terça-feira, setembro 25, 2012
Remédio que pode matar - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 25/09
Se o presidente François Hollande fosse um avião, na segunda-feira seu piloto teria emitido um aviso: "Atenção, por favor. Atravessamos uma semana de turbulências. Coloquem os cintos".
Cada dia contém um perigo: nesta terça feira três grandes grupos anunciam 5 mil demissões (Sanofi, Arcelor-Mittal e Petroplus).
Quarta-feira, as estatísticas sobre o desemprego serão divulgadas: um desastre. Mais de 3 milhões de desempregados. Sexta-feira será apresentado o orçamento e este orçamento será terrível: a previsão é de uma economia 10 bilhões nos gastos do Estado e de 20 bilhões de impostos suplementares.
Um orçamento como este é um "remédio de cavalo". Ele pode matar o doente, como certas "sangrias" na Idade Média, livrando o paciente da sua doença e ao mesmo tempo da sua vida.
Esta "sangria" será ainda mais feroz pois o crescimento econômico é igual a zero, talvez menos. Para se conseguir um recuo do desemprego, seria necessário um crescimento de pelo menos 1,5%. Portanto, o processo de destruição do emprego está no auge.
Devemos esperar que a salvação virá do exterior, fazendo a França aproveitar o seu dinamismo? Mas de todos os lados a perspectiva é sombria: a zona do euro está em recessão e desastres podem varrer a Grécia, Portugal e Espanha. Os Estados Unidos têm dificuldade para levantar voo. A atividade econômica enfraquece nos grandes países emergentes. A China perde fôlego.
Diante desse cenário aterrador, alguns questionam se a França deve se ater à regra de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) de déficit a partir de 2013? A mesma pergunta vale para os países mais fracos da zona do euro. A Grécia, por exemplo, se respeitar a regra dos 3% mergulhará no marasmo. Como também a Espanha.
Claro que o rigor orçamentário, ao qual a alemã Angela Merkel ligou o seu nome, é um princípio excelente, depois de anos de "lassidão", descuidos e de gastos delirantes provocados pela criação desta absurda moeda única, o euro. Mas também é preciso que o retorno à razão, no bom sentido, seja feito progressivamente. Não seria mais prudente amenizar a regra de 3% do déficit, aguardar um pouco mais de tempo?
Até agora François Hollande não quis nem ouvir falar em aplacar o rigor. Para ele, se a França anunciar que adiará em um ano o cumprimento dessa regra, os mercados dirão: "Estes franceses não são sérios. Não são confiáveis... E então nossas taxas de juros, até o momento muito baixas, aumentarão loucamente, como na Espanha ou na Grécia.
Enfim, a todos esses dissabores econômicos vêm se somar choques políticos violentos. Sabemos que nas últimas eleições para a Presidência, o Partido Socialista era apoiado pelos ecologistas. Ora, hoje os ecologistas ameaçam seu aliado socialista. Decidiram votar "contra" o "tratado orçamentário europeu" que visa exatamente a obrigar todos os países do continente a mostrar sua seriedade na questão do orçamento.
Em princípio, mesmo se eles votarem contra o tratado orçamentário, a Assembleia Nacional deverá sancioná-lo. Mas o episódio deixará marcas supurantes. Hollande deu enormes vantagens aos ecologistas. Nomeou dois ministros pertencentes a esse partido. E está sendo muito mal recompensado, uma vez que o partido agora o apunhala pelas costas.
Ora, os ecologistas obtiveram apenas 2% dos votos nas eleições, o que não se justificava lhes dar tais responsabilidades. Mais uma vez eles mostraram ser pessoas pouco sérias, oportunistas, inescrupulosos. Em resumo, péssimos políticos. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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