terça-feira, dezembro 11, 2012

Em marcha a ré - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 11/12


COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO 


A produção de veículos cairá este ano pela primeira vez desde 2002. Mesmo com o IPI reduzido, a desvalorização do real, a restrição à importação de carros, haverá queda. O aumento da inadimplência pesou, o crédito se contraiu, as exportações caíram muito, em especial para a Argentina. Os carros usados também ganharam espaço no mercado.

O mês de maio é chave para se entender os estímulos ao setor automotivo. Numa mesma leva de medidas, houve restrição à compra de veículos importados, a liberação, por parte do Banco Central, de R$ 18 bilhões em compulsório para financiamento à compra de carros, e o dólar rompeu a barreira de R$ 2 para não voltar.

Não fosse o tratamento especial dado pelo governo ao setor, estes números chamariam menos atenção. Segundo a Fenabrave, a produção de veículos cairá 1,5% este ano, contando veículos comerciais leves, automóveis, ônibus e caminhões. As vendas internas devem crescer 4%, mas as exportações podem fechar com queda de 21%.

Avaliando apenas os veículos leves, o especialista na área automotiva Stephan Keese, da consultoria Roland Berger, estima que o crescimento das vendas seria de 2%, caso o IPI não tivesse sido reduzido. Com o estímulo, o crescimento deve ir a 8,7%. O problema é que isso é antecipação de consumo.

- A demanda para 2013 será menor. Quem queria comprar carro já comprou - afirma.

Keese avalia que a desaceleração da economia afetou o setor. As margens ficaram mais apertadas e o real mais fraco tornou mais cara a importação de insumos. Acha que houve aumento do protecionismo em 2012 e que há poucas saídas para o produto nacional:

- O carro brasileiro não tem capacidade de concorrer fora do Mercosul.

As exportações para a Argentina despencaram, não só de veículos, mas de peças e componentes. Estes são os números, entre janeiro a outubro: automóveis, -8%; tratores, -13%, motores, -38%; veículos de carga, -19%; partes e peças para veículos, -11%. São perdas bilionárias, em dólares.

O coordenador do Centro de Estudos Automotivos, Luiz Mello, avalia que o maior erro do governo foi estrangular a indústria do álcool, via preço congelado da gasolina.

- A única inovação que a indústria automotiva brasileira tem para oferecer ao mundo é o álcool. Esse era o caminho para aumentar exportações, tanto de combustível quanto de veículos - disse.

O mercado de carros usados cresceu 25% de 2009 a 2011, saindo de 9,3 milhões de unidades para 11,7 milhões. Depois de três anos de estímulos à venda de veículos, os usados estão mais competitivos, pois são seminovos. Mais um entrave à produção.

Após disparar, calote cai pouco
A inadimplência na compra de carros saiu de 2,6% em janeiro de 2011 para 5,9% em outubro deste ano. Mais que dobrou, no período, chegando ao pico de 6,1% em maio. Ou seja, depois de cinco meses, desde o pior momento, a recuperação foi pequena. A concessão de crédito ao setor ficou mais seletiva, e isso é um problema porque mais da metade das vendas são financiadas.

MAIS INFLAÇÃO. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco revisou de 5,5% para 5,7% a projeção para o IPCA deste ano, e de 5,2% para 5,3% a do ano que vem.

RISCO ITALIANO.Os títulos públicos italianos perderam valor com o anúncio de renúncia de Mario Monti. Os juros subiram de 4,53% para 4,82%.

TERMÔMETRO DO PIB. A venda de papelão ondulado, a embalagem da embalagem, cresceu 3,1% em novembro, sobre o mesmo mês de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário