se deve, porém, confundir o direito de se exprimir com atribuir a mesma validade às diversas visões manifestadas, em inaceitável relativismo. A pessoa humana, enquanto titular dos direitos de não ser discriminada, de manter a integridade física e psíquica, de não ter violada sua honra ou intimidade, de exercer liberdade religiosa, constitui valor conquistado arduamente no processo histórico do Ocidente, a prevalecer como fonte nuclear de outros direitos fundamentais.

A maior intensidade valorativa da dignidade da pessoa humana não impede que se garanta a liberdade de opinar contra a liberdade religiosa, ou de imprensa, ou em favor do comandante Schettino (do Costa Concordia). O vertiginoso crescimento dos meios de manifestação, no entanto, traz o risco do relativismo que iguala o diferente e nega a prevalência de valores essenciais obtidos ao longo da História. A multiplicidade de opiniões exigiria avaliá-las criteriosamente e não dar a todas o mesmo peso.

Cabe, ao final, realçar: essas perplexidades não retiram os benefícios propiciados pelas redes sociais por aproximar pessoas e ventilar questões de interesse geral. Mas fica sempre o desafio de entender os valores dominantes nestes tempos de urgência, de exposição e interação contínuas.

O futuro se constrói no presente - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 03/02/12



Há razões para comemorar, mas não podemos tapar os olhos para os problemas estruturais que nos afetam



"A longo prazo estaremos todos mortos." Gosto muito dessa famosa frase do brilhante economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946). Em sua aparente banalidade, encerra várias mensagens e significados.

Ela é uma apologia à ação presente para corrigir os problemas econômicos conjunturais.

Mas pode ser lida também como a defesa da ideia de que o futuro se constrói no presente, de que a ação -ou a inação- de hoje moldará o que vem pela frente.

Infelizmente, temo que nós, quer dizer, o Brasil, suas elites e seus poderes constituídos, embalados pelo momento positivo pelo qual passa o país, não estejamos atentos a essa lição.

Cuidar para que a inflação não vá além da meta, controlar os gastos públicos, conduzir a política monetária de maneira responsável, tudo isso é fundamental. Mas receio que estejamos negligenciado o futuro.

No longo prazo, como diz Keynes, estaremos mortos. Mas o Brasil, nossos filhos e nossos netos estarão vivíssimos e serão reféns do que fizermos no presente.

Não quero estragar a festa. Há motivos para comemorações e para otimismo. Avançamos consideravelmente nos últimos 25 anos.

Mas não podemos tapar os olhos para os problemas estruturais que impedem que cresçamos de forma consistente mais do que 3,5%, 4% ao ano. São problemas que tendem a se agravar, caso não sejam enfrentados desde logo.

Destaco quatro: a baixa qualidade da educação, o ambiente de negócios desfavorável ao empreendedorismo, a infraestrutura precária e o deficit estrutural da Previdência.

Na educação, ainda é grande a evasão escolar, especialmente no ensino médio, e a qualidade de ensino, mesmo com os avanços recentes, ainda deixa muito a desejar.

Nas avaliações internacionais, ficamos sempre em posições inferiores. No mais recente Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), por exemplo, ficamos em 53º lugar entre 65 países. Aqui, a melhora da qualidade, principalmente no ensino fundamental, deveria ser a nossa prioridade.

Também aparecemos mal no ranking das avaliações internacionais sobre o ambiente de negócios.

De acordo com o relatório "Doing Business", do Banco Mundial, que avalia as condições legais e institucionais para a realização de negócios, o Brasil está em 126º lugar entre 183 países avaliados.

Quanto à infraestrutura, não é necessário ser especialista para perceber que muito ainda precisa ser feito. Basta pegar o carro e dirigir por nossas estradas, que frequentemente demandam reparos.

Sem falar dos portos, que comprometem boa parte da reconhecida eficiência produtiva da indústria e da agropecuária brasileiras.

Felizmente, o governo Dilma parece estar convencido de que, considerando as nossas restrições fiscais, a maneira mais apropriada para melhorar a infraestrutura do país é delegar a tarefa à iniciativa privada nacional e internacional, que, como ficou provado na recente concessão de aeroportos, tem apetite e recursos para investir.

Falta, contudo, ir mais fundo nessa direção e vencer alguns resquícios ideológicos antiprivatistas que ainda resistem aos fatos.

Por fim, há a grave situação da Previdência Social, especialmente a do setor público.

A redução da taxa de natalidade e a ampliação da expectativa de vida inevitavelmente aumentarão os deficit previdenciários.

Segundo estimativa do Tesouro Nacional, mantidas as atuais regras de aposentadoria, só o deficit da previdência do setor público alcançará R$ 152 bilhões daqui a 20 anos.

Reformar o sistema previdenciário não é uma tarefa politicamente fácil, no Brasil ou em qualquer país. Mas teremos de enfrentar esse desafio.

