quinta-feira, dezembro 27, 2012

A inflação de 6% e as eleições de 2014 - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 27/12


Dilma Rousseff alcançará na próxima semana a metade do mandato para o qual foi eleita em 2010. Com a popularidade nas alturas — muito acima do que seria razoável esperar diante das condições atuais da economia — ela deverá chegar a 2014 na condição de franca favorita a mais quatro anos no poder.

As chances, no entanto, cairão drasticamente diante de dois indicadores que costumam ser letais para as pretensões de qualquer político em qualquer democracia do mundo. O primeiro índice é o crescimento do PIB, que tem insistido em não subir na velocidade que o governo diz que subirá. O segundo é a taxa de inflação, que insiste em não baixar.

Dias atrás, o Banco Central divulgou seu relatório trimestral em que antecipa para o ano de 2012 uma inflação de 5,8%. Pode parecer um número nanico para um país que duas décadas atrás convivia com taxas mensais muito superiores a essa. Mas não é.

Para um país de moeda estável, quase 6% de inflação num ano é um índice é preocupante - e o governo já deveria ter acendido a luz amarela diante dele. Se não por outro motivo, pelo menos pela ameaça que ele traz para as possibilidades eleitorais de Dilma Rousseff.

Nos últimos anos, a inflação tem andado pouco acima ou pouco abaixo de 6% e pouca gente vê nisso um problema grave. Aliás, percebe-se entre as autoridades econômicas do governo a ideia de que se o preço do crescimento da economia for o aumento da taxa de inflação, tudo bem. Mesmo porque o país dispõe de um arsenal de medidas destinadas a mitigar o efeito corrosivo do desarranjo de preços.

Todo contrato contém uma cláusula de reajuste com base na taxa de inflação. Além disso, existe uma série de indexadores que volta e meia são acionados e provocam uma alta generalizada nos preços dos serviços e das tarifas públicas. Acontece que esses mecanismos de defesa, em lugar de proteger, acabam ajudando a agravar a situação.

O problema de uma inflação nesse nível não são suas consequências imediatas sobre o bolso das pessoas. São, pelo contrário, os efeitos de longo prazo no ânimo dos investidores.

O dia em que o governo parar para pensar a respeito notará que boa parte da falta de disposição para o investimento produtivo que o braço privado da economia tem demonstrado - e do qual a presidente frequentemente se queixa - deve-se à falta de controle sobre a inflação. Ao contrário da tese que vem prevalecendo no governo, um pouco de inflação não ajuda o crescimento.

Ao longo de 2012, o governo deu uma contribuição às chances de crescimento da economia com a redução dos juros. Se Dilma não perder o controle sobre os preços, ela terá fôlego para mais quatro anos. Mas se a inflação deixar o estado de hibernação em que se encontra e voltar a assustar, a história muda. Completamente.

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