terça-feira, novembro 06, 2012

O difícil prognóstico da eleição nos EUA - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 06/11


A véspera da eleição foi um dia frenético. Ambos os candidatos estiveram em Ohio, com 18 votos no Colégio Eleitoral e decisivo para a vitória. É um dos “estados volúveis”, sem clara inclinação democrata ou republicana. À cata dos indecisos, e também para convencer eleitores a interromper sua rotina para votar (o que não é obrigatório nos EUA), o presidente Obama esteve também em Wisconsin e Iowa, antes de seguir para sua base — Chicago. O ex-governador Romney foi a Virgínia, Flórida e New Hampshire, rumando depois para Boston.

Fim da campanha. A tensão é imensa; o prognóstico, temerário. Das duas últimas (e finais) pesquisas, a da NBC/Wall Street Journal apontou 48% para Obama, 47% para Romney — empate. A do Pew Research atribuiu 48% ao presidente e 45% ao republicano (margem de erro de 2,55 pontos). Democratas torcem para que ela reflita tendência admitida mesmo por alguns republicanos, como Karl Rove, um dos principais assessores de George W. Bush: a de que o furacão Sandy tenha bloqueado o crescimento de Romney e favorecido Obama, ao mostrá-lo no comando da ajuda aos estados mais atingidos: 69% dos americanos o aprovaram.

O presidente, que teve apoio de mais um grande jornal — o britânico “Financial Times” — tem bagagem para mostrar ao eleitorado: a reforma do sistema de saúde, incluindo 30 milhões de americanos no seguro saúde, feito comparável à criação do Medicaid e do Medicare há mais de 45 anos; gasto de US$ 787 bilhões em dinheiro público como estímulo para evitar uma nova Grande Depressão, o que conseguiu; bilhões para salvar a indústria automobilística e centenas de milhares de empregos, com sucesso; a mais abrangente reforma das leis que regem Wall Street, depois que a crise de 2008 evidenciou que as políticas de desregulamentação implementadas pelos republicanos desde Ronald Reagan (sem excluir Clinton) levaram o capitalismo a um ponto explosivo.

Mas Obama falhou ao não conseguir convencer os americanos da importância dessas realizações e não se manteve à altura da esperança por ele mesmo criada em 2008, mostrando-se um presidente excessivamente formal e distante, parecendo mesmo confiar em sua suposta superioridade. Só foi acordar no primeiro debate com o ágil Romney, que o surrou.

O republicano, apesar de notórias fragilidades, tem armas de grande poder eleitoral: os ainda numerosos pontos fracos da recuperação econômica, que ele destaca, ao mesmo tempo que se diz instrumento da mudança, o que pode pegar muitos eleitores pelo bolso; e um mantra cheio de apelo para o americano médio: “Você acredita numa sociedade centrada no governo, que dá mais e mais benefícios? Ou numa sociedade empreendedora em que as pessoas possam alcançar seus sonhos?” A palavra final caberá às urnas. E/ou ao Colégio Eleitoral.

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