quarta-feira, novembro 28, 2012

Allegro ou moderato? - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 28/11

COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO 

Em janeiro de 2005, 4,6% da renda mensal dos brasileiros era gasta com pagamento de juros aos bancos. Em setembro de 2012, o percentual foi de 7,6%. Cresceu, de lá para cá, mesmo com a enorme redução da Selic, que caiu de 18,25% para 7,25%. Um pedaço maior dos rendimentos está comprometido com juros. Isso acontece porque os brasileiros estão muito mais endividados agora.

O endividamento total das famílias, em relação à renda de 12 meses, saiu de 18,3% para 44,3% no período. Bateu em 44,5% em agosto e teve um ligeiro recuo em setembro, de acordo com dados do BC. Explicando de outra forma, e simplificando um pouco a conta, é mais ou menos assim: em 2005, toda a dívida poderia ser paga com rendimentos, na íntegra, de dois meses. Hoje, são necessários cinco meses de esforço.

A dívida não vence em período tão curto e ninguém vai usar 100% do salário e dos rendimentos para pagá-la, mas essa é uma das formas de se olhar para o nível de endividamento. É um dos indicadores utilizados pelos economistas para monitorar o mercado de crédito.

O que chama atenção é que isso aconteceu mesmo com o crescimento da renda, o fortalecimento do mercado de trabalho, a queda do desemprego e o aumento da formalização. Subiu no melhor momento. A taxa de desemprego em setembro, por exemplo, de 5,3%, foi a mais baixa para o mês.

O problema é que o endividamento dos consumidores tem crescido a taxas de dois dígitos há vários anos. A concessão de crédito à pessoa física subiu 18%, em 12 meses, até setembro. É verdade que o nível de crédito no Brasil sempre foi historicamente baixo em relação ao PIB. Somente este ano passou de 50%, enquanto outros países já estouraram a marca de 100%.

Mesmo assim, o ritmo parece bastante forte para um país de juros ainda altos, e não há sinais de que o maestro vá reduzir esse andamento. O BC tem classificado, em seus relatórios e pronunciamentos, que essa concessão de crédito de dois dígitos é moderada. Há quem conteste. Mas o fato é que isso tem deixado muita gente alegre.

Boias de socorro à Grécia
A crise grega tem novos capítulos. Os credores concordaram em alongar o prazo dos empréstimos contraídos pelo país, que pagará também juros menores, na esperança de que a dívida, atualmente em 150,3% do PIB, caia para 124% em 2020 - façanha difícil de ser atingida, segundo a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria. Com isso, o país poderá receber mais uma parcela da ajuda internacional, no valor de ¬ 34,4 bilhões. A economista acha que a maior parte desse montante, que cabe à zona do euro, sairá primeiro. Ela explicou também que a contribuição do FMI já é certa, ainda que venha depois. É que o Fundo vem fazendo mais exigências; quer, por exemplo, que os gregos elaborem um plano de recompra de dívidas.

PENSANDO MELHOR. Depois que o valor de mercado da Eletrobras despencou, o governo começou a falar em rever as indenizações ao setor elétrico. Por isso, há três dias as ações da empresa sobem.

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