terça-feira, dezembro 25, 2012

Tendência à esquizofrenia - RUBENS BARBOSA

O GLOBO- 25/12


Como o Paraguai será convencido a suspender o veto à Venezuela e também à Bolívia?



As recentes reuniões do Mercosul em nível presidencial e do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) apontam novos rumos para o processo de integração regional.

Os resultados da reunião de cúpula do Mercosul confirmaram a tendência esquizofrênica do processo de integração regional. Se, sob a ótica do governo brasileiro, o encontro pode ser apresentado como positivo, do ponto de vista do interesse nacional as dúvidas são crescentes.

O Itamaraty celebrou avanços no tocante à negociação para a incorporação da Venezuela e da Bolívia. De surpresa e sem maiores negociações, foi assinado Protocolo de Adesão, que, uma vez aprovado pelos Congressos dos demais países membros, fará da Bolívia o sexto membro pleno do Mercosul.

Por outro lado, pouco antes da Cúpula de Brasília, foi realizada em Lima, no Peru, a IV Reunião do CDS. No encontro, foi aprovado Plano de Ação para 2013, que incluiu todas as propostas apresentadas pela delegação brasileira, em especial:

1) a instituição de um fórum com o intuito de estabelecer mecanismos e normas especiais para compras e desenvolvimento de produtos e sistemas militares na região, com o objetivo de fortalecer a indústria regional de defesa e de se discutir o estabelecimento de um regime preferencial para a aquisição de material militar entre as nações da Unasul.

2) a criação da Escola Sul Americana de Defesa

Enquanto no Conselho de Defesa as propostas brasileiras demonstram capacidade de liderança com objetivo de gradual ocupação do espaço sul-americano para a indústria de defesa nacional e a influência para a formulação de um pensamento estratégico independente, desvinculado do Colégio Interamericano de Defesa, de Washington, no referente ao Mercosul, a força das dimensões políticas e sociais, dificultam a identificação dos reais objetivos brasileiros.

O ingresso da Venezuela e, agora de forma inesperada, da Bolívia e proximamente, quem sabe, do Equador, colocam dificuldades técnicas que terão de ser superadas. Do ângulo político, até aqui, o Brasil não deu indicações de como vai tratar os problemas bilaterais que surgiram com a precipitada suspensão do Paraguai do Mercosul, nem de que forma, o Paraguai vai ser convencido a suspender o veto à Venezuela e, segundo já transpirou, também à Bolívia. Como aceitar a dupla participação da Bolívia no Mercosul e na Comunidade Andina de Nações (CAN), com duas tarifas externas, embora a da CAN não esteja operativa? Como enfrentar a insegurança jurídica na Bolívia contra empresas brasileiras? Como enfrentar a crescente instabilidade política e de restrições comerciais argentinas, com prejuízos concretos aos exportadores brasileiros? Qual a estratégia brasileira? Qual a visão prospectiva?

São perguntas que precisam ser respondidas de modo a que o interesse nacional na região seja redefinido e para que melhor se possa respaldar a ação empresarial brasileira no continente.

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