terça-feira, dezembro 25, 2012

Os 18 (%) do Forte - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25/12


Com Lula andando pelo Brasil afora, não está descartado que ele e Dilma mobilizem as atenções, tirando mais visibilidade da oposição e de aliados empenhados em aproveitar o ano de 2013 para construir as bases rumo a 2014



Daqui a sete dias, na mesma velocidade que o calendário virará para 2013, os políticos vão ajustar o foco e os cálculos estatísticos em torno de alguns ilustres personagens. A principal a ser observada, entretanto, não mudará: a presidente Dilma Rousseff. Ela tem um ano e meio para fazer valer o discurso de boa gestora, capaz de manter o país no rumo do desenvolvimento sustentável e do crescimento econômico. Como até agora essas premissas são incertas, outros vão lhe fazer companhia no telescópio da política, a depender dos movimentos de cada um deles.

A contar pelas últimas pesquisas de intenção de voto, o próximo nome a ser observado depois de Dilma é o de Lula. Essa despedida de 2012 indica que o PT dominará a cena de 2013, por coincidência, o número do partido na urna. Com mensalão e tudo, o partido tem a preferência do eleitor. Aliás, o brasileiro, nesse ponto, costuma ser pragmático: se a vida está boa, a história mostra que dificilmente muda. Haja vista a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994, ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco.

Antes daquele pleito, na virada de 1992 para 1993, pós-escândalo do governo Collor e das primeiras reportagens sobre problemas no Orçamento, Lula era considerado favorito. Mas a vida ficou boa para a população e a onda Lula virou marolinha. Vingou apenas oito anos depois, quando o modelo de FHC demonstrou sinais de cansaço. Lula embalou a população com programas sociais e a vida do brasileiro, de uma maneira geral e na avaliação da maioria, ficou boa de novo. Não houve motivos para mudança. Para completar, Lula ainda buscou para representá-lo, oito anos depois, uma continuidade com ar de “novidade”, pelo fato de ser a primeira mulher a concorrer com chances de vitória. E vale lembrar que Dilma foi uma personagem a ser observada a partir de janeiro de 2009, quando o PT começou a construir a candidatura. Ou seja, é o ano pré-eleitoral a hora certa para observar quem vai virar onda e quem será simplesmente “marolinha”.

Até agora, nada indica que a população vai querer trocar de presidente em 2014, uma vez que Dilma tem o direito de concorrer. E com Lula andando pelo Brasil afora, os dois correm o risco de mobilizar as atenções, tirando mais visibilidade da oposição. Mas quem já fez as contas garante que não é preciso muito para levar uma eleição contra o PT ao segundo turno, uma vez que as três eleições que o partido venceu foram disputadas em dois turnos. Portanto, ao avaliar os números das últimas pesquisas, os cálculos dos oposicionistas indicam que a briga será por 18% do eleitorado, o que dará o passaporte para a final contra o PT.

E, na avaliação dos oposicionistas, será neste ano de 2013 que serão dadas as condições para viabilizar essa fatia. Seja nas administrações, seja nos discursos. Nos bastidores da política, há quem se refira a essa briga como a guerra dos 18 do Forte — obviamente, nada tem a ver com a revolta do Forte de Copacabana, em 1922, contra as oligarquias do poder. O nome foi tomado “emprestado”, digamos assim, apenas por conta do número 18, e a indignação de partidos oposicionistas com a temporada de poder petista.

Por enquanto, a ex-senadora Marina Silva, atualmente sem partido, é quem carrega esse percentual. Apareceu no último Datafolha com 18% das intenções de voto, reflexo da campanha presidencial de 2010. Ela terá seus holofotes em janeiro, se criar um partido. O senador Aécio Neves, do PSDB-MG, embora não tenha encontrado ainda um vento capaz de fazer empinar a sua pré-candidatura, se apresenta bem estruturado no Sudeste. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aparece com 4% e nem é citado na espontânea, quando o eleitor diz em quem vai votar sem que lhe apresente uma lista de candidatos.

Além desses nomes, virão outros, especialmente, um do PSol, que sempre lança candidato. E, dentro da oposição, há quem defenda ainda o teste de mais alguns ainda em 2013, de forma a criar um clima mais seguro em direção a dois turnos. Portanto, leitor, não se surpreenda se algum partido insuflar ainda mais uma pré-candidatura do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, o brasileiro que obteve 120 dias de exibição da imagem com um viés favorável.

Apesar dos grandes números de Dilma e Lula, os oposicionistas acreditam que nem tudo está perdido, do ponto de vista eleitoral, baseados exatamente nas incertezas do mundo da política e no cenário de há 20 anos. Entre 1992 e 1993, Lula era imbatível e o país não tinha sequer o Plano Real à mesa. Em 1994, tudo mudou. Mas ali, os tucanos tinham o governo para alavancar a estratégia. Agora, não têm. Portanto, terão que apostar nas confusões geradas a partir da política para tentar balançar a árvore dos petistas perante o eleitorado. Se vão repetir a história, o tempo dirá. A seguir, entretanto, pelo pronunciamento de Dilma no último domingo, dificilmente conseguirão. Mas essa é outra história. Façam suas apostas.

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