domingo, novembro 11, 2012

Brasil, cada vez mais primário - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 11/11


Ignorância em vários níveis, da falta de escola ao governo, detona a indústria e emperra crescimento


PARECE QUE o Brasil vai crescer bem mais no ano que vem do que neste deprimido 2012, mas as expectativas têm ficado mais desanimadas. O investimento não se recupera, nem a indústria, o que, nas atuais circunstâncias brasileiras, é quase a mesma coisa.

A indústria ainda não se curou do tombo de 2008. Para piorar, a lerdeza mundial deprime o ânimo do investimento. O governo investe ninharias.

A indústria não vinha bem desde meados da década passada. Então parecia que o setor acusava o golpe pleno da invasão chinesa e do câmbio, do real caro.

Num estudo assustador sobre o estado da indústria, Jorge Arbache, professor de economia da Universidade de Brasília e assessor do BNDES, faz o balanço do desastre (o economista mantém o otimismo, apesar dos dados que apresenta).

A indústria brasileira ficou para trás no que Arbache chama de "densidade industrial": valor adicionado per capita, o que a indústria produz "de fato" (descontados insumos e impostos) dividido pela população. China, Coreia, Cingapura e mesmo os claudicantes México, Tailândia e Malásia foram adiante.

Entre 2002 e 2007, a indústria brasileira criava uns 20% dos empregos formais. Daí em diante, apenas 11,8%. A produtividade do trabalho DECRESCE na indústria desde 2000. O consumo de importados explodiu nos setores sabidos: têxtil, roupas, artefatos de couro, química, borracha. O saldo comercial da indústria (exportação menos importação) entrou em colapso em 2006.

Os salários da indústria cresceram demais (na comparação internacional) com o reaquecimento da economia nos anos Lula. Falta trabalhador qualificado, e a mudança demográfica reduziu a oferta de mão de obra. A mão de obra da indústria brasileira é muito mal instruída. O país é primário em educação e se torna uma economia cada vez mais primária (especializada em recursos naturais).

A China muda de patamar, passa a produzir produtos mais sofisticados, ao mesmo tempo em que crescem os salários por lá. Mas há "novos chineses" para produzir bens industriais simples: asiáticos mais pobres e, daqui a pouco, a África colonizada pela China.

Os países ricos, Estados Unidos adiante, voltam a prestar atenção na sua indústria, investindo pesadamente para poupar sua mão de obra cara e competir.

Estamos ensanduichados. Não inovamos, nossa mão de obra é relativamente cara e pouco instruída. Perdemos na produção de bens simples e não inventamos novos produtos ou setores.

Os impostos são malucos e altos. A infraestrutura arruinada acaba de talhar a competitividade da produção. Não temos política de incentivar a criação de empresas-universidade, que são as que avançam pelo planeta e mudam de fato a cara produtiva de um país.

O que fazemos a respeito?

Um descontinho de imposto aqui, outro ali; protecionismo. A presidente mal fala de educação. O ministério da Ciência e Tecnologia é marginal. E ficamos brincando de trenzinho-bala.

O artigo de Arbache ("Is Brazilian Industry Loosing its Drive") pode ser lido aqui: http:*//papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2150684*.

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