domingo, agosto 19, 2012

Uma ideia para as cotas nas universidades - ELIO GASPARI

O GLOBO - 19/08

Passada uma década de debate, a demofobia mobilizada contra a instituição de cotas nas universidades públicas foi derrotada. Primeiro no Supremo Tribunal Federal, que, por unanimidade, as julgou constitucionais. Recentemente, pelo Senado, que ampliou a política de cotas com apenas uma voz contra.

Enquanto durou o debate, as cotas eram apresentadas como prenúncio do fim do mundo. As pesquisas indicam que os cotistas tiveram desempenhos iguais ou até superiores aos dos demais.

A expansão da política de cotas poderia abrir um debate: qual a distância razoável entre a nota do aluno beneficiado e a daquele que perderá a vaga que ganharia pelo seu desempenho no vestibular. É bom que se diga: na sua essência, as cotas dão a um estudante que tirou nota mais baixa o lugar que iria para outro que teve nota melhor. Alguma diferença tem que haver, se não, a política seria inócua.

Há poucas pesquisas desse tema. De uma maneira geral, acredita-se que a maior distância entre a nota do não cotista barrado e a do cotista beneficiado chega a ser 1,5 ponto ou 2 pontos. Pode acontecer que um estudante tirou oito e perdeu a vaga para outro que tirou seis.

Quem acha que as cotas não devem existir pode permanecer nessa posição, mesmo sabendo que elas vieram para ficar. Quem é a favor pode se perguntar qual é a diferença razoável. Já houve caso em que ela foi de 3,4 pontos. É razoável que alguém que tirou 7,5 perca a vaga para quem tirou 4,1?

Partindo-se da premissa segundo a qual o objetivo das cotas é colocar nas universidades da Viúva alunos de escolas públicas, afrodescendentes e índios, dispensa-se o renascimento da demofobia, disfarçada na defesa de uma diferença que, ao final, barre aqueles a quem se pretende beneficiar. Com números na mesa, esse debate poderá evitar que uma política que busca a justiça social produza injustiças absurdas.

Previsão

Uma alma atenta e supersticiosa, que cantou a vitória de Obama acompanhando o fechamento de lojas em Nova Iorque durante o governo Bush, informa:

Ele vai ganhar. Desde 2008, pela primeira vez, há cartazes oferecendo empregos no comércio da cidade.

Estrela

Em junho de 2011, quando a senadora Gleisi Hoffmann assumiu a chefia da Casa Civil, apelidaram-na de "Dilma da Dilma".

Com um ano no cargo, tornou-se a Gleisi da Gleisi.

Perillês

Em suas conversas com o "Doutor Juquinha", ex-presidente da Valec e dono do PR goiano, o governador Marconi Perillo enriqueceu o folclore político nacional.

Tratando de um cargo que seria entregue a Juquinha, Perillo enunciou a qualificação exigida:

"Tem que dar conta de alavancar dinheiro em Brasília e que saiba mexer o doce."

Por essas e outras, o PSDB não quer que se mexa no doce da CPI de Carlinhos Cachoeira.

Galalaus

Pode-se entender que a Polícia Federal faça protestos nos aeroportos, mas é intimidador ver aqueles galalaus sarados com as camisetas pretas da corporação percorrendo saguões onde estão enfileiradas suas vítimas.

Protesto de uniforme é indisciplina em estado puro.

A fantasia dos computadores nas escolas

O comissário Aloizio Mercadante, que anunciou a compra de 600 mil tabuletas para professores, bem como os educatecas que lidam com encomendas de computadores para escolas, deveria pedir à Universidade Estácio de Sá uma cópia da dissertação de mestrado de Marcelo Remígio Tavares de Matos. É curta e simples. Analisa o impacto e o desempenho de 11 computadores federais colocados na periferia de Petrópolis, na escola municipal Stefan Zweig, o autor do livro "Brasil, País do Futuro".

No Brasil do presente, Remígio entrevistou 164 alunos num universo de 200 jovens do segundo ciclo, mas só três dos dez professores quiseram responder ao seu questionário. Só uma informou que usava o laboratório de informática em suas aulas. Tanto a diretora da escola como a garotada exaltam a experiência. Já os professores não receberam capacitação adequada, nem a escola dispôs de assistência para colocar uma página na Internet. Quando as máquinas chegaram, ficavam disponíveis sete dias por semana e havia um contrato de assistência. Deletaram-no, a sala foi fechada aos sábados e domingos e sumiram os endereços eletrônicos dados aos alunos. Se um computador enguiça, o conserto leva cerca de um mês.

Em média, cada aluno tem acesso aos computadores duas horas por semana. Como eles não são bobos, ligam-se duas horas por dia em outras máquinas quando conseguem. Numa conta racional, poderiam ter cinco horas por semana na escola.

Apesar da falta de capacitação dos professores, não há má vontade de vivalma na Stefan Zweig com os computadores. O que há por lá é a fantasia segundo a qual basta comprar máquinas e, com isso, chega-se ao futuro. Capacitação de mestres dá trabalho. Compra de equipamentos dá marquetagem y otras cositas más.

Dr. SUS

Os 38 réus do mensalão têm em sua bancada de defesa cerca de 150 advogados. Casos semelhantes custam aos clientes quantias que podem chegar a vários milhões de reais, com todas as despesas pagas.

Só um réu, o doleiro Carlos Alberto Quaglia, entregou seu caso a um defensor público, Haman Córdova, 37 anos, R$ 16,6 mil mensais, pagos pela Viúva. Foi o único que conseguiu ser excluído do julgamento no STF.

Deu-se o caso em que fez melhor quem foi buscar assistência jurídica no SUS.

Doce sentença

A primeira sentença do processo do mensalão já saiu: José Antonio Dias Toffoli está condenado à pena de 25 anos de permanência na Corte.

Pedágios

Ressurgiu a ideia da cobrança de pedágio urbano para quem quiser circular no centro das grandes cidades, sobretudo em São Paulo.

Tudo bem. Imagine-se a seguinte situação:

O banqueiro sai de sua mansão, onde há um heliponto, e, dez minutos depois, pousa no alto do seu prédio no centro da cidade. Quanto paga? Zero.

Sua secretária, que mora na periferia, sai de casa uma hora antes, porque encarará o trânsito e pagará uns R$ 3 para chegar ao emprego.

Numa visita do banqueiro David Rockefeller, disseram-lhe que São Paulo só perde em tráfego de helicópteros para Nova Iorque. Ele duvidou, achando que, pelo barulho, São Paulo ganha.

Curiosidade

O deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara, está em processo de fritura no Planalto.

Não se sabe se fritarão também suas guarnições no Ministério da Saúde e nas agências reguladoras do setor.

Estrago

O alto comissariado petista admite que o julgamento do mensalão custará mais caro do que supunha.

Para correr atrás do prejuízo, depois da festa das concessões, o partido precisa pedir à doutora Dilma que anuncie a descoberta do moto-contínuo, do elixir da felicidade e da fonte da juventude.

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