domingo, agosto 19, 2012

A Petrobrás com Graça e Gabrielli - SUELY CALDAS


O Estado de S.Paulo - 19/08


Alvo de críticas e ataques à sua gestão, o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli veio a público se defender, em entrevista publicada neste jornal na quarta-feira. A mudança de diretores e a revisão de metas irrealistas e de investimentos apresentados por sua sucessora no plano estratégico da empresa (na verdade, um choque de realidade) suscitaram dúvidas em relação à sua gestão. Acusado de deixar esqueletos que Graça Foster começa a desmanchar, o futuro candidato do PT ao governo da Bahia decidiu falar e dar sua versão sobre os fatos. Não convenceu.

Nem poderia. Sua candidatura morreria antes de nascer, se ele identificasse a verdadeira causa dos problemas: a intensa crise de confiança vivida pela estatal, sobretudo nos oito anos do governo Lula, dos quais Gabrielli esteve à frente da gestão por cinco anos e meio. Essa crise, que atende pelo nome de "interferência política nos negócios", produziu um custo muito alto para a Petrobrás e seus acionistas e frustrou os brasileiros com o orgulho pela empresa abalado.

Um breve resumo dos estragos: entre agosto de 2008 e dezembro de 2011, o valor de mercado da Petrobrás caiu de US$ 303,6 bilhões para US$ 155,4 bilhões, um tombo de quase 50%. Recentemente, ela perdeu para a colombiana Ecopetrol o título de maior empresa da América Latina. Desde 2010, perdeu para a Vale outro título, o de maior exportadora do Brasil. E, no balanço do trimestre abril/junho, amargou o primeiro prejuízo em 13 anos.

Feitos também ocorreram na gestão Gabrielli. Afinal, com competência técnica, geólogos e engenheiros escreveram e continuam escrevendo uma história de sucesso para a Petrobrás ao longo de seus 58 anos. O maior feito foi a descoberta de jazidas gigantes de óleo por onde se estende a rocha salina do pré-sal. Na verdade, a presença de óleo abaixo da rocha já era conhecida dos geólogos desde 2001. O desconhecido era ali existirem reservas gigantescas e que começaram a ser dimensionadas em 2006.

Mas a marca da ruinosa interferência política nos negócios da estatal começou a surgir depois que Lula tomou posse, em 2003. Aliás, o ex-presidente não se preocupou em esconder sua intenção, escancarada no episódio da demissão do físico Luiz Pinguelli Rosa da presidência da Eletrobrás: "Que me desculpe o Pinguelli, mas ele não tem um só voto no Senado", justificou Lula. E o substituiu por Silas Rondeau, apadrinhado do senador José Sarney.

Nas diretorias da Petrobrás fez o mesmo. Partidos da base aliada aliciavam funcionários da estatal e Lula os nomeava. Abortado o mensalão em 2005, Lula reforçou o uso de cargos públicos na barganha com a base aliada. Fez isso com todas as estatais. O resultado em desvios de dinheiro e outras práticas corruptas pode ser percebido pela faxina que Dilma Rousseff apenas começou.

Depois que Graça Foster anunciou a revisão do plano estratégico e trouxe números, metas e investimentos à realidade, as ações da Petrobrás reverteram a queda na Bovespa e começaram a valorizar. Mesmo depois de anunciado o prejuízo de R$ 1,346 bilhão do balanço.

A substituição de diretores políticos por funcionários escolhidos por mérito; o reconhecimento no balanço da sangria (não revelada por Gabrielli) de R$ 2,7 bilhões aplicados em 41 poços secos ou improdutivos; o reajuste de preço de derivados há anos congelados e fonte de prejuízos crônicos; e o adiamento ou cancelamento de investimentos políticos, cuja localização Lula definia com governadores amigos, são fatos concretos que Graça Foster apresentou ao mercado - com o compromisso de não repeti-los - para tentar derrotar a crise de confiança, a descrença em relação a uma gestão de qualidade técnica no futuro e que contribuíram para valorizar os papéis da estatal.

Com o respaldo de Dilma Rousseff, Graça tem sinalizado que vai resistir às demandas de interesses e maus negócios propostos por partidos aliados do governo. Resistência que Gabrielli não mostrou. Pelo contrário, em 2006, ele próprio apareceu em programa televisivo do PT aproveitando-se do cargo de presidente da Petrobrás.

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