terça-feira, setembro 25, 2012

Escolha certa - BENJAMIN STEINBRUCH


FOLHA DE SP - 25:09


Voto responsável não admite condescendência com pessoas marcadas por inércia e corrupção

Sempre que se aproximam as eleições municipais, alguém se lembra de uma frase ora atribuída a Tancredo Neves, ora a Ulisses Guimarães: "Nenhum cidadão mora na União, todos vivem em municípios".

A lembrança é útil para ressaltar a importância do voto que os brasileiros darão daqui a 12 dias para eleger prefeitos e vereadores em 5.568 municípios do país. Ao todo, além dos prefeitos, serão eleitos 57.432 vereadores, escolhidos entre 449.790 candidatos.

Mais do que os governantes federais e estaduais, prefeitos e vereadores são políticos encarregados de falar diretamente ao cidadão, examinar suas demandas e cuidar de suas carências.

A oferta de educação, saúde, água, saneamento, transporte e eletricidade, embora também dependa de apoio financeiro dos governos estaduais e do federal, é fundamentalmente atribuição dos administradores dos municípios.

Para averiguar a dimensão dos desafios desses gestores, tenho o hábito de verificar, a cada eleição municipal, números que indicam as deficiências nessas áreas básicas.

Há 12 anos, quando começava a campanha eleitoral de 2000, relacionei aqui o tamanho do desafio dos administradores que se candidatavam aos cargos municipais: 18,1 milhões de analfabetos; 8,7 milhões de domicílios sem água encanada; 24,2 milhões sem rede de esgoto; 8,6 milhões sem coleta de lixo e 2,2 milhões sem luz elétrica.

Os dados eram da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), referentes a 1999. Na sexta-feira, o IBGE divulgou dados dessa mesma pesquisa referentes a 2011.

Comparados aos de 1999, os números do ano passado mostram que o país evoluiu bastante nessas áreas. O maior avanço de todos foi na proporção de domicílios permanentes com energia elétrica.

Em 1999, havia 2,2 milhões sem luz, número que representava 5% do total. Em 2011, mesmo tendo o número de domicílios crescido 40% (de 43,8 milhões para 61,3 milhões), os não atendidos por energia elétrica representavam apenas 0,7% do total, provavelmente um resultado do programa Luz para Todos.

Houve avanços relativos em todos os índices citados acima. Mas os números absolutos de 2011 ainda indicam um enorme desafio: 12,9 milhões de analfabetos, 9,4 milhões de domicílios sem água encanada, 22,9 milhões sem esgoto, 6,9 milhões sem coleta de lixo e cerca de 500 mil sem luz elétrica.

Peço desculpas ao leitor por alinhar tantos números. Mas eles são fundamentais para que se possa entender a importância das eleições municipais. Essas carências, ainda muito grandes apesar dos avanços, esfolam os cidadãos brasileiros e estão todas nos municípios, mesmo considerando que parte da responsabilidade por elas deva ser dividida com União e Estados.

Diante disso, cabe ao eleitor a responsabilidade de escolher bem prefeitos e vereadores. Em tempos de internet e Facebook, ficou mais fácil verificar os perfis dos candidatos, seu passado, patrimônio e ideias. Voto responsável é aquele que não admite condescendência com pessoas marcadas por inércia, ineficiência ou corrupção. O eleitor deve e pode escolher candidatos comprovadamente éticos e bons administradores.

Não há como avaliar a qualidade de um candidato a não ser por seu passado. A história mostra que aventureiros raramente fazem boa gestão pública. São perigosos os candidatos que apresentam propostas esdrúxulas e promessas absurdas sem mostrar de onde virão os recursos para realizá-las. E são igualmente perigosos os que têm no passado episódios evidentes de descuido com recursos públicos.

Mesmo com o crescimento econômico, as grandes cidades, com raras exceções, estão esburacadas, descuidadas e feias. O ensino municipal continua deficiente, faltam escolas e creches. Hospitais municipais, sujos e desprovidos de recursos, revoltam. As favelas nos entristecem e envergonham. Os crimes e a falta de segurança nos angustiam.

Nenhum prefeito mudará essa realidade do dia para a noite. Mas que sejam votados aqueles que são comprovadamente preparados, sensíveis a esses problemas e que se mostram dispostos a arregaçar as mangas para resolvê-los.

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