São problemas que exigem a mobilização de toda a sociedade, mas que requerem, em primeiro lugar, a iniciativa do governo federal.

Afinal, é quem detém a principal parcela da responsabilidade de, em nome da coletividade, agir no presente mirando um futuro melhor para o país.


A realidade dos dados e visões distorcidas - GERALDO B., MARTHA JR

O ESTADÃO - 03/03/12


Muito se tem falado sobre a pecuária brasileira. Por vezes se difunde a visão de uma pecuária pouco produtiva e ineficiente, incompatível com a realidade e as demandas do século 21. Dois equívocos, importantes para esse debate, têm sido frequentes.

O primeiro é de ordem conceitual: a taxa de lotação não é sinônimo de produtividade animal em pastagens. Esta é obtida multiplicando-se a taxa de lotação (cabeças por hectare) pelo desempenho animal (ganho de peso). Quando se decompõem os ganhos de produtividade alcançados entre 1950 e 2006, o desempenho animal explicou 38% desses ganhos, enquanto a taxa de lotação, 62%. De 1950 a 1975, a produtividade cresceu só 0,28% ao ano, e aumentou para 3,62% ao ano, de 1975 a 1996. Parte significativa dos resultados da modernização da pecuária ocorreu entre 1996 e 2006, quando a produtividade cresceu 6,6% ao ano e o desempenho animal explicou 65% desse ganho. Para quem considera, erroneamente, a taxa de lotação como sinônimo de produtividade, a taxa de crescimento entre 1996 e 2006 foi de 2,3% (35% do ganho real). Conclusão: esse critério equivocado induz a erros de interpretação, subestimando em até três vezes os ganhos reais de produtividade registrados na pecuária.

O segundo equívoco sustenta que a pecuária é um setor de baixa tecnologia, que cresce prioritariamente à custa da expansão da área de pastagem. No entanto, a decomposição dos fatores de crescimento da produção pecuária entre 1950 e 2006 revela que os ganhos de produtividade explicaram 79% do crescimento na produção, enquanto a expansão de área de pastagem respondeu por menos de 21% desse avanço. No período, esses ganhos de produtividade possibilitaram um expressivo efeito poupa-terra de 525 milhões de hectares. Portanto, sem esses ganhos de produtividade, uma área adicional de 525 milhões de hectares - 25% superior ao Bioma Amazônia do Brasil - seria necessária para obter a mesma produção de carne bovina registrada em 2006. Entre 1996 e 2006, o aumento da área de pastagem na Região Norte explicou menos de 6% do crescimento da produção. Os ganhos de produtividade nessa região promoveram um efeito poupa-terra de 73 milhões de hectares.

Existem discordâncias quanto às estatísticas da pecuária. Números alternativos aos do IBGE apontam, para 2010, área de pastagem no País da ordem de 210 milhões de hectares e produção de 8,8 milhões de toneladas de equivalente carcaça. Considerando esses dados, para o período de 1950 a 2010, os ganhos de produtividade ainda explicariam expressivos 68% do crescimento da produção. O efeito poupa-terra seria aumentado para 665 milhões de hectares.

Diante desses resultados, conclui-se que, ainda que possa haver dúvidas sobre qual base de dados reflete melhor os aspectos estruturais da pecuária nacional, é inquestionável que seu desenvolvimento se tem pautado, prioritariamente, em ganhos de produtividade, gerando um expressivo efeito poupa-terra, com benefícios significativos para a preservação dos recursos físicos.

Críticas vêm sendo feitas à pecuária no sentido de que ela precisa trilhar o caminho da sustentabilidade. Certamente, há espaço para avançar. A análise dos dados, porém, indica que a expansão da produção pecuária no Brasil foi fundamentada no incremento da produtividade, e não na expansão da área de pastagem. O desenvolvimento e a adoção de tecnologias baseadas em ciência foram fundamentais nesse processo. O esforço de modernização do setor produziu, além dos já citados benefícios ambientais, importantes benefícios socioeconômicos. Por exemplo, o preço da carne bovina em junho de 2010 valia, descontada a inflação, cerca de 30% do valor pago em novembro de 1973. Essa expressiva queda de preços (acompanhada de menor volatilidade) tornou um alimento de alto valor biológico acessível aos mais pobres, atenuou pressões inflacionárias e, pelo efeito-renda da demanda - em especial na população de renda mais baixa -, dinamizou outros setores da economia.

