segunda-feira, outubro 22, 2012

Sexo virtual - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

Confesso: nunca pratiquei. Não nego que tenho certo preconceito, mas quem sabe um dia?



Um amigo notou que o filho adolescente quase não saía mais de casa. O garoto tinha poucos amigos, vida social mínima. O tempo todo no computador. Finalmente, descobriu que o filho “namorava” pela internet. E como! Gatonas mais velhas, com perfil falso. Gatinhas de sua idade, com o verdadeiro. Tudo virtual. Meu amigo ainda não sabe o que fazer. Descobriu que filhos de outros amigos têm o mesmo problema. A internet substituiu a vida social. E, em muitos casos, também a sexual. Como orientar um jovem nesse mundo?

– Eu esperava ter de discutir com meu filho por causa de baladas, porres. E não porque se apaixona pela internet.

– O mundo mudou tanto que já nem sei o que é normal ou deixa de ser – respondi. O computador transformou o jeito de viver das pessoas.

Suspeito quanto o garoto, no fogo da idade, apronta na internet. Não é só coisa de adolescente. Ouço tantas histórias de sexo virtual que, embora não tenha dados estatísticos (e quem vai conseguir?), tudo me faz acreditar que se tornou mais comum do que se pensa. Sob um perfil fake, alguém pode realizar as fantasias. Sem contato físico, é verdade. Mas a mente humana é tão poderosa que, para muita gente, o corpo a corpo talvez se torne até desnecessário. Já não era assim nos tempos do telefone erótico? Ligava-se para um número, a garota “se descrevia”, e o cliente vivia momentos selvagens, cobrados minuto a minuto. O embrião de tudo isso é antigo. Na peça Cyrano de Bergerac, de Edmond de Rostand, do século XIX, o narigudo personagem conquista a bela Roxane escrevendo cartas que o atlético Cristiano envia em seu nome. Um personagem se passa por outro, para viver uma história de amor. Conheço um paulista magro, com cara de vassoura, que entra na internet usando as fotos de seu melhor amigo, malhado e bonitão. Tem incríveis sessões de sexo virtual com mulheres maravilhosas. Quando a garota quer conhecê-lo pessoalmente ou, o que é mais comum, através da câmera, desliga.

– Quando mandava minha foto, elas não respondiam mais. Agora me divirto.

Não fiz mais perguntas. Respeito a loucura alheia.

– Você primeiro, escreveu o professor.Riscos existem. Não só com desconhecidas. Há algum tempo, o juiz de futebol celebridade Diego Pombo abriu a câmera, ficou nu e praticou um sexo que só não foi solitário porque a namorada o observava pela câmera, em casa. A safada gravou tudo, e as imagens foram parar na internet. O rapaz reclamou da “traição”. Tarde demais. O mesmo já aconteceu com outras celebridades. E com gente menos famosa também. Num colégio da periferia de São Paulo havia um diretor heterossexual e autoritário que hostilizava um professor efeminado. Uma noite, o professor entrou numa sala de bate-papo com nome falso. Conversou com um desconhecido. Foram para um chat privado. O desconhecido propôs ligarem a câmera.

Era o tal diretor! O professor simulou um problema em sua câmera e partiu para uma longa simulação de sexo virtual, com pedidos exóticos, tipo:

– Agora abre as pernas!

E o diretor abria. Que escândalo! A gravação foi vista por todo corpo docente e boa parte dos alunos da escola. Até hoje o diretor não sabe onde enfiar a cara.

A fantasia sempre ocupou um enorme papel nas relações íntimas. Na internet, ela pode atingir o ponto máximo. Tanto que pessoas de comportamento tradicional em público, como o tal diretor, são capazes de desfraldar os desejos para um desconhecido, sem pudor, no chat privado. Só entendi o real papel da fantasia quando estive no Japão. Descobri: há homens que se apaixonam por bonecas tamanho natural. A ponto de, nos fins de semana, levarem para passear de carro. Imagino que, quando a robótica se unir à indústria erótica, serão fabricados robôs femininos e masculinos com equipamento sexual completo. Será um passo adiante do sexo virtual, pois o robô corresponderá à fantasia absoluta do outro. Só dependerá de uma programação. Amor e romantismo serão palavras sem sentido, possivelmente. O estranho, o original, será o casal formado por dois seres humanos de carne e osso.

Posso ter exagerado. Mas é por isso tudo que, não nego, tenho certo preconceito contra o sexo virtual. Onde nos levará? Confesso: nunca pratiquei. Até me sinto ultrapassado. Sou do tipo que nunca diz: “Desta água não beberei”. Quem sabe um dia? Mas não está nos meus próximos planos. Ainda gosto de conhecer alguém, olhar nos olhos e dividir a vida.

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