sábado, novembro 17, 2012

China imóvel - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 17/11


Cúpula do poder consagrada pelo 18º Congresso do Partido Comunista Chinês indica que reformas tardarão ao menos outros cinco anos


O perfil conservador dos novos líderes empossados em Pequim atesta que prevaleceu o instinto de preservação do Partido Comunista Chinês. Na reconfiguração da cúpula da ditadura partidária, definhou o espaço para reformas políticas e econômicas que reduzam a onipresença do Estado.

A mudança foi mais de estilo. O novo secretário-geral do partido e futuro presidente, Xi Jinping, 59, parece mais aberto que o antecessor, Hu Jintao, e se acredita que seja também mais inclinado a tentar correções de rumo.

Confirmou-se ainda, como era esperado, o segundo nome na hierarquia no Comitê Permanente: Li Keqiang, 57, que deve tornar-se primeiro-ministro em março, sucedendo a Wen Jiabao.

A China, porém, não é mais governada por líderes fortes, como Mao Tse-tung e Deng Xiaoping. Desde Hu, as decisões são tomadas por consenso no comitê, a instância máxima de poder que acaba de ser renovada.

Nenhum dos sete membros do comitê, contudo, está claramente identificado com correntes do partido a favor de reformas. Qualquer mudança precisará do aval de figuras como Zhang Dejiang, 66, formado em economia na Coreia do Norte e ligado à ala mais conservadora, e Liu Yunshan, 65, responsável pela rígida censura dos meios de comunicação.

Por outro lado, os outros cinco integrantes anunciados não poderão renovar o mandato daqui a cinco anos, no próximo congresso, devido ao limite de idade. Só podem permanecer Xi e Li, que ficam assim em posição de vantagem no equilíbrio de forças dentro do PCC. A redução do Comitê Permanente de nove para sete assentos deve facilitar decisões.

Outro indício da preponderância de Xi sobre rivais no partido foi a transmissão imediata do comando das Forças Armadas de Hu para ele. Na transição anterior, Jiang Zemin presidiu a Comissão Militar Central ainda por dois anos, uma sombra incômoda sobre o sucessor.

A pouca novidade esteve no destaque dado ao combate à corrupção. Wang Qishan, conhecido como negociador hábil e duro, foi encarregado da Comissão Central para Inspeção de Disciplina, mas sua missão se esvazia na ausência de um Judiciário independente.

No mais, dificilmente sairão do papel reformas econômicas tidas como urgentes até por setores do governo, como a retração das estatais em favor do setor privado. Mais distante ainda fica a reforma política, que passou dez anos quase sem avanços no governo de Hu.

Os contornos conservadores do novo comitê frustram a crescente demanda da população próspera e urbana por oportunidades econômicas e liberdades individuais.

Pressionado, o PCC indicou que prefere endurecer a ceder parte do controle. Na China, até mesmo entregar alguns anéis se tornou uma proposta demasiado radical.

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