CLAUDIO HUMBERTO

“O Brasil se chama Estados Unidos do Brasil”
José Serra (PSDB) que ignora a denominação de República Federativa do Brasil

BEIRA-RIO PODE VIRAR ‘CASO FORD’ DE GENRO

A omissão do governador gaúcho Tarso Genro (PT) no impasse que paralisou as obras e ameaçou excluir o Estádio Beira-Rio da Copa das Confederações, provocou a interferência pessoal da presidente Dilma, indignada também com a empreiteira Andrade Gutierrez. O Planalto vê semelhanças com a idiotice petista, no governo de Olívio Dutra, que levou o Rio Grande do Sul a perder uma fábrica da Ford para a Bahia.

GRATIDÃO BAIANA

Na Bahia, o petista Olívio Dutra até já foi alvo de irônicas homenagens. O PT-RS também rejeitou a Laminadora de Aço e a Good Year.

FIM DA BRINCADEIRA

A construtora divulgou nota atribuindo o atraso ao Banrisul, banco do governo gaúcho. Dilma explodiu: “A brincadeira acaba aqui”.

VADA A BORDO, TARSO

Após ouvir poucas e boas, Tarso Genro voltou a conversar com a Andrade Gutierrez. E agora ele promete que o estádio ficará pronto.

INTERFERÊNCIA DECISIVA

“É o meu clube, meu Estado!”, gritou a colorada Dilma. A empreiteira, que recebeu R$ 393 milhões da União em 2011, prometeu resolver.

CRISE COM MILITARES É A SEGUNDA EM DOIS ANOS

O novo embate de Dilma com militares – agora com adesão de civis a manifesto – foi um repeteco da crise instalada no final de 2009 com o texto da Comissão da Verdade sobre apuração de violações de direitos humanos na Ditadura. O então ministro Nelson Jobim (Defesa) ameaçou sair com os comandantes militares, obrigando Lula a mudar o texto para “conflitos políticos” e não “repressão política”.

DE NOVO

O PV fará convenção neste sábado (3) em Brasília para eleger a nova direção e reconduzir José Luiz Penna ao 13º ano em seu comando.

REDUÇÃO DE DANOS

Eleonora Menicucci (Mulheres) foi à posse de Crivella. Tenta amenizar o embate com evangélicos após se declarar favorável ao aborto.

CARIMBO NA TESTA

Evangélicos levaram revistas à posse de Marcelo Crivella, com elogios a Dilma e descendo a lenha no pai do kit gay, Fernando Haddad.

A PELE QUE HABITO

Militares, “tsunami” de dólares, doença de Lula e demissão de ministros abalam, enfim, a fama de “durona” da presidente Dilma, que chora até na substituição de um ministro do qual queria se livrar há muito tempo.

LAICO SÓ NO PAPEL

A posse do novo ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), por pouco não virou culto evangélico no Planalto. Enquanto discursava, os presentes validavam suas palavras: “Glória a Deus!”.

COM KASSAB, NÃO

A bancada do PCdoB pode desfazer bloco na Câmara com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O partido não quer se misturar com o PSD de Gilberto Kassab, que fará parte da aliança.

SENADOR OPORTUNISTA

O governador Eduardo Campos defende incentivos às importações de produtos da China, desde que seja pelo porto de Suape. Já o senador Armando Monteiro Neto (PTB-PE), que é contra isso desde os tempos de CNI, só fala no assunto fora de Pernambuco, longe do governador.

NA TORCIDA

A imprensa francesa não disfarça a euforia com o rompimento do contrato da Força Aérea dos EUA com a Embraer para comprar 20 Super Tucano. Aposta que poderá reverter em favor dos caças Rafale.

RECONHECIMENTO

Os jornalistas Fernando Menezes, que há 18 anos criou o importante Prêmio Cristina Tavares Correia de Jornalismo, e Evaldo Costa, que o chancelou no sindicato da classe, foram homenageados e aplaudidos de pé pelos colegas, esta semana, em Recife.

‘MINHA PALAVRA’

O jornalista mineiro Paulo César de Oliveira lança no Rio de Janeiro, neste sábado, o livro Minha Palavra (Record), sobre sua trajetória. No dia 19 será a vez de BH, São Paulo no dia 21 e Brasília no dia 28.

O FILHO DO DONO

Filho de Fidel e médico da seleção, Antonio Castro, nunca jogou, mas é o novo vice-presidente da Associação Internacional de Beisebol Amador. Talvez para evitar fuga de atletas.

PENSANDO BEM...

...No Brasil, a melhor forma de melhorar é deixar tudo como está. 

PODER SEM PUDOR

O PODER ENGORDA?

Ministro do Trabalho e da Previdência no governo João Goulart, Almino Afonso estava no cargo há apenas dois meses, mas já havia engordado. Ao encontrá-lo na Câmara, o deputado José Maria Alkmin não perdoou:

– Almino, pelo jeito o poder engorda mesmo. É só dar uma olhada em você.

– A tese é pelo menos discutível – respondeu Almino, irritado.

– Por quê?

– Você sempre esteve no poder ou perto dele e, mesmo assim, continua magro como um palito.