domingo, outubro 14, 2012

Porteiras & cadeados - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 14/10


Vem aí uma legislação para conter a criação de partidos, e deve ser aprovada, uma vez que tem o apoio PMDB, PSDB, PT e do próprio PSD

Paralelamente às medidas provisórias em tramitação no Congresso Nacional, os partidos se preparam para, daqui a três semanas, tentar fechar a porteira para que legendas a serem criadas tenham direito a levar a tiracolo os recursos do fundo partidário e o tempo de tevê. A medida virá a calhar, no sentido de criar barreiras para conter a pulverização do sistema partidário e a criação de verdadeiros balcões de negócios.

Pelo país afora, grupos de deputados começam a se movimentar à procura de advogados. Buscam orientação no sentido de tentar criar a própria legenda. O jeito da conversa, segundo relatos de alguns personagens contactados, gira em torno do "imagine o que eu posso fazer com um partido desses na mão". E, realmente, a imaginação de muitos deles voa.

Imaginação que criou asas logo que o PSD ganhou na Justiça o direito de receber recursos do fundo partidário e horário político na tevê proporcional ao número de deputados que fundaram a legenda. A primeira conclusão dos congressistas foi a de que cada deputado tinha preço e o valor inicial de cada um era 2,3 segundos na tevê. Aos poucos, os grupos começaram a se formar. Estão perto de sair da toca, tão logo termine o segundo turno das eleições municipais, dando uma mexida no cenário partidário, no sentido da fragmentação.

Chave do cofre

Os grandes partidos já perceberam essa movimentação e se preparam para contê-la. Vem aí uma legislação para manter o direito ao fundo partidário e ao tempo de tevê no partido de origem. E deve ser aprovada, uma vez que tem o apoio do PMDB, PSDB, PT e do próprio PSD, quarta força em número de prefeituras.

O PSD, de Gilberto Kassab, chegou onde está porque se valeu da coragem de ser o primeiro a tomar a iniciativa. Ao criar a nova legenda, Kassab esvaziou o DEM - e a eleição mostrou isso. Para completar, acolheu vários integrantes da base do governo desconfortáveis com a configuração regional. Foi o caso, por exemplo, do vice-governador da Bahia, Otto Alencar. Ele saiu do PP, onde era coadjuvante, para virar comandante do PSD no estado.

Kassab fez todo esse jogo no escuro, sem ter toda a garantia de que era possível levar nessa esteira o tempo de tevê e o fundo partidário. Foi à Justiça e conseguiu. Agora que a estrada está aberta, chegam outros interessados em segui-la.

Enquanto isso, na sala de Marina.

Obviamente, nem todos que desejam criar partidos podem ser taxados de aproveitadores, como querem fazer crer as grandes legendas. Afinal, nem tudo é o que parece. A ex-senadora Marina Silva, que surpreendeu na eleição presidencial de 2010, cogita esse projeto de nova sigla com as melhores das intenções. Agora, talvez as grandes legendas evitem a realização desse projeto em nome da fidelidade partidária e da não fragmentação do sistema partidário. A corrida de Marina será contra o relógio. Vamos aguardar.

E nas campanhas.

Chama atenção a forma como Fernando Haddad inclui a presidente Dilma Rousseff em todas as suas falas como candidato a prefeito de São Paulo. Até mesmo quando se refere ao adversário, José Serra, do PSDB, que tem deixado Dilma fora do contexto eleitoral. Em igual intensidade, Serra se vale da condenação de José Dirceu para tentar colar o mensalão em Haddad. Nenhum dos dois entrou ainda na discussão dos temas da maior e talvez mais problemática cidade do país.

Por falar em Dilma.

A presidente acompanha com lupa o comportamento dos aliados em relação ao PT e vice-versa nessa temporada de segundo turno nas eleições municipais. Passado esse período, será a hora de o governo chamar todos os partidos para aquela "conversa americana", ou seja, olho no olho, para saber quem estará com Dilma no sentido de aprovar propostas a serem encaminhadas ao Congresso - caso do marco regulatório da mineração e da organização dos portos e aeroportos, assunto que ocupou quase toda a agenda da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, no último mês. Por enquanto, a maior desconfiança em relação à base recai sobre o PSB do governador Eduardo Campos. Há quem aposte que ele esteja se preparando para sacudir o barco do governo no Congresso. Ele jura que não, mas os petistas não acreditam. O outro tema que o Planalto monitora à distância é essa reta final do julgamento do mensalão. A conclusão, até agora, é a de que nada afetou o governo. Não por acaso, houve filas por parte de aliados e petistas em busca de uma mensagem de Dilma neste segundo turno.

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